IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DOS MICRORGANISMOS DO SOLO Manoel Victor Borges Pedrosa1, Ludimila Pimenta Alves1, Roberta Pena da Paschoa1, Atanásio Alves do Amaral2 1. Pós - graduandos em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil ([email protected]). 2. Professor Titular-Livre no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil. Recebido em: 08/09/2015 – Aprovado em: 14/11/2015 – Publicado em: 17/12/2015 RESUMO O solo funciona como alicerce da vida terrestre. Se um dos elementos necessários à vida não estiver presente, ou estiver em quantidade insuficiente para aquele bioma, o solo está infértil e deve ser artificialmente corrigido. A biomassa microbiana do solo é responsável pela decomposição de resíduos orgânicos depositados pela vegetação no solo de tal modo que controlam as funções chaves no solo. A atividade microbiológica é utilizada como bioindicadora de qualidade do solo. Os microrganismos ainda possuem outras funcionalidades, como na síntese de hormônios de crescimento associados às plantas e recuperação avançada de petróleo. Eles também auxiliam na fixação de nitrogênio das plantas (bactérias diazotróficas) e no processo de nutrição das plantas (fungos micorrízicos arbusculares). Entretanto há microrganismos que trazem malefícios, como os vírus e alguns protozoários, que devem ser eliminados. Tecnologias baseadas em aspectos naturais do solo, como o produto Microrganismos Eficazes, tentam corrigir e melhorar o solo. PALAVRAS-CHAVE: biomassa microbiana, crescimento de plantas, micorrizas, microrganismos eficazes. ECOLOGICAL IMPORTANCE OF THE SOIL MICRORGANISMS ABSTRACT The soil acts as basis of life on earth. If one of the elements necessary for life is not present, or is insufficient for that biome, the soil is infertile and must be artificially fixed. The microbial biomass is responsible for decomposition of organic waste deposited by the vegetation on the ground such that control the key functions in the soil. The microbiological activity is used as soil quality bioindicator. Microrganisms also have other features, such as the synthesis of growth hormones associated with plants and enhanced oil recovery. They also assist in plant nitrogen fixation (nitrogen fixing bacteria) and plant nutrition process (AMF). However there are microorganisms that bring harmful effects such as some viruses and protozoa, which must be eliminated. Technologies based in natural soil aspects, such as Effective Microrganisms product, try to correct and improve the soil. KEYWORDS: effective microrganims, mycorrhizae, microbial biomass, plant growth ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 100 2015 INTRODUÇÃO Entre os constituintes do solo, a fração biológica, formada pelos múltiplos grupos de microrganismos que atuam sobre a matéria orgânica do solo, no desenvolvimento contínuo de processos de síntese e de análise de compostos orgânicos, faz com que o solo seja considerado como uma entidade biológica. Entre as vantagens da utilização de microrganismos na agricultura, está a habilidade em fixar nitrogênio; a decomposição de resíduos orgânicos; a desintoxicação de pesticidas; a supressão de doenças de plantas; o fornecimento de nutrientes para o solo e a produção de compostos bioativos, vitaminas e hormônios de crescimento (ALFONSO et al., 2005). As bactérias fixadoras de nitrogênio e os fungos micorrízicos arbusculares se apresentam como boa opção para a diminuição de fertilizantes, que trazem um alto custo para o produtor e podem ter impactos ambientais na área trabalhada. A ação desses microrganismos auxilia o crescimento inicial de várias espécies vegetais e melhora a captação de nutrientes da planta, já que aumenta a área de absorção de nutrientes das raízes. Já os vírus e os protozoários, causam malefícios a plantação, sua presença pode acarretar em doenças graves, que por vezes determinam a perda total da cultura (SOUZA, 2001). Diante dessa realidade, criou-se