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Contemporânea
história Contemporânea
História
História
Contemporânea
Dennison de Oliveira
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2942-6
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
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Dennison de Oliveira
História Contemporânea
Edição revisada
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
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© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
O48h
Oliveira, Dennison de.
História contemporânea / Dennison de Oliveira. - ed. rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil,
2012.
102p. : 28 cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-2942-6
1. Relações internacionais. 2. História moderna. I. Título.
12-4799.
CDD: 900
CDU: 94
09.07.12 24.07.12
037263
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.A.
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Sumário
Introdução: o mundo ao ­alvorecer do século XX | 9
A predominância da Europa | 9
Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentes | 10
A Segunda Revolução Industrial | 11
O imperialismo | 12
As forças da tradição e da transformação | 14
Primeira Guerra Mundial | 17
A política de alianças e as causas imediatas da guerra | 17
O impasse militar: a guerra de trincheiras | 18
As novas tecnologias e a guerra no ar e no mar | 19
O desfecho da guerra | 20
Consequências do conflito | 21
Revoluções socialistas e movimento operário | 25
Os vários socialismos e suas origens | 25
O movimento operário | 26
A Revolução Russa | 28
Outras revoluções socialistas | 29
A social-democracia | 30
Modelos econômicos: o ­desenvolvimento do ­capitalismo | 33
O taylorismo e o fordismo | 33
A urbanização | 35
A divisão internacional do trabalho | 37
A crise de 1929 e as relações internacionais | 37
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Modelos econômicos: o ­desenvolvimento do ­comunismo | 41
A nova sociedade socialista | 41
A planificação e seus objetivos | 42
A industrialização, urbanização e educação | 43
A coletivização e o fim da propriedade privada | 44
Economia, política e sociedade sob a ordem comunista | 45
Segunda Guerra Mundial | 47
A ascensão do nazifascismo e do militarismo japonês | 47
A mundialização do conflito | 48
As novas tecnologias: a guerra no ar e no mar | 50
O desfecho da guerra | 51
Consequências do conflito | 53
Guerra Fria e bipolarização | 57
Origens da Guerra Fria | 57
A bipolarização e as superpotências | 58
As guerras localizadas e a bipolarização | 60
A Guerra Fria, a descolonização e o Terceiro Mundo | 61
O fim da Guerra Fria | 63
Socialismo: seus limites e possibilidades | 65
A economia planificada e seus êxitos | 65
As limitações do planejamento centralizado e suas manifestações | 66
As reações do autoritarismo soviético | 68
A era da “estagnação” | 69
O fim do socialismo | 70
Capitalismo: suas crises e superações | 73
O estado do bem-estar social (welfare state) e o keynesianismo | 73
O fordismo como projeto de sociedade | 75
As tensões e contradições do fordismo e do welfare state | 76
Os excluídos do sistema e suas manifestações | 77
O declínio e crise do fordismo e do keynesianismo | 78
Neoliberalismo, globalização e mundialização do capital no final do século XX | 81
O choque do petróleo e suas implicações | 81
A nova sociedade capitalista: a “acumulação flexível” | 82
O “Estado mínimo” | 83
O neoliberalismo e suas bases sociais e culturais de apoio | 84
O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85
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Terrorismo, guerras e conflitos | 87
Historicidade do terrorismo | 87
A questão palestina e o terrorismo | 88
As guerras árabe-israelenses | 89
Os grupos terroristas nos países do Primeiro Mundo | 90
As guerras no Iraque e Afeganistão | 91
Economia e sociedade no século XXI | 95
O fim da política | 95
Os EUA como única superpotência | 96
A ascensão da China | 97
O aquecimento global e os problemas ambientais | 98
A questão demográfica | 99
Referências | 101
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Apresentação
Prezados alunos,
Este livro refere-se à História Geral e abrange os séculos XX e XXI. Nele estão
contidos os principais eventos, tendências e instituições que mais influência
exerceram sobre a conformação da sociedade na qual vivemos. Por se tratar
de uma síntese, espera-se que ele sirva como material de introdução ao estudo
da História Contemporânea e também como guia para aprofundamento dos
assuntos aqui tratados.
Pretende-se que o texto de cada capítulo seja inteligível em si mesmo.
Contudo, é indispensável não perder de vista que tanto o viver social quanto
o tempo histórico são um todo contínuo e indivisível e, se o dividimos
formalmente, é apenas para fins de estudo. O leitor deve atentar para as
diferentes durações dos fenômenos históricos e sociológicos aqui descritos, as
quais recorrentemente transcendem o conteúdo abarcado em cada capítulo.
Além disso, é indispensável não perder de vista que a disciplina de História
exige um constante exercício de erudição. É necessário, tanto quanto possível
e, na medida dos interesses de cada um, ler as obras completas, confrontar
os originais com as diferentes leituras que deles são feitas e tentar se manter
atualizado com os contínuos avanços da ciência da História. Como qualquer
outro campo do conhecimento, a História está em constante evolução no que
se refere à elaboração de novas interpretações e à descoberta de novas fontes
e registros.
Mais do que um conjunto de informações e conteúdos, a História é um
método de entendimento e interpretação da realidade. A História não é e nem
pretende ser apenas e tão somente o estudo do que já se passou, ou o estudo do
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passado. O que se pretende com este livro é contribuir para que o leitor desenvolva
uma forma de pensar historicamente o processo de constituição da sociedade na
qual vive e, dessa forma, possa aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos que lhe
são contemporâneos.
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Introdução: o mundo ao
­alvorecer do século XX
A predominância da Europa
O período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é recorrentemente
descrito como sendo o do auge da predominância da Europa sobre o resto do mundo. Essa situação
pode ser aferida a partir do exame de algumas variáveis, como o tamanho da sua população, seu poder industrial, comercial, financeiro e o papel que diversos países do continente exerciam na prática
do imperialismo.
Em 1913, a Europa contava com uma população de 460 milhões de indivíduos, o que representava 26% dos habitantes do planeta. Além de enorme, essa população aumentava continuamente, sendo
os maiores crescimentos registrados nos grandes impérios da Europa Central: o russo (que aumentava
em dois milhões de indivíduos a cada ano) e o alemão (mais 850 000 novos habitantes a cada ano). Além
do expressivo crescimento demográfico da Europa, o continente também era perfeitamente capaz de
contribuir, por meio da emigração, para o aumento da população dos novos países da Oceania e das
Américas, que estavam em processo de colonização. Somente naquele ano, 400 000 italianos e 450 000
britânicos abandonaram a Europa rumo a países como Austrália, Argentina, Brasil, EUA etc.
