A TRANSIÇÃO PARA A FILOSOFIA CRISTÃ 1 A notável originalidade e o alcance revolucionário da mensagem cristã tem um terreno histórico bem determinado, com algumas soluções que preparam, de certo modo, a estrada para a interpretação correta da doutrina evangélica. Dado fundamental desse período é o desejo de conciliar os conhecimentos gregos e o seu patrimônio religioso com o pensamento oriental e o judaico, para demonstrar-lhes a concordância básica. Uma tentativa dessa aproximação foi realizada, na Palestina, no século I a.C., pelos essênios, grupo religioso que interpretava alegoricamente o Antigo Testamento, utilizando principalmente do pensamento grego. Acreditavam na preexistência e imortalidade da alma, em divindades intermediárias entre deus e o mundo (demiurgo). Aproximação aos estóicos. Fílon de Alexandria (30-20 a.C. – 40d.C.) procurou conciliar as crenças judias com o pensamento grego, escrevendo um comentário ao Antigo Testamento. Pontos principais de sua doutrina: 1. transcendência de Deus em relação ao mundo e ao conhecimento; 2. o Logos, como intermediário entre Deus e o homem; 3. o reencontro do homem com Deus na união extática. O Logos é concebido como modelo da criação (idéia platônica que via o divino como a sede das idéias), através do qual Deus ordena e plasma a matéria. Origem das imperfeições, dela o homem deve saber libertar-se para buscar, no êxtase, a união com Deus. Esse clima cultural que remonta a Platão, com influxos do Oriente e tentativas de assimilação do ideário judaico, gera o neoplatonismo, cujo fundador foi Amônio de Sacas (175-242 d.C.) que nada escreveu e que tinha sido trabalhador braçal (daí a alcunha de “Sacas”). 1 Roberto ROSSI. Introdução à Filosofia: história e sistemas. SP: Edições Loyola, 1996.