REVISTA SABER ACADÊMICO N° 19 / ISSN 1980-5950 – GENONI, C. A. ET AL, 2015. Artigo original ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM TRATAMENTO DIALÍTICO Caryna Andrade Genoni Karen Natsumi Togawa Ludmila Pantaroto Lima Marcela de Andrade B. Fagiani Sandra Cristina Genaro Nome Completo: Caryna Andrade Genoni Artigo submetido em: 01/04/2015 Aceito em 20/05/2015 Correio eletrônico: RESUMO A Doença Renal Crônica (DRC) é um problema de saúde pública e o tratamento dialítico pode levar à desnutrição. O objetivo deste trabalho foi avaliar o estado nutricional de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise através de um estudo observacional, descritivo, desenvolvido no Instituto do Rim de Presidente Prudente, SP, BR, com 75 pacientes de ambos os sexos, com idade entre 23 e 75 anos, em programa de hemodiálise há mais de seis meses. A maioria dos pacientes apresentou risco nutricional, acompanhado de má alimentação podendo levar ao mau prognóstico do paciente em tratamento dialítico. O presente estudo demonstra a importância de avaliações e orientações nutricionais rotineiras em pacientes com doença renal crônica. Palavras-chave: avaliação nutricional, rim, hemodiálise, desnutrição, uremia. ABSTRACT Chronic Kidney Disease is a public health problem and dialysis may lead to malnutrition. The objective of this study was to evaluate the nutritional status of patients with chronic kidney disease on hemodialysis through an observational, descriptive, and developed at the Institute of Kidney Presidente Prudente, SP, BR, with 75 patients of both sexes, aged between 23 and 75 years, undergoing hemodialysis for more than six months. Most patients presented nutritional risk, accompanied by poor diet can lead to poor prognosis of the patient on dialysis. This study demonstrates the importance of assessments and routine nutritional guidelines in chronic kidney disease patients. Keywords: nutritional assessment, kidney dialysis, malnutrition, uremia. 1.Introdução O rim é um órgão complexo capaz de desenvolver várias funções importantes para o organismo humano: excreção de produtos de degradação do metabolismo, regulação da água e do sal do organismo, manutenção do equilíbrio ácido-básico adequado, e secreção de vários hormônios e autacóides. Suas patologias são tão complexas como sua estrutura, podendo envolver glomérulos, túbulos, interstício e vasos sanguíneos. Porém, qualquer que seja a origem da doença, quando se torna crônica eventualmente leva a uma lesão de todos os quatros componentes do rim, formando uma Doença Renal Crônica também conhecida como doença renal de estagio terminal (ROBBINS e COTRAN, 2010). Os sintomas precoces da doença renal são importantes para a evolução do caso clínico, sendo que as doenças que afetam cada estrutura costumam ser bastante distintas, dependendo da porção do nefro mais afetada. Dentre as doenças renais, encontramos: Síndrome Nefrótica; Síndrome Nefrítica; Insuficiência Renal Aguda; Defeitos Tubulares; Cálculos Renais; e Doença Renal de Estagio Final (Renal Crônica). Lembrando que cada doença possui cuidados nutricionais específicos (MAHAN e ESCOTT-STUMP, 2010). A diálise pode ser realizada por hemodiálise ou diálise peritoneal. O método mais comum é a hemodiálise, na qual o sangue passa pela membrana semipermeável do rim artificial através de uma terapêutica que remove resíduos metabólicos, excesso de líquidos corporais, e também retira aminoácidos, peptídeos e vitaminas hidrossolúveis do paciente (MAHAN e ESCOTT-STUMP, 2010). O acompanhamento nutricional é extremamente importante, pois pacientes com acentuada redução da função renal encontram-se desnutridos, sendo o estado nutricional do paciente um importante fator para a sua evolução (RIELLA, 2008). A causa desse déficit nutricional é multifatorial como: anorexia por consequência da baixa ingestão nutricional, perda de aminoácidos, peptídeos e glicose, catabolismo intradialítico, acidose metabólica, aumento dos níveis de citoquinas, uso de medicamentos que podem afetar a absorção de nutrientes, distúrbios hormonais e gastrointestinais, diálise insuficiente, peritonites, fatores psicológicos e