53 Revista de Ciência Veterinária e Saúde Pública Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n. 1, p. 053-065, 2015 Choque Hipovolêmico Hemorrágico Em Cães - Revisão De Literatura (Hypovolemic Shock Hemorrhagic In Dogs - Literature Review) OLIVEIRA, T.C.1*, CABRAL, A.P.M.1, ENDO, V.T.1, MAZZUCATTO, B.C.2* 1 Discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Umuarama. 2 Docente da disciplina de Anatomia Patologia geral e especial da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Umuarama. * Autor para correspondência, e-mail: 1 [email protected] 2 [email protected] Artigo enviado em 22/05/2015, aceito para publicação em 10/06/2015. RESUMO O choque hipovolêmico é definido como uma anormalidade do sistema circulatório que resulta em um suprimento inadequado de oxigênio aos tecidos de maneira generalizada, resultando em respostas endócrinometabólicas e falência na manutenção dos mecanismos de homeostasia. O diagnóstico consiste basicamente, na avaliação dos sinais clínicos manifestados por tal síndrome, que quanto antes identificados proporcionam um melhor prognóstico. Seu tratamento baseia-se na utilização de fluidoterapia, sendo necessário somente em casos mais severos o uso de vasopressores e inotrópicos. Devido à alta presença de pacientes em estado de choque na rotina clínica/cirúrgica veterinária, o presente trabalho objetivou descrever com maiores detalhes o choque hemorrágico, com intuito de atualizar estudantes e médicos veterinários sobre o assunto. Concluiu-se que o choque hemorrágico é o tipo mais comum de choque na rotina veterinária, em virtude de traumatismos, e que requerem formas multimodais de tratamento para reanimação do paciente. PALAVRAS-CHAVE: Hipovolêmia, Volume Sanguíneo, Sistema Vascular. ABSTRACT The hypovolemic shock is defined as an abnormality of the circulatory system that results in an inadequate supply of oxygen to tissues in a generalized manner, generating endocrine-metabolic responses and failure in maintenance of homeostasis mechanisms. The diagnostic is basically the assessment of clinical signs manifested by such syndrome, the sooner it is identified it may provided a better prognosis. It is treatment consists primarily in the use of fluid, and the vasopressors and inotropes are only necessary in more severy cases. Due to the high presence of shock patients in clinical practice / veterinary surgery, this study aimed to describe in greater details the hemorrhagic shock, aiming to updating students and veterinarians on the subject. It was conclued thathemorrhagic shock is the most common type of shock in veterinary medicine, as a result of trauma, which require multimodal forms of treatment for resuscutation of the pacient. KEY-WORDS: Hypovolemia, Blood Volume, Vascular System. No livro “On gunshot wounds of the INTRODUÇÃO O termo “choc” (parada) foi utilizado pela extremities”, escrito por Guthrie (1815), utilizou a primeira vez pelo médico francês Le Dran em 1743 palavra choque para caracterizar a instabilidade para episódio fisiológica (HIRANO et al., 2003) e somente após traumático grave (GAIGA, 2004). No mesmo ano, 1942, a partir de modelo experimental desenvolvido foi utilizado pela primeira vez na língua inglesa por por WIGGERS, novos conhecimentos sobre a Sparrow, na tradução da segunda edição francesa fisiopatologia e terapêutica do choque foram do livro “Um tratado de reflexões provenientes da adquiridos (GAIGA, 2004). indicar colapso agudo após experiência por ferimento por arma de fogo” (HIRANO et al., 2003). A síndrome choque é definida como uma anormalidade no sistema circulatório que resulta Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 54 em inadequada perfusão orgânica e oxigenação normalmente é de 25%, passa a ser de 75% a 80% tecidual. Atualmente, é abordada como uma (MELETTI e MÓDOLO, 2003). síndrome que se inicia por um fator agressor que Cães com perda aguda de sangue de 30 a desencadeia uma sequência de eventos, seguida de 40%, gatos com 40% e equinos com 30% do respostas endócrino-metabólicas que pode levar a volume sanguíneo total, exibem sinais de estado de falência na manutenção da homeostasia com choque hemorrágico e, em casos de perdas de 50% decréscimo da perfusão tecidual (MELETTI e ou mais, a morte advém caso as medidas MÓDOLO, 2003). terapêuticas não sejam instituídas (ALVES et al., O choque é a via final comum de diversos 2008). eventos clínicos potencialmente fatais (FELICE et Segundo Alves et al., 2008 animais al., 2011), incluindo hemorragia grave, trauma, adultos, sadios e anestesiados podem tolerar perdas queimaduras miocárdio de 10% do volume sanguíneo total, sem nenhum extenso, embolia pulmonar maciça e septicemia tratamento e com efeitos mínimos. É importante bacteriana. Independentemente da patologia, o salientar que, um animal com boa função choque causa hipoperfusão sistêmica e