Comunicação em saúde e a segurança do doente: problemas e

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Número 10
Volume temático 2010, págs 1-95
www.elsevier.pt/rpsp
saúde
pública
ISSN 0870-9025
Temas nesta Revista
publicação semestral
Revista portuguesa de saúde pública
Revista
portuguesa de
Rev Port Saúde Pública. 2010;Vol Temat(10):47-57
A Segurança do doente para além do erro médico
ou do erro clínico
O erro clínico, os efeitos adversos terapêuticos
e a segurança dos doentes: uma análise baseada
na evidência cientíca
Segurança do doente: da teoria à prática clínica
Erros e acidentes no bloco operatório: revisão
do estado da arte
Infecções associadas aos cuidados de saúde
e segurança do doente
Erro medicamentoso em cuidados de saúde primários
e secundários: dimensão, causas e estratégias
de prevenção
Comunicação em saúde e a segurança do doente:
problemas e desaos
Ergonomia hospitalar e segurança do doente:
mais convergências que divergências
A magnitude nanceira dos eventos adversos
em hospitais no Brasil
Perspectivas do Direito da Saúde em Segurança
do Doente com base na experiência norte-americana
Investigação e inovação em segurança do doente
2010
Volume temático
Número 10
Portada RP Saude Publica vol tem.indd 1
15/12/10 16:39:24
Artigo Original
Comunicação em saúde e a segurança do doente:
problemas e desafios
Margarida Custódio dos Santos*, Ana Grilo, Graça Andrade,
Teresa Guimarães, Ana Gomes
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Lisboa, Portugal
informação sobre o artigo
r es u m o
Historial do artigo:
A segurança do doente constitui um dos grandes desafios dos cuidados de saúde do séc.
Recebido em 1 de Setembro
XXI. O reconhecimento da ocorrência de erros ou acidentes adversos com consequências
de 2010
gravosas para os doentes e para as instituições de saúde, levou, recentemente, a Organização
Aceite em 1 de Outubro de 2010
Mundial de Saúde (OMS) a nomear comissões centradas na identificação de situações de
risco e na elaboração de soluções que possam servir de recurso para a prevenção dessas
Palavras‑chave:
situações. O resultado dos trabalhos destas comissões tornou evidente a importância da
Segurança do doente
comunicação como determinante da qualidade e da segurança na prestação de cuidados.
Comunicação
Neste artigo é abordada a problemática da comunicação em saúde e a sua relação com
Cuidados centrados no doente
a segurança do doente, identificados problemas e apontadas algumas pistas para a sua
Passagem de turno
prevenção. São especificamente referidos os principais problemas de comunicação entre
Equipas de saúde
os profissionais de saúde (nas passagens de turno e nas equipas de saúde) e entre estes
profissionais e os doentes.
© 2010 Publicado por Elsevier España, S.L. em nome da Escola Nacional de Saúde Pública.
Todos os direitos reservados.
Communication in health care and patient safety: problems and challenges
a b st r a ct
Keywords:
Patient safety is a major challenge for the XXI century health care. The recognition of
Patient safety
inadvertent harm to patients as result of professional health care has, recently, led the
Communication
World Health Organization (WHO) to appoint committees focused on identifying risk
Patient‑centered care
situations and developing solutions that can serve as a resource for the prevention of these
Handover
adverse events. The outcome of these commissions has highlighted the importance of
Health team
communication as a determinant of quality and safety in health care. In this article we
address the issue of communication in health care and its relationship to patient safety,
identifying problems and pointing out some clues to its prevention.
©2010 Published by Elsevier España, S.L. on behalf of Escola Nacional de Saúde Pública.
All rights reserved
*Autor para correspondência.
Correio electrónico: [email protected] (M. Custódio dos Santos)
0870-9025X/$ - ver introdução © 2010 Escola Nacional de Saúde Pública. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.
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Rev Port Saúde Pública. 2010;Vol Temat(10):47-57
Introdução
A procura de assistência médica é motivada pela vontade de
permanecer saudável ou de restabelecer a saúde. Na consulta
médica, nos exames complementares de diagnóstico ou no
tratamento, todas as pessoas esperam encontrar respostas
fiáveis que as assegurem da sua saúde ou que as ajudem na
solução da doença que as aflige. Respostas fiáveis transmitidas
por pessoas confiáveis. Esquecem, no entanto, que, como tão
acertadamente escrevia Séneca (4AC‑65 DC), errare humanum
est (…) e que os profissionais de saúde são tão humanos como
os outros. Menos mal que, se errar é inerente ao ser humano,
reconhecer o erro e desenvolver esforços para o prevenir, é
distintivo dos “sapiens, sapiens”. Como, aliás, concluía o filósofo
latino (…) sed perseverare diabolicum.
Um estudo recente sobre a percepção geral do público
acerca do erro médico e das suas implicações, realizado pelo
Directorate‑General of Health and Consumer Protection 1, no
qual participaram 25 países da União Europeia (EU), entre os
quais Portugal, concluiu que 78 % dos inquiridos considera o
erro médico um “problema grave no seu país” e que 28 % já
viveu (directamente ou num familiar próximo) consequências
do erro de diagnóstico ou de tratamento.
Um conjunto alargado de investigações sobre prevalência
do erro nos cuidados de saúde, estima que entre 3 a 16 % dos
doentes são vítimas de erros de tratamento que poderiam ser
evitados 2. Segundo o Institute of Medicine (USA), estes erros
são causa de 44.000 a 98.000 mortes por ano 3.
Em 1956, Moser 4 chamava a atenção para a urgência da
reflexão sobre “os desastres que acontecem nos tratamentos
dos doentes”. A partir de 2000 a segurança do doente torna‑se
uma questão pertinente no âmbito da Saúde e um foco de
atenção e de desenvolvimento de acções, na sua maioria
coordenadas pela World Health Organization’s World Alliance
for Patient Safety (WHO.WAP).
Em 2005, a Organização Mundial de Saúde (OMS) nomeia
“The Joint Commission International Center for Patient Safety”
que adopta como missão, por um lado identificar problemas
e desafios à segurança do doente, e, por outro lado, estudar
soluções promissoras através do feed‑back e da colaboração de
profissionais de saúde, de grupos de especialistas e de outros
elementos envolvidos no processo de prestação de cuidados
(entre os quais a comunidade leiga) em mais de 100 países.
