O que é Filosofia? À primeira vista, é muito fácil definir o que é Filosofia, basta lembrar das origens gregas do termo: philos (amigo)+ sophia (sabedoria). Porém, bem mais difícil é tentar explicar para que ela serve. De fato, a Filosofia não visa a resultados práticos ou imediatos. Ao contrário, ela abre espaço justamente para perguntas como: por que todas as coisas devem ter uma finalidade prática? A Filosofia é um tipo de conhecimento que se justifica por si mesmo. Por isso, não se deve cobrar dela uma aplicação imediata. Faz parte de nossa cultura pensar no conhecimento como um instrumento para a realização de coisas materiais. Porém, essa ideia nem sempre acompanhou o homem, ela foi fruto, principalmente, das mudanças decorrentes da Revolução Industrial, que transformou o conhecimento em técnica, por sua vez utilizada na produção de objetivos em larga escala. Esse processo de tal forma afetou nossa vida e mudou nossos hábitos, que passamos a considerar a utilidade prática como única função do conhecimento. A Filosofia não despreza a realidade concreta, mas também não se limita a ela: constitui-se em busca constante por explicações e tem no seu horizonte o desafio de levar o indivíduo ao conhecimento de si mesmo. A Grécia e a Filosofia A civilização grega foi talvez a primeira, Antiguidade, a agrupar um conjunto de características muito peculiares, que se relacionam ao surgimento da Filosofia. Em primeiro lugar, o desenvolvimento da navegação no mar Mediterrâneo. Vivendo em uma terra pobre e em contato com o mar, os gregos se dedicaram a viagens marítimas, voltadas para o comércio e possibilitando amplo deslocamento da população. Nessas viagens, os gregos jamais encontram os deuses e as criaturas fabulosas que existiam nas lendas e mitos, tanto as suas quanto as de outros povos. Pelo contrário, foram percebendo que a Natureza sempre segue as mesmas “regras”, não importando o local onde estivessem. Foi também o comércio com locais distantes e povos diversos que estimulou o emprego da moeda e a disseminação da escrita. Ao substituir a troca entre mercadorias, a moeda ajuda a desenvolver o raciocínio abstrato, para a elaboração de cálculos de valor. A escrita fonética, em que cada letra representa um som, faz com que as palavras percam seu caráter mágico de representação de um objeto ou uma ideia (palavra=coisa) e passem a ser apenas o seu signo (palavra=signo), dessacralizando o uso da escrita e estimulando o raciocínio. A riqueza trazida pelo comércio e a utilização em larga escala de escravos, tornou possível o ócio, o tempo livre, que podia ser dedicada à atividade contemplativa, estimulando o espírito de observação. Da mesma forma, o aperfeiçoamento do calendário, baseado na observação da Natureza (repetição das estações do ano, das fases da lua), que deu o tempo um caráter natural e não divino. Tais condições, sozinhas, não explicam por que a Filosofia nasceu na Grécia Antiga, mas certamente contribuíram para que isso ocorresse. Mito e Filosofia Muitas vezes, acreditamos em algumas coisas e não sabemos bem por quê. Em outras palavras acreditamos, sem questionar, naquilo em que todos acreditam. Afirmar que a Filosofia foi criada pelos gregos significa dizer que eles foram os primeiros a propor que o mundo existia e as coisas aconteciam ao apenas devido à ação dos deuses. Em outras palavras, os gregos explicaram o mundo a partir do logos, da palavra racional. O mito, por sua vez, é uma forma de explicação da realidade anterior à Filosofia e que não se baseia na racionalidade. Todas as culturas – inclusive a grega – criaram seus mitos, associando a origem do mundo, os fenômenos da Natureza e os grandes acontecimentos da vida à atuação de forças exteriores à realidade concreta. O mito se originou do medo e do espanto do homem diante de uma Natureza potencialmente hostil. Por isso, mais do que para explicar o mundo, o mito serviu para acalmar a ansiedade humana em relação aos mistérios da criação. Características do mito Ao contrário da Filosofia, que se funda na racionalidade, o mito se baseia, sobretudo, na intuição, e incorpora ao mesmo tempo imaginação e emotividade. Vejamos alguns exemplos de mitos da criação dos homens: 1- Mitologia Tupi-Guarani A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento. Tupã então criou a humanidade em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu. 2- Mitologia Asteca Segundo um mito, no princípio, tudo era negro e morto. Os deuses se reuniram em Teotihuacán para discutir a quem caberia a missão de criar o mundo, tarefa que exigia que um deles teria que se jogar dentro de uma fogueira. O selecionado para esse sacrifício foi Tecuciztecatl. No momento fatídico, Tecuciztecatl retrocede ante o fogo; mas o segundo, um pequeno deus, humilde e pobre, Nanahuatzin, se lança sem vacilar à fogueira, convertendo-se no Sol. Ao ver isto, o primeiro deus, sentindo coragem, decide jogar-se transformando-se na Lua. Ainda assim, os dois astros continuam inertes e é indispensável alimentá-los para que se movam. 3- Mitologia Navajo Os índios Navajo da América do Norte, acreditavam que Tsohanoai era o deus Sol. Ele assume forma humana e carrega o Sol às costas, todos os dias através do céu. À noite, o Sol descansa, pendurado numa pega na parede ocidental da casa de Tsohanoai. Os dois filhos de Tsohanoai, Nayenezgani (Matador de Inimigos) e Tobadzistsini (Criança de Água) viviam separados do pai, em casa da sua mãe, no extremo ocidente. Quando se tornaram adultos, os dois decidiram procurar o seu pai e pedir-lhe ajuda para combater os espíritos maléficos que aterrorizavam e atormentavam a humanidade. 4- Mitologia Iorubá lua (mais tarde chamado de Sin (ou Sinnu). Da união posterior entre Sin e Ningal nasceram Inanna (deusa do amor e da guerra) e Utu (deus do sol, depois chamado de Shamash). 6- Mitologia Persa Na mitologia iorubá o deus supremo é Olorum, chamado também de Olodumare. Não aceita oferendas, pois tudo o que existe e pode ser ofertado já lhe pertence, na qualidade de criador de tudo o que existe, em todos os nove espaços do Orun. Olorum criou o mundo, todas as águas e terras e todos os filhos das águas e do seio das terras. Criou plantas e animais de todas as cores e tamanhos. Até que ordenou que Oxalá criasse o homem. Oxalá criou o homem a partir do ferro e depois da madeira, mas ambos eram rígidos demais. Criou o homem de pedra – era muito frio. Tentou a água, mas o ser não tomava forma definida. Tentou o fogo, mas a criatura se consumiu no próprio fogo. 5- Mitologia Babilônica O universo surgiu quando Nammu, um abismo sem forma, enrolou-se em si mesmo num ato de auto-procriação, gerando An, deus do céu, e Antu (Ki), deusa da Terra. A união de An e Ki produziu Enlil, senhor dos ventos, que eventualmente tornouse líder do panteão dos deuses. Após o banimento de Enlil de Dilmun (a morada dos deuses) por violentar Ninlil, a deusa teve um filho, Nanna, o deus da Ormuz é o mestre e criador do mundo. Ele é soberano, onisciente, deus da ordem. O Sol é seu olho, o céu suas vestes bordadas de estrelas. Atar, o relâmpago, é seu cílio. Apô, as águas, são suas esposas. Ahura Mazda é o criador de outras sete divindades supremas, os Amesha Spenta, que reinam, cada um, sobre uma parte da criação e que parecem ser desdobramentos de Ahura Mazda. Assim como Ahura Mazda estava cercado por seis Amesha Spenta e de outras divindades, Angra Mainyu (Ahriman) — o deus malfazejo que invade a criação para perturbar a ordem e que é concebido como uma serpente — é acompanhado de seis demônios procedentes das trevas cósmicas e de um grande número de outras divindades malignas. 7- Mitologia Nórdica Na mitologia nórdica, se acreditava que a terra era formada por um enorme disco liso. Asgard, onde os deuses viviam, se situava no centro do disco e poderia ser alcançado somente atravessando um enorme arco-íris (a ponte de Bifrost). Os gigantes viviam em um domicílio equivalente chamado Jotunheim (Casa dos Gigantes). Uma enorme ábade no subsolo escuro e frio formava o Niflheim, que era governada pela deusa Hel. Este era a moradia eventual da maioria dos mortos. Situado em algum lugar no sul ficava o reino impetuoso de Musphelhein, repouso dos gigantes do fogo. Outros reinos adicionais da mitologia nórdica incluem o Alfheim, repouso dos elfos luminosos (Ljósálfar), Svartalfheim, repouso dos elfos escuros, e Nidavellir, as minas dos anões. Entre Asgard e Niflheim estava Midgard, o mundo dos homens. 8- Mitologia Egípcia No princípio emergiu das águas uma ilha, e nela havia um ovo, do qual saiu Rá, iluminando todas as coisas. Todos os outros deuses seriam filhos de Rá (Nut, Chu e Geb). A deusa Nut se casou com Geb em segredo. Depois de algum tempo, Rá descobriu o que tinha acontecido, e ficou furioso com Nut. Como castigo tornou Nut estéril. Com isso Nut usou sua criatividade desafiando Thot, em um jogo de dados. Com sua vitória, consegui que Thot acrescentasse cinco novos dias ao calendário de 360 dias. Com os novos dias, que não eram vigiados por Rá, teve seus filhos: Osíris, Ísis, Set e Néftis. 9- Mitologia Grega Primeiro só havia o Caos (o Universo), depois do caos surgem Géia ou Gaia (a Terra, a grande mãe de peitos largos), depois o brumoso Tártaro (submundo,que fica debaixo da Terra) e Eros (o Amor, capaz de inspirar criação). De Caos também nasceram Hérebo (a trevas suprema,o que fica debaixo da Terra) e Nix (a Noite). Da Noite nasceram Hemera (o dia) e Éter (o ar puro ou ar superior onde vivem os deuses). A Terra deu à luz primeiro a seu consorte Urano ou Coelos (céu estrelado para cobri-la), também deu a luz Óreas (às montanhas) e às ninfas que nelas habitam e Ponto (o mar não colhido). 10- Mitologia Judaica No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo. Algumas características dessa narrativa permitem sua identificação como um mito. Em primeiro lugar, o fato narrado ocorreu em um tempo passado indeterminado, em que deuses habitavam a terra, ou seja, em um tempo fundamentalmente diferente do nosso. Em segundo lugar, a narrativa mítica baseia-se na imaginação e na capacidade humana de construir símbolos; por isso quase sempre assume um caráter de exagero e de inverossimilhança em relação à realidade concreta. Finalmente, o mito está ligado aos fenômenos da natureza. A filosofia, ao contrário do mito, aborda coisas que ocorrem em um tempo conhecido e possível, bem como sua permanência e mudança. Ao mesmo tempo, não admite o incompreensível, buscando sempre explicações racionais, ao alcance de qualquer indivíduo. Dessa forma, explica a natureza dentro dessa mesma perspectiva: racional e acessível. Ruptura ou continuidade? Até que ponto a passagem do mito à Filosofia na Grécia Antiga significou uma ruptura? A Filosofia nascente buscou, a partir do pensamento e da especulação racional, formular respostas para questões que também eram abordadas pelo mito, como a origem do mundo. Além disso, as propostas racionais de explicação dos filósofos muitas vezes tinham espantosa semelhança com as formulações míticas. Por exemplo, de acordo como o filósofo Tales de Mileto, a água é a origem de todas as coisas. Já para a mitologia grega, o deus Poseidon (deus dos mares e das águas) originou a vida. Nesse sentido, pode-se falar em uma continuidade entre mito e Filosofia, uma vez que os problemas abordados continuam sendo basicamente os mesmos. A novidade está na abordagem, já que a Filosofia busca um princípio racional de explicação. EXERCÍCIOS 1- Quais as principais diferenças entre o mito e a Filosofia? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2- Apesar das diferenças entre os dois tipos de pensamentos, pode-se dizer que existe alguma semelhança entre mito e Filosofia? Justifique. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3- A civilização grega teve um importante papel para o surgimento da Filosofia. Quais os principais aspectos podem apontar para tal surgimento? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 4- É correto afirmar que a filosofia: a) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em oposição aos mitos gregos. b) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-argumentativas. c) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de alguma força divina. d) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia cultural dos gregos. e) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força da tradição. 5-“Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56.) O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta. a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação. b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. c) As explicações míticas constroem-se, de maneira argumentativa e autocrítica. d) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas. e) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de não-contradição. 6- (UEL – 2005) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir. revelaram importantes para o surgimento da filosofia. II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos. III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de qualquer base religiosa. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se e) I, III e IV. Os Pré-socráticos Como foi abordado anteriormente, a Filosofia, como a conhecemos hoje, ou seja, como uma ciência que estuda as inquietações humanas e visa explicá-las de maneira racional, surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C, época em que basicamente tudo era explicado e tinha suas origens na mitologia. Fenômenos como um raio, por exemplo, eram tidos como uma manifestação da ira de Zeus, o comandante de todos os outros deuses. Essa explanação “divino-mitológica” para a realidade se chamou, então, cosmogonia. Porém, os pensadores inquietos da época quiseram responder e explicar fenômenos e perguntas como essas de maneira racional e lógica, o que foi identificada como cosmologia. Começa-se, então, a se distinguir o mito da lógica, o que antes era unido (mitologia ou lógica do mito) passa a ser separado, para se entender e se abordar a lógica do fato e/ou fenômeno, o que a filosofia caracteriza como o período de transição “do mito ao logos”, ou seja, da explicação por meio de histórias oralmente repassadas (mitos) para a explicação racional e lógica da coisas (logos). Surge, assim, o que é conhecido como pensamento filosófico precedido por pensadores da citada filosofia antiga, que teve seu início no séc. VI a.C, e perdurou até o declínio do império romano em IV d.C. Os precursores da Filosofia foram os présocráticos, filósofos que buscavam a origem natural do universo e das coisas através de explicações lógicas e fundamentadas na observação e estudo da realidade; eram, em geral, monistas, ou seja, acreditavam que o universo tinha sido gerado através de um único elemento, ou fenômeno. TALES DE MILETO Tales (623-546 a.C., a aproximadamente) costuma ser considerado o primeiro pensador “o pai da filosofia”. Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo, queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Tales foi um cientista pau pra toda obra, ele previu eclipses, desviou o curso de rios importantes e calculou como medir a altura das pirâmides pela medida de suas sombras no preciso momento do dia em que sua altura é igual à sua sombra. Você deve estar pensando que essas habilidades mentais malucas deram a Tales algum reconhecimento de seu povo. Você está errado... "Depois de pesquisar, Tales determinou que o próximo verão produziria uma safra abundante de azeitonas, então ele usou até o seu último centavo para comprar todas as prensas de azeite de oliva da região.Quando sua predição tornou-se verdadeira, ele ganhou muito dinheiro alugando seu equipamento para os produtores de azeite, mas o sucesso financeiro não pôde saciar a sede de Tales pelo conhecimento. - Existe uma variedade fantástica de coisas no mundo... nuvens, estrelas, homens, terra .e eu estou convencido de que todas estão ligadas entre si por algo em comum - O princípio de tudo." Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados(sólido, liquido ou gasoso). ANAXIMANDRO Tales é conhecido como o primeiro filósofo a aprofundar-se, como mais tarde Aristóteles escreveria, na ciência dos 'primeiros princípios'. Ele passaria suas teorias pra seu pupilo, Anaximandro. Anaximandro (610-547 a.C.) procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural – a água, o fogo, o ar etc.—, ele acreditava não ser possível eleger uma única substancia material como o princípio primordial de todos os seres, a arché. “Todas as coisas vivas, mesmo aquelas que vivem na terra, começaram sua existência no mar, mas eu não digo que o princípio de tudo é a água, como meu professor Tales acreditava”. Não, eu acredito que a água é apenas um dos elementos básicos eles, por si mesmos, emanam do indeterminado sem limites! As coisas finitas no nosso mundo têm sua origem no reino do infinito. Os elementos separam-se da substância original num processo de movimento eterno de onde as coisas nascem, para lá devem voltar para se destruírem elas devem ser reparadas, sofrendo a punição por suas injustiças. Existem muitos mundos, universos, todos participando desse ciclo de criação e destruição. Para Anaximandro, esse principio era algo que transcendia os limites do observável, ou seja, daquilo que não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o apeíron, termo grego que significa o indeterminado, o infinito. ANAXÍMENES Anaxímenes (588-524 a.C.) admitia que a origem de todas as coisas, é indeterminada. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhes o caráter oculto de elemento situado fora dos limites da observação e da experiência sensível. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração. “Qualquer um poderia ver que a primeira causa de tudo não é a água ou o 'indeterminado sem limites'. E sim o ar! Ele é invisível, como nossas almas. Dele só sentimos o movimento. Todos os outros elementos se originam do ar. Quando acelerado, ele forma o fogo e, quando devagar, forma a água e, depois, a terra. E assim foi inaugurada uma das mais comuns tradições filosóficas. Todo filósofo que veio antes de mim foi um idiota.” Em 494 a.C., Mileto foi destruída pelos persas. Sua intensa vida cultural deslocou-se para a Magna Grécia, onde se desenvolve o pensamento de Pitágoras, Heráclito e Parmênides. Mantém-se a busca pelo princípio único do mundo. PITÁGORAS Pitágoras (570-490 a.C., aproximadamente) nasceu na ilha de Samos. Por volta de 530 a.C., sofreu perseguição política por causa de suas ideias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Instalou-se, então, em Crotona, sul da Itália, região conhecida como Magna Grécia. Em Crotona, fundou uma poderosa sociedade de caráter filosófico e religioso, de acentuada ligação com as questões políticas. Pitágoras criou um sistema para explicar a origem da natureza. Nesse sistema o “ar infinito” desempenhava o papel principal, mas ainda não era sua arché. Segundo Pitágoras, as áreas mais próximas desse ar infinito penetravam no mundo e separavam sua partes, criando os seres e as coisas, a multiplicidade e os números. Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e impar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc. HERÁCLITO Nascido em Éfeso, cidade da região jônica, Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos présocráticos. A data de seu nascimento e a de sua morte não é conhecida. Herdeiro do trono de Éfeso, Heráclito cedeu sua coroa para seu irmão; então ele teria mais tempo para seus pensamentos. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Para ele, a guerra (pólemos) é a origem de tudo: o conflito de forças contrárias seria o estado natural do mundo. Assim, afirmava que “a guerra é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas”. "'Tudo flui' era sua máxima, mais famosamente formulada como: você não pode entrar duas vezes no mesmo rio. Na segunda, não é o mesmo rio e você não é o mesmo homem!". Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres."O fogo, de acordo com Heráclito, é o elemento constante em todas as coisas. É o que muda a unidade em diversidade." Mas isso não era simplesmente outra versão do princípio de tudo, ensinado por Tales ou Anaxímenes, mas um processo de transformação. O mundo, dizia Heráclito, é um fogo sempre vivo, acendendo-se em medidas e apagandose em medidas, por fogo se trocam todas as coisas, e todas as coisas por fogo, tal como ouro por mercadorias e mercadorias por ouro. Assim como no fogo existe a constante mudança, é apenas pela tensão entre os opostos que o Universo encontra ordem. PARMÊNIDES Nascido em Eléia, na Magna Grécia (510-470 a. C., aproximadamente) tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito”. Segundo Parmênides, o caminho da essência nos afirma, por exemplo, que na realidade: a- existe o ser, e não é concebível sua não-existencia; b- o ser é; o não-ser não é: “As coisas podem mudar na sua aparência, mas elas permanecem as mesmas na essência." Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filosofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradiçao. Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filosofo concluiu que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Para Parmênides, a multiplicidade das coisas, assim como as constantes mudanças a que estão sujeitas, são aparências de uma realidade única e eterna: o Ser, que é Uno e compreende todo o existente. EXERCÍCIOS 1- “A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”. Fonte: NIETZSCHE, F. Crítica Moderna. In: Os PréSocráticos. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 43. Com base no texto e nos conhecimentos sobre Tales e o surgimento da filosofia, considere as afirmativas a seguir. I. A segunda razão pela qual a proposição sobre a água merece ser levada a sério mostra o aspecto filosófico do pensamento de Tales. II. Com a proposição sobre a água, Tales reduz a multiplicidade das coisas e fenômenos a um único princípio do qual todas as coisas e fenômenos derivam. III. A proposição de Tales sobre a água compreende a proposição ‘Tudo é um’. IV. O Pensamento de Tales baseando-se como principio único a água, sem a mesma não teríamos vida. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: a) I e II b) II e III c) I e IV d) I, II e IV e) II, III e IV 2- Sobre os Pré-socráticos, pode-se afirmar: I. Entre os Pré-socráticos não se deu uma ruptura definitiva com o mito e com o pensamento religioso, haja vista as contribuições de Pitágoras e Demócrito. II. De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto fora o primeiro filósofo. Muito reconhecido pelas acertadas previsões que fazia, Tales defendia a ideia da existência de um elemento primordial (arché), originário e fundante, uma "massa geradora" dos seres, contendo em si todos os elementos contrários, o apeíron. III. Também chamados de Filósofos da Natureza, os pré-socráticos buscaram respostas sobre a physis e a natureza humana, por isso este período da Filosofia é denominado Período Cosmogonico. IV. Ao afirmar que "o ser é" e "o não-ser não é", Parmênides está colocando em evidência aquilo que viria a ser a base do idealismo platônico. V. Para Demócrito, "tudo que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade". Demócrito fora contemporâneo de Sócrates e precursor da teoria atômica. a) Somente II, IV e V são verdadeiras. b) Somente III, IV e V são verdadeiras. c) Somente IV e V são verdadeiras. d) Somente II e V são verdadeiras. e) Somente I, IV e V são verdadeiras. 3- Cosmogonia e cosmologia são termos sempre utilizados para se falar da saída da mitologia para a filosofia. De acordo com as aulas que trabalhamos esse assunto, o que significa esses dois termos? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4-Quais fatores contribuíram para a saída das explicações do mundo através dos mitos se deslocando para uma explicação racional-filosófica? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5- Mileto foi o berço da filosofia, onde descendem os primeiros pensadores. Quais são os primeiros filósofos? Quais eram suas archés? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 6- Quais as diferenças entre os pensadores de Mileto e os pensadores da Magna Grécia? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Sócrates e o nascimento da Filosofia Quem foi Sócrates? Sócrates foi um ateniense que viveu no século V a.C., período conhecido como a “Idade de Ouro” de Atenas. Não deixou nenhum escrito; o que sabemos de suas ideias deve-se a citações, sobretudo daqueles que o conheceram, como seu discípulo Platão. Desapegado de bens materiais, tinha o hábito de caminhar pela cidade propondo diálogos aos cidadãos. Esses diálogos giravam em torno de assuntos aparentemente triviais, mas, a partir deles e por meio de hábeis perguntas, Sócrates acabava por abordar questões complexas, que costumavam deixar seus interlocutores perplexos. Sócrates é considerado o “pai da Filosofia”, pois buscou atingir uma verdade a partir da prática filosófica, do diálogo com os demais cidadãos. No centro de sua busca pelo conhecimento verdadeiro, estavam as questões humanas, como a amizade, o belo e a virtude. Isso distanciou Sócrates dos filósofos gregos anteriores a ele, que se limitaram a explicar a natureza ou a praticar a retórica. Método socrático No diálogo Teeteto, de Platão, Sócrates define a função do filosofo como sendo semelhante à de uma parteira: seu objetivo seria dar à luz ideias. Chama-se essa parte dos diálogos socráticos de maiêutica, o método socrático de obtenção da verdade segundo o qual cada pessoa seria capaz de atingi-la, cabendo ao filósofo apenas facilitar esse encontro, por meio de perguntas. Sócrates acreditava que o primeiro passo para se chegar a essa verdade era o reconhecimento da própria ignorância, ideia expressa pelo lema: “Só sei que nada sei”. Nas conversas, ele abusava da ironia como forma de abalar crenças constituídas e expor a fragilidade das argumentações. Ainda no dialogo Teeteto, Sócrates apresentou uma metáfora para ilustrar sua luta contra a passividade e o adormecimento intelectual da sociedade ateniense: Atenas era uma égua preguiçosa, e ele um pequeno mosquito, que mordia seus flancos para provocar alguma reação. É importante frisar que há um princípio ético na base do pensamento de Sócrates. Uma vez que o homem é racional, ele teria a capacidade de conhecer a verdade, que não se encontra somente nele, mas também na natureza. Como o homem faz parte da natureza, pode-se dizer que participa da verdade e pode ter acesso a ela pelo pensamento. Sócrates dizia ouvir uma voz divina que o levava a fazer o que certo e, para isso, era necessário o conhecimento, ou seja, a conexão com a verdade expressa pela natureza – um pré-requisito para se fazer o bem. Com o conhecimento, o homem ganha autonomia, isto é, a capacidade de determinar sua própria conduta e suas próprias regras. Por isso Sócrates dava tanta importância à consciência ética: ao determinar sua conduta, o homem deveria, necessariamente, considerar sua relação com a verdade. A mais importante contribuição de Sócrates para a nascente Filosofia foi a identificação do homem com sua psyche, ou “alma”, caracterizada ao mesmo tempo como centro da racionalidade, da personalidade e da consciência ética. Sofistas e Pré-Socráticos Sócrates é considerado o pai da Filosofia, mas ele não foi o primeiro filósofo grego. Antes dele, outros tentaram explicar o mundo a partir da razão e não do mito: os chamados pré-socráticos. Também conhecidos como “filósofos da natureza”, sua reflexão estava voltada, sobretudo, para a explicação da origem do mundo físico, sua composição e suas mudanças. Tales de Mileto, por exemplo, afirmava ser a água a origem de todas as coisas; já Demócrito de Abdera dizia que todas as coisas eram formadas por átomos. O desenvolvimento da democracia em Atenas e a prática das discussões públicas sobre assuntos de interesse dos cidadãos levaram ao surgimento dos filósofos sofistas, que negavam a possibilidade de um conhecimento verdadeiro e enfatizavam o uso da retórica e das técnicas de persuasão: a verdade de um discurso estaria na sua adequação a um fim desejado. Portanto, não existiria uma verdade a ser atingida pela razão, mas várias opiniões que poderiam convencer ou não, dependendo da habilidade do orador. Sócrates criticava os sofistas quando eles aceitavam pagamento por seus ensinamentos, pois isso era considerado perda de autonomia. O julgamento de Sócrates No ano de 399 a.C., Sócrates foi julgado por um tribunal de cidadãos, sob a acusação de “corromper a juventude” ateniense e introduzir o culto a novos deuses na cidade. Os detalhes do episódio foram narrados por seu discípulo, Platão, em A Apologia de Sócrates. Durante o julgamento, Sócrates procurou convencer os acusadores do seu equivoco e tentou, sem sucesso, extrair deles o significado do que seria, juventude”. exatamente, “corromper a Na sua defesa, afirmou que seu amigo Querofonte, ao consultar o Oráculo de Delfos, ouviu dos deuses que “Sócrates é o mais sábio dos homens”. Por isso mesmo teria iniciado a sua busca por alguém mais sábio: sua atividade seria fruto dessa “missão divina”. Apesar de apresentar uma argumentação sólida durante todo o julgamento, Sócrates foi considerado culpado e condenado à morte. Conforme a tradição, ele teria o direito de propor uma pena alternativa, mais branda. E, como sua condenação havia sido obtida por uma apertada votação entre 500 cidadãos sorteados para fazer parte do tribunal, tudo indicava que a pena mais branda seria de fato aceita. Mas Sócrates recusou-se a fazêlo. Afirmou que pedir qualquer pena, por mais branda que fosse, seria reconhecer a culpa, algo que para ele seria impossível. Assim, preferiu constranger os cidadãos de Atenas e seus juízes, obrigando-os a condená-lo à pena de morte. A forma como a Atenas democrática executou aquele que era talvez seu mais brilhante cidadão chocou vários atenienses, dentre os quais o discípulo de Sócrates, Platão. Inconformado com a morte de seu mestre, Platão começou a escrever, e um de seus primeiros escritos – que quase sempre apresentam como personagem – foi justamente a Apologia de Sócrates. Inicialmente o objetivo de Platão foi defender a memória de seu mestre agora morto. Ele queria “consertar” o que a seu ver foi uma injustiça e, para isso, seus escritos deveriam conter uma argumentação que pudesse provar a verdade sobre Sócrates: não apenas uma opinião que pudesse ser debatida, mas um conhecimento verdadeiro. EXERCÍCIOS 1- Sócrates é pensador que marca o inicio do tempo filosófico. Antes de Sócrates já existia pensadores ilustres, que ficaram conhecidos como pré-socráticos. Qual a diferença entre o pensamento dos filósofos pré-socráticos e o pensamento de Sócrates? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 2- Os diálogos socráticos eram em sua grande maioria, diálogos críticos. Dois desses diálogos socráticos eram a maiêutica e a ironia. O que significa cada um desses diálogos? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 3- Várias pessoas foram fundamentais na preparação da formação intelectual de Sócrates. Mas os que mais o influenciaram foram seus pais. Qual a importância dos pais de Sócrates em sua filosofia? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 4- Contemporâneos de Sócrates, os sofistas também ensinavam em Atenas. Qual a visão que Sócrates tinha sobre eles? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 19 5- Acusado de corromper a juventude, Sócrates foi condenado à morte. De acordo com as tradições gregas o condenado poderia solicitar uma pena mais branda. Quais motivos levaram Sócrates a não fazer tal pedido? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 6- Tudo que sabemos da vida e do pensamento do filósofo grego Sócrates é proveniente de comentários que surgiram das obras dos seus principais seguidores. Nesse contexto, marque a alternativa que NÃO retrata um dos discípulos de Sócrates: a) Platão b) Aristófanes. c) Cícero. d) Xenofonte. 