História externa da língua portuguesa Início das conquistas portuguesas Diferentemente da expansão romana, que se acomodou a certa altura, embora houvesse ainda terras por conquistar, a expansão portuguesa não parou: foi parada. E o motivo dessa sustação é Camões (1524-1580) que nos diz com o verso final da estância 14 do canto VII (1973, p. 190): Mas, entanto que cegos e sedentos Andais de vosso sangue, ó gente insana, Não faltaram Cristãos atrevimentos Nesta pequena casa LUSITANA. De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E, se mais mundo houvera, lá chegara! O sétimo verso a quarta parte nova fala do Brasil: a primeira parte é o próprio Portugal, a segunda é a África, que teve as primeiras conquistas fora da terra-mãe, a terceira é a Ásia, que foi visitada dois anos antes do descobrimento do Brasil, e por fim a quarta somos nós: parte nova, de que eles nem tinham notícia. A Oceania estava por ser descoberta. A ordem dos lugares citados comprova a posição do quarto: Portugal, África, Ásia e em quarto o Brasil. O assentamento africano ficou comunicado duas vezes, aparecendo pela primeira vez com a palavra assentos e pela segunda com a descida da sexta silaba forte para a décima do verso com quatro degraus feitos por três sílabas átonas, porque os portugueses desceram para as terras africanas: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa De África tem marítimos assentos. A história moderna de Portugal começa com Henrique de Borgonha, que veio lutar contra os mouros sob as ordens de Afonso VI, rei de Leão e Castela, recebendo em 1095, como pagamento o pequeno Condado Portucalense e a mão da filha dele. Afonso Henriques [Henriques: filho de Henrique / Álvares: filho de Álvaro], seu filho, se recusa a reconhecer a soberania do rei de Leão e Castela e funda o reino português em 1139, reconhecido independente em 1143 por Afonso VII, rei de Leão e Castela. Com esse reconhecimento fica confirmada a dinastia de Borgonha, a primeira do novo reino. O povo lusíada, conduzido por seus reis, repetiu o feito dos romanos que desde o início se propuseram à conquista de novos territórios. Curiosamente, seguiram também o modelo romano de conquistar os campos e as cidades, como nos conta Eutrópio, historiador romano da segunda metade do século IV da nossa era: também os portugueses enviaram fartos contingentes humanos, entre eles, alguns milhares de judeus, fugidos da Espanha e levados para as colônias portuguesas. De fato, a santidade não faz conquistas materiais. A primeira ação foi a conquista de Lisboa em 1147 seguida pela luta para apossar-se das terras muçulmanas e moçárabes no Sul. No fim do século XIII, Portugal tinha o seu território bem determinado e com um forte poder central. A política do rei Dom Dinis (1261-1325) favoreceu a agricultura, o que lhe valeu o nome de Rei Lavrador e, como tem mais de cento e trinta cantigas trovadorescas, coube-lhe também o título de Rei Trovador. No campo cultural, oficializou a língua portuguesa abandonando a latina em que se redigiam todos os documentos e incentivou a educação e a ciência fundando em 1290 a Universidade de Lisboa, transferida mais tarde para Coimbra. Promoveu também o crescimento econômico, que iria proporcionar os recursos financeiros necessários para as conquistas marítimas do século XIV. Em 1383 morre o rei Dom Fernando I (1354-1383) e aparece a possibilidade de a coroa portuguesa passar para o rei de Castela: Dom Fernando estava à morte, não tinha herdeiros e a filha única estava casada com Dom João I (1358-1390), rei de Castela. A pequena nobreza, os lavradores, os armadores de navios e os comerciantes apoiavam o novo rei, João I (1357-1433), que era o grão-mestre da Ordem de Avis, fundada em 1147 por Dom Afonso Henriques (1110-1185), primeiro rei de Portugal. 