PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN Vulnerabilidade de caminhoneiros à infecção pelo vírus da hepatite b Vulnerability of truck drivers to infection by the hepatitis b virus La vulnerabilidad a la infección por el virus de la hepatitis b en el camioneros Telma Maria Evangelista de Araújo Doutora em Enfermagem, Professora e Coordenadora do Mestrado de Enfermagem da UFPI e Professora do Curso de Enfermagem da Faculdade NOVAFAPI, Teresina-PI. Av. Petronio Portela sem número Campus Ininga Departamento de Enfermagem Teresina-PI CEP 64049-550. E-mail: [email protected] Aline Silva Santos Graduanda em Enfermagem e alunas da Iniciação Científica (PIBIC) da UFPI, Teresina-PI. Illoma Rossany Lima Leite Graduandos em Enfermagem e alunas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade NOVAFAPI, Teresina-PI. Khelyane Mesquita de Carvalho Graduanda em Enfermagem e alunas da Iniciação Científica (PIBIC) da UFPI, Teresina-PI. Rebeca Monteiro Mendes Graduanda em Enfermagem e alunas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade NOVAFAPI, Teresina-PI. Neylon Araújo Silva Graduanda em Enfermagem e alunas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade NOVAFAPI, Teresina-PI. Fisioterapeuta, Bolsista do CNPQ/UFPI. RESUMO As doenças sexualmente transmissíveis, em especial a hepatite B, representam grave problema de saúde pública, principalmente, nos países em desenvolvimento, onde as condições de vida da população tornam-se os seus fatores predisponentes. Ilustra esta afirmação o modo de vida dos caminhoneiros. Objetiva analisar os fatores de risco associados à infecção pelo vírus da hepatite B em caminhoneiros que trafegam por Teresina. Estudo quantitativo, transversal, realizado em Teresina no período de setembro a novembro de 2009, com 384 caminhoneiros. Os dados foram coletados por meio de formulários. Identificaram-se os seguintes fatores de risco: pouco conhecimento sobre a doença (72,1%), baixa escolaridade (75,8%), uso de drogas (31%), múltipla parceria sexual (39,9%) não uso de camisinha (55,2%). A existência de apenas uma parceira sexual foi estatisticamente associada ao não uso de drogas e a situação conjugal casado (p<0,005). O uso de camisinha foi estatisticamente significativo no cruzamento com o não uso de drogas (p<0,005). Conclui-se que os caminhoneiros constituem uma população vulnerável à contaminação e disseminação do vírus da hepatite B. Descritores: Fatores de risco. Hepatite B. Vulnerabilidade. ABSTRACT Sexually transmitted diseases, particularly hepatitis B, pose serious public health problem mainly in developing countries, where conditions of life become its predisposing factors. This statement illustrates the lifestyle of truck drivers. Objective to analyze the risk factors associated with infection by the hepatitis B virus in that travels by truck Teresina. A quantitative, cross, held in Teresina in the period September-November 2009, with 384 drivers. Data were collected through questionnaires. We identified the following risk factors: a little knowledge about the disease (72.1%), low education (75.8%), drug (31%), multiple sexual partners (39.9%) did not condom use (55.2%). The existence of only one sexual partner was not significantly associated with drug use and marital status married (p <0.005). Condom use was statistically significant at the crossroads with no drug use (p <0.005). We conclude that truckers are a population vulnerable to contamination and dissemination of the hepatite B virus and other DSTs. Descriptors: Risk factors. Hepatitis B. Vulnerability. RESUMEN Submissão: 07/12/2009 Aprovação: 21/12/2009 Las enfermedades de transmisión sexual, especialmente contra la hepatitis B, representan grave problema de salud pública sobre todo en los países en desarrollo, donde las condiciones de vida se convierten en sus factores predisponentes. Esta afirmación ilustra el estilo de vida de los camioneros. Objetiva analizar los factores de riesgo asociados con la infección por el virus de la hepatitis B en el en el camioneros que viaja Teresina. Una cuantitativo, transversal, que se celebró en Teresina en el período septiembre-noviembre de 2009, con 384 conductores. Los datos fueron recolectados a través de cuestionarios. Se identificaron los factores de riesgo: un poco de conocimiento sobre la enfermedad (72,1%), bajo nivel de educación (75,8%), drogas (31%), múltiples parejas sexuales (39,9%) no el uso del preservativo (55,2%). La existencia de una sola pareja sexual no se asoció significati- Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.29-33, Jan-Fev-Mar. 2010. 