solos

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SOLOS
A partir da implantação do novo Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (EMBRAPA, 1999), os solos brasileiros têm suas denominações
modificadas. O termo reconhecido popularmente como Terra Roxa passou a
receber várias designações na nova classificação; no entanto, ainda não foi
totalmente assimilada pela população, que continuará se referindo ao solo
vermelho e fértil como “terra roxa”.
Na nova classificação, aplicada para Londrina, encontramos os solos:
Latossolo Vermelho Eutroférrico, Distroférrico e Aluminoférrico;
Nitossolo
Vermelho Eutroférrico e Distroférrico; Chernossolos e Litossolos.
Se por um lado o tradicional adjetivo Roxo desapareceu da
denominação oficial, a nova classificação revela a presença marcante do ferro
que em nossa região é o grande responsável pela coloração avermelhada.
Valoriza também a diversidade de fertilidade com os termos Eutroférrico (Rico),
Distroférrico (Pobre) e Aluminoférrico (Rico em alumínio), assim como o aspecto
lustroso, ceroso ou com brilho graxo da antiga Terra Roxa Estruturada, como no
nome Nitossolo (camada ou horizonte Nítico: reluzente). Os antigos Litólicos
receberam a denominação de Neossolos Litólicos (Neo: novo) revelando uma
inexpressiva modificação em relação ao material originário, enquanto os
Brunizens passaram para a denominação Chernossolos, em memória aos antigos
Chernozens das estepes ucranianas, estudados por Dokoutchaiev (apud
ROUGERIE e BEROUTCHACHVILI, 1991), pesquisador responsável por lançar
as bases da Pedologia moderna.
4
A figura 34 e a tabela 12 revelam a distribuição espacial dos solos na
área urbana, permitindo apreciar a correspondência entre o substrato geológico, a
morfologia, a rede de drenagem e, os solos.
Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes Barros; Hervé Théry; Neli
Aparecida de Mello. Lúcia Helena Batista Gratão
Tabela 1 - Tipos de solo em Km2
Tipo de Solo
Km2
Nitossolos
140,50
Latossolos
97,92
Chernossolos e Neossolos
Total das Classes
7,10
245,52
5
FIGURA 1 - TIPOS DE SOLO NA ÁREA URBANA DE LONDRINA
6
CURSO E (PER) CURSO DAS ÁGUAS
O rio Tibagi situado à leste do município de Londrina, recebe os rios
tributários localizados na área urbana e em seu entorno. Ele é um dos principais
formadores da bacia hidrográfica do rio Paranapanema que desemboca na bacia
do rio Paraná.
Uma bacia hidrográfica pode ser definida como a área da superfície
terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para um
determinado ponto de um canal fluvial. Pode ser composta por apenas um ou por
milhares de canais fluviais, alguns metros quadrados ou milhares de quilômetros.
A área de uma bacia é delimitada pelos divisores de água a partir das curvas de
nível.
A área urbana de Londrina é formada pelas seguintes bacias
hidrográficas: Jacutinga, Lindóia, Cambé, Limoeiro, Cafezal e Três Bocas. Os
ribeirões Jacutinga e Três Bocas são os limites ao norte e ao sul,
respectivamente.
A direção dos canais fluviais das bacias dos ribeirões Jacutinga e
Lindóia, ao norte, é no sentido oeste-leste enquanto que as demais bacias:
Cambé, Limoeiro, Cafezal e Três Bocas estão orientadas no sentido noroestesudeste (figura 35).
A área total ocupada pelas bacias hidrográficas no interior da área
urbana (figura 36) é de 245,52 km2, enquanto que a extensão total dos cursos de
água é de cerca de 240 km. A bacia do Cafezal, localizada na porção sul, possui
a maior área (67 Km2) e estende-se por aproximadamente 72 km, concentrando
um maior número de canais à jusante, delineando um relevo mais movimentado
em relação ao restante da área urbana (tabela 13). A bacia hidrográfica do
ribeirão Lindóia é a segunda em área, porém, não apresenta a mesma
abundância de canais. Seus rios totalizam aproximadamente, 43 km de extensão.
7
Tabela 2 - Área e extensão das bacias hidrográficas
Bacia
Área (km2)
Extensão em km
Cafezal
66,25
71.9
Lindóia
63,29
43.1
Cambé
51,07
48.3
*Jacutinga
36,08
33.3
*Três Bocas
14,41
26.9
Limoeiro
13,56
15.7
Total
245,52
239,2
* Considerou-se apenas a vertente sul da bacia do ribeirão Jacutinga e vertente norte do
ribeirão Três Bocas
O padrão geral de drenagem tanto das bacias como das sub-bacias é o
padrão paralelo resultante do forte tectonismo que afetou a área em épocas
remotas, fazendo com que os cursos d’água seguissem as diáclases e fraturas do
basalto. No entanto, em alguns trechos das bacias localizadas ao sul da área
urbana ocorre o padrão dendrítico, decorrente da movimentação do relevo.
A expansão e a ocupação urbana forçaram a canalização de várias
nascentes e de algumas partes dos cursos d’água (figura 37). No entanto, o
ribeirão Água Fresca afluente do ribeirão Cambé, primeira fonte de abastecimento
da cidade, ainda permanece em boas condições, pois, não apenas as instituições
gestoras se preocupam com sua qualidade, como também a própria população.
Como ele se encontra muito próximo do Lago Igapó, um dos pontos de lazer da
cidade, tornou-se uma das áreas prioritárias das ações governamentais e
associativas (figura 38).
Na medida em que a cidade se expandiu, o manancial do ribeirão
Cambé, tornou-se insuficiente, e foi substituído pelo ribeirão Cafezal, situado mais
ao sul e distante da cidade, posteriormente também o rio Tibagi foi incorporado
ao abastecimento da cidade. Estes dois mananciais superficiais são responsáveis
pelo abastecimento de água em Londrina (figura 39), além dos mananciais
subterrâneos do Aqüífero Serra Geral e do Aqüífero Guarani.
Atualmente, a grande maioria dos centros de reservação de Londrina
opera distribuindo água captada do Sistema Tibagi, no entanto, em caso de
necessidade, um reservatório do Sistema Cafezal pode receber água do Sistema
Tibagi e vice e versa. O Ribeirão Cafezal atende basicamente dois centros, o
8
centro de reservação Bandeirantes, com a maior capacidade de reservação da
cidade e o centro de reservação Higienópolis, responsável por atender a região
central da cidade. Além dos sistemas Tibagi e Cafezal, o sistema de
abastecimento conta com a participação dos poços tubulares profundos que
captam água do Aqüífero Serra Geral, localizados na região norte no bairro Vivi
Xavier e a sudeste no bairro União da Vitória. Segundo dados operacionais da
Sanepar em dezembro de 2006 a distribuição do volume de água produzido foi de
55% do Tibagi, 37% do Cafezal e 6% de poços tubulares profundos.
No que se refere à rede hidrográfica urbana, observa-se (figura 40) um
grande número de canais fluviais de primeira ordem, responsáveis pela
alimentação dos principais ribeirões. Do ponto de vista da expansão urbana, estes
canais fluviais requerem grandes cuidados, tanto em relação à preservação das
nascentes, como em relação ao controle do uso das margens, pois é geralmente
nestas áreas, que ocorre a implantação do sistema viário.
A hierarquia da rede de drenagem proposta por Strahler (1994),
denomina os menores canais, sem tributários como os de primeira ordem, desde
sua nascente até a confluência. Os canais de segunda ordem surgem da
confluência de dois canais de primeira ordem, e só recebem afluentes de primeira
ordem. Quando há o encontro entre dois canais de segunda ordem, surge um
canal de terceira ordem, que pode receber tanto tributários de primeira como de
segunda ordem. Ao encontrar-se com outro canal de terceira ordem, surge um
canal de quarta ordem que poderá receber canais de ordem inferior, e assim
sucessivamente.
9
FIGURA 2 - DELIMITAÇÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ÁREA URBANA DE LONDRINA
10
FIGURA 3 - BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ÁREA URBANA DE LONDRINA
11
FIGURA 4 - NASCENTES DOS CURSOS DE ÁGUA DA ÁREA URBANA DE LONDRINA
12
FIGURA 5 - TOPÔNIMOS DOS CURSOS DE ÁGUA DA ÁREA URBANA DE LONDRINA
13
FIGURA 6 - BAIRROS ABASTECIDOS PELOS MANANCIAIS CAFEZAL E TIBAGI
14
FIGURA 7 - HIERARQUIA DOS CURSOS DE ÁGUA NA ÁREA URBANA DE LONDRINA
15
A formação dos lagos artificiais denominados Lago Igapó I, II, III e IV e
do complexo de Lagos da zona norte da cidade, refletem as modificações de
visão do que deve ser valorizado ou não no processo de constituição e
crescimento populacional. Por um lado, incorpora a valorização de elementos
naturais da paisagem com a revitalização de áreas verdes, antes degradadas por
meio de diferentes tipos de exploração e por outro, a necessidade de implantação
de opções de áreas de lazer para a população.
O Lago Igapó tem sua origem em um represamento realizado em 1957
no ribeirão Cambé que nasce a oeste da cidade de Londrina, próximo ao
município de Cambé. Grande parte do seu curso percorre a área urbana de
Londrina seguindo em direção leste. O lago transformou-se em uma das áreas de
lazer da cidade embora, a princípio, tenha sido projetada como uma solução para
um problema de drenagem do ribeirão Cambé, dificultada por uma barragem
natural. Sua implantação trouxe uma valorização para a região centro-sul,
tornando-a uma das mais belas áreas de lazer e de embelezamento paisagístico,
sendo classificada como o cartão postal da cidade.
Elementos artificialmente construídos, que valorizam a natureza são
parte integrante da qualidade ambiental e alimentam o imaginário de que
paisagens urbanas naturalizadas e bem cuidadas agregam valor aos espaços.
Para compreendermos a constituição e o surgimento do complexo
Lago Norte, é necessário relembrar seu processo de formação. Esta região possui
aproximadamente 108.000 habitantes que são distribuídos por 118 conjuntos
habitacionais que se apresenta como uma área praticamente, independente da
região central.
Do ponto de vista natural, a densidade hidrográfica existente na região
favorece a formação do complexo. O ribeirão Lindóia é um dos cinco principais
ribeirões que atravessa a cidade e juntamente com os ribeirões Jacutinga e Quati
localizam-se na Zona Norte da cidade. A nascente do ribeirão Lindóia está
localizada também entre a divisa de Londrina e Cambé, que depois de percorrer
dezenas de conjuntos habitacionais da Zona Norte se une ao ribeirão Quati para
formar o ribeirão Ibiporã. Por estar localizado na área urbana também sofre
16
constante degradação. Atualmente seu leito encontra-se desmatado e suas
margens ocupadas por conjuntos habitacionais.
Muitas dessas áreas de fundo de vale são irregularmente ocupadas por
uso residencial. Apesar dos riscos que essa população está sujeita, devido à falta
de rede de água e esgoto, da presença de animais domésticos e das péssimas
condições ambientais, as pessoas continuam a viver nestas áreas.
A revitalização dos fundos de vale, com a recuperação das áreas
degradadas, proporcionando um ambiente mais arborizado, mais ameno e mais
saudável, contribui para a melhoria da paisagem e valorização do espaço urbano
bem como, uma opção de lazer próximo ao local de moradia.
O projeto do complexo reforça a idéia da necessidade de reduzir o
déficit de vegetação em fundo de vale com a implementação de paisagismo
adequado.
17
VEGETAÇÃO DE FUNDOS DE VALE
Da densa Floresta Estacional Semidecídua que ocorria na região de
Londrina restam algumas áreas parcialmente preservadas, como o Bosque no
Centro Histórico, e outras que foram transformadas em Unidades de
Conservação, como o Parque Municipal Arthur Thomas, localizado no bairro Piza,
que hoje serve de testemunho da exuberante vegetação original.
Ao longo do processo de urbanização a mata original foi substituída,
primeiramente, por plantações de café e mais tarde, incorporadas às áreas
urbanas, restam 32 km2 de vegetação de fundo de vale, ou seja, 13% do total da
área urbana.
Nos interstícios intra-urbanos, encontram-se ainda acompanhando os
fundos de vale, alguns resquícios da vegetação natural como a florestal, a
arbórea, a capoeira e a vegetação rasteira (MENDONÇA; BARROS, 2002), (figura
41). Da vegetação ainda existente nos fundos de vale, o tipo predominante é a
arbórea com 52%, somada à vegetação florestal representa
88% do total. A
vegetação dos fundos de vale, classificada segundo a fácies vegetal, com a
respectiva área ocupada, está representada na tabela 14.
Tabela 3 - Classes de vegetação em km2 em 2001
Classes
Área (Km2)
% do total
Florestal
11,60
36,12
Arbórea
16,87
52,54
Capoeira
1,11
3,46
Rasteira
2,53
7,88
Total
32,11
100,00
Uma das maiores presenças do domínio florestal ocorre nos fundos de
vale da bacia do ribeirão Cambé. Devido à sua localização próxima ao Centro
Histórico, essa situação evidencia que no início da expansão urbana, a
preocupação com a manutenção dos fundos de vale estava mais presente. O
18
mesmo ocorre com o ribeirão Água Fresca, que foi a primeira fonte de
abastecimento da cidade. Apesar de não preservar o domínio florestal, sua
vegetação arbórea é mantida por meio de repovoamento de espécies.
Outra bacia que tem a vegetação de seu fundo de vale bem protegida é
a do ribeirão Cafezal, não apenas pelas acentuadas declividades presentes, o
que dificulta sua ocupação, mas, sobretudo porque o processo de expansão
urbana nesta região ainda é recente e o padrão de ocupação, com chácaras
rurais, promove uma densidade rarefeita.
Contudo, ao norte do sítio urbano se observam resquícios de
vegetação arbórea, capoeira e vegetação rasteira, somente nos fundos de vale
dos ribeirões Lindóia, Quati e Ibiporã e, da mesma maneira, somente em poucas
vertentes que drenam para o ribeirão Jacutinga.