Dos trabalhos da comissão, resultou o documento “Nine
Life‑saving Patient Safety Solutions” que sumaria o que foi
aprendido sobre o “onde”, o “como” e o “porquê” dos acidentes
adversos em Saúde 5. Um destes nove desafios e soluções está
directamente relacionado com o tema central do presente
artigo e diz respeito à comunicação durante as mudanças de
turno (handover). A este respeito é referido que perturbações
e/ou falhas na comunicação entre e intra equipas de saúde
podem ser causa de diminuição da qualidade dos cuidados, de
erros no tratamento e de danos potenciais para os doentes.
A importância da comunicação é igualmente realçada nas
dez áreas de intervenção identificadas pela “The Global Patient
Safety Challenge” 6. Especificamente na área referida como
“Patients for Patients Safety” é atribuído um valor central à
perspectiva do doente, da sua família e do cidadão comum
na definição e no êxito das acções da Organização Mundial
da Saúde para a segurança do doente. Segundo a comissão
responsável pela definição dos “The Global Patient Safety
Challenge” “a segurança poderá ser aumentada se os doentes
forem incluídos como colaboradores activos (partners) nas
iniciativas de reforma devendo as suas contribuições ser
integradas de uma forma sistémica na melhoria da qualidade
e da segurança” 7, p.227.
Neste artigo são abordadas duas áreas de relevante
importância no âmbito da comunicação em saúde e da relação
entre a comunicação e a segurança do doente: (1) a área da
comunicação entre profissionais de saúde/doente e (2) a área
da comunicação entre profissionais de saúde.
Comunicação Profissional de Saúde/Doente
“… good communication is important not only because it relates to
specific outcomes of care, but because it is the core of what makes
medicine a human endeavour.”
Stein, Frankel e Krupat 8
Consulta médica: do diagnóstico aos resultados
“Listen to the patient, he is telling you the diagnosis.”
Osler 9
É hoje largamente aceite que a promoção da relação
médico‑doente conduz a um incremento na qualidade dos
cuidados de saúde pois contribui para melhorar o processo
de entrevista médica, facilita a compreensão e memorização
das recomendações médicas e, consequentemente, aumenta
a adesão, diminui sintomas físicos e aumenta a satisfação
do utente 10. A comunicação médico/doente é ainda referida
como um elemento importante no estabelecimento do
diagnóstico e, muito especialmente, na prevenção de erros
de diagnóstico 11.
Os erros de diagnóstico são reconhecidos como uma das
mais frequentes e financeiramente mais dispendiosa causa
de processos judiciais. Numa investigação recente Phillips e
colaboradores 12 concluíram que, dos 45.345 processos judiciais
por má prática nos cuidados de saúde primários nos USA,
entre 1985 e 2000, um terço tinha como fundamento o erro
no diagnóstico.
Segundo Kuhn 13 o processo de estabelecimento do
diagnóstico integra três fases sequenciais: recolha da
informação; integração da informação obtida; e verificação
do diagnóstico. A recolha da informação é realizada durante
a consulta essencialmente através da história/narrativa do
doente, do exame objectivo e, eventualmente, da consulta
do processo anterior do doente. A integração da informação
é um processo cognitivo que envolve competências de
análise e julgamento médico. A verificação do diagnóstico
consiste na confirmação ou rejeição do diagnóstico inicial,
através da análise de exames complementares de diagnóstico
e da procura de informações adicionais. Qualquer uma
destas fases, mas principalmente a recolha de informação
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e a verificação do diagnóstico, depende da qualidade de
comunicação. Na realidade se erros de comunicação na fase
de recolha de informação podem por em causa o diagnóstico
e, consequentemente, a segurança do doente o mesmo pode
acontecer quando, no decorrer da consulta cabe informar o
doente acerca do diagnóstico e do tratamento 10.
Interessa deste modo referir o que tem vindo a ser
apontado na literatura como problemas específicos desses
dois momentos.
Recolha de informação
Apesar do desenvolvimento tecnológico ter permitido avanços
significativos na realização de diagnósticos precisos, a
entrevista clínica continua a ser o único instrumento através
do qual, em pouco tempo, o profissional de saúde consegue
aceder aos problemas do paciente. A comunicação eficaz
durante uma consulta constitui, provavelmente, o maior
determinante da precisão e extensão da informação recolhida
pelo profissional de saúde. Alguns estudos indicam mesmo
que a história do paciente contribui entre 60 a 80 % para a
realização do diagnóstico 14.
Os pacientes são, efectivamente, os especialistas nos
seus próprios sintomas, cabendo, ao médico, ouvir a sua
história e compreender a sua perspectiva acerca da doença 15.
Infelizmente, a investigação nesta área tem demonstrado que
os clínicos apresentam dificuldades em recolher informação
relevante, especialmente no que concerne às maiores
preocupações e expectativas do paciente 16.
Frequentemente, na fase inicial da consulta, não é dada
ao paciente oportunidade para se expressar abertamente.
Os médicos regulam a quantidade de informação solicitada
e utilizam questões fechadas para controlar o discurso do
paciente. Como consequência, apenas uma minoria dos
médicos identifica todas as preocupações dos pacientes.
Em 1984, Beckman e Frankel 17 realizaram um estudo,
cujos resultados viriam a tornar‑se emblemáticos. Os
autores verificaram que apenas 23 % dos pacientes tinham
oportunidade de completar a sua queixa inicial. Em cerca de
70 % das consultas, os médicos interrompiam as afirmações
iniciais dos pacientes e direccionavam as questões para um
problema específico. Esta interrupção ocorria, em média,
dezoito segundos depois dos pacientes começarem a falar.
Mais recentemente, numa replicação do mesmo estudo, Marvel
e colaboradores 18 verificaram que os médicos redireccionavam
a primeira questão do paciente após vinte e três segundos do
início do discurso e que, depois do clínico se focalizar numa
queixa específica, a probabilidade do paciente completar as
suas preocupações iniciais era muito reduzida.
Este controlo exercido sobre o discurso do paciente dificulta
o entendimento entre médico e utente acerca do propósito
da visita médica 16 e tem consequências preocupantes. As
investigações referidas anteriormente demonstram que o
mais comum é o médico centrar‑se na primeira queixa do
paciente. Contudo como é sabido, frequentemente, o primeiro
problema mencionado não é o principal 19. Por outro lado,
e não menos importante, ao deixar de lado as principais
preocupações do paciente dificilmente o profissional de saúde
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conseguirá elaborar um diagnóstico preciso 14 ou proceder às
recomendações mais adequadas 16.