7- Sócrates nasceu em Atenas e foi lá que ele viveu toda a sua vida. Desde pequeno ele se manifestou como uma pessoa de bastante inteligência. Foi nesse período que alguns oráculos gregos afirmaram que Sócrates seria o mais sábio dos homens. E foi na filosofia que Sócrates se destacou, principalmente pelo seu método filosófico que era denominado de: a) Maiêutica. b) Episteme. c) Doxa. d) Alethéia. 8- (UFU-MG) Sócrates é tradicionalmente considerado um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que o antecederam são chamados de pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto “só sei que nada sei”, é a maiêutica que tem como objetivo: I – “dar luz a ideias novas, buscando o conceito”. II – partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento. III – encontrar as contradições das ideias para chegar ao conhecimento. IV – trazer as ideias do céu a terra. Assinale: a)Se apenas I e II estiverem corretas. b)Se apenas I e III estiverem corretas. c)Se apenas II, III e IV estiverem corretas. d)Se III e IV estiverem corretas. 20 e)Se I e IV estiverem corretas. 9- O método argumentativo de Sócrates (469 – 399 a.C.) consistia em dois momentos distintos: a ironia e a maiêutica. Sobre a ironia socrática, pode-se afirmar que: I – Torna o interlocutor um mestre na argumentação sofística. II – Leva o interlocutor à consciência de que seu saber era baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. III – tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor confessar suas próprias contradições e ignorâncias. IV – tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do interlocutor. Assinale: a)Se apenas a afirmação III é correta. b)Se as afirmações I e IV são corretas. c)Se apenas a afirmação IV é correta. d)Se as afirmações II e III são corretas. 10- Sócrates, com base no pressuposto “só sei que nada sei”, que consiste justamente de reconhecer sua própria ignorância, inicia a busca do saber. Por essa razão seu método começa pela fase considerada “destrutiva”, a ironia, indo na direção à maiêutica, para dar luz as novas ideias. Sócrates privilegia as questões morais, por isso o vemos em muitos diálogos perguntando em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Dessa forma, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição do conceito: Com base no texto e nos conhecimentos sobre a virtude em Sócrates, assinale a opção certa: I – Para Sócrates, a razão não deve dominar a parte inferior do ser humano, mas este deve avaliar e seguir os desejos que podem produzir mais satisfação. II- Para Sócrates, o erro e o mal vêm da ignorância. O verdadeiro conhecimento das coisas e de nós mesmos nos levará ao bem e à felicidade. III – O método de Sócrates consiste em construir definições que devem descobrir a essência imutável da realidade. IV – A frase “conhece-te a ti mesmo” no pensamento de Sócrates não tem importância. Para ele não se trata de conhecer os limites do ser humano, mas de buscar a verdade relativa a cada um. 21 Estão corretas as afirmativas: a) I e II; b) I e III; c) II e III; d) I, III e IV; e) II, III e IV; 11- Há uma famosa frase que o filósofo grego Sócrates, disse em um momento, "Só sei que nada sei”, Pois bem, essa frase sintetiza muito sobre a busca infinita que o homem tem que ter para construir o seu conhecimento. Nesse contexto é incorreto afirmar que: a) Quando Sócrates falou essa frase, ele se refere a inferioridade que todo o seu conhecimento tinha em relação ao conhecimento que o mundo pode ainda lhe oferecer. b) A frase mostra que o homem sempre tem que está buscando novas formas de conhecimento, sempre ampliando a sua inteligência. c) Podemos dizer que, quando Sócrates falou essa frase, ele reconheceu a sua própria ignorância como ponto de partida e abertura para o ato de sempre está em processo de construção do conhecimento. d) É válido ressaltar que, Sócrates estava preocupado em se autodenominar como o filosofo mais inteligente da Grécia naquele momento. 12- De acordo com o pensamento de Sócrates, a finalidade da vida é a felicidade, que estaria na capacidade do ser humano viver em busca do saber. Bem nesse contexto, a filosofia socrática tinha como finalidade: a)A busca pela discórdia na vida em sociedade. b)A construção do conhecimento individual. c)A busca pelo bem na vida em sociedade. d)Elaborar uma filosofia voltada apenas para os filósofos e intelectuais. 13- O instrumento racional utilizado pelo método socrático para o exercício de sua atividade intelectual e filosófica foi: a)Agressões Verbais. b)O Diálogo. c)A Intriga. d)O fingimento. 22 Platão 23 Platão Para Platão a busca pelo conhecimento verdadeiro deve ser entendida como a busca pela essência – aquilo que é eterno e imutável. Esse pensamento teve – e ainda tem – grande alcance no Ocidente. Pintores abstratos, por exemplo, concentraram seus trabalhos na busca por aquilo que eles pensavam ser a essência da pintura. Os primeiros escritos de Platão foram uma resposta à injusta condenação de Sócrates. Mas a influência de Sócrates sobre seu discípulo não se limitou a esse impulso inicial. Para Platão, o discurso não é mera expressão de uma opinião, devendo estar fundamentado naquilo que de fato existe ou existiu; naquilo que é, portanto, verdadeiro. Por isso pode-se dizer que Platão incorporou e desenvolveu os ensinamentos socráticos. Na tentativa de reproduzir as conversas que Sócrates mantinha, criou a forma do “dialogo”. Com ele pretendia mostrar que o conhecimento verdadeiro só pode ser atingido por meio da troca de ideias e do debate, incluindo a maiêutica e o uso da ironia. Segue trecho do livro A República, de Platão, no qual Sócrates explica em que consistiria exatamente a tarefa do filósofo de “amar o espetáculo da verdade”. (...) SÓCRATES: Acontece a mesma coisa com o justo e o injusto, o bom e o mau e todas as outras formas; cada uma delas, tomada em si mesma, é uma; porém, dado que entram em comunidade com ações, corpos e entre si mesmas, elas se revestem de mil formas que parecem multiplicá-las. GLAUCO: Tens razão. SÓCRATES: É neste sentido que eu diferencio, de um lado, os que amam os espetáculos, as artes e são os homens práticos; e, de outro, aqueles a quem nos referimos no nosso discurso, os únicos a quem com razão podemos denominar filósofos. No trecho, a personagem Sócrates afirma que existem o justo e o injusto, o bom e o mau, e cada uma dessas coisas, apesar de “se revestir de mil formas diferentes”, de fato é uma só. Em outras palavras, existe algo a que se chama Bom, e esse algo assume diversas características, na medida em que “entra em comunidade” com outras coisas, quer dizer, na medida em que caracteriza pessoas, objetos ou ações. Dessa forma, temos o homem bom, a ação boa, o cavalo bom. Em todos esses casos, o “bom” sempre existe, independentemente dos diversos itens que caracteriza. Chama-se a isso de forma: a forma Bom é única e eterna. Para Sócrates, algumas pessoas admiram as artes e os espetáculos, ou seja, os diversos modos como a realidade se apresenta, e se entretêm com eles. O filósofo, por sua vez, busca conhecer as formas e sua essência. A teoria das ideias de Platão A realidade concreta que o ser humano percebe no mundo, uma série de cores e formas, é para Platão, apenas uma cópia imperfeita daquilo que existe no mundo do pensamento, da abstração, o mundo das Ideias. A realidade que se apresenta a nossos sentidos, assim, é apenas “o que aparece”, isto é, simples “aparência” de coisas existentes no universo das Ideias. Como aparências, cópias, elas estão sujeitas ao envelhecimento e à destruição. As Ideias, ao contrário, são perfeitas e imutáveis, o fundamento e o modelo do mundo que se apresenta aos olhos (e aos demais sentidos) humanos. Como esse mundo é mera cópia, tudo que há nele tem seu correspondente verdadeiro, sua essência, na 24 dimensão das Ideias. Assim, por exemplo, o bem, a justiça, o belo, a temperança do mundo sensível têm sua origem no Bem, na Justiça, no Belo, na Temperança do mundo ideal. Esses atributos originários são o “Bem em si”, a “Justiça em si”, o “Belo em si”. Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a realidade imutável, igual a si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades dependentes, mutáveis e são imagens da realidade inteligível. Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas. Foi desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir a possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos. Para Platão, o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das Ideias. Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de sua categoria de uma Ideia perfeita. Uma determinada caneta, por exemplo, terá determinados atributos (cor, formato, tamanho etc). Outra caneta terá outros atributos, sendo ela também uma caneta, tanto quanto a outra. Aquilo que faz com que as duas sejam canetas é, para Platão, a Ideia de Caneta, perfeita, que esgota todas as possibilidades de ser caneta. A ontologia de Platão diz, então, que algo é na medida em que participa da Ideia desse objeto. No caso da caneta é irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou a justiça, por exemplo. Os dois mundos Platão defende a tese de que existem dois mundos diferentes: um que muda continuamente e que percebemos pelos sentidos, e outro que está livre de mudança. Esse mundo imutável somente é percebido pelo entendimento, com “os olhos da alma”. Nela, um grupo de homens acorrentados no fundo da caverna a ponto de não poder se mexer nem virar a cabeça, tomam por realidade as sombras que veem projetadas numa parede. Só descobrem o engano quando saem da prisão subterrânea e sobem para o mundo verdadeiro, iluminado pela luz do Sol. Para Platão, o mundo sensível, captado pelos sentidos, é como o fundo da caverna, onde e vive na ilusão, na ignorância. Ao ascender e ver luz (a verdade) que torna visíveis as coisas, o homem compreende que ela provém do Sol (o Bem supremo). Essa compreensão conduz o ser humano, pela razão, ao mundo inteligível, tirando-o da ignorância. A tese da existência de um mundo das Ideias diferente do mundo real levantou um problema que tem ocupado filósofos e matemáticos até os dias atuais: a independência e a objetividade das estruturas formais sobre as quais se constrói boa parte do saber cientifico. A alma e as três formas de conhecer Platão situa o conhecimento em uma base de natureza não-corpórea: a alma. Imortal e imutável, a alma dá movimento ao corpo, anima-o sendo responsável, assim, pela razão, que conduz à sabedoria, e pelas demais coisas que se passam no corpo, como apetites, paixões e desejos. Para Platão, atributos tão distintos estão organizados na alma em três partes, cada qual com uma atribuição: a) a concupiscente é a parte maior, sede das paixões e dos desejos, como amar, comer, beber; b) a irascível é a sede da raiva contra tudo aquilo que ameace a vida, sendo, portanto, responsável pela sobrevivência do homem; c) a inteligível ou racional é a sede da razão, capaz de conhecimento. Para explicar melhor essa tese, Platão criou a alegoria da caverna (A República, Livro VII). 