CONSTRUINDO UM PRESIDENTE:Uma reflexão acerca das

Propaganda
CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
COORDENADORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
MBA EM MARKETING E VENDAS
Frederico Mendes de Carvalho
CONSTRUINDO UM PRESIDENTE:
Uma reflexão acerca das estratégias de marketing envolvidas na eleição e
reeleição do presidente Lula
Belo Horizonte
2010
FREDERICO MENDES DE CARVALHO
CONSTRUINDO UM PRESIDENTE:
Uma reflexão acerca das estratégias de marketing envolvidas na
eleição e reeleição do presidente Lula
Trabalho de conclusão de curso apresentado como
requisito parcial para aprovação no curso de MBA em
Marketing
e
Vendas.
Eugênio Vale Leão.
Belo Horizonte
2010
Orientador:
Prof.
Marcos
A minha família, pelo apoio e pela torcida.
A minha mãe, exemplo de trabalho, força e ética.
Minha motivação para continuar.
A minha irmã Gabi, pelas horas e horas de
companhia e de sucos.
Aos meus amigos, especialmente Marlon, Vanessa,
Adriana, Fabiana e Landim, por compreenderem
quando não pude estar com vocês. Vocês são a
família que eu escolhi.
Ao
mestre,
Marcos
Leão,
tutor,
professor
e
orientador. Obrigado pelo apoio sempre presente.
Aos meus professores da Newton Paiva neste curso,
especialmente Albélio, Rosangela e Tio Flávio.
Aprendi muito com vocês.
Aos colegas, especialmente os do nosso MACS,
Adriano, Alana, Thaísa, Linete e Igor. Obrigado por
compartilharem comigo tanto de suas experiências.
Ao Obelino, vereador e amigo, petista. E na sua
pessoa, ao nosso grupo. Vocês são o modelo de
política e de político que aprendi e que vejo como
republicano
democrático
e
ético.
São
a
materialização da experiência política limpa que vai
além da retórica.
Tudo o que era sólido se desmancha no
ar, tudo o que era sagrado é profanado, e
as pessoas são finalmente forçadas a
encarar com serenidade sua posição
social e suas relações recíprocas.
(Manifesto Comunista)
Karl Marx
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Lula na campanha de 1989
12
Figura 2 – Cartaz da Campanha de 1989
13
Figura 3 – Identidade visual da campanha de 2002 – 13
Figura 4 - Cartaz da campanha de 200 14
Figura 5 – Intenção de voto para presidente em 2002
18
Figura 6 – Intenção de voto para presidente em 2002 19
Figura 7 – Intenção de voto para presidente em 2002 19
Figura 8 – Intenção de voto para presidente em 200219
Figura 9 - aprovação de Lula em 2005 20
Figura 10 - Confiança em de Lula em 2005
20
Figura 11 - Aprovação de Lula: Início de 2006 21
Figura 12 - Site de campanha de Márcio Lacerda
Figura 13 - Foto oficial da campanha
23
Figura 14 - Foto oficial da campanha
23
22
Figura 15 – Logomarca oficial da campanha de Dilma
27
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 1
QUEM É LULA? O CANDIATO E O MITO .................................................................................................. 2
Construindo uma nova identidade de massas ........................................................................................ 2
PROBLEMATIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 4
Problematização .................................................................................................................................... 4
Justificativa ............................................................................................................................................ 5
REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................................................... 6
PROPOSTA DO AUTOR ........................................................................................................................... 7
Objetivo Geral ....................................................................................................................................... 7
Objetivo Específico ................................................................................................................................ 7
CRONOGRAMA ...................................................................................................................................... 8
RELAÇÕES DE MARKETING ..................................................................................................................... 9
Capacidade de comunicação .................................................................................................................. 9
Pesquisa ................................................................................................................................................ 9
A Marca Lula ........................................................................................................................................ 10
Segmentação e criação de valor ........................................................................................................... 15
O mix de promoção na construção da candidatura .............................................................................. 16
O discurso eleitoral .............................................................................................................................. 18
AS DEFINIÇÕES DE 2005 ....................................................................................................................... 20
A desconstrução: a crise de 2005 ......................................................................................................... 20
Novas relações de políticas, novas estratégias de marketing ............................................................... 21
REINVENTANDO AS RELAÇÕES DE MARKETING ................................................................................... 22
2006: um novo presidente ................................................................................................................... 22
As políticas sociais e o seu impacto eleitoral........................................................................................ 24
PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS PARA 2010 ............................................................................................ 26
CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 27
1
INTRODUÇÃO
As relações de poder são objeto de estudo de diversas áreas do conhecimento.
Debruçam-se sobre seus desdobramentos muitas outras ciências, que no fim,
pretendem desvendar as origens e os objetivos a que se destinam o poder e suas
relações com as transformações sociais.
Na democracia, a capacidade de influenciar, liderar e construir possibilidades de
governabilidade são características políticas que se articulam às diversas faces e
que paralelamente se reconectam em posicionamentos de marketing e que têm um
objetivo: ser bem sucedido no esforço eleitoral.
Eleger um projeto político demanda eleger uma imagem que o iconize. Este é o
desafio do marketing político contemporâneo: traduzir em resultados eleitorais o
valor de imagem que se propõe, trazendo sucesso nas urnas.
Para Lima (2002), o marketing tem como principal função compreender e estimular
os desejos e necessidades dos indivíduos, desenvolvendo produtos e serviços que
atendam a estas necessidades e comunicando sua existência à sociedade.
Para Kotler e Armstrong (2006, p.4) a função do marketing é lidar com clientes. E
seus principais objetivos são atrair novos clientes, prometendo-lhes valor superior, e
manter e cultivar os clientes atuais, proporcionando-lhes satisfação. Diante desta
abordagem, a partir deste momento iremos substituir o termo cliente por eleitor.
As campanhas presidenciais, que determinam o poder central e efetivamente
definem os rumos da vida da população constroem um ambiente onde o marketing
se torna mais importante que o candidato e uma estratégia articulada a um discurso,
uma leitura da história do candidato e a proposição de um valor de imagem são
valores fundamentais para ser bem sucedido. Não obstante, identificar, analisar e
determinar estratégias de marketing efetivas é tarefa muito difícil.
