caracterização geoambiental e análise sobre o processo de

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CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE
DEGRADAÇÃO DE UM TRECHO DO MÉDIO CURSO DO RIO
ARACATIAÇU-MIRAÍMA /CEARÁ
Autor: Ronaldo Mendes Lourenço – Bolsista PET/SESU - Universidade Federal do Ceará –
[email protected]
Orientadora: Profª. Drª. Marta Celina Linhares Sales - Universidade Federal do Ceará [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O estado do Ceará possui cerca de 92 % de seu território sob influência do clima
semi-árido, e no que se refere ao aspecto geoambiental, observa-se que além das
vulnerabilidades existentes devido a irregularidade das chuvas, também podemos identificar
que partes significativas dos solos encontram-se degradados (SOUZA, 2006).
A semi-aridez presente em quase todo o Estado ocasiona condições desfavoráveis,
no que diz respeito na utilização dos recursos naturais e ambientais, contextualizando como
um ambiente bastante vulnerável, com o desenvolvimento de processos de degradação dos
recursos naturais (solo, água, vegetação) e redução da biodiversidade, ocasionados pela
intervenção antrópica.
Nesse contexto se insere o município de Miraíma, estando localizado na microrregião
de Sobral, em latitude de 3° 34' 10'' e longitude de 39° 58' 12'', distante da capital Fortaleza,
205,3 Km.
Miraíma caracteriza-se por ser uma Área Susceptível à Desertificação – ASD,
apresentando um clima típico semi-árido, em que a irregularidade pluviométrica é um fator
preponderante, que associada ao uso inadequado dos recursos naturais intensifica os
processos degradacionais. Sendo assim, o trabalho em questão apresenta um diagnóstico
sobre o cenário ambiental atual em um trecho do médio curso do rio Aracatiaçu (Figura 01).
O rio nasce próximo das Serras de Santa Luzia e Tamanduá, no município de Sobral,
região centro-norte do estado do Ceará, e se estende por 181 km, predominantemente no
sentido sudeste-nordeste, apresentando características de drenagem intermitente sazonal
exorréica. Pode-se citar dois afluentes que merecem destaque. O primeiro pela margem
direita o rio Missi, e o segundo pela margem esquerda o rio Pajé. Referindo-se ao rio
Aracatiaçu sua rede hidrográfica encontra-se condicionada pela estrutura geológica e é está
relacionada com a geomorfologia.
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Figura 01: Localização da área de
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Segundo Botelho & Silva (2007), “A bacia hidrográfica é reconhecida como unidade
espacial na Geografia Física desde o fim dos anos 60.” Para estes autores, ela pode ser
compreendida como uma célula básica de análise ambiental, permitindo identificar e avaliar os
diferentes componentes, processos e interações que possam se manifestar, estando ligada a
uma visão sistêmica e integrada da paisagem.
Particularmente, esse estudo restringiu-se a analisar um trecho do médio curso do rio
que passa pelos distritos de Miraíma - sede, Barra do Garrote e Juremal. Este trabalho tem
por objetivo geral realizar uma análise preliminar sobre as características geoambientais no
trecho em questão, em uma perspectiva relacionada ao manejo dos recursos naturais, além
das potencialidades e limitações que a área de concentração apresenta.
1.1. Caracterização Geoambiental da Área
A análise geoambiental pode ser entendida como uma concepção integrada que
resulta do estudo unificado das condições naturais, que possibilita a percepção do ambiente
em que o homem vive (SOUZA, 2007). Dessa forma, por meio dessa análise pode-se
identificar a diversidade estrutural e litológica presente em determinada área, sendo estas
responsáveis por ocasionarem implicações diretas no relevo, no solo, nos recursos hídricos,
no aspecto fito-ecológico e nas potencialidades dos recursos naturais.
No que diz respeito ao o clima presente no contexto regional da área estudada, temos
como principal sistema atmosférico atuante a Zona de Convergência Intertropical – ZCIT,
que influencia no regime das chuvas e na variação da distribuição das chuvas, durante o
período da quadra chuvosa (fevereiro a maio), como também nos totais anuais. Conforme
Ferreira & Mello (2005), “A ZCIT é o fator mais importante na determinação de quão
abundante ou deficiente serão as chuvas no norte do nordeste do Brasil.”
