Discurso proferido pelo Deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) na sessão plenária do dia 08/07/2003. Sr. Presidente, Sras. E Srs. Parlamentares, Uma das grandes discussões no setor agrícola brasileiro, responsável direto pelos números positivos da economia do país, se aproxima agora, necessariamente, de uma improrrogável definição. A polêmica sobre o plantio e a comercialização dos produtos geneticamente modificados precisa, de uma vez por todas, centrar-se exclusivamente em aspectos técnico-científicos e no grau de importância que a agricultura tem no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Dentre os aspectos que devem preponderar na tomada de uma posição objetiva sobre os produtos transgênicos se encontra a recente decisão dos países da União Européia em liberar a sua livre comercialização, desde que identificados por rótulos. Ao assim deliberar e com base em informações da área da saúde e de defesa do consumidor, o Parlamento Europeu entendeu que cabe ao cidadão, devidamente informado sobre a composição do produto, o direito sagrado de optar. Com esta decisão, as autoridades européias entenderam que não há elementos comprobatórios de qualquer risco à saúde da população com o consumo de alimentos produzidos com os avanços da pesquisa genética. Como o próprio Presidente da República já mencionou que agora em julho se inicia o "espetáculo do crescimento", seria oportuno, então, não contrariar o que os indicadores da economia brasileira demonstram. Pois se hoje as projeções oficiais de crescimento da economia giram em torno de 1,5% a 1,8% (o ministro Palocci chega se entusiasmar em 2%), isto se dá porque o desempenho do agronegócio é três vezes maior. Ou seja, sem os números extremamente positivos do setor primário, a economia brasileira estaria em situação alarmante. No primeiro semestre deste ano, o superávit da balança comercial, de R$ 10,398 bilhões, tem como grande responsável a decisiva participação dos produtos agrícolas nos R$ 33 bilhões exportados – não podendo ser ignorado o fato de que não estamos importando equipamentos industriais dada a recessão -. É preciso citar tão somente o crescimento de 150% nas exportações da soja em grão para termos a dimensão da participação do campo no esforço do país em avançar nos negócios internacionais. Nos últimos as anos a agricultura brasileira, além de superar a marca de 100 milhões de toneladas de grãos, tornou-se altamente competitiva no mercado externo, um mercado desigual pelos altos subsídios que os países da Europa e os Estados Unidos garantem ao setor. Este resultado de alta produtividade e competitividade no campo se dá, primeiro pelo arrojo e a confiança no país, demonstrada pelo setor; segundo, pelos significativos avanços da biotecnologia, após anos e anos de investimentos em pesquisa. Hoje temos a nossa agricultura reduzindo, ano a ano, o uso de pesticidas e outros produtos químicos de combate às pragas que comprometiam a qualidade e a produtividade, sem falar no risco à saúde, tanto na hora do manuseio, como no momento do consumo. Ao mesmo tempo, algumas pesquisas nos mostram que o uso de sementes transgênicas tem auxiliado na recuperação de áreas de terras já em avançado estágio de degradação. Ou seja, o agricultura brasileira emprega tecnologia de ponta, o que a torna mais competitiva no mercado externo, mesmo diante da desigual concorrência com a agricultura subsidiada de outros países. Portanto, aí está mais um paradigma que o atual governo precisa assimilar. Até o ano passado, por exemplo, o então candidato Lula dizia da necessidade do Brasil subsidiar a produção agrícola; agora, o presidente Lula critica, e com razão, os altos subsídios dos governos europeus e americanos. A decisão da União Européia é quase que um divisor de águas. Tanto o segmento que defende o uso dos produtos geneticamente transformados, como os grupos contrários, têm um caminho promissor pela frente. O Brasil precisa, com urgência, regulamentar esta matéria. O homem do campo precisa de tranqüilidade para produzir, e não pode ser surpreendido por eventual acusação de estar à margem da lei por querer produzir mais alimento, para melhorar a economia nacional. Com a regulamentação, os produtores tidos como ecologicamente corretos terão pela frente um nicho de mercado a ser explorado, a exemplo do que na Europa já está acontecendo.