A Vanguarda de Chicago Introdução Os E.U.A., até ao século XIX, inclusive, limitavam-se a copiar os modelos da arquitectura europeia. No entanto, a partir desse século, a situação inverte-se e nasce um novo tipo de arquitectura nos E.U.A., que vai influenciar determinadamente a arquitectura europeia a partir de então. Tal acontecimento deveu-se, principalmente, ao facto de a Europa estar bastante ligada às correntes historicistas e os E.U.A. não, pois essas raízes (historicistas) eram apenas importadas, não genuínas, o que facilitou o “salto” para uma arquitectura moderna, funcional. “Os E.U.A., eram uma região rica em matérias-primas e, por isso, um local privilegiado para o desenvolvimento da indústria que conheceu, ali, uma expansão notável. A forte imigração proveniente da Europa de populações em busca do “sonho americano” (liberdade e fortuna), provocou um aumento populacional desmedido, em geral junto aos grandes centros urbanos (principais centros industriais e potenciais fornecedores de empregos). Destes centros, destacamos Chicago, localizado, geograficamente, no cruzamento das principais rotas rodo e ferroviárias da época, com destaque paras as que ligavam as duas frentes costeiras do país do país (a costa Atlântica e a costa do Pacífico).” Nas primeiras décadas a cidade de Chicago era construída em madeira, através de uma estrutura de encaixes, o que permitia aproveitar não só o trabalho industrial da madeira, em dimensões unificadas, como também abreviava o seu tempo de montagem. Em 1871, Chicago foi “vítima” de um grande incêndio que abateu quase por completo a cidade, tornando fundamental a reconstrução da cidade de forma rápida e eficaz. O receio de um novo desastre natural, fez com que Chicago renascesse como um grande centro de negócios, com edifícios para escritórios, grandes magazines e hotéis, onde foram testados novos sistemas de construção, a fim de satisfazer as novas necessidades das pessoas da época. Para isso, foi necessário criar novos protótipos arquitectónicos, práticos e funcionais. Com o incêndio apareceu também a carência de enquadrar a cidade num novo tipo de malha, que se deveria desenvolver segundo um controlo urbanístico adequado à nova escala da cidade. Surge, então, o plano regulador de Burnham e Bennet (1909), que consiste em pôr ordem no corpo da cidade, assinalando assim o aparecimento da fase da explosão de edificações. A urgência da reconstrução e o avanço técnico registado na altura levou, também, ao desenvolvimento de processos construtivos arrojados, processos estes em que os engenheiros tiveram um papel preponderante, ao colocarem ao serviço das necessidades de então os seus conhecimentos técnicos. A valorização dos terrenos urbanos mais centrais obrigou a sua rentabilização, dando, assim, origem a uma arquitectura desenvolvida em altura, com isto, surgem, então, os primeiros arranha-céus. Para o aparecimento destes contribuiu também o aparecimento do elevador e o telefone, que permitiam a comunicação entre os vários pisos de qualquer edifício, com qualquer número de pisos. A primeira geração desta vanguarda trabalhou nas primeiras obras após o incêndio e foi apelidada com o termo “Escola de Chicago”. Esta geração compreendeu as questões de engenharia, sendo muitos deles formados no -1- A Vanguarda de Chicago Génio militar durante a guerra de Secessão. Deste conjunto, podemos destacar William Le Barron Jenny. Mas foi a segunda geração que tornou-se mais importante e foi, também, de lá que saíram a maior parte dos grandes nomes da arquitectura e engenharia americana da altura, tais como Daniel Burnham, Dankmar Adler e, por último, o nome mais sonante desta época, Louis Sullivan. Ao falarmos destes arquitectos e engenheiros, devemos também referir W. Smith e C. Ströbel, importantes técnicos que colaboraram bastante no estudo de determinados problemas estruturais. -2- A Vanguarda de Chicago Daniel Burnham e a Escola de