Esse sistema atinge sua posição máxima no hemisfério sul no equinócio outonal em 21
de março, ocasionando no período que corresponde ao verão-outono uma maior
pluviometria. Já no inverno-primavera, a partir do enfraquecimento da ZCIT, ocorre a
diminuição da pluviosidade, particularmente em junho, quando ocorre o estabelecimento do
período de estiagem (SOARES, 1997, apud. CARVALHO, 2000). Nesse primeiro semestre
do ano de 2010, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos –
FUNCEME, foi registrado no município de Miraíma um total pluviométrico de 205.5
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milímetros (mm). O trimestre menos chuvoso no município acontece de setembro a
novembro.
No que diz respeito à geologia regional presente no objeto de estudo podemos
destacar que o seu reconhecimento é de fundamental importância, pois as formações
geológicas apresentam características que guardam uma relação direta com as formas de
escoamento das águas na bacia. Dessa forma, podemos apontar a seguintes unidades
geológicas: Complexo Ceará – Unidade Independência e Unidade Canindé; e o Complexo
Tamboril-Santa Quitéria (Figura 02).
Destaca-se no trecho estudado os depósitos aluvionais e as litologias pertencentes à
unidade independência: os Paragnaisses, que correspondem a o gnaisse oriundo do
metamorfismo de sedimentos, constituindo-se dessa forma uma rocha do tipo cristalofiliana
(metamórficas); também encontra-se os Micaxistos aluminosos – tipo de rocha de origem
metamórfica, constituída essencilamente de micas, quartzo, alguns feldspatos e vários minerais
secundários.
Outra litologia que se evidencia no trecho estudado pertence à unidade Canindé –
Paragnaisses em níveis distintos. Ambas unidades evidenciadas datam do Eon
Proterozóico, da era paleoproterozóica do período Rhyaciano (CEARÁ, 2010).
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fundamental para a caracterização geoambiental da área é o entendimento da geomorfologia,
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cujos limites são estabelecidos a partir do conhecimento da homogeneidade das formas de
relevo, do posicionamento altimétrico, da estrutura geológica, da atividade tectônica, como
também nas características do solo e da vegetação.
Podemos apontar regionalmente as seguintes unidades no município de Miraíma:
Manchas de Tabuleiros Pré-litorâneos, Serras Secas e Áreas Sub-úmidas e Depressão
Sertaneja: Sertões de Amontada, Sertões Ocidentais do Aracatimirim, Sertões do Missi,
Sertões de Irauçuba, Sertões do Alto Aracatiaçu, Sertões Ocidentais de Aracatiaçu (Figura
03).
Merece destaque no trecho estudado a Depressão Sertaneja, que equivale a uma
superfície de aplainamento, formada sobre as rochas cristalinas, onde o processo erosivo
truncou indistintamente variados tipos litológicos.
Figura Figura
03: Mapa
unidades
geoambientais
03:das
Mapa
das umidades
A morfologia da Depressão Sertaneja é caracterizada por extensas rampas
pedimentadas que começam na base dos maciços residuais e se inclinam suavemente em
direção aos fundos de vales e ao litoral. Observa-se ainda a predominância de uma topografia
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plana ou levemente ondulada, com níveis altimétricos inferiores a 400 metros (CEARÁ,
2010). Verifica-se ainda alguns as planícies ribeirinhas, com as áreas de acumulação
inundáveis com corbetura de carnaúbas e gramíneas.
Quanto aos solos que se destacam em uma perspectiva regional, podemos mencionar
os Luvissolos, Planossolos Solódicos, Argissolos Vermelho-Amarelo e os solos Litólicos.
(Figura 04)
Destacamos no trecho estudado os Planossolos Solódicos que são solos
considerados moderadamente profundos a rasos, raramente profundos, apresentando, de
maneira geral, uma seqüência com horizontes A, Bt e C, com espessura do A + Bt,
comumente, entre 35 e 120 cm ou pouco mais.
