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Algumas contribuições dos sofistas à educação
Valmir Francisco dos SANTOS1
Paulo Rogerio da SILVA2
Resumo: A pesquisa apresenta alguns aspectos importantes da sofística para a
história da educação, no intento de demonstrar a sua relevância na construção
da nova concepção de pedagogia na Grécia Antiga. Assim, considera a participação dos sofistas no processo de evolução do conceito da Paideia, na medida
em que estes iniciam uma filosofia centrada no homem e na sua cultura. Traz,
também, uma reflexão sobre como reelaboraram o pensamento filosófico da época, pondo pela primeira vez como foco de atenção a intelectualidade. Os sofistas
compreenderam a exigência da areté política e foram responsáveis por difundir
a necessidade de uma formação que integrasse as dimensões física e espiritual.
Assim, este trabalho indica as características do movimento sofista, os métodos e
técnicas de que se utilizavam, bem como aponta as suas contribuições para uma
educação sistemática e consciente.
Palavras-chave: Sofistas. Educação. Política.
Valmir Francisco dos Santos. Especialista em Filosofia e Ensino de Filosofia pelo Claretiano – Centro
Universitário – Polo de Porto Velho (RO). Licenciado em Filosofia pela mesma instituição. E-mail:
<[email protected]>.
1
Paulo Rogerio da Silva. Doutorando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Mestre em Educação pela mesma instituição. Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail:
<[email protected]>.
2
Educação, Batatais, v. 5, n. 1, p. 95-108, 2015
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Some sophists’ contributions to education
Valmir Francisco dos SANTOS
Paulo Rogerio da SILVA
Abstract: This research presents some important aspects of sophistic to the history
of education, in an attempt to demonstrate its relevance in the construction of the
new concept of pedagogy in the Ancient Greece. Thus, it considers the sophists’
participation in the development process of the Paideia concept, inasmuch as
they initiate a philosophy which is centered in men and their culture. This study
brings a reflection on how they reformulated the philosophical thought of the
time, focusing, for the first time, on intellectuality. They understood the demand
for the political areté and were responsible for spreading the need for a formation
that would integrate the physical and spiritual dimensions. In addition, it indicates
the characteristics of the sophistic movement, the methods and techniques that
were used, and it shows their contributions for a systematic and conscientious
education.
Keywords: Sophists. Education. Policy.
Educação, Batatais, v. 5, n. 1, p. 95-108, 2015
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1.  INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende tratar de algumas características
da sofística, esclarecendo as contribuições trazidas pelo movimento à educação, bem como citar as mais relevantes e abordar como
o pensamento sofista exerceu tamanha influência no modo de conceber a formação do homem, iniciando, assim, o chamado período
humanista da filosofia na Grécia Antiga.
O primeiro capítulo cuida em discorrer sobre o contexto histórico e social em que surgiram os filósofos sofistas e em que condições alcançaram êxito em suas atividades, constituindo um marco
na história da filosofia. Esse capítulo visa também explicar como
provocaram a transição do objeto de investigação filosófica da natureza para o homem, visto que compreenderam a necessidade do
cidadão de uma sociedade que experimentava a democracia.
O segundo capítulo demonstra como se dava a atividade educativa dos sofistas, o que ensinavam e os métodos que utilizavam,
de modo que expressa o papel da sofística no desenvolvimento cultural do povo grego, reconhecendo a função da educação do homem da pólis. Finalmente, traz considerações sobre a contribuição
dos sofistas quando entenderam o ensino como uma técnica e participaram do processo de sistematização do conhecimento por área
do saber.
2.  BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO: SURGIMENTO DOS
SOFISTAS
Na Grécia Antiga, durante o período pré-socrático, o
pensamento filosófico voltava-se para o estudo da natureza,
constituindo, assim, o período dos filósofos naturalistas, que
se dedicavam, principalmente, à meteorologia e à cosmologia.
