Baixar este arquivo PDF

Propaganda
Revista Saúde Física & Mental
OCORRÊNCIA DA SOROLOGIA POSITIVA PARA HEPATITE
B NOS DOADORES DE SANGUE DO MUNICÍPIO DE PAULO
AFONSO, BAHIA, BRASIL, NO PERÍODO DE 2009 A 2011
OCCURENCE OF POSITIVE SEROLOGY FOR HEPATITIS B IN BLOOD DONORS
IN THE CITY OF PAULO AFONSO, STATE OF BAHIA, BRAZIL, IN THE PERIOD
2009 - 2011
Antônio de Pádua Santos Salgado1, Nilza Santos de Jesus Azevedo2, Antônio Neres
Norberg3, Fabiano Guerra Sanches4, José Tadeu Madeira de Oliveira5, Aluízio
Antônio de Santa Helena6, Nicolau Maués Serra-Freire*7
Resumo: As infecções atribuidas ao vírus da hepatite B (VHB) constituem um dos grandes e
graves problemas de saúde pública global por serem indutores de cirrose hepática e carcinoma
hepatocelular. Este trabalho tem como objetivo investigar a incidência do VHB em doadores
de sangue do município de Paulo Afonso, estado da Bahia, Brasil. Realizou-se um estudo
longitudinal, aplicado e retrospectivo no período de 2009 a 2011. O universo estudado foi
constituído por amostras de sangue de 3070 doadores. Para a detecção dos marcadores para
1- Especialista em Análises Clínicas (Bioquímica) e Banco de Sangue. Docente da
Universidade Estadual da Bahia – UNEB, Paulo Afonso. Diretoria Regional de Saúde de
Paulo Afonso, Bahia. [email protected].
2- Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Enfermeira da Secretaria Municipal de
Saúde de Paulo Afonso, Bahia. [email protected]
3- Doutor em Doenças Parasitárias. Docente da Faculdade de Medicina Souza Marques –
FTESM, Centro Universitário UNIABEU, Rio de Janeiro, e Faculdade de Ciências Gerenciais
de Manhuaçu. [email protected]
4- Doutor em Doenças Parasitárias. Docente da Universidade Iguaçu – UNIG. Oficial médico
do quadro efetivo do Exército Brasileiro. Médico da Secretaria de Saúde de Paulo Afonso e
da Secretaria de Saúde de Santa Brígida, Bahia. [email protected]
5- Mestre em Doenças Parasitárias. Docente do Centro Universitário UNIABEU e do Instituto
Benjamin Constant, Rio de Janeiro. [email protected]
6- Mestrando em Saúde Materno Infantil. Coordenador e docente do curso de Farmácia do
Centro Universitário UNIABEU. [email protected]
7- Doutor em Doenças Parasitárias. Docente da Universidade Iguaçu – UNIG, Centro
Universitário UNIABEU e Instituto Oswaldo Cruz – IOC/FIOCRUZ, Rio de Janeiro.
*[email protected]
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
23
24
hepatite B, os procedimentos técnicos foram realizados conforme a especificação dos
fabricantes dos reagentes. Foram usados os kits produzidos pelo laboratório WAMA
Diagnóstica: Imuno-rápido HBsAg e Imuno-ELISA anti-HBsAg Total. Dentre os 3070
doadores, foram diagnosticados 176 casos de infecção pelo vírus da hepatite B, que, para o
total de examinados, teve prevalência de 5,7%. Existem portadores de VHB entre os doadores
de sangue do município de Paulo Afonso, com risco de transmissão do vírus para outros
indivíduos por meio de outros mecanismos de transmissão e, assim, perpetuando a presença
do vírus naquela região.
Palavras-chave: hepatite viral; banco de sangue, qualidade de hemoderivados.