Chicago Daniel Hudson Burnham (4 de Setembro, 1846 -1 de Junho, 1912) foi um arquitecto americano e um planeador urbano. Foi o director dos trabalhos para a Exposição Mundial Colombiana e projectou diversos edifícios famosos, tais como: o Flatiron, (fig.1), em Nova Iorque e Union Station em Washington D.C. Daniel Burnham nasceu em Henderson, Nova Iorque e foi criado em Chicago, Illinois. Os seus pais criaram-no sobre os ensinamentos da Nova Igreja de Jerusalém, o que fez crescer nele a forte convicção de que os homens deviam estar ao serviço uns dos outros. Depois de falhar as admissões em Harvard e Yale e um insucesso na carreira política Burnham foi colocado como desenhador ao serviço de William LeBaron Jenney. Aos 26 anos Burnham formou uma firma com Cárter, Drake e Wright onde encontrou o seu futuro parceiro, Jonh Root. Burnham atesta que “ o princípio de sustentar todo o edifício sobre uma rede metálica equilibrada com precisão, solidificada e protegida contra o fogo, deve-se à obra de William Le Baron Jenney. Ninguém o precedeu, e a ele cabe todo o mérito que deriva dessa proeza de engenharia.” Os edifícios mais conhecidos desta firma foram pioneiros na inclusão de componentes estruturais, no detalhado tratamento da superfície e na manipulação volumétrica de interiores e exteriores. Formando equipa, Root e Burnham aliaram as suas artes e tornaram reais obras verdadeiramente notáveis e importantes na história da arquitectura. Durante os 18 anos que trabalharam juntos, desenvolveram casas privadas, edifícios de escritórios, apartamentos, estações ferroviárias, armazéns, escolas, hospitais e igrejas. Burnham desenvolveu e dirigiu a organização no escritório enquanto que Root liderou o departamento de design. Em 1881, constroem o Montauk Block (fig.2) com paredes de suporte com dez andares de altura. Foi um dos primeiros edifícios a utilizar dois elevadores. Em 1891, edificam o Monadnock (fig.3/fig.3a) com 16 andares, paredes exteriores em tijolo sem qualquer tipo de ornamentação e as superfícies recortadas em curva põem em evidência a volumetria do edifício e as colunas de Bow-windows. No entanto, a simplicidade é mais aparente do que real, pois “os tijolos eram sustentados por cantoneiras de aço escondidas, e as linhas fluidas, não naturais nos tijolos, eram obtidas forçando o material: foi necessário construir centenas de moldes para fazer tijolos especiais que seguissem as curvas e as inclinações.” Os mesmos autores constroem em 1892, o Great Northern Hotel e o edifício mais alto da velha Chicago, o Capitol, também chamado de Masonic Temple, (fig.4/fig.4a), que atinge 22 andares com 91m de altitude. O edifício está apoiado em arcos e rematado por um tecto muito inclinado, que o destaca dos restantes. O edifício Reliance (fig.5/fig.5a) é construído em 1890 com 5 andares de altura. Em 1895 depois da morte de Root, em 1891, Burnham e o engenheiro E. C. Shankland aumentaram-no até aos 10 andares repetindo-os sucessivamente com excepção dos dois primeiros pisos. Obteve-se assim uma estreita torre em vidro com ladrilhos brancos simples. Sob a influência de Root, -3- A Vanguarda de Chicago a empresa produziu edifícios modernos como parte da Escola de Chicago. Depois da sua morte prematura, a empresa passou a ser conhecida como a D.H. Burnham&Co. Burnham aceitou a responsabilidade de supervisionar a construção da Exposição Mundial Colombiana em Chicago (fig.6), até então chamado ao local de Jackson Park. Esta feira marcou os 400 anos da viagem soberba de Cristóvão Colombo. Quando Root morreu, uma equipa incomparável de arquitectos americanos e paisagísticos, incluindo Burnham com o seu estilo moderno e colorido, Frederick Law, Olmsted, Charles McKim e Sullivan mudaram radicalmente o estilo de Root para um estilo que revivesse as tendências clássicas. Com Burnham na direcção, a construção da exposição ultrapassou todos os obstáculos financeiros incluindo uma grande