pode ser cardiovascular e concentração de proteína sérica causado pela redução do débito cardíaco ou pela normal pode ser capaz de tolerar perda de 40% a redução do volume de sangue circulante efetivo. O 50% deste volume, desde que uma adequada resultado final inclui hipotensão, perfusão reduzida reposição volêmica seja realizada. extensas, infarto do dos tecidos e hipóxia celular. Apesar dos efeitos da O choque pode ser classificado por meio hipóxia e metabólicos da hipoperfusão inicialmente da sua etiologia, já que cada causa pode produzir causarem apenas lesão celular reversível, a alterações patofisiológicas primárias e secundárias persistência do choque ocasiona lesão tecidual diferentes. Os principais são: choque hemorrágico, irreversível, podendo culminar na morte do choque cardiogênico, choque obstrutivo, choque paciente (KUMMAR et al., 2008). endotóxico (séptico), choque neurogênico e choque É importante ressaltar que nem todos os anafilático (VALENTE, 2010). danos teciduais advêm da hipóxia, mas podem O presente trabalho descreve o choque decorrer da baixa oferta de nutrientes, reduzida hipovolêmico com maiores detalhes, sendo causada depuração de substâncias tóxicas, maior afluxo de pela perda de sangue ou plasma (KUMMAR et al., substâncias nocivas aos tecidos, ativação de 2008) que pode ser decorrente de hemorragia mecanismos agressores e redução de defesas do externa hospedeiro (FELICE et al., 2011). prolongadas) ou interna (ruptura de víscera (ferimentos traumáticos, cirurgias Em estados de higidez, a liberação de O 2 compacta, ruptura de aneurisma aórtico, vasos e para os tecidos é cerca de quatro vezes maior do fraturas), ou por hemoconcentração (queimaduras, que o consumo, existindo assim, uma margem de desidratação, gastroenterites, peritonite, obstrução e segurança antes que a redução no transporte de O2 torção intestinal) (GAIGA, 2004; FELICE et al., afete adversamente a função tecidual durante 2011). estados de baixo fluxo sanguíneo e, Devido ao aumento na quantidade de consequentemente hipóxia (MELO et al., 2010). pacientes em estado de choque nos últimos anos na Em situações de metabolismo aumentado ou baixa rotina de diversas clínicas veterinárias, o presente perfusão tecidual, a extração de oxigênio, que trabalho objetivou descrever com maiores detalhes Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 55 o choque hipovolêmico com intuito de atualizar inicial, não progressivo, fase I ou pré choque, é estudantes e médicos veterinários sobre o assunto. caracterizado pela ativação dos mecanismos reflexos compensatórios mantendo a perfusão dos órgãos vitais como coração, sistema nervoso central DESENVOLVIMENTO e pulmões. Sempre que uma agressão interfere com Etiologia O choque hemorrágico é considerado uma emergência hematológica muito o funcionamento adequado do sistema circulatório, comum, mecanismos homeostáticos são mobilizados com o constituindo mais de 60% de todos os tipos de objetivo de restaurar a fisiologia do sistema, como choque, cuja condição é frequente em animais os reflexos mediados por via neural, mecanismos politraumatizados ou em situações decorrentes de humorais e autorregulatórios, que ajudam a manter procedimentos cirúrgicos (ALVES et al., 2008). o débito cardíaco e a pressão sanguínea (GAIGA, Os traumatismos são considerados uma 2004; KUMMAR et al., 2008). importante causa de encaminhamento de cães a Isso ocorre através de reflexos dos centros de atendimento veterinário em todo o baroceptores, liberação de catecolaminas, ativação mundo, contribuindo com aproximadamente 13% do eixo renina-angiotensina, liberação do hormônio do total de cães atendidos em hospitais norte- antidiurético e estimulação simpática generalizada. americanos. O Estudos relatam que na área efeito final consiste em taquicardia, metropolitana de São Paulo, os traumatismos vasoconstrição periférica e retenção renal de contribuíram com aproximadamente 13% dos líquidos (KUMMAR et al., 2008). óbitos (FIGHERA et al., 2008). Quando a magnitude e a duração do O choque hemorrágico causado pelo insulto ultrapassa a capacidade de regulação trauma é uma importante causa de internação homeostática instala-se um quadro de insuficiência hospitalar de emergência. Em geral, é necessária circulatória aguda. A persistência da agressão pode intervenção cirúrgica para controlar o sangramento permitir a evolução do processo para a fase e a indução anestésica pode acentuar a instabilidade seguinte, progressiva e descompensada, durante a hemodinâmica devido à vasodilatação e à depressão qual ocorre hipóxia disseminada dos tecidos e do miocárdio (FRAGA et al., 2006). Nas vítimas de expansão do leito vascular que caracteriza a fase II traumas que apresentam choque hemorrágico grave, do choque (GAIGA, 2004). Vale lembrar, que o muitas vezes se faz necessário aliar a correção do endotélio é