Viviane de Souza Rosa "Caracterização da expressão de Coup-TFII durante o início da diferenciação de células-tronco embrionárias" Campinas, 2015 i ii iii iv v vi Resumo Células-tronco embrionárias (CTE) são células indiferenciadas que possuem a capacidade de (1) se proliferarem indefinidamente (auto-renovação) e, quando induzidas, (2) darem origem a qualquer tipo celular presente no embrião (pluripotência). Uma das abordagens mais comumente utilizadas para o estudo de diferenciação de CTE é através da formação de agregados multicelulares esféricos denominados corpos embrióides (CE). CE passam por um processo de morfogênese semelhante ao observado em embriões, originando derivados dos três folhetos germinativos. Durante o desenvolvimento embrionário, a formação e o posicionamento dos três folhetos ocorre por um processo altamente coordenado que culmina na formação de um embrião polarizado no eixo anteroposterior. Entretanto, um dos grandes desafios de pesquisas que envolvem o uso da diferenciação de CTE em CE é encontrar indícios de que esses processos são recapitulados in vitro e se entender como que células derivadas dos folhetos germinativos, que no embrião ocorrem de forma altamente organizada, são originadas em estruturas celulares sem nenhuma organização global evidente, como visto em CE. Coup-TFII (Chicken ovalbumin upstream promotertranscription factor II) é um fator de transcrição o qual possui um papel fundamental na regulação do desenvolvimento embrionário e na aquisição de destinos celulares específicos durante a diferenciação de CTE. Utilizando CE como um modelo de estudo, caracterizamos a expressão de Coup-TFII e seu possível envolvimento durante a determinação de destinos celulares. Nossos resultados identificaram uma expressão hemisférica de Coup-TFII em CE em etapas inicias do processo de diferenciação. Esta observação nos levou a caracterizar a distribuição espacial de marcadores moleculares tecido-específicos nos CE em relação à expressão hemisférica de Coup-TFII. Interessantemente, praticamente todas as células identificadas como precursores mesodérmicos e precursores neuroectodérmicos, através da expressão de Brachyury-T e Nestin, respectivamente, estão contidas nas população de células Coup-TFII-positivas. Estes resultados sugerem a existência de um mecanismo de organização global intrínseco nas CTE, onde a expressão de Coup-TFII parece segregar os CE em dois hemisférios e, provavelmente de forma antagônica com Oct4, determinaria diferentes destinos celulares ainda em fases iniciais da diferenciação. vii viii Abstract Embryonic stem cells (ESC) are undifferentiated cells that have the ability to (1) proliferate indefinitely (self-renewal) and when induced, (2) give rise to any cell type present in the embryo (pluripotency). One of the most commonly used approaches for the study of ESC differentiation is through the formation of spherical multicellular aggregates called embryoid bodies (EB). EB undergo a process similar to that observed in morphogenesis embryos, giving derivatives of three germ layers. During embryonic development, formation and placement of the three germ layers is a highly coordinated process by which culminates in the formation of a polarized embryo in the antero-posterior axis. However, one of the great challenges of research involving the use of ESC differentiation in EB is to find evidence that these processes are recapitulated in vitro and in understanding how to cells derived from the germ layers that occurs in the embryo highly organized manner originate on cellular structures with no apparent global organization, as seen in the EB. COUP-TFII (chicken ovalbumin promoter-upstream transcription factor II) is a transcription factor which plays a key role in the regulation of embryonic development and determination of specific cell fates during differentiation ESC. Using EB as a model system, we characterized the expression of Coup-TFII and its possible involvement in the determination of cell fates. Our results identified a hemispheric expression of Coup-TFII in EB at the onset of differentiation. This observation led us to characterize the spatial distribution of tissue-specific molecular markers in EB in relation the hemispheric expression of Coup-TFII. Interestingly, practically all cells identified as mesodermal and neuroectodermal precursors by the expression of Brachyury-T and Nestin, respectively, are contained in the COUP-TFII-positive cell population. These results suggest the existence of a mechanism of global organization intrinsic to ESC, where the expression of Coup-TFII segregates the EB into two hemispheres and probably antagonistically with Oct4, determine different cell fates still in early stages of differentiation. ix x Sumário DEDICATÓRIA .......................................................................................................... xiii AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... xv LISTA DE ABREVIATURURAS...............................................................................xvii LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ xxi LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... xxiii 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 1.1. Revisão Bibliográfica ................................................................................................... 4 1.1.1. Regulação da pluripotência em CTE murinas ......................................................... 4 1.1.2. Determinação de Destinos Celulares ...................................................................... 9 1.1.3. Formação de CE.................................................................................................... 12 1.1.4. Coup-TFII.............................................................................................................. 17 2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 21 2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................ 21 2.2. Objetivos Específico ...................................................................................................21 3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 23 3.1. Cultivo das CTE E14-TG2a ....................................................................................... 23 3.2. Diferenciação das CTE E14-TG2a - Método Hanging Drop ..................................... 23 3.3. Imunofluorescência .................................................................................................... 24 3.4. Citometria de Fluxo .................................................................................................... 26 3.5. Extração de RNA e síntese de cDNA ........................................................................ 27 3.6. Real Time PCR .......................................................................................................... 28 3.7. Hibridação in situ (HIS) ............................................................................................. 30 xi 3.8. Análise Estatística ...................................................................................................... 32 4. RESULTADOS ................................................................................................................33 4.1. Caracterização do padrão de expressão de Coup-TFII em CE em diferenciação ...... 33 4.2. Comparação da localização de Coup-TFII com marcadores de precursores dos folhetos embrionários .......................................................................................................... 49 5. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 55 5.1. Padrão hemisférico de expressão de Coup-TFII em CE ............................................ 55 5.2. Aspectos específicos da expressão de Coup-TFII em CE .......................................... 65 5.2.1. Relação temporal com o desenvolvimento embrionário ....................................... 65 5.3. Influências na organização celular/tecidual dos CE ................................................. 67 5.3.1.Expressão dos fatores de pluripotência nas CTE ................................................... 67 5.3.2. Composição do meio de cultura ............................................................................ 68 5.3.3. Número inicial de células compondo os CE .......................................................... 69 6. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 71 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 73 xii Aos meus pais pelo amor incondicional, exemplo e confiança. xiii xiv Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de poder fazer o que amo e de sempre iluminar meu caminho. Aos meus pais pelo amor, dedicação, ensinamentos e acima de tudo por sempre apoiarem minhas escolhas e acreditarem que sou capaz. Ao meu irmão Fabrício, pelo apoio e força, de sempre e a Mirtes, ex-prima e amiga pela ajuda essencial que possibilitou minha chegada até aqui. Aos tantos amigos que de alguma forma contribuíram para que eu não enlouquecesse durante o mestrado, Yanna, Jéssica, Paula, Michele, Isabel, Thiago, Beto, Déia, Belleza, Lucas e Sílvio e aos que mesmo por um curto período de tempo compartilharam um espaço em casa, Ivana, Luanda, Silvânia e Mauro, meu muito obrigada pelas conversas, risos, lágrimas e principalmente pela infinita paciência. As divas e agora divos da sala de pós-graduação, Bianca, Paula, Lucimara, Marina, Fernanda, Carol, Mariana, Valquiria, Amanda, Luis, Bruno e Diego, obrigada pela companhia e gordices, quase que diárias e por tornarem os dias no DHE tão divertidos e únicos. E aos amigos de copa ou corredor, Cíntia, Dani, Ricardo, Marília, Mainara e Bárbara. A Natália, gerenciadora do departamento e amiga, muito obrigada pela ajuda em tudo e desculpa a bagunça quase que frequente que a minha pessoa consegue fazer. Não sei o que seria desse departamento sem você rs. A Lucimara pela enorme ajuda com a In Situ, biologia molecular e com os textos e ao Luís, que chegou recentemente e ganhou muitas reações de PCR. A Carolina Francelin, pela ajuda na realização da Citometria, Isabela pelo auxilia na cultura e ao Guilherme Barbosa, pelas minúsculas dicas que sempre salvam meus experimentos. Muitíssimo obrigada. xv Ao INFABIC, nas pessoas da Mariana e do Vitor, pela disponibilidade, disposição e principalmente pelas lindas imagens. A professora Marilene Lopes e sua aluna Líliam Cruz, pelo auxílio com anticorpos e lâminas nas etapas finais do trabalho, muito obrigada. A todos os docentes do Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual, por terem disponibilizado espaços para o desenvolvimento desse trabalho e pela ótima convivência nos últimos seis anos. Ao meu orientador Henrique Marques, pela oportunidade de estar aqui e poder continuar. Obrigada pelos ensinamentos, apoio nos momentos em que nada funciona e comemorações quando algo da certo. Aprendi e cresci muito durante esses dois anos. Muito obrigada por tudo. Ao professor Paulo Joazeiro, orientador durante a Iniciação Científica, agradeço pelos conselhos, histórias e exemplo na conduta profissional. Deixo aqui registrado meu respeito e admiração que tenho pelo Sr. À Lilian Panagio, secretária do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Estrutural, pelas informações, atenção e suporte a mim prestados. À Universidade Estadual de Campinas e ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural por terem disponibilizado espaço e oportunidades para meu crescimento profissional. Aos órgãos de fomento à pesquisa CNPq (processo número 134591/2013-5) e FAPESP cujo apoio financeiro possibilitou a realização deste trabalho. xvi Lista de Abreviaturas BMP4 e 2: Proteína morfogenética óssea 4 e 2, do inglês Bone morphogenetic protein BSA: Albumina sérica bovina cDNA: molécula de DNA complementar, do inglês Complementary DNA CE: Corpos Embrióides Coup-TFII: Chicken ovalbumin upstream promoter-transcription factor II CTE: Células Tronco Embrionárias D: dia de diferenciação DAPI: 4',6-diamidino-2-phenylindole DBD: domínio de ligação ao DNA, do inglês DNA binding domain DEPC: dietilpirocarbonato DMEM: Dulbeco´s Modified Eagle Medium E: estádio embrionário EDTA: ácido etilenodiamino tetra-acético, do inglês Ethylenediamine tetraacetic acid FGF/ERk: Fator de Crescimento Fibroblástico/quinase reguladora do sinal extracelular do inglês Fibroblast growth fator/Extracellular-signal-Regulated Kinases FGF: Fator de Crescimento Fibroblástico, do inglês Fibroblast growth fator GMEM: Glasgow Modified Eagle´s Medium GSK3: glicogênio sintase quinase 3, do inglês Glycogen syntase kinase 3 HIS: hibridação in situ IF: imunofluorescência xvii INFABIC: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fotônica Aplicada à Biologia Celular JAK/ STAT3: janus quinase/ transdutor e ativador de transcrição 3, do inglês janus kinase/Signal transducers and activators of transcription LBD: domínio de ligação ao ligante, do inglês ligand-binding domain LIF: fator inibidor de leukemia, do inglês Leukemia inhibitory factor MAPK: proteína-quinases ativadas por mitógenos, do inglês mitogen-actived protein kinases MCI: massa Celular Interna miRNA: microRNA mm: milímetros pb: pares de base PBS: tampão fosfato salino (do inglês, phosphate buffered saline) PFA: paraformaldeído pH: Potencial hidrogeniônico PI3K/AKT: fosfatidilinositol 3-quinases/serina-treonina quinase, do inglês Phosphatidylinositol-3-OH Kinase/ Protein kinase B RNA: Ácido ribonucleico, do inglês Ribonucleic acid RPS29: Gene que codifica a proteína ribossomal 29 RT - PCR: Reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa, do inglês Reverse transcription polymerase chain reaction SFB: Soro Fetal Bovino SNC: Sistema Nervoso Central TEM: Transição epitélio-mesênquima xviii TGF-β: Fatores de crescimento e transformação β, do inglês Transforming Growth Factorβ TME: Transição mesênquima-epitélio Wnt: importante via de sinalização, da combinação dos nomes em inglês dos genes Wg e Int μl: microlitros μm: micrômetros xix xx Lista de Figuras Figura 1: Padrões de sinalização envolvidos na manutenção da pluripotência em CTE murinas................................................................................................................................... 