Para além da recolha de informação sobre as queixas
dos pacientes, é fundamental que o profissional de saúde
compreenda a perspectiva que o paciente tem sobre a sua
doença, assim como os sentimentos desencadeados por esta 16.
Também nesta área, a investigação aponta para falhas por parte
dos clínicos. A este respeito Barry e colaboradores 20 gravaram
consultas de 20 médicos de clínica geral e entrevistaram
os respectivos pacientes e verificaram que, na maioria das
situações em que os pacientes tentam verbalizar as suas
preocupações, necessidades ou ideias, os clínicos bloqueavam
ou ignoravam essa comunicação. Apesar das tentativas para
expressar as suas preocupações, os pacientes, especialmente os
que apresentavam situações crónicas, saíam da consulta com
questões por responder. Os autores concluíram ainda que este
constrangimento da comunicação tinha como consequência o
agravamento do estado de saúde de alguns dos pacientes.
Os problemas de comunicação ocorrem igualmente nas
situações em que os médicos duvidam das descrições que
os pacientes fazem. Enquanto, para os doentes, o sintoma
representa um “alerta”, para os clínicos, a queixa é encarada
como algo “lógico” que deverá servir para chegar ao diagnóstico
e subsequente plano de tratamento. Neste sentido, Salmon
e colaboradores 21 verificaram que os clínicos gerais tendem
a desvalorizar os pacientes que apresentam sintomas que
não se enquadram numa interpretação exclusivamente
biomédica. Esta tendência para descredibilizar as queixas dos
pacientes traduz‑se na prestação de cuidados inadequados 15,
nomeadamente, através da prescrição de doses de analgésicos
inferiores às que seriam aconselháveis.
Os sentimentos negativos desencadeados por estas falhas
de comunicação resultam numa troca limitada de informação
entre o profissional de saúde e o paciente. A informação
recolhida pelo médico é limitada, quer em quantidade,
quer em qualidade, aumentando a probabilidade de serem
realizados diagnósticos imprecisos e propostas de tratamento
inapropriadas 16 que podem colocar em causa a segurança do
doente.
Fornecimento de informação
A adequação da informação às necessidades de cada utente
contribui para aumentar a satisfação deste 22, aumentar a
adesão, reduzir sintomas psicológicos como a ansiedade e
diminuir o tempo de recuperação após cirurgia 19.
Todavia, quando fornecem informação, muitos profissionais
de saúde fazem‑no de uma forma intuitiva e/ou inflexível,
ignorando o tipo de informação que o paciente realmente espera
ou necessita. Não raras vezes, os pacientes queixam‑se que a
informação foi transmitida de forma insuficiente, imprecisa e
até ambígua. Aparentemente, estas queixas não dependem do
nível sócio‑cultural do indivíduo, pois Shaw e colaboradores 23
verificaram que, mesmo pacientes com um nível de literacia
razoável sentem dificuldades em compreender a informação
médica.
A utilização de jargões técnicos 19 constitui outro dos
problemas do fornecimento de informação. Os profissionais
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Fornecimento de informação e comunicação
em situações de exames complementares
de diagnóstico e de tratamento
— pondo em causa a segurança do doente e a qualidade da
intervenção.
Dos vários factores considerados como fonte de erro e
consequente risco para o doente, as falhas que se verificam a
nível do processo de comunicação ocupam, como foi referido,
lugar de destaque, relacionando‑se com os maiores graus
de insatisfação dos doentes e com grande parte das queixas
apresentadas.
A natureza fragmentária e descentralizada dos serviços
de saúde transforma o percurso de cada utente/doente num
processo complexo, que implica a passagem por diferentes
serviços/áreas de intervenção e consequente contacto com
diferentes profissionais de saúde, os quais se encontram
frequentemente imersos numa cultura de autonomia e
isolamento face aos restantes profissionais.
Como abordaremos no ponto seguinte a comunicação
entre profissionais de saúde poderá, nestas condições,
tornar‑se problemática e constituir potencial fonte de erro.
Na realidade na maioria das vezes os profissionais não
dispõem de informação completa relativa aos doentes que
vão ser submetidos a determinado exame ou tratamento, o
que poderá repercutir‑se na qualidade e resultados da sua
intervenção 29‑31.
Falhas na comunicação a este nível podem conduzir
a quebras na continuidade dos serviços prestados, a
tratamentos/procedimentos inadequados ou pouco eficazes,
com potenciais efeitos negativos para o doente. Um processo
de comunicação desenvolvido de forma desadaptada do
contexto e seus intervenientes, repercute‑se negativamente
nos seus comportamentos, promovendo a incompreensão e
insatisfação, constituindo‑se como fonte privilegiada de erro
e más práticas dos profissionais de saúde 31‑33.
Reduzir a possibilidade de ocorrência de erros em resultado
de uma comunicação deficitária e, assim, diminuir o risco para
os doentes é fundamental, pois permitirá aumentar a qualidade
das intervenções dos profissionais de saúde, melhorando
a relação profissional de saúde‑doente, com consequente
aumento da adesão por parte do doente.
Que estratégias poderão, então, ajudar os profissionais
de saúde a melhorar a suas capacidades de comunicação e a
desenvolver uma relação de qualidade com os utentes/doentes,
nas situações de exames complementares de diagnóstico?
Sumariam‑se algumas das mais referidas na literatura:
A realização de um exame de diagnóstico — como um
electrocardiograma ou uma ressonância magnética — ou de
um tratamento — por exemplo em fisioterapia ou medicina
nuclear ‑, não devem ser entendidos como um evento isolado,
mas entendidos como um dos momentos de um percurso mais
longo que caracteriza a passagem de um doente/utente pelos
serviços de saúde. Caracteriza‑se pela interacção entre um ou
vários profissionais de saúde e o utente/doente, relação que é
mediada, frequentemente, por equipamento necessário à sua
efectivação.
Estes eventos, em que o elemento humano se interliga ao
elemento tecnológico, são passíveis de gerar a ocorrência de
erros — cuja probabilidade aumenta à medida que aumenta o
número de eventos que constituem o processo de intervenção
junto do doente, e que a sua interdependência é mais acentuada
— P r o m o v e r , s e m p r e q u e p o s s í v e l , a c o m u n i c a ç ã o
frente‑a‑frente, procurando transmitir a informação de
forma clara e organizada, recorrendo a frases curtas e a uma
estruturação sob a forma de tópicos — reforçada através
do recurso, quando adequado, a ilustrações e fotografias,
gráficos e diagramas — complementando a transmissão oral
com informação escrita, para que o receptor, seja ele um
doente ou outro profissional de saúde, a possa compreender,
isto é, que aceda ao sentido da mensagem tal como ela foi
pensada pelo emissor.
