Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação em Química Curso de Pós-Graduação em Química GILDERMAN SILVA LÁZARO ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE PIRIMETAMINA E SULFADIAZINA COM SISTEMAS MODELOS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS São Cristóvão Sergipe – Brasil 2006 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE PIRIMETAMINA E SULFADIAZINA COM SISTEMAS MODELOS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS GILDERMAN SILVA LÁZARO Dissertação apresentada ao Núcleo de PósGraduação em Química da Universidade Federal de Sergipe, para a obtenção do Título de Mestre em Química. Orientador: Prof. Dr. Luis Eduardo Almeida Co-orientador: Profa. Drª. Ledjane Silva Barreto São Cristóvão - SE 2006 Dedico este trabalho a minha família, por ser a base sólida de total integridade e harmonia, que sempre contribuiu para o fortalecimento dos pilares, que dão sustento as minhas conquistas profissionais e pessoais. ii AGRADECIMENTOS Transcrever os sentimentos de agradecimentos a todos que contribuíram para a realização deste trabalho foi uma das etapas mais difícil durante processo de elaboração do mesmo. No entanto, na impossibilidade de evitar paradoxo, gostaria de agradecer: • Ao Profº Dr. Luis Eduardo Almeida, por me aceitar como orientando, pela total disposição nos momentos solicitados, pela confiança depositada durante o desenvolvimento das atividades e pela total integridade na condução da realização deste trabalho. Professor, você é o máximo!!! • A Profª Dra. Ledjane Silva, por contribuir na escolha do meu orientador e por se fazer presente em todos os momentos seja como co-orientadora ou conselheira. Você é um grande exemplo de profissional. • Ao Profº Dr. Nivan Bezerra, pela grande contribuição prestada a este trabalho através da realização de cálculos teóricos computacionais. • A Profª Dra. Marina Menezes, por contribuir com o meu interesse por pesquisa através do incentivo e confiança depositada em me durante a graduação. Obrigado professora! • As professoras Dras Luciene e Iara, pelas mudanças sugeridas durante o meu exame de qualificação. • A Profª Dra Eunice e ao Profº Dr. Reinaldo, pela contribuição dada com testes calorimétricos. • Aos técnicos dos laboratórios, que sempre contribuíram para um bom andamento das minhas atividades, através do fornecimento de materiais. • A todos do departamento de química que contribuíram para que este trabalho fosse realizado. • Aos estudantes de iniciação científica: Alisson, Adelmo e Osmi, pela cooperatividade durante a convivência no laboratório. Sem vocês este trabalho se tornaria mais exaustivo. • As minhas amigas da pós-graduação: Alane, Edjane, Elane e Tatiane, pelo carinho durante todo o processo da pós, por me erguer nos momentos mais iii críticos, pelos bons momentos que passamos durante alguns fins de semana e por ser minhas amigas. Gosto muito de vocês. • A minha amiga Ana Paula (Paulinha), pela grande ajuda na confecção desta dissertação. Obrigado, tenho muita admiração e carinho por você. • As minhas amigas: Andréa, Glyêise, Adelaide, Paloma, Vágna, Oara, e Marilia, pela presença e apoio nos momentos da minha vida. • Aos meus grandes amigos: José Antonio, Givaldo e Renilson, pela grande amizade, carinho, incentivo e apoio. Sem vocês não me sentiria tão forte para chegar aonde cheguei. • Aos meus irmãos: Ana, Janete, Julita, Antonio, José, Jaime e Gilmar, pelo amor, respeito e admiração. Vocês são a base que rege minha integridade moral.e emocional. Amo vocês. • Aos meus Pais Jaime e Eliza, em especial a minha mãe, que sem ela jamais teria chegado aonde chegue. Obrigado, vocês são a razão da minha vida. • A todos que contribuíram para que este trabalho pudesse acontecer. • Ao FINEP e CNPq pelo apoio financeiro. iv Curriculum Vitae Março/2006 Dados Pessoais Nome Gilderman Silva Lázaro Filiação Jaime Lázaro Santos e Eliza Silva Lázaro Nascimento 12/03/1967 - Ilha das Flores/SE - Brasil Formação Acadêmica/Titulação Conclusão 2002 Graduação em Química Licenciatura. Universidade Federal de Sergipe, UFS, São Cristóvão, Brasil Em andamento Mestrado em Química. Universidade Federal de Sergipe, UFS, São Cristóvão, Brasil Atuação Profissional 1. Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe - CEFET-SE Vínculo institucional 1995 - Vínculo: Efetivo, Enquadramento funcional: Técnico em Química. Função: Coordenador v 2. Governo do Estado de Sergipe - GOVERNO/SE Vínculo institucional Colégio Estadual Professor José Barreto Fontes (DRE’8). 2004- Professor de Química. Trabalhos resumidos publicados em anais de evento 1. LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M. M. Peroxidase da Cajarana (Spondias dulcis, A.): Extração, Purificação e Propriedades Bioquímicas. In: 12o ENQA, São Luis – MA .12o Encontro Nacional de Química Analítica, 2003. p.OT003. 2. LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M. M.; Purificação e Caracterização Bioquímica da Peroxidase em Frutos da Família Anonácea - Pinha (Anoma Squamosa L.) In: SBQ 26 Anos, 2003, Poços de Caldas. 26a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. , 2003. p.TC044. 3. LÁZARO, G. S., SILVA, I. S. M. da, ANDRADE, D., LIMA, P. S. de, ALMEIDA, L. E.; O Ciclo de Krebs: Reeducação Alimentar e o Estudo Termoquímico In: Xi Encontro Nacional de Ensino de Química, 2002, Recife. XI ENEQ- Ciência, Tecnoliogia, Ambiente e Sociedade na Educação Química: O Desafio da Interação. , 2002. v.Único. p.130 – 130. vi 4. LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M. M..Otimização da Extração da peroxidase da Pinha (Anoma Squamosa L.) Via Metodologia de Superfície de Resposta In: SBQ 25 Anos: Passado Presente e Futuro, 2002, Poços de Caldas. Livro de Resumos da Sociedade Brasileira de Química. , 2002. v.Único. p.TC009 - TC009. 5. LÁZARO, G. S., SANTOS FILHA, M. M., JESUS, S. C. de, VIEIRA, I. C., CARVALHO, J. ; Estudo Termocinético da Enzima Polifenol Oxidase Como uma Alternativa as Constantes Km e Vmax In: A Química na América Latina/ Integração e Desenvolvimento Sustentável., 2001, Poços de Caldas. Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2001. v.Único. p.QA126 - QA126 6. SANTOS FILHA, M. M., LÁZARO, G. S., CABRAL, A. C., CARVALHO, J.; Parâmetros Cinéticos Km e Vmax da Polifenol Oxidase da Jaca In: XL Congresso Brasileiro de Química, 2000, Recife. Química: Ontem, Hoje e Amanhã. , 2000. v.Único. p.18 - 18 Atividades Desenvolvidas Durante o Curso de Mestrado Publicação em anais de evento 1. ALMEIDA, L. E., LÁZARO, G. S., MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANDOS dos, A. G., COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L.S.. Estudo da Interação da Pirimetamina com Micelas (SDS, CTAC, HPS E Brij-35) Via Fluorescência. In: 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2006. Águas de Lindóia. Livro de Resumos da 28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. 2006. vii 2. ALMEIDA, L. E., LÁZARO, G. S., MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANTOS dos, A. G., COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L.S.. Estudo de Absorção Óptica de Duas Drogas Antitoxoplasmose: Pirimetamina e Sulfadiazina In:28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2005, Poços de Caldas. Livro de Resumos da 28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. 2005. Cursos 1. Mecanismo de Tansdução Celular. II Workshop de Química e Biotecnologia. 28 a 30 de setembro de 2005. 2. Integração Universidade-Empresa: Os Caminhos da Pós-Graduação em Química. IV Workshop de Pós-Graduação em Química. 25 a 26 de novembro de 2004. Artigo Submetido 1. LÁZARO, G. S, MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANTOS dos, A. G., COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L. S, ALMEIDA, L. E.Spectroscopy Studies of the Interaction of Pyrimethamine and Sulfadiazine with Micelles. Biochimica et. Biophysica Acta, 2006. (em preparação) viii 2. VIEIRA, E. F. S., CESTARI, A. R., LOPES, E. C. N., BARRETO, L.S., LÁZARO, G.S., ALMEIRA, L.E.; Determination of Kinetc Parameters From Isothermal Calorimetry for Interaction Processes of Pyrimethamine With Chitosan Derivatives. Journal of Colloid and Interface Science, 2006. ix ÍNDICE Índice de tabelas.......................................................................................... xii Índice de figuras........................................................................................... xiii Lista de símbolos e abreviações.................................................................. xvi Resumo.......................................................................................................... xviii Abstract.......................................................................................................... xix Capítulo 1 – Introdução................................................................................. 1 1.1 Toxoplasmose.......................................................................... 1 1.2 A Membrana biológica............................................................ 5 1.3 Interação fármaco receptor....................................................... 11 1.4 Absorção UV-Vis...................................................................... 13 1.5 Fluorescência........................................................................... 17 Capítulo 2 – Objetivos................................................................................... 22 2.1 Geral......................................................................................... 22 2.2 Específico................................................................................. 22 x Capítulo 3 – Seção Experimental.................................................................. 23 3.1 Determinação da solubilidade da pirimetamina (PIR) e sulfadiazina (SDZ)........................................................................ 23 3.2 Determinação dos parâmetros espectroscópicos (ε e λmáx) da pirimetamina (PIR) e sulfadiazina (SDZ)............................. 23 3.2 Determinação teórica da transição eletrônica da pirimetamina (PIR) e sulfadiazina (SDZ).................................... 24 3.3 Determinação dos valores de pKa............................................ 24 3.4 Determinação das constantes de associação (Kb) da PIR e SDZ em micelas........................................................................... Capítulo 4 – Resultados e Discussões......................................................... 4.1 Determinação dos parâmetros espectroscópicos 25 28 da pirimetamina............................................................................... 28 4.2 Determinação do pKa pirimetamina........................................... 33 4.3 Determinação da constante de associação da pirimetamina às micelas..................................................................................... 4.4 Determinação dos parâmetros espectroscópicos 41 da sulfadiazina.................................................................................. 4.5 Determinação do pKa sulfadiazina............................................ 48 53 4.6 Determinação da constante de associação da sulfadiazina às micelas..................................................................................... xi 58 Capítulo 5 – Conclusões............................................................................... 