Abstract: Attributed infections to hepatitis B virus (HBV) are one of the major and serious
problems of global public health, mainly because induces cirrhosis and hepatocellular
carcinoma. The objective of this research is to investigate the incidence of HBV in blood
donors in the city of Paulo Afonso, Bahia, Brazil. A longitudinal study, applied and
retrospective survey was carried to the period of 2009 to 2011. The population consisted of
blood samples of 3070 blood donors. For the detection of markers for hepatitis B, the
technical procedures were performed according to the manufacturers specification of the
reactants. The used kits produced by the laboratory WAMA Diagnostica were: Imuno-fast
HBsAg and Imuno-ELISA anti-HBsAg Total. 176 cases of the 3070 donors were diagnosed
with infection by hepatitis B virus, which corresponds to a total prevalence of 5.7%. There are
HBV carriers among blood donors in the city of Paulo Afonso, with the risk of transmitting
the virus to other people through other mechanisms of transmission and, thus, perpetuating
the presence of the virus in the region.
Keywords: viral hepatitis; blood bank; quality of blood products.
INTRODUÇÃO
associados a elevado grau de cronificação
As infecções hepáticas atribuídas ao vírus
e com tendência de evoluir para cirrose
da hepatite B (VHB) e da hepatite C
hepática e carcinoma hepatocelular4,5,6. A
(VHC) constituem um dos grandes e
partir de estimativa citada por Valente2
graves problemas de saúde pública em
para o Brasil, era aceita a existência
diferentes
regiões
considerando
que
do
mundo
1,2,3
,
mínima de três milhões de portadores
esses
vírus
estão
crônicos dos vírus VHB e VHC; com base
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
25
em resultados de doadores de sangue, os
imunidade. A presença do anticorpo IgM
valores de prevalência de infecção crônica
anti-HBc indica infecção aguda; porém a
por cada um dos vírus variando de 1% a
presença do anticorpo IgG anti-HBc indica
10%, conforme a região.
que houve apenas um contato prévio com o
O vírus da hepatite B é da família
vírus da hepatite B, quando o AgHBs é
Hepadnaviridae, e o único vírus de DNA
negativo. A presença do AgHBs junto ao
causador de hepatite no homem. Suas
anti-HBc IgG e o anti-HBs negativo se
principais formas de transmissão são
observa em pacientes que evoluiram para a
transfusões
de
forma crônica da infecção pelo VHB. O
sexuais,
antígeno “e” (HbeAg) é marcador de
transmissão perinatal, aleitamento materno,
replicação viral e indica doença ativa e
uso de drogas injetáveis, fluidos orgânicos
altos níveis de infectividade. O AgHBe
como
cirúrgicos
aparece junto com o HBsAg logo no início
poluídos com sangue, transplantes de
da infecção aguda e desaparece em poucos
órgãos, lesões de pele ou acidentes com
meses, nos casos de evolução normal da
agulhas7,8,9,10.
doença. Os anticorpos anti-Hbe surgem
de
hemoderivados,
sêmen,
sangue,
aplicação
relações
instrumentos
O período de incubação da hepatite
após o desaparecimento do HbeAg tanto na
pelo VHB varia entre 60 e 180 dias5,11. O
doença aguda como na crônica. Nas
diagnóstico da doença, na fase aguda, pode
hepatites
ser realizado com base nos achados do
assintomáticos, sua presença indica que o
antígeno de superfície do VHB (HBsAg),
grau de replicação viral é baixo, sendo
conhecido como “antígeno Austrália”. A
considerado como um bom prognóstico
presença
a
para a evolução da doença. Nos casos de
existência do vírus no soro de um paciente.
evolução para a cura da infecção pelo
Cerca de 90% a 95% dos casos evoluem
VHB, o AgHBs desaparece no soro em um
para a cura4,11.