— No que se refere especificamente às questões relativas
à realização de exames de diagnóstico ou tratamentos,
importa ter presente que este é um processo no qual se
podem identificar três momentos distintos: a fase antes da
sua realização, o momento da intervenção propriamente
de saúde parecem esquecer‑se que a maioria dos pacientes não
domina a terminologia médica, e que, alguns dos termos usados
têm um significado diferente para as pessoas em geral (por ex.
depressão) 24. Kerr e colaboradores 25 verificaram que 40 % dos
pacientes com cancro do recto consideravam que a informação
que lhes tinha sido fornecida, no que concerne à natureza e
prognóstico da doença, era incompreensível ou insuficiente.
Também já em 1955, Jarvinen 26 tinha demonstrado que a
linguagem técnica utilizada pelos médicos num serviço de
cardiologia, ao ser escutada, acidentalmente, pelos pacientes
internados podia desencadear reacções emocionais excessivas
a ponto de contribuir para o agravamento do quadro clínico
destes últimos.
Estes resultados devem ser objectivo de alguma reflexão
uma vez que o número de afirmações do médico, assim
como a clareza do seu discurso, são dois dos factores que
aumentam a capacidade de recordação do paciente 22 .
Efectivamente, para além das variáveis próprias do indivíduo,
só uma compreensão adequada torna a pessoa capaz de levar
a cabo as recomendações dos profissionais de saúde de forma
apropriada e sem erros. As falhas na comunicação impedem
esta compreensão e, consequentemente, induzem problemas
graves de adesão. O relevante papel da comunicação e da
relação entre profissionais de saúde e doentes na adesão dos
doentes tem sido suportada por um conjunto muito alargado de
estudos 27. Recentemente, Mishra e colaboradores 28 verificaram
que a comunicação ineficaz em aspectos relacionados com
o modo como a medicação deve ser tomada e os efeitos
secundários dos fármacos, assim como a atenção e o tempo
dispendido pelo profissional de saúde com o utente, estavam
directamente implicados na não adesão em doentes com
tuberculose.
Se, de uma forma geral a comunicação profissional de
saúde/doente é um elemento crucial na informação do doente,
e na sua segurança, a qualidade da comunicação torna‑se
ainda mais relevante quando se trata de situações específicas,
como são os exames complementares de diagnóstico ou os
tratamentos.
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dita e o período após a sua efectivação. Todos eles se
revestem de características particulares, apelando a
precauções específicas que diminuam a possibilidade de
erro e promovam a segurança do doente e sua consequente
satisfação com os cuidados prestados 30,33.
— Relativamente à interacção com o doente, esta deverá
desenvolver‑se no sentido do seu envolvimento activo em
todo o processo, o que implica a transmissão, por parte do
profissional de saúde, de informação adaptada ao indivíduo
e à situação, isto é, que promova a sua compreensão, que
seja dirigida às suas necessidades próprias no contexto de
determinada doença e/ou intervenção, que tenha em conta
o seu grau de literacia, as suas especificidades culturais e
linguísticas, bem como o seu grau de desenvolvimento
cognitivo.
Assim, é importante que o doente saiba em que consistem
os exames ou tratamentos a que vai ser submetido e porquê,
como se processam e o que poderá vir a sentir, bem como
o que se espera obter com a sua realização. O profissional
de saúde deverá ainda informar o doente de quando e onde
deverá comparecer, qual a documentação e exames de que
se deverá fazer acompanhar e, quando for o caso, que tipo de
preparação deverá efectuar.
No dia do procedimento o profissional de saúde deverá
confirmar a identidade do doente e o procedimento a
que vai ser submetido e, quando se aplique, conferir a sua
adequada preparação. Fundamental, também, estabelecer
com o doente uma relação de empatia que ajude a minimizar
a ansiedade e receio que o momento de realização de um
exame ou tratamento sempre representa para o doente, não
só em consequência do procedimento em si, mas resultado,
também, da perspectiva dos resultados alcançados e do que
estes poderão representar para ele (diagnóstico de uma doença,
agravamento da situação).
Findo o procedimento, o doente deverá ser informado de
eventuais efeitos que poderá vir a sentir, especificando o que
será normal ocorrer e identificando os incidentes que deverão
ser interpretados como sinal de alarme da necessidade de
contactar o profissional de saúde ou de recorrer ao serviço
de saúde. Nesse sentido, poderá ser importante referenciar
Profissional de saúde
transmite informação
o profissional a quem o doente deve recorrer em caso de
necessidade ou mesmo para o esclarecimento de quaisquer
dúvidas.
Como podemos verificar, a informação a transmitir ao
doente é muita e variada, o que sublinha a importância do
desenvolvimento de uma comunicação eficaz que permita
a sua apreensão e memorização. Uma estratégia que pode
contribuir para melhorar a eficácia da comunicação do
profissional de saúde consiste no pedido ao doente para
repetir a informação recebida, o que permite ao profissional
verificar até que ponto ela foi compreendida e memorizada,
procedendo, quando necessário, à clarificação e adequação da
informação ao doente (fig. 1). Para o doente, esta estratégia
proporciona a oportunidade para se aperceber de falhas na
sua compreensão, incentivando‑o a colocar as suas dúvidas
e questões, dando a conhecer ao profissional a sua percepção
relativamente à informação recebida 34.
No caso especifico dos tratamentos, após solicitar informação
ao doente, de forma a explorar as suas concepções 24 , o
profissional pode avançar para o fornecimento de informação
específica sobre o tratamento a implementar 10.
O Quadro seguinte (tabela 1) apresenta algumas acções que
devem ser tidas em conta no caso específico da implementação
de regimes terapêuticos.
A negociação de um plano mútuo de acção, por oposição a
um plano centrado no profissional de saúde permite que o
tratamento se concretize com condições mais favoráveis
de segurança para o doente, aumentando a probabilidade
de ser implementado de forma persistente e adaptada. Ao
suscitar, nesta fase, aquilo que o doente imagina poder ser a
integração efectiva do tratamento no quotidiano, sobretudo no
que concerne às suas principais preocupações em relação às
consequências do tratamento, ou às barreiras e dificuldades
percebidas 35, é possível ao profissional de saúde discutir com
o doente objectivos realistas e sugerir formas de resolver
pequenos (grandes) problemas, numa atitude colaborativa
(por ex, a integração das prescrições nas rotinas do doente,
estudo de pistas que lembrem ao doente dos comportamentos
a adoptar 24.
