SÍNTESE SINÓTICA MENSAL SETEMBRO DE 2012 1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram na América do Sul ao norte do paralelo 40°S no mês de setembro de 2012 Nesse mês o que prevaleceu como destaque foi um contraste: primeiro a presença da forte massa de ar seco que deixou grande parte do Brasil, principalmente na região central, com baixa umidade relativa do ar no período da tarde e forte calor nas primeiras três semanas; e segundo a forte massa de ar frio que declinou a temperatura no centro e sul do Brasil, além de parte do AC e RO, caracterizando um evento de friagem. Inclusive, houve queda de neve entre o RS e SC, além de geada, a partir do dia 23. As frentes frias que atuaram este mês foram oito, sendo que a última (já comentada acima) conseguiu avançar para o interior do continente, chegando ao AC. Em relação à massa de ar seco, também houve dezenas de milhares de focos de incêndio, principalmente no Centro-Oeste. Outro sistema que merece destaque foi a formação de um ciclone extratropical no Uruguai no dia 19, que provocou forte instabilidade, com rajadas de vento de até 140 Km/h entre a Argentina, Uruguai e parte do Sul do Brasil, caracterizando o fenômeno de udestada entre o Uruguai e a Argentina. A primeira frente fria atuou no dia 02 na Província de Buenos Aires e se deslocou para o RS a noite e prosseguiu para o oceano no dia 03. A alta pressão pós-frontal atingiu valor de 1033 hPa a leste da Bahia Blanca e avançou com uma crista para o litoral do PR. Na madrugada do dia 04 essa massa de ar frio provocou temperatura de 2,4°C em Bom Jardim da Serra-SC (Morro da Igreja), com sensação térmica de -14°C por causa dos ventos de 46,4 km/h. Segundo informação da Climaterra houve formação de geada na cidade. No dia 05 atuou uma nova frente fria, a segunda do mês, na Província de Buenos Aires, e logo se deslocou para o oceano. Entretanto, mais ao norte, atuou um cavado em superfície, que causou nebulosidade e chuva entre as Províncias de Entre Rios e Resistência da Argentina e o Uruguai. No dia 07 se formou a terceira onda frontal com característica subtropical. Seu centro estava na bacia do Rio de La Plata e a frente fria avançou durante a tarde e a noite pelo centro e sul do RS, com poucos acumulados de chuva, mas trouxe ventania para várias cidades do RS entre as missões e o litoral sul. No dia 08 a quarta frente fria avançou pelo oceano, a leste da Argentina, e a tarde organizou-se entre o Uruguai e o sul do RS, provocou queda de temperatura e chuva fraca entre o Uruguai e o sul e sudoeste do RS. No dia seguinte avançou para nordeste até o litoral sul de SC com chuva e queda de temperatura, pois teve o fortalecimento da entrada da alta pressão pós-frontal no norte da Patagônia Argentina. Esse sistema ficou estacionário entre o oeste e litoral norte do RS nos dias 09 e 10 e enfraqueceu no continente no dia 11. Entre os dias 09 e 11 houve acumulado de chuva em torno de 100 mm em 48h em alguns municípios do sul de SC. Um cavado influenciou o tempo no sul de SP, com chuva fraca e aumento da umidade do ar no dia 11. No dia 12 um cavado de onda curta em 500 hPa causou chuva, ventos fortes e descargas elétricas no nordeste de SC, inclusive com queda de granizo na região de Joinville. No dia 15 a quinta frente fria passou pela Província de Buenos Aires e no dia 16 se afastou para o Atlântico na altura no leste do Uruguai. Ao mesmo tempo nesse período começou a se intensificar a baixa do Chaco, que organizou um canal de umidade do norte da Argentina ao Uruguai e juntamente com passagem de um cavado em 500 hPa pelos Andes, provocaram temporais no sudoeste, sudeste/leste, litoral e sul do RS do dia 15 ao 18. No dia 18 houve chuva forte e queda de granizo em algumas áreas do RS. No dia 18 a noite começou a se formar no Uruguai um ciclone extratropical, que estendeu o ramo frontal para o norte da Argentina e Paraguai no fim do dia. No dia 19 se formou a sexta onda frontal, com a frente fria no sul e leste da Bolívia e avançando para o litoral da Região Sul no fim do dia. Na sua passagem pelo RS, SC e PR provocou chuva forte e queda de granizo, além de rajadas de vento forte. O sul do RS teve a presença de ventos fortes, devido a proximidade do centro do ciclone que estava no Uruguai, houve ventos de mais de 110 km/h e constantes entre 40-60 km/h. No dia 20 a frente fria chegou a SP e sul de MT, vindo a se deslocar para o oceano no fim do dia até as proximidades do litoral do RJ. Ressalta-se que o centro da baixa pressão atingiu valor de 983 hPa a leste do Uruguai na noite do dia 19 e no dia 20 atingiu seu ápice de 975 hPa em 43°S/43°W. No dia 21 um cavado provocou temporais entre o PR, MS e SP com ventos fortes e queda de granizo isolado. No fim desse dia a sétima onda frontal se formou em SP e leste de MS, contribuindo para a instabilidade em SP. O cavado frontal contribuiu para as pancadas de chuva entre o sul e o oeste de MG, GO, DF, MT e RO. A oitava frente fria do mês foi a mais intensa, pois trouxe na