29 Araújo, T. M. E. et al. vamente con el uso de drogas y el estado civil casado (p <0,005). El uso del condón fue estadísticamente significativa en la encrucijada, sin el uso de drogas (p <0,005). Se concluye que los camioneros son una población vulnerable a la contaminación y la propagación de la hepatitis B. Descriptores: Factores de riesgo. La hepatitis B. Vulnerabilidad. 1 INTRODUÇÃO As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são frequentes em todo o mundo e representam um grave problema de saúde pública, principalmente, nos países em desenvolvimento, onde as condições de vida de grande parcela da população tornam-se fatores predisponentes para a morbi-mortalidade relacionada à DST. No Brasil, são escassos os dados epidemiológicos relativos às DST, pois apenas a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), a sífilis congênita e a sífilis na gestação são de notificação compulsória (COELHO et al., 2008). Segundo Carret et al. (2004), essas infecções ocorrem, principalmente, em adultos jovens de países em desenvolvimento, sendo normalmente associadas a fatores de ordem sociocultural. Entretanto, também têm sido observados em alguns estudos, que mesmo em países em desenvolvimento e desenvolvidos, determinadas circunstâncias induzem a atitudes que favorecem as DSTs. Ilustra esta afirmação as contingências da vida dos caminhoneiros, população predominantemente masculina, que em função do trabalho permanece longos períodos fora de casa, e para atender à necessidade de diversão e prazer, existem ao longo da estrada pontos de prostituição em postos de gasolina, bares e restaurantes e proximidades de motéis. Longe dos familiares, da esposa ou companheira, apresentam comportamentos de risco para as DST como um todo, associado ao considerável número de parceiras sexuais casuais e ao uso de drogas, principalmente o “rebite” (TELES et al., 2008). Estudos realizados na Índia, na África e no Brasil, mostram que o grande período que os caminhoneiros de rota longa passam fora de casa é facilitador para práticas de risco, pelo grande número de parceiras sexuais casuais e pelo uso de drogas, principalmente o “rebite”. Os caminhoneiros, especialmente aqueles de rota longa, constituem uma categoria ocupacional que pode contribuir sobremaneira para a disseminação da epidemia da Aids e para a Hepatite B, dentre outras DST (VILLARINHO et al., 2002). A infecção pelo vírus da hepatite B é uma das principais causas de doença aguda e crônica do fígado, podendo evoluir ainda para cirrose e carcinoma hepatocelular. Acredita-se que existam mais de 350 milhões de portadores crônicos do VHB no mundo, sendo que a transmissão é parenteral, e pela via sexual, além da transmissão vertical (BRASIL, 2005). Atualmente a hepatite B é a única doença sexualmente transmissível que pode ser prevenida através da vacinação, cuja ação é prioritária para o seu controle. Apesar disso, a hepatite causada pelo vírus B é, ainda nos dias atuais, uma das principais causas de doença hepática no mundo. Calcula-se que em torno de um milhão de pessoas morrem por complicações da doença hepática a cada ano. A hepatite crônica causada pelo VHB tem se revelado uma doença complexa, de difícil manejo, em função de, entre outros fatores, peculiaridades na relação vírus-hospedeiro, surgimento de mutantes, heterogeneidade viral e diversidade das formas clínicas (FERREIRA; SILVEIRA, 2006). Para a elaboração de políticas públicas de promoção da saúde e 30 prevenção de agravos, é imperativo conhecer a