um produto fundamentado nos processos naturais do ambiente, que são os Microrganismos eficazes, que contribuem para tornar o solo vivo e sustentável. Os principais microrganismos presentes nesse produto são as bactérias produtoras de ácido láctico, as leveduras, as bactérias fotossintéticas, os actinomicetos e os fungos.Esse trabalho teve por objetivo discutir a importância dos microrganismos do solo para a saúde desse ecossistema. MICRORGANISMOS A maior atividade biológica é concentrada nas primeiras camadas do solo, na profundidade entre 0 a 30 cm. Nestas camadas, o componente biológico representa uma fração de menos que 0,5 % do volume total do solo e menos que 10 % da matéria orgânica, tal componente biológico consiste, em grande parte, de microrganismos que realizam diversas funções essenciais para o funcionamento do solo, tais como: decomposição da matéria orgânica; liberação de nutrientes em formas disponíveis às plantas; e degradação de substâncias tóxicas. Além de formar associações simbióticas com as raízes das plantas, atuando no controle biológico de patógenos, influenciar na solubilização de minerais e contribuir para a estruturação e agregação do solo (KENNEDY & DORAN, 2002). Os microrganismos são os representantes mais ricos em diversidade química e molecular na natureza. No solo atuam nos processos de decomposição da matéria orgânica, participando diretamente no ciclo biogeoquímico dos nutrientes e, que por consequência, mediam a disponibilidade no solo. Assim, a biomassa microbiana do solo funciona como importante reservatório de vários nutrientes das plantas e atua diretamente na sustentabilidade dos ecossistemas florestais (GRISI & GRAY, 1986; HUNTER-CEVERA, 1998; BRITEZ et al., 1999). O solo em ambiente florestal oferece local propício ao desenvolvimento microbiano. É notável a participação da biota do solo no funcionamento e sustentabilidade dos ecossistemas, de tal modo que alguns parâmetros referentes à atividade dos microrganismos são utilizados como bioindicadores para avaliação do estado de equilíbrio ou desequilíbrio nos ecossistemas florestais (MASON, 1980; SANTOS & CAMARGO, 1999; CHÁVEZ et al., 2011). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 101 2015 Os microrganismos podem ser utilizados como sensíveis bioindicadores da qualidade do solo e são influenciados pelos fatores bióticos e abióticos (ANDRADE, 1999; VARGAS & SCHOLLES, 2000; CHÁVEZ et al., 2011). Bioindicadores são propriedades ou processos biológicos dentro do solo que indicam o estado do ecossistema e podem ser utilizados no biomonitoramento da qualidade do solo. Biomonitoramento é a medida da resposta de organismos vivos a mudanças no habitat (WITTIG, 1993; DORAN & PARKIN,1994). São insuficientes as informações sobre o uso de bioindicadores microbiológicos do solo e por tal razão fazem-se necessários estudos mais específicos para poder interpretar as relações com os fatores bióticos e abióticos do solo (COLOZZI FILHO et al., 1999). BIOMASSA MICROBIANA DO SOLO A biomassa microbiana compreende o componente vivo da matéria orgânica do solo, excetuando-se a macrofauna e as raízes das plantas. Trata-se de um dos componentes que controlam funções chave no solo, como a decomposição e o acúmulo de matéria orgânica, ou transformações envolvendo os nutrientes minerais. E, sobretudo, representa uma reserva de nutrientes, os quais são assimilados durante os ciclos de crescimento dos diferentes organismos do ecossistema (JENKINSON & LADD, 1981). Os solos que mantêm um alto conteúdo de biomassa microbiana são capazes de estocar e ciclar mais nutrientes (GREGORICH et al., 1994). A biomassa microbiana aliada ao conteúdo de matéria orgânica do solo pode ser utilizada como índice para comparar a qualidade do solo sob diferentes manejos e possíveis mudanças no conteúdo de biomassa microbiana, predizem em longo tempo o conteúdo de matéria orgânica do solo, ou ainda mostrar a qualidade e a saúde do solo (JENKINSON & LADD, 