Tendo sido o local de nascimento da Revolução Industrial (1760), a Europa, ainda no início do
século XX, concentra a maior parte do total das exportações mundiais de produtos industrializados
(62%). Em contrapartida, é a maior importadora de alimentos, combustíveis e matérias-primas. Nos
países mais desenvolvidos, como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França, esses produtos compõem entre 75% e 80% das suas importações. Também é na Europa, em especial na cidade de Londres, que se
concentram a quase totalidade dos serviços financeiros de alcance mundial. Por exemplo, a contratação de fretes marítimos, seguros navais, empréstimos internacionais, lançamentos de ações e constituição de novas firmas de alcance global são feitas quase que totalmente em algumas poucas cidades da
Europa: Londres, Amsterdã, Antuérpia, Berlim e Paris.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
O volume de capitais investidos em países estrangeiros também é um indicador da preponderância econômica e financeira da Europa. Do total de recursos investidos no exterior, 45% provêm da Grã-Bretanha, 25% da França e 13% da Alemanha, em contraste com os EUA, responsáveis por apenas 5%
do total. Além disso, o papel dos EUA como praça financeira tem um alcance restrito. Seus bancos e instituições financiadoras não têm atuação global, limitando-se a operações apenas nas Américas.
E, ainda, o papel central desempenhado pela Europa nas relações internacionais é realçado pelo
fato de o continente ser sede das principais potências imperialistas. O maior desses impérios da época – ou de qualquer outra – sem dúvida era o britânico. Mas os impérios francês, russo, austro-húngaro,
italiano e alemão também eram de enorme importância. Quase todos eles foram capazes de incorporar à sua administração extensas áreas na África, na Ásia e na Oceania, fazendo com que as questões relacionadas a essas regiões fossem discutidas e decididas em conferências e congressos na Europa. Esse
aspecto talvez seja o que melhor evidencia o papel central da Europa nas relações internacionais antes
da Primeira Guerra Mundial.
Finalmente, cabe mencionar o papel da Europa enquanto centro de desenvolvimento e disseminação de novas tendências artísticas e culturais. Data dessa época o auge da influência da Europa
nessas esferas de atividade humanas, constituindo-se em referência na pintura, na literatura, no
cinema etc.
Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentes
O início do século XX é marcado por uma nova etapa na história da industrialização, cuja característica principal é a disseminação dos processos industriais, quebrando o monopólio que a Grã-Bretanha exercia até então. Agora, ao lado dos britânicos, vários outros países, em ambos os lados do
Atlântico norte, disputavam entre si o mercado mundial de produtos industrializados. Desses, os mais
importantes são os EUA, a Alemanha e, secundariamente, a França, a Bélgica e a Holanda. Pouco tempo
depois, o Japão também se lançou na competição industrial e, subsequentemente, militar, com as nações mais desenvolvidas.
A disseminação da industrialização decorreu, na maior parte, da busca de novas oportunidades
de lucro e de investimento britânicos. Ao longo de todo o século XIX, os britânicos – que já dominavam
o mercado mundial de bens de consumo – transformaram-se numa grande nação exportadora de bens
de capital1, vendendo ferrovias, máquinas para mineração, locomotivas, navios a vapor etc. para todo o
mundo. Simultaneamente, investiam nos países da Europa e dos EUA, financiando por meio de empréstimos a aquisição desses bens ou se associando aos empreendimentos locais nas áreas de transportes,
indústria, mineração, serviços públicos etc.
Em ambos os lados do Atlântico norte havia áreas propícias à industrialização que, se inicialmente se constituíam em mercados para os produtos britânicos, logo se converteram em seus concorrentes.
Destas, as mais notáveis eram os EUA e a Alemanha. Ambos os países tinham populações enormes, em
rápido processo de crescimento, constituindo-se em mercados internos interessantes para os empresários industriais locais explorarem. Gradualmente, tornou-se disponível uma extensa rede de transportes
1 Bens de capital são aqueles empregados no processo produtivo, como equipamentos e máquinas, em oposição aos de consumo final, ou
de consumo.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
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a vapor, marítimos e terrestres, fazendo com que a produção e a distribuição de mercadorias fosse muito fácil e lucrativa. Além de que – e isso é particularmente notável no caso alemão – ambos os países
contavam com uma população com níveis baixos de analfabetismo e alto nível de instrução formal, o
que favorecia e sustentava o aperfeiçoamento do processo produtivo e a busca de níveis cada vez mais
altos de produtividade.
Finalmente, a imposição de tarifas protecionistas destinadas à taxação de produtos industrializados importados também serviu de estímulo para o investimento privado no setor. Assim, ao se iniciar o século XX, os EUA e a Alemanha já disputavam entre si a primazia industrial mundial da qual a
Grã-Bretanha parecia se afastar cada vez mais. Dos dois países emergentes, eram os EUA que tinham as
maiores vantagens comparativas. O tamanho da sua área e população permitia que as empresas industriais operassem num enorme mercado interno, que propiciava economias de escala que não podiam
ser realizadas pelos seus concorrentes na Europa ou no Japão.
Do outro lado do mundo, o Japão, que até pouco tempo atrás mantinha seus portos fechados
sem qualquer contato com o estrangeiro, passava por um acelerado processo de modernização. Esse
processo se iniciou em 1868, com a restauração da centralização do poder político por parte da dinastia
Meiji. A observação cuidadosa do processo de submissão da China às potências imperialistas foi assimilada pelos japoneses com apreensão. As elites dirigentes do Japão compreenderam que a menos que
fossem fortalecidas as bases do poder nacional, por meio da criação de indústrias capazes de sustentarem e manterem aparelhadas as forças armadas, o Japão seguiria o caminho da China, tornando-se ele
próprio uma colônia informal das potências ocidentais.
Para atingir seus objetivos, o governo japonês se esmerou em copiar as instituições ocidentais,
adotando um programa que é recorrentemente descrito como sendo uma “modernização conservadora”, isto é, um esforço para atualizar o setor produtivo e as forças armadas com pouca ou nenhuma
transformação social, em particular aquela que pudesse ameaçar o poder estabelecido (liberdades políticas, democratização da propriedade, instauração de um governo laico etc.). Apesar do enorme custo
social, o programa de modernização japonesa foi, em grande parte, cumprido: ao se iniciar o século XX,
o Japão contava com transporte, comunicações e um parque industrial capaz de equipar e manter em
estado de eficiência seu exército e marinha de guerra.
