fílon de alexandria Coleção cátedra coordenada por gabriele cornelli • Platão: A construção do conhecimento José Gabriel Trindade Santos • Introdução à “filosofia pré-socrática” André Laks • A filosofia antes de Sócrates: Uma introdução com textos e comentário Richard D. McKirahan • Fílon de Alexandria Francesca Calabi francesca calabi Fílon de Alexandria Título original: Filone di Alessandria © 2013, Carocci editore S.p.A., Roma ISBN 978-88-430-6796-1 Tradução: José Bortolini Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes Diagramação: Ana Lúcia Perfoncio Revisão: Caio Pereira Tiago José Risi Leme Capa: Marcelo Campanhã Impressão e acabamento: PAULUS Sem a devida autorização, é proibido reproduzir este volume, mesmo parcialmente, e com qualquer meio, incluída a fotocópia, também para uso interno ou didático. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Calabi, Francesca Fílon de Alexandria / Francesca Calabi; [tradução José Bortolini]. – São Paulo: Paulus, 2014. – (Coleção cátedra) Título original: Filone di Alessandria. ISBN 978-85-349-3854-9 1. Filon, de Alexandria 2. Filosofia antiga I. Título. II. Série. 14-00889CDD-180 Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia antiga 180 Coleção com apoio: 1ª edição, 2014 © PAULUS – 2014 Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 • São Paulo (Brasil) Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5087-3700 www.paulus.com.br • [email protected] ISBN 978-85-349-3854-9 Fílon de Alexandria SUMário APRESENTAÇÃO da coleção............................................................. 7 Abreviaturas........................................................................................ 9 1.Atenas, Roma, Jerusalém............................................................. 11 Bíblia e filosofia....................................................................................... 11 A tradução em grego da Bíblia............................................................... 17 Tradução e interpretação....................................................................... 21 Exegese e filosofia................................................................................... 25 2.Leituras da Bíblia........................................................................... 35 Literalidade e alegoria............................................................................ 35 Histórias das origens............................................................................... 41 Os gigantes............................................................................................. 47 O dilúvio................................................................................................. 49 Copresença de mais significados............................................................ 51 3.Lei e ordem do cosmo.................................................................. 55 A formação do cosmo............................................................................. 55 A unicidade de Deus............................................................................... 57 A simultaneidade da criação................................................................... 61 A conservação e a dissolução do universo.............................................. 65 As potências e o logos.............................................................................. 67 Potências, ajudantes, anjos..................................................................... 73 Os ministros do soberano do universo................................................... 77 4.Soberania e incognoscibilidade de Deus.......................... 81 O rei divino............................................................................................. 81 Incognoscibilidade de Deus.................................................................... 86 5 Sumário A visão indireta....................................................................................... 88 A imutabilidade divina............................................................................ 91 5.Governo do mundo e contemplação................................. 95 O sétimo dia............................................................................................ 95 Os terapeutas e os essênios..................................................................... 99 A contemplação e o deserto................................................................... 102 Sodoma................................................................................................... 105 A função formativa do deserto............................................................... 107 Vida prática............................................................................................. 113 Equilíbrio entre atividades...................................................................... 