8 Figura 2: Formação dos três folhetos germinativos, endoderme, mesoderme e ectoderme............................................................................................................................. 10 Figura 3: Modelo comparativo entre os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário e a diferenciação de CTE através da formação de CE in vitro...................................................................................................................................... 14 Figura 4: Esquema ilustrativo do método de formação de CE, Hanging Drop.................. 24 Figura 5: Caracterização da pluripotência das CTE E14-Tg2a.......................................... 34 Figura 6: Expressão gênica relativa de Coup-TFII em CTE – E14-Tg2a e durante a diferenciação de CE............................................................................................................ 35 Figura 7: Padrão de expressão de Coup-TFII em CE nos estádios iniciais de diferenciação ............................................................................................................................................. 36 Figura 8: Padrão de expressão de Coup-TFII em CE nos estágios tardios de diferenciação ....................................................................................................................... 38 Figura 9: Análise comparativa da expressão de Coup-TFII em embrião e CE ................. 40 Figura 10: Localização hemisférica de Coup-TFII em CE ................................................ 41 Figura 11: Localização hemisférica de Coup-TFII observada dentre diversos CE ........... 43 Figura 12: CE D5 formados a partir de diferentes quantidades iniciais de células apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII ............................................................ 45 xxi Figura 13: CE D7 formados a partir de diferentes quantidades iniciais de células apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII ............................................................ 46 Figura 14: CE D7 com morfologias alongadas apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII ........................................................................................................................... 48 Figura 15: Análise da co-expressão de Brachyury-T e Coup-TFII em CE através de citometria de fluxo .............................................................................................................. 51 Figura 16: Análise da co-expressão de Nestin e Coup-TFII em CE através de citometria de fluxo..................................................................................................................................... 52 Figura 17: Expressão de marcadores dos folhetos germinativos em CE ........................... 54 Figura 18: Esquema dos possíveis domínios de localização de Coup-TFII, via de sinalização Wnt e folhetos germinativos em CE.................................................................. 63 xxii Lista de Tabelas Tabela 1: Descrição dos anticorpos utilizados na técnica de IF......................................... 25 Tabela 2: Descrição dos anticorpos utilizados na técnica de citometria de fluxo .............. 27 Tabela 3: Primers utilizados nos experimentos de qPCR, desenhados através do Primer Blast ..................................................................................................................................... 30 xxiii xxiv 1.INTRODUÇÃO Uma das características mais importantes das células-tronco embrionárias (CTE) é a capacidade de originarem qualquer tipo celular que compõe um organismo adulto. A diferenciação de CTE pode ser conduzida através da formação de aglomerados celulares esféricos, denominados de Corpos Embrióides (CE), que se assemelham a embriões no período de pós-implantação, por apresentarem morfologia tecidual e padrões de expressão de marcadores derivados dos três folhetos germinativos em uma relação temporal muito próxima a embriões (Leahy et al., 1999; Itskovitz-Eldor et al., 2000; Pekkanen-Mattila et al., 2010). O uso das CTE como sistema modelo para o estudo da Biologia do Desenvolvimento tem tornado possível o estudo de eventos chaves que regulam a aquisição inicial de destinos celulares durante o desenvolvimento de embriões, resultando na geração eficiente e reprodutível de populações celulares diferenciadas in vitro (Murry e Keller, 2008). Durante a formação de um CE, linhagens celulares são especificadas, populações celulares são morfologicamente identificadas e, estão presentes derivados dos três folhetos germinativos, originados no embrião durante o processo de gastrulação. Entretanto, todas as evidências indicavam que, em CE, a ausência de sinais intra e extra-embrionários determinantes para a padronização dos eixos embrionários in vivo, levariam à formação dos diferentes tipos celulares e tecidos aleatoriamente distribuídos nos CE em desenvolvimento (Leahy et al., 1999; Pekkanen-Mattila et al., 2010; Sajini et al., 2012). Em 2008, surgiu a primeira evidência da existência de uma organização global em CE, com a descoberta da localização polarizada da via de sinalização Wnt/β-catenina que, 1 quando modulada, resulta na polarização anteroposterior do CE, com a formação de uma estrutura similar à linha primitiva que apresenta sinais de transição epitélio-mesenquimal e formação dos folhetos germinativos, em um processo muito similar à gastrulação (Ten Berge et al., 2008). Esta descoberta foi corroborada pelo trabalho de Marikawa et al., (2009), em células-tronco de carcinoma embrionário mas, contestada por trabalhos mais recentes, que se basearam na distribuição espacial, aparentemente aleatória, de marcadores dos folhetos germinativos para sugerir que CE não são estruturas globalmente organizadas, mas sim uma estrutura esférica formada de organizações teciduais locais, aleatoriamente distribuídas no interior do CE (Pekkanen-Mattila et al., 2010; Sajini et al., 2012). No presente trabalho, caracterizamos o padrão de expressão do fator de transcrição Coup-TFII (Chicken ovalbumin upstream promoter-transcription factor II) durante a diferenciação de CE, devido ao seu papel fundamental durante o desenvolvimento embrionário (Tsai e Tsai, 1997; Pereira et al., 1999; Pereira et al., 2000; Kanatani et al., 2008; Naka et al., 2008; Boudot et al., 2011; Lin et al., 2011; Xie et al., 2011) e na transição entre o estado indiferenciado e o comprometimento celular em CTE humanas (Rosa e Brivanlou, 2011). Durante o desenvolvimento, Coup-TFII, também conhecido como NR2F2, atua na formação cardíaca, determinando a diferenciação da linhagem atrial; na formação vascular, determinando o desenvolvimento de vasos com características venosas (Pereira et al., 1999; Pereira et al., 2000), nas células precursoras neurais, atuando na transição entre a diferenciação neuronal e de células da glia (Naka et al., 2008), dentre outros. Apesar de amplamente caracterizado durante o desenvolvimento embrionário, o papel de Coup-TFII na diferenciação de CTE foi explorado apenas por um artigo (Rosa e 2 Brivanlou, 2011), que, utilizando CTE humanas, mostrou que Coup-TFII participa de um circuito regulatório com o fator de pluripotência Oct4 e com o micro-RNA miR302. Durante o estado pluripotente e indiferenciado, Oct4 e miR-302 reprimem a expressão de Coup-TFII transcricional e pós-postranscricionalmente, respetivamente. Com a transição do estado indiferenciado para a aquisição de destinos celulares específicos, as células passam a expressar Coup-TFII, que atua diretamente no locus gênico de Oct4, reprimindo a sua transcrição. Além disso, durante a diferenciação de CTE humanas, Coup-TFII é inicialmente detectado nas etapas iniciais da indução neural, sendo assim, considerado como um dos primeiros marcadores neurais humano (Rosa e Brivanlou, 2011; Hu et al., 2012). Neste trabalho, identificamos um padrão de expressão hemisférico de Coup-TFII logo no início da diferenciação de CE que sugere a presença de um mecanismo de organização global em CE. Esta expressão localizada de Coup-TFII foi então mapeada junto a marcadores moleculares tecido-específicos, confirmando uma relação entre CoupTFII e a segregação dos folhetos germinativos formados a partir da diferenciação de CTE em CE. 3 1.1 Revisão Bibliográfica 1.1.1 Regulação da pluripotência em CTE murinas Células-tronco embrionárias (CTE) são conhecidas pelo seu potencial de replicação indefinido e habilidade para se diferenciar em todos os tipos celulares presentes no organismo adulto, características que as definem como células com capacidade de autorenovação e pluripotência, respectivamente (Wobus, 2001; Burdon et al., 2002; Wobus e Boheler, 2005). CTE foram inicialmente isoladas através da massa celular interna (MCI) de blastocistos de embriões de camundongos pré-implantados (Evans & Kaufman, 1981; Martin, 1981). O caráter pluripotente das CTE pode ser comprovado pela reintrodução destas células na MCI de embriões de camundongos em estádios iniciais de desenvolvimento, uma vez que CTE irão integrar a MCI e participar do desenvolvimento normal do animal, formando camundongos quiméricos (Gossler et al., 1986). Além disso, se injetadas subcutaneamente em camundongos, essas células se diferenciam em teratomas, constituídos de vários tipos celulares de origem endodérmica, mesodérmica e ectodérmica, além de células tronco indiferenciadas (Desbaillets et al., 2000; Bratt-Leal & Carpenedo, 2009). A manutenção dessas células no estado indiferenciado requer um equilíbrio dinâmico entre moléculas sinalizadoras como o Fator inibidor de leucemia (LIF, do inglês Leukemia inhibitory fator), Proteína morfogenética óssea (BMP, do inglês Bone morphogenic protein), Wnt e fatores de transcrição como Oct3/4, Nanog e Sox2, que mantêm a pluripotência através da repressão de programas de diferenciação (Boyer et al., 2005; Wobus e Boheler 2005; He et al., 2009). 4 O LIF é uma glicoproteína solúvel da família das interleucinas 6 (IL-6) da classe das citocinas. A sinalização de LIF é iniciada através da dimerização do receptor LIFRβ com a glicoproteína transdutora de sinal gp130, os quais são responsáveis pela ativação de duas vias que atuam na regulação da auto renovação em CTE: sinalização JAK-STAT e PI3K/AKT (Niwa, 2001; Burdon et al., 2002; Kristensen et al., 2005; Niwa et al., 2009). A ativação de janus kinase (JAK) leva a ativação do fator de transdução e ativador de transcrição 3 (STAT3, do inglês Signal transducers and activators of transcription), que é translocado para o núcleo onde controla a transcrição de genes alvos que regulam a autorenovação, como Klf4 que por sua vez ativa Sox2. A segunda via é através da ativação de fosfatidilinositol 3-quinases/serina-treonina quinase (PI3K/AKT, do inglês Phosphatidylinositol-3-OH Kinase/ Protein kinase B) a qual, preferencialmente, ativa Tbx3 que leva a estimulação de Nanog, como ilustrado na Fig. 1 (Niwa, 2007; Niwa et al., 2009; Saunders et al., 2013). Adicionalmente, LIF também atua na inibição da via de proteína-quinases ativadas por mitógenos (MAPK, do inglês mitogen-actived protein kinases), que quando ativada tende a promover a diferenciação celular. A inibição de MAPK conduz a ativação de Tbx3 e consequentemente Nanog. Deste modo, o balanço entre a ativação de JAK/STAT3, PI3K/AKT e inibição das MAPK podem determinar a eficiência da auto renovação em CTE (Burdon et al., 2002; Niwa et al., 2009). Embora fundamental, LIF não é suficiente para manter as CTE no estado indiferenciado de uma maneira homogênea. Em casos de cultura ausentes de fatores presente no soro fetal bovino (SFB), LIF é insuficiente para inibir a diferenciação de CTE, principalmente a aquisição de destinos neurais (Ying et al., 2003; Sun et al., 2006). Nessas condições, BMP pode atuar em combinação com LIF para manter o estado pluripotente e 5 de auto-renovação das CTE. BMP4 e BMP2 atuam através da ativação de fatores Smad, que por sua vez, ativam a transcrição de genes inibidores da diferenciação (Id). Porém, este efeito negativo de BMP na diferenciação é dependente de LIF. Na ausência de LIF, BMP resulta na indução da diferenciação meso e endodérmica, enquanto bloqueia a diferenciação neural (Ying et al., 2003; Sun et al., 2006; Ying et al., 2008). Adicionalmente, as vias de sinalização Wnt e de Fatores de Crescimento Fibroblásticos/quinase reguladora do sinal extracelular (FGF/ERK, do inglês Fibroblast growth fator/Extracellular-signal-RegulatedKinases) também têm sido descritas na manutenção da pluripotência das CTE. A proteína glicogênio sintase quinase 3 (GSK3, do inglês Glycogen syntase kinase 3) atua como um regulador negativo da sinalização Wnt, por fosforilar β-catenina e direcioná-la à degradação. A inibição de GSK3 leva ao acúmulo de β-catenina no núcleo, o que resulta na expressão de fatores de transcrição tais como Oct3/4, Nanog e Rex1, os quais são essenciais na manutenção do estado pluripotente das CTE (Sato et al., 2004; Wobus e Boheler, 2005; Sineva e Pospelov, 2010; Kirby et al., 2012). Por outro lado, o bloqueio da sinalização FGF/ERK, responsáveis por conduzir as CTE a entrar em um estado de transição entre a pluripotência e diferenciação, tanto para destinos neurais quanto mesodérmicos, retém a expressão de marcadores de pluripotência Oct4, Nanog e Rex1 (Kunath et al., 2007; Wray et al., 2010). A inibição combinada de GSK3 e de FGF/ERK tem sido utilizada para aumentar a eficiência do controle da pluripotência. Quando CTE são cultivadas em meio básico contendo inibidores de GSK3 e ERK, conhecidos como 2i (dois inibidores), as células são mantidas em um estado homogêneo de pluripotência, no qual o nível de Nanog se torna homogêneo entre as CTE, o que não é encontrado, por exemplo, em condições de cultura na ausência desses inibidores (Ying et al., 2008; Wray et al., 2010). 