retaguarda uma forte massa de ar polar, que provocou queda acentuada de temperatura no Sul, MS e SP, além de provocar geada branca e negra entre SC e o PR. Posteriormente, um segundo cavado reforçou o ar frio e junto ao escoamento de sul em baixos níveis favoreceu queda de neve entre os campos de cima da Serra do RS e o planalto sul e serra de SC entre os dias 25 e 26. Ao avançar para latitudes menores, este sistema provocou chuva forte com acumulados significativos, além da queda de temperatura acentuada, principalmente entre o RJ e SP. Figura 1: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de setembro de 2012. Litoral Figura 2: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de setembro de 2012. Interior Figura 3: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de setembro de 2012. Central 1 Figura 4: Acompanhamento das frentes frias ao longo do mês de setembro de 2012. Central 2 2. Acompanhamento dos Ciclones Subtropicais e Extratropicais As figuras 5a e 5b mostram a distribuição espacial dos principais ciclones observados ao sul de 20°S durante o mês de setembro de 2012. Este mês foram observados 21 ciclones sobre o domínio, restritos ao sul de 30°S aproximadamente, que se formaram principalmente no oceano. Na primeira quinzena (Figura 5a) apenas o ciclone de número 7 se originou na costa entre o Uruguai e a Província de Buenos Aires. O ciclone 1 se formou no oceano no final do mês de agosto e persistiu o mês de setembro. Na segunda quinzena (Figura 5b) os ciclones 3 e 10 se formaram sobre o continente, no Uruguai e no extremo sul do continente, respectivamente. O ciclone 3 foi o responsável por muitos danos entre a Argentina, Uruguai e RS, devido aos ventos e rajadas muito fortes, que caracterizou o evento sudestada, além dos volumes de chuva significativos. O ciclone 8 esteve associado ao sistema frontal que avançou para latitudes menores e provocou chuva forte em parte do centro-sul do Brasil. A massa de ar na sua retaguarda provocou o fenômeno de friagem, queda acentuada de temperatura, geada em pontos de serra do Sul do Brasil e MS. Posteriormente, um segundo pulso após esta passagem reforçou o ar frio e colaborou também para queda de neve na serra gaúcha-catarinense. Figura 5a: Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a primeira quinzena do mês de setembro de 2012. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone (00 e 12Z). Figura 5b: Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a segunda quinzena do mês de setembro de 2012. Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone (00 e 12Z). 3. Análise das Anomalias de Precipitação e Temperatura 3.1 Precipitação A Figura 6 mostra a distribuição espacial da anomalia mensal e quinzenal de precipitação para o mês de setembro de 2012. Na primeira quinzena (Figura 6 esquerda) observa-se um comportamento similar ao mês anterior (agosto), com anomalias negativas de precipitação em grande parte do país, porém com um sinal mais fraco. Já na segunda quinzena (Figura 6 direita) nota-se um mudança no padrão, com anomalias positivas de precipitação em algumas áreas do interior do país, do RS, RJ e de forma mais pontual no TO. Sobre o Nordeste do Brasil, no geral, a precipitação ficou levemente abaixo da normal. Figura 6: Anomalia de precipitação do mês de setembro de 2012. 3.2 Temperatura A figura abaixo mostra a distribuição espacial da anomalia de temperatura máxima para o mês de setembro de 2012 e para as duas quinzenas. Nota-se claramente a mudança de padrão da primeira para a segunda quinzena (Figuras 7 esquerda e direita, respectivamente). Na primeira quinzena observam-se valores positivos de anomalia de temperatura máxima, principalmente sobre o centro-sul do Brasil. Na segunda quinzena notam-se apenas alguns valores pontuais de anomalia positiva de temperatura máxima no centro-sul do Brasil menos significativos, porém no geral a temperatura máxima ficou dentrou da normal. Já na Região Nordeste do país notam-se ainda anomalias positivas de temperatura máxima, inclusive mais significativas na segunda quinzena em relação à primeira quinzena. Sobre parte do interior do Brasil observa-se uma diminuição significativa das anomalis positivas de temperatura máxima. Este comportamento está associado ao aumento da chuva neste setor, que de certa forma faz com que a temperatura máxima diminua. Figura 7: Anomalia de temperatura máxima do mês de setembro 2012. A figura abaixo mostra a distribuição espacial da anomalia de temperatura mínima para o mês de setembro de 2012. O importante de se destacar nestas figuras é a mudança de padrão no centro-sul do Brasil da primeira para a segunda quinzena (Figuras 7 esquerda e direita, respectivamente). Na primeira quinzena observam-se anomalias positivas significativas desta variável. Já na segunda quinzena, no geral os valores ficaram dentro do normal, porém com alguns pontos de anomalia negativa, que refletem a atuação dos sistemas frontais para latitudes mais baixas. Sobre o interior do Brasil as anomalias, no geral, são positivas na segunda quinzena, que refletem o aumento de precipitação neste setor. Figura 8: Anomalia de temperatura mínima do mês de setembro de 2012. 