1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram na América do Sul a norte do paralelo 40S no mês de agosto de 2013 O mês de agosto foi caracterizado pela presença dez frentes frias, neve, geada e enchentes. Também o leste do Nordeste foi atingindo por vários distúrbios ondulatórios de leste (DOL) que provocaram chuva forte no litoral entre SE e RN, e principalmente em PE e PB. A característica da estação foi confirmada pela presença de uma grande massa de ar seco na região central do Brasil, que ocasionou vários dias com umidade relativa do ar baixa no período da tarde em muitos municípios entre o Centro-Oeste, Sudeste e interior do Nordeste, variando entre o início e o final do mês. No primeiro dia do mês se formou a primeira onda frontal na Província de Buenos Aires, que até o fim do dia atuou entre o sul e oeste do RS até o noroeste da Argentina, durante a sua propagação provocou chuva fraca entre o Uruguai e a Província de Buenos Aires. No dia 02 se formou a segunda onda frontal, com a baixa pressão atuando pelo RS e a frente fria entre o norte da Argentina e chegando ao Paraguai até o fim do dia. Esse sistema provocou chuva forte no sul e sudoeste do RS. No dia 05 a terceira onda frontal se formou a leste de SC e a frente fria atuou de forma oceânica entre o litoral norte de SC e o litoral de SP. Esse sistema não provocou significativa entre SC e o PR, e em SP e RJ provocou chuva fraca/chuvisco na faixa litorânea. Ainda no dia 05 a quarta frente fria atuou na Província de Buenos Aires e chegou à noite no Uruguai e provocou apenas nebulosidade. No dia 06 um cavado na média troposfera e a presença de umidade nas camadas baixas contribuíram para chuva entre o norte do RS e SC, e em algumas localidades houve chuva forte. A quinta frente fria chegou pela manhã do dia 07 na Bahia Blanca e no dia 08 a noite atuou no até o litoral sul de SC e avançou até o Paraguai. Em sua passagem provocou chuva forte no sul e leste do Uruguai e no sul do RS. Entretanto, na retaguarda o ar frio polar avança para o norte da Argentina com a presença de uma alta pressão no oeste da Argentina e da circulação de um ciclone no Atlântico sudoeste, causando queda acentuada na temperatura. No dia 10 se formou a sexta onda frontal entre SC, oeste do PR e de MS até o leste da Bolívia, resultante da presença de um cavado em 500 hPa. Entre o norte e nordeste do RS e SC o acumulado de chuva passou de 100 mm em vários municípios. Com a entrada do ar frio houve temperaturas baixas nos dias seguintes (10 e 11) em MS e causando friagem em MT, RO e AC e muito frio em SP. No dia 12 pela manhã chegou a sétima frente fria na Bahia Blanca e até a noite atingiu as Províncias de Córdoba e Entre Rios e o oeste e leste do Uruguai. Entretanto, um cavado provocou chuva entre o Uruguai e o sul do RS. No dia 13 atingiu o RS, SC, sul e oeste do PR até o leste da Bolívia, e teve na retaguarda uma alta pressão de 1028 hPa no leste da Argentina e uma crista para o sul da Bolívia. Por isso houve queda de temperatura nessa grande área. No dia 14 atingiu SP, MS, sul e sudoeste de MT, sul de RO e do AC. Nesse dia houve queda de neve em alguns municípios do RS, de SC e do PR (vide tabela de casos significativos). No dia 15 a frente fria atingiu o sudoeste do AM, provocando friagem, e no dia 16 o litoral sul da BA. No dia 16 a oitava frente fria passou na Província de Buenos Aires e chegou até o sul do RS no dia 17, provocando apenas nebulosidade. No entanto, a alta pressão pós-frontal reforçou o ar frio nessa grande área. A nona frente fria passou rápida na Província de Buenos Aires entre a tarde do dia 19 e a madrugada do dia 20 com pouca nebulosidade. A décima frente fria teve origem de uma ciclogênese na Bahia Blanca no dia 21 à noite e se propagou pelo interior central e norte da Argentina e o RS no dia 22. Em seu deslocamento entre os dias 23 e 25 provocou chuva forte no RS e em SC, culminando em enchentes na serra gaúcha e região metropolitana de Porto Alegre. Em Gravataí-RS o acumulado de chuva chegou a 273 mm em 96 horas (23 a 26/08). Em torno de 6,9 mil famílias foram atingidas pela cheia dos rios. O ar frio e úmido foi bastante intenso provocando queda de neve, a maior dos últimos dezenove anos no RS, entre os campos de cima da serra, região serrana e planalto gaúcho, e também na serra e planalto sul de SC entre a segunda-feira (26) e a terça-feira (27). A entrada de uma forte massa de ar polar provocou mais um evento de friagem entre o MT, AC, RO e sul do AM e também geada em MS e nos três Estados da Região Sul nos dias 27 e 28, principalmente. Essa frente fria chegou no dia 29 no litoral sul da BA provocando chuva. Figura 1: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2013. Litoral. Figura 2: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2013. Interior. Figura 3: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2013. Central 1. Figura 4: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2013. Central 2. 