Este texto expõe, em primeiro lugar, a identidade política e popular de Lula,
passando um pouco por sua história e militância política. Debruça-se, ainda, sobre
2
elementos mais fortes na construção de uma marca política forte e estabelece sua
conexão com os elementos apontados nas teorias de marketing.
Ele, ainda, trata especificamente da transição da primeira para a segunda
campanha, tendo como elemento dificultador a crise institucional do governo e do PT
em 2005. Neste período, ainda, elenca a reinvenção das relações de marketing e a
construção imagética da campanha de reeleição de Lula. Neste capítulo é realizada
uma exemplificação com lógicas eleitorais de continuidade como a campanha à
Prefeitura de Belo Horizonte em 2008.
Por fim, o texto traz a luz algumas tendências para 2010, especialmente com foco
nas mudanças realizadas nas campanhas presidenciais no exterior e que terão
impacto sobre a corrida presidencial brasileira.
QUEM É LULA? O CANDIDATO E O MITO
O presidente Lula é um caso emblemático desta realidade. Candidato em cinco
eleições (2006, 2002, 1998, 1994 e 1989), vindo de um partido de esquerda, com
franca influencia popular, a eleição de Lula em 2002 demandou um estudo
aprofundado da realidade do País, das preferências eleitorais e de um
convencimento da população acerca da capacidade da candidatura de encampar e
resolver diversas questões naquele momento.
É importante relembrar que imagem de Lula era naquele momento, a de uma figura
radical e politicamente irresponsável. E estava assimilada no imaginário popular a
ideia de que ele era um simples semianalfabeto que não conseguiria resolver as
grandes questões nacionais. Neste sentido, trazer novos tons a candidatura e
moldar a imagem do candidato determinou o esforço de marketing eleitoral.
Construindo uma nova identidade de massas
Construir em 2002, a imagem do presidente “paz e amor”, que dialogaria com os
anseios da população traduzia-se como o maior desafio da estratégia de marketing
3
utilizada nas eleições de Luis Inácio Lula da Silva. Manter a esquerda sob seu
projeto e ao mesmo tempo conquistar a classe média exigiria uma mudança no tom
do discurso e descobrir qual o presidente o Brasil queria sem perder suas
características enquanto candidato popular e de esquerda se tornou imperativo.
Todavia, em 2006, o cenário mudou. Lula já era presidente e com um governo que
trouxe diversas conquistas sociais e econômicas, mas também acusado de
corrupção. A crise de 2005, desencadeada pelo escândalo do mensalão foi maléfica
para a imagem do candidato a reeleição. Entretanto, mesmo assim, a avaliação do
governo Lula continuou subindo progressivamente com exceção de setembro de
2004, em função do mensalão e 2006, pelo clima eleitoral. Entretanto, esta reflexão
será apresentada mais adiante.
A indústria da eleição move uma engrenagem altamente cara. Para se ter uma ideia,
a campanha do presidente Lula em 2006 custou R$21 milhões em 2002 e R$75
milhões em 2006. O custo médio de cada voto foi de R$0,53 em 2002 e R$0,83 em
2006.1
Figura 1- Fonte: CNT/Sensus – 2008
1
Disponível em: < http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/06/custo-de-campanhaspode-ate-dobrar-estimam-politicos-e-analistas.html>. Acesso em 5 jun. 2010.
4
PROBLEMATIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA
Traduzir o sentimento da população e criar o ambiente que possibilite a eleição ou
reeleição de um projeto é um dos maiores desafios do marketing político. É possível
supor que envolvido na eleição e reeleição do Projeto do PT, iconizado na
perspectiva de Lula havia duas situações que projetavam ambientes de atuação
política com cenários eleitorais totalmente diferentes.
Na primeira campanha, percebe-se a forte presença da máquina pública em
oposição ao projeto Lula, mas uma baixa aderência popular, uma vez que a
avaliação do governo FHC já sofria diversos reveses por muitas questões que o
segundo governo não conseguiu êxito, entre elas a política econômica e a política
social.
A segunda eleição trouxe outro cenário, de um governo popular bem avaliado e com
um País que contornou as crises de identidade, política institucional, incluiu milhões
e dava saltos de desenvolvimento, mas tinha como ponto fraco, a crise do mensalão
de 2005.
Problematização
Trabalhou-se com a hipótese de que o marketing da primeira campanha diferenciase basicamente na fase de planejamento. Entende-se como necessidade básica em
2002 o diagnóstico das expectativas da população e a transformação desta em
capital político eleitoral. Já em 2006, o esforço de marketing concentra-se em
potencializar o sentimento de continuidade explicitado na campanha publicitária: “É
Lula de novo, com a força do povo”, reafirmando uma característica popular, marca
da campanha de 2002.
Desta perspectiva supõe-se que há duas abordagens de marketing diferentes para
as eleições de 2002 e 2006. Então, propõe-se diferenciar as abordagens de
marketing utilizadas na construção da imagem do presidente Lula em 2002 e 2006.
5
Justificativa
É importante salientar que o marketing possibilita uma forma de controle da opinião
pública que pode servir ao fomento da participação popular e construção republicana
ou como instrumento de “ditadura ideológica”, manipulando e criando disfunções no
sistema político. Assim, compreender os fenômenos sociais e psicológicos que
envolvem o processo eleitoral, e como eles podem ser moldados pelo marketing é
fundamental para o desenvolvimento da sociedade e para a consolidação da
democracia, potencializando a participação do cidadão e fazendo-o sujeito do
processo político.
Para Bobio Et.al (1998, p.8) democracia é a participação dos cidadãos e uma
participação insuficiente, debilita-a.
A análise da campanha do presidente Lula nos dá muitos indícios do comportamento
do eleitor, das mudanças históricas na mentalidade da sociedade brasileira. Permitenos desvendar novos paradigmas sobre a participação de segmentos sociais
historicamente desfavorecidos no processo eleitoral e a conquista de sua
representação institucional o cenário político nacional, bem como as alterações
sociais que esta representação causará.
