valdirene machado amorim

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA
CENTRO DE EDUCAÇÃO – CEDUC
CURSO DE PSICOLOGIA
VALDIRENE MACHADO DE AMORIM
A DEPRESSÃO NA ATUALIDADE: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Boa Vista, RR
2014
VALDIRENE MACHADO DE AMORIM
A DEPRESSÃO NA ATUALIDADE: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Monografia apresentada como pré-requisito
para Conclusão do Curso de Graduação em
Psicologia
do
Centro
de
Educação
da
Universidade Federal de Roraima.
Orientadora: Profa Dra. Joelma Ana Gutiérrez
Espíndula
Boa Vista, RR
2014
VALDIRENE MACHADO DE AMORIM
A DEPRESSÃO NA ATUALIDADE: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Monografia apresentada como pré-requisito
para Conclusão de Curso de Psicologia da
Universidade Federal de Roraima. Defendida
em 21 de janeiro de 2014 e avaliada pela
seguinte banca examinadora:
____________________________________
Profª Drª Joelma Ana Gutiérrez Espíndula
Orientadora / Curso de Psicologia – UFRR
___________________________________
Prof. Dr. Calvino Camargo
Curso de Medicina – UFRR
___________________________________
Profª Drª Pamela Gil
Curso de Psicologia - UFRR
À minha amada mãe, Maria
Helena, por todo amor,
dedicação e, principalmente,
por sempre acreditar nos meus
sonhos. Devo a você tudo que
sou hoje.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por manter minha fé inabalável diante das
adversidades que surgiram no caminho, sempre soube que eu não estava só nessa
jornada.
À minha família, em especial aos meus pais, Maria Helena e José Gomes,
pelo apoio e por acreditarem nos meus sonhos, sempre me dando coragem para
seguir em frente em busca da concretização de mais esse sonho meu, que também
é de vocês. Aos meus irmãos, sobrinhos, tios e cunhadas. Obrigada de coração!
À minha querida orientadora, Joelma Ana Gutiérrez Espíndula, pelo grandioso
auxílio nesta caminhada e brilhante orientação, sempre disposta a me ajudar e
colaborar com meu crescimento acadêmico e pessoal. Mesmo nos momentos em
que eu me via sem direção, pude receber de você um apoio sem igual, nunca vou
esquecer. Faltam palavras para exprimir tamanha gratidão e admiração.
Aos amigos de curso: Gleyciane, Pâmela, Jesucina, Lia, Andrea, Marina,
Adenilda, Paulo Henrique, Rafaela, Ingrid, Liliane, Idemar, Camila, Gabriela, Priscila,
Rodrigo e Sérgio Xavier, por seguirmos nesta jornada, mesmo quando as
dificuldades surgiam. Pude compreender o valor da amizade e companheirismo.
Aos meus professores inspiradores: Pamela Gil, Joelma Espíndula, Calvino
Camargo, Juliane Dominoni, Gustavo de Carvalho, Rosana Luz, Érica Mota, Soraia
Ramirez e Adriana Cardoso pelos grandes ensinamentos que objetivaram a minha
realização profissional.
Um agradecimento mais que especial ao meu amigo-irmão Jânio Amorim, por
segurar minha mão e caminhar lado a lado comigo neste desafio chamado:
Monografia. Obrigada por me apoiar e compreender meus momentos de desespero,
que intensificaram no último ano de faculdade. Te amo!
Edson Sguario, você foi essencial nos momentos em que tudo pareceu
estagnar. Agradeço por cada momento de aprendizado, por cada palavra de
conforto, pelo abraço quando as lágrimas caíam. Obrigada pela sua amizade.
Ás minhas amigas parceiras: Gilce Brito, Cláudia Viana, Carla Sousa, Débora
Viana e Nonata Nascimento, por entenderem minhas ausências e me darem apoio
quando minha única prioridade era minha monografia.
“Preocupamo-nos com a
destruição provocada pelos
outros, mas evitamos falar
sobre autodestruição”.