142 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa Preparo da aventura expansionista Dom João I funda a dinastia de Avis, a segunda do reino e a primeira portuguesa. Castela invade Portugal, mas a guerra acaba com a derrota dos castelhanos em Aljubarrota (1385), que garante a soberania portuguesa. Em 1414, Dom João I resolve tomar Ceuta, porto importante das costas africanas, e entrega a organização da campanha ao seu quinto filho, o infante Dom Henrique (1394-1460), então com 20 anos. As razões para essa empreitada eram religiosas: a dilatação da fé e a derrota dos muçulmanos. Na verdade, era a situação estratégica da cidade e do seu porto que impunha o empreendimento. Ceuta, tomada em 1415, é a primeira conquista portuguesa fora da Europa. Passando a viver na cidade de Lagos, a maior do Algarve naquele tempo, Dom Henrique fundou perto do cabo de Sagres o Centro de Estudos de Náutica, Astronomia, Cosmografia e Ciência para formar cosmógrafos e construtores de navios. Os recursos necessários para a escola e para as viagens ao mar vieram da Ordem dos Templários, fundada em Jerusalém em 1119 para proteger os peregrinos que vinham aos lugares sagrados do Cristianismo. Por motivos políticos, a Ordem dos Templários foi dissolvida pelo Papa Clemente e seus bens atribuídos a outras ordens. O rei Dom Dinis (1261-1325) não concordou com a decisão papal, fundou em 1318 a Ordem de Cristo, que recebeu parte dos bens da Ordem destituída. Esses fundos ajudaram para implantar a Escola de Sagres e financiar as futuras viagens marítimas. Era preciso contar ainda com o monopólio da pesca, indústria importante no Algarve, que pertencia ao Infante Dom Henrique, além dos impostos cobrados aos fabricantes de tinta e sabão. Entretanto, mais que todos esses eram ainda esperados os rendimentos das possíveis descobertas. Convém lembrar o que diz José Manuel Garcia (1992, p. 135) sobre esses recursos: “Como Governador do Algarve e de Ceuta, onde a navegação e a pesca desempenhavam papel econômico de primeira grandeza, o infante D. Henrique sabia muito bem dos lucros que o mar podia conceder, se convenientemente explorado.” A sua obra da Escola de Sagres chegou a ficar tão conhecida que Veneza, famosa por seus navios e suas conquistas, mandou a Sagres emissários para uma tentativa de compra, que nunca se realizou. Ele mesmo nunca saiu de Portugal, mas deve-se a ele o aprimoramento necessário das forças navais e de seus navios que permitiram a expansão portuguesa mundo afora. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 143 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa Ao morrer, deixou as costas africanas exploradas até o cabo das Palmas, preparando Portugal para a aventura máxima do fim do século XV: a chegada às Índias em 1498 com a esquadra de Vasco da Gama (cerca de 1460-1524). Por todo esse cuidado de treinar marinheiros e construir os melhores barcos, além de se aprimorarem nas ciências náuticas, é que se deve duvidar da hipótese de a esquadra de Cabral se ter desviado do rumo e chegar por acaso às terras brasileiras. De fato, se havia as terras africanas nos mares orientais, por que elas não existiriam também mais abaixo no outro lado? Afinal, Colombo tinha achado terras nos mares ocidentais. Expansão ultramarina A expansão portuguesa entre 1414 e 1517 custou sangue e suor, além das lágrimas de quem ficava com o grande medo do nenhum retorno dos amores que se lançaram aos perigos, que eram enormes e ainda aumentados pelas lendas, como nos fala Garcia (1992, p. 127-138): Todas estas ilhas e terras, tanto reais como imaginárias, exerceram enorme influência nas viagens dos Portugueses dos séculos XIV e XV. Constituíram um dos mais importantes estímulos e um objectivo preciso para muitas expedições de descoberta, ao mesmo tempo que preenchiam as mentes com descrições pormenorizadas das novas regiões. Eram um incentivo para toda a gente, desde o homem culto e aristocrata até ao ignorante vilão. E haviam de persistir em muitos topônimos das ilhas e continentes que vieram a ser de facto exploradas. O reverso da medalha estava nas terríveis histórias que se contavam de semelhantes terras e mares. Toda a classe de monstros, perigos e obstáculos povoavam o oceano Atlântico na crença geral. Transmitida ou forjada pelos Árabes a lenda do Mar Tenebroso descrevia um oceano habitado por seres estranhos e mergulhado em escuridão constante, onde todos os navios naufragariam nas ondas medonhas ou nas águas ferventes. Outras superstições afrouxavam a curiosidade e refreavam o desejo de presa. Durante muito tempo os portugueses da Idade Média, como os Europeus em geral, hesitaram entre a vontade de seguir além, para ocidente