É imperativo, também, a análise desta dimensão para poder-se estabelecer
perspectivas futuras sobre as tendências sócio-políticas as quais o Brasil deverá
percorrer. Assim, a análise das eleições presidenciais traz a tona indícios das
mudanças políticas que ocorrerão nos próximos anos no País.
O presente trabalho poderá contribuir com o desenvolvimento da ciência
mercadológica, uma vez que o eleitorado pode ser interpretado como um mercado, e
as experiências de campanhas replicam em suas mentes o mesmo impacto que
marcas
comerciais
consumidores.
(resguardando
diferenças
conceituais)
replicam
sobre
6
Além disso, pretende apontar indícios de como se estruturam as campanhas
eleitorais e o direcionamento da opinião pública na construção de candidaturas,
contribuindo na consolidação da democracia e na defesa dos valores republicanos.
REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Kotler e Armstrong (2006, p.3) a função do marketing “mais que
qualquer outra coisa é lidar com clientes”. Na leitura deste trabalho, será então, lidar
com eleitores. Para os autores, ele é um processo essencial na adesão para
produtos, serviços, sensações, idéias, etc. E é um formulador de opinião, um
componente que determina como eleitores se relacionaram com candidaturas.
O avanço das ferramentas de marketing e a evolução do mesmo fizeram com que
ele chegasse à esfera política. De acordo com Lima (2002, p.17), “marketing político
é o conjunto de atividades que visa garantir a maior adesão possível a uma ideia ou
causa, que pode ou não ser encarnada na figura de uma pessoa”. Esta concepção,
na leitura de Kotler não dialoga com a definição de marketing, que seria
transliterando para a realidade política como “o processo social que pelo qual
indivíduos e organizações obtêm o que desejam e necessitam por meio de criação e
troca de valor com os outros” (KOTLER, 2006, p.4).
A definição de marketing político citada por Lima dialoga com as características do
mix de marketing, que de acordo com Kotler (2006 p.4) “são um conjunto de
ferramentas de marketing que operam juntas para satisfazer as necessidades dos
indivíduos e construir relacionamento com eles”.
O mix de marketing pode ser tratado de forma diferenciada no campo político. Esta
área tem características muito peculiares. Desta forma: Praça, produto, preço,
promoção, os 4 P´s os do marketing podem ser renomeados para: território,
candidato, custo de campanha e exposição.
De acordo com Kotler e Keller (2006, p.40) “uma administração de marketing bem
sucedida requer, portanto, determinadas capacidades, como entender, criar,
7
entregar e sustentar valor para o cliente”, e para assegurar que estas etapas sejam
realizadas precisa-se de um instrumental organizador, um planejamento.
O eixo estruturador de um planejamento é exatamente aonde se quer chegar e
como se pretende construir esta trajetória. Há aqui de novo uma conversão de
valores que preconizam a estruturação de uma campanha.
PROPOSTA DO AUTOR
Pretende-se, sobretudo, realizar um diálogo sobre a lógica implícita e explícita nos
fronts políticos e neste sentido, construir uma proposta de compreensão e
articulação dos fenômenos da política de marketing que podem definir os rumos de
uma candidatura.
Objetivo Geral
Apresentar as principais diferenças na abordagem de marketing utilizada na
construção da imagem do presidente Lula em 2002 e 2006.
Objetivo Específico

Descrever a influência da história e militância do presidente Lula e do PT na
eleições de 2002 e seus traços no governo;

Analisar as políticas do governo federal, especialmente nos segmentos de
desenvolvimento social e econômico e seu impacto sobre as eleições;

Analisar mudanças no pensamento da esquerda brasileira e os impactos de
suas novas concepções sobre o governo, e por consequência sobre a reeleição de
Lula.

Descrever o papel do PT nas eleições e reeleição de Lula;

Apresentar tendências políticas a partir da análise de 2002 e 2006.
8
CRONOGRAMA
TABELA 2: Cronograma de atividades
ITENS
ATIVIDADES
01
Pré projeto
MESES
abril.
Maio
junho
ok
Primeira etapa:
02
Pesquisa
e
levantamento
de ok
informações
Segunda etapa: análise, seleção,
03
classificação e organização dos
ok
dados e fontes documentais
04
05
Terceira
etapa:
redação
e
revisão metodológica.
Banca
Fonte: Dados gerados pelo autor, 2010
Previsto
LEGENDA
Realizado
parcialmente
9
RELAÇÕES DE MARKETING
Percebem-se relações de marketing que puderam ser avaliadas através da
pesquisa. Trata-se também de um relatório focado em eixos inerentes ao marketing
político e a figura do candidato Lula.
Capacidade de comunicação
A capacidade de se comunicar com a sociedade é condição preliminar para qualquer
postulante a cargo público. A investidura de cargo eletivo se dá na dimensão do
convencimento, numa estrutura na qual o posicionamento de marketing propõe um
personagem que pode ou não ser o reflexo real do candidato. A construção de
identidade de massas forte é condicional para ser bem sucedido no pleito. No caso
do presidente Lula, esta construção é amparada por dois eixos:
Primeiro, sua história, que é composta de forte apelo popular e que dá as condições
primárias para a construção de sua imagem. Depois, como desdobramento, sua
trajetória de boia fria, sindicalista e dirigente partidário de um partido que detêm a
simpatia de 30% dos brasileiros. Estes elementos, e sua capacidade de agregar
pessoas, como os sindicalistas do ABC nas greves dos anos 70, ou quando
consolidou sua liderança política na construção do PT e o conduziu à Presidência
talvez seja o maior fator do seu composto de marketing, e através desta abordagem
popular, começa-se a construção da imagem que iniciou o processo de elaboração
da candidatura.
Pesquisa
A primeira questão envolvida na abordagem de marketing está vinculada a
identidade da candidatura. Identificar esta variável demanda pesquisa. Para Kotler e
Keller (2006, p.98) a pesquisa de marketing é a elaboração, coleta, análise e edição
de relatórios sistemáticos de dados e descobertas relevantes sobre a situação
específica enfrentada.
