Elementos de Matemática Álgebra de Boole Roteiro no. 10 - Atividades didáticas de 2007 8 de Outubro de 2007- Arq: elementos10.tex Departamento de Matemática - UEL Prof. Ulysses Sodré E-mail: ulysses(at)matematica(pt)uel(pt)br Matemática Essencial: http://www.mat.uel.br/matessencial/ Resumo: Notas de aulas para as nossas aulas na Universidade Estadual de Londrina. Desejo que elas sejam um roteiro para as aulas e não espero que estas notas venham a substituir qualquer livro sobre o assunto. Algum material foi obtido em livros citados na Bibliografia, mas os assuntos foram bastante modificados. Sugerimos que o leitor pesquise a Interbet para obter materiais gratuitos para os seus estudos. Mensagem: Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Pois se caı́rem, um levantará o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? E, se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa. A Bı́blia Sagrada, Eclesiastes 4:9-12 Seção 1 Álgebra de Boole 1 1 Álgebra de Boole Definição 1 (Álgebra de Boole). Uma Álgebra Booleana é uma estrutura matemática denotada por B = (B, s, p, c, θ, I), onde os seis objetos são: B: Um conjunto B não vazio. s: Uma operação binária s : B×B → B que associa a cada par de elementos (a, b) ∈ B × B um elemento s(a, b) = a + b ∈ B, denominado a soma dos elementos a, b ∈ B. p: Uma operação binária p : B × B → B que associa a cada par de elementos (a, b) ∈ B × B um elemento p(a, b) = a ∗ b ∈ B, denominado o produto dos elementos a, b ∈ B. c: Uma operação unária c : B ×B → B que associa a cada elemento a ∈ B um elemento c(a) ∈ B, denominado o complemento do elemento a ∈ B. θ: Um elemento nulo θ ∈ B, I: Um elemento unidade I ∈ B que é diferente de θ ∈ B. que, para quaisquer a, b, c ∈ B, satisfazem aos oito axiomas: 1. Comutativa: a + b = b + a 5. Comutativa: a ∗ b = b ∗ a 2. Distributiva: a + (b ∗ c) = (a + b) ∗ (a + c) 6. Distributiva: a ∗ (b + c) = (a ∗ b) + (a ∗ c) 3. Elemento nulo: a + θ = a 7. Elemento unidade: a ∗ I = a 4. Complemento: a + c(a) = I 8. Complemento: a ∗ c(a) = θ Exemplo 1 (Álgebra de Boole). A estrutura (B, +, ∗, c, 0, 1), onde B = {0, 1}, θ = 0 e I = 1, com as operações definidas pelas tabelas a c(a) 0 1 1 0 * 0 1 0 0 0 1 0 1 + 0 1 0 0 1 1 1 1 Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007 Seção 1 Álgebra de Boole 2 Observação 1 (Precedência nas operações). Em uma Álgebra de Boole, embora os parênteses possam alterar a precedência, as operações matemáticas são realizadas na seguinte ordem: 1. Complemento, 2. Produto, 3. Soma. Observação 2 (Precedência nas operações). Na Álgebra de Boole do exemplo anterior, (B, +, ∗, c, 0, 1), onde B = {0, 1}, θ = 0 e I = 1, a expressão booleana x = 1 ∗ (1 + 0) + c(1) tem valor x = 1, pois x = 1 ∗ (1 + 0) + c(1) = 1 ∗ (1 + 0) + 0 = 1 * 1 +0 = 1+0 = 1 Exemplo 2 (Álgebra de Boole de Conjuntos). A estrutura (X , ∪, ∩, c, ∅, U ) formada pela coleção X de todos os conjuntos que é fechada para as operações de reunião, interseção e complementar, sendo o elemento nulo θ = ∅ (conjunto vazio), o elemento unidade I = U (universo) e c(A) = U − A = Ac que é complemento, pois, quaisquer que sejam A, B, C ∈ X , tem-se: 1. A ∪ B = B ∪ A 5. A ∩ B = B ∩ A 2. A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) 6. A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) 3. A ∪ ∅ = A 7. A ∩ U = A 4. A ∪ Ac = U 8. A ∩ Ac = ∅ Observação 3. A palavra fechada em X significa que a reunião, a interseção e o complementar de conjuntos em X ainda está em X . Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007 Seção 1 Álgebra de Boole 3 Exemplo 3 (Divisores de 12). Seja a estrutura (D(12), ⊕, , c, θ, I), formada pelo conjunto D(12) = {1, 2, 3, 4, 6, 12} dos divisores naturais do número 12, o elemento nulo θ = 1 e o elemento unidade I = 12, com as operações definidas pelas tabelas: a ⊕ b = MMC(a,b) a b = MDC(a,b) c(a) = 12/a Mı́nimo Múltiplo Comum entre a e b Máximo Divisor Comum entre a e b Divisão de 12 por a A estrutura (D(12), ⊕, , c, θ, I) não representa uma Álgebra de Boole, pois 2 ∈ D(12) e c(2) = 6 ∈ D(12), mas 2 ⊕ c(2) = 2 ⊕ 6 = M M C(2, 6) = 6 = 6 12 = I 2 c(2) = 2 6 = M DC(2, 6) = 2 = 6 1 = θ Exemplo 4 (Álgebra de Boole Z2). A estrutura (Z2 , +, ∗, c, P, I) sendo que Z2 = {P, I}, P é conjunto dos números pares inteiros, I é o conjunto dos números ı́mpares inteiros, o elemento nulo θ = P , o elemento unidade é o conjunto I dos números ı́mpares e o complemento definido no universo Z do conjunto dos números inteiros, com as operações definidas pelas tabelas a c(a) P I I P * P I P P P I P I + P I P P I I I I Exemplo 5 (Z3). Seja z um número inteiro. Se a divisão do número z por 3 tem resto r, escrevemos z ∈ [r] (z pertence à classe [r]) . O conjunto das classes Z3 = {[0], [1], [2]} é bem conhecido na Álgebra, mas a estrutura (Z3 , +, ∗, c, [0], [1]) com o elemento nulo θ = [0] e o elemento unidade I = [1], Não é uma Álgebra de Boole com as operações definidas pelas tabelas: a c(a) [0] [1] [1] [0] [2] [2] * [0] [1] [2] [0] [0] [0] [0] [1] [0] [1] [2] [2] [0] [2] [1] + [0] [1] [2] [0] [0] [1] [2] [1] [1] [2] [0] [2] [2] [0] [1] Se (Z3 , +, ∗, c, [0], [1]) fosse uma Álgebra de Boole, poderı́amos tomar a = [2], c(a) = [2] e seguiria que [0] = θ = a ∗ c(a) = [2] ∗ [2] = [1], o que é falso. Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007 Seção 1 Álgebra de Boole 4 Exemplo 6 (Álgebra de Boole {(0,0),(1,1)}). Seja B = {0, 1} e o produto cartesiano B 2 = {(0, 0), (0, 1), (1, 0), (1, 1)}. A estrutura (B 2 , +, ∗, c, θ, I)) onde θ = (0, 0) e I = (1, 1) é uma Álgebra de Boole, com as operações: a (0,0) (0,1) (1,0) (1,1) c(a) (1,1) (1,0) (0,1) (0,0) * (0,0) (0,1) (1,0) (1,1) + (0,0) (0,1) (1,0) (1,1) (0,0) (0,0) (0,1) (1,0) (1,1) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,1) (0,1) (0,1) (1,1) (1,1) (0,1) (0,0) (0,1) (0,0) (0,1) (1,0) (1,0) (1,1) (1,0) (1,1) (1,0) (0,0) (0,0) (1,0) (1,0) (1,1) (0,0) (0,1) (1,0) (1,1) (1,1) (1,1) (1,1) (1,1) (1,1) Exemplo 7. Seja o conjunto B = {0, 1, 2, 3}. Escrevemos um elemento a ∈ B na base 2, dividindo a por 2, para obter o quociente q e o resto r. A notação a2 = qr indica o valor do número a ∈ B na base 2. Formamos assim um novo conjunto B2 = {00, 01, 10, 11}. Se o elemento nulo é θ = 00, o elemento unidade é I = 11 e as operações são definidas pelas tabelas a c(a) 00 11 01 10 10 01 11 00 * 00 01 10 11 00 00 00 00 00 01 00 01 00 01 10 00 00 10 10 11 00 01 10 11 + 00 01 10 11 00 00 01 10 11 01 01 01 11 11 10 10 11 10 11 11 11 11 11 11 segue que a estrutura (B2 , +, ∗, c, 00, 11) é uma Álgebra de Boole. Exemplo 8 (Álgebra de Boole das Proposições lógicas ). A estrutura formada por (P, ∨, ∧, ¬, F, V ), em que P é a coleção de todas as proposições lógicas, ∨ é a operação de disjunção, ∧ é a operação de conjunção, ¬ é a operação de negação, θ = F é a contradição representando o elemento nulo e I = V é a tautologia representando o elemento unidade, é uma Álgebra de Boole. Neste caso, duas proposições lógicas equivalentes são tomadas como iguais. Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007 Seção 2 Sı́mbolos superior e inferior de Sheffer 5 Definição 2 (Dualidade). Em uma Álgebra de Boole, o dual de uma afirmação é uma outra afirmação obtida da primeira pela troca das operações de soma (+) pelo produto (∗) e pela troca do elementos nulo (θ) pela unidade (I). Exemplo 9 (Dualidade). A afirmação dual corespondente a (a + θ) ∗ (b + c(b)) = a é a afirmação (a ∗ I) + (b ∗ c(b)) = a Observação 4 (Sobre dualidade). Um Teorema é verdadeiro em uma Álgebra de Boole, se e somente se, o Teorema dual correspondente é verdadeiro. Observação 5 (Dualidade no teorema). No próximo teorema, as afirmações (1,2,3,4,5,6), respectivamente, são duais às afirmações (7,8,9,10,11,12), significando que basta demonstrar o primeiro grupo ou o segundo grupo. Teorema 1 (Propriedades). Se B é uma Álgebra de Boole e a, b, c ∈ B, então 1. a + a = a 7. a ∗ a = a 2. a + I = I 8. a ∗ θ = θ 3. a + (a ∗ b) = a 9. a ∗ (a + b) = a 4. a + (b + c) = (a + b) + c 10. a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c 5. c(θ) = I 11. c(I) = θ 6. c(a + b) = c(a) ∗ c(b) 12. c(a ∗ b) = c(a) + c(b) Exercı́cio: Se B é uma Álgebra de Boole e a, b, c ∈ B, mostrar que 1. c(c(a)) = a 2. Se a + x = 1 e a ∗ x = 0 então x = c(a). 2 Sı́mbolos superior e inferior de Sheffer Definição 3. Define-se o sı́mbolo superior de Sheffer por p ↑ q = (¬p) ∨ (¬q) = ¬p ∨ ¬q Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007 Seção 2 Sı́mbolos superior e inferior de Sheffer 6 Exemplo 10 (Negação de p). Usando o sı́mbolo superior de Sheffer, obtemos p ↑ p = ¬p ∨ ¬p = ¬p Exemplo 11 (Conjunção de p e q). Com o sı́mbolo superior de Sheffer aplicado a duas proposições iguais a p ↑ q, obtemos (p ↑ q) ↑ (p ↑ q) = (¬(¬p ∨ ¬q)) ∨ (¬(¬p ∨ ¬q)) = (p ∧ q) ∨ (p ∧ q) = p ∧ q Exemplo 12 (Disjunção de p e q). Com o sı́mbolo superior de Sheffer aplicado às proposições p ↑ p e q ↑ q, obtemos (p ↑ q) ↑ (q ↑ q) = ¬(¬p ∨ ¬p) ∨ ¬(¬q ∨ ¬q) = ¬(¬p) ∨ ¬(¬q) = p ∨ q Definição 4. Define-se o sı́mbolo inferior de Sheffer por p ↓ q = (¬p) ∧ (¬q) = ¬p ∧ ¬q Exemplo 13 (Negação de p). Usando o sı́mbolo inferior de Sheffer, obtemos p ↓ p = ¬p ∧ ¬p = ¬p Exemplo 14 (Disjunção de p e q). Com o sı́mbolo inferior de Sheffer aplicado a duas proposições iguais a p ↓ q, obtemos (p ↓ q) ↓ (p ↓ q) = (¬(¬p ∧ ¬q)) ∧ (¬(¬p ∧ ¬q)) = (p ∨ q) ∧ (p ∨ q) = p ∨ q Exemplo 15 (Conjunção de p e q). Com o sı́mbolo inferior de Sheffer aplicado às proposições p ↓ p e q ↓ q, obtemos (p ↓ p) ↓ (q ↓ q) = ¬(¬p ∧ ¬p) ∧ ¬(¬q ∧ ¬q) = ¬(¬p) ∧ ¬(¬q) = p ∧ q Complete a tabela com as operações com os sı́mbolos de Sheffer: Proposição Sı́mbolo Sı́mbolo superior Sı́mbolo inferior Negação ¬p p↑p p↓p Conjunção p∧q (p ↑ q) ↑ (p ↑ q) (p ↓ p) ↓ (q ↓ q) Disjunção p∨q (p ↑ p) ↑ (q ↑ q) (p ↓ q) ↓ (p ↓ q) Condicional p→q Bicondicional p ↔ q Podemos construir uma Tabela-Verdade com os sı́mbolos de Sheffer: p q p↑q p↓q V V V V V F F V F V F V F F V V Elementos de Matemática - Álgebra de Boole - Ulysses Sodré - Matemática - UEL - 2007