São imperfeitamente drenados, com pouca permeabilidade e bastante susceptíveis a
processos erosivos, de modo geral, são moderadamente ácidos a, praticamente, neutros. Eles
apresentam ligeiro excesso d'água no período chuvoso e um grande ressecamento no período
seco, tendo o horizonte Bt condições físicas pouco favoráveis à penetração das raízes.
Também são fortemente limitados pela falta d'água em áreas semi-áridas, devendo ser
considerados com uma saturação com sódio elevada, nos horizontes subsuperficiais, condição
que restringe o cultivo da maioria das culturas.
No que
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respeito à vegetação podemos destacar a caatinga arbórea que recobre regionalmente o
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município de Miraíma, em que denomina-se segundo Fernandes (1990) apud Carvalho
(2000), de Arboreto Climático Estacional Caducifólio Xerofílico (Caatinga Árborea). Dentre
as principais espécies podemos citar: As espe´cies dominantes são: Myracrodrun urundeuva
(aroeira), Schinopsis brasilienses (baraúna), Auxemma oncocalyx (pau-branco), commiphora
leptophloeos (imburana), Mimosa tenuiflora (jurema-preta), Zizyphus joazeiro (juazeiro),
Anadenanthera macrocarpa (angico), Torresea cearensis (cumaru), dentre outras.
Particularmente no trecho estudado predomina a vegetação de Fruticeto Estacional
caducifólio Xeromórfico ou Caatinga Arbustiva que recobre grande parte depressão
sertaneja. Seu aparecimento, em grande parte é conseqüente da degradação da caatinga de
porte arbóreo e é composta de dois estartos diferenciados, um arbustivo/subarbustivo
constituído por lianas e cactáceas, e outro berbáceo que apresenta-se mais denso no período
chuvoso. As espécies mais representativas são: Acacia glomerosa (espinheiro-preto),
Aspidosperma pirifolium (pereiro), Croton sonderianus (marmeleiiro), Cnidoculus urens
(cansanção), Lantana camara (camará), Mimosa hostilis (jurema-preta), Solanum
paniculatum) jurubeba) (Figura 05).
Figura 05: Mapa de vegetação
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.
METO
DOLOGIA
2.1. Referencial Teórico
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Os sistemas ambientais podem ser considerados entidades organizadas, de maneira
que sua espacialização torna-se uma de suas características marcantes. Sendo essa
organização vinculada a estrutura e funcionamento de/entre seus elementos, como também da
dinâmica evolutiva (CHRISTOFOLETTI, 1999). Nesse sentido os ecossistemas e os
geossistemas são estruturas representativas de sistemas ambientais, sendo o primeiro
correspondendo aos sistemas ambientais biológicos e o segundo a sistemas ambientais para
as sociedades humanas.
Sendo assim, tem-se por base os princípios sistêmicos, os quais proporcionam
resultados mais significativos sobre a totalidade de elementos que compõem e se relacionam
na natureza, servindo de subsídio para a compreensão das transformações que ocorrem no
espaço.
Portanto, a bacia hidrográfica se insere no contexto de sistemas ambientais, que para
Nascimento (2003), “(...) é um sistema natural espacialmente definido, no qual seus elementos
mantêm relações dinâmicas entre os componentes físicos, biológicos e socioeconômicos”.
Portanto, a análise sistêmica fornece subsídios para o entendimento do objeto de
estudo, pois conforme Nascimento (2203) apud Aires (2009), “(...) enquanto unidade natural,
as bacias hidrográficas apresentam alterações paisagísticas decorrentes da diversidade
registrada na ocupação e manejo da terra e devem ser estudadas através de uma metodologia
sistêmico e holística, baseada na intersdisciplinaridade (p. 30).”
Dessa forma, para o estudo dos processos de degradação ambiental em bacia
hidrográfica, deve-se observar a relação com a sociedade causadora, que sofre com as
conseqüências e busca resolver, recuperar e pensar em novas práticas, verificando assim não
apenas as características físicas, mas também permitindo que o problema seja visto de
maneira integrada (CUNHA, 2000).