19
FIGURA 8 - VEGETAÇÃO DE FUNDO DE VALE NA ÁREA URBANA DE LONDRINA EM 2001
20
TEMPERATURA APARENTE DA SUPERFÍCIE
O mapa referente à temperatura aparente da superfície observada na
cidade de Londrina (figura 42), foi elaborado a partir da metodologia utilizada no
Atlas Ambiental do Município de São Paulo (SÃO PAULO, 2002). Foi elaborado a
partir de técnicas de processamento digital da banda termal de alto ganho (TM6+)
da imagem captada pelo sensor do satélite ETM-Landsat 7 no dia 28 de junho de
2002, que apresentou uma variação de temperatura entre 15 a 27 o C (tabela 15).
O
mapa
apresentado
reflete
uma
distribuição
quantitativa
da
temperatura aparente da superfície registrada pelo sensor termal captada pelo
satélite ETM-Landsat 7 em 28 de junho de 2002 e permite visualizar a variação de
temperaturas nas diferentes áreas da cidade.
As temperaturas mais amenas ocorrem nas áreas de fundo de vale que
apresentam cobertura vegetal, especialmente no vale do Ribeirão Cafezal e do
Ribeirão Três Bocas, devido às maiores declividades (vertentes com inclinação de
30 o a 45 o) e menores altitudes (de 430 a 470m). A presença de vegetação como
a do Parque Arthur Thomas, a mata da UEL, o bosque central e outros
fragmentos de mata dispersos na cidade, também contribuem para a formação de
ilhas com temperaturas mais amenas. A concentração de grandes edifícios cuja
projeção de suas sombras, em conjunto com outros elementos como ventos,
contribui para este quadro específico.
Andrey Olak Alves, Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes Barros;
Hervé Théry; Neli Aparecida de Mello. Lúcia Helena Batista Gratão
21
Temperaturas mais elevadas ocorrem nas principais vias de ligação da
cidade (avenida Tiradentes, avenida Brasília, avenida Arcebispo Dom Geraldo,
avenida Dez de Dezembro e Rodovia Celso Garcia Cid) devido a pavimentação.
As altitudes mais elevadas nos interfluvios também contribuem para a elevação
das temperaturas assim como as amplas construções como o Shopping Center
Catuaí, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, Aeroporto de Londrina e outras
que possuem grandes áreas de estacionamento. A influência dos materiais
encontrados nas superfícies registradas pelo sensor termal e as respectivas
temperaturas aparentes reveladas (por exemplo, respostas de temperaturas mais
elevadas nas áreas industriais), provavelmente são decorrentes da grande
refletância de suas coberturas compostas de telhas de fibrocimento/cimento
amianto e metálicas. Nas áreas periféricas onde predomina a atividade agrícola,
devido à presença de solo exposto, as temperaturas são mais elevadas.
Tabela 4 - Classes de temperatura aparente da superfície em 2002
CLASSES
ÁREA Km2
15-17 o C
0.14
17-19 o C
10.36
19-21 o C
64.01
21-23 o C
122.17
23-25 o C
47.09
25-27 o C
5.09
Embora esta metodologia não utiliza dados de temperatura coletada
diretamente no campo, observa-se um resultado aproximado às informações
coletadas junto ao IAPAR (2007). A distribuição da temperatura aparente
evidencia a importância da cobertura vegetal para a minimização das
temperaturas na cidade.
22
FIGURA 9 - TEMPERATURA APARENTE DA SUPERFÍCIE NA ÁREA URBANA DE LONDRINA
EM 2002
23
OS CENSOS RETRATAM OS MORADORES
24
POPULAÇÃO
Os critérios adotados no Brasil para a definição do que é urbano estão
pautados no decreto-lei n. 311 de 02 de março de 1938 que considera como área
urbana a sede do município, independente das características estruturais ou de
suas funções. Do ponto de vista legal e real, a sede municipal de Londrina é
considerada urbana, diferente de muitos municípios brasileiros dentre os 5.507
recenseados pelo IBGE em 2000.
Dos municípios brasileiros aproximadamente 4.500 possuem menos de
25.000 habitantes, enquanto que 1.563 somente 2.500 mil habitantes. Porém, se
adotarmos critérios funcionais e estruturais de classificação como serviço de
esgotamento sanitário, museu, estação de rádio AM, provedor de internet, guarda
municipal, para citar apenas alguns aspectos importantes na caracterização de
um meio urbano, muitos serão considerados rurais. Nestes municípios residem
30% da população brasileira, ou seja, 51,6 milhões de brasileiros.
A população brasileira é uma das mais numerosas do mundo, contando
oficialmente com 169.544.443 habitantes e ocupa a quinta colocação no ranking
mundial de acordo com os dados do censo realizado pelo IBGE em 2000; com um
perfil etário de 48,5% de adultos, 43,2% de jovens e 8,3% de idosos.
Em
comparação com as populações mundiais, esse perfil caracteriza um país em
transição, entre os denominados “maduros” com expressiva porcentagem de
adultos e, “jovens” com predominância de crianças e adolescentes.
A população da sede municipal de Londrina foi contada no ano 2000
em 428.808 habitantes na área urbana e 13.696 na área rural totalizando 447.065
o que representa 0,26% da população brasileira. Seu perfil etário (tabela 16)
apresenta 55,2% de adultos, 35,4% de jovens e 9,3% de idosos, aproximando
Londrina de um perfil semelhante aos países maduros. Entre os adultos há
13.743 mulheres a mais que homens e, entre os idosos 55% são mulheres.
Embora nasçam mais homens que mulheres, nas faixas etárias superiores a 15
anos elas são a maioria. Tal fato explica-se, em parte, pelos maiores índices de
mortalidade entre jovens do sexo masculino.
Omar Neto Fernandes Barros; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Hervé Théry; Neli
Aparecida de Mello. Lúcia Helena Batista Gratão.
25
Os adultos são maioria em quase todos os bairros, com valores
percentuais maiores de 60 % em diversos setores censitários dos bairros do
Centro Histórico e de seu entorno (figura 43).
O perfil demográfico de Londrina mudou significativamente a partir da
década de 1980, devido principalmente, a queda de natalidade, aumento da
expectativa de vida e melhoria do atendimento à saúde. Estes motivos explicam
as mudanças do perfil demográfico de tipicamente jovem para um perfil maduro.
Isto se justifica também, pela implantação de programas sociais destinados aos
idosos, desenvolvimento da medicina moderna e acesso mais abrangente aos
fármacos, sobretudo, por meio da entrada dos genéricos no mercado. Os idosos
concentram-se de forma mais significativa, em poucos setores do Centro Histórico
e alguns bairros como Parque das Indústrias, Cilo 2 e Eldorado (figura 44).
Observando a distribuição espacial dos jovens entre 14 e 24 anos,
esses são cada vez mais significativos na população, quando considerados o
sentido centro-periferia, com valores percentuais importantes em bairros como
Cidade Industrial 2, Olímpico e União da Vitória. Entre os jovens 52,4% são
adolescentes de 10 a 19 anos (figura 45).
Tabela 5 - Distribuição etária por sexo em 2000
FAIXA ETÁRIA
0-4
5-9
10-14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70-74
75-79
80 anos ou mais
TOTAL
Fonte: IBGE (2000)
MULHERES
17.366
18.106
18.839
20.811
20.739
17.848
18.641
18.320
16.187
13.830
11.150
8.526
7.034
5.579
4.118
2.647
2.704
222.482
HOMENS
18.274
18.613
19.461
20.513
19.506
16.821
16.647
15.891
13.738
11.888
9.564
7.443
6.191
4.586
3.333
2.007
1.815
206.326
26
FIGURA 10 - POPULAÇÃO ADULTA NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
27
FIGURA 11 - POPULAÇÃO IDOSA NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
28
FIGURA 12 - POPULAÇÃO JOVEM NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
29
FIGURA 13 - POPULAÇÃO ADOLESCENTE NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
30
Segundo os critérios propostos pelo U.S. Census Bureau (2007) que
classifica como cidades, os assentamentos com mais de 50 mil habitantes com
densidade superior a 386 hab/km2 em seu núcleo, e uma zona adjacente com
densidade de 193 hab/km2; pode-se considerar que dos 391 setores censitários
urbanos adotados pelo IBGE para a sede municipal de Londrina, apenas nove
apresentam densidade inferior a 193 hab/km 2 e onze, densidades intermediárias
entre 193 e 386 hab/km2 localizados nas periferias, que guardam traços
marcantes de um mundo rural.
Os
valores
de
densidade
demográfica,
representados
em
habitantes/quadra (uma quadra corresponde a uma área de 10.000 metros
quadrados) atingem valores máximos de 369 hab/km2. Destacam-se no mapa
(figura 47) duas regiões com mais de 200 habitantes/quadra sendo seis setores
no Centro Histórico e somente um setor no Bairro Cafezal, caraterizado pelo IBGE
como especial, pois, abriga a Penitenciária Estadual de Londrina.
O Centro Histórico apresenta os maiores valores de densidade
demográfica e, é circundado por uma semi-coroa bem definida, de oeste para
leste. Na região norte, em bairros como Parigot de Souza, Ouro Verde, Vivi
Xavier, e, Cinco Conjuntos aparecem concentrações populacionais de 100 a 200
habitantes/quadra. No sudeste, nos bairros União da Vitória, Parque das
Indústrias e Cafezal tais densidades populacionais também são mais expressivos.
Nas regiões periféricas tanto norte e sul, quanto leste, as densidades não
ultrapassam 10 habitantes/quadra, lembrando, entretanto, que tais setores
censitários apresentam-se com aspectos funcionais ainda tipicamente rurais. Na
região oeste, bairro Olímpico, as densidades variam entre 50 e 200 habitantes por
quadra. A configuração do desenho e a organização espacial dos setores
censitários indicam indiretamente, a organização da densidade demográfica
(figura 48).
Os valores de densidade demográfica, expressos em habitantes por
quadra, podem ser transformados em habitantes por quilômetros quadrados
facilmente. Basta para isso multiplicar os valores de hab/quadra por cem e desta
forma obter valores em hab/km2, conforme é revelado no mapa (figura 49).
31
FIGURA 14 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA EM HABITANTES POR QUADRA NA CIDADE DE
LONDRINA EM 2000
32
FIGURA 15 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
33
FIGURA 16 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
34
RENDA
O Programa Bolsa Família, é na opinião do governo atual (2006) um
dos maiores e melhores programas de distribuição de renda e inclusão social já
realizados no país. Foram garantidos no Orçamento da União recursos para
atingir a meta de 11 milhões de famílias beneficiadas, contribuindo para reduzir as
desigualdades regionais que dividem o país.
No Paraná, esse programa atende a 355 mil famílias. Até o fim do ano
de 2005 a meta era ampliar o atendimento a mais 600 mil famílias, em relação ao
ano anterior. No Sul do país, os percentuais de população atendida são mais
baixos que no Norte e Nordeste, devido um cenário de distribuição de renda, mais
equilibrado. Mas há exceções como nos municípios paranaenses de Turvo,
Grandes Rios e Prudentópolis, onde 23%, 12% e 10% da população
respectivamente são atendidas pelo programa.
Londrina, uma cidade rica na opinião de muitos, também recebe apoio
dos diversos programas, tanto municipal (2524 famílias), quanto federal (9402
famílias), demonstrando a existência de um cenário de distribuição de renda
intermunicipal com desvios sócio-espaciais. A geografia dos salários é reveladora
das desigualdades socioeconômicas na sede do município de Londrina. Em todas
as regiões encontramos pessoas com rendimento de até 3 salários mínimos
sendo que no Centro Histórico elas são minoria e em direção às periferias, o
percentual dos que ganham menos aumenta (figura 50). Na periferia sul, 61 a
85% da população apresenta um rendimento de até 3 salários mínimos enquanto
que na periferia norte esse percentual é de 41 a 60%.
Segundo dados publicados no jornal Folha de Londrina de 19/06/2003,
o município de Londrina possui atualmente, 6,5% de sua população, vivendo
abaixo da linha de pobreza determinada pelo programa Fome Zero do Governo
Federal. Em Londrina, mais de 28.000 habitantes sobrevivem com menos de ¼
do salário mínimo e 95% destas pessoas moram na área urbana e geralmente,
são catadores de papel, vendedores ambulantes e outros trabalhadores informais
que moram em ocupações irregulares.
35
Em contrapartida, os bairros centrais, são nitidamente aqueles que
concentram a maior parte das pessoas com rendimento superior a 20 salários
mínimos. Com o estabelecimento de vários condomínios residenciais fechados e
loteamentos em áreas de uso agrícola em parte da região sul-sudoeste, como nos
bairros Esperança, Palhano, Vivendas do Arvoredo, e Chácaras São Miguel, a
situação atual (2006) é diferenciada em relação aos dados coletados pelo censo
em 2000. Os bairros centrais mais valorizados e com maior concentração de
equipamentos urbanos, são também aqueles que concentram a maior parte das
pessoas com rendimento superior a 20 salários mínimos (figura 51), contrastando,
de forma marcante em termos espaciais e numéricos, com a distribuição daqueles
que ganham até 3 salários mínimos.
Em dois terços dos setores censitários verifica-se a existência de
rendimento superior a 20 salários mínimos, porém, o que chama atenção, é que
57% dos 391 setores censitários, apresentam entre 1 e 18% de pessoas
responsáveis pelos domicílios com rendimentos nesse valor. Até mesmo no
reduzido número de setores onde esses são mais significativos, eles representam
entre 37 e 56% do número de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares
permanentes.
A tabela 17 apresenta a distribuição numérica e percentual de renda
dos Responsáveis pelos Domicílios Particulares Permanentes na sede municipal
de Londrina. Nota-se que os que ganham até 3 salários mínimos representam
45,9 %, os que ganham entre 3 e 10 salários mínimos 38,3 % e, os que ganham
mais de 10 salários mínimos, 15,8 %; sendo que, apenas 5,8 % (7.033) ganham
mais de 20 salários mínimos.