1981; LARSON & PIERCE, 1994). FUNCIONALIDADE DOS MICRORGANISMOS NA SÍNTESE DE HORMÔNIOS Os hormônios vegetais (auxinas, citocininas, giberelinas, etileno e ácido abscísico) são substâncias orgânicas que executam funções na regulação do crescimento em plantas (RAVEN et al., 2001). Vários microrganismos, como bactérias e fungos no solo e/ou associados às plantas, sintetizam hormônios de crescimento idênticos aos encontrados nas plantas, podendo-se destacar a principal auxina de ocorrência natural, denominada de ácido indol-acético (AIA). PEDRINHO et al. (2010), buscaram identificar e selecionar microrganismos provenientes da rizosfera de plantas de milho (Zea mays L.) com potencial para uso como biofertilizantes. Eles consideraram que o mecanismo de promoção de crescimento vegetal por microrganismos endofíticos necessita de mais estudos, para melhor entendimento dos fatores envolvidos , e afirmaram que a interação entre o genótipo da planta e a comunidade endofítica promotora de crescimento e outros fatores podem se inter-relacionar neste processo, como as comunidades microbianas epifíticas e da rizosfera. RECUPERAÇÃO MICROBIOLÓGICA AVANÇADA DE PETRÓLEO O aumento do consumo de petróleo levou à necessidade de aumentar as taxas de recuperação, pois cerca de dois terços do petróleo permanecem no reservatório após a produção primária (BROWN, 2010). Os processos de recuperação são classificados em primário (fluxo livre, por diferença de pressão), secundários (injeção de fluidos imiscíveis, que aumentam a pressão no reservatório ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 102 2015 e estimulam a saída do petróleo) e terciário ou avançado (utilização de microrganismos ou seus metabólitos). Com objetivo de aumentar a exploração do óleo em campos maduros, várias técnicas de recuperação secundária ou terciária (injeção de água e/ou de polímeros, surfactantes e álcalis, entre outras) têm sido empregadas, possibilitando o deslocamento do óleo e aumentando o fator de recuperação. Entretanto, o custo de operação dessas técnicas é elevado e nem sempre se aplicam aos campos de petróleo do Brasil. Diante desse fato, o Brasil passou a considerar a possibilidade de recuperação de petróleo empregando microrganismos e/ou produtos do metabolismo destes (CARVALHO & CARVALHO, 2012). Na recuperação microbiológica avançada de petróleo podem-se injetar nutrientes, estimulando o desenvolvimento da microbiota nativa. Os microrganismos podem se desenvolver isolados ou em consórcio, sintetizando surfactantes, polímeros, ácidos e gases, que vão forçar o deslocamento, facilitando o transporte do óleo por entre as rochas (GRULA, 1986 citado por CARVALHO & CARVALHO, 2012). Pode-se também injetar microrganismos antecipadamente selecionados e isolados, ou injetar metabólitos antecipadamente purificados, produzidos em plantas industriais. Os metabólitos microbianos atuam modificando as propriedades físicas e/ou químicas dos reservatórios, facilitando os processos necessários à emulsificação e escoamento do petróleo (CARVALHO & CARVALHO, 2012). A injeção de microrganismos ou dos produtos metabólicos, nos reservatórios de petróleo, aumentam o fator de recuperação, sobretudo pela síntese de biosurfactantes, que reduzem a tensão interfacial óleo-rocha e diminuem a viscosidade do petróleo. Com o emprego desta tecnologia pode-se recuperar 27 % das reservas de petróleo, com o benefício de menor custo de operação e de menor impacto ambiental, pois os produtos injetados são degradados naturalmente. No Brasil, o emprego dessa tecnologia ainda é incipiente e realizado experimentalmente (LI et al., 2002 citado por CURBELO, 2006; ATLAS & BARTHA, 1993 citado por CARVALHO & CARVALHO, 2012). BRYANT et al. (1999) citado por CARVALHO & CARVALHO (2012) referemse às seguintes vantagens no uso de microrganismos para a recuperação de poços de petróleo maduros: facilidade de aplicação, baixo custo operacional, não dependência do preço do petróleo, possibilidade