61 Capítulo 6 – Perspectivas Futuras................................................................ 62 Capítulo 7 – Bibliografia............................................................................... 63 xii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Coeficiente de absortividade molar das soluções de PIR nos pH 4,0, 7,0 e 9,0................................................................................. 32 Tabela 2. Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da Pirimetamina................................................................................. 34 Tabela 3. Valores de pKa para PIR 8,85 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20 mmol.L-1 obtidos da titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas.................................................................. 38 Tabela 4. Comprimentos de onda de máxima emissão para a PIR na presença e ausência de surfactante nos pH 4,0, 7,0 e 9,0.......... 42 Tabela 5. Constantes de associação para a PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (Brij-35®).............................................................. 43 Tabela 6. Coeficiente de absortividade molar das soluções de SDZ nos pH’s 4,0, 7,0 e 9,0........................................................................ 52 + Tabela 7. Energia de interação entre um próton (H ) e um nitrogênio da Sulfadiazina.................................................................................. 53 -5 Tabela 8. Valores de pKa para SDZ 7,50 x 10 mol/L em tampão triplo 20mmol/L obtidos da titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas.................................................................. 56 Tabela 9. Constantes de associação para a SDZ (1 x 10-4 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC) e zwiteriônico (HPS)........................................................................................... xiii 59 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Ciclo do Toxoplasma gondii e as fontes de infecção….............. 3 Figura 2. Representação da membrana biológica segundo o Modelo do Mosaico Fluido............................................................................. 6 Figura 3. Estrutura esquemática do surfactante........................................ 7 Figura 4. Representação esquemática micelar…………………………….. 7 Figura 5. Representação esquemática das micelas inversas (reversas) (a) e micelas diretas (b)................................................................ 8 Figura 6. Exemplos de surfactante aniônico (SDS), catiônico (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (TRINTON X-100® e Brij-35®).......... 9 Figura 7. Níveis de energia eletrônica molecular....................................... 15 Figura 8. Multiplicidades de spin eletrônico ……………………………….. 17 Figura 9. Estruturas de sondas fluorescentes............................................ 19 Figura 10. Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente... 19 Figura 11. Espectros de excitação e emissão de fluorescência................... 21 Figura 12. Estrutura da Pirimetamina……………………………………….. 28 Figura 13. Espectros de Absorção Óptica da PIR em Solução Aquosa e calculado teoricamente............................................................. Figura 14. Espectros de Absorção Óptica da PIR em Solventes Orgânicos 29 30 Figura15. Curvas de calibração da PIR obtidas através da espectroscopia de absorção. (●) pH 4,0, λ = 272 nm e R = 0,9994; (■) pH 7,0, λ = 274 nm e R = 0,9999 e (▲) pH 9,0, λ = 284 nm e R = 0,9998 Figura 16. Sítios nitrogenados da PIR.......................................................... 34 Figura 17. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH.......................................................... 35 Figura 18. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de CTAC 40 35 -1 mmol.L ................................................................................... Figura 19. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de SDS 120 36 mmol.L-1................................................................................. xiv Figura 20. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de Brij-35® 36 40mmol/L................................................................................... Figura 21. Espectro da titulação fluorimétrica, da PIR em pH 9,0, na presença de HPS com concentração na faixa (0,0 a 7 x 103 )mol.L-1. A amostra foi excitada em 286 nm e varredura efetuada de 300nm a 550nm..................................................... 41 Figura 22. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 376 nm, com CTAC em pH 7,0 e excitação em 274nm......................... 44 Figura 23. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 377 nm, com SDS em pH 4,0 e excitação em 273nm............................ -5 44 -1 Figura 24. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10 mol.L , em 380 nm, com HPS em pH 9,0 e excitação em 286nm............................ 45 Figura 25. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , 378 nm, com HPS em pH 9,0 e excitação em 286nm................................... 45 Figura 26. Duplo recíproco obtido da equação 7, para titulação da PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em pH 9,0 na presença de Brij-35...................... Figura 27. Estrutura da sulfadiazina………………………………….…….. 47 48 Figura 28. Espectros de absorção óptica da SDZ em meio aquoso e calculado teoricamente.............................................................. 49 Figura 29. Espectros de absorção óptica da SDZ em Solventes Orgânicos.................................................................................. Figura 30. Curvas de calibração da SDZ obtidas através 50 da espectroscopia de absorção. (●) pH 4,0, λ = 265 nm e R = 0,9995; (■) pH 7,0, λ = 258 nm e R = 0,9996 e (▲) pH 9,0, λ = 241 nm e R = 0,9995.............................................................. 51 Figura 31. Sítios nitrogenados da SDZ........................................................ 53 Figura 32. Dependência da absorção em 241 nm da SDZ em função do pH.............................................................................................. 54 Figura 33. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ na presença CTAC 40 mmol.L-1........................................ 55 Figura 34. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ na presença SDS 120 mmol.L-1................................ xv 55 Figura 35. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ na presença SDS 120 mmol.L-1........................................ 56 Figura 36. Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 265 nm, com CTAC em pH 7,0............................................................... 58 Figura 37. Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 266 nm, com CTAC em pH 7,0............................................................... 59 xvi LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES • φ - rendimento quântico de fluorescência • λ – Comprimento de onda • A – Absorbância • AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida • AM1 – Austin model 1 • b – Caminho óptico • Brij-35® – Polioxietileno-dodecil-éter • c – velocidade da luz no vácuo • cmc – Concentração Micelar Crítica • CTAC – cloreto de cetiltrimetilamônio • DMSO – Dimetilsulfóxido • E – energia • eψ ψ – equivalente de energia • eq. – equação • F – Intensidade de Fluorescência • h – constante de Planck • HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana • HPS – N-hexadecil-N, N-dimetil-3-amônio-1-propanossulfonato • INDO – Intermediate Neglect of Differential Overlap • K – Constante de Boltzman • Ka – Constante de equilíbrio de protonação • Kb – Constante de associação • kce – Conversão externa • kci – Conversão interna • Kd– Constante de dissociação • kf – Competição de fluorescência • ki – Conversão intersistema xvii • ks – Supressão de vários tipos • máx – Máximo • P – Intensidade da luz transmitida • P0 – Intensidade da luz incidente • pH – Potencial hidrogenônico • PIR – Pirimetamina • S0 – Estado fundamental da molécula • S1 – Estado eletrônico excitado • S-CI – Interaction of Configuration Singlet • SDS – dodecilsulfato de sódio • SDZ – Sulfadiazina • T – transmitância • TRITON X-100® – T-octilfenoxipolietoxietanol • UV Vis – Ultravioleta – Visível • ε – Coeficiente de absortividade molar xviii RESUMO O objetivo desse trabalho é o estudo espectroscópico da interação da pirimetamina (PIR) e da sulfadiazina (SDZ) com sistemas modelos de membranas biológicas. Esses fármacos são utilizados no tratamento da toxoplasmose, doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Como modelos de membranas, utilizamos diversos surfactantes: que são SDS, CTAC, Brij-35®, TRITON X-100® e o HPS. O estudo da interação “fármaco-receptor” tem se intensificado com o desenvolvimento de carreadores específicos para fármaco de alta toxicidade. A espectrofotometria de absorção óptica e fluorescência, dentre outras, são as técnicas mais adequados para o estudo dessas interações. Nesse trabalho, determinamos os parâmetros espectroscópicos (λmáx e ε) e a solubilidade da PIR e SDZ em diversos meios, bem como a influência do pH e da presença de surfactantes nestes parâmetros, como também as constantes de associação (Kb) foram determinadas. A solubilidade da PIR é máxima em meio ácido (pH = 4,0) tendo um valor de 160 mg.L-1, enquanto que a SDZ é mais solúvel em meio básico (pH = 9,0) com solubilidade igual a 186 mg.L-1. A pirimetamina apresenta banda de absorção bem definida decorrente de transições do tipo π→π*, em torno de 272 nm (pH = 4,0), 274 nm (pH = 7,0) e em 284 nm (pH = 9,0); e a sulfadiazina apresenta uma banda bem definida com dois máximos centrados em 241 e 258 nm (em pH 7,0 e 9,0) e em pH = 4,0, há a presença de apenas uma banda centrada em 265 nm. Os valores teóricos da energia na protonação dos fármacos evidenciam que as mesmas possuem apenas um valor de pKa. O pKa da pirimetamina e da sulfadiazina é 7,26 ± 0,07 e 6,38 ± 0,02, respectivamente. As constantes de associação da PIR às micelas evidenciam uma forte dependência do pH do meio e da carga micelar. Os maiores valores foram encontrados para o CTAC e o HPS em pH 9,0 (da ordem de 1500 e 1000 M-1, respectivamente). Já a SDZ apresenta constantes em torno de 2 a 3 ordens de grandeza menores (Kb em torno de 5 a 70 mM-1) e as interações parecem ser predominantemente hidrofóbicas e sofrem pouca influência da carga micelar. Palavra Chave: Interação de fármacos, Toxoplasmose, Espectroscopia UV-Vis, Fluorescência. xix ABSTRACT Spectroscopic studies of the interaction between pyrimethamine (PIR) and sulfadiazine (SDZ) with biological membranes models systems were presented in this work. These drugs are used in toxoplasmosis treatment. The toxoplasmosis is a disease caused by the protozoan toxoplasma gondii. We used the following surfactantes: SDS, CTAC, Brij-35®, TRITON X-100® and HPS as model of membranes. Recently studies of drug-receptor interaction have been intensified with the development of specific carriers to highly toxic drugs. Optical absorption and fluorescence spectrophotometry, among other, are the most adequate techniques for the study of these interactions. In this work, spectroscopic parameters (λmáx e ε), solubility in various media, pH and surfactant influence were determined for PIR and SDZ. The binding constants (Kb) were also determined. The solubility of