população-alvo e identificar as suas necessidades e vulnerabilidades. Considerando que os caminhoneiros representam uma categoria profissional de grande relevância na economia do Brasil, e considerando ainda que ao longo dos anos eles tenham sido excluídos das ações de atenção à saúde, é fundamental a realização de estudos que busquem dar visibilidade aos problemas de saúde por eles vivenciados e que por sua condição levam riscos iminentes a outros segmentos da população, para que sejam elaboradas e implementadas políticas de enfrentamento desses problemas, junto a essa categoria ocupacional. Dessa forma este estudo teve como objetivo analisar os fatores de risco à infecção pelo vírus da hepatite B em caminhoneiros que trafegam por Teresina. 2 MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo transversal desenvolvido por meio inquérito epidemiológico. De acordo com Block e Coutinho (2005), os estudos epidemiológicos são utilizados quando se pretende descrever ou explicar a distribuição e a frequência de eventos relacionados à saúde em populações humanas, sendo que os inquéritos têm como função a quantificação dos problemas de saúde da população, gerando informações úteis aos serviços de saúde. É importante ressaltar que esta pesquisa é parte de um grande projeto, inserido no grupo de pesquisa Vigilância a saúde da Família (GEVIS) da faculdade NOVAFAPI. A pesquisa foi realizada em um Posto de combustíveis situado no bairro Tabuleta em Teresina, por ser o local escolhido para o repouso e pernoites da expressiva maioria dos caminhoneiros que passam pela capital do estado do Piauí. Passam em média 200 caminhoneiros, diariamente neste posto, perfazendo uma média de 6.000 por mês. Com relação ao tamanho da população estudada foram considerados os estudos sobre vulnerabilidade dos caminhoneiros ao Vírus da hepatite B e outras DSTs que aparecem na literatura, os quais apresentam percentuais em torno de 50%. Assim, tomando-se uma prevalência presumida de 50%, um erro tolerável de amostragem de 5% e um nível de confiança de 95% e, supondo-se uma amostra aleatória simples, tem-se uma amostra de 384 caminhoneiros, conforme a fórmula a seguir: n = Z2. (p.q) / e2, onde n = tamanho da amostra, Z = nível de confiança, p = prevalência presumida e q = p-1, e = erro tolerável. A seleção desta população foi por amostragem acidental, a qual vai se formando pelos elementos que vão aparecendo, até completar o número da amostra (BARBETA, 2002; LUIZ, 2005). As variáveis estudadas foram: idade, sexo, tempo de trabalho como motorista, procedência, estado civil, escolaridade, uso de álcool, fumo, anfetaminas e outras drogas, padrão do uso, dependência e problemas relacionados ao uso, vacinação contra hepatite B e outras, conhecimento sobre a vacina contra a Hepatite B (VHB) e a sobre a doença, práticas sexuais com mulheres ou com homens (protegidas ou não), presença de alguma doença. A coleta dos dados ocorreu de setembro a novembro de 2009, totalizando 8 semanas consecutivas, sendo que em cada uma dessas semanas, três dias foram aleatoriamente utilizados para a investigação, alternando-se os turnos manha e tarde. O trabalho de campo se deu por meio de entrevista mediante aplicação de formulário anônimo com perguntas fechadas e algumas semi-abertas. Após a coleta, os dados foram digitados com a utilização do Software Statistical Package for social science versão 17.0, que é uma potente Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.29-33, Jan-Fev-Mar. 2010. Vulnerabilidade de caminhoneiros à infecção pelo vírus da hepatite B ferramenta de tratamento de dados e análise estatística. Após a digitação procedeu-se a limpeza e checagem do banco de dados. Realizaram-se análises univariadas por meio de estatísticas descritivas simples (distribuição de freqüências absolutas, percentuais simples e acumulados, média, mínimo e máximo e desvio padrão), e análises bivariadas, utilizando-se testes de Qui-quadrado (X2), e de correlação de Pearsosn (R), para verificar a associação entre os dados sócio demográficos da população do estudo e os fatores de risco para a hepatite B. A discussão dos achados foi realizada com base na literatura produzida sobre o tema. O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UFPI) e a pesquisa iniciada após autorização do CEP/UFPI. A assinatura e o termo de consentimento livre e esclarecido, dos participantes, onde garantiu-se a confidencialidade e privacidade, e a não utilização de informações em prejuízo das pessoas, conforme os princípios norteadores dispostos na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir, apresenta-se a análise dos resultados dessa pesquisa. Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica da população do estudo. Teresina/PI – 2010. (N=384) Variáveisn 1. Idade (em anos) Menor de 45190 45 e mais194 2. Situação conjugal Solteiro/separado105 Casado/unido278 Viúvo01 3. Residência (região) Nordeste189 Norte 06 Sul86 Sudeste75 Centro Oeste28 4. Escolaridade Sem escolaridade20 Ensino fundamental 271 Ensino médio82 Ensino superior11 5. Religião Católica275 Evangélica57 Nenhuma29 Espírita8 Outras15 6. Plano de saúde Sim89 Não295 % 49,5 50,5 27,3 72,4 0,3 49,2 1,6 22,4 19,5 7,3 5,2 70,5 21,4 2,9 71,6 14,8 7,6 2,1 3,9 23,2 76,8 Média da idade = 43,79 anos / dp4= 11,101 Observou-se que dos 384 caminhoneiros que participaram do estudo, um pouco mais da metade (50,5%) estão na faixa etária maior de 45 anos e os 49,5% restantes tem menos de 45 anos, com uma média de 43,79 anos de idade (desvio padrão: 11,101). A maioria dos caminhoneiros entrevistados é casada (72,4%) e 49,2% são residentes no nordeste (Tabela1). Em relação à escolaridade da população estudada, 271 (70,5%) possuem ensino fundamental completo, 82 (21,4%) ensino médio e a minoria deles (2,9%) tem diploma de curso superior. Quanto ao seguimento Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.29-33, Jan-Fev-Mar. 2010. de alguma religião existe uma variedade de escolhas, mas 275 (71,6%) seguem a religião católica. Em se tratando de saúde 295 dos caminhoneiros entrevistados não possuem plano de saúde (tabela 1). Tabela 2 – Distribuição da população do estudo segundo o conhecimento sobre a hepatite B e sua forma de transmissão. Teresina/ PI, 2010. Variáveis Conhecimento sobre Hepatite B Sim Não Em parte Total Forma de Transmissão Não sabe Sangue Relações sexuais Água Alimentos Outros Total n % 70 277 37 384 18,2 72,1 9,6 100,0 279 20 62 8 3 12 384 72,7 5,2 16,1 2,1 0,8 3,1 100,0 Quando questionados a respeito do conhecimento sobre a hepatite B, poucos caminhoneiros (18,2%) afirmaram conhecer. Com relação à forma de transmissão 72,7% afirmaram não saber, enquanto apenas 38,9% referiram à forma de transmissão correta. Desses 5,2% citaram o sangue como forma de transmissão e 16,1% referiram as relações sexuais como fonte de contágio. Outras formas errôneas citadas foram: água (2,1%), alimentos (0,8%) e outros (3,1%). Assim como a hepatite B os caminhoneiros também estão expostos ao risco de contaminação por outras doenças sexualmente transmissíveis, uma vez que estudos realizados no sul da Índia mostram, em uma clínica de DST, localizada à margem de uma rodovia, Manjunath, Thappa e Jaisankar (2002) encontraram história de úlcera genital e uretrite (nos últimos 5 anos) em 31,9% e 26,2% dos 263 motoristas de caminhão estudados, respectivamente. Nesses indivíduos, a prevalência de positividade ao teste VDRL e anti-HIV foi de 13,3% e 15,9%. Já Gawande et al. (2000) relataram um índice de sífilis de 21,9% em 670 indivíduos que trafegavam na região central daquele país. Ainda, dos 67 caminhoneiros que referiram corrimento uretral, 45 (67%) eram portadores de N. gonorrhoeae. Em Bangladesh, Gibney et al. (2002) encontraram uma prevalência global para infecção por C. trachomatis, N. gonorrhoeae e T. pallidum de 7,8% em 384 caminhoneiros, enquanto na China, Chen et al. (2006) detectaram essas infecções em 17,4% dos 550 indivíduos avaliados. Isso demonstra sem dúvida alguma a vulnerabilidade da população em estudo à contaminação por essas doenças. Teles et al. (2008) realizaram um estudo de outubro