particularmente vulnerável à injúria déficit de volume, ao controle de hemorragias hipóxica e mudanças significativas podem ocorrer a interna e/ou externas (RICHTER, 2010). partir de 30 minutos. A diminuição do fornecimento de O2 pode lesar a maioria das células do organismo e danos celulares irreversíveis Patogenia Os mecanismos compensatórios fisiológicos são prejudicados e incapazes de manter podem ocorrer após 15 minutos de hipóxia celular (MELO et al., 2010). a perfusão cerebral e tecidual, quando a perda Na presença de um déficit persistente de sanguínea é acima de 40% da volemia (MELETTI e oxigênio, a respiração celular aeróbica é substituída MÓDOLO, 2003). pela glicólise anaeróbica com produção excessiva O choque é uma desordem progressiva de ácido lático. A acidose metabólica láctica que, se não corrigida, leva à morte. O estágio resultante diminui o pH do tecido e reduz a resposta Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 56 vasomotora, levando à dilatação das arteríolas onde sanguíneo, em diferentes regiões do cérebro, podem o sangue começa a se acumular na microcirculação. ocorrer em virtude da hipovolemia, a fim de O acúmulo de sangue na circulação periférica, além favorecer aquelas áreas onde se localizam os de piorar o débito cardíaco também põe em risco as neurônios relacionados ao controle cardiovascular células endoteliais, causando lesões e consequente (RAISER, 2002). liberação de tromboplastina, agregação de hemácias tornando o sangue hipercoagulável e iniciando a Pulmão fase de coagulação intravascular disseminada que O grau de lesão pulmonar após o choque caracteriza a fase III do choque (GAIGA, 2004; hemorrágico ou traumático é determinante para a KUMMAR et al., 2008). sobrevivência do animal (VALENTE, 2010). A A generalização e agravamento da hipóxia insuficiência pulmonar progressiva ou “pulmão de tissular disseminada afeta órgãos vitais que choque” caracteriza-se pelo aumento do líquido começam a apresentar insuficiência e com a extravascular pulmonar, com edema intersticial, deteriorização ocorrem extravasamento de líquidos e proteínas plasmáticas hemorragias por coagulopatia de consumo, ativação para os alvéolos e redução de surfactante (redução generalizada de plasminogênio com fibrinólise funcional sistêmica, necrose colabamento crescente dos alvéolos. Pode haver tubular aguda e finalmente falência múltipla de desenvolvimento de fibrose septal pulmonar. órgãos caracterizando a fase IV ou de choque Mesmo irreversível (GAIGA, 2004; KUMMAR et al., hemodinâmica, o agravamento da dispnéia (com 2008). hipercapnia e hipóxia), pode evoluir para completa de suas microinfartos, funções, vasoplegia, dos na pneumócitos presença II), de gerando estabilização Se o paciente sobreviver, virtualmente falência pulmonar e parada cardíaca; sendo todos os tecidos podem reverter ao normal, com indicados como possíveis fatores de causa: exceção da perda isquêmica de neurônios e hiperhidratação, miócitos. Porém, a maioria dos pacientes com Atelectasia, danos irreversíveis devido ao choque grave morre hemorragia parenquimal, podem aparecer na fase antes que os tecidos possam final do choque (GAIGA, 2004). Quanto aos se recuperar (KUMMAR et al., 2008). microembolia congestão e/ou alveolar, sepsis. edema e achados no choque, temos o edema pulmonar, que pode ser considerado o mais consistente, e a Alterações em diferentes órgãos coagulação intravascular Cérebro julgado um achado terminal comum (VALENTE, Devido à regulação local de fluxo na microvasculatura, 2010). sanguíneo, é o órgão que menos sofre interferência das variações sistêmicas da volemia (GAIGA, Rins 2004). Alterações nos níveis de O2, CO2 e prótons A redistribuição do fluxo sanguíneo neste hidrogênio, durante o choque, são capazes de órgão, ocorre em pressões abaixo de 50 mmHg. No provocar dilatação nos vasos da circulação local. entanto, em cães não é comum casos de Ou seja, são estes os agentes regulatórios do tono insuficiência renal no choque, pois para que ocorra vascular, no cérebro, e não o Sistema Nervoso há necessidade de lesão dos túbulos renais (fato que Simpático. Diferenças significativas no fluxo somente ocorre na hipoperfusão acima de 12 Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 57 horas). Em 24 horas ocorre necrose tubular aguda leucócitos, (RAISER, 2002). Devido sua intensa constrição desintegração da lâmina própria com ulceração e arterial, há a ocorrência de isquemia renal, hemorragia diminuição na taxa de filtração glomerular, bem VALENTE, 2010). Sendo ainda capaz de causar como a possibilidade de gerar anúria, com retenção elevação da permeabilidade capilar, levando ao de uréia, creatinina, ácido úrico e outros produtos edema intersticial, que causa diarréia, perda de metabólicos. A consequência dessa insuficiência proteínas do plasma e produção e liberação da em excretar