6 Esses sinais extracelulares conduzem, através de vias de sinalização, a ativação de fatores de transcrição responsáveis por controlar a pluripotência das CTE. Oct4, Sox2 e Nanog são definidos como fatores chaves no controle da pluripotência, atuando através de uma rede de regulação gênica onde, além de influenciarem suas próprias transcrições através de feedback positivo e negativo, também controlam a ativação de um conjunto de genes alvos relacionados ao controle da pluripotência tanto in vivo quanto in vitro (Pan e Thomson, 2007; He et al., 2009). Níveis precisos de Oct4 são necessários para a manutenção das CTE no seu estado indiferenciado, sendo que aumentos ou decréscimos na sua expressão conduzem a diferenciação. A ausência desse gene, tanto em embrião quanto em CTE, leva a perda da pluripotência e promove a diferenciação em células semelhantes a trofoectoderma (Niwa, 2001; Wobus et al., 2005; Rizzino, 2009). Por sua vez o silenciamento de Sox2 por RNA de interferência (RNAi), também resulta em diferenciação de CTE em células de múltiplas linhagens, incluindo trofoectoderma (Ivanova et al., 2006). Nanog é outro fator chave na regulação da pluripotência em CTE. Durante o desenvolvimento embrionário, Nanog atua na manutenção da pluripotência das células do epiblasto e previne a diferenciação em endoderma primitivo. In vitro, Nanog é capaz de manter o estado pluripotente das CTE mesmo na ausência de LIF além disso, sua ausência, conduz as CTE à diferenciação espontânea em derivados dos 3 folhetos germinativos (Pan e Thomson, 2007; He et al., 2009). 7 Figura 1: Padrões de sinalização envolvidos na manutenção da pluripotência em CTE murinas. LIF atua na ativação de vias de sinalização que conduzem a transcrição de Oct4, Sox2 e Nanog, os quais formam um complexo auto-regulatório que mantém suas próprias expressões. BMP4 atua na ativação de genes inibidores da diferenciação (Id). Adaptado de Saunders et al., 2013. A desregulação nesse circuito leva ao decréscimo na expressão dos fatores que mantém a pluripotência das CTE com concomitante expressão de genes ligados a diferenciação celular. Apesar de estar claro que os fatores que regulam a pluripotência e os fatores que conduzem a diferenciação celular se inter-relacionam, pouco se sabe sobre os mecanismos que regulam o balanço entre a inativação de genes de pluripotência e a ativação de genes que direcionam a diferenciação celular (Wobus & Boheler, 2005). 8 1.1.2 Determinação do destino celular Durante as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário, os três folhetos germinativos, endoderme, mesoderme e ectoderme, são originados e posicionados pelo processo de gastrulação, caracterizado pela formação da linha primitiva no lado posterior do embrião e migração das células do epiblasto através dessa linha. Este processo resulta na formação da endoderme e mesoderme, enquanto que as células que não migraram através da linha primitiva se diferenciam em derivados ectodérmicos, formando o lado anterior do embrião. Esses movimentos morfogenéticos são controlados pela ativação e inibição de vias de sinalização como BMP, Wnt, FGF e membros da família TGF-β (Fatores de crescimento e transformação β, do inglês Transforming Growth Factor-β), como Activin/Nodal, ilustrado na Fig. 2 (Hogan, 1996; Tam e Behringer, 1997; Schier e Shen, 2000; Yamaguchi, 2001; Kubiak, 2012). In vitro, estas vias de sinalização também estão envolvidas na especificação dos folhetos germinativos. A adição de BMP4 e a ativação da via de sinalização Nodal, através da adição de Activina, induz a formação de mesoderme e endoderme durante a diferenciação de CTE caracterizada pela presença de células expressando Brachyury-T (Kubo et al., 2004; Gadue et al., 2006; Nostro et al., 2008; Turner et al., 2014). Por outro lado, a adição de BMP4 é capaz de reprimir a diferenciação neural, enquanto FGF2 e FGF4 conduzem a aquisição de destinos neurais (Kunath et al., 2007; Thomson et al., 2011; Turner et al., 2014). Resultados similares são obtidos através da adição de Wnt3a no início da diferenciação que acelera a formação de populações celulares características de linha primitiva, originando células expressando Brachyury-T e Foxa2, enquanto também é 9 responsável pela inibição da diferenciação de neuroectoderme. Por outro lado, o bloqueio da sinalização Wnt em CTE inibe a expressão de genes associados a diferenciação de endoderme, mesoderme, linha primitiva e transição epitélio-mesenquimal, aumentando a expressão de marcadores neuronais (Aubert et al., 2002; Lindsley et al., 2006; Nostro et al., 2008; Tem Berg et al., 2008; Atlasi et al., 2012; Zhang et al., 2013). Figura 2: Formação dos três folhetos germinativos, endoderme, mesoderme e ectoderme: vias de sinalização e fatores de transcrição que influenciam na especificação de destinos celulares. Adaptado de Murry and Keller, 2008. Em cultura de CTE a utilização de ativadores e inibidores dessas vias de sinalização estão sendo amplamente utilizados para analisar mecanismos que levam as células a adquirirem diferentes destinos celulares. Essa análise é realizada através da relação que 10 essas vias exercem sobre a expressão de marcadores específicos que diferem entre os três folhetos germinativos, tais como Pax6, Sox1 e Nestin que caracterizam células de origem neuroectodérmica; Foxa2 e Gata4 identificando células endodérmicas e Brachyury-T, utilizado como principal marcador de mesoderme (Leahy et al., 1999; Thomson et al., 2011; Sajini et al., 2012; Turner et al., 2014). Brachyury-T é um fator de transcrição expresso no início da gastrulação, na mesoderme em migração, linha primitiva e notocorda, sendo regulado principalmente por Wnt3a (Herrmann, 1991; Wilson et al.,1995; Arnold et al., 2000). Foxa2 também é um fator de transcrição, porém expresso na endoderme definitiva, bem como na parte anterior da linha primitiva, notocorda e endoderme definitiva, sendo comumente utilizado em diferenciação de CTE para identificar células de origem endodérmica (Sasaki e Hogan 1993). A localização espacial desses marcadores co-expressos com a via de sinalização Wnt, tem sido utilizada para demonstrar a possibilidade de CE recapitularem o estabelecimento de um eixo anteroposterior, semelhante ao observado em embrião (Ten Berge et al., 2008). Nestin é um filamento intermediário, originalmente descrito como um marcador de células progenitoras neurais, durante o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) (Lendahl et al., 1990). Porém, sua expressão também é detectada em uma grande variedade de tecidos durante o desenvolvimento embrionário (Wisie et al., 2004). Em camundongos, é primeiramente expresso em tecidos neuroectodérmicos no E7 e em todo SNC no E10 (Kaeagushi et al., 2001). Sua expressão também já foi descrita durante o desenvolvimento de músculo esquelético (Lendahl et al., 1990, Sejersen e Lendahl, 1993), durante a angiogênese de células endoteliais (Lardon et al., 2002) e no desenvolvimento de ilhotas pancreáticas (Lumelsky et al., 2001; Zulewski et al., 2001). 11 Além dos padrões de sinalização envolvidos na determinação de destinos celulares, os fatores que mantém a pluripotência, Sox2 e Oct4, podem integrar sinais externos e controlar a seleção de linhagem celular. Células que estão se diferenciando in vitro expressam diferentes combinações de genes de pluripotência, sendo que a sequência em que a expressão desses genes diminui difere entre células que adquirem diferentes destinos celulares (Thomson et al., 2011; Trott e Martinez Arias, 2013). Análises feitas durante os primeiros dias de diferenciação em CTE murinas demonstraram que células que mantém a expressão de Sox2 frequentemente co-expressam Sox1, um marcador de neuroectoderme e raramente expressam Brachyury-T, marcador de mesoendoderme. Por outro lado, células que mantém altos níveis de Oct4, co-expressam Brachyury-T, mas não Sox1. Portanto, por modular os níveis de fatores que juntos bloqueiam o processo de diferenciação, as células podem escolher um destino celular específico (Thomson et al., 2011; Trott e Martinez Arias, 2013). 1.1.3 Formação de Corpos Embrióides Um dos grandes desafios do estudo do desenvolvimento embrionário é o entendimento das hierarquias genéticas que regem os eventos iniciais responsáveis por coordenar a diferenciação celular durante a embriogênese. O estabelecimento de linhagens de CTE tem possibilitado a criação de novas abordagens experimentais que visam o estudo de populações de precursores iniciais do desenvolvimento, possibilitando assim, a manipulação da função gênica que seria letal durante o desenvolvimento in vivo (Keller 1995; Leahy et al., 1999; Bratt-Leal & Carpenedo 2009). 12 A criação de pesquisas com CTE, tem como um dos principais objetivos induzir a diferenciação dessas células em linhagens celulares específicas, na ausência de LIF, através da formação de CE (Kurosawa, 2007; Bratt-Leal & Carpenedo, 2009). Nestes agregados, CTE dão origem a uma variedade de tipos celulares especializados oriundos dos três folhetos germinativos: endoderme, mesoderme e ectoderme, recapitulando estádios iniciais do desenvolvimento embrionário (Desbaillets et al., 2000; Itskovitz-Eldor et al., 2000, Bratt-Leal & Carpenedo, 2009). Além da capacidade de CE originarem todas as linhagens celulares embrionárias, o momento em que marcadores do desenvolvimento são expressos nos CE também estão relacionados com os padrões de expressão observados durante estágios específicos da embriogênese (Leahy et al., 1999). CE com três dias de desenvolvimento são considerados equivalentes a embriões de camundongos no período de pré-gastrulação, que compreende entre 4.5 – 6.5dpc (dias pós coito), enquanto a análise de CE entre 3 e 5 dias de diferenciação se assemelha a embriões no período de gastrulação (6.5 – 7.5dpc), como ilustrado na Fig. 3 (Leahy et al., 1999; Sajini et al., 2012) Leahy e colaboradores (1999) fizeram uma análise detalhada de marcadores dos três folhetos germinativos e compararam o tempo que esses marcadores são expressos em CE com o tempo em que estão expressos durante o desenvolvimento embrionário, comprovando que a expressão de marcadores como Oct3, Fgf5, Gata4, Brachyury-T, Flk1 e Msx3, expressos no período de pós-implantação e gástrula no embrião, se correlacionam com suas respectivas expressões in vivo. 13 Figura 3: Modelo comparativo entre os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário e a diferenciação de CTE através da formação de CE in vitro. Adaptado de Keller 2005. No embrião, a restrição de destinos celulares é espacialmente organizada através da expressão regionalizada de marcadores específicos de linhagem (Tsakirids et al., 2014). Todavia, em CE é fortemente discutido se a diferenciação ocorre de forma organizada ou não. Alguns estudos afirmam que apesar da capacidade de originar células dos três folhetos germinativos, em uma relação temporal semelhante com embriões, CE não apresentam nenhum padrão organizacional que controle a diferenciação como um todo e sim uma 14 distribuição espacial desorganizada de marcadores dos folhetos (Pekkanen-Mattila et al., 2010; Sajini et al., 2012). Estudos desenvolvidos por Ten Berge e colaboradores (2008) demonstraram em CE uma polarização anteroposterior e a formação de uma região semelhante a linha primitiva. Nessa região as células passam por uma transição epitélio-mesênquimal, caracterizada pela expressão de Snail e fibronectina e se diferenciam em progenitores de mesoderme, expressando Brachyury-T e de endoderme, expressando Foxa2, sendo que essa polarização é dependente da ativação local da sinalização Wnt. Adicionalmente, marcadores de neuroectoderme, Pax6 e Sox1 se localizam em polos opostos a localização da via Wnt e marcadores de mesoendoderme, comprovando que CE apresentam um nível organizacional consistente com o processo observado in vivo, como descrito em Tam e Behringer, (1997) e Yamaguchi, (2001). Outro trabalho que corrobora com a existência de uma organização durante a diferenciação de CTE, foi realizado por Marikawa et al., (2009) através da formação de agregados originados de células-tronco de carcinoma embrionário. Os autores relatam a localização de padrões espaciais distintos de expressão gênica, característicos da formação de mesoderme, com expressão localizada de Brachyury-T e Wnt3a no 6° dia de diferenciação celular. Adicionalmente, essas expressões coincidiram com uma morfologia alongada apresentada pelos CE, semelhante ao que ocorre no embrião normal durante a formação do eixo anteroposterior (Marikawa et al., 2009). Fuchs et al., (2012) demonstraram que a adesão de CE a uma superfície de matriz extra-celular (MEC) proveu subsídios para um desenvolvimento morfológico semelhante ao observado em embriões de camundongo durante a gastrulação. As células desses CE apresentaram uma auto-organização, estabelecendo uma simetria bilateral e com 15 consequente formação de um eixo anteroposterior nos estágios iniciais de diferenciação, a qual é quebrada por volta do 6.5° dia de diferenciação, com o início da cardiomiogênese. Em contrapartida, trabalhos recentes contestam a hipótese de que CE possam recapitular o nível organizacional encontrado em embriões. Sajini et al., (2012) analisaram o destino das células que deixavam de expressar Oct4 e, embora constataram que tanto a sequência de perda de Oct4, como o início da expressão de marcadores de endoderme (Foxa-2 e AFP) e mesoderme (Brachyury-T) correspondam temporalmente ao que ocorre em embriões, essas expressões não seguem nenhum padrão global, sendo observado somente padrões locais de diferenciação. Pekkanen-Mattila et al., (2010) realizaram uma análise sistemática da distribuição de marcadores de tipos celulares específicos em CE diferenciados a partir de oito linhagens de CTE humanas, e reportam que, apesar da distribuição espacial e temporal dos folhetos germinativos ser semelhantes em todos os CE, nenhuma organização ou trajetória óbvia destes tecidos foi observada. Uma vez que a formação de CE tem características semelhantes às do desenvolvimento embrionário, a interação de diferentes camadas germinativas, a influência de vias de sinalização e fatores de transcrição sobre a diferenciação celular pode ser acessada através da diferenciação desse modelo. Isso tem levado a necessidade de se recriar in vitro, além da relação de expressão gênica já extensivamente comprovada, também a organização morfológica observada durante a formação dos três folhetos germinativos in vivo (Hao Qi et al., 2010; Petersen et al., 2012; Poh et al., 2013 e Warmflash et al., 2014). Recentemente Van den Brink et al., (2014) estabeleceram condições específicas de cultura que culminaram na formação de CE altamente organizados, com características muito semelhantes a observada em embriões no período de gastrulação, sendo assim 16 denominados gastrulóides. Esses resultados foram obtidos através do controle de três fatores que podem influenciar na homogeneidade do padrão de diferenciação de CE: (1) composição do meio de cultura; (2) tempo de exposição a fatores utilizados na diferenciação e (3) tamanho inicial dos agregados. CE foram formados a partir de pequenas quantidades de células (200 – 400) e inicialmente foram cultivados por dois dias em meio N2B27, comumente utilizado para induzir a diferenciação neural, porém, nesse caso, a utilização desse meio resultou em uma resposta homogênea a fatores externos (Turner et al., 2014). Posteriormente, a diferenciação foi controlada com a utilização de inibidores e ativadores das vias de sinalização Wnt, BMP4 e Actina/Nodal. Os CE obtidos apresentaram morfologia alongada e expressão polarizada de marcadores de mesoendoderme, tais como Brachyury-T, Tbx6, Sox17 e neuroectoderme, como Sox1, semelhante a encontrada em embriões durante o desenvolvimento. O fato de existir uma padronização global nos CE, além da relação temporal de expressão gênica comparada com embriões no início do desenvolvimento, os tornam ferramentas valiosas para o entendimento de como as células escolhem um destino celular específico durante a gastrulação e quais mecanismos governam esta etapa crucial para formação de um organismo. 