VII- MICROECONOMIA E FUNCIONAMENTO DOS MERCADOS: ECONOMIA EMPRESARIAL VII.1- MACROECONOMIA E MICROECONOMIA MACROECONOMIA – a economia dos países, dos blocos económicos, a economia internacional e a economia mundial. MICROECONOMIA – a economia dos consumidores individuais, das famílias, das empresas e organizações, dos negócios, dos sectores de actividade, das industrias e dos mercados. Microeconomia clássica Mercados anónimos Consumidores e produtores procuram maximizar uma função: os consumidores tentam maximizar a função utilidade (na fruição do bem), enquanto que os produtores procuram maximizar o lucro; Equilíbrio de mercado: oferta igual a procura; Os jogadores (consumidores e produtores) assumem comportamentos estáticos, maximizando a sua função e não seguindo o comportamento dos outros jogadores; Microeconomia aplicada o Na vida prática, todos nós (consumidores e produtores), tomamos as nossas opções mas depois não ficamos estaticamente agarrados às opções que fizemos: vamo-nos ajustar e reagir às opções dos outros, de modo que na vida prática há uma grande interacção entre todos os jogadores (players) e o resultado final do jogo vai depender das acções e reacções de todos nós. Aproximamo-nos assim dos modelos conhecidos por Teoria dos Jogos em que há comportamentos estratégicos de acção e reacção entre jogadores (players). TEORIA DOS JOGOS É A VERDADEIRA MICROECONOMIA APLICADA Não vamos entrar na Teoria dos jogos nem nos estudos dos modelos de análise estratégica, matéria que ficará certamente para disciplinas subsequentes. Vamos apenas enunciar alguns tópicos básicos de microeconomia clássica, úteis para o nosso programa de Introdução à Gestão de Empresas. Principio de optimização: as pessoas tendem a escolher os melhores perfis de consumo, entre as opções disponíveis; Principio do equilíbrio: os preços ajustam-se até que a quantidade que os consumidores procuram (consomem) se ajuste à quantidade que os produtores oferecem (produzem). S = D S – Supply (oferta) D – Demand (procura) Os que pretendem comprar PROCURAM (DEMAND CURVE) um bem/serviço. Os que pretendem vender OFERECEM (SUPPLY CURVE) um bem/serviço. 1 VII. 2 – A CURVA DA PROCURA (Demand curve) Preço (P) D1→ D2 Choque da Procura Para o mesmo preço (px) vai consumir-se mais (q1 para q2) D2 px D1 Q1 Q2 Procura (D) px Para os bens normais, quanto maior o preço, menor a procura: P↑ P↓ D↓ D↑ Preço (P) Bens de luxo Procura (D) Para os bens de luxo, quanto maior o preço, maior o prestigio de usufruir esse bem e por isso maior é a procura. 2 Preço (P) Bem rígido ao preço Procura (D) Dentro de certos limites de preços, a procura é rígida (inelástica) ao preço. É o que acontece com bens essenciais, dentro dos limites que o orçamento familiar suporta! ´ BENS SUBSTITUTOS E BENS COMPLEMENTARES Substitutos – Quando o preço de um bem substituto aumenta, tendendo a sua procura a contrair-se, a procura do outro aumenta. (exemplo: Coca-Cola vs Pepsi, Windows vs Linux). Complementares – Quando o preço de um bem aumenta, tendendo a sua procura a contrair-se, também a procura do outro diminui. (exemplo: computadores e impressoras). VII. 3 – A CURVA DA OFERTA (Supply Curve) S1→S2 – Choque da Oferta (neste caso restrição da oferta) para o mesmo preço produz-se menos. Preço (P) S2 S1 Oferta (S) Normalmente, a oferta reage positivamente ao aumento dos preços: P↑ P↓ S↑ S↓ Há situações de curto prazo em que os produtores já não conseguem produzir mais por estarem no seu limite de capacidade de produção (é o que aconteceu aos produtores de petróleo) 3 Preço (P) Rigidez na oferta no curto-prazo Oferta (S) É obvio que no longo prazo tal não acontecerá porque os produtores vão investir em novas capacidades de produção estimulados pelo aumento dos preços (ou da procura). Preço (P) Longo prazo Curto-prazo Oferta (S) VII.4 – EQUILIBRIO DE MERCADO (Market Equilibrium) Preço (P) S P1 D Q Q1 (P1, Q1) situação de equilíbrio entre a oferta e a procura P1 (clearing price) – é o preço que permite um ajuste / equilíbrio entre a oferta e a procura. 