Já ao final do século XIX, os japoneses empreenderam guerra contra a China a fim de obter os
mesmos tipos de vantagens comerciais de que já gozavam as potências europeias. Em 1905, o Japão iniciou e ganhou uma guerra contra o Império Russo, fazendo valer suas pretensões territoriais sobre territórios que os russos ambicionavam na China e na Coreia. Tratou-se, enfim, do único país não ocidental
que foi capaz de passar da condição de candidato à colônia para a de sede de um império ultramarino
colonial. Com o passar do tempo, contudo, suas pretensões coloniais fatalmente entrariam em rota de
colisão com os demais países imperialistas.
A Segunda Revolução Industrial
Ao final do século XIX e início do XX, assiste-se a uma notável mudança nas bases tecnológicas e
energéticas que até então vigiam no processo de industrialização, bem como na aplicação da ciência e
tecnologia aos processos econômicos, a qual ficou conhecida como a Segunda Revolução Industrial.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
Novas matrizes energéticas e novas tecnologias produtivas estavam sendo descobertas e adotadas. A Revolução Industrial na sua origem (1760) foi baseada na tecnologia da máquina a vapor, geralmente queimando carvão ou lenha para obter a pressão necessária ao seu funcionamento. Ao fim do
século XIX, essa tecnologia e sua respectiva matriz energética serão complementadas, em alguns casos
substituídas, pela generalização do uso dos motores elétricos e a explosão. Ganham destaque, consequentemente, as atividades econômicas relacionadas à produção e à distribuição de eletricidade e dos
derivados de petróleo.
Para além das mudanças tecnológicas e da matriz energética, assiste-se também ao surgimento
de um número considerável de novas atividades produtivas, resultado da aplicação cada vez maior e
mais ampla das descobertas científicas à produção econômica. O processo é mais notável na indústria
química, responsável pelo desenvolvimento de novos produtos, como corantes artificiais, fertilizantes,
alimentos industrializados etc. Mas também foi muito importante para o ramo do entretenimento, com
o surgimento da primeira diversão em massa da era moderna, o cinema. Da mesma forma na metalurgia, com a oferta de novas ligas metálicas que tornaram a bicicleta e o fogão a gás produtos de amplo
consumo popular. Pode-se citar também a indústria elétrica, responsável pela ampliação do consumo
de telefones, lâmpadas, eletrodomésticos etc. Tais mudanças é que levam vários estudiosos a designarem o período como sendo caracterizado por uma Segunda Revolução Industrial.
A Segunda Revolução Industrial também teve impacto sobre as formas de organização da indústria e da concorrência. De fato, o estabelecimento de unidades produtivas dedicadas à fabricação dos
novos produtos demandava um volume mais substancial de capital e dependia de um prazo de maturação dos investimentos muito maior. As exigências de um volume consideravelmente maior de capital
para o financiamento dos novos setores produtivos acabou por se constituir numa barreira de entrada
nesses novos ramos de negócio que poucas empresas eram capazes de superar. Assim, é possível afirmar que a Segunda Revolução Industrial tinha uma tendência muito mais forte à concentração da propriedade, sob a forma de cartéis, trustes e monopólios, do que a sua antecessora do século XVIII. Mais
ainda, a necessidade de um maior montante de capital para iniciar e sustentar os novos setores produtivos fez aumentar a dependência das indústrias em relação aos bancos e outras instituições financeiras.
Essa dependência fazia com que, recorrentemente, os bancos acabassem se tornando sócios importantes dos novos empreendimentos industriais, chegando, no limite, a serem seus verdadeiros controladores. Essa tendência foi tão marcante que podemos nos referir a esse período como sendo marcado pela
superação do capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro.
O imperialismo
As relações internacionais nos anos compreendidos entre 1875 e 1914, período anterior à Primeira
Guerra Mundial, foram marcadas pela anexação de extensos territórios na África, Ásia e Oceania por parte das potências europeias e, em menor grau, pelos EUA e Japão. Praticamente toda a África, a Oceania e
as ilhas do Oceano Pacífico passaram formalmente à condição de colônias submetidas à soberania de algum dos países europeus mais avançados. Os maiores impérios ultramarinos certamente foram, por ordem, os da Grã-Bretanha, da França, da Alemanha, da Itália, dos EUA e do Japão. Desses, o maior era, de
longe, o da Grã-Bretanha. Sob a autoridade da Grã-Bretanha vivia um quarto da população mundial, espalhada por todos os continentes. O segundo maior império era o francês, que abrangia extensas áreas
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
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pouco povoadas da África e da Ásia. Os impérios alemão e italiano eram muito menores, resultado da
chegada tardia de ambos a assim chamada “corrida imperialista”.
Ao lado da ocupação formal dessas áreas, o imperialismo também foi praticado nesse período
de maneira informal. Nesses casos ficava clara a hegemonia exercida pela potência imperialista sobre
áreas que, embora formalmente independentes, ficavam submetidas na prática às suas determinações.
O caso mais evidente desse imperialismo informal e seu correspondente contraste com a sua versão
formal certamente é o norte-americano. Depois de uma curta e vitoriosa guerra contra a Espanha, ao
fim do século XIX, os EUA tomaram para si as Filipinas e uma pequena parte de Cuba – a Península de
Guantánamo – como suas colônias. Por outro lado, no período compreendido entre 1895 e 1917, as forças armadas dos EUA intervieram em praticamente todos os países da América Central e do Caribe, embora estes fossem, formalmente, nações independentes. Em todas essas intervenções, a motivação era
a mesma: garantir a integridade e a segurança dos investimentos e propriedades dos cidadãos norte-americanos naqueles países.
O país que foi o alvo mais recorrente das ações do imperialismo informal foi, certamente, a
China. Mergulhada na anarquia de uma guerra civil desde o fim do século XIX, a China não tinha um
governo central e nacional minimamente eficaz, o que a tornou incapaz de deixar de se submeter a
todo tipo de exigências e acordos ruinosos que lhe foram impostos por europeus, norte-americanos
e, mais tarde, japoneses. A divisão daquele país em diferentes “áreas de influência” entre as potências
capitalistas só foi rompida a partir de 1931, com a tentativa dos japoneses em tomar para seu império todo o território chinês.