Tabela 6 - Rendimento dos chefes de família em 2000
Pessoas Responsáveis
Número
pelos Domicílios
Sem rendimento
Percentagem
%
7.084
5,8
504
0,4
Mais de ½ a 1 salário mínimo
12.038
9,9
1 a 2 salários mínimos
20.443
16,8
2 a 3 salários mínimos
15.805
13,0
3 a 5 salários mínimos
22.603
18,5
5 a 10 salários mínimos
24.175
19,8
Até ½ salário mínimo
36
10 a 15 salários mínimos
6.830
5,6
15 a 20 salários mínimos
5.362
4,4
Mais de 20 salários mínimos
7.033
5,8
121.877
100,0
TOTAL
Fonte: IBGE 2000
37
FIGURA 17 - CHEFE DE FAMÍLIA COM RENDIMENTO DE ATÉ TRÊS SALÁRIOS MÍNIMOS NA
CIDADE DE LONDRINA EM 2000
38
FIGURA 18 - CHEFE DE FAMÍLIA COM RENDIMENTO SUPERIOR A VINTE SALÁRIOS
MÍNIMOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
39
EDUCAÇÃO
O Perfil de Londrina (LONDRINA, 2003) indica os seguintes dados
relacionados à educação: 72 escolas estaduais e 63 municipais na zona urbana,
22 em área rural e 10 nos distritos; 27.061 alunos entre 6 e 14 anos na zona
urbana, 119 alunos nas escolas rurais e 4.127 alunos nos distritos. O município
atende na zona urbana, alunos do ensino fundamental de 1ª a 4º séries e na zona
rural, alunos de 1ª a 8ª séries.
As escolas públicas estaduais (figura 52) estão presentes em toda a
área urbana, mas apresenta maior concentração no Centro Histórico e bairros de
seu entorno. Em contrapartida, as escolas municipais (figura 53) estão presentes
em praticamente todos os bairros da periferia e ausentes no Centro Histórico e
bairros do entrono.
As escolas particulares em menor número (figura 54) ocupam a porção
centro sul do bairro Centro Histórico, onde há predominância de famílias com
maior rendimento. Na região sudoeste, bairro Esperança, destaca-se duas
escolas particulares de ensino fundamental localizadas em área de recente
expansão e próxima aos grandes condomínios fechados de alto padrão. No
mesmo bairro, encontra-se uma escola municipal implantada no antigo patrimônio
(Espírito Santo), recentemente incorporado à área urbana.
A infra-estrutura educacional se completa com os centros técnicos que
oferecem qualificação por meio de cursos profissionalizantes ofertados em
instituições como a Escola Profissional e Social do Menor de Londrina EPESMEL, Serviço Nacional de Aprendizagem - SENAI e no Instituto Politécnico
de Londrina - IPOLON, entre outros, as quais capacitamn alunos em diversas
áreas para atuarem no mercado de trabalho.
No aspecto de conclusão dos diferentes níveis de ensino, Londrina
apresenta um bom nível de escolaridade revelado pelo número dos que concluem
os ensinos fundamental, médio e a graduação; entretanto existe uma forte
discrepância espacial e numérica entre a região central e as periferias quanto ao
nível geral de escolaridade revelado pela proporção dos que terminaram o
primeiro grau e, aqueles que cursaram a faculdade, conforme figura 56.
40
FIGURA 19 - ESCOLA ESTADUAL NA CIDADE DE LONDRINA EM 2003
41
FIGURA 20 - ESCOLA MUNICIPAL NA CIDADE DE LONDRINA EM 2003
42
FIGURA 21 - ESCOLA PÚBLICA E PARTICULAR NA CIDADE DE LONDRINA EM 2003
43
FIGURA 22 - PESSOAS COM IDADE ENTRE 6 A 18 ANOS RESIDENTES NA CIDADE DE
LONDRINA EM 2000
44
FIGURA 23 - RELAÇÃO ENTRE O NÚMERO DE PESSOAS COM ENSINO FUNDAMENTAL
COMPLETO PARA CADA GRADUADO NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
45
O ensino superior em Londrina é representado pelas seguintes
instituições: Universidade Estadual de Londrina, Pontifícia Universidade Católica,
Universidade Norte do Paraná, Seminário de Teologia de Londrina, Universidade
Filadélfia, Faculdade Metropolitana, Faculdade Norte Paranaense, Faculdade
Integrado, Faculdade de Teologia, Faculdade Teológica Sul Americana e a
Universidade Tecnológica Federal do Paraná implantada em 2007. Estas
instituições compõem a rede de ensino superior e atendem mais de 20 mil alunos,
e garantem a Londrina o status de cidade universitária. A cidade recebe alunos de
vários estados do país e se projeta como um pólo educacional ancorado
principalmente pela UEL.
.A UEL teve início em 1956, com a Faculdade Estadual de Direito de
Londrina e a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Londrina e a Faculdade
Estadual de Odontologia de Londrina, agregada em 1962. Nos anos seguintes
foram agregadas a Faculdade de Medicina do Norte do Paraná (1966) e
a
Faculdade Estadual de Ciências Econômicas e Contábeis de Londrina (1968). Em
1970 as cinco faculdades formaram a Universidade Estadual de Londrina,
reconhecida oficialmente pelo Decreto Federal 69.234/71.
Em 1987 foi
implantado o ensino gratuito na Instituição e transformada em Autarquia Estadual
em 1991.
O estado do Paraná apresentava, em 2005, 142 Instituições de Ensino
Superior sendo 2 federais, 17 estaduais, 7 municipais e 116 particulares. Nesse
ano a UEL foi classificada como uma das melhores universidades do País, por
desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento da cidade e região, com
destaque para prestação de serviços de saúde, pesquisa e extensão a
comunidade e no ensino pela formação de profissionais para o mercado de
trabalho.
Em 2004 ingressam na UEL 3.018 novos alunos originários de vários
estados brasileiros sendo a grande maioria (66%) procedente do estado do
Paraná, seguida por paulistas (30%) e por alunos oriundos dos estados de Minas
Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina com 4%.
Dos alunos oriundos do estado do Paraná, 70% são londrinenses e
30%, originários de outras cidades do estado. Dos novos alunos residentes em
46
Londrina (tabela18), destacam-se 30%, oriundos dos bairros centrais e entorno,
como também os alunos oriundos do bairro Cinco Conjuntos que representaram
nesse ano 6% de calouros em 2004.
Tabela 7 - Número de calouros em 2004 por bairro
BAIRROS
CENTRO HISTÓRICO
CINCO CONJUNTOS
CHAMPANHAT
PRESIDENTE
CALIFÓRNIA
QUEBEC
PALHANO
HIGIENÓPOLIS
CAFEZAL
AEROPORTO
LEONOR
AUTÓDROMO
GUANABARA
VILA NOVA
BANDEIRANTES
IPIRANGA
PARIGOT DE SOUZA
VIVI XAVIER
PETRÓPOLIS
OURO VERDE
SHANGRI-LÁ
IDEAL
ANTARES
VILA BRASIL
ERNANI
PIZA
LINDÓIA
COLISEU
SABARÁ
INGLATERRA
VILA CASONI
BRASÍLIA
HU
VIVENDAS DO
ARVOREDO
CHÁCARAS SÃO
MIGUEL
INTERLAGOS
JAMAICA
FRATERNIDADE
UNIVERSIDADE
VILA RECREIO
OLÍMPICO
TUCANOS
PARQUE DAS
INDUSTRIAS
CILO 3
UNIÃO DA VITÓRIA
CIDADE INDUSTRIAL
SALTINHO
LON RITA
ESPERANÇA
INDÚSTRIAS LEVES
CALOUROS 2004
1457
81
57
54
51
49
48
46
41
40
38
35
35
34
34
34
25
24
24
23
23
23
23
22
20
19
18
16
16
16
15
15
13
13
POPULAÇÃO TOTAL
RESIDENTE
29906
37471
10746
6781
8757
5777
2240
3249
11916
2852
23386
10007
4924
8353
9472
3801
17328
12750
3494
8468
7262
7569
4003
8672
10515
9160
10686
7675
2854
7850
6432
6135
2767
1706
12
10
10
10
9
9
9
9
14378
6316
7288
1902
6925
9474
1909
18435
7
7
6
6
4
4
3
1895
9728
3805
4381
2069
1028
1766
47
PACAEMBU
CILO 2
BELA SUÍÇA
HEIMTAL
PEROBINHA
CIDADE INDUSTRIAL 2
ELDORADO
TERRA BONITA
2
2
2
1
0
0
0
0
9387
2622
635
1666
1348
1497
262
1016
As regiões mais povoadas por pessoas de 6 a 18 anos, em idade
escolar apta ao ensino fundamental e médio, representam 23% da população de
Londrina. Estas se encontram no Centro Histórico e, em todas as periferias de
Londrina, como em parte dos bairros Cinco Conjuntos e, Parigot de Souza (norte),
Ernani (leste), União da Vitória e Cafezal (sul) e Olímpico (oeste) (figura 55).
Embora haja concentração populacional com este perfil etário, nesses bairros, a
oferta de vagas em escolas públicas ainda é insuficiente, implicando na
necessidade
de
deslocamento
desta
população
para
outros
bairros,
principalmente os centrais. Se por um lado as regiões mencionadas podem
apresentar aspectos semelhantes do adensamento populacional, é nos aspectos
socioeconômicos e educacional que encontramos as maiores disparidades entre
elas.
O IBGE considerou como alfabetizada a pessoa com idade superior a
cinco anos, capaz de ler e escrever um bilhete simples, embora, a idade
reconhecida para ingresso da criança na primeira série do ensino fundamental é o
ano em que ela completa sete anos. Este fato altera significativamente a forma de
calcular o percentual de analfabetismo.
Segundo o
Censo 2000, Londrina possui 34.725 analfabetos
correspondendo a 8% da população total, porém, muitos estão entre aqueles que
poderiam ser beneficiados por programas estatais, tais como o “Paraná
Alfabetizado”, da Secretaria de Educação do Estado. Este programa atende 47
mil alunos em 344 municípios do Paraná, em uma população de analfabetos
estimada em 650 mil, demonstrando o quanto às ações públicas estão distantes
das reais necessidades sociais.
A situação do analfabetismo no meio urbano em Londrina não chega a
ser muito grave, ainda que deva ser alvo das atenções tanto do Estado, quanto da
população em geral. Em 50% dos setores censitários, concentrados no Centro
Histórico e bairros adjacentes, dispostos ao longo de um eixo central noroeste-
48
sudeste, o índice de analfabetismo é inferior a 7,4% (figura 57). Os bairros, onde
essa questão é mais grave, encontram-se nas periferias norte e sul, atingindo
entre 10 e 29% da população. Estes índices podem ser considerados bons se
comparados com outras cidades e regiões do país, mas, não deixam de ser
surpreendentes para uma cidade situada entre as mais desenvolvidas do Sul do
Brasil.
O analfabetismo está relacionado com a pobreza e índices sócioeconômicos mais baixos, e possivelmente também, com migração rural-urbana, já
que se concentra em zonas periféricas e marginais de ocupação mais recente, as
quais receberam um contingente significativo de migrantes da zona rural e de
cidades menores do que Londrina. A redução do índice de analfabetismo para
3%, o que é considerado razoável pela Organização das Nações Unidas para
Educação Ciência e Cultura - UNESCO significa incorporar 43 mil novos
estudantes (estimados pelo Censo IBGE 2000) nos próximos 5 anos, o que
representa um grande desafio para a sociedade londrinense.
O mapa (figura 58) apresenta uma síntese das variáveis escolaridade e
renda a partir de uma classificação ascendente hierárquica, cujo objetivo foi
estabelecer uma tipologia em 7 classes homogêneas:
1. Os Centrais Pouco Discrepantes – A Média das Médias, como por
exemplo, no bairro Antares, Universidade e Esperança;
2. Os Mais Ricos e Bem Atendidos pelas Escolas Particulares,
localizados em parte do Centro Histórico e nos bairros Bela Suíça e Tucanos;
3. Os de Escolaridade e Renda Muito Baixas, exemplo dos bairros
Olímpico e Cidade Industrial;
4. Os de Escolaridade e Renda baixas, tais como nos bairros Eldorado,
Perobinha, Lon Rita e Piza;
5. Os de Escolaridade e Renda Médias, em bairros Heimtal e Saltinho;
6. Os de Escolaridade Média e Renda baixa, nos bairros Vivendas do
Arvoredo e Ideal, e;
7. Os Desassistidos localizados principalmente, nos bairros União da
Vitória e parte do Olímpico.
49
A interpretação das 7 classes, assinaladas na legenda da figura 58,
baseia-se nos gráficos de barras da legenda (e séries estatísticas da Tabela de
Medidas Métrica Euclidiana Comum, elaborada no programa Philcarto, não
apresentadas, dado o caráter eminentemente estatístico dos dados). As barras
representam os desvios em relação à média para o conjunto das variáveis.
Quanto maior for o desvio, maior será a presença ou ausência da variável
analisada. As barras à direita representam desvios positivos, e, as da esquerda,
desvios negativos em relação à média. Esta tipologia indica uma necessidade de
atuação do poder público no sentido de diminuir as desigualdades sociais
apontadas.
50
FIGURA 24 - ANALFABETISMO ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE DE
LONDRINA EM 2000
51
FIGURA 25 - TIPOLOGIA DE CLASSES HOMOGÊNEAS: ESCOLARIDADE E RENDA NA
CIDADE DE LONDRINA EM 2000
52
Uma das decorrências da desigualdade social é a violência urbana
praticada por crianças e adolescentes, uma realidade no cotidiano das cidades
brasileiras. Em Londrina esse problema vem se manifestando num crescimento
significativo e têm sido alvo de preocupação da sociedade como um todo. A
região central da cidade e a região norte, no entorno da Avenida Saul Eikind, são
os locais mais afetados por este problema social. Este tipo de violência urbana
não se restrige apenas a áreas onde há uma concentração de riquezas
(variedades de atividades comerciais, prestadoras de serviços e bancos) um
maior fluxo de pessoas, mas a cidade como um todo.
Ao analisar os diferentes tipos de atos infracionais, Teixeira (2007)
constatou que o maior número de casos está relacionado a roubo, furto e tráfico
de drogas. Furto e roubo se constituem em crimes contra o patrimônio e
geralmente estão relacionados às questões de moradia e de renda, segundo as
justificativas destes adolescentes, uma vez que estes se baseiam nela ao declarar
seus desejos e anseios aos bens de consumo. A violência não está restrita
apenas às ruas da cidade, mas atinge o ambiente escolar das 76 escolas
estaduais de Londrina, 58 ou (76%) têm registro de casos de violência, sendo que
em 30 escolas os atos ocorreram em 2007. Estes números foram informados pela
Associação dos Professores do Paraná de Londrina, sendo a maioria dos casos
referentes à agressão de alunos contra professores e funcionários ou de alunos
contra alunos.