117 6.Realeza e leis animadas.............................................................. Realeza e virtude.................................................................................... Leis animadas.......................................................................................... Monarquia e monoteísmo...................................................................... Somente o sábio é rei.............................................................................. Modelos de realeza................................................................................. Rebeliões e conflitos............................................................................... 123 123 128 129 133 135 138 7.Os patriarcas e as virtudes....................................................... Os patriarcas como modelo.................................................................... Abraão: a sabedoria................................................................................ Os estudos encíclicos.............................................................................. O sophós.................................................................................................. Jacó: a ascese........................................................................................... A escada de Jacó...................................................................................... Os progredientes..................................................................................... Virtudes e paixões................................................................................... 143 143 146 152 155 159 167 169 172 8.Fílon na tradição posterior................................................... Fílon e a tradição platônica pagã............................................................ Fílon e a patrística................................................................................... Fílon na tradição judaica posterior......................................................... 177 177 182 188 Obras de Fílon..................................................................................... 193 Bibliografia.......................................................................................... 203 Índice de nomes.................................................................................. 219 6 Fílon de Alexandria APRESENTAÇÃO da coleção A Coleção Cátedra deriva seu nome da Cátedra UNESCO Archai: as origens do pensamento ocidental, que quis emprestar a esta coleção sua filosofia de trabalho e sua sensibilidade para os estudos das origens do pensamento ocidental. A UNESCO, patrocinando o Grupo Archai como sua Cátedra, e tornando-a membro da rede UNITWIN da UNESCO Chairs, reconheceu o impacto científico de suas diversas atividades. De fato, Archai atua há mais de uma década como centro de consolidação de pesquisas, organização de cursos e seminários, e publicação de livros e revistas, com forte atuação no âmbito nacional e internacional, procurando construir uma abordagem interdisciplinar que permita fazer compreender a filosofia antiga em seu contexto político, econômico, religioso e literário. Em parceria com a Paulus, editora renomada e de grande alcance no mercado editorial brasileiro, a coleção visa disponibilizar, para um público brasileiro de especialistas e interessados, cada dia mais amplo e exigente, monografias, comentários, traduções, compêndios e obras temáticas que explorem o vasto campo do pensamento ocidental em suas origens greco-romanas. Gabriele Cornelli Diretor da Coleção Cátedra Coordenador da Cátedra UNESCO Archai www.archai.unb.br 7 Fílon de Alexandria Abreviaturas Abr. De Abrahamo Aet. De aeternitate mundi Agric. De agricultura Alex.Alexander Cher. De cherubim Conf. De confusione linguarum Congr. De congressu eruditionis gratia Contempl. De vita contemplativa Decal. De Decalogo Deter. Quod deterius potiori insidiari soleat Deus Quod Deus sit immutabilis Ebr. De ebrietate Flacc. In Flaccum Fug. De fuga et inventione Gig. De gigantibus Her. Quis rerum divinarum heres sit Hypoth. Hypothetica / Apologia pro Iudaeis Ios. De Iosepho Leg. I, II, III Legum allegoriae, I, II, III Legat. Legatio ad Caium Migr. De migratione Abrahami Mos. I, II De vita Mosis, I, II Mut. De mutatione nominum Opif. De opificio mundi Plant. De plantatione Post. De posteritate Caini Praem. De praemiis et poenis 9 Abreviaturas Prob. Prov. QE QG Sacr. Sobr. Somn. I, II Spec. II, II, III, IV Virt. 10 Quod omnis probus liber sit De providentia Quaestiones et solutiones in Exodum Quaestiones et solutiones in Genesim De sacrificiis Abelis et Caini De sobrietate De somniis, I, II De specialibus legibus, I, II, III, IV De virtutibus Fílon de Alexandria 1 Atenas, Roma, Jerusalém Bíblia e filosofia F ílon, judeu que viveu em Alexandria (Egito) no decorrer do século I, conjuga a filosofia grega com a tradição judaica. Exegeta da Bíblia, lia o texto da Escritura utilizando categorias filosóficas platônicas, aristotélicas, estoicas, céticas. No trabalho de interpretação, perfila-se ao lado daqueles autores que, em período contemporâneo ou um pouco posterior, reelaboram o pensamento de filósofos precedentes e utilizam o