e para sul, e o temor de não regressar mais. Era necessária a pressão de grande número de forças poderosas para vencer esse medo e forçá-los a ir. Era verdade que o longo Cabo Bojador tinha um mar extremamente bravo com ondas de 15 metros de altura e um estrondo terrível de arrebentação a que nenhum navio resistia. O Cabo das Tormentas deve ter sido usado por muita mãe para disciplinar o filho desobediente e foi ultrapassado tardiamente em 1488 por Bartolomeu Dias (1450-1500) que acompanhou Vasco da Gama às Índias, capitaneou um dos navios da esquadra de Pedro Álvares Cabral e morre em 1500 no naufrágio do seu navio ao largo do Cabo da Boa Esperança, que para ele novamente se tornou Cabo das Tormentas. 144 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa Nicolau Coelho (talvez 1450-1504) comandou um dos navios da frota na primeira viagem para as Índias, tendo conseguido vencer um motim contra Vasco da Gama, e comandou também um dos navios da esquadra de Pedro Álvares Cabral na segunda viagem para o mesmo destino. Entretanto, na volta da terceira viagem às Índias em 1504, uma violenta tempestade dispersou os navios e ele mesmo nunca mais foi visto, nem se teve dele alguma notícia. Seguem os versos de Fernando Pessoa (1888-1935), que soube interpretar o passado como se o estivesse vivendo (ortografia original): MAR PORTUGUEZ Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão resaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, Mas nelle é que espelhou o céu. (PESSOA, 1981, p. 42) Calendário das conquistas A seguir as principais datas dos fatos que enfeixam a marcha da expansão marítima dos portugueses. Em muitos desses lugares aonde aportou a esquadra portuguesa e os seus falantes, a língua portuguesa continua viva, mas apenas em oito países a língua portuguesa é oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Além dessas, desenvolveram-se também novas línguas, impropriamente denominadas crioulas, que nasceram pelo mesmo motivo que levou a única língua latina a diversas línguas românicas. A campanha marítima foi longa e penosa: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 145 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa 1415 – A conquista de Ceuta, cidade que fica do outro lado do cabo de Sagres, foi a única em que Dom Henrique lutou pessoalmente, além de organizar essa campanha. Ele talvez tenha percebido que a organização que ele compôs funcionou perfeitamente. Assim, era para ele melhor organizar e deixar agirem os outros, cada qual fazendo aquilo que sabia de melhor. 1418 – Tristão Vaz e João Gonçalves Zarco descobrem o arquipélago da Madeira. 1419 – Os portugueses entram em Porto Santo, uma das ilhas do arquipélago. 1420 – Os portugueses entram na lha da Madeira, a maior ilha do arquipélago. 1424 – Dom Fernando de Castro comanda a expedição militar às Ilhas Canárias. 1425 – O infante Dom Henrique comanda o início do povoamento do arquipélago da Madeira, maior ilha do arquipélago que tem o mesmo nome, e a Ilha de Porto Santo, além de dois grupos de rochas desabitadas: as Desertas e as Selvagens. 1427 – Descobrimento do arquipélago dos Açores por Diogo de Silves. 1434 – Gil Eanes foi enviado para outra tentativa no mar por Dom Henrique conseguiu ultrapassar o Cabo Bojador depois de várias tentativas. 1436 – Afonso Gonçalves Baldaia descobre a Pedra da Galé. 1437 – Tentativa falhada da conquista de Tanger. 1439 – Autorização para o início do povoamento dos Açores. 1441 – Nuno Tristão descobre o Cabo Branco. 1443 – O Infante Dom Henrique é autorizado a navegar para o sul do Cabo Bojador. Nuno Tristão descobre o arquipélago de Arguim. 1444 – Nuno Tristão aproxima-se do Rio Senegal. 146 Dinis Dias chega ao Cabo Verde. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa 1445 – Álvaro Fernandes descobre o Cabo de Mastos. 1446 – Álvaro Fernandes chega à Enseada do Varela, no extremo norte da Guiné-Bissau, mas a colonização veio apenas no fim do século XVI. 1452 – Diogo de Teive viaja no Atlântico Ocidental e descobre as ilhas açorianas das Flores e do Corvo. 1455 – A bula Romanus Pontifex [O Pontífice romano] do papa Nicolau V (1447-1455) reconhece que Portugal tem direitos exclusivos à posse das terras e rotas descobertas a sul das Ilhas Canárias. 