período inferior a seis meses, surgindo
desse
Existem
marcador
ainda
indica
outros
crônicas
e
nos
portadores
três
anticorpos anti-VHB. A detecção do anti-
marcadores de infecção pelo VHB: os
HBc IgG reagente isolado (AgHBs e anti-
anticorpos anti-HBc, que já estão presentes
HBs
no sangue com os primeiros sintomas de
encontrado em candidatos à doação de
hepatite aguda pelo vírus B, os quais
sangue, pode ter vários significados, como
persistem por toda a vida. São anticorpos
resultados falsos positivos para o anti-HBc,
não
reagentes),
frequentemente
neutralizantes e a sua presença não indica
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
26
casos de hepatite B oculta ou ainda contato
10,11
prévio com o vírus do grupo B
Considerando
.
da
regulamentação
dos
bancos de sangue, a transfusão sanguínea
das
se constituía em potencial mecanismo de
sorologias realizadas em doadores de
propagação da hepatite B, pois somente
sangue,
com
a
resultados
Antes
estimativa
é
de
que,
a
descoberta
da
Síndrome
da
provavelmente, seis milhões de pessoas no
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), em
mundo sejam portadores do VHB3,12,
1983, surgiu uma preocupação com a
porém considera-se que cerca de 45% da
qualidade do sangue a ser transfundido. A
população mundial vive em regiões de alta
maioria dos bancos de sangue privados não
prevalência, nas quais o risco de adquirir a
apresentava
infecção ao longo da vida é acima de
funcionamento,
60%13.
qualidade,
É
comum
a
estimativa
da
prevalência de doadores soropositivos para
condições
nem
de
distribuindo
testagem
mínimas
sorológica,
controle
sangue
aumentando
de
de
sem
a
14
possibilidade de transmissão .
VHB ser realizada a partir da triagem
Considerando a importância clínica
sorológica dos doadores. Os hemocentros
e a patogenicidade do VHB, o presente
do Brasil adotam medidas de controle
estudo teve como objetivo investigar a
como questionários sobre estado clínico
prevalência
geral e exposição a fontes de infecção
marcadores do VHB em doadores de
(hemodiálise,
sangue, no município de Paulo Afonso,
drogas
injetáveis,
promiscuidade), realizando rigorosamente,
dos
casos
positivos
aos
Bahia, Brasil.
em todo sangue doado, testes para doenças
hemotransmissíveis. A presença de fatores
MATERIAL E MÉTODOS
de risco e soropositividade para agentes de
Estudo
doenças transmitidas pelo sangue implicam
descritivo, dos doadores de sangue com
no descarte imediato das bolsas de
sorologia positiva para o vírus da hepatite
sangue12. A Lei 7649, de 25 de janeiro de
B (VHB) atendidos no centro de triagem
1988, estabeleceu a obrigatoriedade do
de doadores voluntários do município de
cadastramento dos doadores de sangue e a
Paulo Afonso, Bahia, no período de 2009 a
realização de exames laboratoriais para
2011. Os doadores foram identificados por
hepatite B, sífilis, doença de Chagas,
seu número de registro, a fim de preservar
malária e AIDS2,14.
os dados pessoais, garantindo o caráter
retrospectivo,
transversal
e
confidencial da doação. Para a detecção
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
27
dos marcadores para hepatite B nos testes
finalidade de identificar indivíduos com
de triagem, os procedimentos técnicos
infecção recente ou pregressa da hepatite
referentes aos ensaios foram realizados
B. Em todas as situações foram seguidos
conforme especificações dos fabricantes
os procedimentos técnicos recomendados
dos reagentes e dos equipamentos. Foram
pelo fabricante.
usados os seguintes kits produzidos pelo
Os resultados percentuais entre
laboratório Wama Diagnóstica: 1- Imuno-
classes de idade, e sexos dos investigados
rápido HBsAg. Trata-se de um kit para
foram testados quanto à significância das
determinação qualitativa do antígeno de
diferenças pelo teste do qui-quadrado, se
superfície do vírus da hepatite B (HBsAg)
arbitrando 5% como nível de significância,
por método imunocromatográfico, usando
e comparados quanto ao coeficiente de
anticorpos
prevalência (Serra-Freire, 200215).