2. Acompanhamento dos Ciclones Subtropicais e Extratropicais As Figuras 5a e 5b mostram a distribuição espacial dos principais ciclones observados sobre o oceano Atlântico, ao sul de 20°S, durante o mês de agosto de 2013. Durante este mês foi observado um total de 19 ciclones sobre a área de domínio, sendo 10 na primeira (Figura 5a) e 9 na segunda quinzena (Figura 5b). Nota-se que na primeira quinzena os ciclones atuaram sobre um setor de maior proximidade ao continente, sendo que o 3° e o 8° atuaram bem próximo a costa do RS provocando ventos mais intensos e agitação marítima. Na segunda quinzena a frequência de ciclones foi bem similar com apenas um ciclone a menos que na quinzena anterior. Na segunda quinzena o número de ciclones foi bem similar ao obsevado no primeiro período, com apenas 1 (um) ciclone a menos que no período anterior. Ressalta-se que neste segundo período os ciclones atuaram mais afastados do continente a exceção dos ciclones 4 e 5 que atuaram próximo a costa da Argentina. Figura 5a: Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a primeira quinzena do mês de agosto de 2013. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone (00 e 12 UTC). Figura 5b: Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a segunda quinzena do mês de agosto de 2013. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone (00 e 12 UTC). 3. Análise das Anomalias de Precipitação e Temperatura 3.1 Precipitação A Figura 6A mostra a distribuição espacial das anomalias mensal e quinzenal de precipitação para o mês de agosto de 2013. O destaque do mês (Fig 6A) foram as anomalias positivas de precipitação observadas no Sul do Brasil. Em algumas cidades, ao longo do mês, os volumes de chuva superaram, em até 100 mm, a climatologia para o período, sendo que as anomalias positivas nestas áreas foram observadas nas duas quinzenas (Fig 6B e Fig 6C) resultado da passagem dos transientes e de perturbações na média e alta troposfera. Anomalias positivas de precipitação também foram observadas no norte da Amazônia brasileira favorecida, neste caso, principalmente pela termodinâmica e pela difluência na alta troposfera e, na faixa leste da Região Nordeste do Brasil devido aos ventos anômalos de leste forçado, principalmente, pelo anticiclone que atuou ao longo do período na média e baixa troposfera. Chama a atenção às anomalias negativas em áreas do sul da Amazônia e do centrosul do Brasil indicando que as chuvas ficaram restritas a área específica entre o RS e de SC sinal de que os transientes que avançaram para latitudes baixas possuíam massa relativamente seca dificultando a condição de chuva sobre outras áreas do centro-sul. A) B) C) Figura 6: Anomalia de precipitação do mês de agosto de 2013 (A) e anomalias de precipitação quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). 3.2 Temperatura A Figura 7A mostra a distribuição espacial da anomalia de temperatura máxima para o mês de agosto de 2013. Nota-se que as anomalias positivas foram bem pontuais no centroleste do país, provavelmente favorecida pela atuação do anticiclone que dificultou a formação de nuvens de chuva sobre estas áreas, por outro lado, nota-se anomalia negativa sobre áreas do sul do Brasil, favorecidas pela grande quantidade de nuvens, chuvas anômalas e incursão de transientes, fato que se verifica ao longo das duas quinzenas do mês (Fig 7B e 7C) anomalias que chegaram a 4°C abaixo do normal para o período. De forma muito pontual nota-se anomalia negativa em áreas do Centro-oeste e no AC, talvez associada à incursão de sistemas frontais que ocasionou eventos de friagens no Norte e Centro-Oeste do Brasil. A) B) C) Figura 7: Anomalia de temperatura máxima do mês de agosto 2013 (A) e anomalias de temperatura máxima quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). Em relação às temperaturas mínimas, notam-se anomalias negativas predominando sobre o centro-sul do país ao longo, praticamente, de todo o período de agosto (Fig 8A) condição favorecida pela incursão de massa de ar frio até latitudes mais baixas. A incursão de ar frio e seco favoreceu o surgimento de anomalias negativas, inclusive, no norte de MG e de GO e sudoeste da BA principalmente na primeira quinzena (Fig 8B), por outro em áreas do Norte e do Nordeste, mesmo que de forma localizada, observa-se anomalia positiva da temperatura mínima (Fig 8C). A) B) C) Figura 8: Anomalia de temperatura máxima do mês de agosto 2013 (A) e anomalias de temperatura máxima quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). 