SINTESE SINÓTICA MENSAL AGOSTO DE 2011 1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram na América do Sul ao norte do paralelo 40S no mês de agosto de 2011 Este mês passaram oito sistemas frontais pelo país, a maioria delas causou chuva forte, principalmente no Sul do Brasil. A mais significativa foi a quinta onda frontal, com um anticiclone migratório pós-frontal bastante intenso. Dois destes sistemas causaram eventos de friagem. O mês de agosto de 2011 foi um dos meses mais chuvosos dos últimos tempos, especialmente na faixa leste do Estado de SC, do Planalto ao Litoral, onde a chuva foi o dobro e até o triplo do esperado, quebrando recordes de 24h e mensais em vários municípios. Neste mês ocorreram poucos dias consecutivos de sol entre 1 e 4 dias, dependendo da região do estado (Fonte: CIRAM). O início do mês foi marcando pelas chuvas que ocorreram no Paraná e no Vale do Ribeira em SP, onde a precipitação ocorrida no último dia de julho persistiu para o primeiro dia do mês de agosto, com valores que ultrapassaram mais de 100 mm em muitos municípios do Paraná e do sul de SP. Isto foi causado pela passagem de uma frente fria associada a um vórtice ciclônico em 500 hPa e a corrente de jato polar (ramo norte), que instabilizou mais essas áreas. Em consequência, milhares de pessoas ficaram com suas casas alagadas tanto no Paraná como no Vale do Ribeira. O Rio Ribeira de Iguape, no Vale do Ribeira transbordou em suas margens na região e a enchente desabrigou mais de 9 mil pessoas, além de causar prejuízos na agricultura e pecuária da região. A primeira onda frontal do mês se formou no interior do continente no dia 01, entre o MS e a Bolívia, em função da passagem de um cavado na média e alta troposfera e a presença de ar frio entre o norte da Argentina, Paraguai e sul da Bolívia. Associada a este sistema ocorreu uma ciclogênese no RS. Este sistema esteve acoplado ao sistema frontal comentado acima que atuou no primeiro dia do mês. O ramo frio da onda frontal atingiu no dia 02 o MT, RO e AC, além de avançar para SP, sul de GO e Triângulo Mineiro, caracterizando um fenômeno de friagem. No dia 04 esse sistema avançou mais para norte atingindo o sul do AM, o DF, leste de MG, o ES e o extremo sul da BA. Entre os dias 7 e 8 o acoplamento da entrada equatorial do Jato Subtropical (JST) e a saída do jato de Baixos Níveis (JBN) foi o padrão sinótico responsável por chuva e vento forte, além de queda de granizo em munícipios do RS, sul de SC e PR. A segunda onda frontal se formou no dia 08 entre o oeste do RS e o Paraguai, no dia 10 este sistema oscilou estacionário, quando uma ciclogênese ocorreu ao leste de SP e seu ramo frio atingiu os Estados de SP e RJ, com características subtropicais (gradiente de temperatura fraco). Este sistema seguiu pelo oceano até o sul da BA no dia 11. Em sua passagem pelo Sul do Brasil provocou fortes rajadas de vento, queda de granizo e acumulado de chuva significativo como 90,1mm em Florianópolis-SC. Também ocorreu ventos fortes no ES, que destelhou muitas casas no noroeste desse Estado. Entre os dias 10 e 19 a forte massa de ar seco atuou entre o Sudeste, CentroOeste, interior do Nordeste e sul da região Amazônica e causou baixos valores de umidade relativa do ar no período da tarde e elevação da temperatura. Em muitos municípios chegou a ser inferior a 20% por vários dias. No dia 12 a terceira frente fria atingiu a Bahia Blanca, na Argentina, e se deslocou até o sul e o oeste do RS no dia 13 e no dia 14 no litoral norte do RS e litoral sul de SC, provocou chuva com acumulados baixos em 24 horas. No dia 16 a quarta onda frontal se formou entre o Uruguai e o centro da Argentina, associada com uma nova ciclogênese no Atlântico, ao leste do Uruguai no fim do dia. No dia 17 atingiu o litoral sul de SC e o sul do Paraguai. Em sua passagem provocou temporais no RS, com acumulados de chuva significativos em 24 horas em vários municípios. No dia 19 a quinta onda frontal se formou entre o Uruguai e o norte da Argentina, foi a mais significativa do mês de agosto, pois trouxe uma forte massa de ar polar que avançou para norte atingindo o sudoeste do AM e o norte do Peru, caracterizando um episódio de friagem. No dia 21 atingiu o ES. No PR provocou chuva em torno de 100mm em alguns municípios, entre os dias 19 e 20. O ciclone extratropical que