mono
imobilizados
na
identificação
seletiva
e
policlonais
membrana
de
para
HBsAg
em
RESULTADOS
amostras de soro; 2- Imuno-ELISA anti-
No
período
investigado,
HBsAg Total. É um teste imunoenzimático
compreendendo os anos de 2009, 2010, e
por competição, fase sólida, que utiliza
2011, foram examinadas alíquotas de
proteínas recombinantes da região do core
sangue de 341 casos de doadores cujos
do vírus B (HBcAg) para detectar a
exames preliminares identificaram algum
presença de anticorpos anti-HBcAg Total
tipo de infecção, caracterizados então
em soro ou plasma humano, com a
como não negativos (Tab. 1)
Classe de idade das
Sexo dos examinados
pessoas examinadas
Masculino
Total de examinados
Feminino
(anos)
No
%
No
%
No
%
18 H 25
31
16,3
26
17,1
57
16,7
26 H 33
49
25,8
43
28,4
92
27,1
34 H 41
38
20,1
35
23,0
73
21,4
42 H 49
37
19,8
30
19,7
67
19,6
50 H 57
34
18,0
18
11,8
52
15,2
Total
189
100
152
100
341
100
Tabela 1: Caracterização da amostra de sangue humano não negativo, de doadores no
município de Paulo Afonso, Bahia, entre 2009 e 2011, investigada para o diagnóstico da
hepatite B.
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
28
Entre os 341 casos não negativos houve
positivos, tanto para os casos de infecção
diagnóstico de diferentes infecções como
recente ou pregressa como pela detecção
hepatite, sífilis, doença de chagas, vírus
de anticorpos contra o vírus da hepatite B,
HTLV, HIV entre outras, e para este artigo
considerando
foi concentrada a atenção nos casos de
estabelecidas na investigação, destacou que
hepatite B, tanto para a identificação de
a classe de 42 a 49 anos de idade é
infecção recente ou pregressa pela pesquisa
percentualmente a de maior quantidade de
de
doadores
reação
AntiHBc
identificação
como
qualitativa
do
para
a
antígeno
HBsAg (Tab. 2).
O
teste
as
de
classes
sangue
de
infectados
idade
no
município de Paulo Afonso, mas só tem
diferença significativa (p<0,05) para a
de
significância
das
diferenças entre as percentagens de casos
Classe de idade das
pessoas examinadas
classe de idade entre 18 e 25 anos (Tab.
2).
Diagnóstico positivo para hepatite B (No)
Masculino
Total de examinados
(%)
Feminino
(anos)
AntiHBc
HBsAg
AntiHBc
HBsAg
AntiHBc
HBsAg
18 H 25
15
2
9
0
13,6b
7,7b
26 H 33
19
4
12
1
17,6ab
19,2ab
34 H 41
28
4
15
2
24,4ab
23,1ab
42 H 49
32
5
21
3
30,2a
30,8a
50 H 57
13
4
12
1
14,2ab
19,2ab
Total
107
19
69
7
100
100
Tabela 2: Resultado da investigação sobre hepatite B em amostra de sangue humano de
doadores no município de Paulo Afonso, Bahia, entre 2009 e 2011.
Na amostra investigada havia 189 homens,
população doadora disponibilizada para o
e, destes, 107 estavam infectados com o
estudo era formada por 3.070 indivíduos
vírus da hepatite B (CP = 56,6%); das 152
(1.678 homens e 1.392 mulheres), a
mulheres, 69 estavam infectadas com o
relação homem (54,7%)/mulher (45,3%) é
vírus (CP = 45,4%). Considerando que a
de 1,21 homem/1 mulher, e que na relação
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
29
entre os infectados com o vírus da hepatite
injetáveis,
manicures,
barbeiros,
B 1,25/1 a probabilidade de que o sexo do
promíscuos e profissionais de saúde3,8,15.