sociais, além de doenças associadas. (SILVA e MURA, 2007). Os pacientes em hemodiálise, por apresentar deficiências nutricionais, devem passar por uma avaliação nutricional, a fim de identificar suas deficiências, o que deve ser feito e acompanhado por um nutricionista. As avaliações devem ser realizadas regularmente para que possam ser detectadas as mudanças do estado nutricional dos pacientes e os efeitos da terapia. O consumo de nutrientes desses pacientes é variável, tendo um consumo protéico alto e ingestão energética deficiente das recomendadas ao paciente dialítico (FAUSTO, 2009). O gasto energético de repouso nesses pacientes é maior do que em pacientes saudáveis, em específico durante a hemodiálise e após 2 horas do procedimento. Devido a isso a ingestão deficiente pode prejudicar ainda mais seu estado nutricional. Cada paciente possui suas particularidades o que deve ser levado em conta na hora de preparar as suas recomendações nutricionais (FAUSTO, 2009). A Doença Renal Crônica (DRC) é um problema de Saúde Pública no Brasil, com mais de 97 mil pessoas em tratamento dialítico por ano. Os dados revelam que foram encontradas 651 unidades de diálise no Brasil, sendo que 84% desses pacientes são tratados no Sistema Único de Saúde (SUS) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2013). O procedimento dialítico resulta em estado catabólico, sendo comum paciente em terapia hemodialítica apresentar desnutrição, a qual é considerada um marcador de mau prognóstico em pacientes com DRC, pois afeta adversamente a condição clínica do mesmo (BRASIL, 2013). Uma vez que vários estudos reportam associação entre piora de indicadores nutricionais corporais com a diminuição da ingestão de energia e de nutrientes, acredita-se que a Terapia Nutricional (TN), seja aspecto importante para pacientes em Hemodiálise (HD). Além disso, a TN contribui para a prevenção e o tratamento da retenção hídrica, hipertensão, hiperpotassemia e hiperfosfatemia dos pacientes em HD (STEFANELLI et al., 2013). Este trabalho visa avaliar o estado nutricional de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. 2.Métodos Estudo de campo desenvolvido no Instituto do Rim de Presidente Prudente, onde os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos do estudo e os procedimentos metodológicos da pesquisa e aqueles que aceitaram participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. A elaboração do projeto estava de acordo com as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa da UNOESTE, seguindo as normas da Resolução CNS 196/96 do CONEP, sendo aprovado com o protocolo de número 1876. Foram coletados dados de 75 pacientes com idade acima de 18 anos, do gênero feminino e masculino em programa de hemodiálise há mais de 6 meses. A princípio, esta pesquisa foi iniciada com 86 pacientes, porém ao decorrer da coleta de dados 11 pacientes não puderam dar continuidade pelos seguintes motivos: 1 paciente foi à óbito; 6 pacientes eram cadeirantes e não puderam ser pesados; 3 desistiram por apresentar sinais e sintomas de uremia grave não tendo condições de responder as necessidades da pesquisa e 1 paciente não entregou o registro alimentar na data necessária para a finalização do projeto. Os dados foram coletados durante o processo de diálise através de questionários sobre a história clinica do paciente, como por exemplo: peso usual, data de nascimento, sinais e sintomas de uremia, ingestão alimentar, capacidade funcional física, doenças secundárias, medicamentos utilizados e presença de edemas. Os prontuários foram utilizados para analisar exames bioquímicos, eficiência dialítica (KTV), pressão arterial, ganho de peso interdialítico, peso seco e altura. Os exames bioquímicos utilizados foram àqueles comuns a todos os pacientes. Para avaliação do estado nutricional do paciente, foram aplicados os seguintes métodos: Avaliação Nutricional Subjetiva (Adaptado de DETSKY et al., 1984); Avaliação Subjetiva Global do Estado Nutricional (DETSKY et al, 1987); Dobras Cutâneas (Nutrition Support Dietetic, 2ª ed; aspen, EUA, 1993, Segundo Blackbum), utilizando o adipômetro científico Lange; onde essas avaliações foram