4 Procura Rígida: S2 Preço (P) D -consumidor fixa a quantidade (Q1) S1 -produtor fixa o preço P1 S1→S2 Choque da oferta Q Q1 Se a procura é rígida ao preço, é a procura que fixa a quantidade, mas o produtor ao aperceber-se da rigidez da procura, aumenta o preço (S1→S2)! Preço (P) Oferta Rígida: S -produtor fixa a quantidade (Q1) -o nível da procura fixa o preço P1 D1→D2 Choque da procura D2 D1 Q Q1 Neste caso, o mercado está limitado pela rigidez da oferta, a qual fixa a quantidade consumida, Ser aparecerem novos consumidores (D1→D2), tal conduzirá a um aumento de preço (P1→P2) sem se alterar o consumo total. Os consumidores que não querem (ou não podem) pagar o preço mais alto são substituídos por novos consumidores que podem ou querem comprar. É de certo modo o que está a acontecer com a entrada da China num mercado mundial de petróleo, em que a curto prazo a oferta é rígida e se assiste a um choque da procura (aumenta a procura pela entrada em cena da China). Preço (P) S Procura e oferta rígida P1 D Q Q1 Não haverá equilíbrio de mercado 5 VII. 5 – RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL Suponhamos um consumidor que quer consumir quantidades X1 e X2 de dois bens que têm preços P1 e P2 e só pode gastar m. Teremos então: P1 X1 + P2 X2 ≤ m I – Opções de consumo sujeitos À restrição orçamental m1 II – Opções de consumo sujeitos à restrição orçamental m2 Ao passar de m1 para m2 diminui a restrição orçamental e aumentam as possibilidades de consumo. X2 + m1 P2 m2 m1 I II m1 P1 X1 VII. 6 – A ELASTICIDADE DA PROCURA EM RELAÇÃO AO PREÇO – e (price elasticity of demand) Suponhamos que estamos num ponto da curva da procura Q (P) P ∆P Q Q e = P P ● ● ∆Q Q’ Q P = Q P Q Exemlo: Suponhamos que o preço é 10 e a quantidade é 100. Ao deslocarmo-nos na curva da procura teremos ∆P = 1 ∆Q = -20 20 20% e 100 2 1 10% 10 |e|=2 Exemplo -Curva Linear da Procura Q = a - bp A elasticidade é no fundo o quociente entre a variação percentual da quantidade e a variação percentual do preço. 6 P a ● b a 2b ● | e | | e |1 ●| e |1 | e | | e |0 ● a /2 a Q VII.7 – CURVAS DE CUSTOS: CUSTOS FIXOS E CUSTOS VARIÁVEIS Cf= Custos fixos – não dependem da quantidade produzida mas sim da estrutura criada CV (q) = Custos Variáveis – são função da quantidade produzida Cf = Cf (estrutura) Custos CV(q) CV = CV (quantidade produzida) Cf Q DECISÕES DE INVESTIMENTO E DECISÕES DIÁRIAS DA GESTÃO DA PRODUÇÃO Cf = Cf + Cv (q) Quando se toma a decisão de investir, interessa tomar em consideração os custos totais (fixos e variáveis): Mas quando se está a produzir, a optimização será feita em função dos custos variáveis pois que os custos fixos já são um dado rígido do nosso problema. A partir do momento em que investe e se passarem a ter custos fixos (pois que ao investirse se criou uma dada estrutura fixa), não há optimização possível dos custos fixos na operação, quer queiramos quer não, eles já estão afundados nos custos da empresa. Custos fixos (Cf) são “sunk costs” (custos afundados). Na operação, o que estará em causa é fixar o nível de produção mais conveniente em função dos nossos custos variáveis e por isso a nossa produção (aquela que queremos fazer) vai depender da nossa estrutura de custos variáveis no curto prazo. Curto prazo Cv Produção No longo prazo podemos alterar a dimensão e a estrutura da empresa para nos adaptarmos a evolução do mercado. Por isso os custos fixos são variáveis no longo prazo. Variações na estrutura e na capacidade instalada Variações nos custos fixos 7 Em resumo: Curto prazo Cf é um dado pois a estrutura é fixa Cv = Cv (q) Longo