de controle da atividade microbiana, possibilidade de aplicação para um largo espectro de óleos crus e possibilidade de seleção de microrganismos para aplicação nas condições específicas de cada reservatório. Muitas pesquisas têm sido realizadas na recuperação microbiológica avançada de petróleo. No entanto, foram raras as que ganharam a aceitação da indústria petroleira, pois a maioria das informações acessíveis sobre a técnica advém de experimentos de laboratório e de algumas poucas experiências em situações de campo, o que reduz a confiabilidade na eficiência da técnica (BROWN, 2010). BACTÉRIAS FIXADORAS DE NITROGÊNIO As bactérias podem viver em simbiose com as plantas, pois possuem a capacidade de fixar nitrogênio, elemento essencial para o crescimento e desenvolvimento das plantas, e que não se apresenta disponível no solo como os demais elementos, oriundos do intemperismo das rochas. O nitrogênio encontra-se disponível na atmosfera, e essas bactérias capturam esse N2 e se associam as plantas, fornecendo nitrogênio às mesmas. O principal grupo de bactérias que ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 103 2015 realizam essa associação mutualística é o Rhizobium. Essa associação também é benéfica à bactéria, pois encontra no hospedeiro, abrigo e alimento (STROSCHEIN, 2012). A fertilização nitrogenada requer um alto custo econômico e ambiental, fatores que, em determinadas situações, podem ser os causadores do fracasso da plantação. Uma alternativa barata e sustentável para suprir a necessidade de nitrogênio da planta, sem haver perda de produtividade agrícola é a utilização de bactérias que disponibilizam nitrogênio a planta. Essa prática terá grande valor para o pequeno produtor rural, que terá um impacto financeiro positivo, podendo investir no crescimento da propriedade (DINIZ et al., 2012). Diversos grupos de bactérias são responsáveis pela fixação do nitrogênio nas plantas, esses microrganismos são conhecidos como diazotróficos. O modo de vida desses seres pode ser de vida livre, ou associados mutualisticamente a diversas espécies vegetais. A contribuição das bactérias diazotróficas não se limita ao provimento de nitrogênio a planta, sendo que está presente na síntese de fitormônios, no antagonismo a fitopatógenos, na solubilização de fosfatos, entre outras funções. Com isso, a preservação da biodiversidade dessas bactérias se torna vital para um bom equilíbrio do sistema agrícola. Em solos com déficit de bactérias diazotróficas, processos como a ciclagem de nutrientes e decomposição do material orgânico sofreram impactos, causando dependência a fertilizantes (MOREIRA et al. 2010). Segundo MONTEIRO et al. (2012), as bactérias fixadoras de nitrogênio têm a capacidade de produzir polissacarídeos. Esses polissacarídeos são muito importantes para que ocorra a simbiose com a planta. Os gêneros Sinorhizobium, Rhizobium, Bradyrhizobium, Mesorhizobium e Azorhizobium são muito utilizados na agricultura, pois produzem exopolissacarídeo em quantidades satisfatórias. Esses polissacarídeos auxiliam a bactéria a se fixar nas raízes das leguminosas. ARAÚJO et al. (2007), em trabalho realizado com a bactéria fixadora de N2 da espécie Rhizobium tropici juntamente com o tratamento químico em comparação com a adubação nitrogenada aplicado ao cultivo do feijoeiro, obtiveram resultados que demonstraram a eficácia com a inoculação com a planta. A presença da bactéria aumentou a produtividade de grãos, sem haver a necessidade do uso de fungicida na semente. O Brasil possui uma vasta área territorial, com variações climáticas de região para região, fazendo com que o cultivo vegetal seja adaptado as condições de uma determinada área. Bactérias diazotróficas, oriundas de três diferentes municípios de Rio Grande do Norte, tiveram o comportamento testado sob o aspecto da salinidade e temperatura, e as estirpes tiveram boa adaptação aos fatores abióticos mencionados, sendo uma boa opção de uso para a região