4. Análise da Circulação Atmosférica 4.1- 250 hPa Para a circulação em altitude, o destaque é para a atuação da crista sobre o interior e centro-sul do Brasil na primeira quinzena (Figura 9 esquerda abaixo), que favoreceu o enfraquecimento dos ventos de oeste e a atuação da corrente de jato (anomalia negativa do vento zonal). Este padrão inbiu a instabilidade nestes setores, onde se observa os valores negativos de anomalia de precipitação. Neste período nota-se a atuação do jato no setor mais ao sul, onde observam-se as anomalias positivas dos ventos de oeste. Na segunda quinzena (Figura 9 direita abaixo) o padrão de circulação se modifica, onde se nota curvatura ciclônica no centro-sul do Brasil, que reflete a atuação das ondas que atuaram em latitudes mais baixas neste período, além dos ventos de oeste dentro da normal, indicando a atuação da corrente de jato como suporte também para os sistemas frontais. Figura 9: Linhas de corrente e anomalia da componente zonal do vento em 250 hPa para o mês de setembro de 2012. 4.2- 500 hPa No campo de 500 hPa também se nota uma mudança de padrão entre a primeira e a segunda quinzena. Na primeira quinzena (Figura abaixo esquerda)observa-se o reflexo da crista em altitude, com uma crista anomalamente intensa sobre o centro-sul do continente neste nível. Este sistema é o responsável pela anomalia de precipitação, uma vez que favorece o movimento subsidente do ar, que por sua vez gera o entranhamento de ar mais seco para as camadas mais baixas e foi frequente na primeira quinzena por refletir neste campo médio. Na segunda quinzena observa-se uma curvatura levemente ciclônica sobre parte do centro-sul do Brasil, que reflete a atuação dos sistemas transientes, que conseguiram avançar para latitudes mais baixas neste período. Além disso, observa-se anomalia negativa de geopotencial, que caracteriza a entrada de ar relativamente mais frio associada a passagem dos cavados frontais. Figura 10: Altura geopotencial e anomalia de geopotencial em 500 hPa para o mês de setembro de 2012. 4.3- 850 hPa O campo de linhas de corrente em 850 hPa para o mês de setembro (Figura 11 acima) mostra a influência do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) sobre boa parte do Brasil. Em parte do Nordeste, a ASAS gera ventos de quadrante sul, porém apesar de se observar estes ventos ainda mais intensos, as anomalias não são tão significativas quanto no mês anterior. Inclusive, também nota-se uma diminuição deste padrão entre a primeira e a segunda quinzena. Este comportamento indica um transporte de umidade menos eficiente para parte desta região do Brasil, o que favorece uma diminuição da precipitação. O escoamento associado a ASAS é canalizado pela presença dos Andes em direção ao centro-sul do Brasil, norte da Argentina e Uruguai, caracterizando o Jato de Baixos Níveis (JBN). Nestes setores observam-se anomalias negativas do vento meridional na primeira quinzena (Figura 11 abaixo esquerda), porém apenas a partir da Bolívia, ou seja, estes ventos foram responsáveis pelo transporte de calor principalmente, pois saem de uma região mais quente e seca. Este padrão também explica as anomalias positivas de temperatura na primeira quinzena sobre o setor comentado. Na segunda quinzena (Figura 11 abaixo direita) observam-se as anomalias negativas do vento meridional sobre uma área diferente, entre o sul da Região Norte e o interior do Brasil. Figura 11: Linhas de corrente e anomalia da componente meridional do vento em 850 hPa para o mês de setembro de 2012. 4.4- Superfície: O importante de se destacar no campo de superfície (Figura 12) é o afastamento da ASAS para o oceano da primeira para a segunda quinzena. Desta forma, também nota-se anomalias positivas de pressão menos significativas na segunda quinzena em relação a primeira. Isto indica que naprimeira quinzena, com a ASA atuante mais para o continente e mais intensa, inibiu a formação de instabilidade na maior parte do período. Já na segunda quinzena, observa-se o afastamento para o oceano da ASAS e sua menor intensidade. Este comportamento evidencia a mudança de estação, quando a ASAS se desintensifica e devido ao aquecimento continental se afasta para o oceano, que por sua vez favorece o aumento da precipitação em parte do interior do Brasil. Entretanto, como visto no nível de 850 hPa este sistema ainda influencia o escoamento em baixos níveis da atmosfera. Mas sua circulação começa a se originar também da Zona de Convergência Intertropical, que por sua vez carrega mais umidade para boa parte do Brasil, mas ainda não pode ser visto no comportamento deste mês de setembro. Figura 12: Pressão ao nível médio do mar (PNMM) e anomalia de pressão para o mês de setembro de 2012. Elaborado por : Luiz Kondraski e Caroline Vidal Colaboradores: Laís Queiros e Camila Correa