DISCURSO PROFERIDO DEPUTADO JOSÉ PELO CARLOS ELIAS (PTB/ES), NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EM ....../......../........ Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados, É fato que a universidade pública brasileira, uma das maiores responsáveis pela quase totalidade de nossa pesquisa e desenvolvimento tecnológico, está caminhando para uma crise sem precedentes. A maior crise de sua história, principalmente, no que diz respeito a patrimônio mais valioso que são os professores, os técnicos, os pesquisadores, para não falar no péssimo estado de suas instalações em geral. O governo parece que tem feito tudo para agravar a situação e nada para aliviar a tensão no meio universitário, contrariando, nesse ponto como em todos os demais, todas as expectativas que historicamente criou e as posições que defendeu. A concorrência das universidades privadas é feroz e há o temor de que a carreira na universidade pública perca atratividade e conseqüentemente a qualidade. Para os professores das universidades públicas a aposentadoria integral era um atrativo, e um atrativo justo. Os professores, reitores e demais funcionários não sabem o que vai acontecer. O país não sabe o que vai acontecer e o governo não tem dado o menor indicativo de que está tomando alguma providência no longo prazo. Em face da Reforma Previdenciária, na Universidade de São Paulo, cerca de 200 profissionais pediram aposentadoria em 2003, o dobro da média de 100 requerimentos dos últimos anos. Os dados da Unicamp são ainda mais preocupantes, Senhor Presidente. A Universidade Estadual de Campinas terminou 2003 com o maior número de aposentadorias de professores desde a sua fundação, em 1966. De acordo com a Aeplan (Assessoria de Economia e Planejamento), 139, ou 6,46% do total de 2.152 docentes, requereram suas aposentadorias no ano passado. Esse número é 93% superior ao registrado em 1998 quando o governo anterior iniciou a reforma da Previdência. Um professor doutor com 35 anos de carreira e regime de dedicação integral ganha hoje, Senhor Presidente, pouco mais de 7 mil reais. Só para comparar, na Universidade Metodista de Piracicaba, por exemplo, o menor salário pago a um professor doutor no início de carreira é de R$ 8.300,00. Enquanto isso, nas universidades brasileiras, os semestres se transformam em temporadas de caça a professores substitutos. Eles recebem entre R$ 383,21 a R$ 1.783,00. Trabalham mais que os do quadro permanente, têm menos tempo para a pesquisa e prazo limitado dentro da academia, de apenas dois anos. Resultado: Viram mestres de segunda classe. Leio uma preocupante reportagem na Folha de São Paulo que informa o seguinte: “O economista Eduardo Giannetti da Fonseca é um dos casos emblemáticos de evasão de talentos. Em 2000, trocou uma promissora carreira na USP pelo Ibmec Educacional, escola privada que é referência em finanças e negócios. “O que pesou não foi apenas a questão salarial, mas principalmente o fato de que não considerava o departamento de economia da USP um ambiente acadêmico estimulante”, diz o economista. Para ele, o ensino superior está passando pelo mesmo processo que já se completou nos ciclos básico e fundamental: a migração do padrão de excelência do setor público para o privado. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, como em outras áreas é preciso partir para uma ação efetiva. Parece que o governo está acabando de vez com a educação pública que sempre foi referência em nosso país. Tenho de alertar, Senhor Presidente, que sem uma educação pública de qualidade não há ordem nem progresso, lema e alvo de nossa bandeira que todos devemos amar e perseguir. Todo o progresso científico, tecnológico, educacional e de cidadania que temos nesse país são oriundos das escolas públicas. O ensino particular também tem o seu papel, mas a universidade pública precisa de paz e estabilidade para fazer seu trabalho. Um trabalho que não aparece logo, que demora para aparecer. Um governo não pode trabalhar apenas na área econômica e fiscal. Que futuro teremos sem uma universidade pública sólida para formar nossos talentos, talentos comprometidos com o desenvolvimento e a riqueza do Brasil? “Nenhuma medida, nenhuma regulamentação, nenhuma mudança será feita sem ouvir a comunidade acadêmica” dizia o exministro Cristovam. E mais: "Para formular as reformas da Previdência e Tributária, foram ouvidos todos os governadores e os empresários; como se vai fazer reforma universitária sem ouvir todos os professores?" Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente, mas pretendo retornar ao tema.