2.2. Procedimentos Técnicos
Nos procedimentos técnicos foram adotadas 2 etapas essenciais para facilitar o
desenvolvimento do trabalho em questão, garantindo os objetivos do estudo.
2.2.1. Levantamento Bibliográfico e Cartográfico
Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma revisão literária a partir de
autores como, AIRES (2009), BOTELHO & SILVA (2007), CARVALHO (2000),
CUNHA (2000), CHRISTOFOLETTI (1999), FERREIRA & MELLO (2005), GUERRA
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et al. (1997), NASCIMENTO (2003), SOUZA (2006; 2007), entre outros. Além de visitas
a órgãos como: CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, FUNCEMEFundação Cearense de Metereologia; ao IPECE- Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica
do Ceará, SEMACE - Secretária de Meio Ambiente do Ceará.
2.2.2. Delimitação da Área de Estudo
Para delimitação da área foram utilizados os critérios de cotas altimétricas, e
analisadas as cartas topográficas elaboradas pela Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste - SUDENE e o Ministério do Exército em 1985 na porção sul da folha 1:100.000
de Itapipoca (SB.24-Y-D-II), e na porção norte da folha de 1:100.000 de Irauçuba
(SB.24-Y-D-V).
3. RESULTADOS PRELIMINARES
O conhecimento das formas de uso e ocupação da terra é de fundamental
importância, pois é a partir do manejo inadequado que ocorre a deterioração dos recursos
naturais.
Sendo assim, podem-se apontar como principais formas de manejo do solo e
impactos de caráter socioambiental no trecho estudado – Miraíma (sede), Barra do Garrote e
Juremal – próximo ao canal fluvial principal: a utilização da água do rio para a piscicultura e
agricultura de vazante; o despejo de esgoto doméstico no trecho urbano que o rio percorre; o
desmatamento da vegetação de mata ciliar em alguns pontos específicos do objeto de estudo;
práticas rudimentares como as queimadas utilizadas pelos agricultores; a mineração próxima
as margens do rio (extração de areia); casas de olarias (produção de telha), entre outros.
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Os resultados parciais revelam que a área de estudo identifica-se como uma região
que apresenta índices moderáveis de vulnerabilidade e ambiente medianamente
estável/vulnerável, segundo Carvalho (2000).
Será na localidade de Juremal que encontraremos maiores problemas no que diz
respeito à conservação e preservação dos recursos naturais particularmente pela semi-aridez
existente e pelas queimadas, desmatamentos e manchas de desertificação.
Pode-se observar um processo de degradação com evidentes sinais de desertificação
na área da bacia hidrográfica, principalmente, nas áreas ocupadas pela pecuária extensiva
encontramos diversos níveis de degradação
As práticas agro-extrativistas predominam na planícies fluvial, onde é desenvolvida a
agricultura de vazante, representada basicamente pelas culturas de subsistência como: feijão,
melancia, jerimum (abóbora) e batata-doce. Ainda destaca-se a extração da carnaúba
(exploração da palha e da cera).
Portanto, faz-se necessária a adoção de medidas que garantam o manejo sustentável
dos recursos naturais, além do estabelecimento de políticas de planejamento e ordenamento
do uso da terra, inserindo nesse processo a comunidade para o desenvolvimento de uma
gestão participativa do meio ambiente.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do Jaguaribe como Subsídio a Gestão Participativa de Recursos Hídricos. 2009.
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2007.
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Disponível em: www.cogerh.com.br acessado em 10/04/2010.
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CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. Degradação ambiental. In: CUNHA, S. R.; GUERRA,
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CARVALHO, Gleuba Maria Borges de Souza. Geotecnologias Aplicadas na Análise da
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Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual
do Ceará, Fortaleza, 2000.
GUERRA, Antônio Teixeira; GUERRA, Antônio José Teixeira. Novo Dicionário
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Desenvolvimento Sustentável: desafios e discussões. Fortaleza: ABC Editora, 2006,
p.33-55 (ISBN: 85-7536-181-3).
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