1456 – O arquipélago de Cabo Verde foi descoberto pelo veneziano Ca’ da Mosto, a serviço de Portugal, tornando-se independente em 1975. 1458 – Portugal conquista Alcácer Seguer. 1460 – Os portugueses descobrem as ilhas orientais do arquipélago de Cabo Verde. 1460 – Pedro de Sintra descobre a Serra Leoa. 1460 – Morre o Infante Dom Henrique, que nunca acompanhou as viagens ultramarinas, mas fez por elas um trabalho que o fez merecer o título que lhe deram os ingleses: Dom Henrique, o Navegador de descoberta. 1461-1462 – Diogo Afonso descobre as ilhas ocidentais do arquipélago de Cabo Verde. 1462 – Inicia-se o povoamento do arquipélago de Cabo Verde. 1469 – Fernão Gomes é contratado para explorar o litoral africano para adiante da Serra Leoa. 1471 – João de Santarém e Pero Escobar descobrem a Costa da Mina, agora Gana, no golfo da Guiné. 1474 – Rui de Sequeira ultrapassa o Equador e chega ao Cabo Catarina. 1482 – Diogo Cão atraca na foz do rio e somente três anos depois chegam missionários, que convertem o rei do Congo. 1482-1486 – Viagens de Diogo Cão, em que se descobre o litoral do continente africano entre Cabo Catarina e a Serra Parda, contatando pela primeira vez com o reino do Congo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 147 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa 1487-1492 – Pero da Covilhã com o escudeiro Afonso de Paiva vai por terra ao Oriente para colher e se informar sobre o caminho marítimo para as Índias e para o reino de Preste [padre] João, rei lendário de quem os portugueses esperavam ajuda. Chegados a Áden, que tem o melhor porto de acesso às Índias, eles se separaram: Pero da Covilhã continua para as Índias e Afonso de Paiva vai em busca do rei lendário. 1487 – Bartolomeu Dias inicia a sua viagem. 1488 – Bartolomeu Dias passa sem incidentes além do Cabo da Boa Esperança, o antigo cabo das tormentas, e explora o extremo sul do continente africano até o Rio do Infante. Doze anos depois, acompanha Pedro Álvares Cabral na primeira viagem às Índias depois da de Vasco da Gama. 1490 – Pero da Covilhã passa por Moçambique e se admira quando observa que é uma terra prospera. 1494 – O Tratado de Tordesilhas dividiu o mundo por descobrir entre Portugal e Espanha: se tivesse sido respeitado pelos bandeirantes, o Brasil teria os seus limites ocidentais marcados por uma linha entre as cidades de Belém e Porto Alegre. Nossa maior perda se chamaria Amazonas. 1497-1499 – Acontece a primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, que vai ser o assunto fundamental da epopeia de Camões: Os Lusíadas (1572). 1498 – A caminho das Índias, Vasco da Gama e sua esquadra também param em Moçambique. O destino, porém, os chama para as águas. 1500 – Pedro Álvares Cabral (1467 ou 1448-1520) parte do Tejo em aproximadamente 8 de março de 1500 com treze navios e mil e quinhentos homens, descobre o Brasil, deixa aqui os degredados e parte para as Índias. Gaspar Corte Real vai à Terra Nova. 1505 – Dom Lourenço de Almeida chega a Ceilão, atual Sri Lanka, e os portugueses se estabelecem na terra, expulsos em 1656 pelos holandeses, expulsos em 1796 pelos ingleses. 1507 – Afonso de Albuquerque chega a Ormuz. 1509 – Diogo Lopes de Sequeira chega a Sumatra, a segunda maior ilha da Indonésia, e a Málaca, cidade e porto da Malásia. 148 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa 1510 – Os portugueses, sob o comando de Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei da Índia, conquistam Goa, território da costa ocidental da Índia, e a conservam até 1962: invadida pela Índia em 1961, é anexada no ano seguinte. Apesar dessa volta ao seio materno, as vozes portuguesas ainda sobem lá aos ventos suaves e saudosos. 1511 – Os portugueses conquistam Málaca, agora cidade e porto da Malásia. Duarte Fernandes é o primeiro português a chegar ao Sião, agora Tailândia. 1512 – Rui Nunes chega ao Pegu, antigo estado da Birmânia. Francisco Serrão chega às Molucas, arquipélago da Indonésia, cobiçadas pela cultura de suas especiarias, agora praticamente desaparecida. 1513 – Jorge Álvares chega à China. 1514 – Chega à corte do xá da Pérsia a primeira embaixada portuguesa. 