humano esteja influenciando os níveis de
Segundo Longhi et al.16, para todo o Brasil
infecção encontrado é não significativa (p
se avalia que de 1% a 3% da população
>0,05). O coeficiente de prevalência de
seja portadora crônica do VHB. Neste
doadores de sangue infectados pelo vírus
caso, a identificação de 5,7% dos doadores
da hepatite B, relativo aos três anos
com infecção indica um risco focal maior.
investigados, é CP = 5,7% no município de
Como Longhi et al.16 ressaltaram que a
Paulo Afonso.
região amazônica apresenta incidência da
infecção comparável às maiores do mundo,
DISCUSSÃO
tendo
A hepatite causada pelo vírus B (VHB) é a
superior a 7% dos habitantes da região
mais frequente das doenças de transmissão
como
parenteral detectada por ocasião da triagem
antígeno de superfície do vírus B, é
do sangue a ser transfundido. Esse vírus
possível admitir que a situação é similar
hepatotrópico é considerado um
dos
em Paulo Afonso. No estado de Rondônia,
maiores problemas de saúde pública, é
eles detectaram 7,47% em 2008, e 6,2%
endêmico em diferentes locais do mundo,
em 2009 dentre os doadores de sangue
estimando-se que existam 300 milhões de
como portadores do vírus B, sendo a mais
portadores crônicos. Sua importância não é
alta
somente pela elevada prevalência, mas
Ariquemes, que é área de garimpo, com
também por ser uma das principais causas
26,92% e 23,53%, nos anos 2008 e 2009,
de doença hepática crônica, como cirrose e
respectivamente.
carcinoma
encontrada em Rondônia e na região norte
hepatocelular.
Em
Paulo
sido
demonstrado
portadores
prevalência
prevalência
assintomáticos
no
A
município
alta
do
de
prevalência
Afonso, a prevalência pode ser considerada 29 do Brasil foi justificada por Souto16, ao
relativamente baixa (CP = 5,7%).
observar que a hepatite B segue os
A hepatite B, pode ocorrer em
movimentos migratórios humanos e que as
qualquer pessoa, porém, alguns grupos de
comunidades de migrantes reproduzem no
indivíduos estão mais expostos ao vírus,
local de destino o padrão epidemiológico
como:
das
os
receptores
hemoderivados,
de
sangue
ou
populações
que
deixaram.
O
hemofílicos,
pesquisador relatou ainda que o estado de
hemodialisados crônicos, filhos de mães
Rondônia, na década de 1970, passou por
portadoras do vírus, usuários de drogas
uma fase de grande desenvolvimento e
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
30
atraiu
contingentes
populacionais
período de 01 de janeiro de 2006 a 31 de
provenientes das regiões sul, sudeste e
março de 2007, com prevalência de 0,8%,
centro-oeste
se
que atesta baixa incidência da hepatite B
concentraram em várias cidades do estado,
na cidade de Santa Maria, estado do Rio
e mostrou que ter vivido em área de
Grande do Sul.
do
Brasil,
que
garimpo, que funcionava como fator de
Estudo com 25.891 doadores de
risco para exposição ao VHB, aumentando
sangue que compareceram pela primeira
o risco relativo de 27% para 157%. Os
vez no hemocentro de Ribeirão Preto entre
garimpeiros têm hábitos nômades16,17, que,
1996 e 2001 foi detectado 2.250 casos (CP
por se movimentarem de uma área para
= 8,7%) (Valente et al.2) com o marcador
outra, podem funcionar como reservatórios
anti-HBc que foi o mais frequente nos
móveis do VHB. Nas áreas ao entorno do
testes
garimpo,
encontrado para Santa Maria/RS, e maior
desenvolvem-se
prostituição
masculina
zonas
e
de
feminina,
bem
superior
ao
do calculado para Paulo Afonso/BA.