PIR is maximum in acid medium (pH = 4.0), 160 mg.L-1. On the other hand, SDZ is more soluble in alkaline environment (pH = 9.0), 186 mg.L-1. PIR presents a well defined absorption band due to π→π* transitions, near 272 nm (pH = 4.0), 274 nm (pH =7.0) and 284 nm (pH = 9.0). SDZ presents a well defined band with two maxima centered at 241 and 258 nm (pH 7.0 and 9.0) and at pH = 4.0 there is only one band centered at 265 nm. Theoretical calculations of energy values of protonated and unprotonated drugs evidence only one pKa value as confirmed experimentally (pKa = 7.26 and 6.38 for PIR and SDZ respectively). PIR binding constants to micelles evidence a strong dependence with the pH and the micelle charge. The highest values were found to CTAC and HPS at pH 9.0 (1500 e 1000 M-1, respectively). The SDZ binding constants are lower than those for PIR (5 – 70 mM-1) and the interactions seem to be predominantly hydrophobic and the micelar charge has a low influence. Key words: drugs interaction; toxoplasmosis; UV-VIS spectroscopy; fluorescence. xx 1 1 1.1 INTRODUÇÃO TOXOPLASMOSE A toxoplasmose é uma doença geralmente assintomática que atinge grande parte dos mamíferos e aves no âmbito nacional. Causada pelo protozoário intracelular, Toxoplasma gondii, pode atingir todos os tipos de células, tendo maior afinidade pelas células nervosas e ósseas acometendo principalmente cérebro, pulmões, olhos e a medula em aproximadamente 20% da população mundial [1]. Esse parasita possui como principal hospedeiro os felinos onde age no trato intestinal produzindo a forma infectante mais resistente e, principalmente, o homem como hospedeiro intermediário [2]. Em pacientes com sistema imunológico normal, o parasita pode ficar inativo por tempo indeterminado. No entanto, quando essa pessoa tornar-se imunodeprimida (com as defesas imunológicas diminuídas) por qualquer razão (HIV, pacientes que recebem órgãos por transplantes ou são tratados através de quimioterapias diversas ou mesmo após uma doença muito debilitante) os sintomas e a doença toxoplasmose podem se manifestar[3]. Paralelamente, o Toxoplasma gondii adquire cada vez mais importância como patógeno oportunista, acometendo dessa maneira, número crescente de imunodeprimidos. Além disso, a partir da década de 80, passou a determinar em infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) graves distúrbios cerebrais [4]. O parasita apresenta três formas infectantes que se proliferam em diferentes velocidades, denominadas de taquizoítos, bradizoítos e oocisto. Os Taquizoítos são de proliferação rápida presentes em grande número nas infecções agudas. Devido ao tamanho (2–8 µm) neste estágio, a penetração em células torna-se mais fácil, pois a disseminação dessa forma em líquidos biológicos é muito elevada. A atividade do taquizoíto no meio ambiente ou na carcaça do hospedeiro leva algumas horas, porque é incapaz de proliferar sem penetrar em uma nova célula [2, 5]. 2 Os Bradizoítos são uma forma de proliferação extremamente lenta, presente nas infecções congênitas e crônicas. Devido a sua longevidade, organizam-se aos milhares em cistos teciduais como músculo, miocárdio e sistema nervoso em tamanho variando de 10 a 100 µm de diâmetro. Neste estágio podem sobreviver nos tecidos, por alguns dias, mas são mortos se congelados a -20ºC, aquecidos a 65ºC ou submetidos à radiação ionizante [2, 5]. Oocistos é a forma infectante produzida no trato gastrointestinal do felino, resultante do ciclo sexuado do parasita. Os oocistos são eliminados nas fezes, ainda não esporulados, necessitando de 1 a 5 dias para esporulação e se tornar infectante. Após sua maturação, tornam-se viáveis no meio-ambiente por muitos meses e até anos, dependendo das condições ambientais, sendo extremamente resistentes a esterilizantes químicos, temperaturas extremas (20ºC até 37,5ºC) e processo de secagem, mas destruídos pelo aquecimento a 70ºC por dez minutos [2, 3, 5, 6]. Na Figura 1 pode ser observado o ciclo do parasita e as fontes de infecção. Onde o gato (1), através das fezes, libera bilhões de oocistos (2) por dia, que permanecem viáveis no mínimo por 1 ano e resistem a extremos da temperatura ambiental. Dessa forma é possível a infecção de animais herbívoros (3) e do homem (4) pela ingestão do oocisto. O homem é atingido pelo protozoário no contato com o solo, como por exemplo, através dos tanques de areia, onde os gatos costumam defecar, pelo hábito de ingestão de carne crua ou mal cozida, migração transplacentária, inalação de oocistos espolurados, transfusão de sangue e transplante de órgãos, sendo que a última infecção é rara, porém, pode ocorrer. Revelada por anticorpos séricos, a prevalência é crescente em grupos etários, atingindo valores variáveis para diferentes populações, de 30, 50 ou mesmo 90 % em indivíduos adultos. Em nosso país, no mínimo seis mil bebês nascem por ano com infecção congênita, que seria evitável se houvesse orientação sanitária e acompanhamento sorológico nas populações desinformadas [1, 2, 7]. A infecção congênita e em pacientes imunodeprimidos, como os portadores do HIV, é muito preocupante, uma vez que, o tratamento dessa doença é dificultado e pode levar à morte do indivíduo, devido aos efeitos colaterais dos fármacos existentes. No caso de mulheres grávidas, o feto acometido pode nascer com 3 seqüelas caso venha a sobreviver; e em pacientes com AIDS pode ocorre uma reinfecção com potencial mais elevado ocasionando o óbito [2, 8-10]. Pesquisas recentes buscam o desenvolvimento de uma vacina antitoxoplasmose, obtendo-se bons resultados para uso veterinário [11]. No caso da toxoplasmose humana, vem sendo evidenciado o fortalecimento do patógeno com essas vacinas experimentais, não sendo aprovado para uso humano. A busca de medicamentos antitoxoplasmose com uma maior eficácia e menores efeitos colaterais é um grande desafio, pois por ser uma doença de maior incidência na classe mais pobre os investimentos não são expressivos. Figura 1 – Ciclo do Toxoplasma gondii e as fontes de infecção [12]. 4 O tratamento da Toxoplasmose conta ainda com uma gama de medicamentos disponíveis com ação eficaz antiparasitária e com uma intensa possibilidade de reações adversas, inibindo o tratamento da doença. Atualmente as alternativas de medicamentos que são mais aceitas, por ordem de preferência, são a pirimetamina (PIR), sulfadiazina (SDZ), azitromicina, clindamicina, sulfametoxazol e trimetoprim, espiramicina e atovaque. A PIR é o fármaco que mostra maior eficácia com ação antiparasitária, como demonstrado por estudos feitos por Holland e colaboradores [13] e Bosch-Driessen e colaboradores [14]. O mecanismo de ação do fármaco está relacionado à utilização do ácido fólico pelo parasita e ocorre através da inibição da enzima dihidrofolato redutase, responsável pela conversão do ácido fólico em ácido folínico, interferindo assim na síntese dos ácidos nucléicos, levando a erros de divisão nuclear, durante o processo de replicação do parasita. Contudo, o seu efeito colateral leva a depressão medular e descontinuidade do tratamento em aproximadamente 25% dos pacientes [13]. Medidas simples são recomendadas no tratamento profilático da Toxoplasmose e, geralmente, estão associadas a hábitos alimentares e contato com excreção e secreção de animais [2]. Ou seja, a cocção adequada dos alimentos, lavagem de frutas e verduras, assepsia das superfícies utilizadas na preparação dos alimentos e remoção de fezes dos felinos, diariamente, são medidas importantes a fim de precaver a proliferação do protozoário. 5 1.2 A MEMBRANA BIOLÓGICA As pesquisas com as membranas e sistemas modelos de membranas vêm se intensificando nos últimos tempos. O dinamismo associado às membranas biológicas confere um papel importante à superfície celular e envolve uma área de investigação muito importante da bioquímica e biofísica. Do ponto de vista físico, as membranas desempenham um papel crucial nas células, uma vez que definem os seus limites entre o exterior e interior, controlando tudo que é transportado através das membranas. As membranas, além da função de barreira que separa dois tipos de meio, são sistemas funcionais onde ocorrem processos celulares fundamentais, e conhecendo a composição fisiológica da membrana, pode-se compreender como as células se relacionam com o meio, como elas se comunicam, se diferenciam, e até como células doentes são originadas e recuperadas[15,16]. As membranas biológicas, de maneira geral, são constituídas essencialmente por diversos tipos de fosfolipídios, proteínas e esteróis, como por exemplo, o colesterol; e se mantêm juntas principalmente por interações hidrofóbicas, formando uma bicamada lipídica fina, resistente e flexível em volta da célula. Muitas das proteínas e dos lipídios presentes, na membrana celular, apresentam-se como conjugados de carboidratos, denominando-se glicoproteínas e glicolipídios, respectivamente. Conforme o Modelo de Singer e Nicolson, a matriz da membrana biológica é uma bicamada constituída de fosfolipídios e glicolipídios na qual estão incorporadas as proteínas [16-18] (Figura 2). Devido à complexidade da biomembrana, as investigações relativas à estrutura e propriedades da bicamada lipídica têm sido sintetizadas em modelos mais simples, possibilitando explicar várias propriedades das membranas biológicas [16]. Neste sentido, tem sido freqüente o uso de micelas, bicamadas planas, vesículas, lipossomos e monocamadas, a fim de simplificar o problema e entender o comportamento físico-químico, que ocorrem nas membranas [19-23]. Os fosfolipídios, componentes predominantes das membranas, são anfifílicos, isto é, possuem uma parte da molécula que é hidrofílica (com afinidade pela água) e outra hidrofóbica (sem afinidade pela água). Quando em contato com a água, esses fosfolipídios tendem a formar bicamadas concêntricas, semelhantes à membrana plasmática, conforme pode-se verificar na Figura 2. Nestas bicamadas, as moléculas 6 de lipídios se arranjam de tal forma que as partes hidrofílicas ficam em contato com a água (tanto na monocamada externa quanto na interna), e as hidrofóbicas ficam em contato entre si [24]. Vale ressaltar também que os surfactantes são anfifílicos porque na sua constituição há uma parte apolar ou hidrofóbica e uma polar ou hidrofílica (Figura 3). Diferentemente dos fosfolipídios, em meio aquoso, os surfactantes tendem a formar micelas (Figura 4) e não bicamadas [25]. O tamanho e a forma micelar dependem de vários fatores, entre eles: da natureza e comprimento da cadeia apolar, do grupo polar, da concentração do anfifílico, da temperatura, da natureza do solvente e do método de preparação de suas soluções. Sendo assim, as micelas podem ser classificadas como inversas ou diretas (Figura 5a e 5b, respectivamente) [16, 18, 26]. Glicoproteína Proteína Receptora Carboidrato Colesterol Proteína Glicolipideo Fosfolipídio Proteína Transportadora Figura 2 – Representação da membrana biológica segundo o Modelo do Mosaico Fluido. Extraído e adaptado de [27]. 7 Figura 3 – Estrutura esquemática do surfactante [28] Figura 4 – Representação esquemática micelar [29]. 