Os
dados referentes às infrações cometidas por crianças e
adolescentes na cidade de Londrina foram obtidos juntamente ao CIAAD (Centro
Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator), por meio do projeto de
pesquisa Violência sexual, violação de corpos e mentes de crianças e
adolescentes (SUGUIHIRO et al, 2005). Esses dados revelam que no período de
seis anos o número de infrações cometidas por crianças e adolescentes na
cidade praticamente triplicou, passando de 176 em 1999, para 470 em 2004
(gráfico1).
53
Gráfico 1 - Número de infrações cometidas por crianças e
adolescentes na cidade de Londrina. De 1999 a 2004
As ocorrências das infrações cometidas em 1999 se deram
principalmente, nos bairros Centro Histórico e Shangri-lá, como também nos
bairros Cinco Conjuntos e Vivi Xavier (MARCHETTI, M.; ARCHELA, 2007). Nos
anos seguintes infrações cometidas por crianças e adolescentes expandiram-se
por diversos bairros da cidade, sendo mais significativas no Bandeirantes, região
oeste, Cafezal e Saltinho na região sul e Interlagos e Antares na região leste. Em
2004 as ocorrências aumentaram em número e em área de atuação destacandose os bairros Cinco Conjuntos, Centro Histórico, Fraternidade, Leonor e Parque
das Indústrias. Também apareceram casos registrados nos bairros Hemital,
Parigot de Souza, Pacaembu, Indústrias Leves, Bandeirantes, Aeroporto, Quebec,
Tucanos, Olímpico, Parque das Indústrias e União da Vitória (figura 59).
54
FIGURA 26 - INFRAÇÕES COMETIDAS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE DE
LONDRINA ENTRE 1999 E 2004
55
RELIGIOSIDADE
A cidade de Londrina, como muitas das localidades brasileiras,
apresenta seu histórico vinculado à religiosidade cristã. As primeiras ações
religiosas registradas na cidade datam de 1932, e, foram dirigidas pelos
evangélicos, a maioria proveniente de São Paulo, de uma região conhecida como
Alta Sorocabana, a qual pertenciam as denominações Presbiteriana Independente
e Metodista. A primeira missa só foi realizada em 1934, pelo bispo dom Fernando
Taddei, vindo de Jacarezinho no local onde seria construída a primeira paróquia.
Na atualidade temos em Londrina uma diversidade de denominações
cristãs espalhadas na maior parte da cidade. De acordo com a classificação do
IBGE, as denominações cristãs classificam-se em evangélicos de origem histórica
ou de missões, entre os quais se destacam os Batistas, Presbiterianos,
Luteranos, Metodistas; e os evangélicos de origem pentecostal dos quais
destacam-se a Assembléia de Deus, Universal do Reino de Deus e do Evangelho
Quadrangular. No Brasil, 68% dos evangélicos são de origem pentecostal e 27%
de origem histórica (MUZIO, 2003).
Londrina possui 621 templos das diversas religiões, sendo 446
evangélicos e 79 católicos. Dos templos evangélicos, 59 são da Igreja Assembléia
de Deus, 26 Batista, 22 Congregação Cristã e, 21 Igreja Deus é Amor. As outras
religiões possuem 96 templos destacando-se 14 Testemunhas de Jeová, 9
Centros Espíritas Kardecista e 3 Budistas (tabela 19).
Tabela 8 - Templos por denominação em 2003
DENOMINAÇÃO
QUANTIDADE
Católica
79
Evangélica
446
Histórica ou de Missões
Batista
26
Adventista
18
Presbiteriano do Brasil
15
56
Presbiteriana Independente
14
Metodista
11
Missionária
7
Pentecostal e Neo-Pentecostal
Assembléia de Deus
59
Congregação Cristã no Brasil
22
Deus é Amor
21
Evangelho Quadrangular
11
O Brasil para Cristo
11
Cristã Primitiva
11
Luz Para o Mundo
11
Só o Senhor é Deus
10
Presbiteriana Renovada
8
Universal do Reino de Deus
8
Nazareno
4
Internacional da Graça de Deus
4
Outras Cristãs (com menos de 4 templos cada)
175
Outras Religiões
96
TOTAL
621
Fonte: Adaptado de MUZIO (2003)
A igreja Católica possui individualmente o maior número de templos e
sua distribuição espacial revela uma forte inserção nos vários bairros de Londrina,
com exceção do centro-sul, também carente de igrejas evangélicas (figura 60).
Entre os templos evangélicos, os pentecostais são em maior número,
pois este segmento tem como prioridade atender a população de bairros
periféricos, e, se instalam rapidamente, até mesmo antes da implantação de infraestrutura como escolas, asfalto e postos de saúde (figura 61).
57
FIGURA 27 - TEMPLOS CATÓLICOS E EVANGÉLICOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
58
FIGURA 28 - TEMPLOS EVANGÉLICOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
59
A síntese elaborada com as variáveis igrejas católicas, igrejas
evangélicas, escolaridade e renda, em classes homogêneas, retrata seis
agrupamentos que demonstram diferenças importantes na cidade de Londrina
(figura 62).
1. Centro rico com baixa presença de templos: Uma grande
distinção é feita entre este agrupamento e os demais. Localizado nos bairros
geograficamente centrais e mais antigos e alguns bairros do centro sul da cidade.
Em termos médios, há uma menor presença de igrejas e maior número de chefes
de família com rendas superiores a 20 salários mínimos mensais. É nessa região
que se localiza a catedral (católica) e algumas das mais tradicionais igrejas
evangélicas. Os templos (evangélicos) embora em número reduzido, são os
maiores, podendo abrigar grande quantidade de membros. A densidade de
residentes em idade escolar é alta nos bairros centrais e, baixa nas zonas de
expansão urbana. São representados pelos bairros que foram implantados no
início do surgimento da cidade e até o final da década de 1950: Centro Histórico,
Quebec, Presidente, Jamaica, Champanhat, Shangri-lá, Vila Nova, HU, Aeroporto,
Brasília, Vila Brasil, Petrópolis, Higienópolis, Ipiranga, Inglaterra, Tucanos, Bela
Suíça, Guanabara e Palhano.
2. Periferia pobre com ampla presença da igreja católica:
Predominância de templos católicos com grande presença de templos
evangélicos pentecostais. A condição socioeconômica é das mais precárias com
forte presença dos que ganham até 3 salários mínimos (mínimo de 15% e máximo
de 85%) e analfabetismo de jovens (mínimo de 4% e máximo de 30%). São
bairros de implantação recente e alguns apresentam ocupação irregular: Heimtal,
Cidade Industrial, Cilo 3, Cilo 2, Ideal, Olímpico, Piza, Parque das Indústrias e
União da Vitória.
3. Periferia com realidade socioeconômica mediana com presença
marcante da igreja evangélica de missões: Em relação aos índices
socioeconômicos estão mais próximos das médias encontradas para Londrina
(analfabetismo de jovens 11%, chefes de famílias com rendimento inferior a 3
salários mínimos, 42% e, superior a 20 salários mínimos, 3%). Encontra-se
dispersos nos bairros centrais formando um primeiro anel a partir do centro.
Fazem parte dessa região os seguintes bairros: Vivi Xavier, Cinco Conjuntos,
60
Leonor, Coliseu, Vila Nova, Indústrias Leves, Bandeirantes, Sabará, Vila Recreio,
Ideal, Brasília, Ernani, Fraternidade, Antares, Cafezal, Saltinho e Palhano.
4.
Periferia
pobre
com
presença
de
igrejas
evangélicas
pentecostais: Os índices socioeconômicos avaliados são inferiores à média
municipal (até 3 salários mínimos, 53%; analfabetismo de jovens, 14%, chefes de
famílias com rendimento superior a 20 salários mínimos, inferior a 1%). A
diversidade de igrejas pentecostais é significativa com até 5 templos em um
mesmo setor censitário. Encontra-se localizado nos bairros implantados após a
década de 1970 na periferia que concentra um grande contingente de jovens em
idade escolar. Representa uma fisionomia de bairros construídos em um período
revelador de um empobrecimento dos cidadãos, seja pelo esgotamento das ações
do regime militar que, teve seu término nos anos de 1980, seja pelo grande afluxo
da população rural, sobretudo em uma região onde as plantações de café tinham
uma significativa importância até 1975. Destacam-se neste agrupamento os
bairros: Eldorado, Perobinha, Parigot de Souza, Vivi Xavier, Cinco Conjuntos,
Cidade Industrial, Cilo 3 Ouro, Leonor, Coliseu Verde, Autódromo, Pacaembu,
Lindóia, Cilo 2, Vila Casoni, Cidade Industrial 2, Fraternidade, Interlagos, Antares,
Sabará, Califórnia, Parque das Indústrias, Cafezal, Saltinho e União da Vitória.
5. Contrastes socioeconômicos sem igrejas evangélicas visíveis:
São bairros com núcleos urbanos cuja presença de instituições de pesquisa e
ensino como IAPAR e UEL são importantes e presença de várias propriedades
com atividades rurais. Os bairros Universidade, Vivendas do Arvoredo, Chácaras
São Miguel e Terra Bonita, em amplo processo de urbanização, não apresentam
templo cristão de forma aparente.
6.
Contrastes
socioeconômicos
com
igrejas
evangélicas
pentecostais: O bairro Esperança está em forte processo de urbanização por
empresas imobiliárias que, dedicam-se à implantação de condomínios horizontais,
circundados por bairros mais populares e zonas rurais. O começo efetivo de
implantação de condomínios horizontais deu-se somente alguns anos após a
implantação do Shopping Center Catuaí em 1990. A sede do distrito de Espírito
Santo, recentemente incorporado à zona de expansão urbana concentra grande
parte da população.
61
Ao utilizar dados coletados com o objetivo de cadastramento censitário,
como os do IBGE, ou pesquisas secundárias, não se levam em conta aspectos
essenciais da natureza humana, como sua mobilidade, relações de afetividade,
amizades, dependência e familiares. Ainda que a análise aqui apresentada,
compartimentando a cidade em setores e bairros não seja completa e ampla,
revela questões essenciais para a melhoria das condições de vida da população,
como por exemplo, a necessidade de estratégias apontadas pela comunidade que
devem ser implementadas pelo poder público.
62
FIGURA 29 - RELAÇÃO ENTRE ESCOLARIDADE, RENDA E LOCALIZAÇÃO DE IGREJAS NA
CIDADE DE LONDRINA EM 2000
63
DISPARIDADES SÓCIO-ECONÔMICAS
A análise de vários indicadores do IBGE revela importantes
disparidades sócio-econômicas e sócio-espaciais na cidade de Londrina.
A maioria dos londrinenses reside em casas. O censo 2000 indicou
99.892 habitações unifamiliares localizadas, sobretudo fora dos bairros centrais
(figura 63). Indicou também uma predominância de domicílios próprios num total
de 85.088 (figura 64) e 24.655 alugados (figura 65).
A ausência de banheiro ou sanitários nos domicílios representa uma
deficiência de equipamentos domésticos e de saneamento. Em Londrina a
ausência desses equipamentos domésticos não chega atingir valores elevados
quando comparada com outras cidades do país. Do total de setores censitários,
97% apresentam no máximo 4% dos domicílios nessa situação. Entretanto, nos
bairros: Cidade Industrial 2, Parigot de Souza, Olímpico, Parque das Indústrias e
Saltinho a situação é mais grave, pois, podemos chegar a ter entre 13% e 17%
dos domicílios sem banheiro ou sanitário (figura 66). Como esses bairros são
periféricos os índices podem indicar resultados de uma situação ainda provisória
na construção dos domicílios.
Como indicador indireto de conforto ambiental de moradia podemos
confrontar os domicílios com 7 ou mais moradores (4.373) daqueles com apenas
um morador (11.029), (figura 67) que, mesmo podendo ter uma melhor relação de
densidade de moradia, representa potencialmente uma situação social de solidão.
Nesses critérios, os domicílios mais populosos estão, sobretudo, nos bairros mais
periféricos, enquanto podemos encontrar domicílios com só um morador em
praticamente todos os setores, e principalmente nas zonas centrais. O censo
revelou
171 domicílios improvisados, de
qualidade
ambiental duvidosa,
distribuídas em quase toda a cidade, exceto nas áreas com setores censitários
tipicamente rurais como: Esperança, Terra Bonita, Eldorado, Perobinha e Cilo 3.
Do total de 123.617 domicílios em Londrina, os improvisados são apenas 0,14 %
(figura 68).
64
FIGURA 30 - MORADORES EM CASAS E APARTAMENTOS NA CIDADE DE LONDRINA EM
2000
65
FIGURA 31 - DOMICÍLIOS PRÓPRIOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
66
FIGURA 32 - DOMICÍLIOS ALUGADOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
67
FIGURA 33 - PRESENÇA DE QUATRO BANHEIROS E AUSÊNCIA DE BANHEIRO NOS
DOMICÍLIOS DA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
68
FIGURA 34 - DOMICÍLIOS COM SETE OU MAIS MORADORES E DOMICÍLIOS COM UM
MORADOR NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
69
FIGURA 35 - DOMICÍLIOS IMPROVISADOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
70
Os responsáveis pelos domicílios particulares permanentes com
rendimento inferior a dois salários mínimos (40.069), que se pode definir como em
situação de pobreza, têm sua moradia especialmente nas zonas periféricas,
embora estejam presentes em todos os setores da cidade. Os responsáveis com
rendimento superior a quinze salários mínimos (12.395) moram, sobretudo nos
bairros centrais e, centro-sul (figura 69).
Quando se analisa a taxa de masculinidade média de 0,93 (figura 70) e
taxa de instrução elevada pode-se perceber claramente que há mais mulheres
que homens e, que essas dominam no centro e sudeste. Os chefes de família
sem instrução (10.616) são quase oito vezes mais do que os que estudaram até o
nível de pós-graduação (1.378), e estão presentes em todos os setores com
predominância nas periferias.
71
FIGURA 36 - RICOS E POBRES NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
72
FIGURA 37 - HOMENS E MULHERES NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
73
A síntese resultante da análise de variáveis socioeconômicas revela
uma cidade dicotômica com dois centros nítidos: O Centro Histórico (C2) e bairros
adjacentes; e o Cinco Conjuntos (C4) e bairros adjacentes, localizado na região
norte (figura 71).
