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Sofistas: um modelo de
educador?
Em meados do século V a.C., irrompeu na Grécia um movimento cultural sui generis,
que teve conseqüências decisivas para o mundo ocidental. Nascia a Sofística, promovida
pelos Sofistas. Identificados como educadores profissionais que davam instruções a jovens,
e exercícios públicos de eloqüência, por pagamento. Tendo por este motivo sua imagem
denegrida por Platão e Aristóteles.
“Assim, tão simplesmente como parece, o gênero que recebe dinheiro, na arte da erística,
da contradição, da contestação, do combate, da luta, da aquisição, é o que, segundo a presente
definição, chamamos de sofista.” (Platão, Sofista, 226ª)
Passou-se assim para a história a imagem do sofista como educador empenhado, sobretudo,
em lucrar com seus conhecimentos. Entretanto esta interpretação não é a única possível,
pois apesar de não cobrarem por seus ensinamentos como os sofistas, Platão e Aristóteles
recebiam presentes de seus alunos, entre eles Alexandre (O Grande), e boa parte da
aristocracia grega.
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Na verdade para ser membro da Academia (escola de Platão), ou do Liceu (escola de
Aristóteles), eram exigidos conhecimentos prévios que só filhos da aristocracia poderiam
ter. E, ao que consta, os tais presentes eram bastante generosos, para sustentar tanto a
Academia quanto o Liceu, e seus respectivos mestres.
Por sua vez os sofistas ensinavam qualquer um que desejasse aprender, não importando a
origem social do mesmo. Eles realmente cobravam por seus ensinamentos, mas não
exigiam do aluno qualquer conhecimento prévio. Assim seus cursos partiam desde os
níveis mais elementares. Recebendo sempre alunos em diferentes níveis de aprendizagem.
Numa sociedade democrática, onde a capacidade de usar a retórica nas assembléias
públicas, era indispensável para fazer parte da comunidade política e se tornar cidadão, ter
escolas que aceitassem apenas alunos da elite era uma forma de impedir que jovens de
classes menos abastadas tivessem acesso à vida pública.
O magistério praticado pelos sofistas por sua vez era estendido a todas as classes sociais:
“Jovens de boa família que desejavam entrar na política, e aqueles, como um certo Antímetro
de Mende, que estudava para fins profissionais. (Platão, Protágoras, 315ª ).
Além disso, numa sociedade que desprezava os trabalhos técnicos, os sofistas não se
intimidavam em aprender e ensinar estas artes. Protágoras, um dos mais importantes
sofistas dava primazia ao ensino da técnica. Eram herdeiros tanto dos filósofos présocráticos (estudiosos da física), como dos poetas.
Dominavam assim amplos conhecimentos. Hípias se gabava de saber e ensinar, com toda
eficiência diversas ciências: astronomia, geometria, aritmética, gramática, rítmica,
música, genealogia, mitologia e história.
Este tipo de atitude não é justamente o que se espera de um bom professor, não um
domínio especializado de uma única disciplina, mas um conhecimento polivalente e
interdisciplinar. Justamente por estas características Werner Jaeger (Paidéia: los ideales de
la cultura griega. Trad. De J. Xirau e W. Roces. México: Fundo de Cultura Econômico,
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1957 ), escreveu: “foi sofistica a origem da educação no sentido estrito da palavra.”
O educador do século XXI assim como o sofista do século V a.C., deve neste mundo da
informação e da tecnologia ser um intelectual polivalente, aceitar seu aluno independente de
classe social e exigir uma remuneração digna de suas funções. Somente assim será capaz
construir sabedoria com seus alunos e ter acesso à produção cultural e científica que a
humanidade construí durante séculos. O educador é um profissional e deve se comportar
como tal, caso contrario jamais será respeitado da mesma forma. A muito os sofistas já
sabiam disto.
Obra original disponível em:
http://www.overmundo.com.br/banco/sofistas-um-modelo-de-educador
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