1515 – Fica consolidado o protetorado português sobre Ormuz, ilha no Golfo Pérsico, agora iraniana. Os portugueses chegam a Timor, ilha da Indonésia. Uma parte da ilha é agora o oitavo país da comunidade lusíada: Timor-Leste. 1516 – João Coelho chega ao Rio Ganges na India. 1517 – João de Meira chega a Baçorá. 1520 – Chega à Etiópia a primeira embaixada portuguesa de Dom Rodrigo de Lima ao Preste João. Alguns portugueses estabeleceram-se no Timor e enfrentaram cem anos depois a invasão dos holandeses, que acordaram tarde, mas com muita força. Os portugueses se retiraram de Timor em 1975 e a Fretilin [Frente de libertação do Timor-Leste] declarou a independência, mas nove dias depois o país foi ocupado pela Indonésia e anexado no ano seguinte. Depois de violentos massacres, as Nações Unidas intervieram em 1999 sob a chefia do brasileiro Sérgio Vieira de Melo, para preparar o território para a independência: eleições em 2001. 1528 - 1529 – Antônio Tenreiro realiza a primeira viagem de Ormuz para Portugal. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 149 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa 1530-1533 – Martim Afonso de Sousa (1500-1564) e seu irmão Pero Lopes de Sousa exploram o litoral brasileiro com uma frota de cinco navios e 400 homens e chegam, passa no Rio de Janeiro e para na ilha de Cananeia, mandando para o litoral uma expedição, que é massacrada. Continuando, chega perto da foz do Rio da Prata, seu navio afunda e ele se salva agarrado a uma tábua. Apesar disso, manda o irmão até o Rio da Prata para tomá-lo em nome do rei. Na volta, ergue as duas primeiras vilas na nova terra: São Vicente e Piratininga. 1532-1536 – Dom João III (1502-1557) estabelece o sistema de capitanias no Brasil, doadas pelo rei aos nobres que quisessem vir para a nova terra: Martim Afonso de Sousa recebeu a capitania de São Vicente em 1534, mas nunca veio para administrá-la. 1542-1543 – Os portugueses chegam ao Japão. Alguma coisa ficou deles nessa terra distante: pelo menos a palavra arigatô, que continua a nossa obrigado. 1549 – Os portugueses fundam a cidade de Salvador, primeira capital do Brasil. É claro que as terras invadidas pelos portugueses foram também invadidas pela língua portuguesa e a contaminaram com expressões suas que chegaram até a metrópole, como chegou até lá a palavra capim, que é a forma brasileira da palavra caá pii da língua tupi [mato fino]. Texto complementar Domínio da língua portuguesa (COUTINHO, 1976, p. 58-62) [...] 82. O século XVI reservou a Portugal um papel saliente na história dos descobrimentos marítimos e das conquistas territoriais. A língua portuguesa, que servia nessa época, de instrumento a uma culta e rica literatura, espalhou-se rapidamente pelas novas terras recém-desco150 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa bertas, avassalando continentes e ilhas. Nenhum povo foi jamais tão longe através dos mares, como o lusitano, cujas naus percorriam os oceanos em todos os sentidos e cuja bandeira tremulava em todas as cinco partes do mundo, porque em todas elas Portugal possuía colônias. Transportado para terras tão distantes, em que o clima, a topografia, os costumes, as crenças, as instituições sociais, os hábitos linguísticos, eram os mais diversos, o português não pôde manter aspecto rigidamente uniforme, mas fracionou-se numa porção de dialetos. De que se falou, nas regiões conquistadas, um idioma muito semelhante ao da metrópole, testemunha Duarte Nunes do Leão: “a qual (refere-se à língua) tam puramente se fala em muitas cidades de África, que nosso jugo são subjectas como no mesmo Portugal, e em muitas províncias da Etiópia,da Pérsia e da índia, onde temos cidades e colônias, nos Sionitas, nos Malaios, nos Maluqueses, Léqueos, e nos Brasis, e nas muitas e grandes ilhas com mar oceano, e tantas outras partes que com razão se pode dizer por os portugueses o que diz o salmista: In omnem terram exivit sonus sonus eorum, et in fines orbisterrae verba eorum”. A área territorial do português é muito dilatada. Poucas línguas do mundo lhe levam vantagem neste ponto. 