íons hidrogênio, fosfatos e lactatos xantina oxidase na circulação, causando o estresse pode ser uma acidose metabólica (VALENTE, oxidativo. A estase na circulação intestinal ocorre 2010). Vale lembrar que a vasoconstrição no rim após a hipóxia, sendo mais acentuada no cão, pela pode persistir mesmo após o estabelecimento da vasoconstrição portal, permitindo proliferação das pressão bactérias na luz intestinal. As endotoxinas ou arterial sistêmica a níveis normais (RAISER, 2002). indução de (RAISER, necrose 2002; epitelial GAIGA, e 2004; bactérias do lúmem intestinal, favorecidas em decorrência da perda de defesa do animal, são Coração absorvidas através das áreas ulceradas na mucosa O débito cardíaco baixo, uma das para a circulação portal, estabelecendo um quadro principais características do choque, ocorre em de endotoxemia e septicemia, entretanto, quando razão da redução do enchimento cardíaco e volume funcionantes de sangue (KUMAR, et al. 2008; CONTI- histiolinfoplasmocitário. No estômago do cão, para PATARA, 2009; VALENTE, 2010). A depressão que haja ulceração, é necessário, além da anóxia da função cardíaca é devida à redução na tensão de celular, a ação do ácido do suco gástrico (RAISER, oxigênio nas coronárias, acidose mista, perfusão 2002). são removidas pelo sistema reduzida e a substâncias liberadas pelos tecidos Há relatos de que o fígado suporta no hipoperfundidos (GAIGA, 2004). A redução do máximo 40 minutos de isquemia. Este sofre fluxo sanguíneo coronário com baixas pressões e acentuada consequente hipóxia miocárdica, certamente possui metabólicos como conseqüência das alterações uma ação inotrópica negativa. Se a transfusão microcirculatórias. A perda de sua atividade de restaurar a oxigenação miocárdica antes que ocorra detoxificação permite que as toxinas bacterianas lesão estrutural celular, o processo é considerado efetuem livremente sua ação deletéria (RAISER, reversível. A insuficiência miocárdica primária, 2002). depressão funcional e distúrbios talvez seja o principal fator responsável pela instituição do choque irreversível (VALENTE, Pâncreas 2010). O pâncreas sofre lesão isquêmica e promove ativação e liberação de suas enzimas na Trato Gastrointestinal e Fígado circulação, induzindo a formação de compostos O fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal potencializadores do choque, ou seja, peptídeos é o primeiro a ser desviado para os órgãos vitais, tóxicos que causam forte diminuição no débito levando à isquemia intestinal, podendo instaurar cardíaco lesões do epitélio e vilosidades, verificando-se histiolinfoplasmocitário, que combinado com o redução da produção de muco, ativação dos comprometimento e na função hepático, do deixa sistema o animal Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 58 vulnerável ao efeito das bactérias ou toxinas, expansão da volemia em até 20%, tendo papel principalmente àquelas originárias do intestino influente (RAISER, 2002). (RAISER, 2002). Alterações celulares Diagnóstico A maioria das células torna-se temporária na compensação da hipovolemia O choque circulatório é identificado pela ou permanentemente lesionadas após 5 a 10 sintomatologia minutos e pressão arterial diminuída, redução da pressão de irreversivelmente lesionadas após 15 a 20 minutos pulso, pulsos finos, tempo de preenchimento capilar (VALENTE, 2010). O deficiente aporte de prolongado (> 2 segundos), pele fria, pálida ou oxigênio bloqueia o ciclo de Krebs e diminui em marmórea, diaforese, alteração do estado mental e 94% a produção de energia por molécula de oligúria. Ou seja, esses sinais clínicos representam glicose. Há acúmulo de lactato e outros elementos simples manifestações de um complexo mecanismo do catabolismo proteico e lipídico produzindo fisiopatológico (MELO et al., 2010; CARLOTTI, acidose intracelular. Estabelecida a acidemia, 2012). de privação de oxigênio haverá estímulo dos centros respiratório e simpático clínica, Esses incluindo, parâmetros identificados sintomatologias do choque. Com o acúmulo de lactato, haverá consideração no momento do diagnóstico, porém bloqueio da glicose anaeróbica e finalmente morte alguns celular por falta de energia. A redução da formação comprometimento circulatório como a taquicardia de energia cessa os mecanismos de transporte ativo, sinusal, pois pode ocorrer em várias situações de causa alterações na permeabilidade de membrana, estresse (dor, ansiedade e febre) (CARLOTTI, levando à passagem de sódio, cálcio e água para a 2012). célula (edema) e saída de potássio (hipercalemia). choque outras mensurações de importância devem O edema matriz intracelular, há ser inclusas, como a pressão arterial média, pressão desestabilização das membranas lisossomais que venosa central, débito cardíaco, equilíbrio ácido- levam à autofagia celular e irreversibilidade do base, hematócrito e lactato