10
No caso de Lula o know-how de outras 3 campanhas perdidas (1998, 1994 e 1989)
deram os apontamentos para a pesquisa que concluiu que a imagem do
presidenciável deveria ser ajustada e ter um foco mais moderado.
As pesquisas de campanha apontavam que a sociedade via no candidato Lula uma
figura radical. O sentido popular de sua imagem estava comprometido pela
percepção do eleitorado. Balizar a chapa e dar credibilidade à candidatura passou a
ser uma meta da coordenação de campanha. Assim, a escolha do vice era
estratégica. O apontamento de um empresário foi a resposta a esta identificação,
assim, soma no composto de marketing os atributos de José de Alencar. O vice
cumpria outro papel, integrar o segundo maior colégio eleitoral do País, Minas
Gerais. Senador pelo estado, o vice trazia outros setores da sociedade e ainda
agregava o potencial eleitoral dos mineiros.
A Marca Lula
Para Kotler e Armstrong (2006, p.211) os profissionais de marketing devem
posicionar claramente as marcas na cabeça dos clientes-alvo com base nos
atributos do produto. Para eles, ainda, as marcas mais fortes vão além do deste
posicionamento por atributos ou benefícios, elas se posicionam também, sobre
fortes crenças e valores.
Orientado por um planejamento estratégico, a campanha do PT em 2002 construiu
uma nova proposição de valor para imagem do então candidato Lula. Este esforço
reformulou sua marca.
Na primeira campanha é perceptível um trabalho de composição da imagem do
candidato, e na segunda uma orientação para os resultados que sob sua liderança o
País alcançou. De acordo com Prata (2009, p.93) o governo Lula “colocou a questão
social no centro da agenda política nacional”, e este foi o valor fundamental que
gerou a esperança traduzida em votos em 2002 e que confirmou a vitória e índices
de popularidade do presidente em 2006.
11
Na campanha de 2002, a marca Lula conseguiu projetar na mente dos eleitores a
desconstrução do governo anterior e a perspectiva de um País diferente,
reposicionando a marca do candidato.
Estrategicamente, o nacionalismo, expresso na crítica às privatizações (e não é
objeto de análise deste trabalho a questão ideológica envolvida neste processo), na
crítica aos fortes traços neoliberais do governo FHC e nos baixos índices de
desenvolvimento social construíram o arcabouço do posicionamento de marca que
Lula utilizou.
A campanha construiu uma abordagem que conseguiu agregar a esquerda e direita
em um campo político que dialogou com o sentimento de mudança, que a própria
candidatura identificou e potencializou.
Como efeito desta estratégia, a modificação da imagem do presidenciável foi clara.
Lula adotou uma postura mais madura, conectada aos anseios da população e um
discurso moderado, extremamente influenciado pelos pontos levantados na
pesquisa, chegando a concordar com parte da linha de gestão do governo FHC para
acalmar os empresários e a classe média, mas prometendo transformações no
campo social para trazer as classes menos abastadas.
Esta construção encontrou eco na história do candidato. O seu passado trouxe a
justificativa para sua promessa. Além disso, o desgaste do governo anterior abriu a
porta para que a promessa de mudança, objeto de marketing estabelecido como
foco estratégico da campanha de 2002 florescesse.
A campanha de 2002 criou um sentimento de esperança numa nova orientação de
governo. A Coordenação de campanha de Lula formatou este sentimento
estrategicamente, tornando o candidato a personificação deste sentimento: criou-se
a Onda Lula. Como desdobramento da estratégia nacional, o tamanho do PT e sua
participação institucional no Congresso Nacional aumentaram. É possível perceber,
ainda, como decorrência do sentimento que a campanha de Lula conseguiu construir
em 2002, uma ampliação da participação política do PT nos municípios em 2004.
12
Tom presidencial
A imagem do candidato é carregada de simbologia. Para além da marca, enquanto
símbolo da materialização de aspirações eleitorais, no caso de Lula pode-se notar a
repercussão dos fatores constitutivos e organizacionais das imagens e a partir da
análise da construção imagética política de personalidades, ao decompor e
comparar as coberturas fotográficas da Revista Veja, nos anos de 1989 e 2002, em
termos das representações de Lula, é possível compreender melhor como essa
construção ocorre.
Figura 1 - Lula na campanha de 1989
Fonte: FIOCRUZ
De acordo com Oliveira (2006), o estudo das imagens de Lula de 1989 propõe a
personificação de um personagem franzino, preocupado e com uma ligação popular
presente.
A análise mostra que uma sequência de atributos (seja o despreparo de marketing
da assessoria de Lula nas campanhas anteriores a 2002 ou a estratégia de
desqualificação de sua imagem) não permitia a construção de uma imagem de
presidente na cabeça do eleitorado.
13
Figura 2 – Cartaz da Campanha de 1989
Fonte: Fundação Perseu Abramo
Noelle (2006) afirma que entre 29 fotos analisadas, no período 1989, apenas cerca
de 41% Lula aparece de terno, nos outros 58% ele aparece de moletom ou camisa.
Ela explicita que Lula é retratado, geralmente, com a camisa aberta e para fora da
calça, o que transmite a ideia de descompostura e de uma imagem pouco
preparada.
Outro fator é que, em quase 76% das fotos, a expressão de Lula é fechada e traduz
preocupação, o que acaba desembocando em um ar de radicalismo e ativismo irado.
Além disso, a barba e os cabelos do candidato mostram-se vastos e por fazer,
reforçando a imagem radicalizada do candidato.
Figura 3 – Identidade visual da campanha de 2002 –
Fonte: PT
14
Em 2002 há uma mudança deste tom imagético. A representação social do
candidato é recomposta para uma figura imponente que demonstra experiência e
interage com o eleitor.
Noelle (2006) afirma que um ponto de destaque da análise da imagem de Lula, com
base na iconografia do político entre 2002 e 1989 é a quantidade bem maior de fotos
de Lula em 2002. Ao todo foram analisadas 62 fotos onde ele aparece diretamente,
em 1989 esse número restringiu-se a 29 fotos.