25 AS SOMBRAS DA VIDA 26 Matrix e O Mito da Caverna Séculos atrás, Platão escreveu dentro de sua obra A Republica, a alegoria O Mito da Caverna, e séculos depois no ano de 1999 dois diretores de cinema, os irmãos Wachouski nos brindaram com o clássico cinematográfico Matrix, um abismo de séculos separa o texto de Platão e o filme, porem as duas obras possuem características semelhantes. No texto de Platão os personagens estavam presos numa caverna, imóveis, privados do mundo que os cercava, apenas sussurros e sombras em relance chegavam a eles, certo dia um deles escapou daquele lugar, e chegou ao mundo fora da escuridão da caverna, levou um choque ao se defrontar com a realidade, com a luminosidade do Sol, mas com o tempo se adaptou, e por compaixão para com seus antigos companheiros resolveu voltar a caverna para contar-lhes que existia outro mundo fora daquele antro de escuridão. Porem lá chegando não deram ouvidos a ele, e ainda o chamaram de louco, pois os habitantes da caverna estavam tão enraizados aquele lugar, que não admitiam a existência de um mundo exterior. Já no filme dos irmãos Wachouski a mente dos seres humanos está aprisionada num programa denominado Matrix, programa este que simulava uma realidade humana quase perfeita, enquanto a energia provinda dos impulsos elétricos de seus corpos era sugada por maquinas que dominavam o mundo real, um mundo pós-apocaliptico, o deserto real. Neo, personagem principal do longametragem Matrix pode ser comparado ao grande filosofo Sócrates, porque Neo assim como Sócrates, narrados da alegoria platônica, questionava profundamente o sistema que o cercava, da mesma forma que Sócrates se empenhava em “acordar” o pensamento dos outros, Neo buscava despertar as pessoas para a realidade fora da Matrix, e acima de tudo, ele sempre buscava conhecer a si mesmo, no caso conhecer a realidade da Matrix, assim como dizia Sócrates em sua célebre frase “conhece-te a ti mesmo”. Tanto no texto O Mito da Caverna quanto no filme Matrix, o enredo nos apresenta personagens presos num mundo que consideram real e verdadeiro, mas na verdade estão vivendo num mundo não condizente com a realidade, estão vivendo num simulacro. A filosofia no poder: os reis-filósofos Na juventude, Platão alimentou o ideal de participação política em Atenas. Depois, desiludido com a democracia ateniense, confessou: Deixei levar-me por ilusões que nada tinham de espantosas por causa de minha juventude. Imaginava a cidade reconduzindo-a dos caminhos da injustiça para os da justiça. Abraçando a filosofia, adotou um novo ideal: Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida pública e na vida privada. Para Platão, somente os filósofo, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria. Por isso, no seu livro A República, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos. Seriam pessoas capazes de atingir o mais alto conhecimento do mundo das Ideias, que consiste na ideia do Bem. 27 EXERCÍCIOS 1- “Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situação, você acha que os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na parede ao fundo da caverna?”. (PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002. p. 83). Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for incorreto. a) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das Ideias. b) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível; o primeiro ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam daquelas Ideias ou são suas cópias imperfeitas. c) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade. d) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam em cavernas. 2- Ainda considerando a aplicação do mito à relação entre conhecimento sensível e inteligível, devemos comparar o Sol, que o prisioneiro libertado da caverna afinal contempla do lado de fora com: a) A Zeus. b) A Deus. c) Ao governante da cidade justa, o rei filósofo. d) A ideia de Bem. 28 3- A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por Platão. Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das ideias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Como funciona tal teoria platônica? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4- Platão além do desenvolvimento da sua teoria do conhecimento, também trabalhou a parte política. Seu modelo de representante ideal para governar a cidade-Estado era o rei-filósofo. Explique o porque dessa escolha. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5- Qual a semelhança entre a obra de Platão e o filme dos irmão Wachouski? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 29 Aristóteles e o mundo sensível 30 Observe a gravura A cascata, do artista holandês Maurits C. Escher (18981972). Na imagem, água está subindo ou descendo? A sensação de estranhamento que experimentamos ao observar a imagem certamente se deve ao fato de que a imagem parece nos enganar, constituindo-se em verdadeiro desafio à razão e aos sentidos. Fugir do engano, do erro foi a principal meta dos filósofos gregos, que em geral valorizaram muito o papel da razão para conseguir isso. Platão, por exemplo, associou o mundo sensível ao engano, propondo a superação desse mundo em favor de outro – o mundo, das Ideias perfeitas e imutáveis. Mas o pensamento platônico embora muito difundido, encontrou a resistência de um discípulo de Platão que também teve profunda e duradoura influencia sobre o Ocidente: Aristóteles. 31 Quem foi Aristóteles? Aristóteles (384-322 a.C.) foi um pensador originário de Estagira, cidade macedônica intensamente helenizada (isto é, influenciada pela cultura grega). Antes dos 20 anos, mudou-se para Atenas e ingressou na Academia de Platão. Seu pai era médico, o que parece ter influenciado Aristóteles, principalmente no que diz respeito à sua capacidade de observação e de tentar obter informações ou desenvolver modelos teóricos a partir dos “sintomas” que se apresentam diante dos sentidos. Por ser um meteco (estrangeiro vivendo em Atenas), Aristóteles não possuía os direitos políticos dos cidadãos atenienses. Dessa forma, sua com a democracia grega se limitou à especulação teórica. Mais isso não diminuiu sua importância política, já que, devido à sua origem e à proximidade entre sua família e os governantes da Macedônia, Aristóteles foi escolhido para ser preceptor do jovem príncipe Alexandre, que mais tarde iria conquistar um vasto império e o governaria com o titulo de Alexandre, o Grande. Em Atenas fundou uma escola chamada Liceu, que rivalizaria com a Academia de Platão. Por essa época seus discípulos eram chamados de peripatéticos (que significa “os que passeiam”), devido ao hábito de realizar debates enquanto caminhavam. Foi autor de extensa obra, e muitos dos seus escritos chegaram até nós, seja de forma fragmentada ou integral. Dentre eles, destacam-se o Organon (que inclui os textos sobre Lógica); Ética a Nicômaco: Política (sobre Ética e Política): Física (sobre o mundo natural; e Poética (que inclui suas ideias sobre Estética). A oposição a Platão O pensamento de Aristóteles se opõe ao de Platão em diversos aspectos. O principal deles certamente é a importância dada aos sentidos (visão, olfato, tato, etc.) para se alcançar o conhecimento. Platão afirmava a superioridade do mundo das ideias sobre o mundo das coisas: o que vemos à nossa volta seria reflexo das formas eternas e imutáveis que podem ser conhecidas porque também existem em nossa alma. Para Aristóteles, dá-se exatamente o contrário: as imagens que formamos em nosso pensamento surgem a partir de um contato prévio com as coisas materiais, que são captadas pelos órgãos dos sentidos. Além disso, Platão dizia que as ideias eram inatas. Para Aristóteles, a razão era inata: todos os homens nascem com a razão, que lhes dá capacidade de ordenar e classificar todas as coisas do mundo conforme são percebidas pelos sentidos. Portanto, Aristóteles preocupava-se, sobretudo, com a natureza, com a sua observação e com classificação de seus fenômenos. De acordo com Aristóteles, as coisa, as coisas apresentam diversos modos de ser. Um touro, por exemplo, é ao mesmo tempo: forte, preto, bravo, touro. Ou seja, ele pode ser caracterizado por diversas categorias. Dessas, a mais substancial é o touro em si, pois é da sua existência ou da sua individualidade que derivam as demais. Nesse caso, o touro é uma substância (uma categoria), sua cor preta é uma qualidade (outra categoria), sua força é uma quantidade (outra categoria). Aristóteles definiu dez categorias, ou seja, dez formas de se caracterizar a substância (o sujeito individual): substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lugar, situação, ação, paixão e possessão. Dessa forma, o mundo seria composto de substâncias distintas, mas que são caracterizadas por categorias comuns a 32 outras substâncias. Segundo Platão, essas qualidades comuns derivavam de uma Ideia transcendente (por exemplo, a ideia de Belo, a ideia de Branco); já para Aristóteles, essas qualidades eram apenas categorias universais percebidas pela razão no mundo concreto. árvore; a criança surgiu de um casal de adultos. A causa é tudo aquilo que contribui para que um ser se torne real. Aristóteles distinguiu: Causa material: o material de que algo é feito (madeira, mármore, carne e osso); Causa formal: referente à forma (árvore, homem, touro); Causa eficiente: responsável por realizar a potencialidade de uma matéria; Causa final: o objetivo ou finalidade do desenvolvimento de uma forma. O mundo material Segundo Aristóteles, as substancias apresentam certas peculiaridades. Uma substância não é apenas certa quantidade de matéria; ela também apresenta uma forma. A matéria é um suporte passivo que precisa de uma forma para tornar-se uma coisa; já a forma é algo que pode ser percebido pela razão a partir da observação. A substância touro só é percebida como tal porque conhecemos a forma touro. Mas a forma é também uma principio de funcionamento, que faz com que as coisas estejam sempre mudando e se aperfeiçoando. Assim, a forma árvore está contida na semente, o adulto está contido na criança. Nesses exemplos, a árvore e o adulto representam a essência de uma forma. Todas as coisas existem em potência e em ato: enquanto uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outro (semente), a coisa em ato é algo que já está realizado (árvore). Nesse sentido, cada forma especifica contém uma dinâmica interior, um movimento que faz com que ela passe da potencialidade à realidade. Essa divisão ficou conhecida como teoria das quatro causas. O movimento da potencialidade à realidade ocorre tanto na natureza quanto nas ações humanas. Aristóteles ilustra isso como exemplo de um escultor (causa eficiente) de uma estátua de mármore (causa material), que representa o deus Hermes (causa formal) com a intenção de criar uma forma de troféu (causa final). No que se refere à natureza, surge a questão de qual seria a causa eficiente e qual seria a causa final dos movimentos observados no universo. É nesse ponto que se chega ao conceito de Deus – a Causa Primeira de tudo o que existe. Mas de onde viria essa dinâmica interior ou movimento? Ora, cada potencialidade surgiu necessariamente de uma causa externa, ou seja, de uma forma já desenvolvida: a semente surgiu de uma 33 EXERCÍCIOS 1- Com base no trecho que segue, diga qual a importância da razão e dos sentidos para Aristóteles. “Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporcionam os nossos sentidos; pois, ainda que não levemos em conta sua utilidade, são estimados por si mesmos; e, acima de todos, o sentido da visão. (...) Por outro lado, não identificamos nenhum dos sentidos com a sabedoria, se bem que eles nos proporcionem o conhecimento mais fidedigno do particular. Não nos dizem, contudo, o porquê de coisa alguma.” ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2- Segundo Aristóteles qual a diferença entre matéria e forma? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3-Aristóteles resolveu muito satisfatoriamente uma questão que preocupou muito os filósofos anteriores a ele: a da mudança. Afirmou que um objeto pode mudar e continuar “sendo” e apontou quatro causas para o movimento interior que resulta nas transformações da matéria. Quais seriam essas causas? De um exemplo com cada uma delas. 34 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4- Aristóteles figura entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental. Aristóteles prestou contribuições fundamentais em diversas áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural e matemática. Sobre o pensamento aristotélico é correto afirmar: a) Assim com Sócrates e Platão, Aristóteles acreditava que o conhecimento era inato, que tudo que conhecemos já contemplamos no mundo ideal e a morte é a liberdade da alma. b) Aluno de Platão, Aristóteles concorda plenamente com as ideias do mestre. Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato , o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. c) Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato , o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. d) Aristóteles defende a existência de dois mundos: este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós e outro que esta com a liberdade da alma na contemplação do mundo ideal ou perfeito. 5-Para Aristóteles, em Ética a Nicômaco, "felicidade [...] é uma atividade virtuosa da alma, de certa espécie". Assinale a alternativa que NÃO condiz com a referida definição aristotélica de felicidade: a) Felicidade só é possível mediante uma capacidade racional, própria do homem. b) Ter felicidade é obter coisas nobres e boas da vida que só são alcançadas pelos que agem retamente. c) Felicidade é uma fantasia que o homem cria para si e para o outro para encontrar o Bem. d) A finalidade das ações humanas, o Bem do homem, é a felicidade. 35 Santo Agostinho A Filosofia Medieval A Filosofia Medieval a partir do século IX é chamada escolástica. Ensinada nas escolas ou nas universidades próximas das catedrais, a filosofia escolástica tinha por problema fundamental levar o homem a compreender a verdade revelada pelo exercício da razão, todavia apoiado na autoridade (Auctoritas), seja da Bíblia, seja de um padre da Igreja, seja de um sistema de filosofia pagã. A fermentação intelectual e o interesse pelo racional na escolástica evidenciam-se pela criação de universidades por toda a Europa; o método de exposição das ideias filosóficas nessas escolas era a disputa: uma tese era colocada e passava-se a refutála ou a defendê-la com argumentos retirados de alguma autoridade. Um tema recorrente na filosofia escolástica foi a demonstração racional da existência de Deus.O apogeu da escolástica acontece no século XIII com Santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o pensamento de Aristóteles, fez a síntese mais fecunda da filosofia com o cristianismo na Filosofia Medieval. A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o pensamento filosófico greco- romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta 36 frase: "Credo ut intelligam" (Creio para entender). Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do cristianismo e formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria auxiliar da fé e estaria a ela Teoria do conhecimento em Santo Agostinho Santo Agostinho nasceu em Tagaste em 354. Agostinho é fruto de uma família dividida entre uma mãe cristã e piedosa e um pai pagão de caráter duro e difícil. A história da filosofia nos revela que a teoria do conhecimento em Santo Agostinho constitui-se numa aproximação entre legado da cultura clássica em especial Sócrates, Platão e Aristóteles com o cristianismo e procura orientar o homem em direção a Deus. Nesse caminhar o pensamento platônico tornaram um dos pilares de sustentação da doutrina cristã. O próprio Santo Agostinho reconhece sua dívida com o pensamento de Platão ao afirmar que: [...] No momento, dizer que Platão estabeleceu que o fim do bem é viver de acordo com a virtude, o que pode conseguir apenas quem conhece e imita Deus, e que tal é a única fonte de sua felicidade. Eis por que não teme dizer que filosofar é amar a Deus, cuja natureza é incorpórea. Donde se depreende que o estudioso da sabedoria (o filósofo) será feliz precisamente quando começar a subordinada. A fé, para Santo Agostinho, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os olhos que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os problemas que Deus deixou para nossas livres discussões. gozar de Deus, embora no momento não seja feliz o que goza do que ama. Muitos, amando o que não se deve amar, são miseráveis; e mais miseráveis ainda, quando dele gozam. Contudo, ninguém será feliz, se não goza do que ama. Isso, porque os mesmos que amam as coisas que se não devem amar, não se julgam felizes, amando-as, mas gozando-as. Não é feliz, por conseguinte, quem goza do que ama e ama o verdadeiro e soberano bem? Não é o cúmulo da miséria negálo? Ora, o verdadeiro e soberano bem é Deus mesmo, di-lo Platão. Por isso quer que o filósofo tenha amor a Deus, pois se a felicidade é o fim da filosofia, gozar de Deus, amar a Deus é ser feliz. AGOSTINHO p. 311 Fica explícita na obra de Santo Agostinho a estreita relação entre o pensamento cristão com o legado de Platão. Avançando nessa leitura, observase que muitos filósofos usaram a inteligência para entender as causas das coisas, já os filósofos que trilham no caminho de Platão, conheceram a Deus e nele encontraram a causa do universo, a luz da verdade, a fonte da felicidade. Embora os platônicos tenham encontrada a causa do universo e 37 conhecido à fonte de felicidade falta a figura de Cristo nesse pensamento. Nesse contexto afirma Santo Agostinho: Querendo Vós mostrar-me primeiramente como “resistis aos soberbos e dais graça aos humildes” e quão grande seja a misericórdia com que ensinaste aos homens o caminho da humanidade, por “se ter feito carne o Vosso Verbo e ter habitado entre os homens, me deparastes, por intermédio de um certo homem, intumescido por monstruoso orgulho, alguns livros platônicos, traduzidos do grego em latim. Neles li, não com estas mesmas palavras, mas provado com muitos e numerosos argumentos, que ao princípio era o Verbo e o Verbo existia em Deus e Deus era o Verbo: e este, no princípio existia em Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada foi criado. O que foi feito, n’Ele é vida e a vida era a luz dos homens; a luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam. A alma do homem, ainda que dê testemunho da luz, não é, porém, a luz; mas o Verbo – Deus – é a Luz verdadeira que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Estava neste mundo que foi feito por Ele, e o mundo não o Conheceu. – Porém que veio par o que era seu e os seus não o receberam; que a todos os que o receberam lhes deu poder de fazerem filhos de Deus ao que crescessem em seu nome – isto não li naqueles livros. Do mesmo modo, li nesse lugar que o Verbo Deus não nasceu da carne, nem do sangue, nem da vontade do homem, mas de Deus. Porém que o Verbo se fez homem e habitou entre nós, isso não li eu aí. Descobri naqueles escritos, expresso de muitos e variados modos, que o Filho, “existindo com a forma do Pai, não considerou como usurpação ser igual a Deus”, porque o é por natureza. Porém aqueles livros não trazem que “se aniquilou a si mesmo tomando a forma de escravo, feito à imagem dos homens e sendo julgado, no exterior, como um homem”. Não dizem que “se humilhou fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz, pelo que Deus o exaltou dos mortos, para que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos e toda a língua confesse que o Senhor Jesus está na glória de Deus Pai”. AGOSTINHO, p. 151-152. Seguindo a dicotomia platônica – o mundo das Ideias/mundo sensível – o trecho citado nos aponta para a ideia de mediador. Para Platão o acesso ao mundo das Ideias limita-se a um exercício ascensional exclusivo da alma humana. Nesta dicotomia, fica claro que os dois mundo devem permanecer separados para que a alma possa ascender e abandonar o mundo das sombras. Essa comparação serve de base para situar a teoria do conhecimento de Santo Agostinho. Para refletirmos sobre a teoria do conhecimento proposto no pensamento de Agostinho precisamos ver como o filósofo define a natureza humana. Para ele o homem constitui-se numa unidade substancial de corpo e alma, no qual esta se utiliza daquela. Conforme Etienne Gilson (1998: p. 146) a definição do homem dialeticamente justificada por Platão no Alcibíades e retomada em seguida por Plotino exerceu sobre o pensamento de Agostinho uma influência decisiva: o homem é uma alma que se serve de um corpo. Quando fala como cristão, toma o cuidado de lembrar que o homem é a unidade da alma e do corpo; quando filosofa, volta a Platão. Bem mais, retém essa definição com as 38 consequências lógicas que ela comporta a principal das quais é a transcendência hierárquica da alma