O Teorema da Aproximação de Weierstrass: uma demonstração probabilística Claiton José Santos ∗ Faculdade de Matemática, UFU 38400-902, Uberlândia, MG E-mail: [email protected] Ana Carla Piantella † Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Matemática 38400-902, Campus Santa Mônica, Uberlândia, MG E-mail: [email protected] ‡ RESUMO O Teorema da Aproximação de Weierstrass, provado em 1885 por Karl Theodor Wilhelm Weierstrass, é um importante resultado da Análise Matemática. Tal resultado arma que toda função contínua denida em um intervalo fechado por polinômios. [a, b] pode ser uniformemente aproximada Na verdade, este teorema foi o primeiro resultado signicante em Teoria da Aproximação de uma variável real e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento de tal área. Durante muitos anos, mesmo após a prova de Weierstrass, provas alternativas foram dadas por vários matemáticos famosos daquele período, tais como Picard (1891), Lebesgue (1898), Landau (1908) e de la Valleé Poussin (1912). Também em 1912 Sergei Bernstein apresentou uma demonstração que fornece uma expressão explícita para os polinômios aproximantes. Tais polinômios caram conhecidos como Polinômios de Bernstein. Neste trabalho apresentaremos uma demonstração para o Teorema da Aproximação de Weierstrass baseada na prova de Bernstein [1], mas que utiliza resultados da Teoria das Probabilidades, em especial a Desigualdade de Tchebychev. Formalmente, o Teorema da Aproximação de Weierstrass estabelece: Teorema da Aproximação de Weierstrass: Sejam contínua e ε > 0. Então existe um polinômio P tal que f : [a, b] →∈ R uma função |f (t) − P (t)| < ε, t ∈ [a, b]. Um esboço da demonstração deste teorema e a motivação que está por trás da prova dada por Bernstein é dada a seguir. Primeiramente observemos que é suciente provar o teorema para f : [0, 1] → R. Como motivação para a prova, imaginemos um jogo de cara-e-coroa em que estejamos interessados, após n sucessivos lançamentos de uma moeda, no número de vezes que o evento sair cara ocorreu. A variável aleatória I = {0, 1, 2, . . . , n} X que representa este evento toma valores no conjunto e possui distribuição binomial. Logo, a probabilidade de sair Pk = P (X = k) = onde t é a probabilidade de ocorrer cara . pagará a um jogador o valor Vk = f ( nk ) n! · tk (1 − t)n−k , k!(n − k)! † caras é (1) Suponha que tenhamos uma função prêmio que reais se, exatamente, k dentre os Bolsistas do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Matemática Professora orientadora. ‡ Agradecemos a FAPEMIG pelo apoio nanceiro. ∗ k n lançamentos da PetMat/SESu. 1161 moeda forem cara . Então o Valor Esperado para um jogador será En (t) = n X k=0 A idéia da prova é mostrar que n X n! k Vk Pk = f · tk (1 − t)n−k . n k!(n − k)! (2) k=0 En (t) converge uniformemente para f (t) em [0, 1]. Mantendo-se as notações anteriores, tem-se que n X k |f (t) − En (t)| ≤ f (t) − f n Pk . (3) k=0 [0, 1] é compacto, f é uniformemente contínua. Assim, existe M > 0 0 tal que |f (t)| ≤ M , t ∈ [0, 1]. Além disso, existe δ = δ(ε) > 0 tal que |f (t) − f (t )| ≤ ε/2, k 0 0 sempre que |t − t | ≤ δ , com t, t ∈ [0, 1]. Considere os conjuntos S1 = { k ∈ I : |t − | ≤ δ} e n S2 = { k ∈ I : |t − nk | > δ}. Então X X f (t) − f k Pk + f (t) − f k Pk |f (t) − En (t)| ≤ n n k∈S1 k∈S2 X Pk . (4) ≤ ε/2 + 2M · Como f é contínua e k∈S2 Observe que P |k − nt| > nδ . k∈S2 Pk é exatamente a probabilidade de se obter k satisfazendo a desigualdade Assim, X Pk = P [|X − nt| > nδ]. (5) k∈S2 Da Desigualdade de Tchebychev obtemos que E (X − nt)2 P [|X − nt| > nδ] ≤ , n2 δ 2 onde E (X − nt)2 é valor esperado de (X −nt)2 . (6) Usando a denição do valor esperado e fazendo algumas manipulações algébricas segue que E (X − nt) 2 = n X (k − nt)2 Pk = nt(1 − t). (7) k=0 Portanto, voltando na equação (4) temos |f (t) − En (t)| ≤ ε/2 + 2M · para n nt(1 − t) 1 M ≤ ε/2 + 2M · = ε/2 + < ε, n2 δ 2 4nδ 2 2nδ 2 sucientemente grande, o que conclui a prova. Palavras-chave: Teorema da Aproximação de Weierstrass, Probabilidade, Desigualdade de Tchebychev Referências [1] BERNSTEIN, S. Demonstration du théorème de Weierstrass, fondée sur le calcul des proba- bilités, Commum. Soc. Math. Kharkow(2), 13(1912-13) 1-2. [2] KULLER, R. G. Coin tossing, probability, and the Weierstrass Approximation Theorem, Mathematics Magazine, vol. 37, 1964, pp. 262-267. 1162