Vírus conservador Valdemar Menezes * Os brasileiros souberam esta semana, através do ministro Eros Grau, que o STF "não legisla". Sensacional! A imprensa certamente "viu fantasma" quando divulgou as inúmeras vezes que a Corte suprema substituiu o Legislativo, sob o pretexto de "corrigir lacunas legais". Ou, ainda, quando da quase supressão das prerrogativas tradicionais do Presidente da República, na questão do instituto do asilo. Pois bem, agora somos informados que dar uma interpretação correta à Lei de Anistia, não beneficiando os torturadores, é "legislar". Não é o que pensam pelo menos dois ministros da Corte. Segundo os críticos, a verdade é que as forças do establishment, que apoiaram o golpe, são ainda hegemônicas na sociedade pós-ditadura. Há ainda uma tutela das Forças Armadas sobre o País. Dias atrás, um ministro do STF justificou, em entrevista a um programa de TV, a demolição do Estado Democrático de Direito, em 1964, como um "mal menor". Não parece ser o único. Há quem lembre até que tempos atrás houve um deles que, antes de ser ministro, pegou em armas contra a ordem constitucional legítima, no dia do golpe, no Rio Grande do Sul, como integrante de um grupo informal paramilitar, coadjuvante dos golpistas. E nunca fez autocrítica disso. Sem falar na entrega de Olga Benário aos nazistas. "Enfim, é o nosso gongórico e reacionário STF" & desabafam os críticos. IMPOSIÇÃO O próprio STF reconheceu que a Lei da Anistia foi imposta à força pela ditadura a um Congresso emasculado (cujos mandatários podiam ser cassados) e deformado pela presença de senadores biônicos (não eleitos) impostos pelo regime. O "acordo" obtido (que teve o aval de Sepúlveda Pertence) foi do mesmo teor daquele que se estabelece entre a vítima e o assaltante, quando esta tem um revólver apontado para a cabeça e promete ao criminoso, em papel assinado, que não o denunciará à Polícia, se sair ilesa. Foi uma autoanistia, segundo os primeiros protestos vindos da ONU, da OEA e da Anistia Internacional contra a decisão. Vai ainda render muito nos tribunais internacionais, onde essa tese vergonhosa não é aceita. O que houve de positivo é que pelo menos todos aceitaram a necessidade da apuração dos crimes, que é a meta da Comissão da Verdade. (Fonte: O Povo - Fortaleza - 01 Mai 2010.) * Jornalista, analista político