Dor miofacial - Clínica Sabbadini

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DOR MIOFASCIAL
Profa. Amélia Pasqual Marques
Histórico e definição
Em 1943 FRORIEP descreveu a existência de áreas dolorosas e tensas sobre os
músculos e em 1898, STRAUSS relatou que nenhum estudo anatômico obteve
sucesso em documentar a presença de um depósito de tecido conjuntivo que viria a
explicar os "cordões" tensos e palpáveis encontrados nos músculos. Em 1931,
LANGE descreveu detalhadamente a distribuição, origem e patologia do que mais
tarde, em 1959, foi denominado por STEIDER como ponto-gatilho, um dos
componentes desta síndrome. (TEIXEIRA, 1995).
Em 1939, o conceito de dor referida, começa a surgir através das observações
clínicas de KELLGREN, que encontrou áreas dolorosas distantes dos pontos
sensíveis. Outros autores, GUTSTEIN e KELLY, conceituaram e descreveram os
pontos gatilho, a reação do paciente à palpação e a dor referida (PULLEN, 1992a).
Conceito:
A síndrome dolorosa miofascial é definida como uma disfunção neuromuscular
regional que tem como característica a presença de regiões sensíveis em bandas
musculares contraturadas/tensas que produzem dor referida em áreas distantes ou
adjacentes. Esta dor miofascial pode se originar em um único músculo ou pode
envolver vários músculos, gerando padrões complexos e variáveis de dor (WOLENS,
1998).
Etiologia
Vários fatores são precipitantes: traumas (macro e micro traumas), infecção ou
inflamação devido a uma patologia de base, alterações biomecânicas apendiculares
(discrepância de membros, aumento acentuado dos seios) e axiais posturais,
distensões crônicas, esfriamento de músculos fatigados, miosite aguda, isquemia
visceral (ZOHN, 1988). Outras causas incluem: lesões localizadas de músculos,
ligamentos, cápsulas articulares, doenças viscerais, desequilíbrios endócrinos,
exposição prolongada ao frio, deficiência de vitaminas C, complexo B, estrógeno,
K+ e Ca+ , anemia, baixa taxa metabólica, hipotireoidismo, creatinúria, estress
emocional, tensão fadiga, inflamação, deficiência muscular (MANNHEIMER E LAMPE,
1984; FISHER, 1986). Estes fatores não corrigidos, podem perpetuar a dor
miofascial (ZOHN, 1988).
Componentes da Sindrome Miofascial
A síndrome miofascial tem componentes essenciais: ponto-gatilho, espasmo
muscular segmentar, dor referida e o envolvimento de partes moles.
SIMONS (1990) apud MUSSE (1995) estabeleceu cinco componentes que podem
ser usados como critério diagnóstico:
1.
2.
3.
4.
5.
Queixa de dor regional
Queixa dolorosa ou alteração sensorial na distribuição de dor referida esperada
Banda muscular tensa palpável
Ponto dolorido na banda muscular
Restrição de alguns graus de amplitude de movimento (ADM)
Há três critérios menores:
1. Reprodução de queixa durante pressão no ponto
2. Contração durante inserção de agulha ou palpação transversal do ponto na
banda
3. Alívio da dor pelo estiramento do músculo.
Pontos-gatilho
As zonas de pontos-gatilhos foram primeiramente descritas em 1936 com a
reprodução de dor referida para ombro e braço por pressão na área superior da
escápula. Travel relata estudos sobre estes pontos desde 1942.
O ponto gatilho é um lugar irritável, localizado em uma estrutura de tecido mole,
mais freqüentemente no músculo, caracterizado por baixa resistência e pela alta
sensibilidade em relação a outras áreas (FISHER, 1995a). Quando se estimula esse
ponto por 30 segundos com uma pressão moderada, surge uma dor referida.
Um ponto gatilho é dito ativo quando é um foco de hiperirritabilidade sintomática
no músculo ou fáscia com padrão de dor referida (dor espontânea ou ao
movimento, diminuição da ADM, diminuição de força, dor à palpação e bandas
tensas). O ponto em forma latente não causa dor, mas pode tornar-se ativo por
qualquer evento (trauma, estresse), gerando a dor referida.
