O que é Filosofia? À primeira vista, é muito fácil definir o que é

Propaganda
O que é Filosofia?
À primeira vista, é muito fácil definir o que é Filosofia, basta lembrar das
origens gregas do termo: philos (amigo)+ sophia (sabedoria). Porém, bem mais difícil é
tentar explicar para que ela serve. De fato, a Filosofia não visa a resultados práticos ou
imediatos. Ao contrário, ela abre espaço justamente para perguntas como: por que todas
as coisas devem ter uma finalidade prática?
A Filosofia é um tipo de conhecimento que se justifica por si mesmo. Por isso,
não se deve cobrar dela uma aplicação imediata. Faz parte de nossa cultura pensar no
conhecimento como um instrumento para a realização de coisas materiais. Porém, essa
ideia nem sempre acompanhou o homem, ela foi fruto, principalmente, das mudanças
decorrentes da Revolução Industrial, que transformou o conhecimento em técnica, por
sua vez utilizada na produção de objetivos em larga escala. Esse processo de tal forma
afetou nossa vida e mudou nossos hábitos, que passamos a considerar a utilidade prática
como única função do conhecimento.
A Filosofia não despreza a realidade concreta, mas também não se limita a ela:
constitui-se em busca constante por explicações e tem no seu horizonte o desafio de
levar o indivíduo ao conhecimento de si mesmo.
A Grécia e a Filosofia
A civilização grega foi talvez a
primeira, Antiguidade, a agrupar um
conjunto de características muito
peculiares, que se relacionam ao
surgimento da Filosofia. Em primeiro
lugar, o desenvolvimento da navegação
no mar Mediterrâneo. Vivendo em uma
terra pobre e em contato com o mar, os
gregos se dedicaram a viagens
marítimas, voltadas para o comércio e
possibilitando amplo deslocamento da
população. Nessas viagens, os gregos
jamais encontram os deuses e as
criaturas fabulosas que existiam nas
lendas e mitos, tanto as suas quanto as
de outros povos. Pelo contrário, foram
percebendo que a Natureza sempre
segue as mesmas “regras”, não
importando o local onde estivessem.
Foi também o comércio com
locais distantes e povos diversos que
estimulou o emprego da moeda e a
disseminação da escrita. Ao substituir a
troca entre mercadorias, a moeda ajuda
a desenvolver o raciocínio abstrato, para
a elaboração de cálculos de valor. A
escrita fonética, em que cada letra
representa um som, faz com que as
palavras percam seu caráter mágico de
representação de um objeto ou uma
ideia (palavra=coisa) e passem a ser
apenas o seu signo (palavra=signo),
dessacralizando o uso da escrita e
estimulando o raciocínio.
A riqueza trazida pelo comércio
e a utilização em larga escala de
escravos, tornou possível o ócio, o
tempo livre, que podia ser dedicada à
atividade contemplativa, estimulando o
espírito de observação. Da mesma
forma,
o
aperfeiçoamento
do
calendário, baseado na observação da
Natureza (repetição das estações do ano,
das fases da lua), que deu o tempo um
caráter natural e não divino.
Tais condições, sozinhas, não
explicam por que a Filosofia nasceu na
Grécia
Antiga,
mas
certamente
contribuíram para que isso ocorresse.
Mito e Filosofia
Muitas vezes, acreditamos em
algumas coisas e não sabemos bem por
quê. Em outras palavras acreditamos,
sem questionar, naquilo em que todos
acreditam.
Afirmar que a Filosofia foi
criada pelos gregos significa dizer que
eles foram os primeiros a propor que o
mundo existia e as coisas aconteciam ao
apenas devido à ação dos deuses. Em
outras palavras, os gregos explicaram o
mundo a partir do logos, da palavra
racional. O mito, por sua vez, é uma
forma de explicação da realidade
anterior à Filosofia e que não se baseia
na racionalidade.
Todas as culturas – inclusive a
grega – criaram seus mitos, associando
a origem do mundo, os fenômenos da
Natureza e os grandes acontecimentos
da vida à atuação de forças exteriores à
realidade concreta. O mito se originou
do medo e do espanto do homem diante
de uma Natureza potencialmente hostil.
Por isso, mais do que para explicar o
mundo, o mito serviu para acalmar a
ansiedade humana em relação aos
mistérios da criação.
Características do mito
Ao contrário da Filosofia, que se
funda na racionalidade, o mito se
baseia, sobretudo, na intuição, e
incorpora ao mesmo tempo imaginação
e emotividade.
Vejamos alguns exemplos de
mitos da criação dos homens:
1- Mitologia Tupi-Guarani
A figura primária na maioria das
lendas guaranis da criação é Iamandu
(ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e
realizador de toda a criação. Com a
ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à
Terra num lugar descrito como um
monte na região do Aregúa, Paraguai, e
deste local criou tudo sobre a face da
Terra, incluindo o oceano, florestas e
animais. Também as estrelas foram
colocadas no céu nesse momento. Tupã
então criou a humanidade em uma
cerimônia elaborada, formando estátuas
de argila do homem e da mulher com
uma mistura de vários elementos da
natureza. Depois de soprar vida nas
formas humanas, deixou-os com os
espíritos do bem e do mal e partiu.
2- Mitologia Asteca
Segundo um mito, no princípio,
tudo era negro e morto. Os deuses se
reuniram em Teotihuacán para discutir a
quem caberia a missão de criar o
mundo, tarefa que exigia que um deles
teria que se jogar dentro de uma
fogueira. O selecionado para esse
sacrifício
foi
Tecuciztecatl.
No
momento
fatídico,
Tecuciztecatl
retrocede ante o fogo; mas o segundo,
um pequeno deus, humilde e pobre,
Nanahuatzin, se lança sem vacilar à
fogueira, convertendo-se no Sol. Ao ver
isto, o primeiro deus, sentindo coragem,
decide jogar-se transformando-se na
Lua. Ainda assim, os dois astros
continuam inertes e é indispensável
alimentá-los para que se movam.
3- Mitologia Navajo
Os índios Navajo da América do
Norte, acreditavam que Tsohanoai era o
deus Sol. Ele assume forma humana e
carrega o Sol às costas, todos os dias
através do céu. À noite, o Sol descansa,
pendurado numa pega na parede
ocidental da casa de Tsohanoai. Os dois
filhos de Tsohanoai, Nayenezgani
(Matador de Inimigos) e Tobadzistsini
(Criança de Água) viviam separados do
pai, em casa da sua mãe, no extremo
ocidente. Quando se tornaram adultos,
os dois decidiram procurar o seu pai e
pedir-lhe ajuda para combater os
espíritos maléficos que aterrorizavam e
atormentavam a humanidade.
4- Mitologia Iorubá
lua (mais tarde chamado de Sin (ou
Sinnu). Da união posterior entre Sin e
Ningal nasceram Inanna (deusa do amor
e da guerra) e Utu (deus do sol, depois
chamado de Shamash).
6- Mitologia Persa
Na mitologia iorubá o deus
supremo é Olorum, chamado também
de Olodumare. Não aceita oferendas,
pois tudo o que existe e pode ser
ofertado já lhe pertence, na qualidade de
criador de tudo o que existe, em todos
os nove espaços do Orun. Olorum criou
o mundo, todas as águas e terras e todos
os filhos das águas e do seio das terras.
Criou plantas e animais de todas as
cores e tamanhos. Até que ordenou que
Oxalá criasse o homem. Oxalá criou o
homem a partir do ferro e depois da
madeira, mas ambos eram rígidos
demais. Criou o homem de pedra – era
muito frio. Tentou a água, mas o ser não
tomava forma definida. Tentou o fogo,
mas a criatura se consumiu no próprio
fogo.
5- Mitologia Babilônica
O universo surgiu quando
Nammu, um abismo sem forma,
enrolou-se em si mesmo num ato de
auto-procriação, gerando An, deus do
céu, e Antu (Ki), deusa da Terra. A
união de An e Ki produziu Enlil, senhor
dos ventos, que eventualmente tornouse líder do panteão dos deuses. Após o
banimento de Enlil de Dilmun (a
morada dos deuses) por violentar Ninlil,
a deusa teve um filho, Nanna, o deus da
Ormuz é o mestre e criador do
mundo. Ele é soberano, onisciente, deus
da ordem. O Sol é seu olho, o céu suas
vestes bordadas de estrelas. Atar, o
relâmpago, é seu cílio. Apô, as águas,
são suas esposas. Ahura Mazda é o
criador de outras sete divindades
supremas, os Amesha Spenta, que
reinam, cada um, sobre uma parte da
criação
e
que
parecem
ser
desdobramentos de Ahura Mazda.
Assim como Ahura Mazda estava
cercado por seis Amesha Spenta e de
outras divindades, Angra Mainyu
(Ahriman) — o deus malfazejo que
invade a criação para perturbar a ordem
e que é concebido como uma serpente
— é acompanhado de seis demônios
procedentes das trevas cósmicas e de
um grande número de outras divindades
malignas.
7- Mitologia Nórdica
Na mitologia nórdica, se
acreditava que a terra era formada por
um enorme disco liso. Asgard, onde os
deuses viviam, se situava no centro do
disco e poderia ser alcançado somente
atravessando um enorme arco-íris (a
ponte de Bifrost). Os gigantes viviam
em um domicílio equivalente chamado
Jotunheim (Casa dos Gigantes). Uma
enorme ábade no subsolo escuro e frio
formava o Niflheim, que era governada
pela deusa Hel. Este era a moradia
eventual da maioria dos mortos. Situado
em algum lugar no sul ficava o reino
impetuoso de Musphelhein, repouso dos
gigantes do fogo. Outros reinos
adicionais da mitologia nórdica incluem
o Alfheim, repouso dos elfos luminosos
(Ljósálfar), Svartalfheim, repouso dos
elfos escuros, e Nidavellir, as minas dos
anões. Entre Asgard e Niflheim estava
Midgard, o mundo dos homens.
8- Mitologia Egípcia
No princípio emergiu das águas
uma ilha, e nela havia um ovo, do qual
saiu Rá, iluminando todas as coisas.
Todos os outros deuses seriam filhos de
Rá (Nut, Chu e Geb). A deusa Nut se
casou com Geb em segredo. Depois de
algum tempo, Rá descobriu o que tinha
acontecido, e ficou furioso com Nut.
Como castigo tornou Nut estéril. Com
isso Nut usou sua criatividade
desafiando Thot, em um jogo de dados.
Com sua vitória, consegui que Thot
acrescentasse cinco novos dias ao
calendário de 360 dias. Com os novos
dias, que não eram vigiados por Rá,
teve seus filhos: Osíris, Ísis, Set e
Néftis.
9- Mitologia Grega
Primeiro só havia o Caos (o
Universo), depois do caos surgem Géia
ou Gaia (a Terra, a grande mãe de
peitos largos), depois o brumoso Tártaro
(submundo,que fica debaixo da Terra) e
Eros (o Amor, capaz de inspirar
criação). De Caos também nasceram
Hérebo (a trevas suprema,o que fica
debaixo da Terra) e Nix (a Noite). Da
Noite nasceram Hemera (o dia) e Éter
(o ar puro ou ar superior onde vivem os
deuses). A Terra deu à luz primeiro a
seu consorte Urano ou Coelos (céu
estrelado para cobri-la), também deu a
luz Óreas (às montanhas) e às ninfas
que nelas habitam e Ponto (o mar não
colhido).