Hernandez et al.20, em estudo
facilitando a transmissão do vírus B
através de relações sexuais.
de triagem,
realizado durante um ano, em 1.420
Em algumas cidades da região sul
doadores de sangue do município de
do Brasil, as taxas de prevalência de
Sandino, Cuba, encontraram 18 doadores
infecção por VHB também são elevadas,
com sorologias positivas para HBsAg,
conforme diagnosticado em Jaraguá do
prevalência de 1,3%; portanto, muito
Sul, com índice de 29,7%16,18.
abaixo das taxas encontradas em doadores
A determinação do marcador antiHBc
na
prevenção
da
de outras regiões do mundo.
transmissão
As medidas básicas de profilaxia de
transfusional do vírus da hepatite B foi
transmissão parenteral estão relacionadas
19
realizada por Wohlhahrt et al.
doadores
de
sangue
do
em 7.896
Hospital
ao controle do sangue e hemoderivados
pela
seleção
de
doadores,
como
Universitário de Santa Maria, RS, no
demonstrado para Paulo Afonso, e de
período de abril de 2007 a agosto de 2008,
manipuladores
quando detectaram prevalência de 0,86%
utilização individual de agulhas e seringas
de positividade para o marcador anti-HBc,
devidamente esterilizadas, cuidado com o
e
material usado em tatuagens e acupunturas,
comentaram
que
o
resultado
foi
dos
semelhante ao descrito em estudo realizado
acompanhamento
em doadores do mesmo hospital, no
pacientes submetidos a hemodiálise, alerta
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
e
hemoderivados,
cuidado
com
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
os
31
sobre a promiscuidade sexual e estimular a
educação para atividade sexual segura,
CONCLUSÕES
como estamos incrementando em Paulo
As taxas de prevalência da hepatite B entre
Afonso. As mães soropositivas não devem
os doadores de sangue da região situam-se
amamentar seus filhos. A profilaxia da
abaixo da média encontrada em pesquisas
hepatite B é feita pelo uso da vacina
similares realizadas em outros lugares do
recombinante a partir do HBsAg expresso
mundo. A presença de portadores de VHB
pela inserção do gene S em vetores
entre os doadores de sangue do município
apropriados. A vacina deve ser feita em
de Paulo Afonso demonstra o risco de
três doses de 20 mg, intramuscular, ao
transmissão do vírus para outros indivíduos
nascer e após um a seis meses, e também
por meio de outros mecanismos de
em três doses já na fase adulta. O controle
transmissão
da eficácia da vacinação deve ser feito pela
presença do vírus naquela região. A
pesquisa do antígeno HBsAg no soro do
sorologia para o diagnóstico da infecção
vacinado. Em indivíduos não vacinados,
pelo VHB, realizada em doadores de
pode-se usar, como profilaxia imediata, a
sangue do município, foi útil para excluí-
exposição
humana
los como doadores e encaminhá-los ao
contra o vírus B na dose de 0,6 ml/Kg em
serviço de hepatologia para tratamento e
dose única.
seguimento da doença hepática.
à
imunoglobulina
e,
assim,
perpetuando
a
BIBLIOGRAFIA
1.
ALTER, M. J. Epidemiology of hepatitis C. Hepatology 1997; 26(1): 625-655.
2.
VALENTE, V. B, COVAS, D. T., PASSOS, A. D. C. Marcadores sorológicos
para hepatites B e C em doadores de sangue do Hemocentro de Ribeirão
Preto, SP. Rev Bras Med Trop 2005; 38(6): 488-492.
3.
VERONESI, R., FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. Ed. Atheneu, Rio de
Janeiro, 2009, pp. 525-534.
4.
RUBIN, E., GORSTEIN, F., RUBIN, R., SCHWARTING, R., STRAYER, D.
RUBIN PATOLOGIA. Bases Clínicopatológicas da Medicina. Ed. Guanabara
Koogan, Rio de Janeiro, 2006, pp. 774-781.
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
32
5.