Fisiopatologia do ponto-gatilho
Há várias teorias: liberação de Ca +2, Inflamação neurogênica, abertura das
comportas, desfacilitação do fuso, modificação no SNC, reflexos viscerossomáticos
e somatoviscerais e dor referida e Sinais de SNA e memória.
Das teorias referidas a mais aceita é a liberação de Ca +2 e afirma que os
pontos ativos podem ser iniciados por um trauma que localmente abre o retículo
sarcoplasmático, liberando Ca +2. Este Ca +2 combina-se com o ATP para
continuamente ativar os mecanismos locais de contração, gerando deslizamento e
interação de actina e miosina com encurtamento do feixe muscular afetado. Isto
causa uma contratura local (banda tensa), ou seja, a ativação de miofilamentos
sem atividade elétrica e controle neurogênico. Esta atividade gera alto gasto
energético e colapso da microcirculação local. O consumo energético sob condições
de isquemia leva à depleção de ATP o que impede a recaptação do Ca +2 pelo
retículo - ciclo vicioso autosustentado (Musse, 1995).
FIBROMIALGIA X SINDROME MIOFASCIAL
Diferenças entre Fibromialgia e Síndrome dolorosa Miofascial
Características
Fibromialgia
SíndromeDolorosa
Miofascial
Distribuição
Simétrica e dores difusas
Assimétrica e local em
pontada
Sexo
Mais mulheres (>80%)
Ambos os sexos
Idade
Preferencialmente 40-60
anos
Qualquer idade
Localização
18 tender points
Pontos gatilhos/trigger
points
Algometria
4 kg de pressão
Limiar de dor - 2 Kg
Radiação
Espalhada/crônica
Em pontos específicos
Espasmo muscular
Geralmente não
Presente com
encurtamento
Fraqueza muscular
Incomum
Comum
ADM
Não restrita
Sempre restrita
Atividade muscular
Dor difusa
Dolorida em áreas
Contração local à
palpação
Ausente
Freqüente
Outros sintomas
Fadiga, distúrbio do sono,
dor, rigidez matinal
Baixa resistência da
pele
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Utiliza-se a história clínica onde são obtidos dados gerais do paciente e o exame
físico.
Como as queixas principais são dor, limitação de movimento e fraqueza muscular, é
importante avaliar estes aspectos para serem avaliados inicialmente e reavaliados
ao longo do tratamento.
* Anamnese
* Avaliação da dor - escala analógica visual de dor, Questionário de dor da McGill e
dolorimetria
* Avaliação da amplitude de movimento - goniometria
* Avaliação funcional - o HAQ tem sido utilizado em outras patologias reumáticas
como por exemplo a artrite reumatóide.
TRATAMENTO
O tratamento pode ser dividido em três fases:
* inativação do ponto gatilho
* reabilitação muscular
* remoção preventiva de fatores perpetuantes
* Inativação dos pontos gatilho - feitas através de injeção com anestésicos ou
solução fisiológica salina seguida por alongamento e calor. Esta técnica produz
alivio rápido. O spray tem-se mostrado efetivo associado com alongamento. A
terapia manual também é citada através da pressão nos pontos gatilhos, fricção
profunda e alongamento muscular.
* Restauração da amplitude de movimento e força muscular - alongamento
Analgesia - Além das citadas o TENS, ultrasom, laser (a mais popular), acupuntura,
manipulação com agulha, calor seco e úmido e biofeedback.
* Remoção preventiva de fatores perpetuantes - A educação do paciente de modo
a previnir e lidar com as possíveis crises e também bloquear os fatores
perpetuantes ou precipitantes.
Conclusão
O ponto gatilho miofascial é a causa, o sintoma e o diagnóstico-padrão para a
patologia, sendo também a resposta terapêutica das diferentes modalidades e não
tem sido apropriadamente avaliada. O exame desta síndrome é difícil e o
diagnóstico é basicamente clínico.
FONTE:http://www.dornascostas.com.br/dor_miofascial.htm
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