1.1.4 Coup-TFII O receptor nuclear Coup-TFII (Chicken ovalbumim upstream promoter transcription factor II), também conhecido como NR2F2, é um receptor nuclear órfão, por não possuir um ligante específico identificado. Coup-TFII possui uma estrutura característica de receptores nucleares, compreendida por um domínio altamente conservado 17 de ligação ao DNA (DBD - do inglês DNA binding domain), permitindo a sua classificação como um fator de transcrição, e um domínio de ligação ao ligante (LBD – do inglês ligandbinding domain) (Lin et al., 2011; Yamazaki et al., 2013). Este fator de transcrição possui um papel fundamental em numerosos processos do desenvolvimento e função celular, estando envolvido no desenvolvimento embrionário em diversos estádios, regulando a determinação de destinos celulares específicos, como linhagens originadas das três camadas germinativas, tais como diferenciação neural, cardiovascular, desenvolvimento do estômago, além de ser essencial para a função pancreática (Lin et al., 2011). Durante a diferenciação de CTE humanas em CE, Coup-TFII é primeiramente detectado no 4° dia de diferenciação e é responsável pela ativação de Pax6, fator de transcrição importante para especificação de ectoderme neural. Entretanto, o nocaute de Coup-TFII nessas células não alterou a expressão de Brachyury-T, expresso em células de origem mesodérmicas e Sox1, expresso em estádios mais tardios da diferenciação neural de CTE humanas (Rosa e Brivanlou, 2011). Além de atuar na determinação de destinos celulares, Coup-TFII também se relaciona com os fatores de transcrição Oct4 e o miRNA miR-302, em um circuito complexo que regula a pluripotência de CTE humanas, sendo que no estado indiferenciado, Oct4 regula positivamente o miR-302, este por sua vez, reprime a expressão de Coup-TFII. Por outro lado, durante a diferenciação, Coup-TFII inibe diretamente Oct4, desencadeando um ciclo de feedback positivo para a sua própria expressão. Estes dados em conjunto evidenciam o papel de Coup-TFII na ativação de genes durante estágios iniciais de especificação celular em CTE humanas, além de atuar no balanço entre o estado indiferenciado e a diferenciação celular (Hu et al., 2012). 18 In vivo, sua expressão é primeiramente detectada no E7,5 do desenvolvimento no ectoderma neural, apresentando pico de expressão entre os dias 10-13 com declínio antes do nascimento (Qiu et al., 1997). Durante o desenvolvimento, Coup-TFII é altamente expresso em células mesenquimais de órgãos que requerem interações epitéliomesenquimais, porém, não em epitélios terminalmente diferenciados, podendo apresentar um papel na indução da diferenciação epitelial (Tsai e Tsai, 1997). A importância da expressão de Coup-TFII, durante o início do desenvolvimento embrionário, vem sendo comprovada a partir de estudos onde a inativação desse gene em camundongos leva a letalidade embrionária no 10° dia de desenvolvimento, devido a defeitos no átrio e no desenvolvimento vascular, apresentando também retardo no crescimento, hemorragias e edemas, indicando sua importante participação na angiogênese durante o desenvolvimento (Pereira et al., 1999; Boudot et al., 2011). Camundongos heterozigotos para Coup-TFII apresentam defeitos em derivados mesodérmicos, incluindo tecido muscular, adiposo e trato reprodutivo (Takamoto et al., 2005; Xie et al., 2011, Li et al., 2009). Xie et al., (2011) analisando a participação de Coup-TFII na especificação de linhagem e diferenciação celular de células mesenquimais multipotentes, relataram que Coup-TFII controla a plasticidade dos precursores mesenquimais promovendo a adipogênese e condrogênese, enquanto inibe a miogênese e a osteoblasteogênese. Ainda durante o desenvolvimento pancreático, Coup-TFII atua na ativação do gene da β-catenina e demais genes alvo da via Wnt canônica regulando a proliferação celular das células-β (Boutant et al., 2012). Coup-TFII também é descrito por participar no desenvolvimento de tumores, porém seu papel ainda é controverso. Qin et al., 2009 relatam que Coup-TFII atua na progressão 19 tumoral e formação de metástases, devido ao seu potencial de modular a angiogênese. Entretanto, Zhang et al., 2014, descreve que durante o desenvolvimento de tumores, CoupTFII atua na inibição da TEM, através de inibição da sinalização TGF-β, reduzindo a capacidade de metástases tumorais (Zhang et al., 2014). Apesar de diversos trabalhos demonstrarem a participação de Coup-TFII em diferentes etapas do desenvolvimento embrionário, pouco se sabe sobre sua função em estágios inicias da aquisição de destinos celulares. 20 2.OBJETIVOS 2.1 – Objetivo geral: O presente trabalho teve como objetivo caracterizar o padrão de expressão de CoupTFII durante a diferenciação de CTE através da formação de CE e analisar a possível participação de Coup-TFII na aquisição de destinos celulares in vitro. 2.2 – Objetivos específicos: - Caracterização do padrão de expressão de Coup-TFII durante a diferenciação em CE através de imunofluorescência (IF) e qPCR. - Comparação do padrão de expressão de Coup-TFII observado em CE com o padrão de expressão de Coup-TFII durante o desenvolvimento de embriões de camundongo. - Comparação do padrão de expressão de Coup-TFII com o de marcadores de precursores dos folhetos germinativos nos estágios iniciais da diferenciação celular por IF dupla e citometria de fluxo dupla. 21 22 3.MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 – Cultivo das CTE E14TG2a A linhagem de células E14TG2a são mantidas indiferenciadas em cultivo com meio Glasgow Modified Eagle´s Medium (GMEM) (Sigma, USA), com 1000 U/mL de fator inibidor de leucemia (LIF) (ESGRO-LIF; ChemiconMillipore), 0.1 mM de βmercaptoetanol, 1% v/v de aminoácidos não essenciais (MEM NEAA), 50 U/mL de penicilina, 50 μg/mL de streptomicina, 2 de mM L-glutamina, e 15% v/v de soro fetal bovino (FBS), em incubadora de CO2 5%, à 37 °C. As subculturas das CTE são feitas a cada dois dias, quando as células em cultura apresentam-se com 80 a 90% de confluência. As garrafas de cultura utilizadas para o cultivo das CTE são previamente tratadas com 0,1% m/v de gelatina e mantidas a 4 °C. 3.2 – Diferenciação das CTE E14TG2a - Método Hanging Drop A indução da diferenciação das CTE e formação dos CE é realizada através do método Hanging Drop (gotas suspensas). As células são retiradas do GMEM com LIF e ressuspendidas em DMEM (Dulbeco´s Modified Eagle Medium) suplementado com 0,1mM de β-mercaptoetanol, 1% v/v de aminoácidos não essenciais (MEM NEAA GIBCO), 50 U/mL de penicilina, 50 ug/mL de streptomicina (GIBCO), 2 mM L-glutamina (GIBCO), 20% v/v de soro fetal bovino (FBS - GIBCO), sem adição de LIF. A diferenciação é feita com uma suspensão contendo cerca de 1000 células, depositadas em gotas de 20 μL de meio na superfície interna da tampa de uma placa de Petri plástica, totalizando cerca de 60 gotas por tampa. A base da placa de Petri é preenchida com 10 mL de água miliQ estéril, para evitar alterações no volume do meio das 23 gotas, e a tampa é cuidadosamente invertida de modo a tampar novamente a placa de Petri, como ilustrado na Fig. 2. Desta forma, as placas contendo as “gotas penduradas” são então incubadas por dois dias em incubadora de CO2 5%, à 37 oC. Neste período, a força gravitacional mantém as CTE em contato, e sua capacidade de aderência resulta na formação de agregados esféricos denominados CE. No terceiro dia, os CE são transferidos das gotas para uma placa de Petri (não aderente) onde são mantidos em suspensão em meio de diferenciação por um total de 20 dias. Para as análises realizadas, os CE foram coletados nos dias de diferenciação D3, D4, D5, D7, D10, D13, D15 e D18, para análise do padrão de diferenciação. Figura 4: Esquema ilustrativo do método de formação de CE, Hanging Drop. Cada gota com volume de 20 uL contém 1000 células. Aproximadamente 60 gotas são feitas na tampa da placa de Petri a qual é posteriormente invertida de modo que a tampa se encaixe na base na base da placa de Petri, a qual contém água miliQ estéril. 3.3 – Imunofluorescência As reações de IF foram realizadas em CE de duas maneiras: (1) CE em suspenção, fixados com PFA4% por 15 minutos; (2) CE que passaram por um processo de dissociação com Accutase (Gibco – A11105-01). As células dissociadas foram plaqueadas e, após 4 horas fixadas com PFA4% por 15 minutos. Após etapa de fixação, as células dissociadas e CE em suspensão foram lavados com PBS permeabilizados com 0,1M, pH 6,8 por três vezes durante 5 minutos cada e então 24 permeabilizadas com Triton 0,5% diluído em PBS 0,1 M, pH 6,8, por 30 minutos. As amostras foram incubadas em solução tampão de bloqueio contendo Triton 0,2%, glicina 0,3% e BSA 3%, diluídos em PBS 0,1M, pH 6,8, para bloqueio das reações inespecíficas, por 30 minutos à temperatura ambiente. Para as reações de imunohistoquímica simples, as amostras foram incubadas por 3 horas com os anticorpos primários específicos para detecção de Coup-TFII, Oct4, Nanog, Brachyury-T, Foxa2 e Nestin, descritos na tabela 1. Após lavagem com PBS 0,1 M pH 6,8, os CE foram incubados durante 3 horas com o anticorpo secundário específico e então lavados e incubados com Faloidina, para evidenciar filamentos de actina, na diluição de 1:150, e, finalmente, marcados com DAPI, para evidenciar núcleos, na diluição de 1:1000, ambas incubações de 1 hora. Após lavagem, as amostras foram mantidas em glicerol 80%. Para as duplas marcações, os dois anticorpos primários e seus respectivos secundários foram incubados simultaneamente, como descrito acima. As imagens de CE em 3D foram obtidas com o microscópio Confocal LSM780 – NLO INFABiC-UNICAMP. As imagens relatadas representam uma projeção do eixo Z dos CE íntegros (secção ótica). Tabela 1: Descrição dos anticorpos utilizados na técnica de imunofluorescência. Anticorpo Primário Diluição Anticorpo Secundário Diluição Coup-TFII (ab64849) 1:100 1:300 Foxa2 (NBP1-95426) 1:150 Brachyury-T (sc17743) 1:100 Nestin (MAB353) 1:50 Nanog (8822 Cell Signaling) Oct4 1:100 Alexa Fluor® 488 Goat Anti-Rabbit (Invitrogem A-11008) Alexa Fluor® 488 Goat Anti-Rabbit (Invitrogem A-11008) Alexa Fluor® 488 Rabbit Anti-Goat (Invitrogem A-11078) Fluoresceína Horse Anti-Mouse (Vector F1-2000) Alexa Fluor® 488 Goat Anti-Rabbit (Invitrogem A-11008) Alexa Fluor® 488 Goat Anti-Rabbit (Invitrogem A-11008) 1:200 1:300 1:300 1:300 1:300 1:300 25 3.4 – Citometria de Fluxo Os CE foram coletados nos 4°, 5°, 6° e 7° dias de diferenciação e as células dissociadas utilizando solução contendo Tripsina, EDTA 0,02% e 0,1% de colagenase. Após completa dissociação, as células foram lavadas em solução contendo 5% de SFB diluídos em PBS 0,1M pH 7.4. As células dissociadas foram submetidas ao protocolo de marcação intracelular para citometria de fluxo de acordo com o protocolo fornecido pelo fabricante (E-Bioscence Intracellular Fixation & Permeabilization Buffer Set cat# 888824). Brevemente, as células foram incubadas em tampão de permeabilização e fixação por 30 minutos a 4 oC. Após a incubação, as células foram lavadas com o tampão de lavagem da permeabilização e incubadas com o anticorpo primário para detecção de CoupTFII, Nestin e Brachyury-T por 16 horas a 4 oC. Para a marcação com anti-Coup-TFII, foi necessária a utilização de um anticorpo secundário acoplado a fluorescência. Nestes casos, após a incubação com o anticorpo primário, a suspensão celular foi lavada duas vezes com o tampão de lavagem e incubada com os respectivos anticorpos secundários durante 40 minutos. Após incubação, as células foram lavadas por 3 vezes em solução de lavagem e ressuspendidas em PBS. Em seguida, a marcação foi analisada no Citômetro de Fluxo BD Calibur localizado no laboratório do Prof. Dr. Alessandro dos Santos Farias – IB/Unicamp. Para realização do controle negativo, foram utilizados controles de isotipos para cada anticorpo, descritos da tabela 2. Como controle negativo utilizamos células que não receberam anticorpo (Branco) e Controle de Isotipo (Ig). A marcação com Nestin foi realizada sem o Controle de Isotipo, sendo usado somente as células que não receberam anticorpo como controle. 