4. Análise da Circulação Atmosférica 4.1- 250 hPa A Figura 9 mostra a anomalia do vento zonal e as linhas de corrente em 250 hPa para o mês de agosto de 2013. A circulação média mensal (Fig. 9A) mostra a atuação, mesmo que enfraquecida, dos jatos sobre áreas do Sul do Brasil, situação que reflete, principalmente, o campo médio da primeira quinzena (Fig 9B). Ao longo do mês percebe-se a atuação de um cavado que se estende do Pacífico até o Atlântico sul cruzando o continente pela Argentina. Este sistema contribuiu para o levantamento e advecção de vorticidade ciclônica que alimentaram, de certa forma, a instabilidade sobre áreas do Sul do Brasil. Na segunda quinzena do mês (Fig. 9C), percebe-se que o Jato atua de forma mais significativa mais a sul e sobre os oceanos, situação que indica que os transientes que atuaram neste segundo período devam ter características subtropicais. A norte de 20S, sobre o continente, percebe-se a atuação de uma crista, assim como, percebem-se anomalias negativas do vento zonal em 250 hPa bem como a atuação de um cavado de onda curta que se faz presente nos dois períodos, garantindo o levantamento e a convergência de umidade nas camadas mais baixas da troposfera em parte do leste do país. A) B) C) Figura 9: Linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 250 hPa para o mês de agosto de 2013 (A) e, Linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 250 hPa quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). 4.2- 500 hPa O campo de geopotencial em 500 hPa do mês de agosto (Figura 10A) mostra o padrão de circulação anticiclônico anomalamente positiva tanto sobre o Pacífico, onde a anomalia é mais significativa, quanto sobre o Atlântico. Nota-se também que a anomalia positiva se estende por sobre o centro-leste do país. Este comportamento, observado de forma geral ao longo de todo o período, foi mais intenso na primeira quinzena (Figura 10B). Nesta mesma quinzena observou-se a sul de 20°S sobre o continente a presença de um cavado anômalo, sistema que pode ter tido reflexo nas chuvas acima do normal em áreas do Sul do Brasil. Na segunda quinzena (Fig 10 C) as anomalias positivas e negativas estiveram presentes, porém, mais enfraquecida e deslocada para leste. A sul de 20°S nota-se o fluxo bastante zonal, predominantemente de oeste com cavados de ondas curtas embebidos propiciando assim instabilidade em áreas do Sul. A) B) C) Figura 10: Altura geopotencial e anomalia de geopotencial em 500 hPa para o mês de agosto de 2013 (A) e, Altura geopotencial e anomalia de geopotencial em 500 hPa quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). 4.3- 850 hPa O campo de linhas de corrente em 850 hPa e anomalia do vento meridional em 850 hPa para o mês de agosto (Fig 11A) mostram o reflexo do Anticiclones Subtropicais do Pacífico e do Atlântico Sul em superfície posicionados, aproximadamente, sobre suas posições climatológicas. Nota-se que este padrão de circulação foi bastante similar nas duas quinzenas estudadas (Fig 11B e 11C). Percebe-se também no campo mensal a atuação de um cavado invertido atuando próximo à costa da Região Nordeste do Brasil, sistema que foi observado na segunda quinzena do mês e que pode ter colaborado para o aumento da convergência de massa e para as chuvas anomalamente positiva em áreas da costa leste do Brasil. A) B) C) Figura 11: Linhas de corrente e anomalia da componente meridional do vento em 850 hPa para o mês de agosto de 2013 e, linhas de corrente e anomalia da componente meridional do vento em 850 hPa quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). Analisando o campo de linhas de corrente em 850 hPa e anomalia do vento zonal em 850 hPa para todo o mês de agosto (Fig 12A) percebe-se novamente o predomínio da circulação anticiclônica atuando entre o Pacífico e o Atlântico, onde se percebe um intenso fluxo de leste na porção norte do anticiclone sobre o Atlântico. Percebem-se, também no campo mensal, anomalias negativas da componente zonal do vento indicando ventos anômalos de quadrante leste condição que favorece a advecção de umidade e massa do Atlântico para a costa leste do Brasil. Na primeira quinzena (Fig 12B) as anomalias negativas ficaram restritas às proximidades da costa leste do Nordeste brasileiro e do ES. Na segunda quinzena (Fig 12C) os ventos de leste continuaram sobre a costa leste da Região Nordeste do Brasil, porém, com o gradiente mais enfraquecido. As anomalias do vento zonal foram deslocadas neste período para o centro-sul do Brasil, porém, o posicionamento do anticiclone não favoreceu o desenvolvimento de instabilidade sobre estas áreas. B) C) Figura 12: Linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 850 hPa para o mês de agosto de 2013 e, linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 850 hPa quinzenal no período de 1 a 15/08 (B) e de 16 a 31/08 (C). Elaborado pelo Meteorologista Olivio Bahia do Sacramento Neto Colaboradores: Luiz Kondraski de Souza e Camilla Correia