comentário textual como instrumento de pesquisa e de leitura da realidade. Refiro-me, especialmente, a filósofos estoicos e platônicos. Paralelamente, o seu trabalho de análise da Bíblia conduz àquela exegese que conhecemos mediante leituras de textos posteriores, tanto de âmbito judaico quanto cristão. Para nós, Fílon representa o primeiro exemplo. É possível que na Alexandria do século I tenha havido escolas exegéticas judaicas cujos testemunhos se perderam: primeiramente Aristóbulo e, a seguir, Fílon seriam seus representantes. A hipótese, debatida entre os estudiosos, foi recentemente retomada por Adam Kamesar1 e, em termos muito decisivos, por Maren 1 A. KAMESAR, Biblical Interpretation in Philo, em Id. (org.), The Cambridge Companion to Philo, Cambridge University Press, Cambridge, 2009, p. 65-91, especialmente p. 65. 11 Atenas, Roma, Jerusalém Niehoff,2 de que haveria vários endereços de exegese dentro do judaísmo helenista. Alguns teriam seguido um acostamento mitológico-comparativo; outros, um método histórico; outros, por fim, ter-se-iam ocupado com emendas textuais. Esses endereços deveriam ser estudados em relação às análises dos textos homéricos levadas a cabo no mesmo período por filólogos alexandrinos. É bastante provável que Fílon tenha por trás de si uma ou mais escolas exegéticas, embora seja muito difícil delinear seus contornos. De qualquer forma, o Alexandrino leva adiante uma interpretação aprofundada, formas de exegese e leituras que lhe permitem esclarecer vários significados de passagens da Bíblia, aprofundar sua leitura, dar uma chave explicativa de dificuldades textuais, aparentes contradições, frases que lhe parecem pouco convincentes. Paralelamente, ele escreve obras que não repisam a forma do comentário, mas se apresentam na forma do trabalho autônomo. A complexidade da sua formação e as referências do seu pensamento quer à cultura grega quer à tradição judaica levaram os estudiosos a discutir longamente acerca da pertença cultural do filósofo, isto é, se é justo falar de Philo graecus ou de Philo iudaeus. Ainda, no passado, muitos críticos se interrogavam acerca da natureza do seu pensamento e acerca da sua originalidade: perguntavam-se se suas elaborações não são simples remanejamentos de textos de outros, privados de coerência e de sistematicidade. A própria natureza do acostamento filoniano, a modalidade de aprofundamento teórico que tem origem no texto bíblico, induziu longa tradição de estudiosos a considerar seu trabalho obra eclética, privada de caráter unitário e de conse­ quência, amontoado de teses disparatadas, privadas de filão lógico. Trata-se de leituras que não levam em conta a natureza da obra filoniana, a complexidade do seu trabalho, leituras que nas- 2 M. R. NIEHOFF, Jewish Exegesis and Homeric Scholarship in Alexandria, Cambridge University Press, Cambridge, 2011. 12 Fílon de Alexandria cem de um erro de perspectiva, hoje superadas após o magistral trabalho de Valentin Nikiprowetzky.3 Este forneceu uma chave de leitura dos textos filonianos que mostra assistematicidade e aparentes saltos explicativos. Paralelamente, também outros críticos procuraram projetar luz nos procedimentos do autor: Runia, Hay, Hamerton-Kelly, Cazeaux e outros. Uma vez realizada a reviravolta de perspectiva iniciada com a análise de Nikiprowetzky, a coerência do Alexandrino se mostrou associada ao filão do comentário, à pesquisa exegética que constitui sua ossatura. Mais que a uma visão unitária como aquela prospectada por Harry A. Wolfson,4 a profundidade da elaboração filoniana remete a múltiplas explicações e a diversos planos de aprofundamento pessoal, a uma unitariedade que se atém ao texto de referência mais que ao comentário.5 Por isso, segundo Nikiprowetzky,6 haveria no discurso filoniano um constrangimento exegético, uma obrigação a repensar continuamente as passagens consideradas, a rever sua interpretação, a elaborar novas formas de explicação. Daí a oportunidade de estudar em Fílon motivos exegéticos, além de temas filosóficos. O autor não é divisível em seus componentes, e em cada uma de suas obras se encontram, estreitamente entrelaçados, aspectos exegéticos e aprofundamentos teóricos, temas ligados à interpretação pes­soal e teorizações que conduzem à filosofia. Paralelamente, agem elementos próprios de ambas as tradições de pertença, a judaica e a grega. As obras, mais de quarenta textos, têm várias formas: do comentário textual ao escrito histórico, da exposição da lei mosaica 3 Le commentaire de l’Écriture chez Philon d’Alexandrie. Son caractère et sa portée, observations philologiques, Brill, Leiden, 1977. 4 Philo. Foundations of Religious Philosophy in Judaism, Christianity and Islam, Harvard University Press, Cambridge (MA), 1962. 5 Cf. R. RADICE, Introduzione, em Filone, Le origini del male, Rusconi, Milão, 1984; D. T. RUNIA, The Structure of Philo’s Allegorical Treatises, em Id., Exegesis and Philosophy. Studies on Philo of Alexandria, Variorum, Aldershot, 1990, p. 126-9. 6 Le commentaire, cit., p. 239. 13