10- Mitologia Judaica
No princípio criou Deus os céus
e a terra. E a terra era sem forma e
vazia; e havia trevas sobre a face do
abismo; e o Espírito de Deus se movia
sobre a face das águas. E disse Deus:
Haja luz; e houve luz. E viu Deus que
era boa a luz; e fez Deus separação
entre a luz e as trevas. E Deus chamou à
luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi
a tarde e a manhã, o dia primeiro. E
disse Deus: Haja uma expansão no meio
das águas, e haja separação entre águas
e águas. E fez Deus a expansão, e fez
separação entre as águas que estavam
debaixo da expansão e as águas que
estavam sobre a expansão; e assim foi.
E chamou Deus à expansão Céus, e foi
a tarde e a manhã, o dia segundo.
Algumas características dessa
narrativa permitem sua identificação
como um mito. Em primeiro lugar, o
fato narrado ocorreu em um tempo
passado indeterminado, em que deuses
habitavam a terra, ou seja, em um
tempo fundamentalmente diferente do
nosso. Em segundo lugar, a narrativa
mítica baseia-se na imaginação e na
capacidade humana de construir
símbolos; por isso quase sempre assume
um caráter de exagero e de
inverossimilhança em relação à
realidade concreta. Finalmente, o mito
está ligado aos fenômenos da natureza.
A filosofia, ao contrário do mito,
aborda coisas que ocorrem em um
tempo conhecido e possível, bem como
sua permanência e mudança. Ao mesmo
tempo, não admite o incompreensível,
buscando sempre explicações racionais,
ao alcance de qualquer indivíduo. Dessa
forma, explica a natureza dentro dessa
mesma perspectiva: racional e acessível.
Ruptura ou continuidade?
Até que ponto a passagem do
mito à Filosofia na Grécia Antiga
significou uma ruptura? A Filosofia
nascente buscou, a partir do pensamento
e da especulação racional, formular
respostas para questões que também
eram abordadas pelo mito, como a
origem do mundo. Além disso, as
propostas racionais de explicação dos
filósofos muitas vezes tinham espantosa
semelhança com as formulações
míticas. Por exemplo, de acordo como o
filósofo Tales de Mileto, a água é a
origem de todas as coisas. Já para a
mitologia grega, o deus Poseidon (deus
dos mares e das águas) originou a vida.
Nesse sentido, pode-se falar em uma
continuidade entre mito e Filosofia, uma
vez que os problemas abordados
continuam sendo basicamente os
mesmos. A novidade está na
abordagem, já que a Filosofia busca um
princípio racional de explicação.
EXERCÍCIOS
1- Quais as principais diferenças entre o mito e a Filosofia?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
2- Apesar das diferenças entre os dois tipos de pensamentos, pode-se dizer que
existe alguma semelhança entre mito e Filosofia? Justifique.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3- A civilização grega teve um importante papel para o surgimento da Filosofia.
Quais os principais aspectos podem apontar para tal surgimento?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
4- É correto afirmar que a filosofia:
a) Surgiu como um discurso teórico, sem
embasamento na realidade sensível, e em
oposição aos mitos gregos.
b) Retomou os temas da mitologia grega,
mas de forma racional, formulando
hipóteses lógico-argumentativas.
c) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos,
vetando qualquer prova da existência de
alguma força divina.
d) Desprezou os conhecimentos produzidos
por outros povos, graças à supremacia
cultural dos gregos.
e) Estabeleceu-se como um discurso
acrítico e teve suas teses endossadas pela
força da tradição.
5-“Zeus ocupa o trono do universo. Agora o
mundo está ordenado. Os deuses
disputaram entre si, alguns triunfaram.
Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi
expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para
a Terra, entre os mortais. E os homens, o
que acontece com eles? Quem são eles?”
(VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os
deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire
d’Aguiar. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000. p. 56.)
O texto acima é parte de uma narrativa
mítica. Considerando que o mito pode ser
uma forma de conhecimento, assinale a
alternativa correta.
a) A verdade do mito obedece a critérios
empíricos e científicos de comprovação.
b) O conhecimento mítico segue um
rigoroso procedimento lógico-analítico para
estabelecer suas verdades.
c) As explicações míticas constroem-se, de
maneira argumentativa e autocrítica.
d) O mito busca explicações definitivas
acerca do homem e do mundo, e sua
verdade independe de provas.
e) A verdade do mito obedece a regras
universais do pensamento racional, tais
como a lei de não-contradição.
6- (UEL – 2005) Sobre a passagem do mito
à filosofia, na Grécia Antiga, considere as
afirmativas a seguir.
revelaram importantes para o surgimento da
filosofia.
II. O naturalismo, que se manifesta nas
origens da filosofia, já se evidencia na
própria religiosidade grega, na medida em
que nem homens nem deuses são
compreendidos como perfeitos.
III. A humanização dos deuses na religião
grega, que os entende movidos por
sentimentos similares aos dos homens,
contribuiu para o processo de
racionalização da cultura grega, auxiliando
o desenvolvimento do pensamento
filosófico e científico.
IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao
pensamento filosófico, devido à assimilação
que os gregos fizeram da sabedoria dos
povos orientais, sabedoria esta desvinculada
de qualquer base religiosa.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) II e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
I. Os poemas homéricos, em razão de
muitos de seus componentes, já contêm
características essenciais da compreensão
de mundo grega que, posteriormente, se
e) I, III e IV.
Os Pré-socráticos
Como foi abordado anteriormente, a Filosofia, como a conhecemos hoje, ou seja, como
uma ciência que estuda as inquietações humanas e visa explicá-las de maneira racional,
surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C, época em que basicamente tudo era explicado
e tinha suas origens na mitologia. Fenômenos como um raio, por exemplo, eram tidos
como uma manifestação da ira de Zeus, o comandante de todos os outros deuses. Essa
explanação “divino-mitológica” para a realidade se chamou, então, cosmogonia. Porém,
os pensadores inquietos da época quiseram responder e explicar fenômenos e perguntas
como essas de maneira racional e lógica, o que foi identificada como cosmologia.
Começa-se, então, a se distinguir o mito da lógica, o que antes era unido
(mitologia ou lógica do mito) passa a ser separado, para se entender e se abordar a
lógica do fato e/ou fenômeno, o que a filosofia caracteriza como o período de transição
“do mito ao logos”, ou seja, da explicação por meio de histórias oralmente repassadas
(mitos) para a explicação racional e lógica da coisas (logos).
Surge, assim, o que é conhecido como pensamento filosófico precedido por
pensadores da citada filosofia antiga, que teve seu início no séc. VI a.C, e perdurou até
o declínio do império romano em IV d.C. Os precursores da Filosofia foram os présocráticos, filósofos que buscavam a origem natural do universo e das coisas através de
explicações lógicas e fundamentadas na observação e estudo da realidade; eram, em
geral, monistas, ou seja, acreditavam que o universo tinha sido gerado através de um
único elemento, ou fenômeno.
TALES DE MILETO
Tales
(623-546
a.C.,
a
aproximadamente)
costuma
ser
considerado o primeiro pensador “o pai
da filosofia”. Procurando fugir das
antigas explicações mitológicas sobre a
criação do mundo, queria descobrir um
elemento físico que fosse constante em
todas as coisas.
Tales foi um cientista pau pra toda obra,
ele previu eclipses, desviou o curso de
rios importantes e calculou como medir
a altura das pirâmides pela medida de
suas sombras no preciso momento do
dia em que sua altura é igual à sua
sombra. Você deve estar pensando que
essas habilidades mentais malucas
deram a Tales algum reconhecimento de
seu povo. Você está errado... "Depois de
pesquisar, Tales determinou que o
próximo verão produziria uma safra
abundante de azeitonas, então ele usou
até o seu último centavo para comprar
todas as prensas de azeite de oliva da
região.Quando sua predição tornou-se
verdadeira, ele ganhou muito dinheiro
alugando seu equipamento para os
produtores de azeite, mas o sucesso
financeiro não pôde saciar a sede de
Tales pelo conhecimento.
- Existe uma variedade fantástica de
coisas no mundo... nuvens, estrelas,
homens, terra .e eu estou convencido de
que todas estão ligadas entre si por algo
em comum - O princípio de tudo."
Inspirando-se
provavelmente
em
concepções egípcias, acrescidas de suas
próprias observações da vida animal e
vegetal, concluiu que a água é a
substância primordial, a origem única
de todas as coisas. Para ele, somente a
água permanece basicamente a mesma,
em todas as transformações dos corpos,
apesar
de
assumir
diferentes
estados(sólido, liquido ou gasoso).
ANAXIMANDRO
Tales é conhecido como o primeiro
filósofo a aprofundar-se, como mais
tarde Aristóteles escreveria, na ciência
dos 'primeiros princípios'. Ele passaria
suas
teorias
pra
seu
pupilo,
Anaximandro.
Anaximandro (610-547 a.C.) procurou
aprofundar as concepções de Tales
sobre a origem única de todas as coisas.
Em meio a tantos elementos
observáveis no mundo natural – a água,
o fogo, o ar etc.—, ele acreditava não
ser possível eleger uma única substancia
material como o princípio primordial de
todos os seres, a arché.
“Todas as coisas vivas, mesmo aquelas
que vivem na terra, começaram sua
existência no mar, mas eu não digo que
o princípio de tudo é a água, como meu
professor Tales acreditava”. Não, eu
acredito que a água é apenas um dos
elementos básicos eles, por si mesmos,
emanam do indeterminado sem limites!
As coisas finitas no nosso mundo têm
sua origem no reino do infinito. Os
elementos separam-se da substância
original num processo de movimento
eterno de onde as coisas nascem, para lá
devem voltar para se destruírem elas
devem ser reparadas, sofrendo a
punição por suas injustiças. Existem
muitos mundos, universos, todos
participando desse ciclo de criação e
destruição.
Para Anaximandro, esse principio era
algo que transcendia os limites do
observável, ou seja, daquilo que não se
situa numa realidade ao alcance dos
sentidos. Por isso, denominou-o
apeíron, termo grego que significa o
indeterminado, o infinito.
ANAXÍMENES
Anaxímenes (588-524 a.C.) admitia que
a origem de todas as coisas, é
indeterminada. Entretanto, recusava-se
a atribuir-lhes o caráter oculto de
elemento situado fora dos limites da
observação e da experiência sensível.
Tentando uma possível conciliação
entre as concepções de Tales e as de
Anaximandro, concluiu ser o ar o
princípio de todas as coisas. Isso porque
o ar representa um elemento invisível e
imponderável, quase inobservável e, no
entanto, observável: o ar é a própria
vida, a força vital, a divindade que
“anima” o mundo, aquilo que dá
testemunho à respiração.
“Qualquer um poderia ver que a
primeira causa de tudo não é a água ou
o 'indeterminado sem limites'. E sim o
ar! Ele é invisível, como nossas almas.
Dele só sentimos o movimento. Todos
os outros elementos se originam do ar.
Quando acelerado, ele forma o fogo e,
quando devagar, forma a água e, depois,
a terra. E assim foi inaugurada uma das
mais comuns tradições filosóficas. Todo
filósofo que veio antes de mim foi um
idiota.”
Em 494 a.C., Mileto foi destruída
pelos persas. Sua intensa vida
cultural deslocou-se para a Magna
Grécia, onde se desenvolve o
pensamento de Pitágoras, Heráclito e
Parmênides. Mantém-se a busca pelo
princípio único do mundo.
PITÁGORAS
Pitágoras
(570-490
a.C.,
aproximadamente) nasceu na ilha de
Samos. Por volta de 530 a.C., sofreu
perseguição política por causa de suas
ideias, sendo obrigado a deixar sua terra
de origem. Instalou-se, então, em
Crotona, sul da Itália, região conhecida
como Magna Grécia.