Pretendia-se explicar e fundamentar os argumentos a partir da
investigação dos elementos da natureza, de modo que predominou
a busca por um princípio único das coisas. Contudo, a procura pela
verdade e as indagações cosmológicas da filosofia pré-socrática
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deram lugar às questões humanas, das quais se encarregaram os
sofistas, que atentaram para o conhecimento útil ao homem da pólis.
Com o fortalecimento da democracia em Atenas, por volta do
século V a.C., houve a expansão do comércio, que ampliou as fronteiras, aproximando o povo de outras culturas, leis e sistemas de
governo diferentes. Nesse contexto, “[...] a crise da aristocracia implicou também a crise da areté, os valores tradicionais”; desfez-se
então a premissa de que se “[...] nascia virtuoso e não se tornava,
pondo em primeiro plano a questão de como se adquire a ‘virtude
política” (REALE, 2011, p. 74). Portanto, com o rompimento das
barreiras da polis, favoreceu-se a relativização das verdades.
Ademais, diante da:
[...] retração do poder militar e aristocrático em Atenas,
inaugurado pela democracia, reina a maior liberdade de
opinião e de debates em todas as partes da cidade. [...]
Não há repressão do pensamento, da arte e da palavra.
(NUNES, 1989, p. 32).
Foi nesse ambiente em que se observou a crescente soberania
popular. O homem grego tornou-se mais livre e participante das
discussões públicas. Nesse contexto surgiram os sofistas com uma
nova visão filosófica e de ensino.
O termo sofista provém das palavras gregas sophos (sábio),
sophia (sabedoria), de tal modo que “sofista” quer dizer sábio ou
“professor de sabedoria” (ARANHA, 1992, p. 219), cuja denominação inicialmente está vinculada a quem possui uma capacidade
específica e que mais tarde o sentido do termo denota conhecimento não só de parte, mas do todo.
Embora a palavra sofista tenha surgido com significado positivo, devido às críticas filosóficas da época, acabou ganhando uma
conotação pejorativa que duraria por muito tempo e que somente a
partir do século XIX restabeleceria sua significação originária.
As contradições sobre os sofistas representaram um preconceito histórico. O movimento da sofística chegou a ser considerado
um período de declínio do pensamento grego, contudo, “[...] essa
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imagem, de certa forma caricatural, da sofística, tem sido reelaborada no sentido de procurar resgatar a verdadeira importância do
seu pensamento” (ARANHA, 1992). Assim, “[...] os sofistas foram reabilitados por Hegel no século XIX” (ARANHA, 1992, p.
219). Posteriormente, no século XX, “[...] foi possível uma revisão sistemática desses juízos” (REALE, 2011), revelando tamanha
importância dos sofistas para o conhecimento; desse modo, “[...]
a conclusão a que se chegou é que os sofistas constituem um elo
essencial na história do pensamento antigo” (REALE, 2011, p. 73).
Dessa maneira, a sofística, mediante pesquisas realizadas mais recentemente, desvencilha-se da visão inadequada e ganha destaque
como importante movimento intelectual.
Transição do foco do conhecimento da natureza (phisis) para o
homem
A filosofia antiga, caracterizada pelas explicações mitológicas sobre o universo, cujo interesse se limitava ao conhecimento
do princípio da existência das coisas, acumulou um legado cultural
vasto sobre os principais sentidos da realidade. Esse período se denominou “cosmológico” (NUNES, 1989, p. 21) e nele predominou
o pensamento naturalista.
Enquanto nesse primeiro momento os filósofos se ocupavam
da phisis, o surgimento dos sofistas marcou o início do período
“Antropológico e clássico” (NUNES, 1989 p. 31). Os sofistas inauguraram o movimento intelectual que se opunha ao que representou
a corrente filosófica inicial da Grécia Antiga, ou seja, determinou
novos rumos para a filosofia da época, agora centrada no homem.
Os sofistas, com efeito, operaram verdadeira revolução espiritual (deslocando o eixo da reflexão filosófica da phisis
e do cosmo para o homem e àquilo que concerne à vida do
homem como membro de uma sociedade) e, portanto, centrando seus interesses sobre a ética, a política, a retórica, a
arte, a língua, a religião e a educação, ou seja, sobre aquilo
que hoje chamamos a cultura do homem. (REALE, 2011,
p. 74, grifo do autor).