semi-árida, que sofre com altas temperaturas e baixa precipitação (MEDEIROS et al. 2007). A produção in vitro de mudas é uma prática que permite um bom controle das mesmas, garantindo a saúde de boa parte das mudas. Na cultura do abacaxizeiro (Ananas comosus), as mudas requerem um período extenso de aclimatização, isso faz com que tal prática seja prejudicada. Nesse âmbito, as bactérias fixadoras de nitrogênio contribuem na aceleração do crescimento, e ajudam na adaptação das plântulas in vitro para o ambiente ex vitro, diminuindo o tempo de aclimatização (BALDOTTO et al., 2010). No atual modelo de agricultura, a utilização de herbicidas é amplamente vista, que tem o objetivo de atacar plantas daninhas que irão causar danos ao desenvolvimento da cultura, pois compete por nutrientes e água (GONÇALVES et ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 104 2015 al., 2009). PROCÓPIO et al. (2011) verificaram que alguns tipos de herbicidas são prejudiciais a fixação biológica do nitrogênio, foi observado um crescimento mais lento da bactéria Azospirillum brasilense em meio líquido quando em contato com os herbicidas, glifosato e trifloxysulfuron + ametryn. O MSMA, amicarbazone e paraquat afetaram a fixação do nitrogênio realizada por essa bactéria. FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES O termo micorriza refere-se à associação mutualística entre hifas de fungo e as raízes da planta. O vegetal provê através da fotossíntese, energia para a sobrevivência e multiplicação do microrganismo, enquanto estes absorvem nutrientes e água do solo para a planta. Essa simbiose permite que a raiz da planta tenha maior área de absorção de nutrientes, em locais onde a raiz normalmente não alcançaria, em regiões mais profundas do solo. Essa associação permite uma melhora na captação de elementos menos solúveis, como o fósforo, cobre e zinco. (SOUZA et al., 2009). As práticas agroecológicas surgem como um modo de se praticar a agricultura, com diminuição no impacto ambiental. Os fungos micorrízicos arbusculares são notadamente uma dessas práticas, assim como, os sistemas agroflorestais (SAF). Um tipo simples e muito utilizado de SAF é o sistema de aléia, que combina espécies arbóreas com a cultura desejada. As duas práticas mencionadas foram trabalhadas em conjunto no experimento de NOBRE et al. (2010), em que se verificou a influência de três leguminosas arbóreas (aucácia, leucena e sombreiro) na dinâmica dos fungos micorrízicos, com o sistema agroflorestal do tipo aléia. Ao final do experimento, chegou-se a conclusão que, o sistema em aléias aumentou a infectividade dos fungos micorrízicos arbusculares, sendo que, a espécie de leguminosa, a estação chuvosa e a proximidade das plantas são fatores que trazem diferença no resultado. O fungo micorrízico arbuscular Glomus clarum, teve o desempenho avaliado no desenvolvimento inicial do urucum. Para BARBIERI et al. (2011), pode-se concluir que a presença deste fungo facilitou a absorção de fósforo, chegando a níveis satisfatórios. Isso faz com a micorrização tenha papel vital no crescimento do urucum em viveiro, haja vista que a presença do fósforo contribui para um bom desenvolvimento das plantas, e que tenham boa fisiologia. SANTOS et al. (2011) relatam que o uso de fungos micorrízicos na cultura de mudas vegetais pode propiciar aumento em produtividade, na eficiência da mão de obra, e melhora na qualidade da muda. As espécies fúngicas, Glomus clarum e Gigaspora margarita, foram aplicadas em conjunto na produção de mudas de abacaxi do tipo rebentão, e apresentaram maior número de rebentos do que com uma única espécie, que no caso se tratava da Glomus e tunicatum. Além disso, a parte nutricional do abacaxi com o tratamento das espécies mescladas apresentou acréscimo nos teores de fósforo e nitrogênio. As principais contribuições dos microrganismos na agricultura são a ação dos fungos micorrízicos arbusculares e das bactérias diazotróficas, que foram estudados