pressão para que fosse inaugurado a tempo. Em 1909, Burnham juntou-se a Edward Bennett e desenvolveram o Plano de Chicago (fig.7) que consistia na projecção de plantas para o futuro da cidade. Foram as primeiras plantas detalhadas para o crescimento controlado de uma cidade americana. As plantas incluíam propostas ambiciosas para algumas das partes mais destacadas da cidade. Subsidiado pelo Clube Comercial de Chicago, o Plano punha a tónica nas vantagens comerciais das cidades como Paris, realçadas por um planeamento global e um classicismo consistente. “Sobrepondo à retícula um sistema simétrico de novas ruas diagonais, constando de um semicírculo de quase 32km de diâmetro; porém, por trás dessa solução surgem problemas complexos de circulação, de zonamento, de distribuição dos edifícios públicos.” Os projectos de planeamento de cidades não pararam em Chicago pois Burnham ajudou a formar muitas outras, tais como: Cleveland, São Francisco, Washington DC, Manila e Baguio nas Filipinas, com detalhes que aparecem na publicação do livro “Planta de Chicago de 1909”. Filipa Alexandra Gomes Andrade, 6355, AGU 2ºAno; Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa; História da Arquitectura e Urbanismo II -4- A Vanguarda de Chicago A estrutura “óssea” dos edifícios William Le Baron Jenney (1832-1907) era um dos arquitectos americanos mais importantes do século do XIX. Trabalhando quase exclusivamente em Chicago, Jenney fez avanços importantes na estrutura de edifícios de escritório altos incorporando o ferro e o aço nos seus projectos. Jenney começou a construção do edifício Home do seguro em 1883, terminando-o em 1885 com o auxílio do coordenador George B. Whitney, transformando o seu trabalho o mais importante da engenharia de Jenney. Era uma etapa importante no desenvolvimento da tecnologia estrutural que os arranha-céus viveram. Os componentes load-bearing da estrutura foram feitos completamente em ferro de molde, ferro feito, e de aço, marcando o primeiro uso do aço num edifício nos Estados Unidos. O uso de Jenney dos feixes de aço de Bessemer resultou no Bessemer Steamship Companhia de New York que nomeia um navio após ele. A formação estrutural nova de Jenney atraiu a atenção imediata dos arquitectos e dos construtores. Eliminando a necessidade de uma parede suportar o peso do edifício, porque os frames do ferro-e-aço eram um terço do peso de frames do tijolo e madeira, a altura dos edifícios poderia extremamente ser aumentada. O ferro e o aço eram mais baratos, e os construtores poderiam trabalhar com velocidade e eficiência mais grandes. Os edifícios altos do Loop de Chicago são constituídos por estrutura em esqueleto de aço aperfeiçoada por Le Baron Jenney, permitindo assim a construção em altura sem receio de sobrecarregar excessivamente os pilares nos andares de baixo, abrindo nas paredes vidraças quase continuas, de modo a iluminar construções profundas. Para suportar as cargas concentradas das pilastras, novos sistemas de fundação em pedra são propostos em 1873 por Baumann, e aperfeiçoados até se chegar ao “Chicago Caisson” em concreto em 1894. O elevador de segurança a vapor surge em Nova York, aparecendo em Chicago em 1864, mas, em 1870 C. Baldwin inventa e constrói em Chicago o primeiro elevador hidráulico, e em 1887 começa-se a difundir o elevador eléctrico. E assim elevador, telefone e correio pneumático permitem funcionamento dos novos hotéis, magazines e escritórios de qualquer tamanho e com qualquer número de andares, nascendo assim o primeiro arranha-céus em Chicago. “ A construção de edifícios para escritórios de enorme altura, com estrutura em esqueleto de ferro e aço que sustenta as paredes internas e externas, tornouse um hábito em quase todas as cidades americanas. Esse estilo de construção nasce em Chicago, ao menos no que se refere a sua aplicação pratica, e essa cidade possui agora mais edifícios do tipo com esqueleto de aço que todas