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O pensamento dos sofistas inovou as questões filosóficas
modificando os objetos de investigação e criando uma nova escola filosófica. As preocupações passaram a recair sobre o homem
e suas necessidades enquanto membro de uma sociedade. Assim,
estabeleceu-se, radicalmente, a mudança de foco de todo o saber
filosófico, constituindo o chamado “[...] período humanista da filosofia antiga” (REALE, 2011, p. 73, grifo do autor).
Provocou-se a ruptura entre o saber materialista e o conhecimento voltado para a moral e política, e isso se deu basicamente devido ao esgotamento das possíveis explicações sobre os princípios
primeiros, sendo que “[...] a filosofia da physis pouco a pouco exauriu todas as possibilidades” (REALE, 2011, p. 74, grifo do autor).
Aliada a esse fator, tem-se a crise da aristocracia e “[...] a
experiência da democracia em que o mundo humano é criação do
homem”, assim como a descrença num “[...] único princípio que
a tudo comande, mas apenas convenções que os homens estabelecem para depois abandonar” (ABRÃO, 2004, p. 37). Estes, dentre
outros fatores econômicos, sociais e filosóficos, deram origem ao
novo modelo de filosofia.
A importância dos Sofistas na transição do foco do conhecimento
As transformações políticas e econômicas ocorridas na Grécia por volta dos séculos V e IV a.C. também apontavam novos
ideais de formação do homem, e novos conceitos de virtudes passaram a ser buscados. Na aristocracia as qualidades morais almejadas correspondiam à figura do belo guerreiro, do atleta, “[...] cuja
excelência se acha na coragem e na força” (ARANHA, 1992, p.
217), portanto, nisso consistia a função da educação tradicional de
Atenas. Com o aparecimento da classe dos comerciantes e os primeiros povoados urbanos, mudam-se as aspirações e instituem-se
outras formas de conceber o poder.
A estrutura social e política da sociedade a partir dessas mudanças implicaram na percepção da necessidade de participação
pública, no interesse pelas leis, de maneira que novas classes agiam
em oposição ao sistema de governo da época. Era a crise da arisEducação, Batatais, v. 5, n. 1, p. 95-108, 2015
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tocracia. As reformas políticas, marcadas pelo aparecimento do artesanato e do comércio, despertaram os cidadãos para as funções
relativas ao poder e à política.
Com o desenvolvimento da pólis grega, além das circunstâncias históricas, também contribuíram para o surgimento da sofística
algumas condições intelectuais, como, por exemplo, o afastamento
da ideia de que tudo provinha de um princípio divino, provocado
pelas reflexões do saber naturalista, e a necessidade de um conhecimento que correspondesse às perspectivas do homem da cidade-estado.
Coube aos sofistas iniciarem a sistematização e a teorização
do que viriam a ser as aspirações e virtudes consideradas diante da
organização social que se formou. Sobre esse fato, sustenta Aranha
(1992, p. 219-220) que “[...] os sofistas vão proceder à passagem
para a reflexão propriamente antropológica centrando suas atenções na questão moral e política”. E acrescenta:
Vão também elaborar teoricamente e legitimar o ideal democrático da nova classe em ascensão, a dos comerciantes enriquecidos. À virtude (areté) de uma aristocracia
guerreira se opõe agora a virtude do cidadão: a maior das
virtudes é a justiça, e todos, desde que cidadãos da pólis,
devem ter direito ao exercício do poder. (ARANHA, 1992,
p. 219-220).
A sofística instaurou uma grande transformação no modo de
conceber a formação do homem. Os filósofos sofistas ocupavam-se em desenvolver nos jovens a potencialidade do espírito crítico
e a habilidade de expressão. Evidentemente, num contexto em que
se tornou indispensável a capacidade de participar da vida pública,
cuja preocupação política passa a ser comum entre os cidadãos de
outras classes, instaura-se então o interesse pela educação formal
focada na arte da linguagem e do discurso.