A ocorrência simultânea da Segunda Revolução Industrial e da corrida imperialista suscitou incontáveis debates sobre a possível inter-relação entre esses dois fenômenos. Para os indivíduos que se identificavam com a orientação teórica desenvolvida por Karl Marx, tais como Lênin e Rosa Luxemburgo, o
imperialismo era um resultado direto das contradições do capitalismo. Fosse devido à queda da taxa de
lucros de empresas capitalistas, segundo Lênin, ou devido ao caráter limitado dos seus mercados internos, de acordo com Rosa Luxemburgo, o fato é que as potências do capitalismo industrial só poderiam
sustentar seu ritmo de crescimento apelando para a aquisição de colônias. Tais colônias se constituiriam tanto em um novo e ampliado mercado consumidor cativo quanto ofereceriam novas e exclusivas
oportunidades de investimentos nas áreas de mineração, transportes, serviços públicos urbanos etc. A
disputa pelas áreas passíveis de serem anexadas teria levado, ainda segundo Lênin, a diversos conflitos
entre as potências capitalistas. Nesses conflitos, incluir-se-iam tantos os choques de fronteiras nas colônias quanto a Primeira Guerra Mundial.
Inversamente, intelectuais identificados com a defesa das virtudes do capitalismo, a partir de
uma orientação teórica liberal, refutavam a existência de qualquer nexo entre a corrida imperialista e
a Segunda Revolução Industrial. Desses pensadores, os mais importantes foram Veblen e Schumpeter.
Segundo eles, a corrida imperialista e a própria Guerra Mundial teriam sido resultado de iniciativas das
elites dirigentes do Estado que, assim agindo, pretendiam realizar objetivos que nada tinham a ver com
o capitalismo, mas com a conservação do seu próprio poder político. Para esses autores, eram elementos de origem nobre, cujas fontes de poder econômico eram a renda obtida pela propriedade fundiária
urbana e rural, que definiam e executavam – em associação com alguns poucos empresários privados
– as políticas coloniais. Agindo desse modo, atuavam de forma oposta à do conjunto de interesses dos
empresários capitalistas, interessados fundamentalmente na quebra e no abandono de todas as barreiras ao livre-comércio e no fim das restrições que os monopólios coloniais impunham ao mercado mundial.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
O debate entre autores de orientação marxista e liberal continua em aberto, sendo uma ou outra
orientação teórica mais ou menos convincente, dependendo do caso em exame. As considerações de ordem econômica parecem ter sido as mais relevantes no caso britânico. De fato, era graças ao enorme superávit comercial com a sua mais importante colônia – a Índia – que os britânicos conseguiam superar
algumas das suas maiores dificuldades no balanço de pagamentos. Já no caso francês e alemão não parecem ser predominantes as motivações afetas à superação de conflitos e às contradições inerentes à ordem
capitalista. Nesses casos, o reforço ou a conquista de posições estratégicas em escala global, o uso da conquista imperial como fator de reforço do prestígio político dos governantes ou, ainda, como elemento de
reforço da lealdade dos cidadãos ao regime, parecem ter sido as motivações mais importantes.
A corrida imperialista foi marcada por todo tipo de violências e abusos contra as populações submetidas. O relato dos crimes do imperialismo é extenso e provavelmente continuará a ser ampliado.
Além disso, a imposição da autoridade colonial trouxe consigo também um choque cultural, derivado
da imposição de valores e práticas culturais dos colonizadores sobre os colonizados. Na sua forma mais
suave, esse processo resultou na “ocidentalização” dos costumes locais e, na sua versão mais agressiva,
na pura e simples destruição das formas tradicionais de organização da vida coletiva e da produção de
bens simbólicos.
As forças da tradição e da transformação
O século XX é marcado em escala mundial pela modernização. Tal processo é entendido como
um conjunto de transformações históricas que ocorre em três diferentes níveis: a superação da economia agrícola pela industrial; da sociedade rural pela urbana; e da universalização dos direitos e prerrogativas individuais em relação ao Poder Público. Esses processos tiveram início ao fim do século XVIII
com as Revoluções Industrial e Burguesa. A primeira deu início à perda de importância das atividades
rurais em relação às industriais; a segunda à superação do Estado absolutista e das relações feudais de
produção pela democracia política e as relações capitalistas de produção. Ao se iniciar o século XX, parecia que essas transformações estavam prestes a se concluírem, mas na prática seriam necessárias ainda muitas décadas para tal.
É importante reconhecer que a modernização jamais operou de forma contínua ou linear, muito
embora elementos de diferentes orientações teóricas acreditassem sinceramente que isso de fato ocorria. Tratava-se dos partidários da noção de progresso, muito influentes na virada do século XIX para o XX.
Segundo eles, os avanços da ciência, da técnica e do conhecimento humano em vários níveis estariam
conduzindo a um contínuo aperfeiçoamento de todas as esferas de atividade humana. Ao fim e ao cabo
desse processo, a humanidade se veria livre de todas as restrições ao seu bem estar material e moral, gozando de paz e felicidade permanentes.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
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Pelo menos nos países mais desenvolvidos, os substanciais avanços obtidos até então haviam
permitido um enorme aumento da produtividade, garantindo à maioria das pessoas um mínimo que
lhes permitisse sobreviver. A descoberta, e posterior industrialização das vacinas, permitiu a erradicação de uma série de doenças que, há até bem pouco tempo, seriam capazes de ceifar a vida de milhões de pessoas. A invenção de máquinas e equipamentos de transporte (locomotiva, automóvel,
aeronaves etc.) e comunicações (telégrafo, cabos submarinos, telefone etc.) prometia anular a restrição que as longas distâncias sempre impuseram ao desenvolvimento das trocas comerciais, científicas e culturais entre os povos.
Porém, deve-se levar em conta que a tendência à instauração de uma sociedade moderna operava de forma muito mais gradual do que se supunha e, mais ainda, contra ela operavam forças que visavam à preservação de elementos centrais na conjuntura anterior àquelas duas revoluções. Se pouca
ou nenhuma restrição havia ao avanço do conhecimento e ao cada vez maior domínio do homem sobre a natureza, o mesmo não ocorria no que se refere à extensão dos direitos dos cidadãos frente ao
Estado e à instauração de uma forma de governo que permitisse uma maior participação popular nas
questões políticas. Mesmo na Europa, por exemplo, predominavam regimes monárquicos, formalmente de orientação parlamentarista. Mas o poder desses parlamentos frente aos monarcas, e a própria
forma pela qual se definia quem podia votar ou ser votado, variava enormemente.