É importante ressaltar que reformulação da imagem do petista estende-se do
vestuário ao sorriso, traço que fora construído para Lula na campanha de 1998 e
principalmente em 2002.
Figura 4 - Cartaz da campanha de 200
Fonte: PT
Por meio da edição das fotos da Veja, Noelle (2006) afirma que “a capacidade de
negociação de Lula foi bastante evidenciada, assim como também o seu trabalho
para a construção de alianças”. Neste ponto, a autora sugere que houve um trabalho
para retirar o tom radical do candidato.
O tom presidencial foca-se na presença de Lula em companhia de outros políticos e
personagens internacionais. Esta posição, que constitui a imagem de negociador é
importante para a formulação do imaginário eleitoral. Nas campanhas anteriores
frequentemente Lula aparecia sozinho nas fotos.
15
Segmentação e criação de valor
A campanha de Luís Inácio segmentou sua abordagem de marketing. Havia linhas
específicas de comunicação para setores sociais diferentes. Como exemplo,
podemos citar o fato de haver um relacionamento com o setor sindical e outra com o
empresariado. Com os movimentos sociais e com sindicatos patronais. Esta
estratégia tinha como função principal criar valor eleitoral para os diversos públicos
envolvidos.
Kotler e Armstrong (2006, p.165), há duas fases para a criação de valor para o
cliente. Uma é a seleção de clientes para atender (segmentação e determinação dos
mercados alvo onde haverá atuação) e a outra é Tomar decisão sobre uma
proposição de valor (Diferenciação, ou perceber e diferenciar a oferta ao mercado
para criar valor superior para o cliente e posicionamento, ou ato de posicionar a
oferta ao mercado na mente dos eleitores).
Para adequar a campanha a esta abordagem, utilizou-se múltiplas formas de
segmentação. A geográfica (e pode-se verificar isso na entrada da candidatura com
o vice em Minas, no fortalecimento do PT em São Paulo e na tática de intensificar e
conquistar o nordeste com o discurso regionalista, pois o presidente é nordestino). A
segmentação por idade ou ciclo de vida também foi utilizada, a campanha ganhou
contornos para valorizar o voto da juventude por exemplo. Setores vinculados aos
partidos aliados como o PCdoB criaram campanhas específicas para atrair este voto
como o Se Liga 162.
Houve também segmentação demográfica com estratégias setoriais claras. O papel
dos grupos étnicos (representados principalmente no Movimento Negro) e a
campanha com os estudantes são exemplos desta estratégia. A segmentação por
sexo, com fortalecimento da presença feminina foi outra tática da campanha.
2
Se Liga 16 – Campanha da UJS (União da Juventude Socialista) entidade vinculada ao PCdoB (Partido
comunista do Brasil) que fez parte da coligação que elegeu e reelegeu Lula e que pretendia estimular o voto
aos 16 anos.
16
Entretanto a polarização da disputa com a contraposição das questões sociais, da
violência, do acesso à educação (e especialmente à educação superior), a pauta de
desenvolvimento econômico e as privatizações foram os eixos principais de
construção do modelo de marketing expresso no discurso da campanha, e
dialogaram
de
forma
diferente
com
cada
segmento.
Rede de relacionamentos
Criar uma cadeia de apoios fora uma etapa especialmente delicada na estratégia de
2002. Primeiro porque a candidatura de Lula era de oposição e não tinha o suporte
da máquina pública. Aliás, esta foi uma crítica da campanha. Depois a capacidade
de construir alianças estava comprometida exatamente porque as condições
políticas eram incertas.
A construção dos palanques estaduais e das alianças partidárias, e neste processo
destaca-se o papel do vice-presidente, e de figuras estratégicas como José Dirceu,
Luís Dulci e Patrus Ananias, e o suporte de governos ligados a aliança partidária que
sustentou a campanha foram capitais para o sucesso.
A construção desta Rede de valor é fundamental no processo de marketing. Kotler e
Armstrong (2006, p. 304) afirmam que esta rede é formada pelos stakeholders3 em
parceria para aprimorar o sistema como um todo. Para os autores os membros desta
Rede agregam valores e criam condições para que toda a engrenagem funcione.
O mix de promoção na construção da candidatura
Na construção da vitória em 2002 foram utilizadas todas as possibilidades do mix
promocional: propaganda, promoção de vendas, relações públicas, venda pessoal e
marketing direto. E ainda a publicidade, direta e indireta nas candidaturas
proporcionais.
3
Públicos envolvidos.
17
A mensagem estava vinculada a ideia estratégica concentrada no slogan “Agora é
Lula”. Esta ideia, difundida pela comunicação integrada de marketing - que de
acordo com Kotler e Armstrong (2006, p.360) trata-se da integração e coordenação
cuidadosa de diversos canais de comunicação para transmitir uma mensagem clara,
consistente e atraente – possibilitou a desconstrução positiva da campanha
adversária.
Mensagens como “Ele é a cara do Brasil” ou “a esperança vai vencer o medo” e o
tom paz e amor da nova imagem de Lula possibilitaram a conjunção que alicerçou
esta estratégia. O planejamento de marketing da campanha, no que implica a
comunicação de valor para o eleitor sobre Lula passou por fases distintas: a
primeira, identificação dos públicos-alvos e segmentação. E depois, determinação
dos objetivos de comunicação, ou seja, a resposta que daria aos públicos alvos, o
discurso.
Kotler e Armstrong (2206, p.363) propõem um modelo para a comunicação de valor
para o eleitor (na abordagem deles, utilizam o termo cliente):
Conscientização  conhecimento  simpatia  preferência  convicção  voto.
A abordagem de marketing adotada tinha como objetivo o voto, mas a compreensão
de que cada segmento reagiria de forma diferente aos estímulos a fez construir de
forma mais global os elementos deste modelo. Portanto, o conteúdo da mensagem
passou a ser fundamental para que o modelo funcionasse. A conexão entre forma e
conteúdo ou o quê e como possibilitou o desenvolvimento da integração do modelo
de comunicação de valor.