8 a b Figura 5 – Representação esquemática das micelas inversas (reversas) (a) e micelas diretas (b). As micelas são estruturas com elevado grau de organização, e sua estabilidade é adquirida através do efeito entrópico do sistema. A formação micelar ocorre através de agregações monoméricas (Figura 3) dos anfifílicos em função do solvente e da estrutura do anfifílico, a partir de uma determinada concentração, denominada concentração micelar crítica (cmc), para a qual metade do anfifílico se encontra na forma agregada. No entanto, quanto mais longa a cadeia carbônica do monômero, maior a tendência do surfactante possuir uma cmc baixa, ou seja, menor ou igual a 10-3 mol.L-1. Dependendo da estrutura química, os anfifílicos podem ser neutros, catiônicos, aniônicos ou zwiteriônicos (Figura 6). Um exemplo bem prático de formação de micelas é a adição de um pouco de óleo em água onde a região hidrofílica polar tende a interagir positivamente com as moléculas de água, que tende a dissolver estes compostos. A região hidrofóbica não-polar, entretanto, tende a evitar o contato com a água, fazendo com que essas regiões não-polares se agrupem. Assim, as regiões apolares adquirem uma menor 9 área hidrofóbica ao solvente, enquanto as estruturas polares são arranjadas para maximizar sua interação com este [30]. OO S O O O- Na+ CH3ClH3 C N+ O S O O H3C N+ CH3 CH2 (CH2)11 CH2 (CH2)14 CH3 (CH2)14 CH3 CH3 CTAC SDS CH3 H 3C CH3 C CH2 CH3 HPS CH3 C CH3 O CH2 CH2 T R IT O N X -100 ® H 3C (CH 2) 12 (O CH 2 CH 2 ) 23 OH OH n Brij-35® Figura 6 – Exemplos de surfactante aniônico (SDS), catiônico (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (TRINTON X-100® e Brij-35®). A formação de micelas é acompanhada por mudanças distintas em várias propriedades físicas, tais como: espalhamento de luz, viscosidade, condutividade elétrica, tensão superficial, pressão osmótica e a capacidade de solubilização de 10 solutos [31]. Sendo que, do ponto de vista analítico, uma das mais importantes propriedades dessas estruturas organizadas é a sua capacidade de solubilizar solutos de diferentes características. 11 1.3 INTERAÇÃO FÁRMACO RECEPTOR A partir da 2ª Guerra Mundial, a indústria de antibióticos foi impulsionada, dando origem a um novo campo de atividades em diferentes áreas de conhecimento, dentre as quais, a Biotecnologia. Graças a esse avanço científico, foi possível a descoberta de vários fármacos, permitindo vencer doenças consideradas fatais. A diagnose e a cura de doenças fatais, produção de novos medicamentos, produção de carreadores diversos para fármacos de alta toxicidade, ou a cujo alvo seja dificultado, se administrado in natura, são alguns exemplos do potencial biotecnológico já alcançado nos dias de hoje. A Quimioterapia é o tratamento que utiliza medicamentos com o objetivo de destruir, controlar ou inibir o crescimento das células infectadas. Pode ser associada a outros tipos de tratamentos, como a cirurgia e a radioterapia. Por ser um tratamento agressivo tanto para as células infectadas como para as sadias, e os medicamentos devam ser administrados em quantidades elevadas próximas às doses tóxicas para que sejam efetivos, os efeitos colaterais são inevitáveis, entre eles os mais comuns são: queda de cabelo, ferimentos na mucosa bucal, dificuldades na deglutição, náuseas, vômitos, constipação, diarréia, infecções, anemia e aparecimento de sangramentos. Para evitar estes efeitos, os fármacos deveriam ser administrados em quantidades mínimas, mas o tratamento tornaria ineficaz devido às perdas relacionadas a sua absorção pelos tecidos, diluição nos fluidos corporais ou excreção [32, 33]. A eficácia do medicamento pode ser aumentada através do encapsulamento do fármaco em carreadores que o levará ao local onde é necessário, evitando a sua perda através de interações e efeitos colaterais. Desta forma, torna-se indispensável que se tenha um bom conhecimento sobre a interação de fármacos usuais, para um determinado tipo de tratamento, com biomateriais naturais (ossos, dentes e tecidos em geral) e artificiais (implantes dentais e ósseos). A emissão ou a absorção de energias envolvidas nessas interações é utilizada para se estabelecer parâmetros físico-químicos desejáveis à avaliação dos mecanismos envolvidos na formação das ligações químicas que ocorrem nas fármaco/carreador e ármaco/sistema modelo. interfaces fármaco/biomaterial, 12 Do ponto de vista qualitativo, o grau de afinidade e a especificidade da ligação fármaco/receptor são determinados por ligação covalente e interações intermoleculares, que compreendem as forças eletrostáticas, a de dispersão, as hidrofóbicas, e a ligação de hidrogênio [34]. As forças eletrostáticas de cuja magnitude depende diretamente da constante dielétrica do meio e da distância entre as cargas são resultantes da interação entre dipolos e/ou íons de cargas opostas. As forças de dispersão, em geral, são de baixa energia (0,5-1,0 Kcal.mol-1). No entanto, são de extrema importância para o processo de reconhecimento molecular, uma vez que o somatório acarreta contribuições energéticas significativas. As interações hidrofóbicas são individualmente fracas e ocorrem em função da interação em cadeias ou subunidades apolares. O ganho entrópico, associado à desorganização do sistema, promove a interação ligante-receptor. Devido à estrutura do peptídeo e fármaco, essa interação torna-se muito importante, pois favorece o reconhecimento da macromolécula presente na biomacromolécula. As ligações de hidrogênio são consideradas as mais importantes, dentre as interações não-covalentes, em sistemas biológicos, sendo responsáveis pela manutenção das conformações bioativas de macromoléculas e interações purinaspirimidinas dos ácidos nucléicos. Já as ligações covalentes, responsáveis pelas interações intramoleculares, provocam a inibição enzimática irreversível ou a inativação do sitio receptor, devido à elevada energia (77-88 Kcal.mol-1) em relação às ligações mais fortes presentes nos sistemas biológicos (10 Kcal.mol-1). Daí faz-se necessário o estudo da interação de fármacos com possíveis carreadores, por ser uma das maneiras de obter informações sobre mudanças conformacionais e até estruturais, quando os fármacos são colocados na presença de modelos biofísicos simplificados [34]. 13 1.4 ABSORÇÃO UV-Vis A absorção da radiação eletromagnética é uma propriedade universal da matéria. A região do ultravioleta e visível do espectro eletromagnético compreende a faixa de 180 – 800 nm. As espécies químicas: átomos, íons ou moléculas podem existir somente em certos estados quantizados de energia. Quando uma espécie altera seu estado energético, absorve ou emite uma quantidade de energia exatamente igual à diferença de energia entre os estados [35]. Essa é uma condição necessária para que a absorção da luz esteja relacionada com o comprimento de onda ( λ ) através da equação (1). E = E1 − E 0 = hc eq. ( 1 ) λ Onde E1 é a energia do estado mais elevado e E 0 é a energia do estado mais baixo. Os termos c = 2,998 x 108 m.s-1 e h = 6,626 x 10-34 J.s são a velocidade da luz no vácuo e a constante de Planck, respectivamente. Além de apresentarem estados eletrônicos, as moléculas também apresentam estados vibracionais quantizados que estão associados à energia das vibrações interatômicas e estados rotacionais quantizados. A espectroscopia de absorção molecular está baseada na medida da transmitância T ou absorbância A da luz incidente em soluções de analito (equação 2a e 2b respectivamente). T = Psolução Psolvente = P P0 eq. ( 2a ) 14 A = log Psolvente P ≅ log 0 Psolução P eq. ( 2b ) A relação quantitativa entre a intensidade da luz absorvida e a concentração é dada pela lei de Lambert-Beer (equação 2), onde P0 e P são as intensidades de luz incidente e transmitida, respectivamente, por uma a mostra; ε é o coeficiente de absortividade molar (L.mol-1.cm-1) característico de cada espécie num determinado comprimento de onda; c a concentração (mol.L-1) do analito, e b é o caminho óptico (cm) da luz incidente [16, 35]. A = log P0 = ε bc P eq. ( 2 ) Esta relação é bem sucedida ao descrever o comportamento da absorção de meios, contendo concentrações de analito relativamente baixa (usualmente < 0,01 mol.L-1), ou seja, essa é uma lei limite. A absorção de radiações ultravioleta e visível geralmente resulta da excitação de elétrons de ligação; como conseqüência, os comprimentos de onda dos picos de absorção podem ser correlacionados com tipos de ligações nas espécies em estudo. A espectroscopia de absorção molecular é, portanto, valiosa para identificar grupos funcionais em uma molécula através das transições eletrônicas que envolvem o processo de absorção. Em compostos orgânicos, as transições eletrônicas possíveis são n → σ ∗ , σ → σ ∗ , π → π ∗ e n → π ∗ . Conforme observado na Figura 7, as energias dos vários tipos de orbitais moleculares diferem significativamente, possibilitando transições muito distintas para os diversos tipos transições eletrônicas. As razões para estas diferenças podem ser relacionadas em termos da mecânica quântica, e determinam a magnitude dos coeficientes de absorção molar. Através destas distinções são estabelecidas transições “proibidas” ou “permitidas”. 15 σ* Antiligante * n → π* n → σ* n Antiligante π → π* σ → σ* Energia π Não-ligante π Ligante σ Ligante Figura 7 – Níveis de energia eletrônica molecular [35]. Nas transições σ → σ ∗ , a energia necessária para o elétron migrar do orbital no estado fundamental para o orbital, no estado excitado, é elevada, e os máximos de absorção nunca são observados na região ultravioleta acessível, em solução. Já as transições n → σ ∗ necessitam de menos energia e podem ser produzidas por radiação na região entre 150 e 250 nm. As absortividades molares associadas a esse tipo de absorção são pequenas, de magnitude intermediária e normalmente estão em torno de 10-3 L.cm-1.mol-1, e os máximos de absorção são influenciados pela polaridade do solvente. No entanto, o número de grupos funcionais orgânicos com picos n → σ ∗ é relativamente pequeno [35]. Para transições π → π ∗ e n → π ∗ , as energias necessárias situam-se em uma região espectral na faixa de 200 a 700 nm. As absortividades molares para picos associados à transição n → π ∗ variam na faixa de 10 a 100 L.cm-1.mol-1, e os valores para transições π → π ∗ encontramse na região entre 1.000 e 10.000 L.cm-1.mol-1. Ambas as transições sofrem efeitos 16 de deslocamentos em presença de solventes com deferentes polaridades denominada de hipsocrômico (deslocamento para o azul, λ maiores) e batocrômico (deslocamento para o vermelho, λ menores). O número de máximos e mínimos de absorção são relativamente pequenos e a identificação não-ambígua, no analito em estudo, é frequentemente impossível. Sendo assim, a espectroscopia no UV-Vis tem aplicação um tanto limitada em análise qualitativa. 