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3.  OS SOFISTAS E A EDUCAÇÃO
Os sofistas e a arte de ensinar
O surgimento da cidade-estado favoreceu o desenvolvimento
cultural da sociedade grega. Com isso, a filosofia toma novo corpo
ideológico, torna-se mais racional e estruturada, caracterizando o
período da Grécia Clássica. Diante da nova organização social, em
que nascia a democracia, os sofistas compreenderam a nova função
da educação ateniense. Assim, observou-se inicialmente que, além
substituírem o objeto de investigação filosófica, os sofistas também
reinventaram os ideais educativos, fazendo com que os objetivos
estivessem voltados para a formação do cidadão da pólis.
Os sofistas eram professores nômades que ensinavam diferentes saberes: eram considerados grandes sabedores dos mais diversos temas relativos à atividade e saber humanos. Lecionavam
mediante pagamento e conforme a área de interesse dos alunos.
Exerciam grande fascínio, uma vez que o ensino à que se dedicavam não se limitava à teoria, mas era essencialmente prático, voltado para a vida (ARANHA, 1992).
Considerava-se que em virtude das pretensões políticas e de
acesso ao poder tornava-se necessário ser capaz de participar dos
debates e assembleias e, portanto, capacitar-se na arte da argumentação. Em vista desse novo contexto sociopolítico, os sofistas eram
os educadores que trabalhavam em função da instrução sobre as
técnicas da oratória, da eloquência e, por esse motivo, obtiveram
tanto sucesso, de modo que “[...] não tinham nenhuma dificuldade
em encontrar alunos para pagar suas altas taxas, ou auditórios para
suas conferências e exibições públicas” (GUTHRIE, 2007, p. 40).
Seus ensinamentos consistiam em desenvolver a aptidão para falar
bem em público e realizar discursos persuasivos e convenientes.
Dessa maneira, é possível então afirmar que os sofistas tiveram participação nesse processo de inclusão provocado pelo crescimento do poder do povo, ou seja, contribuíram para a superação
dos “[...] privilégios da antiga educação, para a qual a areté só era
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acessível aos que pertenciam a uma linhagem de origem divina”
(JAEGER, 1995, p. 337). Eles se valiam do ensino da retórica e
da dialética para instrumentalizar seus alunos naquele novo tempo.
Certamente que toda sociedade grega era dada a considerar a importância da palavra como instrumento superior de poder, todavia,
foi nesse período que a linguagem bem aplicada em seu exercício técnico ganhou vantajoso espaço e passou a ser compreendida
como indispensável ferramenta de inserção política e de aquisição
do poder. Nessa perspectiva Sánchez (1991, p. 65) afirma que:
Certamente, não seria um exagero dizer que seu exercício
era tão necessário quanto o das armas. Um cidadão incapaz de falar eloquentemente era como um soldado desarmado numa batalha. [...] E que a democracia era, em si, o
governo pela palavra, onde a fala era um imperativo da
própria estrutura política. [...] Atenas era a cidade da palavra, dos discursos, mas não tinha qualquer escola retórica.
Eis aqui onde o descompasso entre educação e cultura foi
maior. Qualquer intento de criar um ensino superior (não
meramente físico ou musical, mas político e intelectual)
teria esse fato como acicate e obstáculo. Se o Estado não
tinha essa escola e, no entanto, precisava dela, a iniciativa
para construí-la devia ser particular, mas orientada para as
necessidades políticas da cidade. Foi nessa encruzilhada
que emergiu a nova educação sofística, seduzindo e escandalizando a sociedade e os pensadores áticos.