As variáveis analisadas foram: taxa de masculinidade, responsáveis
pelo domicílio com mais 15 salários mínimos, responsáveis pelo domicílio com até
2 salários mínimos, domicílios com 7 ou mais moradores, domicílio com 1
morador,
domicílios
alugados,
domicílios
próprios,
apartamentos,
casas,
domicílios improvisados, domicílios com 4 ou mais banheiros, domicílios sem
banheiros, fossa séptica, fossa rudimentar, evangélicos, católicos, pessoas com
idade entre 6-18 anos, escolas particulares, escolas municipais, escolas estaduais
e número de pessoas residentes.
Os dois centros (C2 e C4) têm em comum uma alta densidade
demográfica, expressiva rede escolar e muitas igrejas, enquanto que as
diferenças entre eles são o tipo de residência, renda dos responsáveis e
condições de saneamento. Verifica-se no C2 a presença de edifícios residenciais,
esgotamento sanitário por rede e predominância de chefes de família com
rendimentos elevados. No C4, predominam casas térreas, saneamento por fossas
e chefes de família com rendimentos médios. Dois outros aspectos interessantes
e discriminantes destes dois centros (C2 e C4) são a menor taxa de
masculinidade no Centro Histórico e maior presença de domicílios com 7 ou mais
moradores no Cinco Conjuntos.
O conjunto de bairros do entorno do Centro Histórico (C5) e do bairro
Cinco Conjuntos (C3) distingue-se por estar próximo dos seus centros, não só
pelo critério espacial, mas, sobretudo, pelos indicadores sócio-ambientais. A
classe da legenda C3 corresponde aos bairros próximos ao Cinco Conjuntos
(norte), embora outros bairros como União da Vitória e Cafezal (sul); Olímpico
(oeste); e os bairros Califórnia, Ernani e Fraternidade (leste); também,
apresentem condições similares. A classe C5 corresponde aos bairros do entorno
do Centro Histórico, formado por dezenove bairros, entre estes, Inglaterra,
Shangri-lá, Bandeirantes e HU, com perfil socioeconômico médio.
74
A classe da legenda C6 é formada pelos bairros Leonor e Parque das
Indústrias e apresentam perfil socioeconômico mais próximo ao C4 que
corresponde ao bairro, Cinco Conjuntos.
A classe C1 é formada por um conjunto de 23 bairros que têm em
comum a baixa densidade populacional e heterogeneidade quanto à renda.
Apresenta perfil socioeconômico médio, com sensível desvio negativo para todas
as variáveis analisadas, exceto para a variável taxa de masculinidade. Fazem
parte desta classe os bairros Eldorado, Terra Bonita, Aeroporto, Cidade Industrial,
entre outros.
Londrina foi tratada pelos agentes organizadores de seus espaços
como duas grandes unidades. Uma central e outra deslocada ao norte. Suas
áreas de influência são expressas na mancha geográfica e marcam fortemente
esta cidade como dicotômica.
75
FIGURA 38 - SÍNTESE DE VARIÁVEIS SOCIAIS, ECONÔMICAS E AMBIENTAIS DA CIDADE
DE LONDRINA EM 2000
76
USOS E ABUSOS NO MEIO AMBIENTE
77
USO DO SOLO
A primeira das variáveis qualificadas corresponde ao uso do solo urbano
com definição e hierarquização em classes. Outros aspectos também são
enfatizados como praças, arborização de rua e ocupação irregular em Áreas de
Proteção Ambiental. A identificação destas variáveis foi obtida por meio da
interpretação de fotografias aéreas, imagens de satélites e pesquisas de campo.
O mapa de uso do solo (figura 72) foi elaborado a partir da interpretação
de fotografias aéreas do ano de 1997, na escala 1:8000 (formato digital) e
atualizado para o ano de 2000, com trabalhos de campo. Também foram
utilizadas imagens de satélite ETM Landsat 7 do ano de 2001, como material de
apoio com resolução de 15 m e a do satélite SPOT, resolução de 10 m, do ano de
2004 (BARROS et al, 2004).
Neste mapa visualiza-se a paisagem urbana e rural de forma integrada
no espaço urbano. Sua legenda destaca três categorias de uso: espaços livres,
espaços construídos e outros.
Os espaços livres estão organizados em três subgrupos - recreação,
conservação e ornamental, composto por 9 classes que correspondem a praças,
parques de bairros, unidade de conservação, áreas de fundos de vale, lagos,
jardim de representação e verde viários, representados em sua maioria, pelas
tonalidades escuras de verde e ocre.
Os espaços construídos estão classificados em 8 classes sendo que os
de uso residencial e misto (residencial e comercial) são os mais representativos
(cores róseas), embora se destacam por toda a malha urbana, amplas áreas de
terrenos vazios que são constituídos por áreas já parceladas, à espera de
valorização, classificadas na categoria outros. As áreas de uso especial
correspondem à localização de instituições, em grande maioria, públicas como a
Universidade Estadual de Londrina, o IAPAR, o Aeroporto de Londrina e o
Autódromo. Estas áreas dificilmente serão parceladas e, portanto, não implicam
em aumento de densidade de ocupação urbana para atender às demandas de
crescimento da cidade.
Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes Barros; Hervé Théry; Lúcia
Helena Batista Gratão, Neli Aparecida de Mello.
78
A categoria outros está organizada em 2 classes: agropastoril, com
destaque para as áreas de uso agricola e chácaras de lazer, representadas na cor
verde claro e vazios urbanos pela cor laranja.
A área urbana em 2002 corresponde a 245,52 Km²; 90 Km² a mais, em
relação a 1995, diferença que se explica pela alteração da Lei municipal
concernente ao perímetro urbano. Deste total, mais de 48% corresponde à classe
agropastoril que somada a de vazio urbano atinge mais de 55%, uma área
superior à utilizada atualmente para as atividades urbanas (tabela 20).
Os espaços construídos correspondem a 31,67% do total da área
urbana. O conjunto de suas classes é composto pela maioria correspondente à de
uso residencial, com 14,73% seguida respectivamente pelas classes rua que
totaliza um valor bastante elevado, uso misto, especial, indústria ou comércio
atacadista, uso público, ferrovia e favela.
O uso misto é uma classe importante e concentra-se principalmente no
Centro Histórico e nas principais vias de acesso. As áreas de uso especial
também são muito importantes para a qualidade ambiental do espaço urbano,
pois são abertas e, contam muitas vezes com a presença de vegetação que
influencia beneficamente na infiltração da água no solo, como também no clima
urbano, porém, ocupa apenas 2,97% do total. A área de indústria ou comércio
atacadista não é expressiva, concentrando-se nas saídas para Cambé, Ibiporã e
para Curitiba.
A cidade é bem suprida por mananciais em razão de ter seu sítio
localizado sobre densa rede hidrográfica. Os fundos de vale ocupam área
importante, mas, a mata ciliar é escassa predominando as áreas desprovidas de
vegetação. A cidade apresenta poucas áreas destinadas a parques, e os mais
representativos são o Bosque Central no Centro Histórico, parque linear do Lago
Igapó e o Parque Arthur Thomas no bairro Piza. Porém, algumas áreas de
vegetação são muito importantes para a cidade como a do ribeirão Cambé no
bairro Sabará, o bosque da empresa Anderson Cleyton no bairro Fraternidade, o
Vale Verde no Jardim Presidente e a mata da Universidade Estadual de Londrina.
79
Tabela 9 - Classes de Uso do Solo em Km2 em 2002
Km2
%
Praça urbanizada
0.7
0.28
Praça não urbanizada
1.00
0.41
Parque de bairro
0.67
0.27
Unidade de conservação
3.02
1.23
Fundo de vale sem vegetação
14.98
6.10
Fundo de vale com vegetação
9.38
3.38
Lago
1.1
0.45
Jardim de representação
0.11
0.04
Verde viário
1.63
0.66
Subtotal
32,59
12,82
Residencial
36.17
14.73
Uso misto
9.81
3.99
Uso Especial
7.29
2.97
Indústria ou comércio atacadista
4.49
1.83
Favela
0.57
0.23
Uso público
2.36
0.96
Ferrovia
1.4
0.57
Rua
15.7
6.39
Subtotal
77,79
31,67
Vazio urbano
15.14
6.17
Agropastoril
120.00
48,87
Subtotal
135,14
55,04
TOTAL
245,52
100,00
CLASSE DE USO
ESPAÇOS LIVRES
ESPAÇOS CONSTRUÍDOS
OUTROS
80
FIGURA 39 - USO DO SOLO DA CIDADE DE LONDRINA EM 2002
81
Dentre os vários ambientes que compõem a cidade, a praça é um lugar
que exerce influência na qualidade de vida social e ambiental. A questão da
valorização do ambiente natural no seio da cidade ganhou destaque, no Brasil, a
partir da década de 1990, modificando os padrões urbanísticos e desvinculando o
olhar da cidade caótica para um espaço mais saudável e mais verde, ainda que,
muitos dos espaços sejam ambientes “naturais” reconstruídos pelo paisagismo.
Se antes a praça era vista como lugar de lazer, passeio e descanso,
além de favorecer um contato mais próximo da população com a natureza, nos
últimos anos vêm rapidamente transformando suas funções, constituindo-se em
lugares de prostituição, tráfico de drogas ou depósito de lixo e sendo objeto de
depredação.
A distribuição espacial das praças é uma informação importante,
porém, pouco demonstrativa das qualidades sociais e ambientais das mesmas, é
relevante considerar também, o tamanho, mobiliário, arborização e o uso
(BARROS e VIRGILIO, 2003).
Londrina
possui
248
praças
distribuídas
por
toda
a
cidade,
concentradas no centro da área urbana e dispersas nos bairros das regiões norte
e sul (figura 73). A área ocupada por praças e canteiros centrais das avenidas da
cidade corresponde a apenas 5,07 % dos 245,52 km² e muitas apresentam área
reduzida com no máximo de 80 m2 (tabela 21).
Tabela 10 - Área ocupada por praças em 2002
PRAÇA
ÁREA
Praça urbanizada
8,6 km²
Praça não urbanizada
5,4 km²
Canteiro viário
0,1 km²
Total
14,1 km²
A maioria das praças é arborizada, exceto 5% destas que se
assemelham aos terrenos baldios. A quantidade de árvores encontradas nas
praças é reduzida, somente no Centro Social da Vila Portuguesa (bairro Vila
82
Recreio) este número é expressivo com 500 árvores, além de 2 campos de
futebol, área para refeição, bancos, calçamento, 1 posto de saúde e 2 creches,
sendo uma área com papel ambiental e social importante.
A arborização das praças com relação a seus aspectos físicos e
sanitários é relativamente boa, com 90% em bom estado. As espécies arbóreas,
mais comuns são a Cibipiruna, as Frutíferas e o Ipê, representando um total de
47, 50% (gráfico 2).
Gráfico 2 – Principais espécies arbóreas das praças de Londrina – 2002
Em relação às condições de infra-estrutura, a depredação do mobiliário
é um problema generalizado, com exceção daquelas localizadas nos bairros que
possuem associação de moradores atuante ou que dividem espaço com igreja ou
escola. Das 131 praças urbanizadas, apenas 50% estão em bom estado de
conservação enquanto que 16% estão em péssimas condições. Apenas 25% das
praças possuem áreas de esportes e somente 3% destinam áreas para recreação
infantil, demostrando a necessidade de maior atenção dos órgãos competentes.
A imagem da arborização de rua revela, a princípio, o traçado das ruas
e avenidas da cidade, ao mesmo tempo em que se articula ao processo de
expansão planejada da cidade e reforça a idéia de que o padrão de arborização
acompanha as exigências dos modelos de planejamento e dos critérios
ambientais.
83
Percebe-se que o Centro Histórico e seu entorno, implantados entre as
décadas de 1930 a 1960, valorizaram bastante a arborização, embora se
distingam mutuamente no padrão da mesma. Os bairros implantados após a
década de 1970 apresentam arborização escassa, muitas vezes sequer
distinguindo o traçado de suas ruas, elementos destacados na figura 74. Nestes
bairros a arborização urbana perdeu parte da importância como elemento
urbanístico.
Exceção a este contexto por apresentar o mesmo padrão da periferia
imediata ao Centro Histórico é, por exemplo, o bairro Cinco Conjuntos, construído
na década de 1970, cuja intensa arborização valoriza este espaço urbano.
O mapa, elaborado a partir do levantamento quantitativo das árvores
do sistema viário da área urbana da cidade em 2003, empregou o método de
amostragem casual simples e a variável número de árvores por quilômetro de
calçada (figura 75). Foram catalogadas 2188 árvores em diversas áreas da
cidade, escolhidas aleatoriamente, considerando os 192,68 quilômetros de
calçadas da cidade, chegando ao um índice de 11,35 árvores por quilômetro de
calçada. A espacialização ocorre nos extremo leste e oeste com uma relação
variando entre 16 a 22 árvores por quilômetro de calçada, até a classe de 38 a 44
árvores/quilômetro na região central da cidade.
Após a década de 1990 o verde urbano (unidades de conservação,
parque de bairro e fundo de vale com ou sem vegetação) se transformaria em
fator de segregação social, incorporado ao mercado imobiliário como indicador de
qualidade ambiental (figura 76). De um modo geral, a distribuição do verde urbano
marca o desenho urbano de Londrina, embora cobrindo superfícies que variam de
áreas muito pequenas a grandes extensões.
84
FIGURA 40 - PRAÇAS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2002
85
FIGURA 41 - ARBORIZAÇÃO URBANA EM LONDRINA EM 2000
86
FIGURA 42 - ÁRBORIZAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO NA CIDADE DE LONDRINA EM 2003
87
FIGURA 43 - VERDE URBANO EM LONDRINA EM 2003
88
Segundo a legislação nacional e local, os fundos de vale são
considerados Áreas de Preservação Permanente - APP, portanto, impedidas de
uso ou de ocupação. As APPs são áreas que margeiam os cursos d’água (rio,
nascente, lagos, represa), encostas com declividade superior a 30% ou 45º e
outras situações quando declaradas pelo poder público, como para atenuar o
processo erosivo, formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias,
proteger sítios de excepcional beleza, de valor científico ou histórico; ou ainda,
para assegurar condições de bem-estar público.
A ocupação irregular em áreas de fundos de vale, ocorre em muitas
cidades brasileiras de médio e grande porte, não sendo apenas por invasões,
mas pode estar associada à aprovação indevida de loteamento, descumprimento
de legislação e falta de fiscalização. Nacionalmente é um problema de elevada
gravidade, pois, não se trata apenas da preservação ambiental destas áreas,
mas, sobretudo, das condições sócio-econômicas refletidas nas questões de
moradia no país que atinge diretamente uma parcela da população desassistida
deste direito. Além disto, na maioria das vezes, estas áreas de risco natural se
transformam em riscos sociais.