Em Crotona, fundou uma poderosa
sociedade de caráter filosófico e
religioso, de acentuada ligação com as
questões políticas. Pitágoras criou um
sistema para explicar a origem da
natureza. Nesse sistema o “ar infinito”
desempenhava o papel principal, mas
ainda não era sua arché. Segundo
Pitágoras, as áreas mais próximas desse
ar infinito penetravam no mundo e
separavam sua partes, criando os seres e
as coisas, a multiplicidade e os
números. Para Pitágoras, a essência de
todas as coisas reside nos números, os
quais representam a ordem e a
harmonia. Assim, a essência dos seres, a
arché, teria uma estrutura matemática da
qual derivariam problemas como: finito
e infinito, par e impar, unidade e
multiplicidade, reta e curva, círculo e
quadrado etc.
HERÁCLITO
Nascido em Éfeso, cidade da região
jônica, Heráclito é considerado um dos
mais
importantes
filósofos
présocráticos. A data de seu nascimento e a
de sua morte não é conhecida. Herdeiro
do trono de Éfeso, Heráclito cedeu sua
coroa para seu irmão; então ele teria
mais tempo para seus pensamentos.
Concebia a realidade do mundo como
algo
dinâmico,
em
permanente
transformação. Para ele, a guerra
(pólemos) é a origem de tudo: o conflito
de forças contrárias seria o estado
natural do mundo. Assim, afirmava que
“a guerra é a mãe, rainha e princípio de
todas as coisas”. "'Tudo flui' era sua
máxima, mais famosamente formulada
como: você não pode entrar duas vezes
no mesmo rio. Na segunda, não é o
mesmo rio e você não é o mesmo
homem!".
Assim, Heráclito imaginava a realidade
dinâmica do mundo sob a forma de
fogo, com chamas vivas e eternas,
governando o constante movimento dos
seres."O fogo, de acordo com Heráclito,
é o elemento constante em todas as
coisas. É o que muda a unidade em
diversidade."
Mas isso não era simplesmente outra
versão do princípio de tudo, ensinado
por Tales ou Anaxímenes, mas um
processo de transformação. O mundo,
dizia Heráclito, é um fogo sempre vivo,
acendendo-se em medidas e apagandose em medidas, por fogo se trocam
todas as coisas, e todas as coisas por
fogo, tal como ouro por mercadorias e
mercadorias por ouro.
Assim como no fogo existe a constante
mudança, é apenas pela tensão entre os
opostos que o Universo encontra ordem.
PARMÊNIDES
Nascido em Eléia, na Magna Grécia
(510-470 a. C., aproximadamente)
tornou-se célebre por ter feito oposição
a Heráclito. Defendia a existência de
dois caminhos para a compreensão da
realidade. O primeiro é o da filosofia,
da razão, da essência. O segundo é o da
crendice, da opinião pessoal, da
aparência enganosa, que ele considerava
a “via de Heráclito”.
Segundo Parmênides, o caminho da
essência nos afirma, por exemplo, que
na realidade:
a- existe o ser, e não é concebível sua
não-existencia;
b- o ser é; o não-ser não é:
“As coisas podem mudar na sua
aparência, mas elas permanecem as
mesmas na essência."
Em vista disso, Parmênides é
considerado o primeiro filosofo a
formular os princípios lógicos de
identidade e de não-contradiçao. Ao
refletir sobre o ser, pela via da essência,
o filosofo concluiu que o ser é eterno,
único, imóvel e ilimitado.
Para Parmênides, a multiplicidade das
coisas, assim como as constantes
mudanças a que estão sujeitas, são
aparências de uma realidade única e
eterna: o Ser, que é Uno e compreende
todo
o
existente.
EXERCÍCIOS
1- “A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água
é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la
a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo
sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque faz sem imagem e fabulação; e
enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está
contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda
em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e
no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna
o primeiro filósofo grego”. Fonte: NIETZSCHE, F. Crítica Moderna. In: Os PréSocráticos. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural,
1999. p. 43.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Tales e o surgimento da filosofia,
considere as afirmativas a seguir.
I. A segunda razão pela qual a proposição sobre a água merece ser levada a sério mostra
o aspecto filosófico do pensamento de Tales.
II. Com a proposição sobre a água, Tales reduz a multiplicidade das coisas e fenômenos
a um único princípio do qual todas as coisas e fenômenos derivam.
III. A proposição de Tales sobre a água compreende a proposição ‘Tudo é um’.
IV. O Pensamento de Tales baseando-se como principio único a água, sem a mesma não
teríamos vida.
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
a) I e II
b) II e III
c) I e IV
d) I, II e IV
e) II, III e IV
2- Sobre os Pré-socráticos, pode-se afirmar:
I. Entre os Pré-socráticos não se deu uma ruptura definitiva com o mito e com o
pensamento religioso, haja vista as contribuições de Pitágoras e Demócrito.
II. De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto fora o primeiro filósofo. Muito
reconhecido pelas acertadas previsões que fazia, Tales defendia a ideia da existência de
um elemento primordial (arché), originário e fundante, uma "massa geradora" dos seres,
contendo em si todos os elementos contrários, o apeíron.
III. Também chamados de Filósofos da Natureza, os pré-socráticos buscaram respostas
sobre a physis e a natureza humana, por isso este período da Filosofia é denominado
Período Cosmogonico.
IV. Ao afirmar que "o ser é" e "o não-ser não é", Parmênides está colocando em
evidência aquilo que viria a ser a base do idealismo platônico.
V. Para Demócrito, "tudo que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade".
Demócrito fora contemporâneo de Sócrates e precursor da teoria atômica.
a) Somente II, IV e V são verdadeiras.
b) Somente III, IV e V são verdadeiras.
c) Somente IV e V são verdadeiras.
d) Somente II e V são verdadeiras.
e) Somente I, IV e V são verdadeiras.
3- Cosmogonia e cosmologia são termos sempre utilizados para se falar da saída da
mitologia para a filosofia. De acordo com as aulas que trabalhamos esse assunto, o que
significa esses dois termos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4-Quais fatores contribuíram para a saída das explicações do mundo através dos mitos
se deslocando para uma explicação racional-filosófica?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5- Mileto foi o berço da filosofia, onde descendem os primeiros pensadores. Quais são
os primeiros filósofos? Quais eram suas archés?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
6- Quais as diferenças entre os pensadores de Mileto e os pensadores da Magna Grécia?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Sócrates e o nascimento da Filosofia
Quem foi Sócrates?
Sócrates foi um ateniense que
viveu no século V a.C., período
conhecido como a “Idade de Ouro” de
Atenas. Não deixou nenhum escrito; o
que sabemos de suas ideias deve-se a
citações, sobretudo daqueles que o
conheceram, como seu discípulo Platão.
Desapegado de bens materiais,
tinha o hábito de caminhar pela cidade
propondo diálogos aos cidadãos. Esses
diálogos giravam em torno de assuntos
aparentemente triviais, mas, a partir
deles e por meio de hábeis perguntas,
Sócrates acabava por abordar questões
complexas, que costumavam deixar
seus interlocutores perplexos.
Sócrates é considerado o “pai da
Filosofia”, pois buscou atingir uma
verdade a partir da prática filosófica, do
diálogo com os demais cidadãos. No
centro de sua busca pelo conhecimento
verdadeiro, estavam as questões
humanas, como a amizade, o belo e a
virtude. Isso distanciou Sócrates dos
filósofos gregos anteriores a ele, que se
limitaram a explicar a natureza ou a
praticar a retórica.
Método socrático
No diálogo Teeteto, de Platão,
Sócrates define a função do filosofo como
sendo semelhante à de uma parteira: seu
objetivo seria dar à luz ideias. Chama-se
essa parte dos diálogos socráticos de
maiêutica, o método socrático de obtenção
da verdade segundo o qual cada pessoa
seria capaz de atingi-la, cabendo ao filósofo
apenas facilitar esse encontro, por meio de
perguntas. Sócrates acreditava que o
primeiro passo para se chegar a essa
verdade era o reconhecimento da própria
ignorância, ideia expressa pelo lema: “Só
sei que nada sei”.
Nas conversas, ele abusava da
ironia como forma de abalar crenças
constituídas e expor a fragilidade das
argumentações. Ainda no dialogo Teeteto,
Sócrates apresentou uma metáfora para
ilustrar sua luta contra a passividade e o
adormecimento intelectual da sociedade
ateniense: Atenas era uma égua preguiçosa,
e ele um pequeno mosquito, que mordia
seus flancos para provocar alguma reação.
É importante frisar que há um
princípio ético na base do pensamento de
Sócrates. Uma vez que o homem é racional,
ele teria a capacidade de conhecer a
verdade, que não se encontra somente nele,
mas também na natureza. Como o homem
faz parte da natureza, pode-se dizer que
participa da verdade e pode ter acesso a ela
pelo pensamento. Sócrates dizia ouvir uma
voz divina que o levava a fazer o que certo
e, para isso, era necessário o conhecimento,
ou seja, a conexão com a verdade expressa
pela natureza – um pré-requisito para se
fazer o bem.
Com o conhecimento, o homem
ganha autonomia, isto é, a capacidade de
determinar sua própria conduta e suas
próprias regras. Por isso Sócrates dava tanta
importância à consciência ética: ao
determinar sua conduta, o homem deveria,
necessariamente, considerar sua relação
com a verdade.
A mais importante contribuição de
Sócrates para a nascente Filosofia foi a
identificação do homem com sua psyche,
ou “alma”, caracterizada ao mesmo tempo
como centro da racionalidade, da
personalidade e da consciência ética.
Sofistas e Pré-Socráticos
Sócrates é considerado o pai da
Filosofia, mas ele não foi o primeiro
filósofo grego. Antes dele, outros tentaram
explicar o mundo a partir da razão e não do
mito: os chamados pré-socráticos.
Também
conhecidos
como
“filósofos da natureza”, sua reflexão estava
voltada, sobretudo, para a explicação da
origem do mundo físico, sua composição e
suas mudanças. Tales de Mileto, por
exemplo, afirmava ser a água a origem de
todas as coisas; já Demócrito de Abdera
dizia que todas as coisas eram formadas por
átomos.
O desenvolvimento da democracia
em Atenas e a prática das discussões
públicas sobre assuntos de interesse dos
cidadãos levaram ao surgimento dos
filósofos sofistas, que negavam a
possibilidade
de
um
conhecimento
verdadeiro e enfatizavam o uso da retórica e
das técnicas de persuasão: a verdade de um
discurso estaria na sua adequação a um fim
desejado. Portanto, não existiria uma
verdade a ser atingida pela razão, mas
várias opiniões que poderiam convencer ou
não, dependendo da habilidade do orador.
Sócrates criticava os sofistas quando eles
aceitavam
pagamento
por
seus
ensinamentos, pois isso era considerado
perda de autonomia.
O julgamento de Sócrates
No ano de 399 a.C., Sócrates foi
julgado por um tribunal de cidadãos, sob a
acusação de “corromper a juventude”
ateniense e introduzir o culto a novos
deuses na cidade. Os detalhes do episódio
foram narrados por seu discípulo, Platão,
em A Apologia de Sócrates. Durante o
julgamento, Sócrates procurou convencer
os acusadores do seu equivoco e tentou,
sem sucesso, extrair deles o significado do
que seria,
juventude”.
exatamente,
“corromper
a
Na sua defesa, afirmou que seu
amigo Querofonte, ao consultar o Oráculo
de Delfos, ouviu dos deuses que “Sócrates é
o mais sábio dos homens”. Por isso mesmo
teria iniciado a sua busca por alguém mais
sábio: sua atividade seria fruto dessa
“missão divina”.
