a experiência do idoso e a plurimedicação

Propaganda
A EXPERIÊNCIA DO IDOSO E A PLURIMEDICAÇÃO: UM ESTUDO DE
ENFERMAGEM.
Amanda Dal´Comune (ICV-UNICENTRO), Evani Marques Pereira (Orientadora –
Dep. de Enfermagem/UNICENTRO), e-mail: [email protected]
Palavras-chave: idoso, medicação, enfermagem.
Resumo:
Este trabalho teve como objetivo,caracterizar o conhecimento do idoso em relação à
terapêutica utilizada, descrever a experiência do idoso em relação ao esquema
terapêutico e o seu acompanhamento pela equipe de saúde. A coleta de dados foi
feita, em uma UBS de Guarapuava, com idosos cadastrados no “Hiperdia”. Os
resultados demonstram a experiência do idoso em relação ao horário da medicação,
o conhecimento em relação a medicação, o tratamento alternativo e a defasagem no
acompanhamento pelos profissionais de saúde.
Introdução
O envelhecimento pode ser definido como um processo normal de alteração
relacionado com o tempo, começando no momento do nascimento e prosseguindo
durante toda a vida, devendo ser encarada como parte da evolução natural do
organismo e não como doença.
O Estatuto do idoso define como pessoa idosa aquela com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos.
Devido à redução da fecundidade, da mortalidade infantil e do aumento da
expectativa de vida nas idades mais velhas, vem ocorrendo o envelhecimento da
população.
O processo de envelhecimento é marcado por uma elevação da freqüência de
doenças crônico-degenerativas, e também é acompanhado por uma maior demanda
dos serviços de saúde e por medicamentos, o que causa uma maior predisposição a
população geriátrica aos riscos da prática de polifarmácia e aos efeitos adversos dos
medicamentos.
Esses dados mostram a necessidade de estudos relacionados a população
idosa, que aumenta significativamente nos últimos anos e lançam um desafio para a
profissão de enfermagem na arte de cuidar desta parcela da população.
Materiais e Métodos
Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizamos à abordagem qualitativa. A coleta
de dados foi feita pessoalmente, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de
Guarapuava. A amostra incluiu pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. A
seleção foi feita através dos cadastros dos idosos na Unidade e no programa
“Hiperdia”. Foram entrevistados quatorze idosos, estes receberam nomes fictícios
para garantir o anonimato. Antes do início das entrevistas, estes assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido, respeitando os aspectos éticos, conforme
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (1996).
Resultados e Discussão
Analisando os relatos relacionados ao conhecimento sobre a medicação,
podemos constatar através das falas que de maneira geral existe uma lacuna no
saber do idoso e que este está restrito a indicações do medicamento, como
podemos observar nas falas que seguem: O remédio que ele passou é pra
Hipertensão. “Pra não ter esse negócio de pressão não alterar né” (Roberto). “Sei
que é um pra pressão alta e outro pra Diabete” (Cíntia).
A real necessidade de informação sobre as complicações e reações que
podem ser causadas pelo medicamento, e a limitação do conhecimento popular
sobre o medicamento fica demonstrado no seguinte depoimento: “Ah, a gente não
sabe muita coisa né. Só sei que é pra pressão e o pro coração, só que se tomar
muito a pressão baixa muito também” (José).
A utilização de terapias alternativas é utilizada pelos idosos como forma
complementar ao tratamento farmacológico. As principais alternativas referidas pelos
idosos é a utilização de chás caseiros e de plantas medicinais, como observado na
frase a seguir: “Chá caseiro a gente faz, bastante chá caseiro. Alecrim no chimarrão,
é salvinha, é manjericão, o alecrim e a salvinha cozinha, a aferventa e toma frio, é
pra tosse e pro peito (Rosa)”.
O profissional de saúde deve, portanto compreender que o saber popular e o
saber científico no que diz respeito a medicação, podem ser complementares, uma
vez que possuem o mesmo objetivo, ou seja, o bem-estar do paciente.
Nos depoimentos a seguir podemos constatar que os idosos possuem uma
preocupação no que diz respeito ao horário da medicação, tendo de maneira geral
uma boa adesão ao tratamento. “Eu tomo de manhã. È três comprimidos, dois é
Hidroclorotiazida e outro é pra pressão [...] primeira coisa que eu faço depois do
café, acostumei né, daí não esqueço (Eliane). “Eu tomo um de manhã outro a noite.