O potencial da TV deve ser considerado também. A exposição midiática dos
candidatos, os debates e sua capacidade de dialogar com os tele-espectadores
construiu um conjunto de idéias que influenciam o comportamento eleitoral.
18
O discurso eleitoral
A campanha de Lula, ao incorporar uma lógica pragmática de marketing alterou
significativamente o discurso e o tom das mensagens até então utilizadas.
O discurso de esquerda radical deu lugar a uma abordagem de centro-esquerda.
Alinhando aos interesses da direita brasileira, posição explicitada na chamada Carta
aos Brasileiros4, e com foco na abordagem do desenvolvimento social.
O foco na política social agradou também as classes pobres e construiu uma
blindagem ao governo Lula. De acordo com Prata (2009, p.93) o governo Lula
“colocou a questão social no centro da agenda política nacional”, e este foi o valor
fundamental que gerou a esperança traduzida em votos em 2002 e que confirmou a
vitória e índices de popularidade do presidente em 2006.
O discurso alinhou os interesses de desenvolvimento social e econômico numa
dinâmica que conseguiu apontar Lula como a figura que conduziria o Brasil a esta
realidade. Esta perspectiva pode ser visualizada na avaliação das pesquisas da
época.
A avaliação eleitoral demonstrada nas figuras 5, 6, 7 - que são originárias de
institutos diferentes - mostram a vantagem da candidatura Lula, fruto da construção
estratégica da campanha que elencou o discurso descrito nos parágrafos anteriores.
Figura 5 – Intenção de voto para presidente em 2002
Fonte: Ibope – 2004
4
Publicação assinada por Lula e formulada pela coordenação de campanha que comprometia o futuro governo
com a manutenção de grande parte da política econômica do governo FHC.
19
Figura 6 – Intenção de voto para presidente em 2002
Fonte: Vox Populi - 2004
Figura 7 – Intenção de voto para presidente em 2002
Fonte: CNT/SENSUS - 2004
Em contraposição, o discurso de outras candidaturas dialogava de forma
diferenciada com o eleitorado. Garotinho, do PSB, entrava no segmento evangélico,
enquanto Ciro ampliou sua participação no empresariado, campo em que criou
barreiras para a candidatura de José Serra.
O resultado eleitoral, como pode ser visto na Figura 8 demonstra a efetividade da
estratégia de campanha.
Figura 8 – Intenção de voto para presidente em 2002
Fonte: TSE
20
AS DEFINIÇÕES DE 2005
A desconstrução: a crise de 2005
Todos os elementos construídos pela campanha de Lula em 2002 sofreram um
grande revés em 2005. A crise do mensalão que abalou o governo petista exigiu
uma reorientação das estratégias de campanha para 2006, ano da reeleição de Lula.
De acordo com o Instituto Ibope, a aprovação e desaprovação do Presidente se
igualaram em 46% em 2005. Este aumento da desaprovação de 10 pontos
percentuais é atribuído às questões da crise.
Figura 9 - aprovação de Lula em 2005
Fonte: IBOPE
A confiança no presidente também sofreu revés:
Figura 10 - Confiança em de Lula em 2005
Fonte: IBOPE
21
Com a popularidade abalada pela crise, e com forte oposição da mídia ao governo, a
lógica de marketing da pré-campanha em 2005 construiu uma blindagem que
separou três elementos até então inseparáveis: o governo, o PT e o presidente.
As ações a partir daí passaram a blindar a figura de Lula de forma tal que o ônus
político da crise foi assumido pelo partido e pelo governo. Os aspectos do mensalão
logo se desgastaram e em meados de 2006 a aprovação de Lula já crescia
novamente.
Figura 11 - Aprovação de Lula: Início de 2006
Fonte: IBOPE
Novas relações de políticas, novas estratégias de marketing
Em 2006 as políticas sociais de Lula formaram parte da blindagem do candidato a
reeleição. A economia aquecida, o País em desenvolvimento e com as arestas de
2005 (semi) aparadas, lançou-se as possibilidades para a reeleição.
Deveria haver uma reorientação do marketing do Governo, do partido e do
candidato. Nesta perspectiva, presenciamos uma intensificação das campanhas
governamentais como a “O melhor do Brasil são os brasileiros” ou a campanha “sou
brasileiro e não desisto nunca”.
O PT se estabeleceu de foram a construir uma Rede Política que sustentasse suas
novas relações de marketing. Os bons resultados do governo e o aumento gradativo
da popularidade Lula fizeram com que houvesse um reajuste político no arranjo
eleitoral de 2006.
22
Há uma migração de antigos opositores ou partidos que se posicionavam de forma
“neutra” para uma posição pró-Lula mais clara. Um exemplo disso é a o PMDB, que
passou a integrar a base de apoio do presidente ainda no primeiro mandato.
REINVENTANDO AS RELAÇÕES DE MARKETING
2006: um novo presidente
As relações políticas influenciam as estratégias de marketing. A imagem do
candidato em 2006 deveria foi desenhada de acordo com o novo contexto político.
Como já expresso, os resultados do governo, e tendo neste sentido o
desenvolvimento econômico e as políticas sociais (o que mais tarde Guido Mantega,
ministro da Fazenda chamou de nacional-desenvolvimentismo) a estratégia de
campanha construiu relações de marketing para criar o sentido de continuidade.
Como exemplo desta estratégia de construção da ideia de continuidade, podemos
citar o caso das eleições da Prefeitura de Belo Horizonte, em 2008, quando a
campanha focou o slogan “Continuar e melhorar, é isso que a gente quer”.
Figura 12 - Site de campanha de Márcio Lacerda
Fonte: Blog Reunião do Clube
A campanha de Lula utilizou em 2006 esta abordagem. A coordenação formulou um
contexto de marketing que dialogou com duas linhas: ser uma campanha com
temário popular e que trouxesse o sentimento de continuidade. Assim construiu-se
o slogan “Lula de novo, com a força do Povo”.