Em Londrina existem vários conflitos de ordem social e ambiental,
como é a ocupação irregular em fundos de vale. A figura 77 revela as áreas de
restrição legal e de preservação permanente ocupadas irregularmente. Existem
21,36 Km² de área de preservação permanente, sendo que 5,42 Km² (25,4%)
encontra-se com ocupação irregular (BARROS et al, 2003).
De um modo geral, observa-se que as maiores concentrações de
ocupações irregulares situam-se nas regiões sul e sudeste da área urbana, nos
baixos cursos das bacias do ribeirão Cambé e do Cafezal e estão associadas a
duas variáveis restritivas: a existência do curso d’água e a declividade de
vertentes acima de 30%.
As cabeceiras dos afluentes que formam o ribeirão Cambé,
especialmente os córregos Cristal e São Lourenço, são os locais de maior
ocorrência em extensão, de ocupação irregular. Situação semelhante quanto à
ocupação irregular das vertentes íngremes e do curso d’água, ocorre no baixo
curso do ribeirão Cafezal. Além dos problemas de ocupação irregular ocorre o
lançamento de dejetos diretamente nos cursos d’água em vários pontos.
89
A expansão urbana ao norte estimulou e promoveu a ocupação
irregular das margens da bacia do ribeirão Lindóia, as sub-bacias do ribeirão
Quati e do córrego Águas das Pedras e, igualmente, a do ribeirão Jacutinga e seu
afluente, o arroio Primavera. O processo tornou-se especialmente intenso,
comprometendo todo o curso do arroio Primavera, hoje totalmente ocupado.
As ocupações irregulares de fundo de vale não se localizam apenas
nas áreas periféricas da cidade, mas delas também fazem parte áreas nobres,
como a APP do Lago Igapó que é um dos pontos de lazer da cidade. O Lago
Igapó I está cercado, por um lado pelo “Parque Linear”, formado ao longo da
extensão do Lago Igapó e do outro, por residências de alto padrão dos bairros
Bela Suíça e Tucanos. As nascentes são também atingidas por processos
semelhantes de ocupação do solo em suas proximidades, ainda que protegidas
pela mesma legislação.
90
FIGURA 44 - OCUPAÇÕES IRREGULARES EM ÁREAS DE PRERVAÇÃO PERMANENTE NA
CIDADE DE LONDRINA EM 2004
91
CONDIÇÃO AMBIENTAL
Para a avaliação das condições ambientais urbanas foram utilizadas as
variáveis de abastecimento de água, coleta de esgoto e de resíduos sólidos, uso
e ocupação das bacias hidrográficas e a impermeabilização da superfície por
concentração de construções (pavimentação e construção civil) como elementos
geradores de conflitos entre o uso do solo e sua preservação.
As primeiras redes de abastecimento de água em Londrina foram
construídas pela Companhia de Terras Norte do Paraná e posteriromente,
ampliadas pelo Departamento de Água e Esgoto, implantado em 1958, por
decreto lei municipal. Em 1965 foi criado o Serviço Autárquico de Saneamento,
para administrar os sistemas de água e esgoto da cidade. Face ao crescimento
urbano de Londrina e a necessidade de investimentos para a ampliação de
sistemas de tratamento e distribuição da água e coleta, e tratamento de esgoto,
em dezembro de 1973 a exploração dos serviços foi concedida à Companhia de
Saneamento do Paraná - Sanepar, que assumiu o compromisso de equacionar as
necessidades da área de saneamento.
Com a aprovação da lei federal 4933/97, a água transformou-se em
objeto de compra e venda no Brasil, como qualquer outro produto. A expansão
urbana gerou um uso intenso deste recurso provocando conflitos originados pelas
diferentes demandas e o estabelecimento de regras de conduta, tanto na
exploração, quanto no consumo. O desperdício na produção, distribuição e
consumo chamou a atenção para a questão da escassez, um problema até então
desconhecido no país uma vez que a água sempre foi vista como um recurso
inesgotável.
Londrina possui várias bacias hidrográficas e muitas nascentes e é
privilegiada com relação à quantidade e a qualidade de suas águas. No entanto, o
fornecimento depende, além da existência de bons mananciais, da pureza da
água, ao qual se agrega o tratamento e a distribuição pela rede de abastecimento.
Neli Aparecida de Mello; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes
Barros; Hervé Théry; Lúcia Helena Batista Gratão.
92
O abastecimento de água pela rede atinge mais de 75% dos domicílios,
sendo esse valor, equivalente à média nacional urbana. Mesmo os bairros mais
populares como o Olímpico e União da Vitória, apresentam setores censitários
com todos os domicílios atendidos pelo fornecimento de água (figura 78).
Embora a cidade possua uma boa rede geral de distribuição de água, a
água subterrânea também é explorada por meio de poços e garante cerca de 8%
do abastecimento. Do total de domicílios em Londrina apenas 1,9% utiliza de
poços ou nascentes para o abastecimento de água. O mapa (figura 79)
demonstra que o bairro Terra Bonita está na categoria mais crítica de
abastecimento de água pela rede, com um percentual de 92% dos domicílios com
poços ou nascentes. Isto se justifica em parte, por ser uma área de organização
tipicamente rural e pouco populosa. Os bairros da região sudoeste, Esperança e
Universidade por serem de recente ocupação, e o bairro Palhano por apresentar
uma grande concentração de condomínios
verticais e com déficit de
abastecimento pela Sanepar, justificam os percentuais entre 41 a 71% dos
domicílios utilizando-se de poços ou nascentes. Na região norte, o fornecimento
de água por meio de poços ou nascentes distribui-se por grande parte da região,
com predominância nos bairros Eldorado e Cidade Industrial, que, apesar de não
estarem na categoria extrema encontram-se na faixa entre 41 a 71% dos
domicílios utilizando água de poços ou nascentes.
93
FIGURA 45 - REDE GERAL DE ABASTECIMENTO NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
94
FIGURA 46 - ABASTECIMENTO DOS DOMICÍLIOS POR POÇOS NA CIDADE DE LONDRINA EM
2000
95
O tema saneamento é assunto complexo, pois, além das ações básicas
no campo do abastecimento de água, coleta de esgoto e de resíduos sólidos, está
relacionado às questões de saúde, distribuição de renda e, investimento público.
Diarréias, dengue, leptospirose são algumas das doenças de veiculação hídrica
que, atinge parte da população brasileira e, necessitam não só do tratamento
clínico, mas também, preventivo por meio do saneamento básico.
Embora o esgoto sanitário por meio de rede geral seja a forma mais
indicada, no Brasil é a menos difundida para o saneamento. São 102 milhões de
brasileiros sem acesso ao sistema de rede de esgoto. Aproximadamente 76%
destes contam com água encanada em suas residências e, em um universo de
9.848 distritos, 85% dispõem do serviço de coleta de lixo e limpeza urbana. No
Paraná, 84% da população têm acesso a água encanada e, 38% ao sistema de
esgotamento sanitário por rede. A cidade de Londrina concentra 94% da
população do município com um consumo médio de 260 litros de água potável por
dia, e produz de 120 a 160 litros de esgoto por habitante, além de 800 gramas de
resíduos sólidos domiciliares. Os valores requerem atenção quanto ao
saneamento básico para atender as necessidades dessa população.
Os esgotos domésticos ou sanitários contêm 99,9% de água e apenas
0,1% de sólidos orgânicos e inorgânicos, podemos pensar que a rede de coleta
de esgoto necessária para Londrina equivale a um sistema paralelo de
distribuição de água, em termos de sua extensão. Enquanto a rede de distribuição
de água possui uma extensão de 2.099 quilômetros, a de esgotamento sanitário
possui apenas 1.217 quilômetros.
Quanto as Estações de Tratamento de Esgoto - ETE a cidade possui
quatro unidades com capacidade para processar 204.000 m³ por dia, porém,
atualmente, são coletados diariamente, apenas 42.000 m³. Isto indica que o
sistema de esgotamento sanitário necessita de ampliações na rede de coleta para
beneficiar um maior número de domicílios. Dos 124.710 domicílios da sede
municipal de Londrina (dados de 2000), 78.207 são atendidos pela rede geral de
esgoto, 119.068 abastecidos pela rede geral de água e, 120.177 com coleta de
lixo pelo serviço de limpeza.
Em relação ao abastecimento de água, coleta de lixo e limpeza urbana
Londrina destaca-se positivamente do restante do país, porém, o percentual de
96
atendimento pela rede de esgoto apresenta grandes distorções negativa. Apenas
35% dos setores censitários, os mais centrais e, ao longo de um eixo noroeste –
sudeste possuem uma cobertura importante, com atendimento superior a 95%.
Grande parte dos bairros do entorno desse eixo, são parcialmente atendidos por
esse serviço essencial à saúde pública enquanto que 33% dos setores
apresentam cobertura inferior a 50% dos domicílios com relação ao atendimento
pela rede de esgoto.
A utilização de fossa séptica, uma solução considerada apenas adequada
em termos sanitários, e não em termos ambientais, cobre 15% dos domicílios,
destacando-se sua utilização na zona mais periférica, em especial nos bairros
Cinco Conjuntos e Cafezal. Mesmo em bairros mais antigos, como o Tucanos,
aparecem soluções individuais para o destino do esgoto doméstico. Na região sul,
em empreendimentos recentes como os grandes condomínios horizontais, são
adotadas soluções mais coletivas e independentes da ação pública, tais como,
sistema de tratamento de esgoto por zonas de raízes. (figura 80).
A existência de fossas rudimentares indica ocorrência de riscos para o
meio ambiente, por não haver um processo de filtragem dos resíduos. (figura 81).
Esse tipo de fossa é utilizado em 20% dos domicílios da cidade, concentrando-se
na periferia norte e oeste de maneira sistemática. O bairro União da Vitória, na
periferia sudeste, localizado em área com rocha próxima à superfície ou aflorante,
apresenta a mesma proporção de domicílios ligados à rede de esgoto e sistema
de fossas, o que indica uma intervenção benéfica nessa região.
Nos últimos anos, após 2005, a expansão da rede de esgoto tem sido
significativa, chegando a atingir muitos bairros da região sudoeste, como também,
a Universidade Estadual de Londrina que, até o ano de 2004, possuia 184 fossas
sépticas em uso, para atender uma população de 20 mil pessoas, cerca de 5% da
população da área urbana de Londrina.
Os maiores riscos ambientais para os recursos hídricos, relacionados à
elevada ocorrência (80 a 100%) de fossas rudimentares, demonstram que o
atendimento público é precário no que se refere à ligação dos domicílios à rede
geral coletora de esgoto sanitário, o que pode indicar alto índice de contaminação
tanto para os cursos d’água quanto ao seu entorno atingindo as áreas de
preservação permanente.
Com esta característica encontram-se os bairros
97
Cidade Industrial, Heimtal, Lindóia, Vivi Xavier, Parigot de Souza, Perobinha, Cilo
3. Desta maneira, ao se considerar o risco ambiental para os recursos hídricos,
pode-se apresentar a seguinte classificação (tabela 22).
Tabela 11 - Ocorrência de fossas e risco ambiental para os recursos hídricos na região
norte da cidade
Bairro
Características
% ocorrência
fossas
de
Grau de
risco
Bacias atingidas
Cidade
Industrial
Lindóia
Chácaras, urbano e
industrial.
Chácaras, urbano e
industrial.
Antigo
Distrito
Urbano
Residencial
unifamiliar
Residencial
unifamiliar
80 a 100% de fossas
na totalidade do setor
Idem
Muito alto
Ribeirões Jacutinga e
Lindóia
Ribeirão Lindóia
Idem
Muito alto
Idem
Muito alto
Idem
Muito alto
Agrícola com plantio
de soja
Nascentes e
bosques
preservados. Pool
de combustíveis
Situação diversa e
contrastes com altas
densidade e
impermeabilização.
Situação diversa,
concentração fossas
nas nascentes.
Densidade elevada,
favelas, indústrias e
chácaras agrícolas.
Densidade elevada,
favelas e chácaras
agrícolas.
Idem
Muito alto
Idem
Muito alto
Vertente direita ribeirão
Lindóia
80 a 100% de fossas
em 80% da área do
setor
Muito alto
Ribeirão Quati e vertente
do Lindóia
Idem
Muito alto
Ribeirão Cambe
Heimtal
Vivi Xavier
Parigot
Souza
Perobinha
Cilo 3
Pacaembu
Cilo 2
Leonor e
Autódromo
Coliseu
de
60 a 100% de fossas
em poucas áreas do
bairro
Idem
Muito alto
Alto
Alto
Afluentes do ribeirão
Jacutinga
Córrego Veado (afluente
do Lindóia)
Córrego Poço Fundo
(afluente do Jacutinga) e
ribeirão Lindóia
Vertente esquerda Lindóia
Ribeirão Lindóia, Quati e
áreas de proteção
ambiental
Contaminação do lençol
freático
Na região leste da cidade os bairros Cidade Industrial, Lon Rita e parte
do bairro Califórnia também apresentam precárias condições de atendimento
público, pela alta incidência de fossas rudimentares (80 a 100%), com várias
áreas de ocupação recentes e sem infra-estrutura de saneamento (tabela 23).
Tabela 12 - Ocorrência de fossas e risco ambiental para os recursos hídricos na região
leste da cidade
Bairro
Características
Cidade
Industrial 2
Uso agrícola, com
zoneamento para
uso industrial.
% ocorrência de
fossas
Grau de
risco
80 a 100% de fossas
Baixo
Bacias atingidas
Nascentes do ribeirão
Água das Pedras
98
Lon Rita
Califórnia
HU
Aeroporto
Predominância
de
uso agrícola
Loteamento recente,
padrão médio
Limite com
aeroporto
Idem
Médio
Idem
Muito alto
Bairro de ocupação
muito antiga
Idem
Muito alto
Ribeirão Limoeiro
Nenhum curso d’água
Idem
Poluição para o lençol
freático no ribeirão
Limoeiro
Desvinculado da rede
coletora
O elevado índice de ocorrência de fossas rudimentares também se
repete na região sul-sudoeste da cidade, local de expansão dos grandes
condomínios residenciais pelos bairros Universidade, Esperança, Terra Bonita e
Vivendas do Arvoredo, como também os bairros Olímpico e Sabará que
apresentam elevado percentual (80 a 100%) caracterizando a falta de integração
à rede geral coletora de esgoto (tabela 24).