LEVINSON, W. Microbiologia Médica e Imunologia. Ed. Artmed, Porto Alegre,
2010, pp. 295-304.
6.
PORTH, C. M., MATFIN, G. Fisiopatologia. Ed. Guanabara Koogan, Rio de
Janeiro, 2010, pp. 982-1002.
7.
BENESON, A. S. Hepatitis víricas In: Beneson AS (ed). El control de las
enfermedades transmisibles en el hombre. Organización Panamericana de la
Salud; Washington DC, 1992, pp. 262-280.
8.
COURA, J. R. Síntese das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Ed.
Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008, pp. 228-234.
9.
MURRAY, P. R., ROSENTHAL, K. S., PFALLER, M. A. Microbiologia Médica.
Ed. Elsevier, Rio de Janeiro, 2010, pp. 629-642.
10.
ALVES, N. P., LIMA, L. M., BARBOSA, V. F., PIMENTA, G. A., MORAESSOUZA, H., MARTINS, P. R. J. Ocorrência de sorologia positiva para hepatite
B nos doadores de sangue do hemocentro regional de Uberaba (MG) no
período de 1995 a 2009. Rev Pat Trop 2012; 41(2): 145-154.
11.
FAUCI, A. S., KASPER, D. L., LONGO, D. L., BRAUNWALD, E., HAUSER, S.,
JAMESON, J. L. Harrison Medicina Interna. Ed. McGraw Hill, Rio de Janeiro,
2008, pp. 1937-1938.
12.
CRUZ, C. R. B., SHIRASSU, M. M., MARTINS, W. P. Comparação do perfil
epidemiológico das hepatites B e C em um serviço público de São Paulo. Arq
Gastroenterol 2009; 46: 225-229.
13.
NASCIMENTO, M. C., MAYAUD, P., SABINO, E. C., TORRES, K. L.,
FRANCESHI, S. Prevalence of hepatitis B and C serological markers among
first-time blood donors in Brazil: a multi-center serosurvey. J Med Virol 2008;
80:5 3-57.
14.
MARTINS, S. C. C., CALDAS, A. J. M., FONSECA, L. M. B., CORREA, R. G.
C. F., AQUINO, M. C. Marcadores do vírus da hepatite B (HBV) em
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
33
candidatos à doação de sangue no estado do Maranhão. Rev Pesq Saúde
2010; 11(3): 30-34.
15.
SERRA-FREIRE, N. M. Planejamento e análise de pesquisas parasitológicas.
Ed. EdUFF, Niterói, 2002, 195p.
16.
LONGHI, M., CORDEIRO, V., RAMALHAES, M. A. Prevalêcia do marcador
sorológico anti- HBC da hepatite B em doadores de sangue, segundo o banco
de dados da hemorrede de Rondônia – 2008 a 2010. Webartigos 2010:
http://www.webartigos.com/artigos. Acessado em 07/10/2013.
17.
SOUTO, F. J. D. Hepatite B e os movimentos migratórios no estado de Mato
Grosso, Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 2004, 37 (suplemento II).
18.
ROSSINI, N., MOUSSE, D. HEPATITES B E C. Prevalência em doadores de
sangue nas regiões de Blumenau, Jaraguá do Sul e Joinville (SC). Newslab
2002, ano X, 54.
19.
WOHLFAHRT, A. B., BECK, S. T., FOLLETO, A., CECCI, A. Determinação do
marcador anti-HBc na prevenção da transmissão transfusional do vírus da
hepatite B: importância e implicações. RBAC 2010; 42(4): 269-272.
20.
HERNANDEZ, Y. P., RELOVA, E. C., SOSA, P. A. R., RAMOS, N. G.,
HERNANDEZ, D. E. Presencia de antígeno de superficie del vírus Hepatitis B
en donantes de sangre. Rev Ciencias Médicas 2013; 17(3): 59-68.
Revista Saúde Física & Mental- UNIABEU
v.4 n.1 Janeiro - Julho 2014
Download