prazo Cf = Cf (estrutura) que pode variar Cv = Cv (q) No longo prazo tudo é variável, só no curto prazo é que estamos amarrados a uma dada capacidade instalada (estrutura). Em suma: 1. Antes de fazermos a fábrica, temos que ver se na sequência da decisão de investirmos na fábrica, o nosso projecto gera receitas que paguem não só os custos variáveis mas também os custos fixos. Antes da decisão de investimento, temos que tomar em consideração Ct = Cf+ Cv (q) 2. Depois de investirmos e pormos a fábrica a funcionar, os custos fixos já lá estão, não há nada a fazer! Temos é que ver se pelo facto de produzirmos mais uma unidade, a receita adicional é ou não superior ao custo adicional ( custo variável ) de produzir mais uma unidade. Rm Cm ? Nota: Cm = ∂ Ct = ∂q ∂ Cv(q) ∂q Na questão do dia-a-dia, a que interessa comparar é a receita com o custo variável! Esquecemos os custos fixos! VII.8 – FUNÇÕES DE PRODUÇÃO E FUNÇÕES DE CUSTO NUMA EMPRESA No curto prazo e para uma dada capacidade instalada, vamos variar o nível de produção, tomando em linha de conta os custos variáveis da produção. No longo prazo e em termos de evolução de mercado, podemos também ter que ajustar (aumentar) a capacidade instalada (e por isso os custos fixos irão variar) de forma a podermos satisfazer novos níveis de produção solicitadas pelo mercado. No fundo, no longo prazo a nossa oferta estará sempre condicionada e ligada à nossa estrutura de custos fixos e variáveis. Numa empresa FUNÇÃO DE PRODUÇÃO E FUNÇÃO DE CUSTOS São funções da mesma realidade: a tecnologia e a estrutura que escolhemos para a empresa. 8 Pois que ao fixar uma tecnologia e uma estrutura escolhemos/ criamos: -a estrutura de custos; -os níveis de produção Por outras palavras: as funções de produção e de custos são o verso e o reverso da mesma realidade. Elas sumarizam no fundo a tecnologia e a estrutura que estamos a utilizar. VII. 9 – CUSTOS MÉDIOS DE PRODUÇÃO E CUSTOS MARGINAIS Suponhamos uma empresa com a seguinte estrutura de custos Ct= Cf + aq em que Cv(q) = aq NOTA: Se q→0 O custo médio da produção será: CMP = cf ∞ ct Cf a q q Q Se q→∞ cf 0 Q a é a assimptota de curva Ct q CUSTO MÉDIO DE PRODUÇÃO - CMP CMP a Q 9 Ct (q) = Cf + aq Custos variáveis como função linear da quantidade produzida Cv(q) C Cv(q) = aq β Cf(Q1) Cf α Q Q1 CMP (Q1) = Ct (Q1) = tg α (CUSTOS MÉDIOS) Q1 Cm (Q1) = ∂ Ct (Q1) = a = tg β (CUSTOS MARGINAIS) ∂Q Nota: ∂ Ct ~ ΔCt = ΔCv ∂Q ΔQ ΔQ ΔCf = 0 Ct(Q) = Cf + Cv(Q) Caso Geral Tangente à curva Cv(Q) no ponto C(Q1) Ct(Q1) ß Cv(Q) Cv(Q) Cf α Q Q1 10 CMP (Q1) = Ct (Q1) = tg α (CUSTOS MÉDIOS) Q1 Cm (Q1) = ∂ Ct (Q1) = ∂ Cv (Q1) = tg β (CUSTOS MARGINAIS) ∂Q ∂Q Nota: ∂ Cv (Q1) ~ ∂Q Δ Cv ΔQ O Custo Marginal é a derivada da função Custo em relação á variável Q. No ponto Q1 a derivada é a inclinação da tangente á curva nesse ponto (Cm = tg β). Para uma variação marginal a curva Cv (Q) confunde-se com a tangente nesse ponto! VII.10 – EMPRESAS DE CAPITAL INTENSIVO Custos fixos baixos em relação aos custos variáveis CV Cf Q Custos fixos elevados em relação aos custos variáveis EMPRESA DE CAPITAL INTENSIVO CV Cf Q Numa empresa quanto mais for de capital intensivo, mais importância assumem os custos fixos relativamente aos variáveis. Capital Intensivo Cf >> Cv Numa empresa de capital intensivo, dada a importância dos custos fixos, é crucial maximizar a utilização da capacidade instalada, pois quanto mais se produzir mais se pode diluir no custo médio unitário do produto os custos fixos. Suponhamos novamente: Ct Cf a Cf aq 11 CMP Cf Cv(q) Cf a q q q CMFP CMVP Cf Custos médios fixos de produção q CMVP = a Custos médios variáveis de produção CMFP = Se q é muito grande CMFP = Cf é pequeno q Cf 0 q q Quanto maior a produção, mais se diluem os custos fixos nos custos médios de produção (CMP) VII.11 – ECONOMIAS DE