plasmático (MELO et choque (RAISER, 2002). al., 2010). destrói a ser pelas que desencadeiam os mecanismos compensatórios sinais devem taquicardia, são levados inespecíficos em de Dessa forma para o monitoramento do Na rotina das clínicas são fundamentais os Alterações Hemodinâmicas Alterações na coagulação podem culminar dados da anamnese e os sinais físicos, principalmente quando não se dispõe de apoio na coagulação intravascular disseminada. São laboratorial. É importante verificar com o comuns e caracterizadas por trombocitopenia, proprietário se houve traumatismo (se viu a anemia hemolítica, redução do fibrinogênio e ocorrência), perda de sangue (volume estimado), aumento dos produtos de degradação da fibrina presença de diarréia e/ou vômito (tempo de (VALENTE, 2010). evolução), se o paciente já recebeu algum tipo de Deve-se ter em mente que, o baço serve de medicação ou atendimento e o tempo decorrido reservatório sanguíneo e tampona os efeitos da desde o início dos sintomas. Também é importante perda aguda de sangue no hematócrito. Sua função determinar de esplenocontração, no choque em cães, permite favorável ou desfavorável em relação ao momento se o animal apresenta evolução Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 59 em que o informante fez as primeiras observações hemorrágico, tanto nas fases iniciais quanto nas (RAISER, 2002). tardias. Dessa forma, em caso de suspeita de Raiser, 2002 indica a seguinte prioridade choque, a evolução diagnóstica deve ocorrer ao na sequência de avaliação de um paciente chocado: mesmo tempo da ressuscitação, ou seja, ela não sistema deve ser adiada para coleta de história, realização grandes órgãos, massa muscular e sistema nervoso de exame físico, laboratório ou exame de imagem. central. respiratório, sistema cardiovascular, Os testes laboratoriais podem ajudar a identificar a Habitualmente o estado de choque (EC) é causa do choque e falência de órgão-alvo e incluem avaliado através de parâmetros hemodinâmicos eletrólitos, ureia, creatinina, função hepática, como, por exemplo: pressão arterial media (PAM), amilase, lipase, coagulação, d-dímeros, enzimas frequência cardíaca (FC), pressão venosa central cardíacas, screening (PVC). Porém, estas variáveis podem sofrer toxicológico e nível de lactato (FELICE et al., influências de vários fatores como uso de 2011). medicações gasometria arterial, O choque por hemorragia aguda ou insuficiência respiratória é desencadeado em (anti-hipertensivos e beta- bloqueadores), preparo físico do paciente ou portadores de marca-passo cardíaco. Devido à essas poucas horas, por isso há preocupação em se possibilidades conseguir um diagnóstico rápido, enquanto que nas hemodinâmica do EC, a literatura vem utilizando infecções ou perdas hidroeletrolíticas o choque índices metabólicos, como: lactato sérico (LS) e a ocorre após várias horas ou dias de evolução. O diferença de base (DB) (HIRANO et al., 2003). choque anafilático instala-se em minutos (RAISER, 2002). de interferências na avaliação A mensuração de lactato sérico em pessoas criticamente doentes já foi amplamente Em um modelo experimental de choque documentado, e há inúmeras publicações que hemorrágico Meletti & Módolo, 2003, submeteu 13 descrevem a sua utilização para detectar a cães (previamente submetidos à laparotomia para hipoperfusão em nível local ou sistêmico, e para esplenectomia) a sangramentos sequenciais e controlar a resposta à terapia, também na medicina progressivos de 10% da volemia para seu peso, até veterinária. que 50% do seu volume fosse retirado, a fim de melhores indicadores para avaliar o metabolismo observar e celular em pacientes graves, já que a acidose metabólico das várias fases da perda sanguínea. Ao metabólica frequentemente surge nesses pacientes final constataram que, o transporte, consumo e a devido a hipóxia tecidual e, em geral, a causa é a taxa de extração de oxigênio são parâmetros que acidose láctica (RABELO, 2013). O déficit de base auxiliam na determinação da reversibilidade e também pode ocorrer devido à acidose metabólica, prognóstico do choque hemorrágico, enquanto, a e ser utilizado também como estimativa da pressão arterial média, pressão venosa central e hipoperfusão tecidual (CONTI-PATARA, 2009). pressão capilar pulmonar não refletem o verdadeiro Dessa forma a DB que é obtida através de uma estado volêmico dos animais em estudo. Em gasometria do sangue arterial pode servir como relação ao índice autores estimativa da gravidade da acidose (RABELO, consideraram este, como sendo um parâmetro 2013). Dessa forma em casos de pacientes em o comportamento de hemodinâmico choque, tais Atualmente é considerado um dos relevante no diagnóstico não invasivo do choque Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 60 estado de choque esses parâmetros ajudam a avaliar a eficácia da reanimação (HIRANO et al., 