17 1.5 FLUORESCÊNCIA A fluorescência molecular e fosforescência são métodos ópticos importante em que moléculas, átomos ou íons são excitados por absorção de uma radiação eletromagnética. Quando as espécies excitadas relaxam para o estado fundamental, liberam a energia recebida na forma de luz. A fluorescência difere da fosforescência pelo fato de que as transições eletrônicas responsáveis pela fluorescência não envolvem uma mudança de spin eletrônico. Ou seja, a multiplicidade de spin do estado excitado origina os estados singlete e triplete (Figura 8)[18, 35]. Figura 8 – Multiplicidades de spin eletrônico [35]. No estado excitado singlete, o spin do elétron promovido ainda está emparelhado com o elétron no estado fundamental. No entanto, os spins no estado triplete estão desemparelhados. O tempo de vida médio de um estado excitado triplete pode variar de 10-4 a vários segundos; já o estado excitado singlete possui um tempo de vida médio de 10-5 a 10-8 segundos. As relaxações que ocorrem em tempos inferiores a 10-5 18 segundos, chamam-se fluorescência, enquanto que em tempos superiores, fosforescência, chegando de minutos ou até horas. A espectroscopia de fluorescência tem sido amplamente utilizada como ferramenta nas pesquisas químicas, bioquímicas, biofísicas e médicas. Este uso tem sido ampliado devido ao desenvolvimento de novas tecnologias na produção e detecção da luz. Diversas vantagens têm contribuído para a ampla utilização desta técnica, entre as quais a possibilidade de se trabalhar com soluções extremamente diluídas (10-6 mol.L-1 para proteínas ou 10-7 – 10-5 mol.L-1 para outros grupos fluorescente). Outra vantagem é a sensibilidade intrínseca com limites de detecção frequentemente de uma a três ordens de grandeza (na faixa de partes por bilhão) menores que os encontrados em espectroscopia de absorção. Essa elevada sensibilidade é uma conseqüência do tempo relativamente longo (10-9 – 10-5 s) que a molécula permanece no estado excitado, se comparado com a velocidade com a qual um fóton é absorvido (10-14 a 10-15 s). Devido ao tempo de vida no estado excitado ser elevado vários processos podem acontecer tais como: reações de protonação e desprotonação, mudanças conformacionais em proteínas e reorientação do cromóforo [18]. A fluorescência é observada com maior freqüência em espécies aromáticas. Muitas proteínas de membrana contêm resíduos de aminoácidos fluorescentes (tripitofano, tirosina e fenilalanina), podendo ser estudada com esta técnica. As proteínas que não possuem cromóforos fluorescentes, isto é, que não contém aminoácidos aromáticos, podem acoplar covalentemente ou não, marcadores extrínsecos. Os marcadores covalentes são, principalmente, aqueles que possuem grupos reativos que modificam seletivamente tióis e aminas de proteínas. Na Figura 9 estão alguns exemplos de estruturas de sondas fluorescentes [18, 35]. Os princípios básicos da fluorescência são representados através do diagrama de Jablonski, figura 10, (onde as linhas horizontais mais espessas estão representando o estado fundamental da molécula (S0), e o estado eletrônico e vibracional excitado (S1) na posição inferior e superior, respectivamente). A velocidade da absorção de um fóton impossibilita rearranjo significativo do núcleo da molécula. Ocorre então, um relaxamento para nível vibracional fundamental do estado excitado através da conversão interna (processo não radioativo), e o retorno para o estado eletrônico fundamental com emissão da luz. 19 No entanto, vários outros processos contribuem para o estado excitado perder energia através da competição com a fluorescência. CH 3 N NH SO3H O CH 9-Vinil antraceno CH 3 CH 2 S O Cl ácido 1-anilino cloreto de densila 8-naftaleno sulfônico Figura 9 – Estruturas de sondas fluorescentes [36]. Figura 10 – Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente [35]. 20 A competição com a fluorescência ( k f ) ocorre com os seguintes processos: cruzamento intersistema ( k i ), conversão externa ( k ce ), conversão interna ( k ci ) e supressão de vários tipos ( k s ): equação (3) [18]. Como conseqüência desses caminhos para a dissipação do excesso de energia, o rendimento quântico pode ser muito sensível ao meio e aos grupos estruturais que cercam o cromóforo. Sendo assim, devido à existência destes vários outros processos que competem com a emissão de fluorescência, o rendimento quântico é sempre menor que 1 ( φ < 1). φ= kf k f + k i + k ce + k ci + k s eq. ( 3 ) Devido ao processo de relaxação ocorrer de forma mais acelerada em relação à emissão de fluorescência, esta se dá a partir do estado S1. Duas conseqüências deste fenômeno são: 1- a independência da forma do espectro de emissão relativamente ao comprimento de onda da radiação de excitação, 2- o deslocamento deste espectro de absorção. Ver Figura 11 (deslocamento de Stokes) [35]. A estrutura molecular, do mesmo modo como o ambiente químico, influencia a ocorrência ou não da luminescência de uma molécula, entre os quais se destacam: tipo de transições, rigidez, solvente, temperatura, pH, entre outros. Para a maior parte dos compostos fluorescentes, a radiação é produzida por uma transição π ← π ∗ ou n ← π ∗ , visto que transições de energia mais elevadas tornam-se proibidas, porque tal radiação é suficientemente energética para causar desativação dos estados excitados por pré-dissociação ou dissociação. No entanto, quanto menor a possibilidade de conformações rotacionais, maior a eficiência quântica. 21 Figura 11 – Espectros de excitação e emissão de fluorescência [35]. Já na maioria das moléculas, a intensidade de fluorescência decresce com o aumento da temperatura por causa do aumento das colisões e pela presença de átomos pesados em suas estruturas. É observada, também, uma variação da intensidade de fluorescência para as formas ionizadas e não-ionizadas de um composto. Finalmente, os espectros de emissão representam as intensidades da fluorescência, em função do comprimento de onda de emissão e a transição do nível vibracional mais baixo do primeiro estado excitado S1 para o estado fundamental S0. Devido à sensibilidade às reações químicas ou às perturbações de solventes durante o tempo de vida do estado de excitação, têm-se um interesse particular nesses espectros de emissão. 22 2 2.1 OBJETIVOS GERAL Estudar a interação da PIR e SDZ com diversos sistemas modelos de membranas biológicas, visando o encapsulamento desses fármacos em um carreador eficiente que de diminua seus efeitos colaterais aumentando a eficácia no tratamento da toxoplasmose. 2.2 ESPECÍFICO Estabelecer parâmetros físico-químicos da interação da PIR e SDZ com micelas de dodecilsulfato de sódio (SDS), cloreto de cetiltrimetilamônio (CTAC), N-hexadecil-N, N-dimetil-2amônio-1-propanossulfonato (HPS), Toctilfenoxipolietoxietanol (TRITON X-100®) e polioxietileno-dodecil-éter (Brij35®). Medir a constante de associação da PIR e SDZ com as micelas, através da fluorescência e absorção UV-Vis. 23 3 3.1 PARTE EXPERIMENTAL DETERMINAÇÃO DA SOLUBILIDADE DA PIR E SDZ. Utilizando massas conhecida de PIR e SDZ, foi determinado a solubilidade destes fármacos em meio aquoso, e nos solventes orgânicos acetonitrila, dimetilsulfóxido, metanol, etanol e éter etílico. Para cada solvente, foram efetuadas sucessivas adições de volumes fixos, até a não visualização de partículas de fármaco. Em seguida, os espectros de varredura de absorção foram obtidos na faixa de 200 a 400 nm. Após obtenção do espectro, diluía-se a solução com o solvente em estudo; em seguida, nova varredura foi efetuada. O processo de diluição se repetia, até que a diminuição da absorbância, em relação à concentração, estivesse de acordo com a lei de Lambert-Beer (equação 2), evidenciando que todo fármaco foi solubilizado. 3.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS (ε E λmáx) DA PIR E SDZ. Foram preparadas soluções aquosas dos fármacos PIR e SDZ em meio micelar (SDS [80 mmol.L-1], CTAC [20 mmol.L-1], HPS [40 mmol.L-1], Brij-35® [40 mmol.L-1] e TRITON X-100® [0,22 mmol.L-1]) e nos pH 4,0, 7,0, 9,0, a fim de se determinar os comprimentos máximos de absorção e emissão. As varreduras foram efetuadas na faixa de 200–400 nm para absorção e 300 a 550 nm para emissão, utilizando um espectrofotômetro UV-Vis e um espectrofluorímetro Perkin Elmer Lambda 45, ambos acoplados a um computador. Para a determinação do ε, no comprimento de onda de máxima absorção, foram preparadas soluções de concentrações distintas de PIR em tampão fosfato (2,0 x 10-5 – 1,1 x 10-4) mol.L-1, borato (1,2 x 10-5 – 8,5 x 10-5) mol.L-1 e acetato (2,5 24 x 10-5 – 1,4 x 10-4) mol.L-1 e de SDZ em tampões fosfato (1,1 x 10-5 – 6,8 x 10-5) mol.L-1, borato (4,4 x 10-6 – 4,4 x 10-5) mol.L-1 e acetato (8,0 x 10-6 – 6,4 x 10-5) mol.L-1. Os valores de absorbância no comprimento de onda máximo de absorção nos respectivos tampões foram medidos. O ε foi obtido utilizando a Lei de LambertBeer. 3.3 DETERMINAÇÃO TEÓRICA DA TRANSIÇÃO ELETRÔNICA DA PIR E SDZ. Inicialmente, calculou-se a geometria de menor energia, utilizando a metodologia AM1[37] implementada no programa MOPAC [38]. A geometria de saída do AM1 foi utilizada no método INDO/S-CI o qual foi usado para calcular as forças dos osciladores e as energias de transições implementado no programa ZINDO [39]. O espaço de configuração CI foi gradualmente acrescido até que nenhuma mudança significativa nas energias de transições fosse notada. Para tanto, foi feito um ajuste por Lorenzianas [40] a fim de traçar o perfil dos espectros teóricos, usando as energias de transições singleto com as respectivas intensidades relativas obtidas da força dos osciladores, fixando a meia largura de todas as bandas em 35 nm. Os perfis encontrados foram comparados com os espectros experimentais. 3.4 DETERMINAÇÃO DOS VALORES DE PKa Os valores de pKa da PIR e SDZ, na ausência e na presença de cada surfactante SDS (120 mmol.L-1), CTAC (40 mmol.L-1), Brij-35® (40 mmol.L-1), HPS (40 mmol.L-1) e TRITON X-100® (0,486 mmol.L-1) foram determinados através do ajuste da curva experimental obtida através da medida de absorbância em diferentes valores de pH. A PIR e SDZ foram preparadas em tampão triplo: fosfato, borato e acetato (concentração total dos sais 30 mmol.L-1), nas concentrações 8,85 x 10-5 mol.L-1 e 7,5 x 10-5 mol.L-1, respectivamente. Em seguida foram feitas titulações espectrofotométricas destas soluções, variando-se o pH na faixa de 2,0 a 12,0. Para 25 a PIR, o tampão foi previamente ajustado para pH = 12,0, e para a SDZ pH = 2,0, uma vez que a PIR é mais solúvel em meio ácido e a SDZ em meio básico. No sentido de evitar o efeito de diluição dos fármacos, as concentrações dos titulantes (HCl e NaOH) foram elevadas. Os valores de pKa foram obtidos através de uma curva que melhor se ajustasse aos dados experimentais, utilizando o gráfico da absorbância versus pH, através da equação (4) [41]. A + 10 pK a + A 0 10 pH A= 10 pK a + 10 pH eq. (4) Sendo: 3.5 A Leitura de absorbância A0 Absorbância do fármaco desprotonada A+ Absorbância do fármaco protonada pK a Constante de equilíbrio de protonação pH Potencial hidrogeniônico DETERMINAÇÃO DAS CONSTANTES DE ASSOCIAÇÃO (Kb) DA PIR E SDZ EM MICELAS A constante de associação da PIR foi determinada através da titulação fluorimétrica do fármaco com surfactantes em diferentes concentrações. Os experimentos foram realizados em pH 4,0, 7,0 e 9,0, excitando as moléculas da droga no comprimento de onda de máxima absorção, utilizando uma concentração 1,0 x 10-5 mol.L-1 nos diferentes pH. Em todos os pH a titulação foi efetuada com 26 sucessivas adições de uma solução estoque de CTAC, HPS, SDS e Brij-35. A constante de dissociação (Kd) foi determinada através da curva obtida do melhor ajuste dos dados experimentais do gráfico da concentração de surfactante versus variação de fluorescência, utilizando a equação (5) e através do inverso de Kd equação (6) foi determinado o valor da constante de associação (Kb) [26, 42, 43]. ∆F = ∆Fmáx .[Surfac tan te] K d + [Surfac tan te] Kb = 1 Kd eq. ( 5 ) eq. ( 6 ) Sendo: ∆F Variação de Intensidade de fluorescência ∆Fmáx Fluorescência máxima [Surfactante] Concentração de surfactante Kd Constante de dissociação Kb Constante de associação O valor de Kb para a PIR, também, foi determinado através da melhor curva que se ajustasse aos dados experimentais utilizando o duplo recíproco descrito pela equação 7 [18]. 