23
A figura 7 mostra a materialização desta idéia de campanha popular e de
continuidade. A abordagem, expressa na imagem do presidente é humanizada e o
coloca próximo ao povo. Retoma a lógica histórica de sua trajetória e o alinha com
as massas populares.
Figura 13 - Foto oficial da campanha
Fonte: PT
Em outra peça pode-se analisar uma construção estratégica que questiona a
capacidade de governo das candidaturas de oposição e reforça a ideia de
continuidade.
Figura 14 - Foto oficial da campanha
Fonte: PT
As estratégias de marketing trouxeram expressões de impacto para a campanha
como “quero”, “não troco”, “certo e duvidoso”, e polarizou a discussão eleitoral.
A campanha também enfatizou a experiência de governo de Lula. Esta condição
garantiu a sustentação do conceito popular de sua candidatura e estruturou as
relações que constituíram a base publicitária de sua campanha num arranjo que
24
articulou imagem pessoal, desempenho de governo e como decorrência, sentimento
de continuidade.
As políticas sociais e o seu impacto eleitoral
Pesquisas da FGV apontam que Bolsa Família foi responsável por 3% do
desempenho político-eleitoral de Lula em 2006. De acordo com A FGV5, na região
nordeste e norte o efeito das políticas sociais ficou acima dos índices de outras
regiões. Em Alagoas o desempenho eleitoral de Lula, em função das políticas de
transferências de renda foi o maior, de acordo coma entidade a influência do bolsaFamília representou um aumento de cerca de 8,17 pontos percentuais, sendo
seguido de Roraima (6,85%) e do Acre (6,53%).
O Ministério da Fazenda expôs em nota eletrônica matéria da revista Veja que
informa que embora o Programa Bolsa Família não tenha papel eleitoreiro, sua
influência sobre o voto é evidente:
“O Bolsa Família está longe de ser uma iniciativa meramente
eleitoreira, destinada unicamente a alavancar a popularidade do
governante, mas é inequívoco que tem enorme potencial eleitoral. Na
última pesquisa disponível, realizada pelo instituto Datafolha, o
presidente Lula aparecia com 39% de intenção de voto no eleitorado
em geral. Mas, entre os que recebem benefícios do programa ou
conhecem algum beneficiado, o apoio ao presidente dava considerável
salto de 9 pontos porcentuais, chegando assim a 48%” (Ministério da
Fazenda, 2006 apud Veja, 2006)
Peres (2006) afirma que o papel social da Bolsa-Família é imenso e que em função
desta característica, cria um exército de beneficiários. Logo, nesta análise, há uma
influência natural deste sobre o eleitor:
5
Disponível em < http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,efeito-eleitoral-do-bolsa-familia-superadesempenhoeconomico,409138,0.htm> acesso em 4 de jun. 2010.
25
“Com quase três anos de funcionamento e números superlativos, o
Bolsa Família transformou-se na grande conquista do governo Lula.
Neste ano, o programa consumirá 8,3 bilhões de reais, uma bolada de
impostos pagos pelos contribuintes que o governo transfere aos mais
pobres. A quantia equivale à metade de tudo que o governo pretende
investir em 2006 para construir estradas, hospitais ou açudes. Se
atingir a meta de atender 11,1 milhões de famílias até dezembro, o
Bolsa Família terá chegado a um exército de 44 milhões de pessoas, o
que corresponde à população da Espanha. Individualmente, para quem
recebe a ajuda, o Bolsa Família faz a diferença. Em média, o orçamento
familiar aumenta 21% com a entrada do dinheirinho repassado pelo
governo. Quando se compara o programa brasileiro de transferência
de renda com o de outros países, fica claro que aqui o esforço é mais
profundo.” (Ministério da Fazenda, apud Veja, 2006).
A Fundação Perseu Abramo afirma que existem relações que vão além da troca de
voto por Programas Sociais na relação de marketing estabelecida entre campanha e
eleitorado. Que o desempenho do governo foi o fator diferencial e que suas ações
de desenvolvimento social foram definidoras para a reeleição.
“Ainda assim, dado que o Bolsa-Família atingia apenas um quinto do
eleitorado e, mesmo entre esses beneficiários, um terço (no primeiro
turno) e um quarto (no segundo) optaram por não votar em Lula, fica
evidente que os programas sociais do governo federal – a despeito da
legitimidade de seu impacto eleitoral – são insuficientes para explicar a
reeleição do petista. As razões do voto em Lula, aferidas em respostas
espontâneas na véspera do primeiro turno, indicam a força de outras
medidas do governo. Embora a maioria justificasse seu voto por
aprovar os programas sociais ou pela perspectiva de sua continuidade
– com destaque para o Bolsa-Família (27%), também lembrado ou
26
confundido como Bolsa-Escola (20%), além do Vale-Gás (4%) –, a
escolha por Lula também era justificada pela diretriz de governo mais
ampla, de combate à pobreza (27%) e à fome (6%), e em virtude de
medidas econômicas, com referências ao barateamento da cesta
básica (7%), ao aumento do poder de compra (6%) e ao controle da
inflação (3%), ao aumento do salário mínimo (6%) e das
aposentadorias (4%), além da política de criação de empregos (12%) e
de melhorias na habitação, como o barateamento dos materiais de
construção (4%) e a construção de casas populares (3%), o programa
Luz para Todos, o ProUni e o avanço das políticas de cotas, a
construção de cisternas no Semi-Árido e a expansão do microcrédito,
entre outros.” (Fundação Perseu Abramo, 2006)
PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS PARA 2010
As eleições de 2010 terão o desdobramento de duas vertentes. A primeira, a
influência de Lula e a segunda, sua aprovação social. A possibilidade de
transferência de votos de Lula para Dilma é uma tendência real.
De acordo com CNT/Sensus (2010) a popularidade de lula chega a 83, pontos
percentuais, e a do seu governo, 76,1%. A pesquisa aponta, ainda, que a candidata
do PT com 41,6% das intenções de voto, dez pontos percentuais à frente de Serra,
que tem 31,6%. Marina aparece com 8,5%.