por VITORAZI FILHO et al. (2012), que avaliaram os efeitos desse consórcio no crescimento de mudas do maracujazeiro-doce. A influência dos dois microrganismos auxilia no ganho de altura das mudas, assim como na área foliar. O uso de herbicidas pode prejudicar a microbiota do solo e lesar as bactérias diazotróficas, interferindo na micorrização dos fungos. Visando avaliar como esses organismos afetam a simbiose entre fungos e planta, CRUZ et al. (2012), ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 105 2015 observaram o crescimento in vitro do gênero Piriformospora indica sob a ação dos herbicidas ametrin, diuron e sulfentrazone. O diuron se mostrou prejudicial ao fungo, causando inibição do mesmo, em todas as doses avaliadas. A utilização do sulfentrazone e do ametriné indicada até as 1,6 L ha-1 e 2,48 L ha-1, respectivamente. Para PEIXOTO et al. (2010), a ação de herbicidas podem trazer prejuízo ao processo micorrízico, foi testada a influência do herbicida trifluralin sobre o crescimento do amendoim, e ainda sobre a micorrização. O amendoim, principalmente no início do desenvolvimento, sofre fortemente com a competição de ervas daninhas, o que gera danos a produção. O trifluralin é uma boa opção no combate as ervas daninhas, entretanto sua inserção no cultivo do amendoim deprecia a micorrização e interfere no crescimento inicial. Fazendo-se necessário, a busca por opções que combatam as plantas daninhas, mas que não interferiam nos fungos micorrízicos arbusculares, já que no mesmo experimento, o Gigaspora margarita auxiliou no crescimento dos amendoinzeiros. VÍRUS E PROTOZOÁRIOS Os microrganismos não possuem somente influência positiva na vida das plantas de uma determinada cultura. Pois ainda podem causar sérios danos a plantação, fazendo-se necessário um bom manejo para que a prática agrícola não seja prejudicada. MICHELOTTO & BUSOLI (2006), testaram se o período de inoculação do Aphisgossypii, causador do vírus do mosaico da nervura, afeta o desenvolvimento e a produção do algodoeiro. As plantas tiveram redução de altura mais elevadas, quando expostas ao vírus mais inicialmente e na primeira data de inoculação, as plantas, não conseguiram produzir algodão. Isso demonstra que quanto mais nova é a planta, mais suscetível estará as moléstias causadas pela ação do vírus. As condições climáticas estão intimamente ligadas a presença de vírus em uma região. O Estado de Tocantins, por ter um clima tropical seco torna-se propício a infestação do vírus na lavoura. No experimento de ALENCAR et al. (2012), foi realizado a identificação sorológica e molecular de 25 isolados de melancia e abóbora de diferentes municípios do estado, que continham sintomas de plantas infestadas por viroses. Dos isolados estudados, 56% continham o Squash mosaic virus, enquanto o restante pertencia ao Zucchini yellow mosaic virus. No cultivo do maracujazeiro a principal virose é o endurecimento dos frutos, que está disseminada na região nordeste, com destaque para os estados de Sergipe, Alagoas e Ceará (BARBOSA et al., 2011). Esta virose age na redução drástica da polpa, leva o pericarpo do fruto a ficar endurecido, assim como proporcionam mosaico foliar em níveis elevados (KITAJIMA et al., 1986). O gênero Potyvirus, causador da virose, é transmitido de modo não circulatório por diversas espécies de afídeos. Na plantação do maracujazeiro percebe-se a transmissão quando ocorre a picada de prova do afídeo (NARITA, 2007). A presença de parasitas traz prejuízos a cultura contaminada, e quando o homem se alimenta dessa cultura, está sujeito a adquirir diversas doenças. BENTO et al. (2011), analisaram a qualidade de oito diferentes espécies de olerícolas, no norte de Minas Gerais, visando observar se estas estavam aptas para consumo humano. A análise parasitológica teve resultados alarmantes, em que 100% das amostras continham parasitas intestinais. Tais números indicam a má qualidade das hortaliças comercializadas na região, fazendo-se