26 Tabela 2: Descrição dos anticorpos utilizados na técnica de citometria de fluxo. Anticorpo Diluição Anticorpo Secundário Diluição Controle de Isotipo Diluição 1:200 1:50 - Rabbit-IgG NBP224893 Goat-IgG-PE IC108P - - Primário Coup-TFII (ab64849) Brac.T-PE (IC2085P) Nestin-PE (IC2736P) 1:50 10ul/106 cél. 10ul/106 cél. Alexa Fluor® 488 (A-11008) - 10ul/106 cél. - 3.5 – Extração de RNA e síntese de cDNA O RNA total dos CE no 3°, 4°, 5°, 7°, 10°, 13°, 15° e 18° dias de diferenciação e das CTE indiferenciadas foi extraído utilizando-se o reagente Trizol (Invitrogen) seguindo o protocolo recomendado pelo fabricante. As amostras foram maceradas em eppendorfs contendo 1mL de Trizol e incubados por 5minutos à temperatura ambiente. Em seguida, adicionou-se 200μL de clorofórmio a cada amostra, agitou por 15 segundos e incubou novamente por 3minutos à temperatura ambiente. Na sequência, o material foi centrifugado a 14000 xG por 15minutos a -4 ºC. Após a centrifugação, a fase aquosa foi removida, adicionou-se 500 μL de isopropanol e incubou por 10 minutos à temperatura ambiente. O material foi centrifugado a 14000 xG por 10 minutos a -4 ºC para formação do pellet na parede do tubo. Após essa etapa, o sobrenadante foi removido, e adicionou-se álcool etílico 70% a 4 ºC e o material foi então novamente centrifugado a 7000 xG por 5 minutos a -4 ºC. Finalmente, o sobrenadante foi retirado e o pellet permaneceu durante 15 minutos exposto para secar. Em seguida, o material foi ressuspendido em 50 μL de água DEPC (Dietilpirocarbonato). A avaliação da integridade das amostras de RNA total obtidas foi feita por meio da eletroforese em gel de agarose a 1% na cuba horizontal, com corrente contínua a 100V durante 20 minutos e a concentração e pureza do RNA foi analisada utilizando o 27 espectrofotômetro Nanodrop ND-1000 UV-Vis (Nanodrop Technologies), a partir da absorbância a 260 nm, e razões 280/260 nm e 260/230 nm, respectivamente. Para síntese de cDNA foi utilizado o kit RevertAid H Minus First Strand cDNA Synthesis Kit (Fermentas), a partir de amostras de RNA total especificadas acima. A síntese de cDNA foi realizada a partir de 0,5 μg de RNA total, acrescido de 1 μL de Primer Oligo(dT)18 (100uM) e quantidade suficiente de água DEPC para um volume final de 12 μL. Essa mistura foi incubada à 5 minutos por 65 oC para desnaturação. Após este período de incubação, foram adicionados 4 μL de Tampão de Reação (5X), 1 μL de dNTP (10mM), 1 μL de Inibidor de RNAse Ribolok (20 U/μL) e 1 μL de RivertAid H Minus Transcriptase Reversa (200 U/μL). As amostras foram incubadas por 1 hora a 42 oC e, novamente, por 5 minutos a 70 oC. O cDNA originado foi quantificado por espectofotometria no Nanodrop, como descrito anteriormente. 3.6 – Real Time PCR Os primers utilizados foram desenhados com o auxílio da ferramenta Primer Blast do NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/tools/primer-blast/) com base no banco de dados do NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov) e confeccionados comercialmente. Os primers foram desenhados de forma a produzirem amplicons entre 90 e 150 pb, pois acima deste tamanho, a eficiência da reação de qPCR pode ser prejudicada (Cosseau et al., 2009). Os primers sintetizados foram selecionados pela ausência de formação de dímeros, cross-dímeros, harpins, com temperatura de anelamento em torno de 60 oC, e conteúdo de GC entre 5055%. As sequências dos primers utilizados se encontram na tabela 3. A eficiência de amplificação (E) de cada um dos pares de primers foi determinada por meio da confecção de uma curva padrão de cinco pontos, gerada a partir de reações em 28 duplicatas de qPCR nas quais são utilizadas diluições seriadas (1, 1:5, 1:25, 1:125, 1:625) de cDNA de grupos onde o gene de interesse apresenta alto nível de expressão, no caso do teste de primers para Coup-TFII utilizamos CE D13. Eficiências com valores entre 90% e 110% foram consideradas como ideais. O gene de referência utilizado como controle endógeno foi o Rps29. Os resultados foram normalizados usando os valores de Ct (threshold cycle) desse gene de referência. Para quantificar a expressão gênica relativa, foi utilizado o modelo matemático 2-ΔΔCt, considerando o grupo de células indiferenciadas Tg2a como calibrador. As reações de qPCR foram realizadas com 100 ng de cDNA de CTE e CE em diferentes estágios de diferenciação, sintetizado conforme descrito anteriormente. As reações foram realizadas em triplicatas biológicas e duplicatas técnicas no equipamento StepOnePlus™ Real Time PCR System (Applied Biosystems®) com o kit KAPA™ SYBR® FAST Universal qPCR 2X (Master Mix), contendo Platinum® Taq DNA Polymerase, SYBR® Green I dye, Tris-HCl, KCl, 6 mM MgCl2, 400 μM dCTP, 800 μM dUTP, uracil DNA glicosilase (UDG) e estabilizadores. Para um volume final de 10 μL de reação foram adicionados 5 μL de SYBR® Green Master Mix, 0,25 μL de primer forward (10μM), 0,25 μL de primer reverse (10μM) e 3,5 μL de H2O tratada com DEPC. As reações foram então adicionadas em placas ópticas MicroAmp® Fast Optical 96-Well Reaction Plate with Barcode (0.1 mL) (Applied Biosystems®). Uma vez preparadas, as reações foram submetidas às seguintes condições de ciclagem: uma etapa inicial de desnaturação a 95 oC por 10 min, 40 ciclos de 95 oC por 1 min, 60 oC por 15 s e 72 oC por 20 s, seguindo de uma etapa final para a construção da curva de melting de 72 oC por 20 s, 60 oC por 1min e 95 oC por 15 s. 29 Tabela 3: Primers utilizados nos experimentos de qPCR, desenhados através do Primer Blast. Gene Sequência Coup-TFII Foward TCGGAAAGCTCTTGCTTCGT Rps29 Reverse Foward GGCCAGTTAAAACTGCTGCC GGGCGTCTGAAGGCAAGATGG Reverse TTGGAGCAGACGCGGCAAGAG 3.7 – Hibridação in situ (HIS) A sonda utilizada para detecção de Coup-TFII já havia sido previamente sintetizada em nosso laboratório. Para evitar possíveis contaminações e fontes de RNAse, água e soluções foram tratadas com DEPC, por 16 – 24 horas e em seguida, esterilizadas em autoclave (ex.: águaDEPC e PBSDEPC). Os CE foram fixados em PFA 4% overnight e lavados em PBT (PBS + Tween 20 0,1%) por três vezes de 5 minutos cada. Posteriormente foram desidratados em uma sequência de soluções de metanol em PBT a 25%, 50%, 75% e 100% por 5 minutos cada e clareados por 10 minutos em solução de peróxido de hidrogênio (H2O2) 6% à temperatura ambiente. Os CE foram então reidratados através de banhos seriados decrescentes de metanol em PBT (100% I, 100% II, 75%, 50% e 25%) por 5 minutos em cada solução e duas lavagens em PBT por 5 minutos à temperatura ambiente. Em seguida, deixou-se os CE em solução de digestão (0,5 µL Proteinase K / mL PBS) durante 1,5 minuto a 37 °C. Após digestão, os CE foram incubados por 10 minutos a 37 °C em solução de glicina 0,2% em PBSDEPC. Decorrido o tempo de incubação, os CE foram novamente fixados em solução de PFA 4% + glutaraldeído 0,2% por 15 minutos a temperatura ambiente e lavados em PBT. Na etapa seguinte, os CE refixados foram incubados em tampão de Pré-Hibridação (formamida 50%, SSC 5X pH 4,5, 50 µg/mL de tRNA de levedura, SDS 1% e 50 µg/mL de 30 heparina) durante 3 horas a 55 ºC. A hibridação realizou-se em Tampão de Hibridação (tampão de Pré-Hibridação contendo 1µg/mL da ribossonda), durante pelo menos 16 horas a 55 ºC. No dia seguinte, os CE foram lavados durante 30 minutos em tampão de PréHibridação a 55 °C; 30 minutos em tampão de Pré-Hibridação diluído em tampão SSC 2X a 55 °C; 30 minutos em tampão SSC 2X a 55 °C e finalmente, lavados por duas vezes de 10 minutos em Solução X (formamida 50%, SSC 2X pH 4,5 e SDS 1%) pré-aquecida a 55 °C. Após o tratamento com Solução X, os CE foram lavados por três vezes durante 5 minutos em PBTDEPC e mais quatro vezes de 10 minuutos cada, em solução tampão MABT (ácido maléico 100mM, NaCl 150mM, Levamisole 2mM e Tween 20-0,1%, em pH 7,5) à temperatura ambiente Após essa etapa, os CE foram incubados em reagente de bloqueio Boehringer Mannhein (BBR) a 2% em tampão MABT durante 2 horas à temperatura ambiente, para bloquear sítios aos quais o anticorpo pode eventualmente se ligar inespecificamente. Após o bloqueio, os CE foram então incubados em solução contendo 2% de BBR em tampão MABT, 1% de soro de ovelha inativado e anticorpos anti-DIG conjugados à fosfatase alcalina na titulação de 1:2000 durante pelo menos 16 horas a 4 °C. No dia seguinte, os CE foram lavados em tampão MABT, quatro lavagens de 30 minutos cada e mais duas lavagens, de 10 minutos cada, em tampão NTMT (NaCl 100mM, Tris 100mM pH 9,5, MgCl2 50mM, Tween-20 0,1%, Levamisole 2mM) à temperatura ambiente. Após essas lavagens, os CE foram tratados com Tampão NTMT juntamente ao substrato para fosfatase alcalina, NBT/BCIP (18.75 mg/mL de NBT, 9.4 mg/mL de BCIP), a 37 °C, protegidos da luz, a fim de detectar a ação da fosfatase alcalina até a reação atingir a intensidade desejada. Para interromper a reação, os CE foram lavados em PBT 1X, 31 fixados em PFA 4% a 4 ºC por pelo menos 20 minutos. Após a fixação, os CE foram lavados em PBS 1X, diafanizados em série crescente de glicerol em PBT (25%, 50% e 80%) e armazenados em glicerol 80%. 3.8 – Análise Estatística: A análise da expressão de Coup-TFII no qPCR foi feita a partir do ranqueamento de dados e análise semiparamétrica pela Análise de Variância de 1 via (ANOVA) seguido do teste de Tukey. O resultados obtidos na citometria de fluxo foram submetidos à Análise de Variância de 1 via (ANOVA), seguida pelo teste de comparações múltiplas de Holm Sidacks’s através do software GraphPad Prism 5.0. A significância estatística foi definida como P≤0,05. Os dados serão apresentados como média ± erro-padrão da média (SEM±). 32 4. RESULTADOS 4.1 – Caracterização do padrão de expressão de Coup-TFII em CE em diferenciação O padrão de expressão de Coup-TFII foi caracterizado através de marcação celular por IF e nível de expressão gênica por qPCR durante o 3°, 4°, 5°, 7°, 10°, 13°, 15° e 18° dias de diferenciação dos CE, visando determinar, em detalhe, (1) o início da expressão, (2) o pico de expressão de Coup-TFII, (3) a distribuição espacial das células expressando Coup-TFII e (4) a correlação com o padrão de expressão encontrado em embriões. A princípio, analisamos a pluripotência das CTE E14-Tg2a através da detecção dos fatores de transcrição Oct4 e Nanog, dois dos fatores responsáveis por atuar na manutenção da pluripotência dessas células (Boyer et al., 2005; He et al., 2009). A expressão nuclear de Oct4 foi observada na maioria das células (Fig. 5c), entretanto a expressão de Nanog, também nuclear, foi observada de forma heterogênea, expressa em alguns núcleos e ausente em outros (Fig. 5b). Não foi detectada expressão de Coup-TFII nas CTE E14-Tg2a (Fig. 5d). 33 Figura 5: Caracterização da pluripotência das CTE E14-Tg2a. a: CTE E14-Tg2a. b: expressão de Nanog. c: expressão de Oct4. d: ausência de expressão de Coup-TFII. Barras: 50 µm. Durante a diferenciação, inicialmente buscamos estabelecer uma relação temporal entre o padrão de expressão de Coup-TFII em CE com o padrão de expressão de Coup-TFII em embriões de camundongos. In vivo, a expressão de Coup-TFII é primeiramente detectada por volta do E7.5, apresentando pico de expressão entre os estágios E13 – E15 e decaindo antes do nascimento (Qiu et al., 1997). Para determinar, quantitativamente, o dia de início e o pico de expressão de Coup-TFII, realizamos uma análise quantitativa da 34 expressão gênica de Coup-TFII em células indiferenciadas e durante o período de diferenciação compreendido entre os dias D3 e D18, através de qPCR. Como pode ser notado na Fig. 6, durante a diferenciação de CE, a expressão de Coup-TFII é inicialmente detectada no D3 a níveis basais, sendo que no D5 tem-se um aumento da transcrição de Coup-TFII, que continua aumentando até o D13 e reduzindo no D18. Apesar de não ter sido detectado através da técnica de IF observou-se expressão de Coup-TFII nas células E14-Tg2a através de qPCR. Figura 6: Expressão gênica relativa de Coup-TFII durante a diferenciação de CE e em CTE – E14Tg2a. Durante a diferenciação, Coup-TFII é inicialmente expresso no D3, com pico de expressão no D13. Valores foram expressos como média ± SEM. * P<0,05 e ** P<0,01. A marcação de Coup-TFII por IF é observada a partir do D4, onde algumas células apresentam marcação citoplasmática e algumas, em menor número, apresentam marcação aparentemente nuclear (Fig. 7 e–h, seta e detalhe em g). CE D3 foram analisados e não apresentaram sinal de marcação de Coup-TFII (Fig. 7 a–d). O padrão observado em CE D4 é mantido em D5, com um aparente aumento de células com marcação nuclear (Fig. 7 i-l, seta e detalhe em k). Em D7, um maior número de 35 células apresentam marcação positiva para Coup-TFII, sendo que a expressão passa a ser localizada no núcleo na maioria das células, com pouca marcação citoplasmática observada (Fig. 7 m-p, seta e detalhe em o). Esta localização nuclear da expressão do Coup-TFII se mantém até o final do período de diferenciação analisado, como observado em CE dos dias 10, 13, 15 e 18 dias de diferenciação, (Fig. 8 a-d; e-h; i-l, m-p). Figura 7: Padrão de expressão de Coup-TFII em CE nos estágios iniciais de diferenciação. CE nos dias 3 (a-d); 4 (e-h); 5 (i-l) e 7 (m-p) de diferenciação. Observe no D5 (detalhe em k) a expressão de Coup-TFII se acumulando nos núcleos e no D7 (detalhe em o) a expressão localizada majoritariamente no núcleo das células. Coup-TFII em verde, Faloidina em vermelho, evidenciando filamentos de actina e DAPI em azul marcando núcleo. Barras: 50µm. 36 Com a progressão da diferenciação, os CE passam a apresentar diferentes fenótipos celulares e teciduais, onde Coup-TFII começa a ser diferencialmente expresso. No D15 e D18, diferentes conformações teciduais podem ser observadas, a Fig. 8 i-l representa um CE D15 onde Coup-TFII está expresso em todo CE, exceto em uma pequena população de células, identificada por asterisco. A Fig. 8 m-p corresponde a um CE D18, onde é possível observar uma camada de células com características epiteliais na periferia circundando todo o CE. Nessas células, a expressão de Coup-TFII está fraca ou ausente (setas), quando comparado com as células do interior do CE (asterisco), onde a expressão de Coup-TFII está mais evidente. 