Edwin Schneidman
RESUMO
A depressão é considerada um transtorno afetivo que vem se manifestando na
humanidade ao longo de sua história, apresentando índices alarmantes de pessoas
diagnosticadas com a doença, estas, por sua vez, vivenciam sentimentos de tristeza,
desesperança, pessimismo, baixa autoestima e insônia, cujos sentimentos surgem
com frequência e podem combinar-se entre si. Através de estudos científicos
relacionados à temática, teóricos tem o objetivo geral em compreender e discutir o
significado do fenômeno da depressão sob a ótica da psiquiatria compreensiva na
contemporaneidade, e, consonantemente, conhecer o processo histórico de saúde e
doença na literatura, o modo de ser no mundo da pessoa acometida pela depressão
e, por fim, identificar a ocorrência da depressão nas diferentes fases do
desenvolvimento humano. A partir dessas assertivas compreende-se que a
depressão tornou-se um problema de saúde pública, a qual já atinge um número
significativo de pessoas ao redor do mundo e, que suas consequências trazem
inúmeros prejuízos ao indivíduo portador. Nessa perspectiva a referida pesquisa foi
construída com base nas seguintes questões norteadoras: Como ocorre o processo
histórico saúde e doença? Como a literatura aborda a depressão, suas estratégias
diagnósticas, tipos tratamento e as diferentes fases da depressão no
desenvolvimento humano? Como ocorre a experiência de pessoas com depressão
na contemporaneidade? Diante disso, o presente estudo é uma pesquisa teóricobibliográfica, a qual utiliza o método quantitativo para selecionar os materiais
encontrados e o método qualitativo para fazer a análise dos mesmos. Os resultados
do estudo estão divididos em seis unidades de significados: Breve história do
pensamento da psicopatologia; Diagnóstico do transtorno da depressão; tratamento
da depressão; Depressão nas diferentes etapas do desenvolvimento humano;
Vivências e percepções dos pacientes com depressão na contemporaneidade.
Através das unidades, é possível acrescentar que a psiquiatria tradicional ainda, nos
dias atuais se faz presente, com o tratamento farmacológico, porém, aliado à
psicoterapia, que utiliza a abordagem fenomenológica, trará mais benefícios ao
paciente, tornando-o também responsável pela sua melhora. O mergulho neste
universo possibilitou-me conhecer a depressão, tanto no seu diagnóstico como no
seu tratamento com diversos caminhos para o seu tratamento. Como também fez
com que eu acreditasse na busca de uma psicologia clínica que visem o diálogo
compreensivo para atender às necessidades emocionais dos pacientes que
apresentam tal quadro clínico.
Palavras-chave: psicopatologia compreensiva; fenomenologia, transtornos mentais,
depressão.
ABSTRACT
Depression is considered an affective disorder that has manifested in humanity
throughout its history , with alarming rates of people diagnosed with the disease, they
,in turn , experience feelings of sadness , hopelessness, pessimism, low self-esteem
and insomnia, which feelings often arise and may combine with each other. Through
scientific studies related to the theme, theorists have the overall goal to understand
and discuss the significance of the phenomenon of depression from the perspective
of understanding in contemporary psychiatry, and consonantemente, knowing the
historical process of health and disease in the literature, the mode the person in the
world to be affected by the depression and, finally, to identify the occurrence of
depression in various stages of human development. From these assertions it is
understood that depression has become a public health problem which has already
reached a significant number of people around the world and that its consequences
bring numerous losses to the individual wearer. From this perspective such research
was built on the following guiding questions: How the historical process health and
disease occur? As the literature discusses depression, their diagnostic strategies,
treatment types and the different stages of depression in human development? As
the experience of people with depression in contemporary occurs? Therefore , this
study is a theoretical-literature, which uses quantitative method to select the
materials found and qualitative method to make the analysis. The results of the study
are divided into six units of meaning: Brief history of thought psychopathology;
Diagnosis of the disorder of depression, treatment of depression, depression in
different stages of human development; Experiences and perceptions of patients with
depression nowadays. Through the units, you can add that traditional psychiatry still
nowadays is present, with pharmacological treatment, however, combined with
psychotherapy, which uses a phenomenological approach will bring more benefits to
the patient, making it also responsible for improvement. The diving in this universe
has enabled me to know the depression, both in its diagnosis and its treatment with
various ways to treat it . But also made me believe in seeking a clinical psychology
aimed at understanding the dialogue to meet the emotional needs of patients with
this clinical picture.