se formou provocou ondas fortes no litoral entre SC e o RJ, ocorreu ressaca no RJ, sendo dominante no Atlântico sudoeste. A alta pós-frontal que migrou do Pacífico juntamente com a circulação ciclônica no Atlântico conseguiram advectar ar bastante frio da Antártica para latitudes baixas do continente, chegando ao valor de 1029 hPa no norte do RS na noite do dia 21. Entre os dias 22 e 24 houve chuva de 101,2 mm em Maceió-AL, este valor corresponde quase a média climatológica de agosto que é de 115,3 mm. Esta chuva trouxe muitos transtornos e a morte de uma pessoa. O padrão sinótico associado a este evento foi a presença de um cavado de leste trouxe forte convergência de umidade para a região em baixos níveis. A sexta onda frontal passou rápido na Província de Buenos Aires no dia 25 e provocou nebulosidade e pouca chuva. A sétima onda frontal se formou no dia 25 no sul do RS e norte do Uruguai, se prolongou para o Paraguai e depois para o litoral e norte do PR, resultante da passagem de um cavado que cruzou os Andes no dia anterior. Os acumulados de chuva entre o RS e o PR não foram expressivos. A oitava onda frontal passou no dia 28 pelo RS e SC, vindo a causar pancadas de chuva forte e rajadas de vento no RS em seu processo de formação, na madrugada desse dia. Em Porto Alegre houve queda de árvores por causa das fortes rajadas de vento. Figura 1: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2011. Litoral Figura 2: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2011. Interior. Figura 3: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2011. Central 1. Figura 4: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de agosto de 2011. Central 2. 2. Acompanhamento dos Ciclones Subtropicais e Extratropicais As Figuras 5a e 5b mostram a distribuição espacial dos principais ciclones ocorridos sobre o oceano Atlântico durante o mês de agosto de 2011. Observaram-se 23 ciclones em todo o mês de agosto, sendo 14 eventos na primeira quizena e 9 na segunda quinzena do mês. No primeiro período (Figura 5a) nota-se que a maioria desses sistemas ficou concentrada em latitudes ao sul de 40S, aproximadamente. Exceto pelos ciclones de número 4 e 10, que atuaram em latitudes de 30S e 25S, respectivamente. O ciclone de número 4 se originou na costa nordeste do RS e favoreceu precipitação de neve em diversos munícipios das serras gaúcha e catarinense. Na segunda quinzena de agosto (Figura 5b) a maioria dos ciclones extratropicais se localizaram ao sul de 35S, exceto pelo ciclone de número 9, que se formou em 30S. Os gradientes de pressão associados aos ciclones de número 4 e 7 favoreceram fortes rajadas de vento no litoral do RS e em Porto Alegre, nos dias 20 e 28, respectivamente. Além disso, o ramo frontal do ciclone de número 9 favoreceu tempo severo em SP, SC e RS. Figura 5a – Acompanhamento dos ciclones ocorrido durante a primeira quinzena do mês de agosto de 2011. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone. Figura 5b – Acompanhamento dos ciclones ocorrido durante a segunda quinzena do mês de agosto de 2011. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone. 3. Análise das anomalias de precipitação e temperatura A Figura 6 (acima) mostra a distribuição espacial das anomalias de precipitação sobre o Brasil ao longo de agosto de 2011 e correspondente a cada quinzena do mês (Figura 6 abaixo). No geral, em todo o mês observam-se anomalias positivas de precipitação significativas entre o sul de SP e o norte do RS. Anomalias positivas menos expressivas entre o nordeste da Região Nordeste e parte do PA. Anomalias negativas de precipitação mais significativas no AM, AC, RR e entre o centro de PE e leste da BA. Tanto na primeira quinzena (Figura 6 esquerda), quanto na segunda quinzena (Figura 6 direita) observam-se anomalias positivas significativas entre o litoral sul de SP e parte do RS, sendo que na primeira quinzena esta anomalia se estendeu por uma área maior do Estado do RS. Entre o sul, centro e noroeste da BA observa-se um sinal fraco de chuvas acima do normal, enquanto que na segunda quinzena este comportamento se inverteu (chuva abaixo do normal). Já no nordeste deste estado a anomalia de chuva foi negativa durante todo o mês. No nordeste do Nordeste também houve uma inversão de sinal, na primeira quinzena a chuva ficou abaixo do normal, enquanto