Uma relação de qualidade entre profissionais de saúde
e doentes, na qual se desenvolve uma comunicação eficaz,
Doente compreendeu
e memorizou
Profissional de saúde reavalia
grau de compreensão e
memorização do doente
Profissional de saúde avalia
grau de compreensão e
memorização do doente
FALHA NA
COMUNICAÇÃO
Profissional de saúde clarifica
e adequa informação
Figura 1 ‑ Processo interactivo de comunicação profissional de saúde — doente (adaptado de Schillinger et al., 2003)
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Tabela 1 ‑ Fornecer informação ao doente sobre
o tratamento proposto
  1. Descrever e explicar o tratamento
  2.Estabelecer relações entre o diagnóstico ou patologia,
a sintomatologia apresentada e a pertinência do tratamento
a realizar
  3.Explicar os benefícios do tratamento
  4.Dar informações sobre os efeitos secundários do tratamento
e formas de lidar com as mesmas
  5.Dar informações relativas à vivência no quotidiano durante
o período em que dura o tratamento
  6.Dar instruções completas e precisas sobre a implementação
do tratamento
  7.Avaliar o interesse e a capacidade do doente para cumprir
o tratamento
  8.Discutir a importância do papel do doente no tratamento
  9.Averiguar se existem dúvidas sobre o que foi explicado (no
final de cada bloco de informações) e mostrar total abertura
para o estabelecimento de questões no decorrer do tratamento
10.Facultar informação escrita
Adaptado de Corney, 2000; Chan et al., 2003; Joyce‑Moniz e Barros,
2005.
constitui um dos passos fundamentais na diminuição
da probabilidade de risco, resultando num aumento da
segurança do doente e na sua satisfação, fundamentais para
o envolvimento activo nos processos de saúde e de doença e,
consequente, para reforço dos comportamentos de adesão.
Comunicação entre os Profissionais de Saúde
Como referido na introdução deste artigo não é possível falar‑se
sobre qualidade em saúde sem se referir a qualidade da interacção
e da comunicação entre os profissionais que são responsáveis
pelo cuidado, e por isso pela segurança, do doente. A este
respeito consideramos, por um lado, a comunicação no momento
específico de handover (i.e. passagem de turno) e, por outro lado, a
comunicação mais alargada intra e inter equipas de saúde.
Comunicação nas “passagens de turno”
O desenvolvimento da medicina, quer no que diz respeito aos
procedimentos do diagnóstico, quer em relação ao tratamento,
tem levado à crescente complexidade no acompanhamento do
doente e hoje este acompanhamento exige a articulação entre
vários especialistas. No meio hospitalar, ou nas instituições em
que o doente está internado e deverá ser monitorizado vinte
e quatro horas por dia, a efectiva articulação entre os vários
profissionais de saúde está muito dependente da comunicação.
Problemas de comunicação entre os profissionais de saúde têm
sido associados, em vários estudos, à diminuição de qualidade
de cuidados e a mortes por erros médicos que poderiam ser
evitados 36. A este respeito uma investigação que envolveu
28 hospitais australianos concluiu que a comunicação era
a principal causa de eventos adversos nos serviços e que
problemas de comunicação eram responsáveis por duas vezes
mais mortes do que a ineficiência clínica 37.
Um dos momentos cruciais de articulação e de comunicação
entre os profissionais de saúde acontece nos handover.
Em 1969 Clair e Trussel 38 definiram handover como a
comunicação oral entre os profissionais de saúde (por ex.
enfermeiros) de informação pertinente acerca dos pacientes,
sempre que acaba um turno de actividade e um outro começa.
Esta definição tem vindo a evoluir mantendo no entanto o
aspecto caracterizador essencial de “sistema de comunicação
de informação” necessário para o objectivo último, “facilitar o
cuidado do doente”.
Recentemente handover foi referido pela TeamStepps: Team
Strategies and Tools to Enhance Performance and Patient
Safety 39 como “a transferência de informação (assim como de
autoridade e responsabilidade) que acontece no continum de
cuidados dos doentes nos momentos de transição e que inclui
a oportunidade para levantar questões, clarificar e confirmar”
p.33. Segundo a Joint Comission on Accreditation of Health
Care (JCAHO) (2005) 40 handover é um processo de passagem
de informação entre os profissionais de saúde que tem como
missão a continuidade e segurança dos cuidados.
Trata‑se, deste modo, de uma interacção importante que
implica um processo de comunicação entre profissionais —
assim como a transferência de responsabilidade do cuidado — e
que acontece num sistema organizacional e cultural complexo.
A complexidade do tipo de informação a ser transmitida, os
meios de comunicação adoptados, e as características dos
vários cuidadores tem impacto na efectividade e eficiência do
handover e, consequente, na segurança do doente 41.
O aumento da qualidade dos handover tem sido associado
a melhor qualidade dos serviços, à diminuição de erros e à
diminuição da mortalidade 42.
Segundo Kerr 43 o handover tem 3 funções principais:
(1) de comunicação expressa, que inclui a informação sobre
aspectos objectivos essenciais ao cuidado e o ensino das
práticas médicas; (2) de informação encoberta, que integra os
elementos psicológicos e sociais dos cuidados (3) de integração
cultural, que tem como objectivo a construção da identidade
profissional. Para além destas tem sido atribuído ao handover
valor como: suporte emocional dos profissionais, pois pode
constituir uma boa oportunidade para trocar experiências
e para lidar com o stress ocupacional; elemento motivador;
forma de socialização e de promoção da integração nas equipas
de saúde; e elemento de coesão das equipas de saúde 44.
Na literatura existe referência a situações diversas de
handover. Constituem as que têm merecido maior número de
estudos os que acontecem: entre turnos no mesmo serviço;
entre serviços (por ex. os de enfermaria e os de diagnóstico
ou tratamento); e nas transferências de instituição. Ainda que
cada situação tenha características próprias que devem ser
consideradas, muitas das barreiras à qualidade do handover, e
especialmente as que dizem respeito à comunicação, escrita e
oral, são transversais. Apresentam‑se algumas:
— Uma das mais frequentes é a omissão de dados importantes.
