VARIABILIDADE DE PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DO SOLO Patrícia Martins Lopes (Bolsista Inclusão social/Fundação Araucária); Carlos José Marques da Costa Branco, e-mail: [email protected]. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, CENTRO DE TECNOLOGIA E URBANISMO, DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL. Área do conhecimento: Engenharia Civil/Geotécnica Palavras-chave: Resistência ao cisalhamento; solo indeformado; parâmetros de resistência. Resumo A determinação da resistência do solo é de grande importância em projetos de engenharia, porém muitas vezes essa propriedade é determinada através de correlações com solos de características semelhantes. Este trabalho tem por objetivo determinar a variabilidade espacial dos parâmetros de resistência do solo superficial caracterizado como argila siltosa do Campus da Universidade Estadual de Londrina. Os parâmetros médios de resistência poderão ser utilizados nos projetos de engenharia civil da UEL e, ainda, como referência para obras dentro da cidade de Londrina onde os solos forem similares aos do Campus da UEL. Introdução e Objetivo A resistência do solo é uma propriedade fundamental para o projeto de obras de engenharia civil, principalmente os que envolvem Barragens de Terra, Estradas, Estabilidade de Taludes, Obras de Contenção, Aterros Sanitários (Pitanga et al., 2009; Perazzolo et al., 2005; Massad, 2003). O estudo da resistência em projeto é realizado através do conhecimento dos parâmetros de resistência, denominados de ângulo de atrito e intercepto coesivo (Pinto, 2002). A determinação dos parâmetros de resistência é usualmente realizada em laboratório por meio de ensaios do tipo triaxial, compressão simples ou cisalhamento direto, dependendo da condição de drenagem (Pinto, 2002; Massad, 2003). Especificamente para as análises de taludes e obras de contenção, a condição drenada é a mais encontrada e, para esta, os ensaios de cisalhamento direto são os mais utilizados (Perazzolo et al., 2005). O ensaio de cisalhamento direto consiste na aplicação de carga normal conhecida e determinação da carga tangencial resistente máxima. Com as cargas máximas tangenciais é possível determinar a tensão cisalhante de ruptura para dada tensão normal, ou seja, o estado de tensão limite que leva o 1 solo à ruptura para um nível de tensão normal. O estudo da resistência ao cisalhamento do solo envolve a determinação dos estados limites para diferentes tensões normais, que é possível através da linha de limite definida como “Envoltória de Resistência” que pode ser retilínea ou curva. Assim, são necessários ensaios de cisalhamento direto para diferentes níveis de tensão normal para a definição da envoltória (Pinto, 2002). Procedimentos metodológicos Para realização dos ensaios de cisalhamento, foram feitas coletas de blocos de amostras indeformadas em alguns pontos do Campus da Universidade Estadual de Londrina, em profundidades de 1 a 3 metros, sendo estes, no Campo Experimental de Engenharia Geotécnica (CEEG), na obra do novo prédio do departamento de Química e no novo Consultório Odontológico Universitário (COU). Os corpos de prova utilizados foram moldados a partir das amostras indeformadas citadas acima e com auxílio de um molde quadrado com 6 cm de lado por 2 cm de altura. Para início do ensaio, foi feita a montagem da caixa de cisalhamento, com a colocação do carro longitudinal da prensa para a etapa de inundação, instalado o extensômetro sobre o top cap e preenchida com água até a base da pedra porosa. Depois disso, foram feitas as leituras da variação de altura, até a completa inundação. No ensaio de adensamento, foi colocado sobre o solo e o top cap, um pendural com o carregamento correspondente à tensão normal desejada para o ensaio. Sobre o pendural foi colocado o extensômetro vertical e foram feitas as leituras do deslocamento até que este fosse constante. Na etapa de ruptura foi iniciada a aplicação uma força horizontal no corpo de prova, provocando o cisalhamento do corpo de prova. Durante o cisalhamento foram efetuadas leituras do deslocamento vertical, deslocamento horizontal e força cisalhante aplicada no solo. Quanto às tensões utilizadas nos ensaios de cisalhamento direto, foram escolhidas três faixas de tensão que pudessem representar a envoltória de tensões dos solos, sendo elas 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa. Resultados e Discussão Com a análise dos dados obtidos em laboratório, foram construídos os gráficos de tensão cisalhante por deformação horizontal do corpo de prova em percentagem. Para cada curva obtida foi traçada uma linha de tendência polinomial do 6º grau, por ser esta a que melhor se adequou. A partir das linhas de tendência foram traçadas retas tangentes aos primeiros trechos de mudança de inclinação das curvas. A mudança brusca de 2 inclinação pode ser interpretada como uma modificação no comportamento do solo devido à ruptura do mesmo, portanto, o ponto de intersecção das tangentes citadas foi tomado como o ponto de ruptura do solo. Após a obtenção dos pontos de ruptura do solo, foram tomados os valores da tensão cisalhante de ruptura, para que posteriormente, os valores das tensões normais correspondentes pudessem ser obtidos através dos dados de laboratório e das análises feitas. Foi construído um gráfico de tensão cisalhante pela deformação horizontal para cada valor de tensão utilizada e para cada bloco de amostra indeformada. O comportamento observado nas amostras dos três blocos foi muito parecido. Como exemplo, abaixo segue a Figura 1, que representa o gráfico tensão-deformação do solo do bloco retirado do CEEG para a tensão de 50 kPa. Figura 1 – Tensão Cisalhante X deformação horizontal - CEEG Os valores obtidos das tensões cisalhantes para as respectivas tensões normais aplicadas nas amostras de cada um dos blocos, foram utilizados para a construção das envoltórias de cisalhamento e determinação dos parâmetros c e Os parâmetros obtidos estão dispostos na tabela 1. Tabela 1 – Parâmetros de resistência. Parâmetros CEEG COU QUÍMICA 0,5217 0,297 0,3848 tang 27,6° 16,54° 21,05° c 0,00 13,36 7,53 Como pode ser visto, os valores obtidos para o ângulo de atrito e para o intercepto coesivo apresentaram grande variação entre si. 3 Conclusões É possível perceber nos resultados obtidos que os parâmetros de resistência variaram consideravelmente de acordo com cada local de extração do solo. Com base nesses dados, é possível dizer que solos com características semelhantes, como granulometria, profundidade de amostragem e localização, não podem ser considerados homogêneos quanto à resistência. Através das análises fica evidente a importância da realização de ensaios que obtenham os parâmetros do solo nas obras de engenharia, portanto, a determinação destes parâmetros por correlação, levando em conta apenas a granulometria semelhante, pode levar a um sub ou superdimensionamento de nossas obras. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: análise granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508: massa específica dos sólidos. Rio de Janeiro, 1984. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME213/94: Solos – Determinação do teor de umidade. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-PRO002/94: Coleta de amostras indeformadas de solos. MASSAD, F. Obras de terra: curso básico de geotecnia. São Paulo: Oficina de textos, 2003. PINTO, C. DE S. Curso básico de Mecânica dos solos. 2ª Edição. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. PERAZZOLO, L. et al. Análise Comparativa da Estabilidade de Dois Taludes da Formação Serra Geral/RS. Solos e Rochas – Revista Latino-americana de Geotecnia, volume 28, n. 1, p. 25, jan - abr de 2005. 4