ESCALA, DE GAMA E DE EXPERIÊNCIA Economias de escala Como o nome indica, quanto mais se produz, menor o custo médio de produção CMP Zona das economias de escala Zona das deseconomias de escala Q1 Q1 – Capacidade instalada. É uma noção económica ligada à quantidade produzida ??? do custo médio de produção mínimo. Numa empresa, quando se trabalha abaixo da capacidade instalada, há alguma ineficiência, pois não estamos a utilizar totalmente a estrutura existente e não aproveitamos em pleno as economias de escala. Numa organização (ou empresa) a partir de uma certa dimensão, começa a haver problemas de transmissão de informação, e problemas de gestão e organizativos. Também as máquinas, quando trabalham acima do regime e da capacidade óptima, conseguem trabalhar em sobre-regime, sendo menos eficientes. Também muitas vezes, haverá que pagar horas extraordinárias aos trabalhadores. Deseconomias de escala Razões· ● “entropia” organizative ● “sobreregime” dos equipamentos ● “sobrecusto” das horas extraordinárias Economias de gama (“scope” economics) 12 Existem nas empresas multiproduto em que se utiliza a mesma plataforma para produzir dois ou mais produtos. Por outras palavras, a mesma estrutura serve para produzir dois ou mais produtos. Economias de gama Custo (q1, q2, qm) < Custo (q1) + custo (q2) + …..custo (qm) Por exemplo, um balcão de um banco que vende crédito bancário, cartões de crédito, produtos poupança-reforma, seguros de vida fazendo o chamado “cross-selling”, é no fundo uma empresa multiproduto que tem economias de gama pois os custos serão certamente menores que aqueles que teria se houvesse um balcão (mesmo mais pequeno) para cada um dos produtos. No fundo, um balcão de um banco é uma plataforma/estrutura comum ao crossselling (venda cruzada) dos vários produtos. Plataforma comum “cross-selling”(venda de vários produtos) Com economias de gama Economias de Experiência – São economias derivadas da aprendizagem, em que devido á acumulação de experiência e Know-how, o custo médio de produção (custo unitário) se reduz com a quantidade produzida no passado. VII.12 – LUCRO MÁXIMO E OPTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO Ct = Cf + Cv (q) – estrutura de custo q = q (p) – curva da procura A sua Receita (R) será: R (q) = p×q (p) O lucro será: Lucro= L(q) = R(q) – Ct O lucro máximo será obtido para uma quantidade de produção q* tal que: ∂L(q) = ∂R ( q ) – ∂ (Cf + Cv(q) ) = 0 ∂q ∂q ∂q ∂R (q) = ∂Cv (q) ∂q ∂q Rm = Cvm 13 Ou seja o lucro máximo será obtido para um nível de produção q* tal que: Receita Marginal = Custo Marginal Vamos produzindo enquanto em cada nova unidade produzida a receita de produzir essa unidade adicional (Rm = Receita Marginal) for superior ao custo de produzir essa tal unidade adicional (Cm = Custo Marginal). Chegaremos a um ponto em que a receita marginal iguala o custo marginal e a partir daí quando a receita produzir mais uma unidade for inferior ao respectivo custo já não interessa produzir! R, C Cvm (custo de produzir mais uma unidade) ● Lucro- Rm (receita de produzir mais uma unidade) ● Lucro+ Lucro máximo/nível óptimo de produção ● Q Q* VIII.13 – PONTO CRÍTICO (BREAK EVEN POINT) Ponto Crítico = Nível de actividade a partir do qual a empresa passa a ter lucro. O ponto critico vai depender da relação entre custos fixos (Cf) e custos variáveis (Cv(q)). Como já vimos L(q) = R (q) – Ct= P ×q – Cf – Cv (q) Ponhamos cv(q) = cvu * q em que: cvu =custo variável unitário Então no ponto critico (qc) teremos L(qc)= 0 = p × qc – Cf – cvu × qc (p - cvu) × qc – Cf = 0 (p - cvu) × qc = Cf Chamemos a 14 p-cvu=mcu em que mcu= margem de contribuição unitária Virá então Qc = Cf = Cf = Total dos custos fixos p-cvu mcu margem de contribuição unitária Se q > qc L (q) > 0 q < qc L (q) < 0 Vendas (p*q) $ Rc Total dos custos (CF+cvu×q) B