1 1 1 1 1 . . = + ∆F ∆Fmáx ∆Fmáx K b [Surfac tan te] eq. ( 7 ) A constante de associação da SDZ foi determinada através da titulação espectrofotométrica do fármaco com surfactantes em diferentes concentrações. Os 27 experimentos foram realizados em pH 4,0, 7,0 e 9,0 no comprimento de onda de máxima absorção. A concentração de SDZ foi 3,5 x 10-5 mol.L-1. Em todos os pH a titulação foi efetuada com sucessivas adições de uma solução estoque do surfactante em estudo. A constante de associação (Kb) foi determinada através da curva obtida do melhor ajuste dos dados experimentais da absorbância versus concentração de surfactante utilizando a equação (8) [41]. 0 0 0 N A = ADrog + ( ADrog . Surfac − ADrog ) /(1 / K b {[ Surfac ] 0 − cmc} ) + 1 eq. ( 8 ) Sendo: A Leitura de absorbância 0 ADrog Absorbância da droga na ausência de surfactante o ADrog . Surafc Absorbância da droga na presença de surfactante Kb Constante de associação cmc Concentração micelar crítica N Número de surfactante/ número de moléculas da droga [ Surfac ] Concentração do surfactante 28 4 4.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS DA PIR A PIR (Figura 12), é um derivado de uma classe de fármacos chamados de diaminopirimidinas. Atua inibindo a enzima dihidrofolato redutase, responsável pela conversão do ácido fólico em ácido folínico, interferindo assim na síntese dos ácidos nucléicos. A ação quimioterápica da PIR está relacionada à sua afinidade seletiva, maior em relação à enzima redutase dos microorganismos e muito menor em relação às enzimas correspondentes dos mamíferos. A PIR é muito pouco solúvel em água. A solubilidade utilizando o método proposto por Meylan e colaboradores [44] é de 121 mg.L-1. Determinou-se através do método da dissolução direta, uma solubilidade de 160 mg.L-1 para a PIR em solução tamponada pH = 4,0, de 40 mg.L-1 em pH = 7,0 e de 30 mg.L-1 em pH = 9,0. Estes dados diferem dos calculados pelo método de Meylan; além deste método ser uma aproximação que considera classes de compostos em geral, ele não prevê o efeito de protonação destes fármacos. A PIR é praticamente insolúvel em solventes orgânicos apolares e tem uma solubilidade relativamente alta em solventes orgânicos polares, em especial, em DMSO (dimetilsulfóxido) que chega a 1,6 g.L-1. CH 3 CH 2 N NH 2 N Cl NH 2 Figura 12 - Estrutura molecular plana da PIR 29 Os espectros de absorção óptica em soluções aquosas tamponadas (pH = 4,0, 7,0 e 9,0) bem como os espectros calculados teoricamente são mostrados na Figura 13. 3,0 Calculado (vácuo) pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 Calculado (protonado) Absorbância 2,5 2,0 1,5 272 nm 274 nm 274 nm 280 nm 284 nm 1,0 0,5 0,0 220 240 260 280 300 320 340 360 Comprimento de onda, nm Figura 13 - Espectros de absorção óptica da PIR em solução aquosa e calculado teoricamente. O Espectro da PIR, em solução aquosa, apresenta uma banda de absorção bem definida ecentrada em torno de 272 nm (pH = 4,0), em 274 nm (pH = 7,0) e em 284 nm (pH = 9,0). A existência de um ombro em torno de 220 nm, é observada para todos os meios tamponados em estudo (figura 13). O espectro da PIR protonada, obtido através de cálculos teóricos, evidencia essa banda, sugerindo que a mesma se encontra deslocada para a faixa de 238 nm. . 30 O espectro calculado teoricamente não leva em conta o efeito do solvente, ou seja, é calculado considerando o vácuo como meio. Devido a isso, é possível observar diferenças entre o obtido experimentalmente em pH 7,0 e o calculado, quanto ao comprimento de onda máximo de absorção (Figura 13). As características observadas nos espectros de absorção das soluções aquosas são, também, identificadas nas soluções orgânicas. A banda bem definida que aparece em solução aquosa, também, está presente nos solventes orgânicos polares, sendo que o máximo de absorção está próximo do encontrado para a solução em pH 9,0 (284nm), destacando-se o DMSO de cujo máximo está em torno de 291 nm (figura 14). 2,5 Acetonitrila Dimetilsulfóxido Etanol Éter etílico Metanol 2,0 Absorbância 284 nm 1,5 1,0 291 nm 0,5 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de onda, nm Figura 14 - Espectros de absorção óptica da PIR em solventes orgânicos. 31 O deslocamento de aproximadamente 12 nm no máximo de absorção da PIR, quando se passa de um meio ácido para um básico, sugere que a banda em 272 nm (pH=4,0) se deve a transições do tipo π→π*. Os espectros de absorção obtido através de cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/ci, também apontam na mesma direção (Figura 13). Outra evidência que corrobora para esta afirmativa é o ε encontrado para estes máximos de absorção em soluções são valores típicos de coeficientes de absortividade molar para transições do tipo π→π* [33] ver tabela 1. Para as radiações monocromáticas, a absorbância ( A ) é diretamente proporcional ao comprimento do caminho óptico ( b ), a concentração das espécies absorventes ( c ) e a constante de proporcionalidade ( ε ) denominada de absortividade (ver equação 9), Lei de Lambert-Beer [35]. A = ε .b . c eq. (9) Utilizando este princípio, determinou-se o coeficiente de absortividade no comprimento de onda de máxima absorção correspondente ao meio ácido, neutro e básico (Figura 15). Tabela 1 Coeficiente de absortividade molar das soluções de PIR nos pH 4,0, 7,0 e 9,0. λ ε pH nm L.mol-1.cm-1 4,0 272 6.744 ± 130 7,0 274 6.828 ± 45 9,0 284 8.374 ± 75 32 0,8 1,0 0,7 Absorbância 0,8 0,5 0,4 0,6 0,4 0,3 0,2 0,2 0,1 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 0,2 12,0 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 5 -1 10 x [ PI R], mol.L 5 -1 10 x [ PI R], mol.L 0,8 0,7 0,6 0,5 Absorbância Absorbância 0,6 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 5 -1 10 x [ PI R], mol.L Figura 15 - Curvas de calibração da PIR obtidas através da espectroscopia de absorção. (●) pH 4,0, λ = 272 nm e R = 0,9994; (■) pH 7,0, λ = 274 nm e R = 0,9999 e (▲) pH 9,0, λ = 284 nm e R = 0,9998. 33 4.2 DETERMINAÇÃO DO pKa DA PIR A estrutura química de muitos fármacos envolve a participação de anéis aromáticos, responsáveis pelas propriedades de absorção óptica e fluorescência na região do UV-Vis, as quais variam com o estado de protonação do fármaco e o meio na qual se encontra [45]. A determinação do pKa é de fundamental importância, pois a constante de ionização de um fármaco é capaz de expressar, dependendo da sua natureza química e do pH do meio, a contribuição percentual relativa das espécies ionizadas e não-ionizadas e o comportamento farmacocinético das substâncias nos principais compartimentos biológicos com pH definidos (por exemplo, mucosa gástrica, pH ≅ 1; mucosa intestinal, pH ≅ 5 e plasma, pH ≅ 7,4) pode ser avaliado antes da administração do fármaco [34]. A solubilidade da PIR em água é sensivelmente aumentada em meio ácido, visto que apresenta muitos sítios disponíveis para a protonação, dentre os quais, destacam-se os quatros grupos aminas existentes na estrutura (ver Figura 16). Estes sítios evidenciam que a PIR pode possuir mais de um valor de pKa. No entanto, cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/ci mostram que o valor energético para todas as possibilidades na interação do próton (H+) com os grupos aminas é relativamente igual (Tabela 2). Sendo assim, somente um valor de pKa é observado para a PIR. Tomando por base o fato de que a absorbância da PIR se altera após sua protonação, a dependência do valor da absorbância, em dado comprimento de onda, em função do pH, foi utilizada para a determinação do pKa. A Figura 17 apresenta a variação da absorbância em função do pH para a PIR na ausência de micelas, e as Figuras 18 a 20 para a PIR em presença de micelas catiônica, aniônica e neutra, respectivamente. Titulações efetuadas em 272 nm. 34 Átomo de Cloro Átomo de Nitrogênio Átomo de Carbono Átomo de Hidrogênio 06 16 02 15 Figura 16 – Sítios nitrogenados da PIR. Tabela 2 – Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da PIR. Nitrogênio do grupo amina Energia kcal mol-1 2 196,24 6 189,87 15 212,14 16 210,59 35 1,00 0,80 0,70 0,60 0,50 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 17 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH. 0,55 0,50 Absorbância Absorbância 0,90 0,45 0,40 0,35 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 18 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de CTAC 40 mmol.L-1. 36 0,55 0,45 0,40 0,35 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 19 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de SDS 120 mmol.L-1. 0,70 0,60 Absorbância Absorbância 0,50 0,50 0,40 0,30 0,20 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 20 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de Brij-35 40 mmol.L-1. 37 Os dados experimentais foram tratados de acordo com a equação de Henderson-Hasselbach [34,35] para determinar o pKa. Considerando-se a expressão: pH = pKa + log (α / 1-α ) eq. (a) Sendo α e (1-α) as frações molares da droga nas formas neutra e carregada, respectivamente, a absorbância total em um dado comprimento de onda da droga submetida ao equilíbrio ácido-base, pode ser considerado como sendo a soma das intensidades das espécies protonadas (A+) e neutra (Ao): A = α Ao + (1-α) A+ eq. (b) Substituindo a equação b em a: A − A+ pH = pK a + log 0 − A A eq. (c) Esta equação pode ser submetida a um rearranjo e fornecer a expressão abaixo, a qual pode ser utilizada para obter a melhor curva que se ajuste aos valores experimentais: A= A + 10 pK a + A 0 10 pH 10 pK a + 10 pH eq. (d) 38 Desta maneira os valores de pKa encontrados para a PIR são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 Valores de pKa para PIR 8,85 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20 mmol.L-1 obtidos da titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas. [Micela] mmol/L pKa ∆pKa ∆pKa-meio ∆pKa-el 0 7,26 ± 0,07 - - - SDS 120 9,07 ± 0,03 1,81 -1,31 3,12 -107(-184) CTAC 40 6,33 ± 0,03 -0,93 -1,31 0,38 55(-22) BRIJ-35® 40 5,95 ± 0,07 -1,31 -1,31 0,00 77 (0) HPS 40 5,80 ± 0,02 -1,46 -1,31 -0,15 86(9) Triton X-100® 0,5 7,48 ± 0,04 0,22 -1,31 1,53 -13(-90) Sistema Tampão e.