Apesar
de
apresentar
uma
argumentação sólida durante todo o
julgamento, Sócrates foi considerado
culpado e condenado à morte. Conforme a
tradição, ele teria o direito de propor uma
pena alternativa, mais branda. E, como sua
condenação havia sido obtida por uma
apertada votação entre 500 cidadãos
sorteados para fazer parte do tribunal, tudo
indicava que a pena mais branda seria de
fato aceita. Mas Sócrates recusou-se a fazêlo. Afirmou que pedir qualquer pena, por
mais branda que fosse, seria reconhecer a
culpa, algo que para ele seria impossível.
Assim, preferiu constranger os cidadãos de
Atenas e seus juízes, obrigando-os a
condená-lo à pena de morte.
A forma como a Atenas
democrática executou aquele que era talvez
seu mais brilhante cidadão chocou vários
atenienses, dentre os quais o discípulo de
Sócrates, Platão. Inconformado com a
morte de seu mestre, Platão começou a
escrever, e um de seus primeiros escritos –
que quase sempre apresentam como
personagem – foi justamente a Apologia de
Sócrates.
Inicialmente o objetivo de Platão
foi defender a memória de seu mestre agora
morto. Ele queria “consertar” o que a seu
ver foi uma injustiça e, para isso, seus
escritos deveriam conter uma argumentação
que pudesse provar a verdade sobre
Sócrates: não apenas uma opinião que
pudesse ser debatida, mas um conhecimento
verdadeiro.
EXERCÍCIOS
1- Sócrates é pensador que marca o inicio do tempo filosófico. Antes de Sócrates já existia pensadores ilustres,
que ficaram conhecidos como pré-socráticos. Qual a diferença entre o pensamento dos filósofos pré-socráticos
e o pensamento de Sócrates?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
2- Os diálogos socráticos eram em sua grande maioria, diálogos críticos. Dois desses diálogos socráticos eram a
maiêutica e a ironia. O que significa cada um desses diálogos?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
3- Várias pessoas foram fundamentais na preparação da formação intelectual de Sócrates. Mas os que mais o
influenciaram foram seus pais. Qual a importância dos pais de Sócrates em sua filosofia?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
4- Contemporâneos de Sócrates, os sofistas também ensinavam em Atenas. Qual a visão que Sócrates tinha
sobre eles?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
19
5- Acusado de corromper a juventude, Sócrates foi condenado à morte. De acordo com as tradições gregas o
condenado poderia solicitar uma pena mais branda. Quais motivos levaram Sócrates a não fazer tal pedido?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
6- Tudo que sabemos da vida e do pensamento do filósofo grego Sócrates é proveniente de comentários que
surgiram das obras dos seus principais seguidores. Nesse contexto, marque a alternativa que NÃO retrata um
dos discípulos de Sócrates:
a) Platão
b) Aristófanes.
c) Cícero.
d) Xenofonte.
7- Sócrates nasceu em Atenas e foi lá que ele viveu toda a sua vida. Desde pequeno ele se manifestou como
uma pessoa de bastante inteligência. Foi nesse período que alguns oráculos gregos afirmaram que Sócrates seria
o mais sábio dos homens. E foi na filosofia que Sócrates se destacou, principalmente pelo seu método filosófico
que era denominado de:
a) Maiêutica.
b) Episteme.
c) Doxa.
d) Alethéia.
8- (UFU-MG) Sócrates é tradicionalmente considerado um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que
o antecederam são chamados de pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto “só sei que nada sei”, é a
maiêutica que tem como objetivo:
I – “dar luz a ideias novas, buscando o conceito”.
II – partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento.
III – encontrar as contradições das ideias para chegar ao conhecimento.
IV – trazer as ideias do céu a terra.
Assinale:
a)Se apenas I e II estiverem corretas.
b)Se apenas I e III estiverem corretas.
c)Se apenas II, III e IV estiverem corretas.
d)Se III e IV estiverem corretas.
20
e)Se I e IV estiverem corretas.
9- O método argumentativo de Sócrates (469 – 399 a.C.) consistia em dois momentos distintos: a ironia e a
maiêutica. Sobre a ironia socrática, pode-se afirmar que:
I – Torna o interlocutor um mestre na argumentação sofística.
II – Leva o interlocutor à consciência de que seu saber era baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de
conceitos vagos e imprecisos.
III – tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor confessar suas próprias contradições e
ignorâncias.
IV – tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do interlocutor.
Assinale:
a)Se apenas a afirmação III é correta.
b)Se as afirmações I e IV são corretas.
c)Se apenas a afirmação IV é correta.
d)Se as afirmações II e III são corretas.
10- Sócrates, com base no pressuposto “só sei que nada sei”, que consiste justamente de reconhecer sua própria
ignorância, inicia a busca do saber. Por essa razão seu método começa pela fase considerada “destrutiva”, a
ironia, indo na direção à maiêutica, para dar luz as novas ideias. Sócrates privilegia as questões morais, por isso
o vemos em muitos diálogos perguntando em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim
por diante. Dessa forma, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da
definição do conceito:
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a virtude em Sócrates, assinale a opção certa:
I – Para Sócrates, a razão não deve dominar a parte inferior do ser humano, mas este deve avaliar e seguir os
desejos que podem produzir mais satisfação.
II- Para Sócrates, o erro e o mal vêm da ignorância. O verdadeiro conhecimento das coisas e de nós mesmos
nos levará ao bem e à felicidade.
III – O método de Sócrates consiste em construir definições que devem descobrir a essência imutável da
realidade.
IV – A frase “conhece-te a ti mesmo” no pensamento de Sócrates não tem importância. Para ele não se trata de
conhecer os limites do ser humano, mas de buscar a verdade relativa a cada um.
21
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II;
b) I e III;
c) II e III;
d) I, III e IV;
e) II, III e IV;
11- Há uma famosa frase que o filósofo grego Sócrates, disse em um momento, "Só sei que nada sei”, Pois
bem, essa frase sintetiza muito sobre a busca infinita que o homem tem que ter para construir o seu
conhecimento. Nesse contexto é incorreto afirmar que:
a) Quando Sócrates falou essa frase, ele se refere a inferioridade que todo o seu conhecimento tinha em relação
ao conhecimento que o mundo pode ainda lhe oferecer.
b) A frase mostra que o homem sempre tem que está buscando novas formas de conhecimento, sempre
ampliando a sua inteligência.
c) Podemos dizer que, quando Sócrates falou essa frase, ele reconheceu a sua própria ignorância como ponto de
partida e abertura para o ato de sempre está em processo de construção do conhecimento.
d) É válido ressaltar que, Sócrates estava preocupado em se autodenominar como o filosofo mais inteligente da
Grécia naquele momento.
12- De acordo com o pensamento de Sócrates, a finalidade da vida é a felicidade, que estaria na capacidade do
ser humano viver em busca do saber. Bem nesse contexto, a filosofia socrática tinha como finalidade:
a)A busca pela discórdia na vida em sociedade.
b)A construção do conhecimento individual.
c)A busca pelo bem na vida em sociedade.
d)Elaborar uma filosofia voltada apenas para os filósofos e intelectuais.
13- O instrumento racional utilizado pelo método socrático para o exercício de sua atividade intelectual e
filosófica foi:
a)Agressões Verbais.
b)O Diálogo.
c)A Intriga.
d)O fingimento.
22
Platão
23
Platão
Para Platão a busca pelo conhecimento
verdadeiro deve ser entendida como a busca pela
essência – aquilo que é eterno e imutável.
Esse pensamento teve – e ainda tem –
grande alcance no Ocidente. Pintores abstratos, por
exemplo, concentraram seus trabalhos na busca por
aquilo que eles pensavam ser a essência da pintura.
Os primeiros escritos de Platão foram uma
resposta à injusta condenação de Sócrates. Mas a
influência de Sócrates sobre seu discípulo não se
limitou a esse impulso inicial. Para Platão, o
discurso não é mera expressão de uma opinião,
devendo estar fundamentado naquilo que de fato
existe ou existiu; naquilo que é, portanto,
verdadeiro. Por isso pode-se dizer que Platão
incorporou e desenvolveu os ensinamentos
socráticos.
Na tentativa de reproduzir as conversas que
Sócrates mantinha, criou a forma do “dialogo”.
Com ele pretendia mostrar que o conhecimento
verdadeiro só pode ser atingido por meio da troca
de ideias e do debate, incluindo a maiêutica e o uso
da ironia.
Segue trecho do livro A República, de
Platão, no qual Sócrates explica em que consistiria
exatamente a tarefa do filósofo de “amar o
espetáculo da verdade”.
(...)
SÓCRATES: Acontece a mesma coisa com o justo
e o injusto, o bom e o mau e todas as outras formas;
cada uma delas, tomada em si mesma, é uma;
porém, dado que entram em comunidade com
ações, corpos e entre si mesmas, elas se revestem de
mil formas que parecem multiplicá-las.
GLAUCO: Tens razão.
SÓCRATES: É neste sentido que eu diferencio, de
um lado, os que amam os espetáculos, as artes e são
os homens práticos; e, de outro, aqueles a quem nos
referimos no nosso discurso, os únicos a quem com
razão podemos denominar filósofos.
No trecho, a personagem Sócrates afirma
que existem o justo e o injusto, o bom e o mau, e
cada uma dessas coisas, apesar de “se revestir de
mil formas diferentes”, de fato é uma só. Em outras
palavras, existe algo a que se chama Bom, e esse
algo assume diversas características, na medida em
que “entra em comunidade” com outras coisas, quer
dizer, na medida em que caracteriza pessoas,
objetos ou ações. Dessa forma, temos o homem
bom, a ação boa, o cavalo bom. Em todos esses
casos, o “bom” sempre existe, independentemente
dos diversos itens que caracteriza. Chama-se a isso
de forma: a forma Bom é única e eterna.
Para Sócrates, algumas pessoas admiram as
artes e os espetáculos, ou seja, os diversos modos
como a realidade se apresenta, e se entretêm com
eles. O filósofo, por sua vez, busca conhecer as
formas e sua essência.
A teoria das ideias de Platão
A realidade concreta que o ser humano
percebe no mundo, uma série de cores e formas, é
para Platão, apenas uma cópia imperfeita daquilo
que existe no mundo do pensamento, da abstração,
o mundo das Ideias. A realidade que se apresenta a
nossos sentidos, assim, é apenas “o que aparece”,
isto é, simples “aparência” de coisas existentes no
universo das Ideias. Como aparências, cópias, elas
estão sujeitas ao envelhecimento e à destruição. As
Ideias, ao contrário, são perfeitas e imutáveis, o
fundamento e o modelo do mundo que se apresenta
aos olhos (e aos demais sentidos) humanos. Como
esse mundo é mera cópia, tudo que há nele tem seu
correspondente verdadeiro, sua essência, na
24
dimensão das Ideias. Assim, por exemplo, o bem, a
justiça, o belo, a temperança do mundo sensível têm
sua origem no Bem, na Justiça, no Belo, na
Temperança do mundo ideal. Esses atributos
originários são o “Bem em si”, a “Justiça em si”, o
“Belo em si”.
Em linhas gerais, Platão desenvolveu a
noção de que o homem está em contato permanente
com dois tipos de realidade: a inteligível e a
sensível. A primeira é a realidade imutável, igual a
si mesma. A segunda são todas as coisas que nos
afetam os sentidos, são realidades dependentes,
mutáveis e são imagens da realidade inteligível.
Tal concepção de Platão também é
conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das
Formas. Foi desenvolvida como hipótese no diálogo
Fédon e constitui uma maneira de garantir a
possibilidade do conhecimento e fornecer uma
inteligibilidade relativa aos fenômenos.
Para Platão, o mundo concreto percebido pelos
sentidos é uma pálida reprodução do mundo das
Ideias. Cada objeto concreto que existe participa,
junto com todos os outros objetos de sua categoria
de uma Ideia perfeita. Uma determinada caneta, por
exemplo, terá determinados atributos (cor, formato,
tamanho etc). Outra caneta terá outros atributos,
sendo ela também uma caneta, tanto quanto a outra.