as demais cidades Americanas juntas.” Engineering News de 1895, F.A. Randall, op. cit., p. 11 O arranha-céus é outra aplicação típica do abstrativo próprio da cultura arquitectónica americana, tal como a planta quadriculada. “O arranha-céus não é uma sinfonia de linhas e de massas, de cheios e de vazios, de forças e resistências; é, antes, uma operação aritmética, uma multiplicação.” Emilio Cecchi -5- A Vanguarda de Chicago Tal como o método de loteamento de terrenos sobre os quais surge substancialmente uma outra operação aritmética, servindo para harmonizar o novo cenário urbano com as exigências da sociedade industrial. As experiências da Escola de Chicago são uma contribuição importante para a formação do movimento moderno, estando divididas em duas vertentes o historicismo e a experiência individual de vanguarda, sendo o último caminho o escolhido por Sullivan. Burnham atesta que: “O princípio de sustentar todo o edifício sobre uma rede metálica equilibrada com precisão, solidificada e protegida contra o fogo, deve-se à obra de William Le Baron Jenney. Ninguém o procedeu nisso, e a ele cabe todo o mérito que deriva dessa proeza de engenharia que foi o primeiro a executar” Engineering Record de 1896, F.A. Randall, op. cit., p. 106 Tal princípio é aplicado pela primeira vez no Leiter Building de 1879, sustentado externamente por pilastras em alvenaria muito espaçadas e internamente por montantes em metal, e, com maior coerência, no Home Insurance Building de 1885, que é considerado como o primeiro edifício de Chicago provido de um esqueleto completo em metal, embora uma parte das paredes perimetrais conserve uma função de sustentação. Em 1889, com o segundo edifício Leiter e com o Fair building, Jenney torna mais preciso o seu conceito de construção, reduzindo as fachadas e as leves protecções, sustentadas pela rede metálica interna; conserva, contudo, sempre algumas partes em alvenaria compacta, com a forma de pilares com bases capitéis clássicos e trata também os montantes metálicos, quando pode, como pequenas colunas. O Manhattan Building, de 1890, sobe dezasseis andares a fim de procurar a luz por cima de uma estreita, algumas janelas estão alinhadas com as fachadas e outras salientes, são cortadas dessa vez em uma alvenaria continua, que contudo sustentada, andar por andar, pelo esqueleto em aço. Luís Filipe Lage Pereira, 6359, AGU 2ºAno; Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa; História da Arquitectura e Urbanismo II -6- A Vanguarda de Chicago O funcionalismo de Louis Sullivan O arquitecto norte-americano Louis Sullivan é a personalidade que melhor simboliza a inovação arquitectónica vivida na segunda metade do século XIX, na cidade americana de Chicago, após o grande incêndio que destruiu parte desta cidade. Considerado por muitos como o primeiro”funcionalista” moderno, Louis Sullivan consegue nas suas obras em Chicago manter a independência em relação as técnicas do passado e não se sentiu inibido na utilização dos meios tecnológicos que despontavam nesta época nem na utilização dos novos materiais, pelo contrário tentou explora-los e tirar o máximo partido das suas características, criando-se a possibilidade de construir edifícios cada vez mais altos, inventando um tipo de edifício completamente novo, isso levou ao aparecimento dos primeiros arranha-céus. A introdução do elevador, mecanizando a deslocação vertical das pessoas no interior dos edifícios, e a utilização de estruturas em aço, retirando às paredes o seu papel resistente, permitiu a construção de blocos verticais de escritórios, armazéns comerciais e de habitação colectiva. Algumas das características da sua arquitectura é a verticalidade e a funcionalidade buscando a relação perfeita entre a forma de construir, a industrialização e o crescimento urbano. Louis Sullivan explora e aperfeiçoa as estruturas em “esqueletos metálicos”, rasga as fachadas com grandes vidraças, as janelas