37 Figura 8: Padrão de expressão de Coup-TFII em corpos embrióides nos estágios tardios de diferenciação. CE nos dias 10 (a-d); 13 (e-h); 15 (i-l) e D18 (m-p) de diferenciação. Observe no D15 a ausência de expressão de Coup-TFII em uma população isolada de células (l, asterisco) e no D18 em uma população de células ao redor do CE (p, seta), enquanto expresso em células no interior do CE (p, asterisco). Coup-TFII em verde, Faloidina em vermelho, evidenciando filamentos de actina e DAPI em azul marcando núcleo. Barras: 50 µm. Nestes estágios, observamos vários CE com a formação de estruturas com características epiteliais e mesenquimais (Fig. 9b e c setas e asteriscos, respectivamente). Na maioria dos órgãos e regiões onde Coup-TFII é expresso no embrião, sua expressão encontra-se majoritariamente localizada no núcleo de células mesenquimais, enquanto 38 dispersa pelo citoplasma ou completamente ausente do núcleo de células epiteliais (Fig. 9a, dados não publicados). A Fig. 9a demonstra um embrião E14.5 marcado para Coup-TFII e contra-corado com DAPI. Nota-se, no detalhe da imagem, que mostra o pulmão em desenvolvimento, que os núcleos das células mesenquimais está marcado em vermelho, indicando a localização de Coup-TFII, enquanto que os núcleos das células que compõem o epitélio de revestimento dos ductos pulmonares estão marcadas em azul, indicando a ausência da marcação nuclear de Coup-TFII nestas células. Nos CE D15 e D18 mostrado em Fig. 9b e c Coup-TFII está presente no núcleo de células com característica mesenquimal localizadas no interior do CE (asteriscos em Fig. 9b e c), enquanto completamente ausente ou fracamente expresso nas células com características epiteliais localizadas na periferia do CE (Fig. 9b e c setas). 39 Figura 9: Análise comparativa da expressão de Coup-TFII em embrião e CE. Embrião E14.5 no qual Coup-TFII está expresso principalmente em células mesenquimais, como destacado em detalhe do pulmão (detalhe em a). b e c: Expressão de Coup-TFII presente em células mesenquimais em CE D15 e CE D18 (asteriscos em b e c, respectivamente) enquanto ausente de células com características epiteliais (setas em b e c). Em a: Expressão de Coup-TFII em vermelho e DAPI em azul. Em b e c: Expressão de Coup-TFII em verde, DAPI em azul e Faloidina em vermelho. Interessantemente, como pode ser notado em Fig. 7e-p e Fig. 10 a-c, a expressão de Coup-TFII em D4, D5 e D7 possui um padrão de expressão hemisférico. Nos estágios iniciais (D4-D5), notamos que a marcação majoritariamente citoplasmática de Coup-TFII já encontra-se localizada preferencialmente em um dos hemisférios dos CE (Fig. 10 a e b). Conforme a localização de Coup-TFII passa a ser nuclear, nos próximos dias de diferenciação, a localização hemisférica da expressão de Coup-TFII fica ainda mais evidente, como mostrado no D7 (Fig. 10 c). 40 Figura 10: Localização hemisférica de Coup-TFII em CE. Nos dias 4 (a) e 5 (b) a marcação aparenta ser citoplasmática e algumas células apresentam marcação nuclear. No dia 7 (c) a marcação se encontra majoritariamente nos núcleos de células localizadas em um dos hemisférios do CE. Coup-TFII em verde, Faloidina em vermelho, evidenciando filamentos de actina e DAPI em azul marcando núcleo. Barras: 50 µm. Este padrão hemisférico foi confirmado na maioria dos CE analisados. A Figura 11 mostra um conjunto de CE selecionados aleatoriamente dentre CE marcados para CoupTFII e contra-corados com DAPI e Faloidina, nos dias 5 e 7 de diferenciação (Fig. 11 a’–e’; a’’–e’’, respectivamente). Em praticamente todos os CE analisados, a expressão de CoupTFII se encontra polarizada. Em um dos CE aleatoriamente selecionados, mostrado em Fig. 41 11 e’ e e’’, a marcação de Coup-TFII não apresenta um padrão hemisférico nítido. A partir do D10, células expressando Coup-TFII encontram-se distribuídas por todo o volume dos CE. 42 Figura 11: Localização hemisférica de Coup-TFII observada dentre diversos CE. CED5 (a’–e’) e CED7 (a’’–e’’) dias de diferenciação. Os CE mostrados nas figuras e’ e e’’ correspondem a CE em que não observamos marcação hemisférica. Em verde, Coup-TFII, vermelho, faloidina evidenciando filamentos de actina e em azul DAPI evidenciando núcleos. Barras: 50µm. 43 O tamanho inicial dos CE, ou seja, a quantidade inicial de células que são utilizadas para formar um CE, tem sido relatada por ser um dos fatores, além da composição do meio de cultura, que interferem na polarização e na diferenciação de CE (Van den Brink et al., 2014; Fuchs et al., 2012). Para analisar como o tamanho inicial dos CE interfere na expressão hemisférica de Coup-TFII realizamos um teste com diferentes quantidades inicias de células na formação de CE. Partimos de 500, 1000 e 2000 células inicias e analisamos CE com 5 e 7 dias de diferenciação (Fig. 12 e 13). Em ambos os dias analisados, CE formados com 500, 1000 e 2000 células apresentaram um padrão de expressão de Coup-TFII semelhante com o que já havíamos relatado anteriormente (Fig. 12 e 13). No D5 é possível observar uma marcação pontuada localizada mais dispersa pelo CE, enquanto células com marcação nuclear se localizam preferencialmente em uma das extremidades (Fig. 12 a-f, setas). O mesmo é observado no D7 (Fig. 13 a-f, setas), onde a expressão de Coup-TFII já se encontra majoritariamente no núcleo de células que se localizam em uma das extremidades dos CE. Portanto, não identificamos uma interferência nítida no padrão de expressão de Coup-TFII com a variação na quantidade inicial de células. Como em toda diferenciação realizada, alguns CE não apresentaram um padrão hemisférico nítido (dados não demonstrados). 44 Figura 12: CE D5 formados a partir de diferentes quantidades iniciais de células apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII. 500 células inicias (a-b); 1000 células iniciais (c-d) e 2000 células iniciais (e-f). Setas indicam a localização de Coup-TFII em células que se localizam preferencialmente em uma região do CE. Em verde, Coup-TFII; vermelho, faloidina evidenciando filamentos de actina e em azul, DAPI evidenciando núcleos. Barras: 50um 45 Figura 13: CE D7 formados a partir de diferentes quantidades iniciais de células apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII. 500 células inicias (a-b); 1000 células iniciais (c-d) e 2000 células iniciais (e-f). Setas indicam a localização de Coup-TFII em células que se localizam preferencialmente em uma região do CE. Em verde, Coup-TFII; vermelho, faloidina evidenciando filamentos de actina e em azul, DAPI evidenciando núcleos. Barras: 50um. 46 Durante a análise da variação do número inicial de células na localização espacial da expressão de Coup-TFII, encontramos vários CE D7 formados com 2000 células iniciais que apresentaram um formato alongado, nos quais a expressão de Coup-TFII apresenta-se restrita a uma das extremidades dessas estruturas (Fig. 14A a-d, setas). A morfologia alongada já havia sido observada em CE formados a partir de 1000 células e submetidos a ensaios de HIS, com o objetivo de confirmar a expressão hemisférica de Coup-TFII em CE D7. Como pode ser visto na Fig. 14B, em todos os CE a expressão de Coup-TFII está localizada em uma das extremidades dos CE. Em alguns casos o CE parece ter sido formado pela junção de dois CE (Fig.14B, cabeças de setas), entretanto, esta marcação é também observada em CE originados de um único CE (Fig. 14B, setas), semelhantes aos observados na imunofluorescência na Fig. 14A. 47 Figura 14: CE D7 com morfologias alongadas apresentando expressão hemisférica de Coup-TFII. Em A, imunofluorescência em CE formados com 2000 células (a-d), setas evidenciam a expressão de Coup-TFII restrita a um dos polos dos CE. Em B, IHS para Coup-TFII, as setas indicam CE alongados, nos quais a expressão de Coup-TFII localiza-se em um dos polos. Cabeças de setas indicam estruturas com possível junção entre dois CE. Em verde, Coup-TFII; vermelho, faloidina evidenciando filamentos de actina e, em azul, DAPI evidenciando núcleos. Barras: 50um e 1mm. 48 4.2 Comparação da localização de Coup-TFII com marcadores de precursores dos folhetos embrionários A expressão hemisférica observada para Coup-TFII neste estudo corrobora com a observação de Ten Berge et al., (2008), que demonstraram uma polarização da via Wnt/βcatenina em CE D4. Visando explorar a natureza e possível função da expressão hemisférica de Coup-TFII nos CE, assim como correlacionar esta expressão com as observações de Ten Berge et al., (2008), buscamos associar esta expressão com a expressão de marcadores dos 3 folhetos embrionários. Foxa2 foi escolhido por ser primeiramente expresso na região anterior da linha primitiva e endoderme definitiva. Brachyury-T é um marcador de precursores mesodérmicos, e encontra-se expresso nestas células em estádios iniciais da diferenciação. Nestin é uma proteína de filamento intermediário expressa em células tronco do sistema nervoso em desenvolvimento, utilizado para evidenciar células de origem neuroectodérmica. Inicialmente, a co-localização de Coup-TFII e precursores dos folhetos germinativos foi analisada através da técnica de Citometria de Fluxo. As análises foram realizadas em CE com 4, 5 e 6 dias de diferenciação. A primeira análise realizada foi para Brachyury-T e Coup-TFII, onde foram utilizados cerca de 900 CE, totalizando aproximadamente 2 milhões de células em cada dia de análise. Esta análise revelou que no 4° dia de diferenciação aproximadamente 69% das células expressam Coup-TFII, no 5° dia 66%, no 6° dia 65% e no 7° dia 61%, enquanto que cerca de 27% das células dos CE expressam Brachyury-T no 4o dia, 18% no 5° dia, 19% no 6° dia e 9% no 7° dia. Interessantemente, em todos os dias de análise, a maioria das células positivas para 49 Brachyury-T estão contidas na população de células positivas para Coup-TFII, sendo que 96%, 98%, 97% e 99% das células Brachyury-T-positivas co-expressam Coup-TFII no 4°, 5°, 6° e 7° dia de diferenciação, respectivamente (Fig. 15). O mapeamento dos precursores neuroectodérmicos dentre as populações Coup-TFII positivas e negativas foi realizado com a dupla marcação de Coup-TFII e Nestin. Nesta análise, 63% das células expressam Coup-TFII no D4, 72% no D5 e 72% no D7, enquanto que Nestin está expresso em 57% das células no D4, 28% no D5 e 37% no D7. Assim como observado para Brachyury-T, o mesmo padrão de co-localização com Coup-TFII foi observado para a marcação com Nestin, onde 77%, 94% e 96% das células expressando Nestin, nos dias 4, 5 e 7 de diferenciação, respectivamente, estão contidas nas células positivas para Coup-TFII (Fig. 16). 50 Figura 15: Análise da co-expressão de Brachyury-T e Coup-TFII em CE através de citometria de fluxo. A: subpopulações celulares positivas para Coup-TFII, Brachyury-T e ambas as marcações. B: representação gráfica da porcentagem de células positivas para Brachyury-T, Coup-TFII e ambas as marcações. Controle negativo foi realizado com células que não receberam anticorpo (Branco) e Controle de Isotipo. Resultados expressos em média ± SEM. * p ≤ 0,05 e ** p≤0.01. 51 Figura 16: Análise da co-expressão de Nestin e Coup-TFII em CE através de citometria de fluxo. A: subpopulações celulares positivas para Coup-TFII, Nestin e ambas as marcações. B: representação gráfica da porcentagem de células positivas para Nestin, Coup-TFII e ambas as marcações. Controle negativo foi realizado com células que não receberam anticorpo (Branco). Resultados expressos em média ± SEM. * p ≤ 0,05 e ***p≤0.001. 52 A co-expressão de Coup-TFII com marcadores de precursores dos folhetos germinativos foi então analisada através da técnica de IF dupla para se determinar a relação espacial entre estas populações celulares. Primeiramente, a localização simples de Brachyury-T em CE no D5 revelou que Brachyury-T é detectado no núcleo de células, e que, em alguns CE, pode ser observado uma restrição hemisférica das células Brachyury-Tpositivas (Fig. 17AI e II, setas). A expressão de Foxa2 em CE no D4 também se encontra nuclear, porém, a localização dessas células não se restringe a uma região específica, formando populações de células Foxa2 positivas distribuídas por todo o CE (Fig. 17B I e II). O protocolo utilizado para detecção de marcadores dos folhetos em CE íntegros não foi reproduzível para a expressão de Nestin. Para detectar a expressão desse marcador, dissociamos as células de CE D5, plaqueamos e após 4 horas realizamos a imunomarcação. A expressão de Nestin foi observada como filamentos ao redor do núcleo (Fig. 17C I, II). 