Aquilo que faz com que as duas sejam canetas é,
para Platão, a Ideia de Caneta, perfeita, que esgota
todas as possibilidades de ser caneta. A ontologia
de Platão diz, então, que algo é na medida em que
participa da Ideia desse objeto. No caso da caneta é
irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o
ser humano, o bem ou a justiça, por exemplo.
Os dois mundos
Platão defende a tese de que existem dois
mundos diferentes: um que muda continuamente e
que percebemos pelos sentidos, e outro que está
livre de mudança. Esse mundo imutável somente é
percebido pelo entendimento, com “os olhos da
alma”.
Nela, um grupo de homens acorrentados no fundo
da caverna a ponto de não poder se mexer nem virar
a cabeça, tomam por realidade as sombras que veem
projetadas numa parede. Só descobrem o engano
quando saem da prisão subterrânea e sobem para o
mundo verdadeiro, iluminado pela luz do Sol. Para
Platão, o mundo sensível, captado pelos sentidos, é
como o fundo da caverna, onde e vive na ilusão, na
ignorância. Ao ascender e ver luz (a verdade) que
torna visíveis as coisas, o homem compreende que
ela provém do Sol (o Bem supremo). Essa
compreensão conduz o ser humano, pela razão, ao
mundo inteligível, tirando-o da ignorância.
A tese da existência de um mundo das Ideias
diferente do mundo real levantou um problema que
tem ocupado filósofos e matemáticos até os dias
atuais: a independência e a objetividade das
estruturas formais sobre as quais se constrói boa
parte do saber cientifico.
A alma e as três formas de conhecer
Platão situa o conhecimento em uma base de
natureza não-corpórea: a alma. Imortal e imutável, a
alma dá movimento ao corpo, anima-o sendo
responsável, assim, pela razão, que conduz à
sabedoria, e pelas demais coisas que se passam no
corpo, como apetites, paixões e desejos.
Para Platão, atributos tão distintos estão
organizados na alma em três partes, cada qual com
uma atribuição:
a) a concupiscente é a parte maior, sede das
paixões e dos desejos, como amar, comer,
beber;
b) a irascível é a sede da raiva contra tudo
aquilo que ameace a vida, sendo, portanto,
responsável pela sobrevivência do homem;
c) a inteligível ou racional é a sede da razão,
capaz de conhecimento.
Para explicar melhor essa tese, Platão criou
a alegoria da caverna (A República, Livro VII).
25
AS SOMBRAS DA VIDA
26
Matrix e O Mito da Caverna
Séculos atrás, Platão escreveu dentro de sua
obra A Republica, a alegoria O Mito da Caverna, e
séculos depois no ano de 1999 dois diretores de
cinema, os irmãos Wachouski nos brindaram com o
clássico cinematográfico Matrix, um abismo de
séculos separa o texto de Platão e o filme, porem as
duas obras possuem características semelhantes.
No texto de Platão os personagens estavam
presos numa caverna, imóveis, privados do mundo
que os cercava, apenas sussurros e sombras em
relance chegavam a eles, certo dia um deles escapou
daquele lugar, e chegou ao mundo fora da escuridão
da caverna, levou um choque ao se defrontar com a
realidade, com a luminosidade do Sol, mas com o
tempo se adaptou, e por compaixão para com seus
antigos companheiros resolveu voltar a caverna
para contar-lhes que existia outro mundo fora
daquele antro de escuridão. Porem lá chegando não
deram ouvidos a ele, e ainda o chamaram de louco,
pois os habitantes da caverna estavam tão
enraizados aquele lugar, que não admitiam a
existência de um mundo exterior.
Já no filme dos irmãos Wachouski a mente
dos seres humanos está aprisionada num programa
denominado Matrix, programa este que simulava
uma realidade humana quase perfeita, enquanto a
energia provinda dos impulsos elétricos de seus
corpos era sugada por maquinas que dominavam o
mundo real, um mundo pós-apocaliptico, o deserto
real.
Neo, personagem principal do longametragem Matrix pode ser comparado ao grande
filosofo Sócrates, porque Neo assim como Sócrates,
narrados da alegoria platônica, questionava
profundamente o sistema que o cercava, da mesma
forma que Sócrates se empenhava em “acordar” o
pensamento dos outros, Neo buscava despertar as
pessoas para a realidade fora da Matrix, e acima de
tudo, ele sempre buscava conhecer a si mesmo, no
caso conhecer a realidade da Matrix, assim como
dizia Sócrates em sua célebre frase “conhece-te a ti
mesmo”.
Tanto no texto O Mito da Caverna quanto no
filme Matrix, o enredo nos apresenta personagens
presos num mundo que consideram real e
verdadeiro, mas na verdade estão vivendo num
mundo não condizente com a realidade, estão
vivendo num simulacro.
A filosofia no poder: os reis-filósofos
Na juventude, Platão alimentou o ideal de
participação política em Atenas. Depois, desiludido
com a democracia ateniense, confessou: Deixei
levar-me por ilusões que nada tinham de
espantosas por causa de minha juventude.
Imaginava a cidade reconduzindo-a dos caminhos
da injustiça para os da justiça.
Abraçando a filosofia, adotou um novo
ideal: Fui então irresistivelmente levado a louvar a
verdadeira filosofia e a proclamar que somente à
luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida
pública e na vida privada.
Para Platão, somente os filósofo, eternos
amantes da verdade, teriam condições de libertar-se
da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso
da realidade e sabedoria.
Por isso, no seu livro A República, imaginou
uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos.
Seriam pessoas capazes de atingir o mais alto
conhecimento do mundo das Ideias, que consiste na
ideia do Bem.
27
EXERCÍCIOS
1- “Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna
entra a luz vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os
seus habitantes estão lá dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço,
de modo que não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua
frente. (...) Naquela situação, você acha que os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos
outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na parede ao fundo da
caverna?”. (PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002.
p. 83).
Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for incorreto.
a) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o
pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das Ideias.
b) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível;
o primeiro ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam daquelas Ideias ou
são suas cópias imperfeitas.
c) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à
caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do
Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade.
d) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram
a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam em
cavernas.
2- Ainda considerando a aplicação do mito à relação entre conhecimento sensível e inteligível, devemos
comparar o Sol, que o prisioneiro libertado da caverna afinal contempla do lado de fora com:
a) A Zeus.
b) A Deus.
c) Ao governante da cidade justa, o rei
filósofo.
d) A ideia de Bem.
28
3- A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da
fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por Platão. Um dos aspectos
mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das ideias, com a qual
procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Como funciona
tal teoria platônica?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4- Platão além do desenvolvimento da sua teoria do conhecimento,
também trabalhou a parte política. Seu modelo de representante ideal
para governar a cidade-Estado era o rei-filósofo. Explique o porque
dessa escolha.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5- Qual a semelhança entre a obra de Platão e o filme dos irmão
Wachouski?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
29
Aristóteles e o mundo sensível
30
Observe a gravura A cascata, do artista holandês Maurits C. Escher (18981972). Na imagem, água está subindo ou descendo?
A sensação de estranhamento que experimentamos ao observar a imagem
certamente se deve ao fato de que a imagem parece nos enganar, constituindo-se em
verdadeiro desafio à razão e aos sentidos.
Fugir do engano, do erro foi a principal meta dos filósofos gregos, que em geral
valorizaram muito o papel da razão para conseguir isso. Platão, por exemplo, associou o
mundo sensível ao engano, propondo a superação desse mundo em favor de outro – o
mundo, das Ideias perfeitas e imutáveis. Mas o pensamento platônico embora muito
difundido, encontrou a resistência de um discípulo de Platão que também teve profunda
e duradoura influencia sobre o Ocidente: Aristóteles.
31
Quem foi Aristóteles?
Aristóteles (384-322 a.C.) foi um
pensador originário de Estagira, cidade
macedônica intensamente helenizada (isto
é, influenciada pela cultura grega). Antes
dos 20 anos, mudou-se para Atenas e
ingressou na Academia de Platão. Seu pai
era médico, o que parece ter influenciado
Aristóteles, principalmente no que diz
respeito à sua capacidade de observação e
de tentar obter informações ou desenvolver
modelos teóricos a partir dos “sintomas”
que se apresentam diante dos sentidos.
Por ser um meteco (estrangeiro
vivendo em Atenas), Aristóteles não
possuía os direitos políticos dos cidadãos
atenienses. Dessa forma, sua com a
democracia grega se limitou à especulação
teórica. Mais isso não diminuiu sua
importância política, já que, devido à sua
origem e à proximidade entre sua família e
os governantes da Macedônia, Aristóteles
foi escolhido para ser preceptor do jovem
príncipe Alexandre, que mais tarde iria
conquistar um vasto império e o governaria
com o titulo de Alexandre, o Grande.
Em Atenas fundou uma escola
chamada Liceu, que rivalizaria com a
Academia de Platão. Por essa época seus
discípulos eram chamados de peripatéticos
(que significa “os que passeiam”), devido
ao hábito de realizar debates enquanto
caminhavam.
Foi autor de extensa obra, e muitos
dos seus escritos chegaram até nós, seja de
forma fragmentada ou integral. Dentre eles,
destacam-se o Organon (que inclui os textos
sobre Lógica); Ética a Nicômaco: Política
(sobre Ética e Política): Física (sobre o
mundo natural; e Poética (que inclui suas
ideias sobre Estética).
A oposição a Platão
O pensamento de Aristóteles se
opõe ao de Platão em diversos aspectos. O
principal deles certamente é a importância
dada aos sentidos (visão, olfato, tato, etc.)
para se alcançar o conhecimento. Platão
afirmava a superioridade do mundo das
ideias sobre o mundo das coisas: o que
vemos à nossa volta seria reflexo das
formas eternas e imutáveis que podem ser
conhecidas porque também existem em
nossa alma. Para Aristóteles, dá-se
exatamente o contrário: as imagens que
formamos em nosso pensamento surgem a
partir de um contato prévio com as coisas
materiais, que são captadas pelos órgãos
dos sentidos.
Além disso, Platão dizia que as
ideias eram inatas. Para Aristóteles, a razão
era inata: todos os homens nascem com a
razão, que lhes dá capacidade de ordenar e
classificar todas as coisas do mundo
conforme são percebidas pelos sentidos.
Portanto,
Aristóteles
preocupava-se,
sobretudo, com a natureza, com a sua
observação e com classificação de seus
fenômenos.
De acordo com Aristóteles, as
coisa, as coisas apresentam diversos modos
de ser. Um touro, por exemplo, é ao mesmo
tempo: forte, preto, bravo, touro. Ou seja,
ele pode ser caracterizado por diversas
categorias. Dessas, a mais substancial é o
touro em si, pois é da sua existência ou da
sua individualidade que derivam as demais.
Nesse caso, o touro é uma substância (uma
categoria), sua cor preta é uma qualidade
(outra categoria), sua força é uma
quantidade (outra categoria). Aristóteles
definiu dez categorias, ou seja, dez formas
de se caracterizar a substância (o sujeito
individual):
substância,
quantidade,
qualidade, relação, tempo, lugar, situação,
ação, paixão e possessão.
Dessa forma, o mundo seria
composto de substâncias distintas, mas que
são caracterizadas por categorias comuns a
32
outras substâncias. Segundo Platão, essas
qualidades comuns derivavam de uma Ideia
transcendente (por exemplo, a ideia de
Belo, a ideia de Branco); já para
Aristóteles, essas qualidades eram apenas
categorias universais percebidas pela razão
no mundo concreto.