2003). A hiperlactacemia é um achado comum nos quadros de choque circulatório em animais A monitoração dos estados de choque hemorrágico vai depender do local onde se encontra o paciente, da fase do atendimento e dos recursos disponíveis (MELETTI e MÓDOLO, 2003). domésticos, secundária ao metabolismo anaeróbico. Entretanto, alguns estudos têm sugerido que a Tratamento elevação da concentração de lactato seja resultante O tratamento do choque, com uma da falha metabólica celular, em vez da hipoperfusão abordagem mais eficaz, consiste em evitar os global (MELO et al., 2010). Segundo Felice et al., eventos responsáveis por um estado de inadequada 2011 a medida do lactato sérico, não se mostrou um perfusão. O reconhecimento precoce e a rápida dado de previsão de gravidade da perda sanguínea intervenção são os pontos-chave para o sucesso do na fase aguda do choque, apresentando importância tratamento (MONTEIRO, 2012). como índice no seguimento de reanimação no choque hemorrágico. A terapia do choque deve ser voltada para a remoção das causas desencadeantes e a correção O índice de choque, valor obtido pela das variáveis fisiológicas alteradas. O manuseio e o divisão da frequência cardíaca pela pressão arterial tratamento do paciente são idênticos em quase sistólica, é um outro parâmetro que pode ser todos os tipos de choque. A exceção a esta regra é o utilizado que demonstra o estado hemodinâmico do choque cardiogênico, que requer uma fluidoterapia animal. Em virtude de sua fácil obtenção, pode ser mais moderada que os outros tipos de choque utilizado em casos de emergência, para que os (MONTEIRO, pacientes possam considerar que o volume circulatório é deficiente e ser triados conforme sua gravidade (FELICE et al., 2011). 2012). Dessa forma deve-se que o choque não se detém por si mesmo. É Atualmente alguns meios de diagnóstico necessário procurar determinar as causas, evitar precoce têm sido utilizados, como a lavagem ações inúteis, não tardar em instaurar o tratamento, peritoneal diagnóstica (LPD), muito sensível para a evitar fármacos sedativos e anestesia profunda sem detecção de hemorragia (98%), que consiste em estabilizar a volemia. Procurar não mover o animal uma técnica simples e de grande valor diagnóstico. desnecessariamente e não usar anestésicos gerais É indicada em casos que houver perda da definição apenas para permitir intubação, já que maioria dos da imagem hemorrágica; através do material do tranquilizantes e anestésicos tem efeito hipotensor lavado consegue-se uma avaliação visual (presença (RAISER, 2002). ou não de sangue), citológica e bioquímica do material (PEREIRA JÚNIOR et al., 2007). Outro meio diagnóstico atual é o Fast O tratamento intensivo nesses casos deve compreender o sistema respiratório, cardiovascular, metabólico, consequências imunológicas do (FocusedAssessmentUltrasonography for Trauma), trauma, reanimação e transfusão maciça, em ordem avaliação ultrassonografica focada para trauma, de evolução e ajustes contínuos de acordo com a apreciado por não ser invasivo, seguro, rápido, necessidade de ressuscitação, devendo-se tratar acurado e não necessita de deslocamento do possíveis complicações (SHERE-WOLFE et al., paciente por ser portátil. Possibilita o diagnóstico 2012). de hemorragias e auxilia na decisão da transferência do paciente para o centro cirúrgico (LIMA, 2011). Em centros mais avançados a cirurgia de controle de danos (DamageControl), é uma das Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 61 primeiras atitudes para estabilizar um paciente oronasal, já permite algum aproveitamento por chocado e, pode ser definida como um "sacrifício difusão. temporário para preservar a anatomia e fisiologia Outro ponto importante a ser analisado vital" (SHERE-WOLFE et al., 2012). É uma nova nesses animais segundo Shere-Wolfe et al., 2012 é estratégia cirúrgica que vem adquirindo espaço no a manejo dos pacientes vítimas de traumas graves e hipotermia em pacientes com trauma é complexo e que se encontram na chamada “Tríade da Morte”, relacionado a vários fatores, incluindo a presença caracterizada pela hipotermia, de choque, vasodilatação causado por agentes coagulopatia e metabólica anestésicos, presença de acidose temperatura, pois o desenvolvimento exposição ambiental, de infusão de (STALHSCHMIDT et al. 2006). Deve- se ter em grandes volumes de fluidos e exposição cirúrgica. mente, que pacientes severamente feridos e Protocolos podem ser utilizados para conseguir a fisiologicamente perturbados estão incapazes de temperatura almejada. A combinação de técnicas tolerar diferentes, uma correção cirúrgica definitiva e incluindo aquecimento superficial, prolongada. Já uma intervenção inicial mínima, intravascular através de fluidos, e aquecimento de dentro das primeiras 24 horas, está limitada a fazer ar, fornecem uma abordagem multimodal para a o necessário