83. Leite de Vasconcelos, traçando o mapa dialetológico do idioma português, classifica-lhe os dialetos em três grandes grupos: 1) Continentais, os existentes no continente europeu: interamnense (Entre-Douro-e-Minho); trasmontano (Trás-os-Montes); beirão (Beira-Alta e Beira-Baixa); meridional (sul de Portugal). Dentro da mesma área dialetal, notam-se às vezes modificações regionais, a que se pode dar o nome de subdialetos. O meridional, por exemplo, compreende três subdialetos: o alentejano (Alentejo), o estremenho (Estremadura) e o algarvio (Algarve). Ainda no continente europeu, mas fora de Portugal, é o português falado em algumas cidades e aldeias fronteiriças, pertencentes à Espanha, tais Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 151 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa como: no concelho de Barrancos, extremo oriental do Alentejo, e em Olivença, ao norte deste concelho (fala-se aí uma variedade de alentejano); em Almendilha, na província de Salamanca (usa-se o português a par do espanhol); em Ermisende, na província de Samora (a fala aí usada apresenta fenômenos comuns ao trasmontano), em San Martín de Trevejo, Eljas e Valverde del Fresno, onde alternam o português e o espanhol. 2) Insulanos, os que são falados nas ilhas europeias: açoriano (Açores); madeirense (Madeira). 3) Ultramarinos, no ultramar: dialeto brasileiro; indo-português, que compreende: dialeto crioulo de Diu; dialeto crioulo de Damão; dialeto norteiro (Bombaim, Baçaim, Caul etc.); português de Goa; dialeto crioulo de Mangalor; dialeto crioulo de Cananos; dialeto crioulo de Mãe; dialeto crioulo de Cochim; português da costa de Coromandel; dialeto crioulo de Ceilão; dialeto crioulo macaísta ou de Macau/ malaio-português: dialeto crioulo de Java; dialeto crioulo de Malaca e Singapura; 152 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa português de Timor; dialeto crioulo caboverdeano ou de Cabo Verde; dialeto crioulo guinèense ou da Guiné; dialetos crioulos do golfo da Guiné (Ilha de S. Tomé, Príncipe e Ano-Bom); português das Costas d’África (Angola, Moçambique, Zanzibar, Mombaça, Melinde, Quíloa). É força convir que nem em todos esses lugares é o português língua exclusiva. Em alguns pontos da África, Ásia e Oceania, fazem-lhe concorrência séria os idiomas nativos. Sítios ou cidades há em que é somente por pequeno núcleo de população, constituída de descendentes de antigos colonos lusitanos. Apesar da ação nefasta do tempo e da obra demolidora do homem, continua o idioma a resistir, em terras tão distantes, e a sua influência não se apagará tão cedo da memória dos povos que o adotaram. [...] 84. Em alguns desses lugares, apareceram os chamados crioulos. O primeiro que chamou a atenção dos estudiosos para a importância desses dialetos foi Addison van Name. Num artigo intitulado “Contributions to Creole Grammar” (1869-1870), ocupou-se exclusivamente dos crioulos francês, espanhol, holandês e inglês. Sobre o crioulo português de Surinam fez Addison apenas uma rápida alusão. A mais antiga publicação sobre dialetologia crioula portuguesa, porém, deve-se a E. Teza, que escreveu um trabalho intitulado Indoportoghese (1872), em que tratou dos crioulos da Índia. A propósito dos crioulos, assim se exprime Leite de Vasconcelos: “o estudo dos crioulos tem muita importância, tanto no que toca à Psicologia da linguagem, como no que toca à Filologia propriamente dita, porque eles revelam-nos operações notáveis do desenvolvimento da fala humana, conservam por vezes formas obsoletas dos idiomas de que descendem”. São notáveis os trabalhos de Schuchardt, Adolfo Coelho, Gonçalves Viana, Leite Vasconcellos e Rodolfo Dalgado acerca dos dialetos portugueses em geral. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 153 Fundamentos Históricos da Língua Portuguesa Atividades 1. Como se prepararam os portugueses para a sua expansão marítima? 2. De onde vieram os recursos para a mais cara aventura marítima daquele tempo? 3. O que havia de verdade sobre os perigos dos mares próximos ao cabo Bojador? 154 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br História externa da língua portuguesa 4. Teria sido por acaso que a esquadra de Cabral aportou nas terras brasileiras? Dicas de estudo NASCENTES, Antenor. Estudos Filológicos. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2003. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 155 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br