analisadas e comparadas individualmente e cada paciente recebeu uma classificação: Pacientes Nutridos, Pacientes em Risco Nutricional e Pacientes Desnutridos. Os hábitos alimentares foram analisados através de o Registro Alimentar durante 3 dias, sendo 1 dia em que o paciente esteja em hemodiálise (durante a semana), 1 em dia sem hemodiálise (durante a semana), e 1 no final de semana (domingo). As anotações foram feitas pelos próprios pacientes através de uma planilha e comparados com os exames bioquímicos a fim de relacionar erros alimentares com alterações dos exames laboratoriais. Efetuou-se a avaliação física através da obtenção de Dobras Cutâneas (Tricipital) e Circunferência do Braço logo após o término das diálises com utilização do adipômetro da marca Cescorf e fita métrica da marca Cescorf. Teve como critério de inclusão, pacientes que possuíssem DRC e como critérios de exclusão os pacientes não poderiam estar fazendo uso de corticosteroides e/ou ter alguma dessas doenças: HIV, câncer, doença intestinal, insuficiência cardíaca e pulmonar grave; ser alcoólatra e ter feito transplante renal nos últimos 5 meses com insucesso. Os dados foram analisados através do método porcentagem e apresentados em forma de Gráficos em Pizzas. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 19 / ISSN 1980-5950 – GENONI, C. A. ET AL, 2015. 3.Resultados O Gráfico 1 analisa o estado nutricional dos pacientes de acordo com a Avaliação Subjetiva Global, Avaliação do Estado Nutricional e das Dobras Cutâneas. Gráfico 1: Classificação Nutricional O Gráfico 2 demonstra uma relação entre os resultados dos exames bioquímicos com a alimentação realizada pelo paciente. Gráfico 2: Registro Alimentar X Exames Bioquímicos O Gráfico 3 demonstra a relação dos resultados que apresentaram alimentação inadequada e exames laboratoriais normais devido a utilização de quelantes. Gráfico 3: Pacientes com dieta alimentar inadequada, exames bioquímicos normais e uso de quelante. No Gráfico 4, foi analisado a Eficiência da Diálise (KTV), correspondendo quantidade de ureia excretada do organismo. Gráfico 4: Avaliação da eficiência da diálise (KTV). No Gráfico 5, foi realizada um comparativo com os resultados da Eficiência Dialítica (KTV) com a quantidade de alimentos proteicos ingeridos pelos pacientes. Uma vez que a quantidade de ureia do paciente é correspondente à ingestão de alimentos proteicos. Gráfico 5: Relação do KTV com Alimentos Proteicos. Do total de pacientes, podemos observar no Gráfico 6 e Gráfico 7, os seguintes resultados: Gráfico 6: Valores de Potássio alterados e sem alterações. Gráfico 7: Valores de Fósforo alterados e sem alterações. No Gráfico 8, pode-se observar a relação do processo dialítico com a presença de Anemia, uma vez que a maioria dos pacientes com DRC apresentam alterações na quantidade de Hemoglobina. Gráfico 8: Níveis reduzidos de Hemoglobina no exame bioquímico como indicativo de anemia. No Gráfico 9, foi analisado o ganho de peso interdialítco (GPID). Com base no ganho de peso acima de 2,6% (Média de 3kg) do peso seco do paciente. Gráfico 9: Ganho de Peso Interdialítico. Gráfico 10: Estado Nutricional dos Pacientes com Dieta Inadequada x Exames Normais. 4.Discussão e Conclusão Às condições em que o experimento foi desenvolvido e de acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a maioria dos pacientes apresentou risco nutricional, acompanhado de má alimentação com consumo em excesso de alimentos proteicos. Os exames bioquímicos apresentaram-se alterados, possivelmente por uma má dieta alimentar, levando assim ao mal prognostico do paciente em tratamento dialítico. Já os pacientes que utilizam medicamentos, podem estar mascarando uma alimentação inadequada. Os pacientes que apresentaram ganho de peso interdialítico excedente tendem apresentar prejuízo em sua qualidade de vida. Assim, o presente estudo demonstra a importância de avaliações e orientações nutricionais rotineiras em pacientes com DRC em tratamento dialítico, para que se possa minimizar o risco de desnutrição e suas consequências, como o óbito. REFERÊNCIAS BRASIL, 2013. 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