53 Figura 17: Expressão de marcadores dos folhetos germinativos em CE. A: Expressão de Brachyury-T no núcleo de células que se localizam, preferencialmente, em uma das extremidades dos CE, I e II. B: Expressão de Foxa2 no núcleo de populações de células distribuídas por todo o CE, I e II. C: Expressão do filamento intermediário, Nestin em células de CE D5 dissociadas e aderidas. Barras: 50 µm. 54 5. DISCUSSÃO 5.1 – Padrão hemisférico de expressão de Coup-TFII em CE A diferenciação de CTE em CE tem sido um dos principais modelos in vitro para o estudo do desenvolvimento embrionário em mamíferos (Leahy et al., 1999). Apesar de possuirmos um vasto conhecimento quanto às bases moleculares, celulares e teciduais do desenvolvimento embrionário, e também sobre as bases moleculares da diferenciação celular de CTE, ainda existem grandes lacunas de conhecimento na interface entre os mecanismos intrínsecos das CTE, que seriam capazes de reproduzir os processos biológicos que ocorrem no embrião, em uma placa de petri. Uma das questões ainda em aberto seria o quanto dos mecanismos de padronização dos eixos embrionários seria intrínseco às CTE, a ponto de identificarmos domínios de expressão e movimentos morfogenéticos organizados de uma forma global nos CE, como observamos nos embriões. Alguns trabalhos já exploraram esta questão, mas o assunto ainda é tema de conclusões contraditórias (Ten Berge et al., 2008; Marikawa et al., 2009; Sajini et al., 2012; Van den Brink et al., 2014). Os resultados desta dissertação corroboram com a existência de um mecanismo de organização global em CE similar aos mecanismos de padronização embrionária em camundongos. Neste trabalho, identificamos que o fator de transcrição Coup-TFII, que possui um papel fundamental na diferenciação celular em embriões, CTE e tumores, encontra-se expresso em um hemisfério de CE entre o 4o e 7 o dias de diferenciação. Primeiramente identificamos a dinâmica temporal da expressão de Coup-TFII ao longo da diferenciação de CE por PCR quantitativo em Tempo Real (qPCR), para quantificar o acúmulo de transcrito gênico (Fig. 6), e por IF, para detectar a localização do 55 conteúdo proteico (Fig. 7 e 8). A quantificação da expressão de Coup-TFII revelou que, CTE indiferenciadas e CE D3 apresentam uma quantidade basal de transcritos (Fig. 6). Entretanto, este nível de transcrição basal não foi suficiente para detectarmos marcação para Coup-TFII por IF nas CTE (Fig. 7d) e nos CE D3 (Fig. 7a-d). No D5, observou-se um maior nível de transcrição de Coup-TFII, que atingiu um pico no D13, estando em menor nível no D18. Esta dinâmica transcricional foi também observada por técnica de IF. Nesta análise Coup-TFII começa a ser expresso no D4, tendo um padrão disperso e indicando uma localização citoplasmática e em algumas células, aparentemente nuclear. Esta marcação se torna evidentemente nuclear a partir do D5, e o número de células positivas para Coup-TFII aumenta com o passar do tempo. Apesar de não termos realizado quantificações na marcação por IF, um maior número de células positivas para Coup-TFII pode ser observado entre D10 e D15 (Fig. 8 a-h). O mais fascinante desta caracterização foi perceber que, entre D4 e D7, a expressão de Coup-TFII encontra-se restrita a um hemisfério dos CE. Notamos que, mesmo antes da localização do conteúdo proteico estar acumulada no núcleo das células, a tradução da proteína já aparenta estar acontecendo somente em um dos hemisférios do CE (Fig. 10). A caracterização do padrão de transcrição de Coup-TFII nos CE, através da técnica de hibridação in situ, revelou que a polarização de Coup-TFII já ocorre no nível de regulação transcricional, uma vez que os transcritos encontram-se localizados em um hemisfério do CE (Fig. 14B). O próximo passo foi então utilizar marcadores tipos celulares-específicos para estabelecer uma relação entre a expressão hemisférica de CoupTFII com os principais marcadores dos folhetos germinativos no embrião. Marcadores moleculares que identificam células precursoras dos folhetos germinativos já foram amplamente caracterizados durante a diferenciação de CE 56 diferenciados a partir de CTE de camundongos (Leahy et al., 1999; Fuchs et al. 2012; Sajini et al., 2012) e humanas (Itskovitz-Eldor et al., 2000; Pekkanen-Mattila et al., 2010). Em poucos casos foi identificado padrões de regionalizações globais destes precursores, levantando uma forte hipótese de que a formação das linhagens germinativas nos CE segue um padrão de localização estocástico, variando de CE para CE. Portanto, estabelecendo-se uma relação entre a expressão de Coup-TFII com a expressão destes marcadores, poderíamos acessar se a divisão de CE em hemisférios moleculares teria algum impacto na formação dos folhetos germinativos que, aparentemente, não refletem qualquer organização global. Alternativamente, esta expressão hemisférica de Coup-TFII nestes CE poderia representar um artefato molecular, como o read-out de algum mecanismo de polarização embrionária que, nos CE, não chega a estabelecer relação com a formação dos diferentes tipos celulares. Para esta análise utilizamos as técnicas de citometria de fluxo e IF dupla. Apesar de o laboratório ter adquirido pelo menos três anticorpos para marcadores de cada folheto germinativo, baseando a escolha nas publicações mais recentes que relatam o sucesso do uso destes para estes fins, a maioria dos anticorpos não funcionaram como esperávamos. Até o momento, assumimos que tal insucesso está relacionado com os anticorpos adquiridos, uma vez que o laboratório possui ampla experiência em IF duplas com diversos anticorpos primários e secundários, e por termos contado com a colaboração e suporte do grupo do pesquisador Alessandro Farias, que realiza citometria de fluxo rotineiramente em seu laboratório. Apesar disso, os protocolos seguem sendo aperfeiçoados no laboratório buscando-se obter sucesso no uso destes anticorpos. De qualquer modo, o uso da técnica de citometria de fluxo nos possibilitou estabelecer uma relação entre a expressão de Coup-TFII e células expressando os 57 marcadores Brachyury-T e Nestin (Fig.15 e 16). Esta análise revelou que ambas populações de células expressando estes marcadores estão contidas na população Coup-TFII-positiva. 99,6% de todas as células Brachyury-T positivas também expressam Coup-TFII, enquanto 95% das células Nestin-positivas também expressam Coup-TFII. Interessantemente, se considerarmos somente as células Coup-TFII-positivas, na comparação com Brachyury-T, 27% das células Coup-TFII-positivas seriam precursores mesodérmicos, enquanto que na comparação com Nestin, 52% das células Coup-TFII-positivas seriam precursores neuroectodérmicos. Se subtrairmos os 52% de células Nestin-positivas dos 73% de células Coup-TFII-positivas que não são precursores mesodérmicos (100% - 27% Brachyury-T positivas), restariam 21% de células Coup-TFII-positivas que não seriam precursores mesodérmicos ou neuroectodérmicos. Esta porcentagem de células Coup-TFII-positivas não-mesodérmicas e nãoneuroectodérmicas também é observada se invertermos a comparação, subtraindo os 27% de células Brachyury-T-positivas dos 48% de células Coup-TFII-positivas que não são precursores neuroectodérmicos (100% - 52% Nestin positivas). Diante destes resultados, realizamos a citometria de fluxo simples para Foxa2 no D4 e identificamos que cerca de 25% das células do CE expressam Foxa2 (dados não mostrados). Como não podemos comparar as populações Coup-TFII-positivas com as Foxa2-positivas (anticorpo de CoupTFII e Foxa2 feitos em coelho) no momento, a identidade das cerca de 20% Coup-TFIIpositivas mais Brachyury e Nestin-negativas, assim como a dos 35% de células Coup-TFIInegativas nos CE, permanece desconhecida. Como uma observação adicional, vale ressaltar que em CE D4, observamos cerca de 56% das células positivas para Nestin. Considerando o estádio inicial de diferenciação destas células, consideramos esta uma porcentagem alta para representar precursores 58 neuroectodérmicos. Apesar de ser comumente utilizado como um marcador de neuroectoderme, há relatos de que Nestin não seria um marcador exclusivo de progenitores neurais (Kaeagushi et al., 2001). Trabalhos relatam sua expressão em populações de células não neurais, como progenitores de ilhota pancreáticas (Zulewski et al., 2001), músculo esquelético (Sejersen e Lendahl, 1993) e de células endoteliais (Lardon et al., 2002). Esta característica poderia justificar a relativamente alta porcentagem de células Nestin-positivas observadas neste trabalho. Entretanto, a dinâmica da expressão de Nestin observada aqui reproduz a relatada pela literatura, sendo inicialmente expresso por volta do 3° dia de diferenciação em células progenitoras neurais, decaindo durante a progressão da diferenciação, à medida que as células adquirem destinos neuronais ou gliais (Kaeagushi et al., 2001; Lumelsky et al., 2001; Wisie et al., 2004). A participação de Coup-TFII na aquisição de destinos neurais já foi relatada em CE originados de CTE humanas, onde nos dias iniciais da diferenciação, Coup-TFII está localizado ao redor de estruturas conhecidas como rosetas neurais, caracterizadas pela colocalização com o marcador neural Pax6. Interessantemente, o nocaute de Coup-TFII nessas células reduz a expressão de Pax6, no entanto a expressão de Brachyury-T e Sox1, expresso em estádios mais tardios da diferenciação neural de CTE humanas, não foram afetadas (Rosa e Brivanlou, 2011). O próximo passo foi confirmar as co-localizações reveladas por citometria de fluxo no CE como uma estrutura tridimensional, através de IF. Marcações simples para Brachyury-T, Nestin e Foxa2 (Fig.17) revelaram padrões de expressões distintas. Enquanto que células Brachyury-T positivas encontram-se mais distribuídas pelas extremidades e, em alguns casos, localizadas somente em um hemisfério dos CE, células Foxa2-positivas formam nítidos aglomerados celulares isolados (Fig. 17 A e B). Apesar de não ter sido 59 possível realizar dupla marcações com Coup-TFII, os domínios de expressão de BrachyuryT e Foxa2 aparentam estar seguindo a subdivisão de populações visualizada para CoupTFII. Assim como para os anticorpos adquiridos para citometria de fluxo, não obtivemos sucesso na realização de IF para alguns dos anticorpos, principalmente os anticorpos produzidos em camundongo (Pax6, Sox1, AFP e Nestin). Intrigantemente, quando testamos os anticorpos em cortes sagitais de embriões de camundongo conseguimos marcações específicas para Nestin e AFP. Apesar de inúmeras etapas de otimização do protocolo (Material e Métodos), esta limitação técnica nos impediu de realizar IF duplas para CoupTFII e marcadores dos folhetos germinativos de modo a mapear a distribuição tridimensional destas populações celulares nos CE em formação. Entretanto, os resultados obtidos através das IF simples e citometria de fluxo duplas revelaram um padrão reprodutível da expressão de Coup-TFII em um dos hemisférios dos CE, sendo esta população de células Coup-TFII compostas por células precursoras de tecidos mesodérmicos e dos derivados do neuroectoderma. Interessantemente, a maioria dos trabalhos na área relatam que células precursoras dos derivados dos folhetos germinativos se formam com uma distribuição espacial aleatória nos CE (Pekkanen-Mattila et al., 2010; Sajini et al., 2011). Talvez o mais forte indício seja o trabalho de Sajini et al., (2011), que analisaram o destino das células que deixavam de expressar Oct4 durante os primeiros 7 dias de diferenciação, período que compreende a formação dos três folhetos germinativos e formação do eixo anteroposterior. Embora constatassem que tanto a sequência de perda de Oct4 como o início da expressão de marcadores de endoderme (Foxa-2 e AFP) e mesoderme (Brachyury-T) correspondem temporalmente ao que ocorre em embriões, a 60 distribuição da localização destes marcadores não seguem nenhum padrão global, sendo observados somente padrões locais de diferenciação. A co-localização quase que total das células Brachyury-T-positivas e Nestinpositivas com Coup-TFII observada em nosso trabalho indica que ambas populações celulares estariam restritas a apenas um hemisfério nos CE, nas condições de cultivos conduzidas neste trabalho. Apesar desta hipótese ser refutada pela maioria dos trabalhos, Ten Berge et al., (2008) e Marikawa et al., (2009) já demonstraram padrões de expressão gênica polarizados em CE diferenciados espontaneamente a partir de CTE e células-tronco de carcinoma embrionário, respectivamente. Em especial, o trabalho de Ten Berge et al., (2008) traça um paralelo interessante com os nossos resultados, uma vez que descreve, com relativa profundidade, um mecanismo de padronização anteroposterior dos embriões com características muito semelhantes ao observado no embrião. Neste trabalho, Brachyury-T e Foxa2 estão contidos no domínio de expressão da via de sinalização Wnt, em um dos polos do CE no 4° dia de diferenciação. No polo oposto, os autores relatam a marcação dos fatores de especificação de neuroectoderma os marcadores Otx2, Pax6 e Sox1. Neste cenário, a via Wnt estaria delimitando a região do CE onde os precursores mesodérmicos e endodérmicos estão se formando. Nossos resultados indicam que o domínio de expressão de Coup-TFII nos CE estaria parcialmente sobreposto ao da via Wnt, onde na região de sobreposição Coup-TFIIWnt estariam os precursores mesodérmicos, e na região sem sobreposição entre estes dois fatores estariam os precursores neuroectodérmicos, como ilustrado na Fig.18. Vale ressaltar que Ten Berge et al., (2008) consideraram as expressões dos fatores e marcadores celulares como domínios de expressão, sem a detecção destas expressões em nível celular e sem 61 quantificar de alguma forma a co-localização destes domínios de expressão, como foi feito em nosso trabalho, através de IF e citometria de fluxo duplas, respectivamente. Com isso, não é possível concluir por este trabalho, por exemplo, se as células Brachyury-T-positivas ou Foxa2-positivas seriam também positivas para a sinalização Wnt, ou se estariam somente localizadas no mesmo polo das células Wnt-positivas. Apesar dos autores provarem um efeito da modulação da via Wnt nos domínios de expressão de Brachyury-T e Foxa2, esta relação não necessariamente seria célula-autônomo, uma vez que a sinalização Wnt ocorre através da secreção do fator para o ambiente extracelular. Entretanto, Van den Brink et al., (2014) mostraram que Brachyury-T está expresso em células onde a via de sinalização Wnt está ativa. Portanto, é possível que os precursores mesodérmicos, marcados pela expressão de Brachyury-T, seriam formados a partir da ativação da via Wnt e da expressão de Coup-TFII. 62 Figura 18: Esquema dos possíveis domínios de localização de Coup-TFII, via de sinalização Wnt e folhetos germinativos em CE. O domínio de expressão de Coup-TFII estaria parcialmente sobreposto ao da via Wnt, onde na região de sobreposição Coup-TFII-Wnt estariam os precursores mesodérmicos, BrachyuryT, e no domínio de expressão de Coup-TFII sem sobreposição com a via Wnt estariam os precursores neuroectodérmicos, Nestin. Na região composta somente pela via Wnt estariam os precursores endodérmicos, representado por Foxa-2. Uma limitação importante do nosso trabalho, no estado em que ele se encontra, é a falta da dupla detecção de Foxa2 e Coup-TFII por citometria de fluxo, resultado que será obtido com