Em relação a este aspecto um conjunto alargado de
estudos tem concluído que, numa grande percentagem
de situações, os relatórios e notas não contêm toda a
informação relevante. Exemplo desses estudos é o realizado
por McMahon 45 no qual o autor verificou que um número
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significativo de handover elaborados pelos participantes
não incluía informação relevante para a segurança do
doente, como deficiências auditivas e visuais, problemas
motores, necessidades especiais de higiene e nutrição, ou
dificuldades de expressão e comunicação.
Num estudo recente com doentes pediátricos também
Catchpole et al. 46 concluíram que uma percentagem
expressiva de handover continha mais do que um erro ou
omissão, quer na área técnica e clínica, quer nos aspectos
relacionados com a informação relevante sobre o doente
ou os seus cuidadores.
A falta/omissão de informação para além da estritamente
médica é ainda apontada como diminuindo a qualidade
dos dados que são transmitidos e que, por insuficientes,
preparam pouco o profissional que vai tomar a
responsabilidade do doente para alterações emocionais
ou comportamentais importantes para a prestação de
cuidados.
— A falta de precisão ou de consistência da informação que
é transmitida é igualmente referida como uma importante
barreira à qualidade dos handover. Nos handover escritos
a utilização de descritores pouco definidos como “bem”
ou mesmo “ok”, ou de abreviaturas, é comum e, estudos
recentes, têm demonstrado que estas imprecisões podem
gerar problemas de interpretação McCloughein et al. 44.
Ainda o uso de jargões técnicos pouco convencionais ou
o grafismo elegível de alguns profissionais podem por em
risco a informação a transmitir e levar a interpretações
potencialmente danosas para os doentes.
Quanto à consistência da informação transmitida alguns
estudos verificaram a existência de dados contraditórios
ou dúbios em handover entre turnos no mesmo serviço e
handover entre os serviços de enfermaria e os de diagnóstico
ou tratamento 47.
A não consistência na transmissão de dados acontece
também no handover verbal e presencial. Nestas situações
foi identificada disparidade entre o conteúdo verbal e a
linguagem não verbal, assim como distracções que põem em
risco a fiabilidade da informação a ser transmitida. Acresce a
este facto o tempo limitado que é frequentemente atribuído
à passagem de turno. Esta limitação impede o feedback em
relação ao que é transmitido e, consequentemente, torna
mais difícil a correcta compreensão de todos os dados.
— Ainda no que diz respeito à comunicação nas situações de
handover, têm sido apontadas como barreiras a permanente
interrupção e os ruídos frequentes que inviabilizam a clareza
da informação a ser transmitida. Em relação a este aspecto,
um estudo que teve como objectivo examinar o padrão de
comunicação entre médicos e enfermeiros, verificou que
um terço das situações de comunicação era interrompida
(uma média de 15 interrupções por hora) e que, na maioria
dos casos, os profissionais demoravam tempo a retomar o
assunto no ponto em que o tinham deixado 48.
Um aspecto que é igualmente referido na literatura como
determinante da qualidade dos handover é a competência
individual para a sua execução e, paralelamente, a falta
de preparação dos profissionais de saúde para esta tarefa.
Na realidade é praticamente inexistente a formação nesta
área durante os anos de aprendizagem académica e,
53
na comunidade clínica, persiste a ideia de que estas são
competências que se aprendem no exercício da profissão.
No entanto a investigação empírica e a constatação no
terreno provam o contrário, demonstrando que não só
as competências comunicacionais pioram com o tempo
de exercício, como, frequentemente, os modelos a que os
profissionais estagiários (ou no início da actividade) são
expostos pouco contribuem para a sua aprendizagem 49.
Este facto leva a que a qualidade do que é transmitido seja
sobretudo fruto das capacidades de cada profissional.
Comunicação nas equipas de saúde
Os cuidados em saúde actuais exigem que profissionais de
saúde, diferenciados em mais de 50 especialidades, actuem
conjuntamente em micro sistemas ao nível de enfermarias,
unidades ou departamentos. Face a esta complexidade
organizacional é natural que o trabalho em equipa (TE)
seja sistematicamente referido como um factor humano
fundamental para a qualidade do cuidado prestado nas
instituições de saúde. Contudo, o funcionamento em
equipas de trabalho (ET) vem contrariar o modelo vigente,
baseado na perícia e competência pessoal, auto‑suficiência e
responsabilidade individual. Face à necessidade de diminuir
o erro humano este modelo tende a produzir soluções que
se baseiam no esforço individual, contínuo e crescente de
profissionais altamente treinados. Como é extensivamente
demonstrado na literatura sobre ET e erro humano, esta não
é uma estratégia eficaz.
Os problemas referidos mais frequentemente como
potenciadores de erro situam‑se nas áreas da comunicação,
tomada de decisão e treino no TE. As ET em situações de alto
risco e/ou grande intensidade de trabalho (por ex. urgências,
cuidados intensivos) cometem menos erros que os indivíduos
a trabalhar autonomamente 50 , dada a complexidade de
competências e experiências requeridas, que ultrapassa em
muito a capacidade de cérebro humano de gerir variáveis.
Nas instituições de saúde as ET apresentam‑se adequadas
a funções de gestão, cuidado, projecto (por ex. equipa para
melhoria da qualidade) e controlo, podendo ser equipas de
longa ou curta duração, multi ou intradisciplinares. Salienta‑se
a importância das ET formadas por elementos da direcção, do
corpo clínico e não clínico para o desenvolvimento de uma
cultura de segurança, promovendo assim a comunicação e a
decisão conjunta de grupos fundamentais na avaliação, decisão
e implementação de medidas.
O TE não é algo que surge naturalmente quando se trabalha
em grupo. Uma equipa tem características específicas que a
diferenciam e que permitem atingir níveis de qualidade e
eficácia no desempenho bastante superiores a um grupo de
profissionais com tarefas em comum 51, das quais se salienta
a qualidade no processo de comunicação inter e, mais
importante, intradisciplinar.
A comunicação entre os membros da equipa é fundamental
para fomentar a partilha de um mesmo modelo mental
(i.e., ideias comuns relativamente a objectivos, modo de
funcionamento, padrões temporais, papeis e funções
individuais, valores relacionados com a actividade da equipa
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e visão sobre o contexto em que esta se insere). A integração
neste modelo mental de uma atitude positiva em relação à
cultura de segurança é fundamental para a redução do erro.