sobre o corpo. Presente inteira no corpo inteiro, a alma, porém, só lhe é única pela ação que exerce incessantemente sobre ele para vivificá-lo. Nesse caminhar temos que a alma por si só é uma substância completa e a união com o corpo tem por objetivo formar uma nova substância para se unir com a natureza suprema de Deus. Portanto, no pensamento agostiniano não separa teoria do conhecimento da participação direta da iluminação divina. Porém para entendermos a participação do homem na construção do conhecimento precisamos a atuação das faculdades da alma humana. São os três aspectos do homem que se revelam nas três faculdades da alma, a memória, a inteligência e a vontade, as quais conjuntamente, e cada uma por si, constituem a vida, a mente e a substância da alma. Sobre essa questão assim se expressa Santo Agostinho: Eu recordo por ter memória, inteligência e vontade; entendo por compreender, querer e recordar; e quero querer, recordar e compreender. E recordo toda a minha memória, toda a inteligência e toda a vontade e do mesmo modo compreendo e quero todas estas três coisas; as quais coincidem plenamente e, não obstante a sua distinção, constituem uma unidade, uma só mente e uma só essência. Nesta unidade da alma que se diferencia nas suas faculdades, cada uma das quais compreende as outras, está à imagem da trindade divina; imagem desigual ma imagem. (Cf. ABBAGNANO: 1992, P. 186) Desse modo podemos refletir sobre a questão do conhecimento em Santo Agostinho afirmando que dentro da tradição platônica existem duas formas para a obtenção de conhecimento. Aquele que se originam das funções dos sentidos apreendendo os objetos exteriores que estão sujeitos à mutabilidade e a temporalidade. Nesse registro, os elementos percebidos pelos sentidos são levados á memória e organizados pelo homem. Se os objetos exteriores estimulam nossos sentidos, nossos órgãos sensoriais sofrem suas ações, mas, como a alma é superior ao corpo e como o inferior não pode agir sobre o superior, ela mesma não sofre a influência alguma deles. Acontece então o seguinte: graças à vigilância severa que exerce a alma não deixa passar despercebida essa modificação de seu corpo. Sem nada sofrer da parte do corpo, mas, ao contrário, por sua atividade própria, ela extrai com uma maravilhosa prontidão de sua própria substância imagem semelhante ao objeto. É o que se chama de sensação. As sensações são, pois, ações que alma exerce, não paixões que ela sofre. (Cf. Etienne Gilson 1998: p. 146) Santo Agostinho não coloca a questão da impossibilidade do conhecimento cuja origem encontra-se nas sensações. Seguindo a lógica hierárquica, coloca esse conhecimento num registro inferior ao inteligível. Esse pensamento remete ao platonismo no que diz respeito a luz física enquanto elemento indispensável para o conhecimento dos objetos sensíveis. Quando apresentadas estas duas formas de conhecimento, Santo Agostinho elabora uma distinção entre o objeto que se dá a conhecer e o conhecimento que temos do objeto. Em seu pensamento, sensação é uma forma de conhecimento espiritual; por outro lado, o objeto 39 sensível é algo corporal. O objeto sensível é atingido pela sensação, da qual ele é a causa. O conhecimento inteligível é aquele que só pode ser percebido pela mente humana e somente por meio da reflexão. Nesse modelo de conhecimento, o filósofo explicita que o conhecimento da verdade imutável é possível pela iluminação divina. Agostinho pensa na existência de uma luz interior como verdadeira fonte de verdade, e os objetos sensíveis como as palavras como momentos no qual manifesta a Iluminação. Em sua obra O Mestre (2008) afirma que sobre as muitas coisas que entendemos consultamos não aquelas cujas palavras soam no exterior, mas a verdade que interiormente preside à própria mente movidos talvez pelas palavras para que consultemos. E quem é consultado ensina, o qual é Cristo que, como se diz, habita no homem interior, isto é, virtude incomutável de Deus e a eterna sabedoria, que toda alma racional consulta, mas que se revela a cada alma o quanto esta possa abranger em função da sua própria boa ou má vontade. E se às vezes há enganos, isto ao decorre por erro da verdade consultada, como tampouco da luz exterior, pela qual os olhos com frequência e enganam; confessamos que consultamos esta luz a respeito das coisas visíveis para que no-las mostre à medida que as possamos ver. Se, no que diz respeito às cores, consultamos a luz e, no que diz respeito às outras coisas que sentimos através do corpo, consultamos os elementos deste mundo e os mesmos corpos que sentimos e os próprios sentidos, dos quais a mente usa como intérpretes para conhecer tais coisas; porém, a respeito das coisas que se conhecem pela inteligência, consultamos a verdade interior por meio da razão; como se pode dizer com clareza que com as palavras aprendemos algo além do próprio som que repercute nos ouvidos? Pois todas as coisas que percebemos, percebemos-las pelos sentidos do corpo ou pela mente. Aquelas denominamos sensíveis e estas inteligíveis ou, para falar conforme o costumes de nossos autores, aquelas denominamos carnais e estas espirituais. Quando se coloca a questão do conhecimento superior, Platão se faz presente sempre. Se para o filósofo grego o conhecimento é produto de uma ação dialética, de uma ascese espiritual, limitado a alma, para Santo Agostinho é pura graça de Deus, o que não exclui o caráter filosófico que é a reflexão. Assim, podemos conhecer as verdades eternas por um contato com Deus. A alma neste contexto faz um movimento de fora para dentro de si mesmo e se abre para Deus, a verdade transcendente. O caminho que se percorre aponta para o intermediário Cristo. A filosofia de Santo Agostinho por si só constitui um conteúdo vastíssimo e rico que demanda muitos estudos. Porém o diálogo com outros filósofos nos ajuda a situarmos a questão do conhecimento num contexto mais amplo que atravessa os períodos da história da filosofia. Maurice MerleauPonty (1971) sobre a questão do corpo afirma em sua obra Fenomenologia da percepção que afirma: “(...) É pelo meu corpo que compreendo o outro, como é pelo meu corpo que compreendo as coisas (...)”. Pudesse dizer que o corpo é a forma escondida do ser próprio. Se dizemos que o corpo a cada momento exprime a existência, é no sentido de que a fala exprime o pensamento. (...) O homem pode falar assim como a lâmpada pode 40 tornar-se incandescente. (...) A predominância de vogais numa língua, das consoantes numa outra, os sistemas de construção e sintaxe não representariam tanto convenções arbitrárias para exprimir o mesmo pensamento, mas várias maneiras de o corpo humano celebrar o mundo e finalmente vivê-lo. (...) a palavra é um verdadeiro gesto e contém sentido, como o gesto também contém o seu. É o que torna possível a comunicação. Para que eu compreenda as palavras do outro, é necessário que eu compreenda seu vocabulário, sua sintaxe. (...) Toda linguagem, em suma, ensina-se por si mesma e introduz sentido no espírito do ouvinte. Uma música ou uma pintura que não é inicialmente compreendida acaba por criar ela mesma seu público, caso diga alguma coisa. (...) A comunicação ou a compreensão dos gestos se obtém pela reciprocidade de minhas interações e gestos do outro, de meus atos e das intenções legíveis na conduta do outro. (...) Tudo ocorre como se a intenção do outro habitasse meu corpo ou como se minhas intenções habitassem o seu. (...) O gesto está diante de mim como uma pergunta, ele me indica alguns pontos sensíveis do mundo, ele me convida a encontrá-lo lá. A comunicação se completa quando minha conduta encontra neste caminho seu próprio caminho. Há confirmação do outro por mim e de mim pelo outro, um poder pensar segundo o outro que enriquece nossos próprios pensamentos. (...) Nossa vista sobre o homem restará superficial enquanto não (...) encontrarmos, sob o barulho das palavras, o silêncio primordial, enquanto não descrevermos o gesto que rompe este silêncio. A palavra é um gesto e sua significação, um mundo”. No pensamento de Agostinho é possível encontrar questões como a origem do mal, o pecado original e o tema da predestinação. O problema do mal O mal em Agostinho é o amor por si mesmo e o bem é o amor por Deus. Os homens que vivem para amar Deus formam a Cidade de Deus e os homens que vivem para amar a si mesmo formam a Cidade dos Homens. Na cidade de Deus vive-se segundo as regras do espírito e na cidade dos homens vive-se segundo as regras da carne. As duas cidades vivem mescladas uma com a outra desde que iniciou a história da humanidade e assim ficarão até o fim dos tempos. Cada ser humano tem que se questionar para saber a qual das duas ele faz parte. Deus não criou o mal. Agostinho acreditava que um ser em que só pode residir o bem não pode ser o criador do mal. Tudo que existe é bom e o mal é a ausência desse bem, é a ausência de Deus. Deus nos concedeu o Livre-Arbítrio, que é a nossa capacidade de decidir conforme nosso entendimento, e é dele que vem o mal. Deus nos criou independentes para que pudéssemos decidir por nossa vontade e através de nossa liberdade escolher o bem e não o mal. Quando o homem escolhe o mal ele se afasta de Deus. 41 EXERCÍCIOS 1-Quais as linhas de pensamento que mais influenciaram o pensamento de Agostinho? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2-Onde esta contida as verdades eternas segundo Agostinho de Hipona? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3 - Leia o trecho extraído da obra Confissões. Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está gravada dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas. SANTO AGOSTINHO. Confissões IX. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154. Coleção Os Pensadores . Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a alternativa correta. a) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos imediatamente as verdades eternas em Deus. Essas verdades, necessárias e eternas, não estão no interior do homem, porque seu intelecto é contingente e mutável. b) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto humano, deixando-o ativo para o conhecimento das verdades eternas. Essas verdades, necessárias e imutáveis, estão no interior do homem. c) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas que a alma possuía e que nela permanecem mediante os ciclos da reencarnação. d) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas que a alma possuía antes de se unir ao corpo. 