de 2005 a outubro de 2006, no qual foram entrevistados 641 caminhoneiros de rota longa que circulam na BR-153, uma rodovia federal que atravessa o Brasil de sul a norte. Dos 641 entrevistados, 620 (96,7%) responderam sobre antecedentes de DST. Desses, 35,6% referiram história presente ou passada de DST. Tabela 3 – Distribuição da população do estudo segundo informação sobre a existência da vacina contra hepatite B e segundo o desejo de se vacinar. Teresina/PI, 2010. Variáveis n % Informação sobre a existência da vacina Sim 127 33,1 Não 257 66,9 Total 384 100,0 31 Araújo, T. M. E. et al. Desejo de se vacinar Sim Não Não sei Total nha (X2 = 22,19 p= 0,001). 335 22 27 384 87,2 5,7 7,0 100,0 Em relação à informação da amostra estudada, quanto à existência da vacina contra hepatite B, observou-se que a maioria (66,9%) acredita não existir tal vacina, o que demonstra o desconhecimento sobre a importante possibilidade de imunização. Esses achados, vão de encontro com a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que em 1992, estabeleceu que todos os países introduzissem vacina da hepatite B nos programas pediátricos de rotina até 1997, tornando-o público (FERREIRA; SILVEIRA, 2006). As finalidades eram mais do que prevenir a hepatite aguda, reduzir também a infecção crônica, freqüentemente não aparente em crianças, mas que determina sequelas graves na vida adulta. Cerca de 80 a 90% da população mundial reside em países onde a prevalência de portadores é moderada (2-7%) ou alta (> 7%) (CDC, 2004). Quando indagados quanto ao desejo de se vacinar 87,2% afirmaram que gostariam, enquanto 5,7% disseram que não. Tabela 4 – Associação do uso de camisinha com os dados sociodemográficos dos caminhoneiros. Teresina/PI – 2010. Variáveis Faixa etária (anos) Menor de 45 45 e mais Total Estatística Escolaridade Até ensino fundamental Ensino médio e superior Total Estatística Situação conjugal Solteiro Casado Total Estatística Uso de camisinha Sim Não n % n % Total n % 91 23,7 99 25,8 190 49,5 81 21,1 113 29,4 194 50,5 172 44,8 21255,2 384 100,0 X2 = 1,464 p = 0,134 128 33,3 163 42,4 291 75,8 44 11,5 49 12,8 93 24,2 172 44,8 21255,2 384 100,0 X2 = 0,315 p = 0,329 68 17,7 389,9 10627,6 104 27,1 17445,3 278 72,4 172 44,8 21255,2 384 100,0 2 X = 22,191 p = 0,000 Na tabela 4, observa-se que o uso de camisinha tem associação estatisticamente significativa apenas com a condição de estar casado, quando comparado ao uso entre os solteiros (X2 = 22,19, p = 0,000), constituindo relevante fator de risco uma vez que os casados relataram não fazer uso do preservativo com suas esposas, afirmaram que fazem uso apenas com as demais parceiras. Segundo Souto et al. (2001), a infecção pelo vírus da hepatite B tem sido associada a comportamentos de risco, como: uso de drogas ilícitas e bebida alcoólica, presença de tatuagem, “piercing”, história de doença sexualmente transmissível (DST), número de parceiras(os) sexuais e a não utilização de preservativos durante relações sexuais. As variáveis faixa etária e escolaridade não apresentaram associação significativa (p>0,005). Quanto à escolaridade, verifica-se que 75,8% cursaram o ensino fundamental, seguidos de 24,2% com ensino médio e superior. Nota-se que não há associação entre escolaridade e uso de camisinha, (X2 = 0,315 e o p= 0,329). Observa-se com relação à situação conjugal, que 72,4% dos caminhoneiros são casados, enquanto apenas 27,6% são solteiros. Ser solteiro apresentou associação estatísticamente significativa com o uso da camisi32 Tabela 5 – Associação da existência de apenas uma parceira sexual com os dados sociodemográficos dos caminhoneiros. Teresina/PI – 2010. Variáveis Parceira sexual única Total Sim Não N % n % n % Usa algum tipo de droga Sim 62 16,1 57 14,8 119 31,0 Não 169 44,0 96 25,0 265 69,0 Total 231 60,2 15339,8 384 100,0 Estatística x2= 4,668 p = 0,021 Escolaridade Até ensino fundamental 179 46,6 112 29,2 291 75,8 Ensino médio e superior 52 13,5 41 10,7 93 24,2 Total 231 60,1 15339,9 384 100,0 Estatística x2 = 0,921 p = 0,201 Situação conjugal Solteiro 