para realizar a estabilização e controle obtenção e manutenção da temperatura. Pesquisas da hemorragia, para que após estabilização gere recentes relatam que existe uma relação de condições mais favoráveis para ser submetido à um hipotermia com acidose e coagulopatia. reparo definitivo (STALHSCHMIDT et al., 2006; SHERE-WOLFE et al., 2012). Na sequência deve-se estabilizar a volemia. No choque este procedimento deverá ser De acordo com Raiser, 2002 seguir uma instituído precocemente, à semelhança dos ordem de prioridade é aconselhável, como por cuidados de ventilação, porque dele depende o exemplo, adequada, transporte de oxigênio até os tecidos (RAISER, posicionar o paciente em decúbito lateral com a 2002). Para tanto é recomendada a colocação cabeça distendida em plano levemente inferior ao asséptica de uma agulha ou cateter calibroso, sendo restante do corpo, tracionar a língua, procurar os principais vasos utilizados para o procedimento: remover as sujidades, secreções e eventuais a veia jugular, cefálica e safena lateral, em cães, e a coágulos na cavidade orofaríngea. O decúbito veia cefálica e a safena média, nos gatos lateral com a cabeça em plano levemente inferior (RICHTER, 2010). A finalidade da reposição de ao corpo facilitará o aporte de sangue por volume é melhorar o transporte de oxigênio e a gravidade, ao sistema nervoso central e evitará falsa perfusão tecidual. O acesso venoso também via em caso de regurgitação. Nos casos de possibilita determinar o hematócrito e proteínas acentuada depressão respiratória, deve-se promover totais do plasma (RAISER, 2002; RICHTER, a intubação orotraqueal e oferecer oxigênio à 2010). proporcionar ventilação pressão positiva. Havendo impedimento para A determinação do hematócrito (Ht) e das intubação (edema de glote, reflexo laríngeo), é proteínas totais (PT) oferece excelente subsídio necessário colocar o paciente em tenda ou para repor a solução mais apropriada a fim de incubadora com oxigênio, ou adotar máscara, expandir a volemia. Este esquema evita que ao ser cateter intratraqueal ou traqueostomia. A simples procedida a reposição volêmica seja aumentada a oferta de oxigênio por vaporização na mucosa viscosidade sanguínea ou provocada hemodiluição Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 62 excessiva. Quando não houver possibilidade de fornecer lactato a um paciente supostamente em apoio laboratorial, a expansão da volemia pode ser acidose baseada na anamnese e exame clínico. Em casos de hemodiluição favorece a perfusão tecidual e que o hemorragia, deve-se repor sangue total; nas lactato da solução de Ringer não causa acidemia. queimaduras utilizar plasma ou expansor coloidal; Como a acidose lática resulta da hipoperfusão em caso de desidratação deve-se utilizar solução tecidual, o Ringer lactato auxilia a combatê-la, pois eletrolítica balanceada (RAISER, 2002). Quanto ao melhora a perfusão capilar (RAISER, 2002). uso de soluções colóides, o sangue total é indicado lática. Atualmente Estudos sabe-se demonstraram que cães hemorrágico (perda submetidos hemorrágico (MELO et al.,2010). sanguínea de 40 a 50 mL.kg-1) apresentaram do fluido recai sobre soluções choque a como solução de escolha nos casos de choque Numa fase inicial do tratamento, a escolha ao que recuperação da pressão arterial média, do débito isotônicas cardíaco e melhora da sobrevida, quando se balanceadas de eletrólitos, ou seja, cristalóides administrava solução hipertônica a 7,5%, em (lactato de Ringer ou NaCl 0,9%) na dose de 90 volume que correspondia a 10% do total do mililitros (ml)/quilograma (kg)/hora (h), por via sangramento, intravenosa (IV) no cão e na dose de 60 ml/kg/h IV temporária da pressão arterial em pacientes com no gato (MONTEIRO, 2012). Essa administração choque hemorrágico, graças a expansão volêmica e de fluidos isotônicos e com composição eletrolítica vasodilatação pré-capilar, decorrente da utilização semelhante a do plasma pode ser realizada deste tipo de solução (MELETTI et al., 2006). seguramente nas grandes perdas agudas. Todavia é proporcionando Algumas pesquisas recuperação relatam que a necessário sempre monitorar as funções renais, associação da solução hipertônica ao dextran é uma observando fluídica boa escolha em casos de choque e apresentou (inquietação, tremores, taquicardia, descarga nasal significativa superioridade. Estudos prospectivos serosa, taquipnéia, estertores úmidos e tosse) com distribuição aleatória avaliaram os efeitos das (SPINOSA et al., 2014). soluções sinais de sobrecarga hipertônicas a 7,5% simples ou Porém as soluções cristalóides não devem combinadas com ''Dextran-70'' a 6%, como ser consideradas como única fonte para a primeiro tratamento no choque hemorrágico, em fluidoterapia, em animais chocados. Há relatos de cerca de 1.500 pacientes internados em unidades que essas soluções podem causar diluição das hospitalares. Estes estudos mostraram que a solução proteínas totais e desencadear um quadro de edema hipertônica combinada com dextran eram seguras e pulmonar (RICHTER, 2010). Spinosa et al., 2014 livres de efeitos colaterais tóxicos. Não foram afirma que, além da recomendação da solução encontrados cristalóide sódio”, neurológicas, cardiopulmonares ou sépticas. Seus hemorrágico, efeitos mostraram rápido e significativo aumento da recomenda-se a utilização de soluções hipertônicas pressão arterial e maior sobrevida e ausência de à base de cloreto de sódio (NaCl 7,5%), com o ressangramento nos pacientes (MELETTI et al., intuito de assegurar a hemodinâmica. 