Todo valor atribuído à retórica se justifica pela função que a
palavra exercia na Grécia. O poder era entendido como o sucesso
político, cuja principal arma era a capacidade de exercer influência
por meio do discurso. Nesse sentido, Guthrie (2007, p. 51) explica
que:
Seguindo a analogia, pode-se atribuir à retórica o lugar
agora ocupado pela propaganda. Com certeza, a arte da
persuasão, amiúde por meios dúbios, não era menos poderosa então, e, assim como temos nossas escolas de negócios e escolas de propaganda, assim também os gregos
tinham seus mestres de política e retórica: os sofistas.
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Sabe-se que já era comum a leitura de textos em público,
principalmente recitação de poemas; contudo, os objetivos dessas
apresentações não se confundem com a finalidade da prática dos
sofistas, que começaram suas exposições nos festivais. Muitos autores tornavam conhecidas suas obras dessa forma, enquanto a pretensão dos sofistas consistia em realizar mais do que desempenho
de atividade retórica de narrativa imaginária, mas implicava numa
competição. Assim, “[...] para Protágoras, qualquer discussão é
‘batalha verbal’, na qual um deve sair vencedor e o outro vencido”
(GUTHRIE, 2007, p. 45).
Ademais, ao mesmo tempo em que os ensinamentos sofísticos equivaliam ao saber exigido numa região de tamanha efervescência política como em Atenas, provocava grande interesse por
que determinava o sucesso nas reuniões onde se faziam as mais
importantes decisões políticas. Afinal, a própria inserção na política era socialmente obrigatória, ou seja, era indispensável participar
dos destinos da cidade. Assim, “[...] a conduta apolítica era inconcebível porque significava a renúncia àquilo que era a própria essência do ateniense: pertencer ao corpo político, à cidade” (HOSS
apud SÁNCHEZ, 1991, p. 46).
Porquanto, reconhece-se como oportuno os treinamentos
oferecidos pelos Sofistas. Seus ensinos consistiam num saber geral, amplo, mas também inclinado para o proveito político. Assim,
ensinavam astronomia, música, aritmética, geometria, sobretudo,
propunham exercícios referentes ao bom uso da linguagem oral,
à eloquência e à retórica, entendida como a atividade metódica do
discurso, “[...] podendo ser definida como a arte de persuadir que
no séc. V tinha enorme importância política” (REALE, 2011, p. 7879). Suas instruções consistiam no conhecimento das mais diversas técnicas de oratória, de maneira que não tratavam da verdade,
da moralidade, tendo sido acusados de superficialidade, além de
responsáveis por propagar ideais tidas como sinal de decadência
moral do povo grego (GUTHRIE, 2007). Isso se deu possivelmente
devido à ocupação com a forma, com os métodos, desconsiderando a veracidade do argumento, visto que seus preceitos não pretendiam tratar da moral e da retidão. Aliás, escandalizavam-se os
filósofos contemporâneos com o ensino da dialética, que para os
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sofistas compreendia a arte de manipular os argumentos, defender
as ideias, independentemente da veracidade. Inclusive, a dialética
implicava na capacidade de justificar e convencer com igual sucesso, ideias opostas, o que também revela o caráter cético do pensamento sofista e a descrença na existência de uma verdade universal
(GUTHRIE, 2007).
A importância da teoria e prática educativa dos sofistas e a sistematização do ensino
Os sofistas apareceram oportunamente, uma vez que
possuíam uma concepção de educação que abrangia tudo que dizia
respeito ao homem e a sua existência, ou seja, compreendiam que
a formação do cidadão tinha de ser plena. Por essa razão, seu saber
condizia perfeitamente com as pretensões do novo modelo de
sociedade que se formou, cuja exigência encerrava uma educação
ampla e estruturada.