Lembro, tomo sete horas da manhã e sete horas da tarde, é de doze em doze horas.
Não esqueço, chegou aquele horário eu já sei do meu compromisso, que tem que
fazer né” (Fabio).
O idoso muitas vezes apresenta uma diminuição da capacidade cognitiva,
comprometendo sua memória e capacidade de aprendizado. Esta especificidade
está relacionada a maneira que o idoso toma sua medicação, uma vez que pode não
ficar clara a dosagem e o horário do medicamento para o mesmo, como demonstra
a fala a seguir: “Eu tomo cedo, meio dia, de tarde e outro cedo. Às vezes eu me
esqueço, às vezes eu tomo, às vezes eu não tomo [...]Esqueço, as vezes o médico
fala pra mim ir medir a pressão toda semana, mas eu vou de mês em mês” (Amélia).
Nas falas que seguem fica explicito a falta de orientação e informações
suficientes e adequadas do paciente em relação a sua terapia medicamentosa: “Da
enfermeira e do médico, só da enfermeira e do médico, que não pode parar, e o
horário foram eles que explicaram” (Rosa). “Como é que funciona não explicou, ela
só explicou como que eu tomava né [...] quem explico foi o médico e quem entrega o
remédio ali dentro né” (Amélia).
Essa falta de conhecimento gerada pela falta de orientação profissional pode
levar a defasagem na maneira como o idoso toma sua medicação, interferindo assim
nos resultados esperados, e causando agravos a saúde do idoso.
Conclusões
Esperamos contribuir com este estudo para o cuidado na administração de
medicação ao idoso e desta forma para sua qualidade de vida uma vez que os
medicamentos podem produzir uma série de efeitos e conseqüências das doenças
quando não controlada. Oferecer esclarecimentos do esquema terapêutico proposto
e o acompanhamento pela equipe multidisciplinar, uma vez que os resultados
demonstram a fragilidade do conhecimento do idoso em relação à medicação.
Sendo que o conhecimento que os mesmos possuem em relação aos
medicamentos é insuficiente, podendo assim interferir nos resultados da terapia
medicamentosa. Surge assim a necessidade da atuação do enfermeiro para
fornecer orientação ao idoso usando para isso à consulta de enfermagem, para que
assim o idoso possua maior conhecimento e assim melhora adaptação ao esquema
terapêutico.
Consideramos também relevante fazermos uma reflexão aos aspectos éticos,
uma vez que é atribuição do enfermeiro a responsabilidade na administração dos
medicamentos.
Referências
1. BRASIL, Presidência da República. Estatuto do idoso. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2003/L10.741.htm Acesso em: 23 Jul 2007.
2. BRUNNER & SUDDARTH. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
10.edição. Vol. 1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2005.
3. HELMAN C. G. Cultura, Saúde e doença. 4º edição. Porto Alegre: Artmed, 2003.
4. LIMA-COSTA MF, Veras R. Saúde pública e envelhecimento [Editorial]. Cad
Saúde Pública 2003; 19: 700-1.
5. PAPALEO NETTO, M.; CARVALHO FILHO, T. E.; PASINI, U. Farmacocinética e
Farmacodinâmica das drogas. In NETTO, P. M.;
CARVALHO FILHO, T. E.; Geriatria: fundamentos, clínica e reabilitação. São Paulo:
Ateneu, 2000.
6. POTTER, P.; PERRY, A. Grande Tratado de Enfermagem Prática. Clínica e
Prática Hospitalar. 3.ed. São Paulo: Santos. 3.ed. 2002.
7. SILVA, I. N. T.; LINDOLPHO, M. C.; DUTRA, P. A. P.; SÁ, S.P.C. - O enfermeiro
e o paciente idoso em terapêutica plurimedicamentosa. Revista da UFG, Vol. 5,
No. 2, dez 2003 on line http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/idoso/enfermeiro.html
(www.proec.ufg.br) , em 11/08/2006.
8. TRIVIÑOS, A, N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais:a pesquisa
qualitativa em educação .São Paulo : Atlas,1987 ,p.174.
Download