Ψ (meV) O deslocamento do valor de pKa da PIR, observado na Tabela 3 para micelas catiônica, aniônica e zwiteriônica, evidencia que a interação da droga com tais micelas sofre influência da carga micelar. No caso do SDS, surfactante aniônico, o pKa é deslocado para duas unidades acima do valor encontrado em solução aquosa. Já para as micelas de CTAC, catiônicas e HPS, zwiteriônica o deslocamento é de aproximadamente uma unidade para baixo. Para o TRITON X-100®, não há praticamente mudança no pKa da droga. Devido o TRITON X-100® absorver na região em que a PIR absorve, não foi possível trabalhar com concentração elevada deste surfactante, como nos demais, 39 que permitisse uma concentração elevada de micelas. Este fato explica o porquê de não observamos variação significativa no pKa da PIR neste sistema. Já para o Brij-35®, também um surfactante neutro, onde a concentração utilizada está bem acima da cmc, observa-se uma variação de pKa da PIR de mais de uma unidade. Por se tratar de micelas neutras, as interações que regem a associação entre a PIR e o Brij-35® são predominantemente de natureza hidrofóbicas, e o abaixamento do pKa da PIR reflete a mudança de localização do fármaco de um meio aquoso (polar) para um meio hidrofóbico micelar (apolar). Na tabela 3, ∆pKa é a variação entre o pKa medido experimentalmente na presença de micela e o valor de pKa no tampão. ∆pKa-meio é o deslocamento do valor obtido da micela aniônica Brij-35® e esta variação está relacionada somente com a mudança de meio do fármaco sem efeito de carga micelar. O ∆pKa-el é o efeito eletrostático obtido da diferença entre ∆pKa e ∆pKa-meio. Por fim, a energia equivalente eΨ é obtida através da equação (2,3*kT* ∆pKa ) [41, 42]. Onde k é a constante de Boltzman e T é a temperatura absoluta. A relação entre o pKa aparente e a equação de Boltzman é dada por [46]: ∆pKa = ∆pKi − eψ 0 2,3kT Os valores de pKa e da contribuição energética eΨ são afetados por mudanças intrínsecas do potencial Ψ0 . Sendo assim, o efeito do potencial elétrico, que afeta os nitrogênios do anel pirimidina, pode ser estimado através dessas mudanças [41]. Na última coluna, entre parênteses, da tabela 3 pode ser observado os valores dos potenciais para a PIR em presença de surfactante. Os dados obtidos para o SDS e CTAC foram: -184 meV e -22 meV, respectivamente. No entanto, os valores de 155 meV para o CTAC e -125 meV para o SDS estão predito na literatura [44]. Para a micela catiônica CTAC, a diferença entre o valor experimental e o estabelecido na literatura é muito elevada, sugerindo que o fármaco pode estar localizada no centro (meio hidrofóbico) ou na extremidade (fase aquosa) da micela. 40 Já para a micela aniônica SDS, por apresentar uma diferença menor entre os valores obtidos, sugere a possibilidade de uma localização superficial da PIR, ou seja, na região do grupo polar da micela. O ∆pKa-el representa a contribuição eletrostática, no pKa do fármaco, devido a transferência de cargas entre as micelas CTAC, HPS e SDS com o fármaco [41]. Por ser um surfactante neutro, a contribuição eletrostática do Brij-35®, é nula (ver tabela 3). Os valores obtidos experimentalmente, da contribuição eletrostática para o CTAC, SDS e HPS de 0,38, 3,12 e -0,15, respectivamente, sugerem que a interação fármaco-micela é, consideravelmente, forte. 41 4.3 DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE ASSOCIAÇÃO DA PIR ÀS MICELAS A interação de um fármaco com seu sítio ativo, no sistema biológico, define sua fase farmacodinâmica de ação. Do ponto de vista qualitativo, o grau de afinidade e a especificidade da ligação micromolécula-sítio receptor são determinados por interações intermoleculares, as quais compreendem forças eletrostáticas, hidrofóbicas, ligações de hidrogênio, entre outras [34]. Sendo assim, a análise de Kb nos permitiu avaliar o grau de associação e tipo de força que permeia essa associação. A análise da interação da PIR com as micelas foi realizada a partir de experimentos que envolvia titulações do fármaco com as soluções das micelas, Figura 21. Intensidade de Fluorescência (u.a.) 550 -1 0,0 mol.L -3 -1 0,5 x 10 mol.L -3 -1 1,0 x 10 mol.L -3 -1 1,5 x 10 mol.L -3 -1 2,0 x 10 mol.L -3 -1 2,5 x 10 mol.L -3 -1 3,5 x 10 mol.L -3 -1 5,0 x 10 mol.L -3 -1 7,0 x 10 mol.L 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 300 350 400 450 500 550 Comprimento de onda, nm Figura 21 - Espectro da titulação fluorimétrica, da PIR em pH 9,0, na presença de HPS com concentração na faixa (0,0 a 7 x 10-3) mol.L-1. A amostra foi excitada em 286 nm e varredura efetuada de 300 nm a 550 nm. 42 O método empregado para tal fim, está baseado na mudança de intensidade de fluorescência da molécula do fármaco, relacionada à solubilização da mesma no meio organizado. Desta forma, o comprimento de onda de emissão máxima da PIR foi monitorado quando se variava a concentração de micelas no meio. Através da análise dos espectros de emissão da PIR, em presença e ausência de surfactante, constatou-se que a carga micelar influencia no comprimento de onda de emissão máxima (ver Tabela 4). Esta influência é mínima em presença de micelas de SDS que pode estar associado à maior fluidez das micelas de SDS, quando comparada às demais micelas. Para o CTAC e HPS observou-se um deslocamento de aproximadamente 15 nm e 25 nm, respectivamente. Esse deslocamento é uma evidência de que as estruturas carregadas positivamente influenciam na banda de emissão da PIR, uma vez que o fármaco associado à essas micelas, deve ter menos liberdade de movimento. Com relação ao Brij-35®, por se tratar de um surfactante neutro, não é observado deslocamento significativo no λmáx de emissão. Tabela 4 Comprimentos de onda de máxima emissão para a PIR na presença e ausência de surfactante nos pH 4,0, 7,0 e 9,0. pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 SISTEMA λmáx nm λmáx nm λmáx nm Tampão 377 379 378 CTAC 363 361 361 HPS 351 356 357 SDS 375 377 376 Brij-35 379 376 375 43 A determinação da constante de associação Kb foi calculada através da curva que melhor se ajustasse aos dados experimentais da titulação da PIR em função da concentração dos surfactantes. Na Tabela 5 são apresentados os valores de K b encontrados através desse ajustes. As Figuras de 22 a 25 representam as titulações fluorimétricas da PIR na presença de CTAC, SDS, HPS e Brij-35®, respectivamente. Tabela 5 Constantes de associação para a PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (Brij-35®). SURFACTANTE K b mol.L -1 pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 595 ± 138 142 ± 26 95 ± 16 CTAC 2±1 351 ± 39 1.694 ± 315 HPS 18 ± 1 51 ± 2 1.064 ± 118 <1 5±1 518 ± 99 SDS Brij-35® 44 140 120 100 ∆F 80 60 40 20 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2 -1 10 x [CTAC], mol.L 2,5 3,0 Figura 22 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 376 nm, com CTAC em pH 7,0 e excitação em 274 nm. 200 ∆F 150 100 50 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 10 x [SDS], mol.L -1 2,5 3,0 2 Figura 23 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 377 nm, com SDS em pH 4,0 e excitação em 273 nm. 45 250 200 ∆F 150 100 50 0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 3 10 x [HPS], mol.L-1 5,0 6,0 Figura 24 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 380 nm, com HPS em pH 9,0 e excitação em 286 nm. 100 80 ∆F 60 40 20 0 0,0 0,5 1,0 3 1,5 2,0 10 x [Brij-35], mol.L 2,5 3,0 3,5 -1 Figura 25 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , 378 nm, com Brij-35® em pH 9,0 e excitação em 286 nm. 46 Os valores encontrados para as constantes de associação da PIR às micelas de SDS, CTAC, HPS e Brij-35 confirmam a forte influência do estado de protonação do fármaco. Os valores elevados e aproximados, 1.700 e 1.000 M-1, respectivamente, de Kb, em pH 9,0, para a PIR em CTAC e HPS sugerem que a interação da PIR com estas micelas sofrem uma influência relativamente alta da estrutura micelar em relação às interações hidrofóbicas, além das interações eletrostáticas. Tais micelas apresentam uma estrutura hidrocarbônica maior que as micelas de SDS, e como no pH 9,0 o fármaco encontra-se desprotonado (pKa = 6,33 em CTAC e 5,95 em HPS), tais associações são regidas fortemente por interações hidrofóbicas. O baixo valor encontrado para o SDS (95 M-1) no mesmo pH, corrobora com esta idéia, visto que a estrutura do SDS, além de ser menor se comparada às micelas de CTAC e HPS, tem estrutura mais flexível que estas últimas. Quando se passa para pH 4,0, a PIR encontra-se protonada em todas as micelas (vide Tabela 5); as interações eletrostáticas entre a carga micelar e o fármaco protonado tornam-se mais importantes que as interações hidrofóbicas. Daí obter-se uma constante extremamente baixa em micelas de CTAC (Kb ≅ 2 M-1) e relativamente alta para micelas de SDS (Kb ≅ 600 M-1). Para as micelas neutras de Brij-35, as associações são regidas por interações hidrofóbicas. Por isso, em pH 9,0, quando o fármaco está desprotonado, a constante obtida foi de aproximadamente 520 M-1 , diminuindo em pH 7,0 para 5,0 M-1, onde o fármaco está parcialmente protonado;, até não ser possível determinar a constante em pH 4,0 (Kb<1,0 M-1) quando o fármaco está protonado aumentando sua solubilidade em água. Os dados foram também analisados utilizando o gráfico do duplo recíproco (equação 7) e os resultados obtidos são todos bem próximos dos encontrados pelo inverso de Kd. A Figura 26 representa um exemplo típico dos gráficos do duplorecíproco encontrados. 47 0,035 0,030 1/∆F 0,025 0,020 0,015 0,010 250 500 750 1000 1250 1500 1750 1/[Brij-35], mol.L -1 Figura 26 – Duplo recíproco obtido da equação 7, para titulação da PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em pH 9,0 na presença de Brij-35®. 48 4.4 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS DA SDZ A SDZ (Figura 27) é um derivado sulfamídico de rápida absorção pelo trato gastrintestinal e de rápida eliminação por via renal. Ela também atua, como a PIR, inibindo a síntese de purinas no ciclo vital do parasita, no entanto a sua ação se verifica através da inibição competitiva do PABA (ácido para-aminobenzóico), inibindo a enzima diidropteroato sintetase, utilizada na síntese de ácido fólico. N N NH O S O NH2 Figura 27 Estrutura molecular plana da SDZ A SDZ, contrariamente à PIR, apresenta uma solubilidade relativamente alta. Pelo método da dissolução direta, determinou-se uma solubilidade de 37,5 mg/L para a SDZ em solução tamponada pH = 4,0, de 60,0 mg/L em pH = 7,0 e de 186 mg/ L em pH = 9,0. Os espectros de absorção óptica da SDZ, em solução aquosa tamponada, bem como em diversos solventes orgânicos, são mostrados nas figuras 28 e 29, respectivamente. 49 pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 Calculado (protonado) Calculado (vácuo) 0,6 241 nm 258 nm 0,5 258 nm 241 nm 265 nm Absorbância 0,4 271 nm 0,3 0,2 0,1 0,0 200 220 240 260 280 300 320 340 360 Comprimento de onda, nm Figura 28 - Espectros de absorção óptica da SDZ em meio aquoso e calculado teoricamente. Em solução aquosa, a SDZ apresenta uma banda bem definida com dois máximos centrados em 241 e 258 nm (em pH 7,0 e 9,0). Em pH = 4,0, há a presença de uma banda centrada em 265 nm e, além disso, há a presença de um ombro em torno de 209 nm. Esse ombro deve estar deslocado para comprimento de onda menor que 200nm nos meios ácidos e básicos. Os espectros ópticos obtidos através de cálculos teóricos, utilizando o ZINDO_S/ci, evidenciam as formas e bandas de absorções obtidas experimentalmente para pH 7,0 e pH 4,0 através dos espectros calculado (vácuo) e calculado (protonado) respectivamente (figura 28). 50 268 nm 1,2 DMSO Acetonitrila Éter Metanol 1,0 Absorbância 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda, nm Figura 29 - Espectros de absorção óptica da SDZ em solventes orgânicos. Em solventes orgânicos, a SDZ apresenta uma banda centrada aproximadamente em 270 nm, independente do solvente orgânico polar utilizado (Figura 29). Os máximos de absorção idênticos da SDZ para os espectros teóricos e experimentais (pH 7,0 e 9,0) é uma evidência que a absorção do fármaco não sofre influência do solvente utilizado (Figura 28). Apesar do espectro protonado (pH = 4,0 obtido experimentalmente) e do calculado apresentarem diferença no máximo de absorção de 6 nm, isso não é o suficiente para afirmar categoricamente que a SDZ sofre influência significativa do efeito de solvatação. 51 Da mesma forma que se determinou para a PIR o coeficiente de absortividade molar, também foi determinado para a SDZ, o ε através da equação da reta obtida da curva de calibração nos diferentes valores de pH e no comprimento de onda de máxima absorção (Figura 30). 