Assim, com os sofistas, ampliou-se o sentido da paidéia e
esclareceu-se em que exatamente consistia, nesse novo tempo, a
virtude a ser considerada. A sofística reinventou o ensino secular,
estabeleceu novos rumos e principiou a reflexão sobre as técnicas
pedagógicas. Destarte, o movimento inaugurou uma “[...] formação mais ampla organizando as primeiras ‘escolas’ superiores com
objetivos literários e intelectuais” (SÁNCHEZ, 1991, p. 66). Nesse
sentido, o estado, “Embora possuísse um ideal humano e político
mais extenso, carecia de um sistema organizado de educação para
atingi-lo” (SÁNCHEZ, 1991, p. 56). Dessa tarefa ocuparam-se os
sofistas, que puderam orientar sobre os caminhos a serem seguidos
para atingir a mais elevada areté – e no seu novo sentido. Reconhece-se que:
A fundamental clareza com que se coloca essa questão e
sem a qual seria inconcebível o nascimento da ideia grega
unitária da formação humana pressupõe a gradual evolução que viemos seguindo desde a mais antiga concepção
aristocrática da arete até o ideal político do homem vinculado a um Estado jurídico. (JAEGER, 1995, p. 335-336).
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Foi nesse sentido que a contribuição dos sofistas determinou
como se daria a educação que consistisse na formação integral do
homem, que envolvesse o aspecto físico, espiritual e intelectual.
Foram responsáveis pela organização dos conteúdos, cujos temas
constituíam “[...] um novo método escolar inédito, chamado Paidéia, e abrangia o ensino da Retórica, Gramática, Aritmética e Lógica” (NUNES, 1989, p. 33). Dessa forma, o nascimento da Paidéia representa o início de uma grande transformação no modo de
conceber a educação, e os gregos foram os que primeiro compreenderam que ela era a chave para a formação humana. Contribuíram
com isso para a visão evoluída de cultura que se adquiriu em todo
o Ocidente.
A partir da formação dos primeiros currículos, nasceu uma
educação sistemática, consciente, mas equivalente ao que era exigido naquele contexto. Nisso consiste alguns aspectos importantes
do período da sofística para a educação.
4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento dos sofistas representou o início de um novo
período da filosofia grega, impondo-lhe características totalmente
diversas do período inicial. O pensamento naturalista deu lugar ao
pensamento dos sofistas, inaugurando um momento mais sistemático da filosofia, dessa vez preocupada com as questões humanas. A
importância desse movimento se verifica pela constatação de como
determinou a transformação da concepção de educação, cuja abrangência dos diversos aspectos da existência humana respondia aos
problemas da época. Passou-se a tratar da areté política, da moral,
do homem em comunidade, trazendo o saber condizente com as
aspirações sociais em pleno auge da democracia.
A despeito das fortes críticas realizadas por outros filósofos
da época, principalmente por Sócrates, tendo sido inclusive apontados como responsáveis pelo considerado período de decadência
dos valores morais, o fato é que os sofistas provocaram uma verdadeira reforma intelectual na Grécia Antiga. Os sofistas entenderam,
naquele contexto histórico, o sentido da nova virtude, fundada no
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conhecimento espiritual do indivíduo e difundiram com clareza a
sua exigência.
Ademais, foram chamados de criadores da ciência da educação, visto que instituíram as bases da pedagogia. Os sofistas possuíam métodos definidos, seu saber era enciclopédico e trabalhavam
em função da formação do espírito em todas as suas dimensões.
Refizeram o significado de Paidéia, fundaram uma educação consciente e racional; organizaram o conhecimento escolar por áreas,
atribuindo caráter sistemático ao processo de ensino. Por essas razões, o pensamento dos sofistas constitui momento de fundamental
importância para a história da educação.
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GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. Tradução de João Rezende Costa. São Paulo:
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JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M.
Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
NUNES, C. A. Aprendendo filosofia. Campinas: Papirus 1989.
REALE, G. História da filosofia Antiga: léxico, índices, bibliografia. 5. ed. São
Paulo: Loyola, 1995.
______. ANTISERE, D. História da filosofia. Tradução de Ivo Storniolo. São
Paulo: Paulus, 2011.
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SÁNCHEZ, J. G. de la A. G. A Contribuição Histórica da Sofística à Educação.
1991. 217 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Fundação Getúlio Vargas,
Instituto de Estudos Avançados em Educação – Departamento de Administração
de Sistemas Educacionais, Rio de Janeiro, 1991.
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