passam a ser maiores por não ter preocupação com estrutura da parede, concebe plantas livres e de grande funcionalidade e moderniza os sistemas de isolamento, saneamento, aquecimento, manutenção, pormenores que tiveram grande importância para a construção dos edifícios em altura. No exterior, as fachadas eram marcadas pela regularidade horizontal e vertical das filas simétricas de janelas. Defende uma arquitectura para a realidade existente, ou seja para a cultura americana, sempre seguindo um conceito de forma, função, que para ele era omnipresente a qualquer forma de vida. A boa arquitectura deveria então corresponder à sua função e expressa-la na forma, e adaptar-se à imagem que corresponde, quer no conjunto, quer nos detalhes. Em 1879 começa a trabalhar na empresa Dankamar Adler da qual se tornou sócio pouco tempo depois. Esta foi a fase mais produtiva de Sullivan e da qual tempos mais informação, Sullivan e Adler construíram mais de 100 edifícios juntos, marcos importantes da arquitectura americana, marcando a era dos arranha-céus e das novas estrutura de aço e ferro. O primeiro edifício feito por eles em sociedade foi o Bloco de Borden, construído entre 1879/1880. Sua primeira grande obra como arquitecto foi o of Chicago (1886-1889), que se destacava por ter uma torre com 17 pavimentos, o mais alto edifício da cidade na época da sua construção, e talvez a obra-prima da Escola de Chicago, pelas soluções técnicas utilizadas, apesar de ser um edifício com o principal objectivo de albergar o auditório, este era composto por outros serviços, com uma organização interna inovadora para a época, possuía além do auditório, escritórios comerciais e um hotel em seu interior. O auditório apesar de ter capacidade para 7000 pessoas foi projectado para ser dividido em pequenos auditórios dependendo da necessidade. O edifício Auditorium Building destacava-se por ocupar praticamente metade do quarteirão onde -7- A Vanguarda de Chicago estava implantado. Desfeita a sociedade com Adler em 1895, continuou a trabalhar com sucesso durante algum tempo, a sua consagração como arquitecto veio com os edifícios Guaranty Building e o edifício Wainwright (1900), cuja estrutura é totalmente construída em aço e com predominância de elementos verticais, constituiu o modelo clássico dos arranha-céus, a sua última obra de relevo foi a construção dos grandes armazéns Schlesinger & Mayer (1899-1904), em que demonstrou versatilidade ao empregar uma estrutura de tendência marcada pela horizontal e linhas simples, adaptada aos propósitos comerciais do edifício e prima pela ausência de elementos supérfluos de ornamentação. Porém a sua ruptura com Adler trouxe-lhe uma grande perda na sua criatividade e na realização das construções e o reconhecimento do seu prestígio entrou em decadência (1910), e a dificuldade na organização dos aspectos práticos relacionados à construção arquitectónica, trabalho antes realizado por Adler, deu originem a uma redução da procura das pessoas em relação aos seus projectos. Sullivan é um caso separado de todos os restantes arquitectos desta época pois ele criticava os seus contemporâneos e distinguiuse destes ao inventar uma arquitectura pessoal como alternativa à corrente. Morreu em Chicago, deixando um trabalho que marcou o desenvolvimento da estética funcionalista dos arranha-céus e a renovação da arquitectura, ajudou a impor a imagem do arquitecto como artista e criador, contra o ecletismo tradicional. O seu contributo foi fundamental na evolução da Arquitectura marcando um ponto de viragem desta, tornando-se o principal influente da corrente moderna vivida anos mais tarde na Europa, o Modernismo, influenciando vários arquitectos como Le Corbusier. Em Chicago deixou alem de magníficas obras arquitectónicas e trabalhos teóricos importantes um discípulo de renome, Frank Lloyd Wright. Sandra Isabel Silva Sabino, 6370, AGU 2ºAno; Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa; História