Custos Variáveis (cvu×q) ● ● Custos Fixos A qc Q A= Zona de Prejuízo B= Zona de Lucro VII.14 – ESTRUTURAS DE MERCADO Concorrência perfeita. Suponhamos um mercado com: -um produto homogéneo -muitos e pequenos produtores -muitos e pequenos consumidores Nesta estrutura de mercado, ninguém consegue ter estratégia e individualidade próprias e o preço é formado pela intersecção de agregação das ofertas com a agregação das procuras. Nem os produtores nem os consumidores conseguem individualmente influenciar o preço, sendo este um dado a que todos têm de se ajustar (“price-tokers”). Estudar-se-á na micro-economia que nesta situação da concorrência perfeita, o lucro económico de cada produtor é nulo (veremos adiante quando estudarmos o EUA – Economic Value Added – o que é o lucro económico, distinguindo-o do lucro contabilístico). 15 Em suma, ninguém se consegue diferenciar dos outros nem pelo preço (são “pricetokers”), nem pelo produto que é homogéneo (situação típica do mercado das “commodities”). Este modelo é uma referência teórica, um arquétipo para as situações que temos na vida prática e nos mercados reais. Quando vemos uma empresa ameaçada por um número crescente de concorrentes sem se conseguir diferenciar deles no produto que oferece, tal vai conduzir essa empresa a uma situação em que é incapaz de fixar os preços, assistindo à sua descida pela pressão dos concorrentes e tendo que se ajustar aos preços fixados pelo mercado (“price-tokers”), se quiser continuar a vender. Por via disso, as suas margens de lucro vão diminuir (o lucro económico tenderá para zero). Esta empresa aproxima-se da situação indesejada do arquétipo de concorrência perfeita. Monopólio – Apenas um produtor. Nesta situação, o produtor poderá tender a abusar dos consumidores, devido ao seu poder absoluto de mercado, obtendo a chamada renda de situação. Convém referir aqui os chamados monopólios naturais, em que a tecnologia subjacente ao negócio implica custos fixos de tal forma elevados (capital muito intensivo) que não fará sentido ter outra estrutura a competir com esta no mesmo mercado, quer porque os custos fixos são de tal forma elevados que dissuadem outro concorrente de entrar (custos fixos elevados criam elevadas barreiras à entrada) quer porque se houvesse duas estruturas dessas a competir, o consumidor acabaria por pagar mais caro o serviço pois teríamos duas estruturas de custos fixos elevados a serem suportados pelos consumidores, em vez duma. Tal situação acontece nas redes de transporte e distribuição de energia (gás natural e electricidade) e de água. Nestes casos de monopólios naturais, em que naturalmente tem de haver um monopólio, o que se deve fazer para evitar abusos de posição de mercado é a chamada regulação económica do monopólio. Nos casos em que os monopólios não são naturais, deve-se acabar com os condicionantes legais que impedem outros de entrar no mercado. Ao liberalizar-se o mercado e ao deixar outros entrarem, a concorrência destes vai regular o monopólio incumbente. É o que já está a acontecer em áreas de energia (como a produção de electricidade) ou nas telecomunicações com as redes móveis. Monopsónio - É o contrário do monopólio. Há apenas um comprador no mercado e muitos vendedores. As grandes empresas (como os construtores de automóveis ou os hipermercados) aproximam-se desta situação, comportando-se como quase monopsónios em relação aos seus fornecedores. Estes, quanto mais dependentes, ficarem de uma só empresa compradora, mais estimulam o comportamento de monopsónio desta. Oligopólio – 16 Na vida prática nos mercados reais, há muitas situações que ficam entre o modelo da concorrência perfeita e o monopólio. É o caso do oligopólio em que temos do lado da produção um número limitado de empresas actuando num mercado. O caso quase limite é