O aumento gradativo da popularidade de Dilma é também reflexo de sua própria
personalidade, mas principalmente pela atração que se criou em torno do seu nome
por ser a candidata de Lula.
Embora neste contexto, existam outros fatores que agreguem votos, percebe-se que
a sua candidatura tenta impactar o sentimento de continuidade, base da estratégia
de reeleição de Lula.
27
Figura 15 – Logomarca oficial da campanha de Dilma
Fonte: PT
É importante salientar que a imagem de Lula, conforme explicitado anteriormente
será provavelmente a baliza eleitoral. Dilma sem Lula não existe. Sua liderança nas
pesquisas eleitorais e o trabalho de marketing que vem sendo feito em torno do seu
nome tem como alicerce o Presidente.
É possível destacar que as novas tecnologias da informação, sobretudo a internet
terão papel crucia na presumível eleição de Dilma. Redes sociais e microblogs
parecem assumir a ponta da pré campanha da candidata do governo.
CONCLUSÃO
É possível concluir que as eleições de 2002 e 2006 tiveram características muito
diferentes. Na primeira, o foco estava na construção da idéia de mudança. Este
contexto encontrou eco na candidatura de Luís Inácio Lula da Silva. Na segunda
campanha, construiu-se o sentimento de continuidade, onde os resultados do
governo foram apontados para que a população construísse uma polarização quanto
ao processo eleitoral.
Evidentemente que as relações de imagem do candidato também se diferenciaram.
Enquanto em 2002 Lula era uma liderança sem experimentação no Executivo, em
2006 ele apresentou a população – e este foi seu principal objeto de marketing – os
resultados de sua gestão.
28
Verifica-se que a leitura e interpretação dos desejos da população estruturaram a
base de valores que nortearam as campanhas em 2002 e em 2006.
É possível afirmar também que planejamento e monitoramento de sua execução são
partes fundamentais da estratégia de o e marketing político. Para construir a imagem
bem sucedida de um candidato, tornando-o potencial vencedor no processo eleitoral
ou mesmo construir uma campanha que consiga capilarizar e difundir uma ideia, fazse necessário um elaborado planejamento. Independentemente das condições de
vitória do candidato, o ele torna-se ferramenta estratégica capital da campanha e é
imprescindível para o sucesso.
Verificou-se que as políticas sociais foram importantes para a consolidação das
ações do governo, mas não é possível aferir que foram responsáveis pela massiva
votação de Lula nos seguimentos mais pobres. Certamente que o macro
desempenho de seu governo, chamado ao final de 2009 de nacionaldesenvolvimentismo, foi o aporte principal para que o Brasil decidisse continuar
apostando no seu trabalho.
As relações de marketing buscaram potencializar as características naturais de Lula
tanto em 2002 quanto em 2006. Isto por ser uma liderança carismática, popular e
historicamente ligada aos trabalhadores.
Estes componentes deram o extrato que possibilitou a construção da imagem
pública de Lula.
Por fim, parece encerrado um capítulo triste da história brasileira e num parece
haver garantida a segurança institucional do estado de direito democrático, onde a
pluralidade e a diversidade de culturas num País de dimensões tão grandes estão
representadas no Congresso e no governo.
O lema do Governo Federal traz este posicionamento, talvez inspirado na trajetória
do presidente Lula e de tantos outros que têm uma história semelhante a dele: um
País de Todos.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa possibilitou-me ir mais a fundo na história e trajetória de Lula. O fascínio
que sua história traz e sentimento de esperança que ele encarna são incríveis.
Além disso, poder pesquisar tecnicamente como se estruturou sua campanha é uma
experiência enriquecedora para qualquer marketólogo. A compreensão dos
fenômenos incutidos nas campanhas de 2002 e 2006 dá subsídios para atuação me
qualquer cenário com qualquer produto. Ora se há produto mais difícil que se vender
que uma candidatura?
Do ponto de vista da cidadania, talvez, seja o maior ganho. Saber que nossas
escolhas são influenciadas e que uma leitura mais aprimorada das candidaturas são
necessárias norteiam uma nova forma de ver as campanhas e os objetivos de
mandatários. No fundo, o mais importante então, é contribuir com nossa formação e
com o futuro de todos.
Este é o grande aprendizado. E, penso ser este também o objetivo da ciência.
30
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. et. al. Dicionário de Política. 11 ed. Brasília: UnB. 1998.
ESTADÃO. Efeito eleitoral do Bolsa-Família supera desempenho econômico.
Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,efeito-eleitoral-do-bolsafamilia-supera-desempenho-economico,409138,0.htm>. Acesso em 8 jun. 2010.
KOTLER, Phillip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. 12ª ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall. 2006.
KOTLER, Phillip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. 12ª ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall. 2006.
LIMA, Marcelo O. Coutinho de. Marketing Eleitoral, 1ª ed. São Paulo: Ngarcia.
2002.
MOREIRA, Ardilhes. Custo de campanhas pode até dobrar, estimam políticos e
analistas.
Disponível
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<
http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-
2010/noticia/2010/06/custo-de-campanhas-pode-ate-dobrar-estimam-politicos-eanalistas.html>. Acesso em 5 jun. 2010.
OLIVERIA, Noelle. A construção da imagme de um presidente. Disponível em:
<http://jornalcampus.yawl.com.br/noticia.php?id=3531>. Acesso em 1 jun. 2010.
PERES,
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Lula.
Disponível
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<http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?cod=285748>.
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PRATA, José Araújo. O Brasil de Lula e o de FHC: um roteiro comparativo para a
disputa política -eleitoral plebiscitária de 2010. 1ª ed. Contagem: Bis. 2010.
31
VEJA.
A
força
eleitoral,
o
uso
eleitoreiro.
Disponível
em:
<http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?cod=286087>.
Acesso em 7 jun. 2010.
VENTURINI, Gustavo. Eleições: Construção da autonomia popular. Disponível
em:<http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoesanteriores/eleicoes-construcao-da-autonomia-popular>. Acesso em 6 jun. 2010.
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