Via de regra, os regimes monárquicos tinham – exceto na Grã-Bretanha – uma enorme prevalecência sobre as assembleias eleitas. No caso extremo – o russo – o parlamento (“Duma”) tinha uma existência puramente formal, quase o mesmo se verificando no autoritário império alemão. Na França e na
Itália, a instabilidade e pouca duração dos gabinetes parlamentares é que acabava reforçando a autoridade do Poder Executivo – do presidente num caso e do rei no outro. Em qualquer cenário, inexistia o
direito universal de votar e ser votado. Restrições ao voto das mulheres, dos analfabetos ou dos que não
possuíam idade ou renda suficiente, para não mencionar a fraude pura e simples na criação de obstáculos ao registro dos eleitores, limitavam grandemente o caráter “representativo” dos políticos eleitos.
E mesmo estes quase que obrigatoriamente deveriam ou ser pessoas de muitos recursos, ou apelariam
para a corrupção para se manterem, já que inexistia remuneração pelo exercício dos cargos eletivos.
Essa situação só será revertida – por exemplo – na Inglaterra, em 1917. No geral, será necessário o duplo
impacto da crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial para que o processo de modernização política,
iniciado com as Revoluções Burguesas do século XVIII, finalmente chegue à sua conclusão lógica.
Também a transformação da economia de base agrícola pela industrial e da sociedade rural pela
urbana só se efetivará no segundo pós-guerra, ainda assim não em todos os países desenvolvidos e,
com muito mais lentidão, nas nações periféricas. No caso brasileiro, por exemplo, é somente em 1953
que o valor da produção industrial finalmente alcança a agrícola; e apenas em 1973 a soma da população urbana ultrapassa a rural. Finalmente, em 1989, é que o país adota o princípio da eleição direta para
todos os cargos públicos baseado no voto universal.
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Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX
Atividades
1.
Sintetize as características comuns aos EUA e à Alemanha ao final do século XIX e início do XX que
permitiram a industrialização desses países.
2.
Descreva de que forma se deu a modernização do Japão a partir da segunda metade do século XX.
3.
Aponte as diferenças mais marcantes entre a Primeira e a Segunda Revoluções Industriais.
Dicas de estudo
O debate historiográfico mais relevante desse período é relativo ao peso político que as elites
de origem nobre ainda exerciam em relação à burguesia industrial. É de grande valia para o estudante
a leitura completa de duas obras, contendo interpretações antagônicas sobre a questão. Recomenda-se fortemente a leitura do livro de Eric Hobsbawn (A Era dos Impérios) em contraste com o trabalho de Arno Mayer (A Força da Tradição). A leitura consecutiva desses dois livros permitirá ao aluno
perceber de que forma diferentes orientações teóricas esposadas por autores diversos conduz a
resultados antagônicos.
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Primeira Guerra Mundial
A política de alianças e as causas imediatas da guerra
O final do século XIX na Europa foi marcado por um extensa movimentação diplomática cuja
característica mais importante foi o surgimento de dois blocos de alianças antagônicos entre os mais
importantes países daquele continente. O maior promotor dessa movimentação foi, certamente, o ministro das relações exteriores da Alemanha, o chanceler Otto von Bismarck. Seu objetivo era consolidar e estabilizar a vantajosa posição diplomática da Alemanha, que de imediato foi transformada numa
potência econômica e militar a partir da unificação dos diferentes Estados alemães em 1871. O súbito
surgimento de uma Alemanha unificada, no centro do continente que era sede dos mais importantes
impérios coloniais daquela época, colocava a diplomacia alemã diante de uma série de desafios. Desses,
os mais perigosos eram os da França e da Rússia.
No caso francês, havia o propósito dos governos daquele país de recuperarem as terras perdidas
para a Alemanha no conflito de 1871. Sucessivos governos franceses defendiam a ideia da “revanche”
contra os alemães e o restabelecimento da sua soberania nas províncias perdidas para os alemães da
Alsácia e da Lorena. Daí a busca por aliados potenciais num futuro conflito por parte tanto da França
quanto da Alemanha.
Já as preocupações comuns à Alemanha e à Rússia se referiam à progressiva desintegração dos impérios Austro-Húngaro e Otomano. As pressões de diferentes grupos étnicos que lutavam pela independência desses impérios preocupavam as diplomacias alemã e russa. O apoio da Rússia à independência
dos povos eslavos, que viviam sob domínio Austro-Húngaro e Otomano, gerava o temor do aumento da
presença russa numa região que se imaginava predestinada a se constituir em parte da esfera de influência alemã. Desde as últimas décadas do século XIX, vinha aumentando sistematicamente o comércio da
região com a Alemanha. No início do século XX, os alemães já cogitavam construir uma ferrovia ligando
Berlim a Bagdá. Tudo isso levaria ao surgimento, em 1894, da assim chamada “Tríplice Aliança” que aliava
de forma permanente a Alemanha e a Áustria-Hungria à Itália, esta última receosa de um futuro conflito
com a França1. No mesmo ano, Rússia e França também formam entre si uma aliança militar.
1 A Itália sofreu sucessivas vezes a intervenção militar da França na conjuntura anterior à sua unificação.
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Primeira Guerra Mundial
Tais compromissos deixavam de incluir uma única potência importante da Europa: a Grã-Bretanha.
Detentores do maior império colonial já visto na história, os ingleses pretendiam manter-se distantes
dos compromissos com quaisquer alianças, ao mesmo tempo em que esperavam não existir mudanças
significativas no equilíbrio de forças entre as potências no continente europeu. Essa esperança acabou
quando a disposição da Alemanha em construir uma enorme frota naval se tornou pública. Dispostos
a construir uma esquadra que apoiasse suas pretensões coloniais por todo o mundo, lançaram-se os
alemães a uma expansão ilimitada da sua frota. À medida que iam expandindo seus efetivos ­navais, os
alemães aumentavam os receios dos britânicos, que viam no fato de possuírem a maior frota de combate do mundo a melhor e mais segura garantia de que o Império e sua sede não sofreriam ameaças
de fora. Os receios com relação aos planos expansionistas alemães acabou atraindo os britânicos para
­entendimentos mútuos de segurança com os franceses, antes mesmo da eclosão do conflito.