Este modelo mental deve ser um dos temas que domina as
primeiras interacções logo no início da actividade da equipa
e depois fomentado ao longo de toda a sua actividade. Os
múltiplos instrumentos de avaliação de atitudes em relação
ao TE e à prevenção do erro, que servirão para a identificação
dos pontos que necessitam de ser mais trabalhados com os
membros da equipa 52.
Na fase inicial é também importante que os membros
da ET discutam a aceitação da responsabilidade partilhada,
a delegação de tarefas e poder de decisão por parte do líder
para que haja uma resposta proactiva dos membros de
acordo com estes princípios. A auto‑correcção, considerada
fundamental para o evitamento de erros e melhoria de
qualidade nas instituições de saúde, é também uma constante
no funcionamento das ET eficazes. A existência de hábitos de
monitorização intermédia do desempenho da equipa com
consequente análise das situações de risco ou erro, permitem
a identificação e correcção atempada de problemas numa fase
inicial e consequentemente a diminuição da probabilidade de
erro, de stress e insatisfação nos membros da equipa.
As reuniões de equipa são também um determinante da
sua eficácia. Mesmo quando as exigências da tarefa implicam
contacto frequente ou mesmo contínuo, as reuniões são
fundamentais pois evitam lapsos através da transmissão formal
de informação a todos os membros da equipa, exigem propostas
mais reflectidas para a resolução de problemas e são momentos
de excelência para a promoção do espírito de equipa. Caberá
ao líder, em função das circunstâncias e do momento que a
equipa vive e do feedback dos restantes membros, decidir sobre
a regularidade ideal das reuniões, que deverão ser frequentes.
O conteúdo das reuniões deve limitar‑se à partilha formal
de informação, tomada de decisões, delegação de tarefas,
avaliação de desempenho e auto‑correcção, onde se insere a
necessidade de discussão sobre as forças e fraquezas da equipa
na capacidade de oferecer um desempenho de qualidade e com
baixa margem de erro. Esta directiva pode parecer restritiva e
contrária à ideia de livre comunicação que deverá ocorrer nas
ET, mas não o é por duas razões: a discussão prematura de
ideias/temas, com o processo de debate que inevitavelmente
acarreta, leva ao prolongamento do tempo de reunião e ao
surgimento em muitos membros do sentimento de “tempo
inútil”; por outro lado, espera‑se que fora das reuniões os
membros comuniquem livremente entre si, podendo discutir
ideais, problemas, soluções de um modo mais informal,
recebendo feedback dos colegas e permitindo uma estruturação
mais construtiva de ideias, que então já reflectidas, farão parte
da agenda das reuniões. Esta comunicação informal pode
ser também promovida em plataformas Web para facilitar a
entrada de dados, análise e consulta de relatórios relacionados
com segurança. Uma estratégia de prevenção de erro adequada
a algumas ET será a realização de breafings antes e depois da
execução de determinados procedimentos (por ex. cirurgias).
Nos briefings que antecedem o procedimento são discutidos
vários assuntos que podem ser geradores de problemas (por
ex. comorbilidade, falta de pessoal, cansaço, dificuldades
técnicas esperadas). Nos briefings após o procedimento devem
ser discutidos os problemas identificados e a forma como a
equipa lidou com eles.
A comunicação é por vezes difícil em equipas de saúde
interdisciplinares, nas quais a hierarquia resultante de uma
cultura profissional e institucional leva a que alguns grupos
profissionais possam sentir dificuldade em se expressar
abertamente com outras classes profissionais. Por outro lado,
em alguns contextos profissionais existe a norma de evitamento
da crítica dentro do mesmo grupo profissional. Estas barreiras
comunicacionais são hoje identificadas como facilitadoras
de erro, na medida em que o feedback a um procedimento
incorrecto e a proposta de alternativas mais eficazes não são
verbalizados, impedindo uma correcção atempada. O líder terá
aqui um papel primordial ao desencadear, reforçar e servir
de modelo a uma atitude e comportamentos de valorização
da Pessoa e de respeito mútuo, facilitando uma comunicação
intragrupal confortável e esbatendo as distâncias geradas pela
estrutura hierárquica e de poder. É também importante que
o líder solicite aos membros da equipa informação frequente
sobre situações potenciadoras de acontecimentos adversos
bem como relatos de situações adversas ocorridas.
A qualidade na estruturação e sincronização dos esforços de
todos os elementos é fundamental para evitar sobreposições
ou incapacidade de atingir os objectivos. A estruturação
dos membros da ET será tanto mais importante quanto a
interdependência das tarefas. Esta será em grande parte da
responsabilidade do líder da equipa, mas sempre resultante de
uma abertura contínua ao feedback dos restantes membros.
O espírito de entreajuda, uma característica fundamental do
TE, traduz‑se em comportamentos de colaboração, por oposição
à competitividade ou passividade, que devem estar ausentes
da ET. Este é um apoio proactivo, em que é fundamental a
capacidade de antecipar e percepcionar as necessidades dos
membros da equipa.
A coesão da ET deve ser elevada, gerando uma forte
motivação de pertença ao grupo. Neste processo a comunicação
intergrupal é fundamental. O TE tem por si só já alguns
factores que a promovem (por ex. objectivos partilhados,
interdependência e cooperação, redes de comunicação
adequadas, articulação e adequação de papeis), contudo
convém não esquecer as relações interpessoais gratificantes
como um dos determinantes de coesão, pelo que a existência
de mecanismos predefinidos de resolução de conflitos é um
pressuposto essencial ao bom funcionamento da equipa.
Estes mecanismos evitam o desgaste temporal e emocional
da escalada de conflitos, o qual implica custos elevados de
tempo, envolvimento pessoal e atenção, criando um clima
propício para o erro.
O feedback ao desempenho da ET é um motivador
fundamental e deverá centrar‑se nos resultados da equipa
e evitar reforços individuais. Uma questão fundamental diz
respeito ao feedback aos erros. As normas de uma ET eficaz
evitam a culpabilização individual ou grupal, transformando
o erro num precipitante de aprendizagem para prevenção de
situações semelhantes.