que na segunda quinzena choveu pouco mais do que o normal. Entre o PA, RO e oeste de MT houve uma mudança significativa no padrão de chuva, o primeiro período foi seco, e no segundo a precipitação ficou acima do normal. Figura 6: Anomalia de precipitação do mês de agosto de 2011. A Figura 7 (acima) mostra a distribuição espacial das anomalias de temperatura máxima para o mês de agosto de 2011. No geral, observa-se temperatura acima do normal em grande parte do país em todo o mês, principalmente no interior, onde as anomalias são mais intensas. Este comportamento está associado a atuação do anticiclone dinâmico que atuou na maioria dos dias deste mês de agosto. A atuação deste sistema favorece o movimento subsidente e inibe a formação de nebulosidade significativa, com isto a radiação solar que chega à superfície terrestre é maior, o que favorece o aumento da temperatura. Além disso, a atuação deste sistema favorece o aquecimento por compressão adiabática, um segundo fator que favorece a elevação da temperatura. Apenas entre o sul do PR e o RS se observam anomalias negativas de temperatura máxima, associada a passagem de sistemas frontais ou a condição de chuva em parte da Região Sul do Brasil, principalmente na segunda quinzena, quando estas anomalias são mais abrangentes e significativas. Figura 7: Anomalia de temperatura máxima do mês de agosto de 2011. A Figura 8 (acima) mostra a distribuição espacial das anomalias de temperatura mínima para o mês de agosto de 2011. Nota-se um comportamento diferente das anomalias de temperatura mínima entre a primeira quinzena (Figura 8 esquerda) e a segunda quinzena (Figura 8 direita), principalmente no centro-sul do país. Na primeira quinzena as anomalias foram negativas e na segunda, no geral foi positiva, exceto pelo RS onde as anomalias foram negativas. Nas demais áreas do país, no geral as anomalias foram positivas, sendo que na segunda quinzena estas anomalias foram mais significativas do que na primeira. Figura 8: Anomalia de temperatura mínima do mês de agosto de 2011. 4. Análise da Circulação Atmosférica 4.1 250 hPa A circulação atmosférica predominante do mês de agosto (Figura 9 acima) mostra a presença de uma circulação anticiclônica no centro-norte do continente, em virtude disto observa-se uma anomalia positiva dos ventos de oeste ao sul deste sistema, o que indica a intensificação da corrente de jato no centro-sul do Brasil e no norte da Argentina. Na primeira quinzena (Figura 9 esquerda) o centro anticiclônico está posicionado bem a leste e no continente atua a crista, por isso esta intensificação dos ventos de oeste localiza-se principalmente no Atlântico. Na segunda quinzena (Figura 9 direita) o centro anticiclônico está localizado sobre o norte do continente e a intensificação dos ventos de oeste é mais abrangente e significativa. Associado a atuação do anticiclone na segunda quinzena também tem-se anomalias negativas(ventos de leste) no norte do continente, ou seja, uma intensificação dos ventos alíseos neste período. No oceano Pacífico nota-se a presença de um cavado, porém mais amplificado na segunda quinzena. Este cavado reflete a atuação de sistemas ciclônicos que cruzam a Cordilheira dos Andes e favorecem condição de chuva, principalmente no centro-sul do país, e certas vezes, a formação de ondas frontais na região ciclogenética localizada entre o RS, leste da Argentina, Uruguai e Atlântico adjacente. Na primeira quinzena a propagação de cavados do Pacífico favoreceu a formação das duas primeiras ondas frontais, com a ciclogênese associada ao leste de SP, mais ao norte da região ciclogenética comentada (fora do comum para a época do ano). Na segunda quinzena a propagação destes cavados do Pacífico favoreceu a formação de uma onda frontal (número 9). Também neste período observa-se a presença de um cavado no sul do continente, representativo do cavado que dá suporte as frentes frias clássicas, com ar frio mais significativo que atuaram em sua maioria no segundo período. Figura 9: Linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 250 hPa durante agosto de 2011. 