da Arquitectura e Urbanismo II -8- A Vanguarda de Chicago O espírito de equipa de Adler Dankmar Adler foi um dos principais representantes da Escola de Chicago, e, embora não seja tão conhecido como Sullivan, contribuiu bastante para o desenvolvimento da arquitectura americana com os seus conhecimentos em engenharia e acústica. Antes de caracterizar a sua arquitectura, acho relevante explicar como é que Adler surge em Chicago. Adler nasceu em Eisenach, na Alemanha, em 1844. Em 1854, imigrou com seu pai para Detroit, onde começou a interessar-se por arquitectura e a trabalhar como aprendiz de arquitecto. Em 1861, seu pai foi nomeado rabbi da sinagoga Kehilath Anshe Ma’ariv, em Chicago e, consequentemente, Adler e seu pai tornam a mudar-se. Em Chicago, Dankmar procurou o seu primeiro trabalho como arquitecto, mas foi interrompido em 1862, quando se alistou na Companhia M, do Primeiro Regimento para lutar na Guerra Civil. Entre 1862 e 1964, combateu em muitas batalhas e entre estas lia, constantemente, publicações científicas. Nos últimos nove meses de serviço, foi-lhe atribuído o cargo de desenhador no escritório do coordenador tipográfico de divisão militar de Tennessee. Depois de ter terminado o serviço militar voltou para Chicago. Em 1871 fez uma parceria com Edward Burling que acabou em 1871, devido ao grande incêndio de Chicago. Em 1879, decidiu tornar-se independente e abriu a sua própria empresa, da qual Louis Sullivan se fez sócio mais tarde e juntos desenvolvem a construção em altura com uma estrutura em ferro e aço, marcando assim a arquitectura americana. Dankmar Adler morreu com cinquenta e seis anos, em 1900. Em relação à sua instrução académica e à sua carreira como arquitecto, Adler estudou sempre em escolas públicas, no entanto, não concluiu os estudos. Mas as aulas particulares de desenho que teve em Detroit despertaram-lhe um interesse por arquitectura, como já referi. Seu pai apercebendo-se deste seu interesse, colocou-o como aprendiz de John Shaeffer e de E. Willard Smith, seu assistente, com eles Adler aprendeu as cinco ordens convencionais, esboçou muitos ornamentos bizantinos e românticos (a arte popular neste período), aprendeu a projectar igrejas, tal como, os fundamentos da arquitectura e da engenharia. Entre 1865 e 1871, já em Chicago e depois de ter concluído o seu serviço militar, Adler começou a sua carreira como arquitecto, construíndo na sua maioria igrejas, escolas e tribunais. Em 1871 fez uma parceria com Edward Burling, parceria esta que é interrompida com o grande incêndio de Chicago, em Outubro de 1871. A partir daqui, começou a estudar e a construir edifícios de escritório, sendo o Central Music Hall, a sua primeira obra independente e a mais importante antes de se juntar a Sullivan. Em 1879, como já mencionei anteriormente, decidiu tornar-se independente, abrindo, desta forma, a sua própria empresa, na qual empregou Louis Sullivan, que mais tarde se tornou seu sócio. Adler e Sullivan construíram mais de 100 edifícios, marcando a arquitectura americana através dos seus arranha-céus com estrutura em aço e ferro. Sendo o primeiro edifício desta -9- A Vanguarda de Chicago sociedade foi o Bloco de Borden, construído entre 1879 e 1880 (e demolido em 1916). Adler e Sullivan produziram alguns das mais importantes e influentes estruturas na história da arquitectura americana. A sua arquitectura caracterizou-se pela rejeição que fizeram em relação à arquitectura exercida na Europa e pela criação de projectos que utilizavam os materiais e tecnologias inovadoras da altura. Frank Lloyd Wright foi mais um dos grandes arquitectos a trabalhar para esta parceria e a ser influenciado pela mesma. Em 1895, esta parceria foi dissolvida e, a partir de então, Adler envolveu-se em organizações de arquitectos e escreveu, também, alguns artigos de arquitectura. Adler foi um arquitecto pragmático, que criava os edifícios