A causa imediata da guerra foi o assassinato do arquiduque Ferdinando do Império Austro-Húngaro em julho de 1914 por terroristas da Sérvia. A Sérvia havia se libertado do Império Otomano
pouco tempo antes e atuava como modelo e inspiração para os demais povos eslavos que viviam sob
domínio Austro-Húngaro e Otomano. O episódio serviu como pretexto para a invasão austro-húngara
da Sérvia. Os russos, por seu lado, anunciaram que iriam em socorro da Sérvia, o que levou a Alemanha
a pressionar a Rússia para desmobilizar seu exército. A negativa dos russos em fazê-lo levou a Rússia a
declarar guerra à Alemanha.
Simultaneamente, os alemães exigiram que os franceses provassem que não se aproveitariam da crise para atacar a Alemanha, entregando ao controle alemão suas fortificações de fronteira.
Diante da recusa dos franceses em fazê-lo, decidiram os alemães invadir a França, que contavam derrotar rapidamente, para em seguida atacarem a Rússia. Os planos alemães de invasão da França estavam prontos desde 1905 e previam primeiro a ocupação da Bélgica, a fim de evitar o ataque frontal
às defesas francesas de fronteira. Ocorre que a Bélgica era um país neutro, cuja integridade territorial
era garantida – entre outros – pela Grã-Bretanha. Jamais os ingleses permitiriam que qualquer potência europeia dominasse a Bélgica, já que isso colocaria em perigo suas comunicações vitais através
do Canal da Mancha e também por constituir a ocupação do litoral belga em ameaça ao seu próprio
litoral. Dessa forma, a invasão alemã da Bélgica colocou imediatamente o Império Britânico ao lado
dos franceses e russos contra si.
O resultado concreto de todos esses episódios foi a formação de duas grandes alianças antagônicas que entre si travaram a Primeira Guerra Mundial. De um lado, os Aliados (Entente): França, Rússia,
Grã-Bretanha e, em 1915, a Itália (que repudiou seu acordo anterior com alemães e austro-húngaros) e
os EUA (em 1917). De outro, a Alemanha, a Áustria-Hungria e (a partir de setembro de 1914) o Império
Otomano, que constituíam as assim chamadas “Potências Centrais”.
O impasse militar: a guerra de trincheiras
Quando da eclosão do conflito, havia um consenso entre os países contendores de que a guerra
seria breve. Acreditava-se mesmo que estaria terminada antes do Natal de 1914. Tal presunção se baseava no fato de que todos os países haviam se preparado longamente para o conflito, mobilizando exércitos de milhões de homens, os quais seriam imediatamente lançados contra seus inimigos, precipitando
o mais rapidamente possível a destruição de seus oponentes.
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Ao mesmo tempo em que se consolidava essa mentalidade ofensiva, que visava obter resultados
decisivos e rápidos, importantes desenvolvimentos estavam ocorrendo na tecnologia aplicada aos armamentos. Antes mesmo do século XX se iniciar, novas e cada vez mais aperfeiçoadas armas estavam
sendo desenvolvidas e adotadas.
Por volta de 1914, a maior parte dos exércitos estava equipada com fuzis de repetição, geralmente com depósitos internos de cinco cartuchos, capazes de alcançar distâncias muito maiores e com uma
cadência de tiro bem mais alta do que a dos seus antecessores, carregados pela boca. Também já estava em serviço a metralhadora, geralmente disparando munição carregada em fitas e capaz de sustentar, de forma automática e quase que indefinidamente, o fogo disparado em rajadas que podiam somar
até seiscentos tiros por minuto.
Ocorreram também melhoramentos decisivos na artilharia. A adoção de uma variedade de mecanismos de absorção do recuo do cano dos canhões após o disparo permitia que as guarnições permanecessem o tempo todo junto a eles, remuniciando-os com a máxima velocidade possível que, em alguns
casos, permitia até seis tiros por minuto.
O resultado desses desenvolvimentos foi o aumento do poder de fogo que as unidades militares, a partir de suas posições defensivas, podiam lançar contra seus inimigos, o que por sua vez tornava
os ataques contra elas cada vez mais perigosos e custosos. O volume e a cadência de tiro agora disponíveis tornava as antigas cargas de cavalaria totalmente impossíveis e os ataques frontais da infantaria
cada vez mais arriscados.
Dessa forma, depois de um ou dois meses da invasão alemã à França e à Bélgica, quando as perdas humanas já somavam milhões em cada lado, os oponentes se viram obrigados a interromper suas
manobras às vistas do inimigo. Começaram a cavar, imediatamente, em extensão e profundidade cada
vez maior, abrigos subterrâneos que permitissem que suas tropas sobrevivessem ao devastador fogo
disparado pelo adversário. Tinha início então a “Guerra de Trincheiras” na Frente Ocidental, caracterizada pela quase imobilidade dos oponentes e pelo altíssimo custo das tentativas de se tomar terreno do
adversário. Ao fim dos quatro anos de conflito, e a despeito do enorme custo humano e material empregado na busca da vitória, as posições ocupadas pelos oponentes jamais variaram além de 30 quilômetros.
Por outro lado, na Frente Oriental, onde alemães e seus aliados austro-húngaros se defrontavam
com os russos, verificou-se um padrão inverso. Dada a extensão muito maior da linha de frente que
opunha os adversários, bem como pela natureza do terreno muito mais arborizado e acidentado, predominou um estilo de guerra marcado pelo movimento. De fato, já em 1914, os russos promovem uma
fracassada invasão da Alemanha, a qual se sucede no ano seguinte uma bem-sucedida invasão alemã e
austro-húngara da Polônia, então parte do Império Russo. Ao longo de 1916 e 1917, extensas batalhas
em enormes áreas ocorrem nos montes Cárpatos e no Mar Báltico, as quais só serão interrompidas com
a retirada da Rússia da guerra.
As novas tecnologias e a guerra no ar e no mar
O prolongado e indefinido impasse vivido na Frente Ocidental levou à busca de soluções que visassem dar a cada lado do conflito alguma vantagem sobre seus oponentes que pudesse ser decisiva. A primeira reação em ambos os lados foi o aumento maciço da fabricação de munições e peças de
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Primeira Guerra Mundial
artilharia. Acreditava-se que somente uma enorme expansão do volume de alto explosivo lançado sobre as posições adversárias seria capaz de destruir os ocupantes e permitir a sua captura. Apesar de extensos, esses bombardeios nunca foram capazes de destruir totalmente a defesa adversária: sempre
sobreviviam pelo menos alguns defensores que, usando o fogo das suas metralhadoras e informando à
sua própria artilharia sobre a localização dos atacantes, conseguiam frustrar todos os ataques.