Tabela 13 - Ocorrência de fossas e risco ambiental para os recursos hídricos na região
sul-sudoeste da área urbana
Bairro
Características
% ocorrência
fossas
de
Grau de
risco
Bacias atingidas
Olímpico
Bairro de
implantação antiga,
com áreas
irregulares e favelas.
Densa ocupação
vertical
80 a 100% de fossas
na totalidade do setor
Muito alto
Ribeirão Cafezal
Idem
Muito alto
Impermeabilização
do solo pela
densidade próximo
UEL. Condomínios
residenciais de alto
padrão
Condomínios
residenciais
parte
sul do bairro
Idem
Muito alto
Córrego da Mata, afluente
do ribeirão Cambé, com
contaminação doméstica
Ribeirões Esperança e
Cafezal
Sabará
Universidade,
Terra Bonita,
Chácaras e
Esperança
Vivendas do
Arvoredo
100%
de
rudimentares
fossas
Muito alto
Ribeirão Cafezal
Do ponto de vista do risco ambiental para os recursos hídricos,
melhores condições são encontradas no restante das áreas urbanizadas do
município. Estas correspondem às ocorrências entre 20 e 60% de fossas
rudimentares e podem ser consideradas como portadoras de risco mediano. Tal
situação é característica de áreas de ocupação irregular e alta densidade.
Ocorrem nos bairros União da Vitória, Saltinho, Eldorado, Ouro Verde e Sabará,
entretanto, ressalta-se a presença de fossas sépticas neste setor, o que reduz os
99
riscos de esgotos jogados diretamente nos rios ou contaminando os solos (figura
82).
Pela análise de variáveis ligadas à rede geral coletora de esgotos e a
conseqüente presença de risco ambiental para os recursos hídricos e na
contaminação dos solos da cidade, conclui-se que na área compreendida entre o
Centro Histórico e as áreas construídas até 1987, a presença da rede coletora
não representa grandes riscos de comprometimento para os córregos e ribeirões.
100
FIGURA 47 - REDE GERAL DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA CIDADE DE LONDRINA EM
2000
101
FIGURA 48 - FOSSA RUDIMENTAR NOS DOMICÍLIOS DA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
102
FIGURA 49 - FOSSA SÉPTICA NOS DOMICÍLIOS DA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
103
A coleta de resíduos sólidos é uma das necessidades básicas para o
bem estar das populações, sobretudo no tocante às questões de saúde e higiene.
Como é um serviço de responsabilidade do poder público municipal, em Londrina
é executada por uma empresa concessionária prestadora de serviço. A produção
diária de lixo doméstico é estimada em 380 toneladas, das quais, 90 são
encaminhadas para reciclagem, sendo o restante depositado no aterro controlado,
localizado na estrada do Limoeiro, no bairro Aeroporto. Dos setores censitários,
85% possuem coleta total de lixo e em poucos setores localizados nos bairros
periféricos, a coleta é feita de forma parcial (figura 83).
A coleta seletiva iniciou-se em 1996 na região central, mas, só em 2001
passou a ser efetuada de maneira generalizada por ações das organizações não
governamental
formada
por
antigos
catadores.
Em
2004
existiam
26
organizações, envolvendo mais de 500 famílias, e sendo responsáveis por uma
área de abrangência de coleta de aproximadamente 85% da área urbana. Em
2006 foi aprovada uma lei municipal que estabelece a obrigatoriedade de separar
os materiais recicláveis dos demais resíduos (CONSEMMA, 2006).
No contexto geral da área urbana quanto à ocorrência de lixo jogado no
logradouro, três bairros se destacam por não serem atendidos adequadamente já
que apenas 15 a 26% do total de domicílios possuem coleta de lixo (figura 84).
Esta situação ocorre no extremo norte da cidade, na área de ocupação irregular
no Bairro Eldorado que está localizada na vertente direita do ribeirão Jacutinga,
representando um alto risco para a população dos bairros que estão à sua
jusante. Ao leste da cidade, no Bairro Cidade Industrial 2, várias ocupações
irregulares ao longo do ribeirão Água das Pedras e na vertente do Córrego dos
Crentes representam perigo de contaminação ao meio ambiente devido à falta de
coleta do lixo. Outro bairro que merece atenção é o Parque das Indústrias
principalmente nas áreas de ocupação irregular.
Quanto ao lixo jogado nos rios (figura 85), as maiores ocorrências
estão localizadas no bairro Autódromo (ribeirão Quati) e no bairro Interlagos
(córrego Marabá). Outro bairro que também requer atenção é o Saltinho devido
ao lixo jogado no córrego Saltinho na bacia do ribeirão Cafezal. Evidentemente, é
necessário realizar uma análise do tipo de lixo jogado no rio, para que se tenha
clareza do tipo de contaminação.
104
A
ocupação
irregular
com
alta
densidade
de
população
e
conseqüentemente, muita produção de lixo e a falta de coleta, podem agravar a
situação de risco ambiental para os rios como também para o solo da cidade e, ao
mesmo tempo, podem se constituir em um indicador que sinaliza para uma
questão de saúde pública.
105
FIGURA 50 - COLETA DE LIXO NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
106
FIGURA 51 - OCORRÊNCIA DE LIXO NO LOGRADOURO NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
107
FIGURA 52 - OCORRÊNCIA DE LIXO NOS RIOS NA CIDADE DE LONDRINA EM 2000
108
A densidade de ocupação do solo como fator de impermeabilização da
superfície por concentração de construções, é um elemento gerador de conflitos
entre o uso do solo e sua preservação. O comprometimento ambiental é
caracterizado pelas modificações da primeira natureza por meio da substituição
da vegetação primária por outras atividades, em segunda natureza constituída de
atividades agrícolas e urbanas (figuras 86 e 87).
A qualidade do meio ambiente pode ser analisada por meio da
existência ou inexistência de condições de saneamento básico e das
proximidades com a rede de drenagem. Evidentemente, para compor a matriz da
qualidade ambiental, outras variáveis como poluição do solo, da água e do ar
devem estar presentes, no entanto, nem sempre são informações disponíveis,
seja pela sua própria inexistência, seja pela dificuldade de continuidade de coleta
e análise laboratorial.
A evolução da densidade de ocupação do solo nos diversos bairros de
Londrina entre os anos de 1987 e 2001 mostra o aumento da superfície
impermeabilizada e sua intensidade a partir dos bairros centrais. Os bairros
localizados ao norte-noroeste da cidade (Cinco Conjuntos, Vivi Xavier, Coliseu,
Leonor e adjacências) e região sudeste (Califórnia, Inglaterra, Parque das
Indústrias, Piza e Cafezal) demonstram percentuais de comprometimento
situados entre 61 e 100%.
109
FIGURA 53 - COMPROMETIMENTO AMBIENTAL NA CIDADE DE LONDRINA EM 1987
110
FIGURA 54 - COMPROMETIMENTO AMBIENTAL NA CIDADE DE LONDRINA EM 2001
111
INDICADORES DE TRANSFORMAÇÃO AMBIENTAL
O perfil colorido dos edifícios e construções entremeando-se no verde
da vegetação, nem sempre expõe a situação problemática dos diversos
ambientes urbanos. Um olhar mais atento revela um quadro de contrastes, ou
seja, usos adequados do ambiente natural contrapondo-se às formas abusivas de
apropriação e transformação de seus recursos sem respeitar os condicionantes
naturais.
O assunto qualidade ambiental tem merecido atenção no Brasil desde
os anos 1980, quando, por meio de determinados valores atribuídos aos
ambientes, foram declarados os padrões técnicos de qualidade do ar, água e
solos em normas regulatórias estabelecidas pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente - CONAMA e Conselhos Estaduais, ao mesmo tempo em que
organismos internacionais de estatísticas também discutiam sobre critérios para
sua validação. Nas décadas seguintes foi profícuo o número de estudos
experimentando diferentes conjuntos de variáveis capazes de representá-la. Para
a grande maioria, o conceito e o estudo da qualidade ambiental urbana têm sido
analisados de acordo com os seus indicadores.
A definição dos indicadores de transformação ambiental fundamentouse em três etapas que demonstram onde e como ocorrem os usos e abusos no
meio ambiente urbano de Londrina.
1 – identificar dados estatísticos indicadores de transformação no
ambiente natural da cidade;
2 - comparar dados estatísticos censitários com os obtidos por meio da
análise de imagens de satélite, e
3 - relacionar informações de trabalho de campo com os obtidos
anteriormente.
Neli Aparecida de Mello; ; Lúcia Helena Batista Gratão; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela;
Omar Neto Fernandes Barros; Hervé Théry.
112
As variáveis: rede de abastecimento de água, rede coletora de esgoto,
rede coletora de resíduos, condições de impermeabilização e densidade de
ocupação, substituição da vegetação, condições de uso nas bacias hidrográficas
e conflitos territoriais entre uso do solo e sua preservação, foram parâmetros
adotados para a proposição de uma tipologia relativa aos indicadores de
transformação do meio ambiente. Na tabela 26, verifica-se a adequação destes
parâmetros à realidade ambiental urbana de Londrina.
Alguns destes parâmetros já haviam sido inicialmente propostos em
Mello (1997) para o estudo de bacias hidrográficas urbanas, posteriormente
ampliadas com variáveis estatísticas censitárias em Barros et al (2003), Mello e
Bertone (2006) e Mello e Théry (2005).
A análise dos bairros de Londrina baseados na tabela que corresponde
aos critérios quali-quantitativos das variáveis indica às condições de risco
ambiental em 5 classes, cujo leque de abrangência varia de risco muito alto a
risco muito baixo, de acordo com o percentual de ocorrências das variáveis.
As ocorrências situadas entre 81 a 100% representam um gradiente
muito alto de risco ambiental e corresponde a classe 1; ocorrências variando entre
61 e 80%, de risco alto correspondem à classe 2, e; as variações entre 41 e 60%,
de risco médio, correspondem à classe 3. A classe 4, de risco baixo, varia entre
21 e 40% e, finalmente, a classe 5, de risco muito baixo, representa o
agrupamento cujos percentuais dos fenômenos alteram-se entre 0 e 20%
(tabela25).
Tabela 14 - Matriz de critérios quali-quantitativos das variáveis estudadas
Variáveis
Rede de
abastecimento
de água
Rede coletora
de esgoto
Rede coletora
de resíduos
Condições de
impermeabiliza
ção e
densidade de
ocupação
Critérios quali-quantitativos
Atendimento
por poço
Fossa
rudimentar
Resíduos
jogados nos
logradouros
Percentuais
entre 0 e 20%
Atendimento
por “Outra
forma”
Fossa séptica
Resíduos
jogados nos
rios
Entre 20 e
40%
Entre 40 e
60%
Entre 60 e
80%
Entre 80 e
100%
113
Substituição
da vegetação
natural
Condições de
uso nas bacias
hidrográficas
Por áreas
urbanas
Por áreas
industriais
Por áreas
agrícolas
Bacias
relativamente
preservadas,
com matasgaleria
Matas
galerias
inexistentes
Conflitos
territoriais
entre uso do
solo e sua
preservação
Uso de APP,
em margens
de rios e lagos
Redução das
condições em
função da
devastação
das matas
galerias
Áreas de
declividade
superior a 45º
A velocidade em que a construção do ambiente social ocorre, promove
a interferência nas condições naturais de renovabilidade dos ecossistemas,
muitas vezes ultrapassando o limite do mesmo em recuperar-se naturalmente. Ao
impermeabilizar o solo com a construção da cidade e ao alterar as condições de
manutenção das características florísticas e faunísticas de um ecossistema, a
cidade gera a degradação ambiental, tornando impossível a sua recuperação.
A partir do mapa de uso do solo (figura 72) estabeleceu-se uma
tipologia em cinco classes de capacidade de infiltração em:
- muito baixa: capacidade de infiltração mínima característica de área
residencial, industrial, uso misto, uso público, comércio e ruas.
- baixa: característica de área urbana em expansão e favelas.
- média: característica de áreas com vazio urbano e loteamento.
- alta: característica de áreas de uso agrícola, vegetação rasteira, fundo
de vale sem vegetação, uso especial, praça não urbanizada, praça urbanizada,
jardim de representação e verde viário.
- máxima: característica de áreas de unidade de conservação, parque
de bairro, fundo de vale com vegetação e vegetação arbórea arbustiva.
A matriz (tabela 26) indica a qualidade ambiental das regiões da
cidade, caracterizadas de acordo com sua ocupação em: de inicial a 1987; de
1987 a 1993; de 1993 a 2001; e a atual.
Tabela 15 - Indicadores de qualidade ambiental por região da área urbana de Londrina - Quadro-síntese de riscos e suas
tipologias
AGRUPAMENTO
POR BAIRROS
REDE DE
ABASTECIMENTO DE
ÁGUA
Rede Poço Outra
geral
forma
REDE COLETORA DE
ESGOTO
Rede
coletora
Fossa
séptica
Fossa
rudimentar
REDE COLETORA DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
Caminhões
Logradouro
Jogado
nos rios
USO DO
SOLO
Densidade de
construção
CONFLITOS
TERRITORIAI
S
Uso do solo e
APP
PERDA DA VEGETAÇÃO
ORIGINAL
Urbano Agrícola
Centro
Histórico
5
5
5
1
1
1
Região
pericentral
5
5
5
1
1
1
Área
construída
até 1987
4
4
5
2
1
2
4
Área
construída até
1993
4
3
5
2
3
3
Área
construída
até 2001
4
3
5
3
Perímetro
Risco 1 região
Risco 1 na região
Risco 5 - na região
1
2
2
Industrial
4
2
1
HIDROGRAFIA
3
Sem risco de
comprometimento
para córregos e
ribeirões
Sem risco de
comprometimento
para córregos e
ribeirões da bacia
do Cambé
Vertente de menor
densidade de
ocupação da bacia
Cambé (risco 4)
Vertentes com
densidade média
de ocupação na
bacia do ribeirão
Cafezal (risco 3) e
baixa densidade de
ocupação à
montante do
ribeirão Cambé
(risco 4)
Risco 5 - região
115
Urbano 2004
sul - bairros:
Esperança e
Terra Bonita.