2006). “lactato principalmente A de no literatura Ringer choque é de controversa sobre sinais de complicações renais, a Quando a fluidoterapia falha em restaurar utilização de solução de Ringer lactato no a pressão arterial e a perfusão tecidual, a terapia tratamento do choque, devido à hemodiluição e por com agentes inotrópicos (como dobutamina, Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 63 dopamina e epinefrina) e/ou vasopressores (como intervenção for inadequada, ou não houver uma norepinefrina, fenilefrina e vasopressina) deve ser intervenção instituída (MELO et al., 2010). Corroborando com irreversível levando ao óbito do animal (KUMAR a ideia anterior Raiser, 2002 afirma que, no choque et al., 2008). o processo atinge um estágio hipovolêmico, tais medicamentos citados acima (inotrópicos e/ou vasopressores), devem ser Prognóstico empregados apenas como medida de apoio, quando O prognóstico varia de acordo com o fator a correção da volemia e demais procedimentos que precipitou o choque e a sua duração. Portanto, iniciais não restaurarem a homeostase, e afirma 80% a 90% dos pacientes jovens e saudáveis com ainda que, os fármacos vasoativos têm uso limitado choque hipovolêmico sobrevivem com tratamento e são contra-indicados como terapia inicial a não apropriado, enquanto que o choque cardiogênico ser nos choques vasculogênico ou cardiogênico. associado a infarto do miocárdio extenso ou sepsis Segundo (2012) por organismos gram-negativos, apresenta uma taxa vasopressores raramente melhoraram a perfusão de mortalidade de 75% mesmo com os tratamento microvascular mais avançados (KUMAR et al., 2008). subjacente. Shere-Wolfe e podem Pacientes vasopressores et al. mascarar que o choque necessitam frequentemente ou de estejam CONSIDERAÇÕES FINAIS severamente perturbados, e que não apresentem O choque hipovolêmico, resultante da resposta à fluidoterapia, podem apresentar quadro hemorragia, é considerado comum na rotina da sugestivo de choque irreversível. clínica médica e da clínica cirúrgica em Medicina Combater a acidose é outro ponto de Veterinária, e ao considerar as características de sua grande importância durante o estado de choque. A evolução, é sabido que, o diagnóstico e início do acidose respiratória será corrigida mediante a tratamento de suporte precoce, são de extrema remoção da causa e incremento na ventilação importância no prognóstico do animal. Atualmente alveolar. E a acidose metabólica pode ser corrigida as formas de tratamento para reanimação dos com o restabelecimento da perfusão tecidual e, se pacientes em choque são multimodais, e cada vez necessário, com agentes alcalinizantes como o mais, novos meios diagnósticos e de tratamento bicarbonato de sódio (SILVA, 2012). estão sendo introduzidos na medicina veterinária A utilização e efeitos dos glicocorticóides com sucesso. Entretanto, devido à casos de têm sido estudados com detalhes no choque mortalidade ainda presentes, várias pesquisas na hemorrágico e séptico, porém sabe-se que o uso área estão sendo realizadas sobre a melhor forma de isolado de glicocorticóides é inadequado no choque manejo do paciente chocado. (RAISER, 2002). experimentais Embora relatem efeitos alguns estudos benéficos dos REFERÊNCIAS corticosteróides, é difícil comparar os diversos CARLOTTI, estudos entre si, a fim de gerar um consenso sobre a Revista FMRP, Ribeirão Preto, v.45, n.2, p. 197- utilização dos esteróides em estados de choque 207. 2012. (MONTEIRO, 2012). ALVES, K.H.G.; CARVALHO, C.C.D.; COLE, E.; acima A.P.C.P. Choque em crianças. Dessa forma, se os tipos de intervenções TEIXEIRA, M.N.; ATHAYDE, A.C. R.; SOARES, descritos P.C. Dinâmica Eritrocitária de Cães Induzidos a forem insuficientes, ou a Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v. 2, n.1, p. 053-065, 2015 64 Choque Hipovolêmico Hemorrágico. In: Trombose e Choque. In: ___. Robbins Patologia CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA Básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p.87-114. VETERINÁRIA, 35, 2008. Gramados. Anais...: LIMA, Gramados: 2008. complicações em cães e gatos. 2011. 36f. Trabalho CONTI-PATARA, A. 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