antes de mais nada como um problema técnico e um assunto económico. Daí, para ele o ornamento ser considerado um luxo (tal como Adolf Loos alega mais tarde), ideia esta que ele descreveu no seu livro Ornamento e Arquitectura, onde argumenta o porquê do ornamento. Pois no seu entender, o edifício podia impor-se sem ornamento; então, apresenta edifícios profundamente racionais e pragmáticos, desprovidos de qualquer decoração, em que as fachadas se caracterizam por grandes rectângulos definidos pela estrutura, rectângulos estes que são preenchidos com grandes painéis envidraçados, deixando perceber, desta forma, as linhas horizontais e verticais estruturantes do edifício. Adler era também um perito em engenharia e em acústica, tornando-se, deste modo, bastante importante para o desenvolvimento de edifícios e arranha-céus construídos em aço. Tânia Sofia Afonso Queiroz, 6359, AGU 2ºAno; Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa; História da Arquitectura e Urbanismo II - 10 - A Vanguarda de Chicago Conclusão A Escola de Chicago foi o mais notável movimento arquitectónico dos E.U.A. na segunda metade do século XIX, contribuindo para a afirmação do Modernismo, pela sua utilização arrojada de todas as novas tecnologias e soluções (arquitectura do ferro, introdução do elevador, construção em altura, revestimento em vidro de grandes superfícies, etc.) e, ainda, pela afirmação da racionalidade e funcionalidade como valores estéticos. Com esta vanguarda surgem, também, novas tipologias adequadas ao crescimento de Chicago, tais como, os primeiros arranha-céus, os edifícios de escritórios, os armazéns e os edifícios industriais. Este movimento valorizou a naturalidade dos materiais e simplificou a decoração. Deixou-se, também, dominar pelo rigor da engenharia (pela invenção da estrutura em aço), originando, assim, aos primeiros arranha-céus, que permitiram a rentabilidade dos pisos térreos, destinados a grandes lojas, esta rentabilização deveu-se ao facto dos terrenos estarem caros devido ao aumento populacional desmedido, tornando, então, necessário agrupar no mesmo edifício o maior número de pisos. Embora o incêndio tenha arrasado quase por completo a cidade, foi um marco fundamental para a viragem e evolução arquitectónica desta zona. A arquitectura desta vanguarda caracteriza-se por frentes simples e por uma estrutura composta por linhas verticais e horizontais e ainda pela a padronização das janelas na fachada, apelidadas também como “Janelas de Chicago”, tal como pela utilização de coberturas planas. - 11 - A Vanguarda de Chicago - 12 - A Vanguarda de Chicago Fig.1_Flatiron Fig.2_Montauk Block Fig.3 / 3a_Monadnock - 13 - A Vanguarda de Chicago Fig. 4 / 4a_Reliance Fig. 5 / 5a_Masonic Temple - 14 - A Vanguarda de Chicago Fig. 6_Exposição Mundial Colombiana Fig. 7_Plantas de Chicago”, 1909 do “Plano - 15 - A Vanguarda de Chicago Fig. 7_ Estrutura elaborada por Le Barron Jenney Fig. 8 e 8a._ Carson Pirie Scot Building Fig. 9 e 9a._ Carson Pirie Scot Building Fig. 10_ Wainwrigth building, St. Louis - 16 - A Vanguarda de Chicago Fig. 11_ Stock Exchange Fig. 12_ Guaranty building Fig. 13, 13ª e 13b _ Guaranty building - 17 - A Vanguarda de Chicago Bibliografia Livros: BENEVOLO, Leonardo; História da Arquitectura Moderna, perspectiva, (234253) DUPRE, Judith. Skyscrapers. New York: Black Dog & Leventhal, 1996. 128p. SCULLY, Vincent. American architecture and urbanism. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1969. 275p. SINKEVITCH, Alice. AIA Guide to Chicago - Second Edition Orlando: Harcourt, 2004. 574p. WILLIS, Carol. Form follows finance: skyscrapers and skylines in New York and Chicago. New York: Princeton Architectural Press, 1995.217p. NUNES, Paulo Simões; História da Arte12ºano; Lisboa editora; 2004; Lisboa FOSTER, Norman; História da Arquitectura; Editora Civilização; 2001; Itália Internet: www.monadnockbuilding.com www.gapw.com www.cbpi.com.au - 18 -