necessária uma intervenção, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 106 2015 buscando uma conscientização dos produtores sobre a importância da higienização dos alimentos. Outro trabalho com análise parasitológica, foi o de FERRO et al. (2012), realizado em Tangará da Serra, MT, com o objetivo de verificar as condições sanitárias no comércio de alface na região. Os dados obtidos foram que 59% da água utilizada na irrigação eram provenientes de poços artesianos; 77,2% das alfaces eram veiculadas sem proteção; 86,4% das propriedades eliminavam seus dejetos através de fossas sanitárias; e por fim, em todas as propriedades observadas, a adubação era realizada com fezes de animais. Esses números levam a crer que a hortaliça não está em boa qualidade para o consumo. MICRORGANISMOS EFICAZES Uma tecnologia baseada nos processos vivos da natureza contribuindo para um solo vivo e sustentável, são os microrganismos eficazes, descoberto pelo professor Teruo Higa, da Universidade de Ryukyus, Japão. Os principais microrganismos presentes são as bactérias produtoras de ácido láctico, as leveduras, as bactérias fotossintéticas, os actinomicetos e os fungos (BATTISTI & SANTOS, 2011). O produto Microrganismos Eficazes (Effective Microorganisms - EM) teve sua origem no Japão, e é usado na agricultura natural desde 1983. Atualmente, é produzido e distribuído no Brasil pela Fundação Mokiti Okada. Trata-se de uma suspensão de microrganismos (meio líquido com pH controlado a 3,5), cuja composição biológica não é conhecida comercialmente, mas apresenta mais de 10 gêneros e 80 espécies de microrganismos, podendo chegar a 109 células por grama, em uma suspensão concentrada (SANTORO et al., 2008). Segundo VICENTINI et al. (2009), o produto é fundamentado na utilização do solo seguindo os princípios da natureza, ou seja, utilizar os microrganismos encontrados na natureza para melhoria de outros seres vivos, no caso da agricultura Messiânica, as plantas. A metodologia para obtenção dos microrganismos do solo é realizada em três etapas: Preparo do material, obtenção e multiplicação dos microrganismos. O preparo do material é realizado mediante o cozimento de um kg arroz, sem tempero e sem óleo, que posteriormente é colocado envolto em saco de aniagem numa caixa de madeira vazada. A obtenção dos microrganismos é realizada mediante a colocação do material preparado próximo das raízes de árvores de mata, cobertos por serrapilheira do ambiente e deixados no local por 15 dias. Para multiplicação, recolhe-se o meio de cultivo na mata, dividi-se em cinco partes iguais, contendo aproximadamente 200g cada, coloca em garrafa pet de 2,5L, acrescenta 200g de açúcar mascavo e 200 mL de água bruta. Tampam-se as garrafas e faz-se o controle do gás gerado no processo de fermentação por 21 dias. Os microrganismos do solo auxiliam na produção agrícola, não são fertilizantes químicos, nem hormônios, mas fazem com que o solo tenha sua capacidade natural de produção em plena manifestação (OLIVEIRA et al., 2011), constatou-se também que as plantas permanecem mais tempo verdes, o que significa que aconteceu um atraso na senescência o que fez com que a planta realizasse fotossíntese por um período mais prolongado. Os microrganismos retiram da matéria orgânica os seus alimentos. Nesta decomposição há redução do todo em partes e compostos menores são liberados no ambiente. Muitos destes compostos são nutrientes, hormônios, vitaminas que alimentam a própria comunidade microbiana, além de animais e plantas., liberando ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 107 2015 no ambiente alguns compostos que aumentam a resistência das plantas aos insetos e doenças (BONFIM et al., 2011). Quatro grupos de microrganismos fazem parte dos microrganismos do solo, que são estes, as leveduras, os actinomicetos, as bactérias produtoras de ácido lático e as bactérias fotossintéticas (VICENTINI et al., 2009). BONFIN et al. (2011) descreveram as funções