42 4 - A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o pensamento filosófico greco-romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta frase: "Credo ut intelligam" (Creio para entender). A esse respeito, assinale o que for incorreto. (1,0) a) Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do cristianismo e formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. b) Para Santo Agostinho, fé e razão são inconciliáveis, pois os mistérios da fé são insondáveis e manifestam-se como uma loucura para a razão humana. c) Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria auxiliar da fé e estaria a ela subordinada. d) A fé, para Santo Agostinho, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os olhos que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os problemas que Deus deixou para nossas livres discussões. 5 - Explique o conceito de mal ontológico para Agostinho. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 6 - Qual a visão de Agostinho sobre o mal moral? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 43 Tomás de Aquino 9º Fund. II Tomás de Aquino nasceu em 1225 no reino da Sicília e morreu em 1274. Santo Tomás de Aquino marcou sua posição na história da filosofia ao conciliar o pensamento de Aristóteles com a doutrina Cristã. No contexto em que vivia15, um dos problemas que se colocava era o problema da relação entre filosofia e teologia, entre o conhecimento filosófico, obtido pela razão, e as verdades da teologia, fundamentadas na revelação. O pensamento de Tomás de Aquino caminha no sentido de mostrar que a filosofia como forma de conhecimento não poderia mais ser concebida como uma simples serva, pois, tinha o seu objeto de estudo, ou seja, o mundo natural cujo instrumento para se chegar ao conhecimento era a razão. A teologia também possuía o seu objeto de estudo que era a realidade sobrenatural alcançada com a fé, instrumento de sua fundamentação. Nessa relação entre filosofia e teologia distinguem-se duas formas de conhecimento, o sobrenatural que tem a sua origem na revelação divina e o conhecimento sensível que tem a sua origem na razão humana. 44 A concepção de homem no pensamento de Tomás de Aquino se faz necessário. O homem é o ponto de convergência de toda a criação. Nele se encerram de algum modo, todas as coisas. A razão lhe permite penetrar no mundo dos espíritos, as energias sensitivas lhe são comuns com os animais, as forças vitais com as plantas, e o corpo fá-lo aproximar-se dos seres inanimados. Como ser composto de todos os seres, o homem defronta a filosofia com um problema peculiar: o de usa unidade. A natureza do homem é formada por alma e corpo. O corpo faz parte também de sua essência, pois, além de entender, sente, e o sentir não é uma ação da alma isolada da matéria, que é o corpo. No homem subsiste a forma intelectiva da alma, a qual desempenha as funções sensitivas e vegetativas. A união entre corpo e alma deve expressar as ações humanas. O conhecimento sensível tem um lugar de destaque no pensamento de Tomás de Aquino, constitui-se a base no qual se eleva o conhecimento intelectivo. Na base dessa construção o filósofo estabelece os componentes do conhecimento sensível: sentidos próprios e sentido comum, imaginação, memória e razão particular ou intelecto passivo. Estes constituem uma hierarquia nessa construção sob a qual eleva o conhecimento intelectivo. Tomás de Aquino define sentidos próprios àqueles particulares possuidores de um objeto próprio. Cada sentido em particular é marcado pelo objeto sensível. A cada sentido particular corresponde a uma forma, por exemplo, cor, som, que são percebidas como forma imaterial. Quanto mais imaterial foi a ação do objeto sobre um sentido particular, mais elevada é sua posição na hierarquia dos sentidos. Nesta hierarquia a sensação mais baixa é o do tato, que atua por meio do contato imediato com o objeto. Mais acima esta o gosto, cuja sensação não tem efeito de tornar a língua doce ou amarga; mas este sentido é alterado imediatamente pelo objeto, pois, a sensação gustativa só é possível pelo umedecimento da língua. Mais longe da matéria encontram se as sensações auditivas e alfativas, pois o órgão sensorial não sofre nenhuma alteração material, somente o objeto sensível está sujeito à mudança. O Sentido mais elevado é o da visão, que não sofre influência por nenhuma alteração no objeto sensível, e que percebe tanto as substâncias perecíveis como certas substâncias imperecíveis. O sentido comum tem a função de perceber todas as impressões e, além disso, o próprio ato da sensação. O sentido particular não consegue distinguir entre a cor e o gosto. A imaginação é a faculdade capaz de reter com sua força representativa, as imagens das coisas sensíveis. A memória tem cumpre a sua função ao tornar o homem capaz de reapresentar ou evocar o que foi apreendido e conservado. Razão particular ou intelecto passivo visa as intenções individuais, faz as vezes do instinto no ser humano. O homem dispõe de uma faculdade primitiva de julgamento, que lhe permite constatar o que lhe é vantajoso ou nocivo. Seus juízos sempre dizem respeito a situações e objetos concretos. 45 Filosofia Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na Escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: a Summa theologiae e a Summa contra gentiles. A partir dele, a Igreja tem uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. Explica que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus, o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a privação ou ausência do bem. Com o uso da razão é possível demonstrar a existência de Deus, para isto propõe as 5 vias de demonstração: Primeira via Primeiro motor imóvel: tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido. Segunda via Causa primária: decorre da relação "causa-e-efeito" que se observa nas coisas criadas. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita. Terceira via Ser necessário: existem seres que podem ser ou não ser (contingentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, logo é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser. Quarta via Ser perfeito: verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a causa da perfeição dos demais seres. Quinta via Inteligência ordenadora: existe uma ordem no universo que é facilmente verificada, ora toda ordem é fruto de uma inteligência, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos, logo há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada. 46 A verdade "A verdade é definida como a conformidade da coisa com a inteligência". Tomás de Aquino concluiu que a descoberta da verdade ia além do que é visível. Antigos filósofos acreditavam que era verdade somente o que poderia ser visto. Aquino já questiona que a verdade era todas as coisas porque todas são reais, visíveis ou invisíveis, exemplificando: uma pedra que está no fundo do oceano não deixa de ser uma pedra real e verdadeira só porque não pode ser vista. Aquino concorda e aprimora Agostinho de Hipona quando diz que "A verdade é o meio pelo qual se manifesta aquilo que é". A verdade está nas coisas e no intelecto e ambas convergem junto com o ser. O "não-ser" não pode ser verdade até o intelecto o tornar conhecida, ou seja, isso é apreendido através da razão. Aquino chega a conclusão que só se pode conhecer a verdade se você conhece o que é o ser. A verdade é uma virtude como diz Aristóteles, porém o bem é posterior a verdade. Isso porque a verdade está mais próximo do ser, mais intimamente e o que o sujeito ser do bem depende do intelecto, "racionalmente a verdade é anterior". Exemplificando: o intelecto apreende o ser em si; depois, a definição do ser, por último a apetência do ser. Ou seja, primeiramente a noção do ser; depois, a construção da verdade, por fim, o bem. Sobre a eternidade da verdade ele, Tomás, discorda em partes com Agostinho. Para Agostinho a verdade é definitiva. Imutável. Já para Aquino, a verdade é a consequência de fatos causados no passado. Então na supressão desses fatos à verdade deixa de existir. O exemplo que Tomás de Aquino traz é o seguinte: A frase "Sócrates está sentado" é a verdade. Seja por uma matéria, uma observação ou analise, mas ele está sentado. Ao se levantar, ficando de pé, ele deixa de estar sentado. Alterando a verdade para a segunda opção, mudando a primeira. Contudo, ambos concordam que na verdade divina a verdade por não ter sido criada, já que Deus sempre existiu, não pode ser desfeita no passado e então é imutável. 47 EXERCÍCIOS 1. A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito de certas questões da religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades da revelação que a razão humana não consegue alcançar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno e trino. A segunda modalidade é composta de verdades que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe. A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o pensamento de Tomás de Aquino. a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade. b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação da verdade que Deus lhe concede. c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas verdades por seus meios naturais. d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus. e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada pode conhecer d’Ele. 2. A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-1274), é uma parte da filosofia, é a parte que ele elaborou mais profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta como um gênio verdadeiramente original. Se trata de física, de fisiologia ou dos meteoros, Tomás é simplesmente aluno de Aristóteles, mas se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno ao Criador, Tomás é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige, contudo, só progride graças aos recursos da razão. GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 657. De acordo com o texto acima, é correto afirmar que: a) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de Aristóteles. b) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a natureza das coisas. c) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser compreendidas pela razão humana. d) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar da distinção entre ambas. e) A obra de Tomás de Aquino é uma releitura das obras socráticas-platônicas, como toda filosofia cristã. 48 3. Quais motivos levaram Tomás de Aquino, ser influenciado pelo pensador grego Aristóteles ? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4. Quais são as cinco provas da existência de Deus, apontadas por Tomás de Aquino? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5. Sobre a eternidade da verdade Tomás de Aquino concorda ou discorda do ponto de vista de Agostinho de Hipona? Justifique sua resposta. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 49