Também se apelava para os bombardeios aéreos, mas nunca foi tão importante a quantidades
de explosivos lançados por aeronaves em relação à dos canhões. O papel mais importante do avião
era mesmo o de observar a disposição das linhas inimigas e corrigir o fogo da sua artilharia contra elas.
Durante o conflito, o desenvolvimento tecnológico aplicado à aviação desenvolveu-se como nunca antes. O aperfeiçoamento de novos e poderosos motores e as melhorias nos armamentos e nas comunicações transformaram o avião de uma simples e recente invenção em uma das mais mortíferas armas de
guerra. Mas nem assim se podia romper o impasse gerado pela “guerra de trincheiras”.
Dessa forma, surgiram, em 1915, novas armas, como o morteiro, o lança-chamas e o uso de gases
venenosos. No ano seguinte, os britânicos lançaram os primeiros veículos blindados e sobre lagartas,
destinados a acompanhar e proteger a infantaria nos seus ataques às trincheiras inimigas: os tanques de
guerra. Embora importantes, nenhum desses desenvolvimentos foi capaz de cumprir a esperança que
neles se depositava, a de lograr uma vitória militar que fosse barata e definitiva.
Incapazes de obter uma solução militar em terra, ambos os lados se voltaram para a guerra naval. As Potências Centrais desde o início se viram bloqueadas pelas marinhas dos Aliados. Os anglo-britânicos contavam impedir qualquer tipo de abastecimento vindo do além-mar para seus adversários.
Sabendo da dependência da importação de alimentos, matérias-primas e combustível dos seus adversários, os Aliados esperavam, com o bloqueio naval, levar ao colapso a produção militar e a própria moral da população civil em continuar a luta. Em resposta ao bloqueio naval Aliado, a Alemanha lançou o
contrabloqueio, efetivado pela sua frota de submarinos. Embora altamente eficazes na destruição de
navios mercantes que se dirigiam às Ilhas Britânicas por torpedeamentos, a guerra submarina alemã
criou inúmeras tensões e conflitos com os países neutros, os quais ainda mantinham extensas trocas
comerciais com os ingleses. De fato, serão os sucessivos afundamentos de embarcações de países neutros que irão levar novos países à guerra contra as Potências Centrais, como os EUA (abril de 1917) e o
Brasil (novembro de 1917).
O desfecho da guerra
Ao fim de três anos de guerra total, as perdas humanas e materiais sofridas pelos oponentes eram
imensas e, em alguns casos, insuportáveis. Os casos extremos eram os da França, da Itália e da Rússia.
Esses três países haviam perdido proporcionalmente muito mais vidas do que os seus oponentes e o esforço econômico e produtivo que fizeram absorveram muito mais recursos do que podiam empenhar.
Civis e militares sofriam com a escassez e o alto custo dos alimentos. Fome, doenças e privações materiais abalavam a fé na vitória e provocavam todo tipo de manifestações de descontentamento, senão
mesmo de recusa à continuidade da guerra.
A Itália foi praticamente colocada para fora da guerra em 1917 pelos ataques dos exércitos das
Potências Centrais, as quais eliminaram o poder ofensivo dos seus exércitos e provocaram a perda de
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muito terreno ao norte do país. A França estava enfrentando até mesmo uma espécie de “greve” de seu
exército que, em sua maior parte, recusava-se a dar continuidade aos inúteis e custosos ataques frontais
às trincheiras inimigas. Finalmente, a Rússia acaba por se retirar do conflito, face à desintegração do seu
exército provocada por uma série de ofensivas alemãs extremamente bem-sucedidas e também devido
à agitação revolucionária interna, fruto tanto do descontentamento com as terríveis condições de vida
que o esforço de guerra impunha à população civil, quanto do empenho dos militantes de esquerda em
minar a autoridade e a legitimidade da ordem estabelecida.
A intervenção dos EUA na guerra é tão importante que ela impediu a derrota dos Aliados em 1917
e praticamente condenou ao fracasso os esforços das Potências Centrais em obter a vitória. Despejando
um milhão e meio de combatentes a mais do lado dos Aliados na Frente Ocidental, concedendo créditos para aquisição de alimentos, matérias-primas e materiais militares, os norte-americanos com a sua
entrada no conflito mais do que compensaram a saída da Rússia da guerra, reabilitaram a fé na vitória e
propiciaram os meios de lançar novamente à luta os italianos e franceses.
Ao mesmo tempo a economia civil e a produção militar das Potências Centrais entravam em declínio irreversível. O desvio de quase todo potencial humano e de recursos materiais para atender às
sempre crescentes exigências das forças armadas, somado ao incontornável bloqueio naval imposto
pelos Aliados, levou à imposição de uma dieta insuficiente e à impossibilidade de obtenção de agasalhos e calçados adequados por parte dos civis. Simultaneamente, a retomada de extensas operações
militares contra os aliados da Alemanha na Europa Oriental e Meridional levou à retirada da Bulgária e
da Turquia que apoiavam a Alemanha, da guerra, expondo-a mesmo a uma invasão direta do seu território em outubro de 1918.
A insatisfação com as miseráveis condições de vida, a percepção de que a entrada dos EUA na
guerra tornava a vitória impossível, somada à revolta com as perdas humanas nos campos de batalha,
criou as condições para a eclosão de movimentos de inspiração esquerdista e com objetivos revolucionários na Alemanha e nos seus ex-aliados. Esses fatores convenceram a liderança alemã a buscar o fim
da guerra, através do pedido de um armistício que encerrou o conflito em novembro de 1918.
Consequências do conflito
A mais dolorosa consequência do conflito foi mesmo as perdas humanas: oito milhões de militares morreram e número quase igual havia sido totalmente incapacitado para a vida produtiva. Também
havia cerca de quinze milhões de feridos com diferentes graus de gravidade e pelo menos sete milhões
de civis haviam morrido como decorrência das operações de guerra, deportações forçadas ou massacres. Desses, talvez quatro milhões eram compostos por armênios, sírios, judeus e gregos, vítimas tanto
dos combates quanto dos massacres, imputados principalmente ao Império Otomano. Como se todas
essas desgraças não fossem suficientes para marcar a Grande Guerra na memória dos povos, ao final do
conflito eclodiu uma epidemia, conhecida como “Gripe Espanhola” que, nos anos imediatamente subsequentes ao conflito, ceifou pelo menos seis milhões de vidas humanas em todo o mundo, embora
alguns autores citem o número de doze milhões como mais fidedigno. Numa época onde tantos passavam fome e careciam de vestuário, medicamentos e abrigo adequados, a gripe grassou de forma incontrolável, assumindo dimensões mundiais.