Risco alto (Universidade,
Vivendas do
Arvoredo e
Chácaras São
Miguel).
Risco 3 no
quadrante norte
(Eldorado e
Cidade
Industrial) e risco
4 (Lindóia e Cilo
3)
norte e risco 3 na
região sul
norte -bairro Eldorado.
Região leste - bairro
Cidade Industrial 2.
Região sudeste bairros: Parque das
Indústrias e União da
Vitória.
Região oeste - bairro
Olímpico.
nordeste, próximo
ao ribeirão Quati e
afluentes: Água das
Pedras e Córrego
dos Crentes
Classes de Risco Ambiental:
Risco 1 - muito alto - ocorrências entre 81 a 100%.
Risco 2 - alto - ocorrências entre 61 e 80%.
Risco 3 - médio - entre 41 e 60%.
Risco 4 - baixo - entre 21 e 40%.
Risco 5 - muito baixo - entre 0 e 20%.
Neli Aparecida de Mello; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes Barros; Hervé Théry; Lúcia Helena Batista Gratão.
PEGADA ECOLÓGICA
O Método da Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method), de
Wackernagel e Ress (1996), foi um trabalho pioneiro sobre a elaboração de
ferramentas para medir e comunicar o desenvolvimento sustentável. O método
tem por objetivo calcular a apropriação por uma população de um determinado
sistema para que ele se mantenha estável.
A Pegada Ecológica – PE transforma o consumo de matéria-prima e
assimilação de dejetos, de um sistema econômico ou população humana, em
área correspondente de terra ou área produtiva. É, portanto, a área de
ecossistema necessária para assegurar a sobrevivência de uma determinada
população ou sistema.
Para calcular a PE de uma dada população inicialmente é necessário
estimar a área apropriada para a produção dos principais itens de consumo
(energia, alimentação, florestas, produção etc.) ou para a absorção de resíduos
liberados. Cada categoria de consumo é convertida numa área de terreno por
meio de fatores calculados para o efeito e o total per capita da Pegada Ecológica
é o somatório dos itens de consumo considerados.
Para a cidade de Londrina, inicialmente foi calculada a quantidade de
área por habitante na área urbana, dividindo a população urbana (433.369
habitantes), pela área total urbana (245,52 km²), o que resultou em 1.765,01
hab/km². Transformando este valor para hectares chega-se em 17,65 hab/ha,
invertendo esta fração, tem-se 0,0566 ha/hab. Isto significa que existem 0,05
hectares para cada habitante da cidade de Londrina. Contudo, este valor não
corresponde ainda à pegada ecológica de cada um, pois a pegada significa a área
necessária e disponível para consumo e desperdício de cada habitante que é
diferenciada segundo a classe social e econômica de cada indivíduo da cidade,
ou seja, sua capacidade de consumo e seu modo de vida.
Cristiane Lisboa Kleber; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Omar Neto Fernandes Barros; Rosely
Sampaio Archela; Hervé Théry; Neli Aparecida de Mello. Lúcia Helena Batista Gratão
ATLAS DIGITAL URBANO AMBIENTAL DE LONDRINA - 2006
Na definição da PE da cidade definiu-se o ano de 2004 (LISBOA,2007)
como o ano de referência. Para os dados coletados que não correspondiam ao
ano referência, realizou-se uma estimativa aproximada; sendo assim, todos os
cálculos configuram-se numa aproximação da realidade. As variáveis escolhidas
para a realização do cálculo, além de seguirem as recomendações dos autores da
abordagem da PE, atendem também à formação dos grupos funcionais, ou seja,
àqueles que melhor expressam o metabolismo do ecossistema urbano (o
aumento da população humana, as alterações de uso/cobertura do solo e
consumo), envolvidos com as alterações ambientais globais.
Na definição dos indicadores para estimar a PE da cidade de Londrina,
foram estabelecidas variáveis que se enquadram mais com a realidade urbana da
cidade. Sabendo-se que a cidade apresenta heterogeneidade tanto social como
econômica e ambiental, buscou-se identificar espacialmente estas diferenciações.
Para isto, separaram-se as variáveis qualitativas, que representam
aspectos de qualidade de vida e ambiental (área verde, área urbanizada e área
de restrição de uso), das variáveis quantitativas constituídas por variáveis de
consumo (renda, serviço de coleta de lixo, rede de esgoto sanitário), que têm
influência direta da renda da população e, por conseqüência, na PE.
A classificação de PE baixa, média e alta corresponde ao nível de
impacto ambiental e conseqüentemente ao nível de sustentabilidade urbana
sendo que quanto mais baixa a PE, menor o impacto causado.
As variáveis: área verde e área modificada pela urbanização resultaram
da interpretação da Imagem do SPOT de 2004; a área de ocupação ilegal é
resultado da somatória das variáveis: declividade e APP (áreas de fundo de vale e
nascentes) que resultaram na definição das áreas de uso restrito definidas a partir
do cruzamento destas com a de uso do solo. As variáveis: renda, rede de coleta e
tratamento de lixo e rede de esgoto sanitário; foram coletadas a partir dos dados
do Censo Demográfico do IBGE (2000). Estas variáveis foram analisadas com o
auxilio da ferramenta Linguagem Espacial para Geoprocessamento Algébrico LEGAL do SPRING, a fim de gerar uma síntese delimitando áreas homogêneas e
caracterizando-as.
ATLAS DIGITAL URBANO AMBIENTAL DE LONDRINA - 2006
As variáveis utilizadas no cálculo da PE foram: área verde, área
modificada pela urbanização ou impermeabilizada, áreas de uso restrito, renda,
rede de coleta e tratamento de lixo e rede de esgoto sanitário.
1. Área Verde - classificada em florestal, arbórea, rasteira e capoeira,
totalizando 3.323 ha de vegetação. A vegetação está presente em todos os
bairros e é constituída por verde viário, parques, reservas e vegetação de fundos
de vale. Para definir a PE, cada classe de vegetação possui uma influência
diferente. Quanto mais intenso sua biomassa, melhor se torna a pegada. Por isso
as áreas próximas a parques, reservas e praças arborizadas são consideradas
áreas de pegada baixa. Já áreas com baixa intensidade de arborização, como a
área central de Londrina, possuem uma alta pegada.
2. Área Modificada pela Urbanização ou Impermeabilizada - a classe
cujo impacto na pegada é mais alto são aquelas com taxa de impermeabilidade
que variam de 61 a 100%, ocupadas por favelas, com fundos de vale sem
vegetação, com uso misto, e áreas industriais e de comércio. As de impacto
médio, com impermeabilidade entre 21 a 60%, são as que apresentam verde
viário, uso residencial e vazios urbanos. As de pegada baixa são as classes de
uso agropastoril e áreas com presença de vegetação.
3. Áreas de Uso Restrito – resultado das variáveis: áreas de
preservação permanente e ocupação ilegal que somam 5,40 Km², ou seja, 25%
das APPs.
4. Renda - De acordo com os autores do método PE (Wackernagel e
Ress 1996) o poder de consumo influencia diretamente o aumento da PE. Sendo
assim, as áreas que apresentam concentração de população com renda elevada
(mais de dez salários mínimos) causam maiores impactos na pegada (alta) pois,
esta influencia no intenso consumo de produtos impactantes, como por exemplo,
os automóveis e consumo de carne vermelha; as de renda baixa (até 3 salários
mínimos) contribuem para uma pegada baixa.
5. Rede de Coleta e Tratamento de Lixo: As áreas com coleta entre 70
e 100% abrangem 80% da área total, enquanto que as áreas com coleta até 35%,
somente 18% do total. Estes dados são considerados excelentes para a pegada
da cidade, uma vez que o lixo coletado é encaminhado para local adequado para
tratamento.
ATLAS DIGITAL URBANO AMBIENTAL DE LONDRINA - 2006
No aterro controlado de Londrina, o chorume é tratado em tanques
para depois ser lançado no corpo receptor Barra Grande. O tempo de detenção
do chorume leva 10 dias no tanque equalizador. Este tanque funciona em sistema
aeróbico-biológico. A Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO dos líquidos
provenientes de aterros é muito elevada (cerca de 30 a 150 vezes maior que a do
esgoto doméstico, cujo valor oscila entre 200 mg/L e 300 mg/L). Este líquido,
após ser devidamente coletado pelos drenos horizontais, deve passar por um
processo de tratamento para que a DBO e o NH4 sejam reduzidos a níveis
satisfatórios, para posteriormente, serem lançados em cursos de água. Existem
12 poços de monitoramento ambiental no aterro, mas não existem resultados
sobre a eficiência do tratamento de chorume, sendo necessária a sua recirculação
pelo aterro até que se possa assegurar que o efluente tem as condições
estabelecidas pela legislação para o seu despejo em um corpo d’água.
6. Rede de Esgoto Sanitário: Apenas 35% dos setores censitários
localizados nos bairros Centro Histórico e seu entorno ao longo do eixo noroeste
– sudeste, possuem cobertura de coleta de esgoto com atendimento superior a
95%. Como o esgotamento sanitário de Londrina nem sempre recebe um
tratamento adequado, esta variável contribui para o aumento da pegada da
cidade. A Estação de Tratamento de Esgoto que atende a região sul de Londrina
– ETE Sul possui um custo energético baixo, pois seus reatores anaeróbicos, não
necessitam de força para a aeração. Os filtros biológicos e braços são movidos
pela força hidráulica do próprio efluente, um fato positivo para a redução da
pegada da cidade de Londrina.
Na definição das classes de PE foram utilizadas operações boleanas
para somar e multiplicar a fim de realizar o cruzamento das variáveis
consideradas influentes na PE de Londrina (figura 88).
A pegada “Alta”, representada pela cor vermelha, indica ocorrência de
variáveis de impacto negativo no meio ambiente da cidade, como espaços sem
vegetação, áreas com alta impermeabilidade, áreas com ocupação ilegal em APP,
favelas, indústrias, baixo atendimento de saneamento e de coleta de lixo e alta
renda. As pegadas altas estão concentradas na área central da cidade, e em
pontos específicos como o aeroporto, indústrias e áreas de ocupação ilegal, como
os assentamentos irregulares.
ATLAS DIGITAL URBANO AMBIENTAL DE LONDRINA - 2006
A pegada “Média”, representada pela cor amarela indica a ocorrência
de variáveis de médio impacto ambiental como, por exemplo, vegetação de médio
porte, vazios urbanos, ruas com arborização, áreas com impermeabilização entre
21 a 60% e renda média da população. A pegada média abrange quase todo o
entorno do Centro Histórico de Londrina, pois apresentam áreas construídas
intercaladas com vegetação.
A pegada “Baixa” representada pela cor verde indica a ocorrência de
variáveis de valor positivo e sem impacto significativo no meio ambiente, como a
baixa taxa de impermeabilidade e áreas com alto índice de arborização e baixa
renda familiar. Esta classe de pegada está concentrada nas áreas periféricas da
cidade, embora se encontrem, também, localizadas nas áreas verdes como fundo
de vales preservados, lagos e Unidades de Conservação distribuídas na cidade.
A Pegada Ecológica como indicador constituiu-se numa ferramenta útil
para avaliar o grau de sustentabilidade da área urbana de Londrina.
Considerando que existem apenas 0,56 hectares/habitante na área urbana, e,
uma pegada de 1,39 ha, ocorre um déficit de -0,83 de hectares/habitante na área
urbana (LISBOA, 2007). Contudo, este déficit é compensado se tomada como
base a pegada de toda a área urbana e não somente da área construída, pois é
expressiva a quantidade de área rural na área urbana.
Alguns fatores de maior importância contribuíram para que a pegada
da cidade de Londrina estivesse abaixo da média global de 2,2. O fator que mais
influenciou na estimativa da pegada de Londrina foi o consumo de alimentos, por
isso, esta variável necessita ter dados mais detalhados em relação ao consumo e
produção da cidade de Londrina. A elevada quantidade de lixo reciclado no
município contribuiu para a redução da pegada, uma vez que o volume de lixo
reciclado cresce a cada ano.
Em síntese, o fator renda foi definitivo no tamanho da pegada da
cidade, à medida que esta variável influencia no consumo geral da população.
Quanto maior o consumo de bens e alimentos, maior se torna a pegada. Contudo,
é necessário enfatizar também que, em geral, quanto maior a concentração da
renda, maior também a conscientização ambiental por parte da população.
A Pegada Ecológica configura-se tanto como um instrumento
educacional como um indicador efetivo de sustentabilidade e qualidade de vida,
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sendo uma importante contribuição na compreensão dos impactos existentes em
Londrina e também numa caracterização geral do comportamento da sociedade
de consumo atual.
A metodologia da pegada torna explícito o impacto ecológico das
atividades antrópicas e configura-se numa importante ferramenta de análise para
as tomadas de decisões de modo a beneficiar a sociedade e o meio-ambiente. A
pegada global indica que já estamos excedendo o limite da biosfera e que a
extensão das atividades humanas liquidará o capital natural de que hoje
dependemos e de que as futuras gerações dependerão amanhã.
Atitudes como a redução do uso de transporte individual, redução do
consumo de eletricidade, redução da produção de resíduos, implementação da
reciclagem, plantio de árvores e jardins, hortas e pomares agroecológicos e
implementação de energias limpas contribuem para um caminho sustentável onde
uma mudança de comportamento e flexibilização do modo de consumo será
necessária.
Esforços da prefeitura de Londrina estão sendo feitos no sentido de
mitigar os efeitos negativos causados pelo esgoto sanitário e decomposição do
lixo através da construção da ETE, que já está em funcionamento, e do Aterro
Controlado.
A produção de biogás pelo aterro controlado de Londrina já é interesse
da prefeitura em negociar os créditos de carbono acumulados em razão da
redução da emissão de gases poluentes na atmosfera. A EcoSecurities, empresa
inglesa especializada
na comercialização de créditos de carbono, está
analisando os dados para elaborar um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo para o aterro de Londrina (Jornal de Londrina, 24 de agosto de 2006).
As ações antrópicas têm sido imperativas em relação ao meio natural,
levando o homem a enfrentar desafios no que se refere à capacidade limitada dos
ecossistemas para sustentar o atual nível de consumo material e as atividades
econômicas,
juntamente
com
o
crescimento
conseqüências desastrosas ao meio ambiente.
populacional,
causando
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FIGURA 55 - PEGADA ECOLÓGICA DA CIDADE DE LONDRINA EM 2004
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