Os aspectos relacionados com a tarefa são também
importantes, especialmente porque as ET em saúde deverão
estar particularmente adaptadas a desempenhar uma
quantidade grande de trabalho em pouco tempo. Assim,
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quando há um desequilíbrio na relação tempo‑tarefa (um dos
factores que propicia o não cumprimento dos procedimentos de
segurança), deverão ser tomadas medidas que poderão exigir a
redefinição do método de trabalho (ex., delegação, alteração dos
canais/formas de comunicação, reorganização de prioridades,
sistemas de controlo para utilização do plano de acção definido)
ou da própria composição da ET (ex., introduzir assistentes
de apoio às tarefas, incluir membros com experiência ou
competências diferentes). Alguns dos factores individuais que
determinam a eficácia da ET remetem para uma fase anterior
à sua formação. Numa situação em que é possível a escolha
dos membros que irão constituir a equipa, estes deverão ser
seleccionados considerando as competências relacionadas com
as tarefas a desempenhar, mas também as suas aptidões para
trabalhar em equipa em que se salientam as competências
comunicacionais (por ex. assertividade, capacidade de escuta)
entre outras (por ex. capacidade de aprendizagem, iniciativa,
criatividade, adaptabilidade, resistência ao stress). Estas duas
áreas de competência (i.e. tarefa e ET) terão igual peso no
funcionamento, pelo que as actividades de formação em que os
membros da equipa venham a participar deverão contemplar
estas áreas 50 . De entre as competências directamente
relacionadas com o funcionamento em equipa de saúde é
importante salientar a necessidade de formação do membro
designado para líder para o exercício desta função. Na ET o
papel do líder é de treinador e facilitador, ajudando as equipas
a definir tarefas, estruturar actividades, a controlar/avaliar o
seu próprio progresso e a evoluir através da inovação. Para
que o líder active processos de inovação é fundamental que
tenha competências para lidar com a resistência à mudança
e motivar todos os membros da equipa em novos objectivos.
É ainda tarefa do líder a transmissão clara dos objectivos de
segurança do doente, tornando‑os prioritários no grupo.
O desempenho da ET deve ser monitorizado interna e
externamente. Para este efeito é importante que a equipa
produza relatórios ou outros documentos em que esteja
claro em que medida a ET atingiu os objectivos previamente
definidos, os custos, o tempo e qualidade de desempenho. Esta
avaliação deve provir de várias fontes como a administração
da instituição, os doentes e a própria equipa. A avaliação
pelos membros da equipa deve focar os seguintes critérios:
estabilidade da equipa, liderança, comunicação, eficácia,
reflexividade, confiança, credibilidade interprofissional e
segurança do doente. Contudo o sucesso pessoal dos membros
da ET deve ter um peso relevante na avaliação da eficácia,
salientando‑se critérios como a satisfação dos membros,
o desejo de trabalharem em ET no futuro e o grau em que
avaliam ter havido aprendizagem de novos conhecimentos
e/ou competências 53.
Para as ET eficazes serem uma realidade é fundamental que
as instituições de saúde formalizem e apoiem as actividades
em equipa. Este apoio reflecte‑se na comunicação da filosofia
e objectivos lançados pela instituição, no fornecimento de
recursos (administrativos, financeiros e temporais) para
o funcionamento da ET, na formação adequada dos seus
membros em TE, comunicação, liderança e procedimentos de
segurança e também na manutenção de canais de comunicação
(formal e informal) que permitam avaliar o decorrer do TE,
mostrar interesse e responder às necessidades específicas das
55
diferentes equipas. Consequentemente os órgãos de gestão
deverão ter contactos informais com os membros da ET, estar
pontualmente presentes em reuniões de equipa, participarem
na avaliação de desempenho, responderem com celeridade aos
problemas postos pela ET e facilitarem o acesso à informação
relacionada com os objectivos da instituição e com as tarefas
a realizar pela equipa.
A variedade de contextos de trabalho nas instituições de
saúde, a conjugação de competências e experiências variadas
e os níveis de elevado desempenho apontam o TE como uma
metodologia extremamente adequada às actuais exigências de
qualidade que são feitas às instituições de saúde 54. A ET com
processos de comunicação funcionais e estruturação adequada
de tarefas é uma resposta para muitos destes desafios e em
particular para a consecução de uma análise sistemática,
intervenção e prevenção das situações indutoras de erro ou
acontecimentos adversos.
Conclusão
Tendo como fundamento as mais recentes orientações da
Organização Mundial de Saúde no que diz respeito à qualidade
da prestação de cuidados, pretendemos, neste artigo, abordar
a temática da comunicação em Saúde e relacioná‑la com a
segurança do doente.
A abrangência do assunto levou‑nos a incluir na nossa
abordagem os aspectos relacionados com a comunicação entre
os profissionais de saúde e os doentes e a comunicação entre
e intra equipas de saúde.
Do que foi apresentado tem especial realce, por um lado a
necessidade da comunicação descentrada do profissional de
saúde e centrada no doente, respeitando‑o como um elemento
activo no seu processo de saúde, doença e tratamento e, por
outro lado, a importância da comunicação consistente e efectiva
entre os profissionais de saúde (intra e inter equipas), quer em
situações especialmente críticas, como são os handover, quer
no seu funcionamento diário.
Entre os obstáculos transversais à qualidade da comunicação
foi referida a falta de formação e treino dos profissionais de
saúde, problema já reconhecido pelas comunidades clínicas
e académicas e que tem motivado a alteração dos curricula
dos cursos na área da Saúde. Na realidade, indo ao encontro
das conclusões dos estudos mais referidos na literatura, as
competências comunicacionais deverão ser entendidas como
parte integrante da formação dos profissionais de saúde e, tal
como acontece com outras competências de ordem técnica e
clínica, deverão ser sistematicamente actualizadas.
Este é o entendimento subjacente às recomendações
do Consensus de Toronto 55 relativas ao desenvolvimento,
implementação e avaliação dos programas de competências
comunicacionais em saúde. Estas recomendações, revistas
na Communication in Health Care Conference organizadas
pelo NIVEL, o Netherlands Institute of Primary Health Care
em Amesterdão, em Junho de 1998 56, apontam como linhas
de actuação: que o ensino e avaliação das competências
comunicacionais seja baseado numa visão abrangente da
comunicação em saúde, fazendo parte de um plano coerente
de formação em que seja efectiva a complementaridade na
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Rev Port Saúde Pública. 2010;Vol Temat(10):47-57
aquisição de competências clínicas/técnicas e de relação com
o doente; que se promova o crescimento pessoal e profissional
dos estudantes ajudando‑os a implementar a utilização do
modelo de centração no paciente; e que se promova e apoie a
formação dos docentes.
Assim, haja vontades!
Conflito de interesse
Os autores declaram não haver conflito de interesse.
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