Keywords : understanding psychopathology , phenomenology , mental disorders ,
depression .
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
-
Critérios utilizados para a construção da amostra................. 20
Tabela 2
-
Total de trabalhos selecionados para o estudo..................... 21
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA......................................................
13
2
OBJETIVOS.........................................................................................
16
2.1
Objetivo Geral.....................................................................................
16
2.2
Objetivos Específicos........................................................................
16
3
METODOLOGIA..................................................................................
17
3.1
Abordagem da Pesquisa - Teórico-bibliográfica............................... 17
3.2
Procedimento para a análise dos dados..........................................
19
3.2.1 Descrição dos procedimentos............................................................
20
4
RESULTADOS.....................................................................................
21
4.1
História do pensamento da psicopatologia ....................................
22
4.2
O diagnóstico da depressão..............................................................
27
4.3
Tratamento da depressão..................................................................
33
4.4
Depressão acomete as diferentes etapas do desenvolvimento
humano.................................................................................................
39
4.4.1 A depressão na infância........................................................................
39
4.4.2 A depressão na adolescência...............................................................
40
4.4.3 A depressão no adulto..........................................................................
41
4.4.4 A depressão no idoso...........................................................................
42
4.5
Vivências e percepções de pacientes com depressão...................
43
4.6
A depressão na contemporaneidade................................................
47
CONCLUSÃO.......................................................................................
52
REFERÊNCIAIS.................,................................................................... 54
13
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A depressão é uma das doenças mais comentadas na atualidade, tanto pela sua
forma de se manifestar no ser humano, quanto pelo número de pessoas diagnosticadas
nos últimos anos. Nesse sentido, compreende-se que a pessoa acometida com a
depressão vive isolada no seu mundo particular, pois não sente interesse em conviver e
estar no mundo com as pessoas, seja familiares ou amigos. Para Lutz (1985), o
paciente depressivo, traz consigo o fracasso como uma das principais características,
apresentando o comportamento “desviante” para se engajar na “busca da felicidade” ou
do amor por si mesmo que é princípio básico de todo o ser humano. Cada individuo
experiencia a doença de forma distinta, porque deve-se levar em consideração a
subjetividade de cada pessoa diagnosticada com a depressão para que o tratamento
seja satisfatório.
Segundo os dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS,
2006), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo, ocasionando
perda
da
autonomia
acometida
pelo
adoecimento
psíquico
podendo
trazer
consequências, tais como o afastamento do convívio com as demais pessoas, a
dependência financeira, sendo que na maioria dos casos, o indivíduo precisa se
ausentar do trabalho para tratamento ou não.
Complementando, Almeida (2009) refere que a depressão está associada a uma
incapacitação social importante, assim como a uma grande utilização dos serviços de
saúde não especializados, o que retarda o diagnóstico, curso, prognóstico, tratamento,
cura e/ou reabilitação do paciente. Nesse viés, a depressão deve merecer uma atenção
maior da saúde pública atual, pois nem todos os profissionais de saúde estão
preparados para lidarem com pacientes depressivos, ocasionando o abandono do
tratamento mesmo no início por não sentirem-se acolhidos em sua totalidade.
De acordo com o Ministério da Saúde (2005), a depressão configura-se como um
distúrbio afetivo muito evidente nas sociedades contemporâneas, mas que já vem
sendo objeto de estudo há muito tempo, sendo que atualmente este órgão a catalogou
como questão de saúde pública.
14
Dessa forma, é possível entender que a depressão sempre esteve presente na
vivência humana, porém, nunca houve tamanha divulgação na mídia como ocorre
atualmente em todo o mundo, sendo criado, inclusive, o dia Mundial da Saúde Mental,
que ocorre a cada dia 10 de outubro, ganhando espaço de destaque no Brasil, e
principalmente no Estado do Paraná, o tema: “Depressão: Uma Crise Global”.
De modo geral foi encontrada uma quantidade abundante de estudos sobre a
depressão no Brasil e no mundo, porém, ainda encontra-se pouca literatura focada na
abordagem fenomenológica no tema proposto. Percebe-se um aumento considerável
da adesão ao tratamento farmacológico, por seu imediato resultado, pela praticidade
em resolver o problema da doença, através do consumo de remédios ao longo do dia e
do desejo/vontade de poupar o tempo do paciente.