1,0 0,9 0,8 0,8 Absorbância 0,6 0,4 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,2 0,1 0,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 -5 5,0 6,0 1,0 7,0 2,0 3,0 4,0 -5 -1 5,0 6,0 7,0 -1 10 x [SDZ], mol.L 10 x [SDZ], mol.L 0,8 0,7 0,6 Absorbância Absorbância 0,7 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0,0 1,0 2,0 -5 3,0 4,0 5,0 -1 10 x [SDZ], mol.L Figura 30 - Curvas de calibração da SDZ obtidas através da espectroscopia de absorção. (●) pH 4,0, λ = 265 nm e R = 0,9995; (■) pH 7,0, λ = 258 nm e R = 0,9996 e (▲) pH 9,0, λ = 241nm e R = 0,9995. 52 Os coeficientes de absortividade molar da SDZ no comprimento de onda máximo de absorção (265 nm em pH = 4,0, 258 nm em pH = 7,0 e 241 nm em pH 9,0) crescem à medida que se passa do meio ácido para o básico. A tabela 6 mostra o ε para a SDZ em solução aquosa. Os valores dos coeficientes observados sugerem que as transições são do tipo π→π* o que também é corroborado através de cálculos teóricos, utilizando o ZINDO_S/ci. Os dois máximos da banda de absorção observada para os pH 7,0 e 9,0 nos comprimentos de onda 241 e 258 nm (Figura 28) devem-se ao fato de que as transições eletrônicas, nestes meios, são predominantes: π→π* e transferências de carga dos oxigênios para o enxofre e para o anel aromático. Tabela 6 Coeficiente de absortividade molar das soluções de SDZ nos pH’s 4,0, 7,0 e 9,0. λ ε pH nm L mol-1 cm-1 4,0 265 14.509 ± 415 7,0 258 13.066 ± 211 9,0 241 17.957 ± 554 53 4.5 DETERMINAÇÃO DO PKa SDZ A SDZ apresenta, em sua estrutura, átomos de nitrogênio suscetíveis a protonação (figura 31) com possibilidade de obter mais de um valor de pKa. No entanto, os valores de energia da protonação destes nitrogênios, obtidos através de cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/cin, evidenciam que apenas um valor de pKa pode ser observado. Isso se deve ao fato que os valores das energias de protonação dos nitrogênios são relativamente iguais (Tabela 7) e a diferença entre os prováveis valores de pKa não são observados experimentalmente. Átomo de Enxofre 2 Átomo de Oxigênio 7 Átomo de Carbono 23 Átomo de Nitrogênio Átomo de Hidrogênio 6 Figura 31 – Sítios nitrogenados da SDZ. Tabela 7 – Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da SDZ. Nitrogênio do grupo amina Energia kcal mol-1 2 157,22 6 152,99 7 169,99 23 177,03 54 Semelhantemente a PIR, foi realizada titulação de solução aquosa tamponada de SDZ onde se mediu a variação da absorbância em função do pH. A figura 32 apresenta a variação da absorbância em função do pH para a SDZ, na ausência de micelas, e as figuras de 33 a 35, para a SDZ em presença de micelas CTAC, SDS e Brij-35, respectivamente. 1,30 1,20 Absorbância 1,10 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 pH Figura 32 - Dependência da absorção em 241 nm da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) em função do pH. 12,0 55 1,30 1,20 1,10 Absorbância 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 33 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença CTAC 40 mmol.L-1. 1,60 Absorbância 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 pH Figura 34 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença SDS 120 mmol.L-1. 56 0,9 0,8 Absorbância 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 pH Figura 35 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença Brij-35® 40 mmol.L-1. Na Ttabela 8, pode ser observado os valores de pKa obtidos experimentalmente. Tabela 8 Valores de pKa para SDZ 7,50 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20 mmol.L-1 obtidos da titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas. Sistema Tampão [Micela] pKa mmol.L-1 0 6,38 ± 0,02 ∆pKa ∆pKa-meio ∆pKa-el - - - e.Ψ ( meV) - SDS 120 7,09 ± 0,02 0,71 0,05 0,66 -42(-39) CTAC 40 6,31 ± 0,02 -0,07 0,05 -0,12 4(7) Brij-35 40 6,43 ± 0,03 0,05 0,05 0,00 -3(0) HPS 40 7,05 ± 0,08 0,67 0,05 0,62 -40(-37) TRITON X-100 0,5 6,82 ± 0,03 0,44 0,05 0,39 -26(-23) 57 Exceto para TRITON X-100, que absorve na mesma região da SDZ, a concentração dos surfactantes foi sempre acima da cmc (concentração micelar crítica) para garantir uma concentração de micelas suficientemente alta [24]. Diferentemente da PIR, para a SDZ o deslocamento do valor de pKa observado para as micelas (Tabela 8) são inferiores a uma unidade de pKa. Sendo assim, a associação do fármaco às mesmas deverá ser regida por interações predominantemente hidrofóbicas. Os valores experimentais dos potenciais obtidos para a SDZ, em presença de CTAC (7 meV) e SDS (-39 meV) são muito pequenos em comparação com os valores extraídos da literatura [46]. Esta diferença sugere a confirmação das interações hidrofóbicas entre a SDZ e as micelas em estudo, e também que o fármaco deve estar localizado em uma região mais hidrofóbica da micela. Para a SDZ, uma contribuição eletrostática de 0,66 e -0,12 foram observadas para SDS e CTAC, respectivamente. Estes valores sugerem que a contribuição eletrostática é de baixa intensidade, visto que as contribuições obtidas são menores em relação as encontradas para a PIR (SDS = 3,12 e CTAC = 0,38). 58 4.6 DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE ASSOCIAÇÃO DA SDZ ÀS MICELAS A análise da interação da SDZ com as micelas foi realizada a partir de experimentos que envolvem titulações fotométricas do fármaco com as soluções das micelas. O método empregado para tal fim, está baseado na mudança da absorção da luz da molécula do fármaco, relacionada à solubilização da mesma no meio organizado. Dessa forma, o comprimento de onda de absorção máxima da SDZ foi monitorado quando se variava a concentração de micelas no meio. Os valores da constante de associação Kb da SDZ foram determinados através da curva que melhor se ajustou aos dados experimentais da titulação da SDZ, em função da concentração de micelas (equação 8) em pH 4,0, 7,0 e 9,0 (Figuras 36 e 37). 0,58 0,56 Absorbância 0,54 0,52 0,50 0,48 0,46 0 5 10 15 20 25 30 35 40 10 x [CTAC], mol.L-1 3 Figura 36 - Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 265 nm, com CTAC em pH 7,0. 59 0,32 0,30 Absorbância 0,28 0,26 0,24 0,22 0,20 0,18 0 10 20 [HPS], mol.L 30 -1 x 10 40 50 -3 Figura 37 - Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 266 nm, com HPS em pH 7,0. Os valores das constantes de associação da SDZ às micelas podem ser observados na tabela 9. Tabela 9 Constantes de associação para a SDZ (1 x 10-4 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC) e zwiteriônico (HPS). SURFACTANTE K b , mmol.L -1 pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 SDS 5,0 ± 4,0 11,0± 2,0 - CTAC 11,0 ± 2,0 69,0 ± 1,0 17,0 ± 6,0 HPS 5,0 ± 0,5 - - 60 As constantes de associação da SDZ às micelas, de forma geral, são em torno de três ordens de grandeza ou mais, menores que as encontradas para a PIR. Em pH 4,0, as constantes encontradas são estatisticamente iguais, considerando-se o erro da medida. Esse fato pode estar indicando que, assim como foi percebido no estudo de pKa do fármaco, a carga da micela não influencia decisivamente na sua associação. No entanto, o método utilizado para a determinação de tais constantes, por ser baseado na mudança de absorção do fármaco, quando particiona para o meio organizado micelar, é limitado quando esta variação é pequena. Fato este que ocorre com a SDZ. Daí pode-se estar subestimando os valores de tais constantes devido a baixa sensibilidade do método. Em pH 7,0, quando o fármaco encontra-se parcialmente protonado, observa-se uma diferença significativa entre a constante obtida para o SDS (Kb ≅ 11 mmol.L-1) e CTAC (Kb ≅ 69 mmol.L-1). Isso pode estar refletindo a maior hidrofobicidade do CTAC em relação ao SDS. Em pH 9,0, o método não se mostrou sensível à determinação da constante de associação a nenhuma micela, exceto para o CTAC onde foi obtido o valor de aproximadamente 17 mmol.L-1. Dados preliminares de voltametria cíclica sugerem que o fármaco deve hidrolisar neste pH, o que aumentaria a sua solubilidade em água, reduzindo ainda mais a constante de associação às micelas. O método utilizado não foi sensível para determinar a constante de associação da SDZ às micelas de Brij-35. 61 5 CONCLUSÕES O estudo minucioso da espectroscopia óptica dos fármacos antitoxoplasmose mostrou de forma enriquecedora que a PIR apresenta uma baixa solubilidade em água e um espectro de absorção óptica com uma banda centrada em torno de 270 nm (meio neutro e ácido), deslocada para 285 nm em meio básico. Os coeficientes de absortividades molares estão centrados em valores típicos das transições de baixa energia do tipo π→π*, e os cálculos teóricos apontam na mesma direção. Já a SDZ tem banda com dois máximos centrados em 241 e 258 nm em meio neutro e básico, e uma banda centrada em 264 nm em meio ácido. Em pH = 4,0, a SDZ ainda apresenta uma banda de absorção centrada em aproximadamente 209 nm. As transições, também, são de baixa energia, ou seja, π→π*. Valores teóricos da energia de interação, para a protonação dos nitrogênios existentes na estrutura da PIR e SDZ, evidenciam que estes fármacos possuem apenas um valor de pKa; e os valores: 7,26 ± 0,07 e 6,38 ± 0,02, obtidos experimentalmente para a PIR e SDZ, respectivamente corroboram para tal evidência. Contudo, em meio micelar, observou-se deslocamentos relativamente altos nos valores de pKa da PIR, sugerindo uma maior influência da carga micelar na interação fármaco-micela. Já para a SDZ, as interações devem ser predominantemente hidrofóbicas, pois o pKa não sofre muita influência da carga micelar. Isto se deve as forças de atrações eletrostáticas fármaco-micela, mais intensas para a PIR, enquanto que para a SDZ essas forças são de baixa intensidade. Por sua vez, uma maior flexibilidade da estrutura micelar, além do estado de protonação dos fármacos, também, influência estas interações e as constantes de associações (Kb) são sempre maiores para micelas mais rígidas (CTAC e HPS) do que para as mais flexíveis (SDS). A maior afinidade observada com micelas catiônicas e zwiteriônicas para a PIR, em pH 9,0 (1.694 ± 315 M-1 para CTAC e 1.064 ± 118 M-1 HPS) confirmam estas influencias. Todas as constantes de associação encontradas para SDZ às micelas são extremamente baixas, da ordem de milimolar, evidenciando um caráter pouco lipossolúvel do fármaco. No entanto, o método utilizado não foi sensível para determinar a constante de associação para a SDZ. 62 6. PERSPECTIVAS FUTURAS Estudos de supressão de fluorescência deverão ser pensados efetuados no universo da química para que a partir deles possa determinar com maior precisão e segurança a localização da PIR nos sistemas modelos estudados na pesquisa realizada e registrada no trabalho que ora é apresentado. Medidas de microcalorimetria diferencial poderão ser utilizadas para se determinar as constantes de associação dos fármacos estudados, sobretudo da SDZ, uma vez que a técnica baseada na mudança de absorbância se mostrou pouco sensível para tal fim. 63 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LEHMANN, T. et al. Tansmission dynamics of Toxoplasma gondii on a pig form. Infection, Genetics and Evolution, U.S.A., v. 3, p. 135-141, mar. 2003. 2. NETO, V. A. et al.; Toxoplasmose; São Paulo, Sarvier, 1995. Cap. 1. 3. http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?417, acessado em 10 de novembro de 2005. 4. BRAZ, L.M.A. et al. 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