a aquisição de anticorpos adicionais, produzidos em animais que não camundongo ou coelho. Outra evidência da existência de um padrão espacial de expressão gênica foi relatada por Marikawa et al., (2009), onde os autores demonstraram que a expressão de Brachyury-T encontra-se restrita a uma região de morfologia alongada nos CE com 6 dias de diferenciação, originados de células-tronco de carcinoma embrionário P19. Além disso, os autores mostram que ambas características, a morfologia alongada e a expressão 63 localizada de Brachyury-T, são dependentes da sinalização Wnt/β-catenina, similar ao que ocorre no embrião durante a formação do eixo anteroposterior. Recentemente, o grupo do Dr. Alfonso Martinez-Aries, da Universidade de Cambridge no Reino Unido, baseando-se no trabalho de Marikawa et al., (2009), manipulou diversas condições de cultivo e vias de sinalização e demonstrou que CE derivados a partir de CTE podem reproduzir, em grande detalhe, os processos observados durante a gastrulação (Van den Brink et al., 2014). Em condições específicas de cultivo, estes CE, denominados pelos autores como gastrulóides, apresentam morfologia alongada e expressão polarizada de marcadores mesoendodérmicos (Brachyury-T, Tbx6 e Sox17) e neuroectoderme (Sox1). Quando expostos a indutores ou inibidores de vias de sinalização, os CE passam a apresentar características morfogenéticas observadas no embrião, como a modulação da proteína de adesão epitelial E-caderina, o que altera o comportamento das células dos CE em padrões muito semelhantes às transições epitélio-mesênquima (TEM) observadas durante a gastrulação. Somados, estes trabalhos fortalecem o uso de CE como uma entidade biológica valiosa para o estudo do desenvolvimento embrionário, revelando uma capacidade intrínseca das células embrionárias de assumirem destinos, comportamento e relações teciduais de forma muito semelhante ao embrião. Os resultados obtidos neste trabalho não somente corroboram com estes estudos, mas sugerem um componente completamente novo neste mecanismo. Como pode ser visto nas citações acima, todos os demais trabalhos usando CE como sistema modelo para o estudo do desenvolvimento embrionário exploraram somente conhecimentos que já haviam sido descobertos no embrião, pois o objetivo foi traçar paralelos entre o sistema modelo e o sistema biológico. Em nosso trabalho, identificamos a 64 formação de duas populações celulares discretas logo no início da diferenciação (CoupTFII-positivas e Coup-TFII-negativas), sobre as quais aparentam estar segregados os precursores dos folhetos germinativos embrionários. Com o emprego de análise de perda e ganho de função de Coup-TFII nas CTE iremos encontrar os aspectos determinantes desta expressão hemisférica de Coup-TFII nos CE sobre os folhetos germinativos. Com o estudo do transcriptoma diferencial destas duas populações de células, Coup-TFII-positivas e Coup-TFII-negativas, iremos não somente encontrar genes que estão potencialmente regulados por Coup-TFII, mas também genes cuja expressão diferencial nestas duas populações de células estariam determinando a expressão de Coup-TFII nos CE. Por fim, a caracterização dos sítios de ligação de Coup-TFII pela técnica de ChIPseq nos CE irá revelar quais destas relações gênicas entre Coup-TFII e os genes diferencialmente expressos nas duas populações seria consequência de ligações diretas ou indiretas deste fator de transcrição nas regiões regulatórias de seus genes alvos. Todas estas abordagens estão sendo conduzidas em laboratório. 5.2 – Aspectos específicos da expressão de Coup-TFII em CE 5.2.1 – Relação temporal com o desenvolvimento embrionário A caracterização da expressão de Coup-TFII em CE derivados de CTE murinas E14Tg2a revelaram que o início da expressão de Coup-TFII ocorre por volta do D4, com um aumento progressivo da expressão até o pico de expressão por volta do D13 (Fig. 6). Nossos resultados corroboram com os dados obtidos em CE diferenciados a partir de CTE humanas (Rosa e Brivanlou, 2011), onde foi também observado um pico de expressão para 65 Coup-TFII por volta do D13. Além disso, o 4o dia de diferenciação corresponde, aproximadamente, com os estádios E6.5 – E7.5 (Leahy et al., 1999), demonstrando que o início da expressão de Coup-TFII no D4 em CE correlaciona com o momento em que este gene começa a ser expresso no embrião de camundongo (Pereira et al., 1999). Uma forma de explorar nossa pergunta científica mais a fundo foi traçar um paralelo entre os padrões morfológicos estabelecidos nos CE em estádios mais avançados de diferenciação com os tecidos embrionários em que Coup-TFII encontra-se expresso durante o desenvolvimento. Em embriões E14.5, Coup-TFII está localizado majoritariamente no núcleo de células mesenquimais, apresentando uma localização dispersa por toda a célula em alguns tecidos epiteliais, enquanto completamente ausente em outros (Fig. 9a). Por exemplo, Coup-TFII é fortemente detectado no núcleo de células mesenquimais presentes no pulmão de embriões E14.5, enquanto completamente ausentes das células ductais deste órgão. Em CE D15 e D18, Coup-TFII apresenta um padrão de expressão muito similar ao observado no embrião, estando intensamente localizado no núcleo de células com característica mesenquimal (asteriscos em Fig. 9b e c), enquanto ausente ou fracamente expresso em células que apresentam características epiteliais (setas em Fig. 9b e c). Esta relação da expressão de Coup-TFII entre células epiteliais e mesenquimais sugere um papel importante deste gene nos processos de TEM e transição mesequima-epitélio (TME) durante o desenvolvimento embrionário (Tsai e Tsai, 1997). Entretanto, o único relato descrito sobre a participação de Coup-TFII na TEM foi durante o desenvolvimento de tumores, onde Coup-TFII possui um papel inibitório no processo de TEM, associada à capacidade de metástases tumorais, induzido pela sinalização TGF-β (Zhang et al., 2014). 66 Portanto, baseado na conservação do padrão específico de expressão de Coup-TFII entre células epiteliais e mesenquimais em CE, nossos resultados sugerem que análises de perda e ganho de função de Coup-TFII durante a diferenciação de CTE como CE pode ser uma importante abordagem para o estudo das bases moleculares da TME durante o desenvolvimento embrionário. A localização das células com características epitelias na periferia dos CE formam uma estrutura muito semelhante a endoderme primitiva observada em estágios iniciais do desenvolvimento embrionário e que já foi descrita em CE com 3 a 5 dias de diferenciação (Rula et al., 2007). Entretando em nossos experimentos essa estrutura foi observada somente em CE D15 e D18, porém para confirmar se essas células podem ser endoderma primitiva, torna-se necessário a identificação com marcadores específicos, como Dab2 e Gata 4 (Rula et al., 2007). 5.3 – Fatores que influenciam na organização celular/tecidual dos CE 5.3.1 – Expressão dos fatores de pluripotência das CTE A pluripotência das CTE é demosntrada através da expressão de fatores de transcrição tais como Oct4, Sox2, Nanog e Klf4 responsáveis por manterem essas células no estado indiferenciado e com características pluripotentes. Entretanto o nível de expressão desses fatores entre diferentes células pode variar de acordo com as substâncias utilizadas para manter a pluripotência. CTE cultivadas em meio contendo LIF podem apresentar expressão heterogênea, por exemplo, de Nanog como demonstramos na Fig. 5c. 67 Porém quando as CTE são cultivadas em meio básico contendo inibidores de GSK3 e ERK, conhecidos como 2i, as células apresentam um estado homogêneo de pluripotência, no qual o nível de expressão de Nanog se torna homogêneo entre as CTE, o que não é encontrado em condições de cultura na ausência desses inibidores (Ying et al., 2008; Wray et al., 2010). A importância de se buscar métodos para manter uma expressão homogênea dos fatores de pluripotência em CTE se deve ao fato de que o conjunto de fatores que uma célula indiferenciada expressa e a sequência com que a expressão desses genes diminui diferem entre células que adquirem diferentes destinos celulares, influenciando na diferenciação celular (Thomson et al., 2011; Trott e Martinez Arias, 2013). 5.3.2 – Composição do meio de cultura Muitos trabalhos relatam que a ausência de um padrão organizacional nos CE pode ser devido à dificuldade em se controlar as condições durante a cultura, como a composição de fatores do meio utilizado, qualidade do soro fetal bovino (SFB) e o tamanho dos agregados (Kibiak, 2012; Van den Brink et al., 2014). Neste trabalho, observamos uma variação na expressão de Coup-TFII nos diferentes experimentos. Apesar da maioria dos CE apresentarem a marcação hemisférica para Coup-TFII, notamos que, em alguns experimentos, esta marcação não foi observada em nenhum CE. Notamos também que isso ocorreu quando a cultura dos CE foi realizada com um SFB de lote diferente do que havia sido utilizado nos experimentos iniciais. A simples troca do lote, na aquisição de uma nova alíquota, foi suficiente para voltarmos a observar a marcação hemisférica de Coup-TFII. É sabido que o SFB é composto por uma variedade de fatores de crescimento e inibidores que 68 podem influenciar a diferenciação celular, sendo que a composição pode variar entre diferentes lotes e por isso apresentarem eficácias diferentes durante a diferenciação de CTE (Abe et al., 1996; Kibiak, 2012). A concentração de glicose no meio também pode influenciar na diferenciação de CTE. CE cultivados em meio com alta glicose (25mM - high glucose; HG) originam derivados dos três folhetos germinativos, enquanto que, baixas concentrações de glicose (5.5mM - low glucose; LG) induz principalmente a diferenciação em células de linhagem neural (Mochizuki et al., 2011; Kibiak, 2012). Isto nos levou a realizar a diferenciação de CE em meio básico DMEM com alta porcentagem de glicose (high glucose). 5.3.3 - Número inicial de células compondo os CE Variações no número de células também podem influenciar o curso da diferenciação (Kubiak, 2012; Van den Brink et al., 2014; Bedzhov e Zernicka-Goetz et al., 2014). A diferenciação de CE com baixo número inicial de células é mais amplamente utilizada por apresentar um padrão de diferenciação semelhante a embriões, sendo que uma das explicações é que baixas quantidades de células se aproximam da composição encontrada no epiblasto no período de implantação, esperando-se portanto uma recapitulação dos eventos morfogenéticos encontrados in vivo. No entanto, acredita-se que CE são geralmente formados com quantidades bem mais elevadas, o que explicaria a diferenciação desorganizada encontrada na maior parte dos artigos relatados (Sajini et al., 2012). A relação entre a quantidade inicial de células compondo o CE e seu padrão de diferenciação celular foi recentemente descrita por Van den Brink et al., (2014). CE com aproximadamente 200-400 células exibiram uma morfologia alongada coincidente com a 69 expressão polarizada de marcadores de mesoendoderme, tais como Brachyury-T, Tbx6, Sox17, similar ao que ocorre em embrião durante a padronização do eixo anteroposterior. Por outro lado, CE formados com mais de 600 células se desenvolveram de uma forma desorganizada, a qual é geralmente relatada em CE. Entretanto, realizamos experimentos para testar esta relação em nosso trabalho e não observamos variações evidentes na expressão polarizada de Coup-TFII. CE formados a partir de 500, 1000 ou 2000 células apresentaram a expressão de Coup-TFII restrita a um dos hemisférios, sendo observado diferença somente no tamanho médio dos CE observados em cada experimento (Fig. 12 e 13). No D7, foi possível observar CE apresentando morfologias alongadas, semelhantes aos observados por Marikawa et al., (2009) e Van den Brink et al., (2014). Porém, diferentemente dos resultados obtidos por Van den Brink et al., (2014), que obtiveram CE com morfologia alongada quando estes eram formados com 200 – 400 células e com a adição de um ativador da via de sinalização Wnt, nós encontramos essa morfologia em CE formados com 1000 e 2000 células, onde coincidentemente a expressão de Coup-TFII se localiza restrita a uma das extremidades do CE. 70 6.CONCLUSÕES 1) A localização hemisférica da expressão de Coup-TFII, detectada nos estádios inicias de diferenciação celular (D4 – D7), juntamente com o fato de cerca de 99% das células expressando Brachyury-T, marcador mesodérmico, e 95% das células expressando Nestin, marcador de neuroectoderme, co-expressarem Coup-TFII, corroboram com a existência de um mecanismo de organização global intrínseca em CE, onde a população de células CoupTFII-positivas espacialmente localizada, pode estar atuando na segregação de folhetos mesodérmicos e neuroectodérmicos. 2) A caracterização da expressão de Coup-TFII durante a diferenciação de CTE em CE demonstrou que o dia de diferenciação em que a expressão de Coup-TFII é primeiramente observada, corresponde com o estádio em que a expressão de Coup-TFII é primeiramente observada em embriões de camundongos. Além disso, a dinâmica de expressão de CoupTFII reportada aqui, com um aumento progressivo da expressão e um pico por volta do D13, é muito semelhante à dinâmica deste gene em CE diferenciados a partir de CTE humanas. 3) A regulação da expressão de Coup-TFII em tecidos epiteliais e mesenquimais demonstrou ser muito semelhante entre nossos resultados nos CE D15 e D18 com o estádio embrionário correspondente E14,5, com a expressão de Coup-TFII sendo fortemente marcada em células mesenquimais, enquanto praticamente ausente em células epiteliais. 71 72 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABE K, NIWA H, IWASE K, TAKIGUCHI M, MORI M, ABÉ SI, ABE K, YAMAMURAKI KI. 1996. Endoderm-Specific Gene Expression in Embryonic Stem Cells Differentiation to Embryoid Bodies. Exp Cell Res. 229(1):27-34. ARNOLD SJ, STAPPERT J, BAUER A, KISPERT A, HERRMANN BG, KEMLER R. 2000. Brachyury is a target gene of the Wnt/beta-catenin signaling pathway. Mech Dev. 91(1-2):249-58. 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