árvore; a criança surgiu de um casal de
adultos. A causa é tudo aquilo que contribui
para que um ser se torne real. Aristóteles
distinguiu:

Causa material: o material de que
algo é feito (madeira, mármore,
carne e osso);

Causa formal: referente à forma
(árvore, homem, touro);

Causa eficiente: responsável por
realizar a potencialidade de uma
matéria;

Causa final: o objetivo ou
finalidade do desenvolvimento de
uma forma.
O mundo material
Segundo Aristóteles, as substancias
apresentam certas peculiaridades. Uma
substância não é apenas certa quantidade de
matéria; ela também apresenta uma forma.
A matéria é um suporte passivo que precisa
de uma forma para tornar-se uma coisa; já a
forma é algo que pode ser percebido pela
razão a partir da observação. A substância
touro só é percebida como tal porque
conhecemos a forma touro.
Mas a forma é também uma
principio de funcionamento, que faz com
que as coisas estejam sempre mudando e se
aperfeiçoando. Assim, a forma árvore está
contida na semente, o adulto está contido na
criança. Nesses exemplos, a árvore e o
adulto representam a essência de uma
forma. Todas as coisas existem em potência
e em ato: enquanto uma coisa em potência é
uma coisa que tende a ser outro (semente),
a coisa em ato é algo que já está realizado
(árvore). Nesse sentido, cada forma
especifica contém uma dinâmica interior,
um movimento que faz com que ela passe
da potencialidade à realidade.
Essa divisão ficou conhecida como
teoria das quatro causas. O movimento da
potencialidade à realidade ocorre tanto na
natureza quanto nas ações humanas.
Aristóteles ilustra isso como exemplo de
um escultor (causa eficiente) de uma estátua
de mármore (causa material), que
representa o deus Hermes (causa formal)
com a intenção de criar uma forma de
troféu (causa final).
No que se refere à natureza, surge a
questão de qual seria a causa eficiente e
qual seria a causa final dos movimentos
observados no universo. É nesse ponto que
se chega ao conceito de Deus – a Causa
Primeira de tudo o que existe.
Mas de onde viria essa dinâmica
interior ou movimento? Ora, cada
potencialidade surgiu necessariamente de
uma causa externa, ou seja, de uma forma
já desenvolvida: a semente surgiu de uma
33
EXERCÍCIOS
1- Com base no trecho que segue, diga qual a importância da razão e dos sentidos para
Aristóteles.
“Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos
proporcionam os nossos sentidos; pois, ainda que não levemos em conta sua utilidade,
são estimados por si mesmos; e, acima de todos, o sentido da visão. (...) Por outro lado,
não identificamos nenhum dos sentidos com a sabedoria, se bem que eles nos
proporcionem o conhecimento mais fidedigno do particular. Não nos dizem, contudo, o
porquê de coisa alguma.”
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2- Segundo Aristóteles qual a diferença entre matéria e forma?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3-Aristóteles resolveu muito satisfatoriamente uma questão que preocupou muito os
filósofos anteriores a ele: a da mudança. Afirmou que um objeto pode mudar e
continuar “sendo” e apontou quatro causas para o movimento interior que resulta nas
transformações da matéria. Quais seriam essas causas? De um exemplo com cada uma
delas.
34
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4- Aristóteles figura entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que
transformaram a filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia
ocidental. Aristóteles prestou contribuições fundamentais em diversas áreas do conhecimento
humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica,
zoologia, biologia, história natural e matemática. Sobre o pensamento aristotélico é correto
afirmar:
a) Assim com Sócrates e Platão, Aristóteles acreditava que o conhecimento era
inato, que tudo que conhecemos já contemplamos no mundo ideal e a morte é a
liberdade da alma.
b) Aluno de Platão, Aristóteles concorda plenamente com as ideias do mestre.
Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos
sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato , o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do
tempo e do espaço material.
c) Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia.
Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos
sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato , o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do
tempo e do espaço material.
d) Aristóteles defende a existência de dois mundos: este em que vivemos. O que
está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós e outro que
esta com a liberdade da alma na contemplação do mundo ideal ou perfeito.
5-Para Aristóteles, em Ética a Nicômaco, "felicidade [...] é uma atividade virtuosa da alma, de
certa espécie".
Assinale a alternativa que NÃO condiz com a referida definição aristotélica de felicidade:
a) Felicidade só é possível mediante uma capacidade racional, própria do homem.
b) Ter felicidade é obter coisas nobres e boas da vida que só são alcançadas pelos que
agem retamente.
c) Felicidade é uma fantasia que o homem cria para si e para o outro para encontrar o
Bem.
d) A finalidade das ações humanas, o Bem do homem, é a felicidade.
35
Santo Agostinho
A Filosofia Medieval
A Filosofia Medieval a partir do
século IX é chamada escolástica.
Ensinada
nas
escolas
ou
nas
universidades próximas das catedrais, a
filosofia escolástica tinha por problema
fundamental
levar o homem
a
compreender a verdade revelada pelo
exercício da razão, todavia apoiado na
autoridade (Auctoritas), seja da Bíblia,
seja de um padre da Igreja, seja de um
sistema de filosofia pagã.
A fermentação intelectual e o
interesse pelo racional na escolástica
evidenciam-se
pela
criação
de
universidades por toda a Europa; o
método de exposição das ideias
filosóficas nessas escolas era a disputa:
uma tese era colocada e passava-se a
refutála ou a defendê-la com argumentos
retirados de alguma autoridade.
Um tema recorrente na filosofia
escolástica foi a demonstração racional da
existência de Deus.O apogeu da
escolástica acontece no século XIII com
Santo Tomás de Aquino (1225-1274),
que, retomando o pensamento de
Aristóteles, fez a síntese mais fecunda da
filosofia com o cristianismo na Filosofia
Medieval.
A Patrística foi a Filosofia Cristã
dos primeiros séculos de nossa era.
Consistia na elaboração doutrinal das
crenças religiosas do cristianismo e na sua
defesa contra os ataques dos pagãos e
contra as heresias. Dado o encontro entre
a nova religião e o pensamento filosófico
greco- romano, o grande tema da
Filosofia Patrística foi o da possibilidade
ou impossibilidade de conciliar fé e razão.
Santo Agostinho, expoente dessa
filosofia, sobre a relação fé e razão,
defendia a tese que se pode resumir nesta
36
frase: "Credo ut intelligam" (Creio para
entender).
Santo Agostinho retoma a célebre
teoria platônica das Ideias à luz do
cristianismo e formula a teoria da
iluminação segundo a qual o homem
recebe de Deus o conhecimento das
verdades eternas: à semelhança do sol,
Deus ilumina a razão e torna possível o
pensar correto. Segundo Santo Agostinho,
a fé não conflita com a razão, esta última
seria auxiliar da fé e estaria a ela
Teoria do conhecimento em Santo
Agostinho
Santo Agostinho nasceu em
Tagaste em 354. Agostinho é fruto de
uma família dividida entre uma mãe cristã
e piedosa e um pai pagão de caráter duro
e difícil.
A história da filosofia nos revela
que a teoria do conhecimento em Santo
Agostinho constitui-se numa aproximação
entre legado da cultura clássica em
especial Sócrates, Platão e Aristóteles
com o cristianismo e procura orientar o
homem em direção a Deus. Nesse
caminhar o pensamento platônico
tornaram um dos pilares de sustentação da
doutrina cristã. O próprio Santo
Agostinho reconhece sua dívida com o
pensamento de Platão ao afirmar que:
[...] No momento, dizer que Platão
estabeleceu que o fim do bem é viver de
acordo com a virtude, o que pode
conseguir apenas quem conhece e imita
Deus, e que tal é a única fonte de sua
felicidade. Eis por que não teme dizer que
filosofar é amar a Deus, cuja natureza é
incorpórea. Donde se depreende que o
estudioso da sabedoria (o filósofo) será
feliz precisamente quando começar a
subordinada. A fé, para Santo Agostinho,
não oprime a razão, mas, ao contrário,
abre-lhe os olhos que a falta de fé
mantinha fechados. A partir dos
princípios da fé, a razão, por suas próprias
forças, deduzirá consequências e tentará
resolver os problemas que Deus deixou
para nossas livres discussões.
gozar de Deus, embora no momento não
seja feliz o que goza do que ama. Muitos,
amando o que não se deve amar, são
miseráveis; e mais miseráveis ainda,
quando dele gozam. Contudo, ninguém
será feliz, se não goza do que ama. Isso,
porque os mesmos que amam as coisas
que se não devem amar, não se julgam
felizes, amando-as, mas gozando-as. Não
é feliz, por conseguinte, quem goza do
que ama e ama o verdadeiro e soberano
bem? Não é o cúmulo da miséria negálo? Ora, o verdadeiro e soberano bem é
Deus mesmo, di-lo Platão. Por isso quer
que o filósofo tenha amor a Deus, pois se
a felicidade é o fim da filosofia, gozar de
Deus, amar a Deus é ser feliz.
AGOSTINHO p. 311
Fica explícita na obra de Santo
Agostinho a estreita relação entre o
pensamento cristão com o legado de
Platão. Avançando nessa leitura, observase que muitos filósofos usaram a
inteligência para entender as causas das
coisas, já os filósofos que trilham no
caminho de Platão, conheceram a Deus e
nele encontraram a causa do universo, a
luz da verdade, a fonte da felicidade.
Embora os platônicos tenham
encontrada a causa do universo e
37
conhecido à fonte de felicidade falta a
figura de Cristo nesse pensamento. Nesse
contexto afirma Santo Agostinho:
Querendo
Vós
mostrar-me
primeiramente como “resistis aos
soberbos e dais graça aos humildes” e
quão grande seja a misericórdia com que
ensinaste aos homens o caminho da
humanidade, por “se ter feito carne o
Vosso Verbo e ter habitado entre os
homens, me deparastes, por intermédio
de um certo homem, intumescido por
monstruoso orgulho, alguns livros
platônicos, traduzidos do grego em latim.
Neles li, não com estas mesmas palavras,
mas provado com muitos e numerosos
argumentos, que ao princípio era o Verbo
e o Verbo existia em Deus e Deus era o
Verbo: e este, no princípio existia em
Deus. Todas as coisas foram feitas por
Ele, e sem Ele nada foi criado. O que foi
feito, n’Ele é vida e a vida era a luz dos
homens; a luz brilhou nas trevas e as
trevas não a compreenderam. A alma do
homem, ainda que dê testemunho da luz,
não é, porém, a luz; mas o Verbo – Deus
– é a Luz verdadeira que ilumina todo o
homem que vem a este mundo. Estava
neste mundo que foi feito por Ele, e o
mundo não o Conheceu.
– Porém que
veio par o que era seu e os seus não o
receberam; que a todos os que o
receberam lhes deu poder de fazerem
filhos de Deus ao que crescessem em seu
nome – isto não li naqueles livros.
Do mesmo modo, li nesse lugar
que o Verbo Deus não nasceu da carne,
nem do sangue, nem da vontade do
homem, mas de Deus. Porém que o Verbo
se fez homem e habitou entre nós, isso
não li eu aí.
Descobri
naqueles
escritos,
expresso de muitos e variados modos, que
o Filho, “existindo com a forma do Pai,
não considerou como usurpação ser igual
a Deus”, porque o é por natureza. Porém
aqueles livros não trazem que “se
aniquilou a si mesmo tomando a forma de
escravo, feito à imagem dos homens e
sendo julgado, no exterior, como um
homem”. Não dizem que “se humilhou
fazendo-se obediente até à morte e morte
de cruz, pelo que Deus o exaltou dos
mortos, para que ao nome de Jesus todo o
joelho se dobre nos céus, na terra e nos
infernos e toda a língua confesse que o
Senhor Jesus está na glória de Deus
Pai”. AGOSTINHO, p. 151-152.