o do duopólio em que apenas há duas empresas. Muitas vezes, os duopólios entendem-se e passam a actuar como um monopólio, embora sem a visibilidade odiosa do mesmo. Nestas estruturas oligopolistas, há os que têm maior poder de mercado e conseguem impor as suas estratégias. Estes são os chamados “leaders”, sendo os outros os “followers”. Tal acontece muito nas guerras dos preços, em que há um “price leader” e outro (ou outros) é o “price follower” se a estratégia for fixada pela quantidade teremos os “quantity leaders” e os “quantity followers”. As estratégias delineadas, ao serem executadas ou apercebidas pelos outros oligopolistas, dão normalmente lugar a comportamentos estratégicos de reacção, os quais são formulados tomando em conta as estratégias dos primeiros. Estes poderão de novo reagir, dando origem a jogos sequenciais com comportamentos estratégicos de acção e reacção a serem estudados pela teoria dos jogos, como vimos, e não pela micro-economia clássica. Nalgumas vezes, os oligopolistas também se concertam (como no exemplo já referido do alvopólio organizado). Chamam-se a estes comportamentos colusão, que poderá levar a um jogo cooperativo entre os players em colusão. Concorrência Imperfeita No fundo, nos mercados reais temos modelos de concorrência imperfeita, entre o modelo de concorrência perfeita e o monopólio e que passam muitas vezes por estruturas oligopolistas. Uma empresa, ao inovar tenta diferenciar-se de concorrência, procurando pela inovação colocar-se numa situação de quase monopólio. Os oligopolistas, ao conluierem-se e a terem comportamentos colusivos, tentam também criar um comportamento de monopólio. A concorrência é excelente para os consumidores mas os produtores tentam fugir dela através da inovação ou de colusão. Ao contrário do mercado de concorrência perfeita, em que não havia comportamentos estratégicos, ajustando-se todos passivamente à estrutura do mercado, nos mercados reais a concorrência imperfeita, há lugar a estratégias dos vários players. Voltaremos à estratégia adiante noutro capítulo do nosso programa. Mercado do Comprador Situação em que os compradores estão em vantagem por haver excesso da oferta em relação à procura, situação habitual nos mercados industriais, o que leva à afirmação “o consumidor é rei”. 17 Mercado do Vendedor Situação em que a procura excede a oferta. Por exemplo, construtores automóveis de luxo como a Ferrari ou a Aston-Martin, produzem deliberadamente um número de viaturas limitado de um dado modelo de forma a criarem uma pressão da procura sobre a oferta que é limitada. Geram assim estrategicamente a rarefacção de oferta, criando um mercado do vendedor. CARACTERÍSTICAS CONCORRÊNCIA OLIGOPÓLIO PERFEITA MONOPÓLIO CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA (conc. Imperfeita) Número de concorrentes Muitos, de dimensão semelhante Poucos, de grande dimensão Um, de grande dimensão Muitos Barreiras à Entrada Inexistentes Consideráveis Intransponíveis Poucas Produtos Substitutos Bens homogéneos Bens podem ser Inexistentes homogéneos ou diferenciados Existe diferenciação Poder de Mercado das Empresas Inexistente Dependente da interacção estratégica Considerável Depende da diferenciação Exemplos Mercado de Operadores de produtos agricolas telemóveis, refrigerantes Electricidade para consumo doméstico, SportTV Cafés, retalho em geral Fonte: “Mercados e Informação Financeira” Folhas da cadeira horizontal de Gestão – DEG-IST 2006-07 BIBLIOGRAFIA - “Intermediate Microeconomics, A modern Approach” by Hal R. Varian - “Microeconomics for Managers” by David. M.Kreps Stanford University – Graduate School of Business. - “Mercados e Informação Financeira” Folhas da cadeira horizontal de Gestão – DEG/IST 2006-07 18 - “Economia da Empresa” - José Mata 4ªEdição Fundação Calouste Gulbenkian 19