48 12,5 5815,1 10627,6 Casado 183 47,7 9524,7 27872,4 Total 231 60,2 15339,8 384 100,0 Estatísticax2 = 13,513 p = 0,000 Ao buscar-se a associação entre ter uma parceira sexual única com o uso de algum tipo de droga, com a escolaridade e a situação conjugal pode-se observar, que existe significância estatística apenas entre o não de uso de drogas, quando comparado ao uso (X2 = 4,66, p = 0,021) e entre estar casado, quando comparado aos solteiros (X2= 13,51, p = 0,000). É importante ressaltar que estudos evidenciam ser bastante comum o uso de anfetaminas e outras drogas entre os caminhoneiros, principalmente do “rebite” (combinação de cafeína, anfetaminas e álcool), para reduzir o sono e diminuir o cansaço em percursos de longa distância. A bebida alcoólica também é muito consumida entre os caminhoneiros, sendo uma das principais causadoras de acidentes e mortes no trânsito, além de aumentar também a vulnerabilidade às DST (PINSKY; LARANJEIRA, 1998; SILVA; YONAMINE, 2004; SOUZA; PAICA; REIMÃO, 2005). 4 CONCLUSÃO A aproximação com o objeto do estudo permitiu verificar que pouco mais da metade da população estudada (72,1%) afirmou não conhecer nada a respeito do vírus da hepatite B, e apenas uma pequena parcela encontra-se minimamente informada a respeito das formas de transmissão da doença. Tal achado veio ao encontro do que já era esperado, considerando que esta categoria profissional tem sido ao longo dos anos excluída em relação à cobertura de serviços de saúde. Sabe-se também que a informação tem estreita relação com o nível de escolaridade e o estudo constatou que a expressiva maioria (75,7%) cursou no máximo até o ensino fundamental. Outro fator de grande relevância observado foi a prática de sexo inseguro associado ao desconhecimento das formas de contágio da hepatite B, já que mais da metade dos caminhoneiros entrevistados 212 (55,2%) não fazem uso do preservativo. Além disso, 10% são solteiros, o que de certa forma estimula a busca do relacionamento sexual com múltiplas parceiras. E, considerando que muitos deles não são educados para o sexo seguro, se expõem ao risco da contaminação, além de apresentar grande potencial para disseminação desse vírus na sociedade. Dessa forma concluiu-se, que sem dúvida alguma é necessário o desenvolvimento de ações educativas para a promoção e prevenção da Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.29-33, Jan-Fev-Mar. 2010. Vulnerabilidade de caminhoneiros à infecção pelo vírus da hepatite b saúde desses caminhoneiros que constituem uma população vulnerável à contaminação pelo vírus da hepatite e B e outras DSTs. Não obstante o estudo apresente limitações, uma vez que por ocasião das entrevistas os pesquisadores de campo sentiam que alguns caminhoneiros poderiam estar omitindo certas experiências e, por conseguinte, subestimando os resultados, acredita-se que este estudo poderá trazer aportes aos profissionais e gestores da área da saúde, para a construção de estratégias de prevenção e controle da hepatite B e outras DSTs, junto a essa categoria profissional tão carente de serviços de saúde. Entende-se que é de suma importância o incentivo e o desenvolvimento de pesquisas que tenham a saúde do homem como foco, pois servirão de embasamento para melhoria e qualificação das políticas e medidas de saúde pública voltadas para esse contingente populacional. REFERÊNCIAS BARBETA, P. A. Estatística aplicada às ciências sociais. 5.ed. Florianópolis: UFSC, 2002. 225p. BLOCK, K. U.; COUTINHO, G. U.S. Fundamentos da pesquisa epidemiológica. In: MEDRONHO, R. A. (Orgs.). Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2005. p. 107-13. BRASIL. Ministério da Saúde. Hepatites Virais: o Brasil está atento. 2.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. ______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução n. 196/96. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. CARRET, M. L. V. et al. Sintomas de doenças sexualmente transmissíveis em adultos: prevalência e fatores de risco. 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