Seguindo a dicotomia platônica –
o mundo das Ideias/mundo sensível – o
trecho citado nos aponta para a ideia de
mediador. Para Platão o acesso ao mundo
das Ideias limita-se a um exercício
ascensional exclusivo da alma humana.
Nesta dicotomia, fica claro que os dois
mundo devem permanecer separados para
que a alma possa ascender e abandonar o
mundo das sombras. Essa comparação
serve de base para situar a teoria do
conhecimento de Santo Agostinho.
Para refletirmos sobre a teoria do
conhecimento proposto no pensamento de
Agostinho precisamos ver como o
filósofo define a natureza humana. Para
ele o homem constitui-se numa unidade
substancial de corpo e alma, no qual esta
se utiliza daquela. Conforme Etienne
Gilson (1998: p. 146) a definição do
homem dialeticamente justificada por
Platão no Alcibíades e retomada em
seguida por Plotino exerceu sobre o
pensamento de Agostinho uma influência
decisiva: o homem é uma alma que se
serve de um corpo. Quando fala como
cristão, toma o cuidado de lembrar que o
homem é a unidade da alma e do corpo;
quando filosofa, volta a Platão. Bem
mais, retém essa definição com as
38
consequências lógicas que ela comporta a
principal das quais é a transcendência
hierárquica da alma sobre o corpo.
Presente inteira no corpo inteiro, a alma,
porém, só lhe é única pela ação que
exerce incessantemente sobre ele para
vivificá-lo.
Nesse caminhar temos que a alma
por si só é uma substância completa e a
união com o corpo tem por objetivo
formar uma nova substância para se unir
com a natureza suprema de Deus.
Portanto, no pensamento agostiniano não
separa teoria do conhecimento da
participação direta da iluminação divina.
Porém para entendermos a participação
do
homem
na
construção
do
conhecimento precisamos a atuação das
faculdades da alma humana.
São os três aspectos do homem
que se revelam nas três faculdades da
alma, a memória, a inteligência e a
vontade, as quais conjuntamente, e cada
uma por si, constituem a vida, a mente e a
substância da alma. Sobre essa questão
assim se expressa Santo Agostinho: Eu
recordo por ter memória, inteligência e
vontade; entendo por compreender,
querer e recordar; e quero querer,
recordar e compreender. E recordo toda a
minha memória, toda a inteligência e toda
a vontade e do mesmo modo compreendo
e quero todas estas três coisas; as quais
coincidem plenamente e, não obstante a
sua distinção, constituem uma unidade,
uma só mente e uma só essência. Nesta
unidade da alma que se diferencia nas
suas faculdades, cada uma das quais
compreende as outras, está à imagem da
trindade divina; imagem desigual ma
imagem. (Cf. ABBAGNANO: 1992, P.
186)
Desse modo podemos refletir
sobre a questão do conhecimento em
Santo Agostinho afirmando que dentro da
tradição platônica existem duas formas
para a obtenção de conhecimento. Aquele
que se originam das funções dos sentidos
apreendendo os objetos exteriores que
estão sujeitos à mutabilidade e a
temporalidade. Nesse registro, os
elementos percebidos pelos sentidos são
levados á memória e organizados pelo
homem. Se os objetos exteriores
estimulam nossos sentidos, nossos órgãos
sensoriais sofrem suas ações, mas, como a
alma é superior ao corpo e como o
inferior não pode agir sobre o superior,
ela mesma não sofre a influência alguma
deles. Acontece então o seguinte: graças à
vigilância severa que exerce a alma não
deixa
passar
despercebida
essa
modificação de seu corpo. Sem nada
sofrer da parte do corpo, mas, ao
contrário, por sua atividade própria, ela
extrai com uma maravilhosa prontidão de
sua
própria
substância
imagem
semelhante ao objeto. É o que se chama
de sensação. As sensações são, pois,
ações que alma exerce, não paixões que
ela sofre. (Cf. Etienne Gilson 1998: p.
146)
Santo Agostinho não coloca a
questão
da
impossibilidade
do
conhecimento cuja origem encontra-se
nas sensações. Seguindo a lógica
hierárquica, coloca esse conhecimento
num registro inferior ao inteligível. Esse
pensamento remete ao platonismo no que
diz respeito a luz física enquanto
elemento
indispensável
para
o
conhecimento dos objetos sensíveis.
Quando apresentadas estas duas formas
de conhecimento, Santo Agostinho
elabora uma distinção entre o objeto que
se dá a conhecer e o conhecimento que
temos do objeto. Em seu pensamento,
sensação é uma forma de conhecimento
espiritual; por outro lado, o objeto
39
sensível é algo corporal. O objeto sensível
é atingido pela sensação, da qual ele é a
causa.
O conhecimento inteligível é
aquele que só pode ser percebido pela
mente humana e somente por meio da
reflexão. Nesse modelo de conhecimento,
o filósofo explicita que o conhecimento
da verdade imutável é possível pela
iluminação divina. Agostinho pensa na
existência de uma luz interior como
verdadeira fonte de verdade, e os objetos
sensíveis como as palavras como
momentos no qual manifesta a
Iluminação. Em sua obra O Mestre (2008)
afirma que sobre as muitas coisas que
entendemos consultamos não aquelas
cujas palavras soam no exterior, mas a
verdade que interiormente preside à
própria mente movidos talvez pelas
palavras para que consultemos. E quem é
consultado ensina, o qual é Cristo que,
como se diz, habita no homem interior,
isto é, virtude incomutável de Deus e a
eterna sabedoria, que toda alma racional
consulta, mas que se revela a cada alma o
quanto esta possa abranger em função da
sua própria boa ou má vontade. E se às
vezes há enganos, isto ao decorre por erro
da verdade consultada, como tampouco
da luz exterior, pela qual os olhos com
frequência e enganam; confessamos que
consultamos esta luz a respeito das coisas
visíveis para que no-las mostre à medida
que as possamos ver. Se, no que diz
respeito às cores, consultamos a luz e, no
que diz respeito às outras coisas que
sentimos através do corpo, consultamos
os elementos deste mundo e os mesmos
corpos que sentimos e os próprios
sentidos, dos quais a mente usa como
intérpretes para conhecer tais coisas;
porém, a respeito das coisas que se
conhecem pela inteligência, consultamos
a verdade interior por meio da razão;
como se pode dizer com clareza que com
as palavras aprendemos algo além do
próprio som que repercute nos ouvidos?
Pois todas as coisas que percebemos,
percebemos-las pelos sentidos do corpo
ou pela mente. Aquelas denominamos
sensíveis e estas inteligíveis ou, para falar
conforme o costumes de nossos autores,
aquelas denominamos carnais e estas
espirituais.
Quando se coloca a questão do
conhecimento superior, Platão se faz
presente sempre. Se para o filósofo grego
o conhecimento é produto de uma ação
dialética, de uma ascese espiritual,
limitado a alma, para Santo Agostinho é
pura graça de Deus, o que não exclui o
caráter filosófico que é a reflexão. Assim,
podemos conhecer as verdades eternas
por um contato com Deus. A alma neste
contexto faz um movimento de fora para
dentro de si mesmo e se abre para Deus, a
verdade transcendente. O caminho que se
percorre aponta para o intermediário
Cristo.
A filosofia de Santo Agostinho
por si só constitui um conteúdo
vastíssimo e rico que demanda muitos
estudos. Porém o diálogo com outros
filósofos nos ajuda a situarmos a questão
do conhecimento num contexto mais
amplo que atravessa os períodos da
história da filosofia. Maurice MerleauPonty (1971) sobre a questão do corpo
afirma em sua obra Fenomenologia da
percepção que afirma: “(...) É pelo meu
corpo que compreendo o outro, como é
pelo meu corpo que compreendo as coisas
(...)”. Pudesse dizer que o corpo é a forma
escondida do ser próprio. Se dizemos que
o corpo a cada momento exprime a
existência, é no sentido de que a fala
exprime o pensamento. (...) O homem
pode falar assim como a lâmpada pode
40
tornar-se
incandescente.
(...)
A
predominância de vogais numa língua,
das consoantes numa outra, os sistemas
de
construção
e
sintaxe
não
representariam
tanto
convenções
arbitrárias para exprimir o mesmo
pensamento, mas várias maneiras de o
corpo humano celebrar o mundo e
finalmente vivê-lo. (...) a palavra é um
verdadeiro gesto e contém sentido, como
o gesto também contém o seu. É o que
torna possível a comunicação. Para que
eu compreenda as palavras do outro, é
necessário que eu compreenda seu
vocabulário, sua sintaxe. (...) Toda
linguagem, em suma, ensina-se por si
mesma e introduz sentido no espírito do
ouvinte. Uma música ou uma pintura que
não é inicialmente compreendida acaba
por criar ela mesma seu público, caso
diga alguma coisa. (...) A comunicação ou
a compreensão dos gestos se obtém pela
reciprocidade de minhas interações e
gestos do outro, de meus atos e das
intenções legíveis na conduta do outro.
(...) Tudo ocorre como se a intenção do
outro habitasse meu corpo ou como se
minhas intenções habitassem o seu. (...) O
gesto está diante de mim como uma
pergunta, ele me indica alguns pontos
sensíveis do mundo, ele me convida a
encontrá-lo lá. A comunicação se
completa quando minha conduta encontra
neste caminho seu próprio caminho. Há
confirmação do outro por mim e de mim
pelo outro, um poder pensar segundo o
outro que enriquece nossos próprios
pensamentos. (...) Nossa vista sobre o
homem restará superficial enquanto não
(...) encontrarmos, sob o barulho das
palavras, o silêncio primordial, enquanto
não descrevermos o gesto que rompe este
silêncio. A palavra é um gesto e sua
significação, um mundo”.
No pensamento de Agostinho é
possível encontrar questões como a
origem do mal, o pecado original e o tema
da predestinação.
O problema do mal
O mal em Agostinho é o amor por
si mesmo e o bem é o amor por Deus. Os
homens que vivem para amar Deus
formam a Cidade de Deus e os homens
que vivem para amar a si mesmo formam
a Cidade dos Homens. Na cidade de Deus
vive-se segundo as regras do espírito e na
cidade dos homens vive-se segundo as
regras da carne. As duas cidades vivem
mescladas uma com a outra desde que
iniciou a história da humanidade e assim
ficarão até o fim dos tempos. Cada ser
humano tem que se questionar para saber
a qual das duas ele faz parte.
Deus não criou o mal. Agostinho
acreditava que um ser em que só pode
residir o bem não pode ser o criador do
mal. Tudo que existe é bom e o mal é a
ausência desse bem, é a ausência de Deus.
Deus nos concedeu o Livre-Arbítrio, que
é a nossa capacidade de decidir conforme
nosso entendimento, e é dele que vem o
mal. Deus nos criou independentes para
que pudéssemos decidir por nossa
vontade e através de nossa liberdade
escolher o bem e não o mal. Quando o
homem escolhe o mal ele se afasta de
Deus.
41
EXERCÍCIOS
1-Quais as linhas de pensamento que mais influenciaram o pensamento de Agostinho?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2-Onde esta contida as verdades eternas segundo Agostinho de Hipona?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3 - Leia o trecho extraído da obra Confissões.
Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está gravada dentro de nós a luz
do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que ilumina a todo homem, mas somos
iluminados por Vós. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas.
SANTO AGOSTINHO. Confissões IX. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154.
Coleção Os Pensadores .
Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a alternativa correta.
a) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos imediatamente as verdades
eternas em Deus. Essas verdades, necessárias e eternas, não estão no interior do homem,
porque seu intelecto é contingente e mutável.
b) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto humano, deixando-o
ativo para o conhecimento das verdades eternas. Essas verdades, necessárias e
imutáveis, estão no interior do homem.
c) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas
que a alma possuía e que nela permanecem mediante os ciclos da reencarnação.
d) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas
que a alma possuía antes de se unir ao corpo.
42
4 - A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na
elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os
ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o
pensamento filosófico greco-romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da
possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente
dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta
frase: "Credo ut intelligam" (Creio para entender). A esse respeito, assinale o que for
incorreto. (1,0)
a) Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do cristianismo e
formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de Deus o
conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna
possível o pensar correto.
b) Para Santo Agostinho, fé e razão são inconciliáveis, pois os mistérios da fé são
insondáveis e manifestam-se como uma loucura para a razão humana.
c) Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria auxiliar da
fé e estaria a ela subordinada.
d) A fé, para Santo Agostinho, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os olhos
que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas
próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os problemas que Deus
deixou para nossas livres discussões.
5 - Explique o conceito de mal ontológico para Agostinho.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
6 - Qual a visão de Agostinho sobre o mal moral?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
43
Tomás de Aquino
9º Fund. II
Tomás de Aquino nasceu em 1225 no reino da Sicília e morreu em 1274. Santo
Tomás de Aquino marcou sua posição na história da filosofia ao conciliar o pensamento
de Aristóteles com a doutrina Cristã. No contexto em que vivia15, um dos problemas
que se colocava era o problema da relação entre filosofia e teologia, entre o
conhecimento filosófico, obtido pela razão, e as verdades da teologia, fundamentadas na
revelação.
O pensamento de Tomás de Aquino caminha no sentido de mostrar que a
filosofia como forma de conhecimento não poderia mais ser concebida como uma
simples serva, pois, tinha o seu objeto de estudo, ou seja, o mundo natural cujo
instrumento para se chegar ao conhecimento era a razão. A teologia também possuía o
seu objeto de estudo que era a realidade sobrenatural alcançada com a fé, instrumento
de sua fundamentação. Nessa relação entre filosofia e teologia distinguem-se duas
formas de conhecimento, o sobrenatural que tem a sua origem na revelação divina e o
conhecimento sensível que tem a sua origem na razão humana.
44
A concepção de homem no
pensamento de Tomás de Aquino se faz
necessário. O homem é o ponto de
convergência de toda a criação. Nele se
encerram de algum modo, todas as
coisas. A razão lhe permite penetrar no
mundo dos espíritos, as energias
sensitivas lhe são comuns com os
animais, as forças vitais com as plantas,
e o corpo fá-lo aproximar-se dos seres
inanimados. Como ser composto de
todos os seres, o homem defronta a
filosofia com um problema peculiar: o
de usa unidade.
A natureza do homem é formada
por alma e corpo. O corpo faz parte
também de sua essência, pois, além de
entender, sente, e o sentir não é uma
ação da alma isolada da matéria, que é o
corpo. No homem subsiste a forma
intelectiva da alma, a qual desempenha
as funções sensitivas e vegetativas. A
união entre corpo e alma deve expressar
as ações humanas.
O conhecimento sensível tem
um lugar de destaque no pensamento de
Tomás de Aquino, constitui-se a base
no qual se eleva o conhecimento
intelectivo. Na base dessa construção o
filósofo estabelece os componentes do
conhecimento
sensível:
sentidos
próprios e sentido comum, imaginação,
memória e razão particular ou intelecto
passivo.
Estes
constituem
uma
hierarquia nessa construção sob a qual
eleva o conhecimento intelectivo.
Tomás de Aquino define
sentidos próprios àqueles particulares
possuidores de um objeto próprio. Cada
sentido em particular é marcado pelo
objeto sensível. A cada sentido
particular corresponde a uma forma, por
exemplo, cor, som, que são percebidas
como forma imaterial. Quanto mais
imaterial foi a ação do objeto sobre um
sentido particular, mais elevada é sua
posição na hierarquia dos sentidos.
Nesta hierarquia a sensação mais baixa
é o do tato, que atua por meio do
contato imediato com o objeto. Mais
acima esta o gosto, cuja sensação não
tem efeito de tornar a língua doce ou
amarga; mas este sentido é alterado
imediatamente pelo objeto, pois, a
sensação gustativa só é possível pelo
umedecimento da língua. Mais longe da
matéria encontram se as sensações
auditivas e alfativas, pois o órgão
sensorial não sofre nenhuma alteração
material, somente o objeto sensível está
sujeito à mudança. O Sentido mais
elevado é o da visão, que não sofre
influência por nenhuma alteração no
objeto sensível, e que percebe tanto as
substâncias perecíveis como certas
substâncias imperecíveis. O sentido
comum tem a função de perceber todas
as impressões e, além disso, o próprio
ato da sensação. O sentido particular
não consegue distinguir entre a cor e o
gosto. A imaginação é a faculdade
capaz de reter com sua força
representativa, as imagens das coisas
sensíveis. A memória tem cumpre a sua
função ao tornar o homem capaz de
reapresentar ou evocar o que foi
apreendido e conservado. Razão
particular ou intelecto passivo visa as
intenções individuais, faz as vezes do
instinto no ser humano. O homem
dispõe de uma faculdade primitiva de
julgamento, que lhe permite constatar o
que lhe é vantajoso ou nocivo. Seus
juízos sempre dizem respeito a
situações e objetos concretos.
45
Filosofia
Seu maior mérito foi a síntese do
cristianismo com a visão aristotélica do
mundo, introduzindo o aristotelismo,
sendo redescoberto na Idade Média, na
Escolástica anterior, compaginou um e
outro, de forma a obter uma sólida base
filosófica para a teologia e retificando o
materialismo de Aristóteles. Em suas
duas
summae,
sistematizou
o
conhecimento teológico e filosófico de
sua época: a Summa theologiae e a
Summa contra gentiles.
A partir dele, a Igreja tem uma
Teologia (fundada na revelação) e uma
Filosofia (baseada no exercício da razão
humana) que se fundem numa síntese
definitiva: fé e razão, unidas em sua
orientação comum rumo a Deus.
Sustentou que a filosofia não pode ser
substituída pela teologia e que ambas
não se opõem. Afirmou que não pode
haver contradição entre fé e razão.
Explica que toda a criação é boa,
tudo o que existe é bom, por participar
do ser de Deus, o mal é a ausência de
uma perfeição devida e a essência do
mal é a privação ou ausência do bem.
Com o uso da razão é possível
demonstrar a existência de Deus, para
isto propõe as 5 vias de demonstração:
Primeira via
Primeiro motor imóvel: tudo o que se
move é movido por alguém, é
impossível uma cadeia infinita de
motores provocando o movimento dos
movidos, pois do contrário nunca se
chegaria ao movimento presente, logo
há que ter um primeiro motor que deu
início ao movimento existente e que por
ninguém foi movido.
Segunda via
Causa primária: decorre da relação
"causa-e-efeito" que se observa nas
coisas criadas. É necessário que haja
uma causa primeira que por ninguém
tenha sido causada, pois a todo efeito é
atribuída uma causa, do contrário não
haveria nenhum efeito pois cada causa
pediria uma outra numa sequência
infinita.
Terceira via
Ser necessário: existem seres que
podem ser ou não ser (contingentes),
mas nem todos os seres podem ser
desnecessários se não o mundo não
existiria, logo é preciso que haja um ser
que fundamente a existência dos seres
contingentes e que não tenha a sua
existência fundada em nenhum outro
ser.
Quarta via
Ser perfeito: verifica-se que há graus de
perfeição nos seres, uns são mais
perfeitos
que
outros,
qualquer
graduação pressupõe um parâmetro
máximo, logo deve existir um ser que
tenha este padrão máximo de perfeição
e que é a causa da perfeição dos demais
seres.
Quinta via
Inteligência ordenadora: existe uma
ordem no universo que é facilmente
verificada, ora toda ordem é fruto de
uma inteligência, não se chega à ordem
pelo acaso e nem pelo caos, logo há um
ser inteligente que dispôs o universo na
forma ordenada.
46
A verdade
"A verdade é definida como a
conformidade da coisa com a
inteligência". Tomás de Aquino
concluiu que a descoberta da verdade ia
além do que é visível. Antigos filósofos
acreditavam que era verdade somente o
que poderia ser visto. Aquino já
questiona que a verdade era todas as
coisas porque todas são reais, visíveis
ou invisíveis, exemplificando: uma
pedra que está no fundo do oceano não
deixa de ser uma pedra real e verdadeira
só porque não pode ser vista. Aquino
concorda e aprimora Agostinho de
Hipona quando diz que "A verdade é o
meio pelo qual se manifesta aquilo que
é". A verdade está nas coisas e no
intelecto e ambas convergem junto com
o ser. O "não-ser" não pode ser verdade
até o intelecto o tornar conhecida, ou
seja, isso é apreendido através da razão.
Aquino chega a conclusão que só se
pode conhecer a verdade se você
conhece o que é o ser.
A verdade é uma virtude como
diz Aristóteles, porém o bem é posterior
a verdade. Isso porque a verdade está
mais próximo do ser, mais intimamente
e o que o sujeito ser do bem depende do
intelecto, "racionalmente a verdade é
anterior".
Exemplificando: o intelecto
apreende o ser em si; depois, a definição
do ser, por último a apetência do ser. Ou
seja, primeiramente a noção do ser;
depois, a construção da verdade, por
fim, o bem.
Sobre a eternidade da verdade
ele, Tomás, discorda em partes com
Agostinho. Para Agostinho a verdade é
definitiva. Imutável. Já para Aquino, a
verdade é a consequência de fatos
causados no passado. Então na
supressão desses fatos à verdade deixa
de existir. O exemplo que Tomás de
Aquino traz é o seguinte: A frase
"Sócrates está sentado" é a verdade.
Seja por uma matéria, uma observação
ou analise, mas ele está sentado. Ao se
levantar, ficando de pé, ele deixa de
estar sentado. Alterando a verdade para
a segunda opção, mudando a primeira.
Contudo, ambos concordam que na
verdade divina a verdade por não ter
sido criada, já que Deus sempre existiu,
não pode ser desfeita no passado e então
é imutável.
47
EXERCÍCIOS
1. A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida intelectual foi a de valorizar a
inteligência humana e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive
a respeito de certas questões da religião.
Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”, ele diz que há duas
modalidades de verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades da revelação que a
razão humana não consegue alcançar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno e
trino. A segunda modalidade é composta de verdades que a razão pode atingir, por exemplo, que
Deus existe.
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o pensamento de Tomás de
Aquino.
a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação da verdade que Deus lhe
concede.
c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas verdades por seus meios naturais.
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada pode conhecer d’Ele.
2. A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-1274), é uma parte da filosofia, é a parte
que ele elaborou mais profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta como um gênio
verdadeiramente original. Se trata de física, de fisiologia ou dos meteoros, Tomás é
simplesmente aluno de Aristóteles, mas se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno
ao Criador, Tomás é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige, contudo, só
progride graças aos recursos da razão.
GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 657.
De acordo com o texto acima, é correto afirmar que:
a) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de Aristóteles.
b) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a natureza das coisas.
c) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser compreendidas pela razão humana.
d) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar da distinção entre ambas.
e) A obra de Tomás de Aquino é uma releitura das obras socráticas-platônicas, como toda
filosofia cristã.
48
3. Quais motivos levaram Tomás de Aquino, ser influenciado pelo pensador grego
Aristóteles ?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Quais são as cinco provas da existência de Deus, apontadas por Tomás de Aquino?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5. Sobre a eternidade da verdade Tomás de Aquino concorda ou discorda do ponto de
vista de Agostinho de Hipona? Justifique sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
49
Download
Study collections