das leveduras como tendo a capacidade de produzir substâncias antimicrobianas, protegendo o vegetal que estiver associado a estas, assim como, outras substâncias necessárias para um crescimento saudável e satisfatório da planta. Os actinomicetos são bactérias gram-positivas dominantemente filamentosas que em leiras de compostagem desempenham notáveis funções, degradando compostos de difícil decomposição, como a lignocelulose, lignina e celulose. Possui também, a capacidade de sintetizar metabólitos secundários ativos distintos biologicamente, como antibióticos herbicidas, pesticidas, antiparasíticos, bem como, de enzimas como, amilases, celulases, lípases e xilanases (RODRIGUES, 2006). As bactérias produtoras de ácido lático produzem ácido de açúcares e de outros carboidratos desenvolvidos pela bactéria fotossintética e pela levedura. Tem a capacidade de eliminar microrganismos danosos, auxiliando na decomposição da matéria orgânica e também age na fermentação e na decomposição de materiais tais como celulose e lignina. Possui também a função de eliminar microrganismos que induzem a doenças (BONFIM et al., 2011). BONFIM et al. (2011), ainda afirmam que as bactérias fotossintetizantes fazem a síntese de substâncias úteis para a secreção de raízes, matéria orgânica e/ou gases nocivos (hidrogênio sulfurado), usando o calor do solo e a luz do sol como fontes de energia. As substâncias úteis desenvolvidas por esses micróbios incluem, ácido nucléicos, aminoácidos, açúcares e substâncias bioativas, que estimulam o crescimento da planta. De acordo com SANTOS et al. (2008), o Mg e Cu foram encontrados em maior concentração na planta de alface com dosagem de 130 kg ha-1 N em associação de esterco inoculado com microrganismos do solo. Segundo LEE (1991), através de um estudo sobre a eficácia dos microrganismos do solo em plantações de algumas olerícolas (couve chinesa, alface, repolho, pimenta vermelha), os microrganismos do solo possuem totais condições para enriquecer a produtividade e o crescimento das mesmas. Este autor também afirma que esses seres têm grande eficácia quando aplicado ao longo do solo associado a composto dos microrganismos do solo fermentados. De acordo com LEITE (2009), microrganismos estão sendo utilizados para melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo, sendo um produto agrícola de baixo custo, que não prejudica o ambiente e o consumidor. O composto pode ser utilizado também para o tratamento de águas residuárias pela habilidade em reduzir compostos tóxicos. Os microrganismos do solo também apresentam utilização no controle de pragas na avicultura, o uso é feito através da inserção nos bebedouros, fornecendo as aves, antibióticos e vitaminas e também pela pulverização sobre a cama-defrango. A ação ocorre na disposição microbiana da cama-de-frango e age na redução do nível de amônia, com o objetivo de que a espécie Alphitobius diaperinus não consiga se desenvolver (SANTORO et al., 2008). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 108 2015 CONSIDERAÇÕES FINAIS A atividade agrícola está fortemente dependente da ação dos microrganismos, já que este está presente no processo da decomposição da matéria orgânica, que ao final do processo, fornece os nutrientes que os vegetais necessitam para o crescimento e desenvolvimento. Na busca por uma agricultura menos impactante ao meio ambiente, a utilização dos microrganismos pode ser uma boa opção para alcançar resultados econômicos satisfatórios, e que diminuirá a necessidade de insumos químicos. As bactérias fixadoras de nitrogênio, os fungos micorrízicos arbusculares, os microrganismos na compostagem são alguns exemplos dessa prática. REFERÊNCIAS ALENCAR, N. E.; FIGUEIRA, A. D. R.; ALMEIDA, J. E. M. D.; LUCAS, M. A., DOS SANTOS, L. B.; DO NASCIMENTO, I. R. Identificação biológica e molecular de vírus detectados em espécies de cucurbitáceas provenientes do Estado do Tocantins. 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