4.2 500 hPa A análise do campo médio mensal de altura geopotencial em 500 hPa (Figura 10 acima) mostra a presença da região mais baroclínica, com maior gradiente de altura geopotencial ao sul de 20S, ainda condizente com a época do ano, quando os sistemas ainda se encontram mais ao norte, acompanhando o movimento aparente do Sol. Notam-se anomalias positivas de geopotencial bastante significativas ao sul de 50S, associadas a presença de uma crista. Também notam-se anomalias positivas de geopotencial menos expressivas, principalmente na segunda quinzena, associadas aos anticiclones subtropicais, mais intensos no segundo período. Nota-se o reflexo dos cavados em altitude no oceano Pacífico, porém mais pronunciado na segunda quinzena, como em altitude. Estes cavados, como citado anteriormente, favoreceram a formação de ondas frontais no centro-sul do país, duas na primeira quinzena e uma na segunda quinzena. Os demais sistemas frontais foram frentes frias clássicas, com ar frio mais significativo. Na primeira quinzena (Figura 10 esquerda) observa-se a presença de um cavado no oceano Atlântico, acompanhado com anomalias negativas de geopotencial, indicativo do ar frio favorecido pela atuação dos sistemas frontais com deslocamento mais zonal, sem atuar no interior do continente, exceto pelo sistema frontal que acarretou em friagem. Além disso, observam-se anomalias positivas de geopotencial sobre o centro-norte do Brasil em todo o mês, porém de forma mais significativa no segundo período, associadas a presença do anticiclone dinâmico, como comentado anteriormente. Figura 10: Altura e anomalia de altura geopotencial em 500 hPa de agosto de 2011. 4.3 - superfície A análise da pressão ao nível médio do mar mostra a presença das Altas Subtropicais do Atlântico e do Pacífico Sul (Figura 11 acima) mais próximas do continente, ainda de costume para a época do ano. Entretanto, na primeira quinzena a ASAS encontra-se um pouco mais afastada do continente, devido a presença de uma área mais baroclínica ao sul de 30S, que perturbou a circulação do anticiclone. Na segunda quinzena também pode-se notar a presença de um sistema baroclínico ao sul de 30S, porém um pouco mais deslocado para leste e não perturbou tanto a circulação da ASAS. Estes cavados refletem a presença de sistemas frontais que atuaram no mês de agosto no Brasil, três sistemas no primeiro período e cinco no segundo. Na segunda quinzena notam-se os anticiclones subtropicais mais intensos, condinzente com o campo de nível médio, onde se observam anomalias positivas de altura geopotencial. Além disso, observam-se anomalias positivas de pressão entre o sul do continente e o Estreito de Drake, associada a presença de uma crista, como é observado no campo de nível médio. Figura 11: Pressão ao nível médio do mar e anomalia de pressão de agosto de 2011. 4.4 - 850 hPa A análise da circulação atmosférica em 850 hPa (Figura 12 acima) mostra a atuação do anticiclone centrado no oceano Atlântico, reflexo do anticiclone subtropical. Este sistema favorece o escoamento de sudeste na costa da Região Nordeste, porém as anomalias positivas do vento meridional (ventos de sul) não são tão significativas como no mês passado. Este padrão comentado reflete um transporte de umidade pouco eficiente, e por isso notam-se anomalias negativas de precipitação em grande parte deste setor comentado. Exceto no nordeste da Região Nordeste na segunda quinzena, onde notam-se anomalias positivas do vento meridional mais significativas, que favoreceriam um transporte de umidade mais intenso, e consequentemente com precipitação levemente acima do normal. Além disso, a circulação associada a este anticiclone gera o escoamento de norte em direção a Bacia do Prata, configurando em alguns episódios o Jato de Baixos Níveis (JBN). Assim, este escoamento favorece a advecção de ar relativamente mais quente, e agora um pouco mais úmido, para latitudes altas, configurando o suporte termodinâmico para a formação de instabilidade na Bacia do Prata e parte da Região Sul do Brasil. Muitas vezes este padrão termodinâmico acopla-se a entrada equatorial da corrente de jato, que encontra-se intensificada todo o mês, mas principalmente na segunda quinzena. Em outros episódios, este padrão se acopla a sistemas frontais transientes, que também formam instabilidade significativa. Figura 12 – Linhas de corrente e anomalia do vento meridional em 850 hPa de agosto de 2011. Caroline Vidal Ferreira da Guia Meteorologista do Grupo de Previsão de Tempo (GPT) Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)