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Primeira Guerra Mundial
A Primeira Guerra Mundial terminou com a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), que produziu profundas transformações no mapa político da Europa e atribuiu à Alemanha derrotada a responsabilidade pela eclosão do conflito. Através do Tratado de Versalhes foram criados novos países,
buscando-se atender aos anseios de autonomia por parte das minorias étnicas e religiosas dos antigos
impérios Alemão e Austro-Húngaro (derrotados em 1918) e a criação de “Estados-Tampão” que isolassem geograficamente dois países que alguns dos Aliados (Inglaterra e França) consideravam uma ameaça à sua segurança, tais como a Alemanha e a recém-constituída União Soviética.
Com o apoio para o surgimento dessas novas unidades nacionais às expensas dos antigos impérios alemão e russo, os anglo-britânicos contavam em estar criando entidades naturalmente voltadas
para a contenção de um eventual ressurgimento alemão ou de expansões da Revolução Bolchevique.
Uma vez que seus territórios haviam sido formados pelo desmembramento desses antigos impérios,
tais países seriam aliados naturais de ingleses e franceses contra eventuais projetos de redivisão territorial que redundassem em uma expansão tanto russa quanto alemã.
O caráter artificial e improvisado dessa nova divisão territorial levou ao surgimento de novas contradições, conflitos e reivindicações nacionais por toda a Europa, além de ter se revelado profundamente disfuncional do ponto de vista econômico. A divisão territorial de Versalhes fazia somar 38 novas
unidades nacionais, cada qual com sua moeda, e praticamente nenhuma capaz de lograr a autossuficiência econômica: fazendeiros foram separados de seus mercados, fábricas de seus fornecedores de
matéria-prima, ferrovias de suas fontes de energia etc. Além da não integração econômica entre esses
diferentes países, vivia-se profunda crise comercial resultante das consequências da guerra. Para começar, a instauração do comunismo na Rússia, o prolongamento do caos político-administrativo no antigo
Império Otomano e a eclosão de uma guerra civil na China, opondo comunistas e “nacionalistas”, terminaram por retirar essas regiões do circuito das trocas comerciais em escala mundial. A perda desses
importantes mercados coincidiu com a redução da elevada demanda por alimentos, combustíveis, matérias-primas e outros produtos oriundos de países da periferia do capitalismo que havia sido gerada
pela Grande Guerra. Dessa forma, a primeira metade da década de 1920 é marcada por uma considerável retração do volume do comércio internacional, levando a uma queda geral dos preços, juros e ao aumento do nível de desemprego.
Poucas nações tiraram real proveito do conflito como os EUA e o Japão. Livres da concorrência europeia, usufruindo do aumento da demanda por seus produtos e serviços por parte dos beligerantes e
a salvo das destruições que caracterizaram as regiões que foram palco das operações militares, a economia desses países se diversificou e ampliou. De fato, durante a guerra, os EUA deixam de ser devedores
para se tornarem credores, transformando-se no grande agente financeiro do planeta e ajudando, por
meio de seus empréstimos, os países arruinados da Europa a restabelecer em algum grau os níveis anteriores de atividade econômica. Contudo, será somente em meados da década de 1920 que a economia europeia irá retomar os níveis de produção anteriores à Grande Guerra. O Japão aproveitou-se da
ausência de seus concorrentes para ampliar substancialmente sua influência econômica, diplomática e
militar sobre a China, a qual contava anexar ao seu império.
A redivisão territorial do Tratado de Versalhes atingiu mais pesadamente a Alemanha, que se viu
despojada de áreas importantes de seu território que foi, inclusive , separado em duas partes, para garantir que as reivindicações de acesso da Polônia (tornada independente do Império Russo) ao mar fossem
atendidas. A Alemanha e o Império Otomano perderam também todos seus territórios coloniais para a
Inglaterra e a França. Mais ainda, coube à Alemanha o pagamento de uma pesada indenização de guerra
aos vitoriosos, além de ter sido despojada da quase totalidade de seu poder militar e proibida de projetar
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Primeira Guerra Mundial
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ou fabricar armas ofensivas. Surgia aí a oportunidade para o aparecimento, naquele país, de grupos políticos radicais, ultranacionalistas, de extrema-direita, assumidamente “revisionistas” que, na luta política no
regime democrático alemão da República de Weimar (1919-1933), insistiam em priorizar numa revisão –
se necessário pela força – dos termos do Tratado de Versalhes a fim de angariarem apoio popular.
Atividades
Compare os mapas a seguir e descreva as novas nações que surgiram na Europa, com base em
sua função como “Estado-Tampão” (se dirigido contra a URSS, Alemanha ou ambos) e origem (se
Império Alemão, Russo etc.).
(KENNEDY, P. Ascensão e Queda das Grandes Potências.
Rio de Janeiro, Campus, 1989, p. 268.)
1.
Europa em 1914.
A Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
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2.
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Primeira Guerra Mundial
Com base nos dados industriais e tecnológicos estabeleça a proporção em que os Aliados eram
superiores às Potências Centrais para os indicadores ali disponíveis.
Comparação industrial/tecnológica com os Estados Unidos, excluindo a Rússia
Reino Unido/
Alemanha/
EUA/França
Áustria-Hungria
51,7
19,2
798,8
236,4
Produção de aço (1913) em milhões de toneladas.
44,1
20,2
Potencial industrial total (Reino Unido em 1900 = 100)
476,6
178,4
Porcentagem da produção mundial de manufaturados (1913).
Consumo de energia (1913), milhões de toneladas métricas de equivalente
de carvão.
3.
(KENNEDY, P. Ascensão e Queda das Grandes
Potências. Rio de Janeiro, Campus, 1989, p. 263.)
24
Descreva a relação entre a Primeira Guerra Mundial e a Gripe Espanhola.
Dicas de estudo
É importante que o aluno saiba estabelecer correlações entre os processos que se desenvolvem
em diferentes esferas de atividade humana. Com base nos escritos de Julio de Mesquita – A Guerra
(1914-1918) – e Sidney Garambone – A Primeira Guerra Mundial e a Imprensa Brasileira – sugerimos que
seja interpretado o impacto da guerra submarina sobre a ética nas relações internacionais do período.
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