Diante deste problema atual de grande proporção na saúde pública, considerase importante realizar o estudo através de uma breve revisão teórico-bibliográfica que
visa conhecer e compreender o fenômeno da depressão na contemporaneidade na
perspectiva da psicopatologia compreensiva. Pautado nessas discussões, surgem
questões norteadoras do estudo: Como ocorre o processo histórico saúde e doença?
Como a literatura aborda a depressão, suas estratégias diagnósticas, tipos tratamento e
as diferentes fases da depressão no desenvolvimento humano? Como ocorre a
experiência de pessoas com depressão na contemporaneidade?
Os assuntos mais discutidos na literatura pelos pesquisadores citados no
presente trabalho em relação às pessoas acometidas pela depressão têm sido a
respeito das alterações de caráter afetivo, problemas de relacionamento e perdas
(SCHUMAKER, 2001; MOREIRA, 2009; VELASCO, 2009). Esses estudos estão
relacionados com o processo saúde e doença; diagnóstico da depressão e suas
características, descrições e significados das percepções, dos valores e das vivências
das pessoas depressivas (AUGRAS, 2009; MOREIRA, 2009; ROMERO, 2001;
VELASCO, 2009).
A literatura nos apresenta um aumento significativo de pessoas diagnosticadas
com depressão, e um número maior de pessoas que estão convivendo com a doença e
não buscam atendimento adequado, por compreenderem que não necessitam de ajuda,
tornando ainda mais longo e penoso o tempo de espera para um diagnóstico preciso e,
15
logo, o seu prognóstico em que há possibilidade de paciente e médico/psicólogo juntos
buscarem uma solução para o problema detectado. Isso acarreta consequências
graves, como por exemplo, o suicídio.
A relevância deste estudo consiste na importância que o fenômeno da depressão
vem alcançando na contemporaneidade, sendo alvo de crescente inquietação por parte
dos estudiosos sobre o assunto, devido a sua incidência e ao aumento dos índices
epidemiológicos e foi chamada por vários autores como o grande “mal do século”
(VELASCO, 2009; MOREIRA, 2009, ALMEIDA; 2009). Assim, o referido trabalho
pretende contribuir no campo da Psicologia, buscando abordar de forma expressiva um
assunto que, até o presente momento, tem recebido pouca ênfase na abordagem
fenomenológica, e que é de muito interesse para profissionais da área da saúde e
pesquisadores interessados pela temática nessa linha de pesquisa.
Estruturalmente, no segundo capítulo do estudo é utilizada a pesquisa teóricobibliográfica por atender diretamente aos objetivos desta investigação. Já no terceiro
capítulo é apresentado os resultados em seis sub-capítulos. No primeiro sub-capítulo
menciona-se um histórico englobando o processo saúde/doença, a psicopatologia e a
depressão; o segundo sub-capítulo traz as principais discussões sobre o diagnóstico da
depressão; o terceiro sub-capítulo menciona o tratamento da depressão englobando o
tratamento
psicofarmacológico
e
psicoterápico;
no
quarto
sub-capítulo
são
apresentadas as características nas diferentes fases do desenvolvimento humano
(infância, adolescência, idade adulta e terceira idade); o quinto sub-capítulo traz as
vivências de pacientes em tratamento da depressão através do recorte de seus
depoimentos para melhor transmitir suas observações sobre a doença e, no último subcapítulo aborda a visão da depressão na contemporaneidade evidenciando as
consequências da doença para o convívio social.
16
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Compreender e discutir através da revisão teórico-bibliográfica, o significado do
fenômeno da depressão sob a ótica da psiquiatria compreensiva na atualidade.
2.2 Objetivos específicos
- Conhecer o processo histórico de saúde e doença nas literaturas afins;
- Conhecer o modo de ser no mundo das pessoas acometidas pela depressão nas
diferentes fases do desenvolvimento humano.
17
3. METODOLOGIA
O presente estudo tem como objetivo analisar e comparar a depressão na
abordagem fenomenológica como princípio. Para tanto buscamos realizar uma
pesquisa teórico-bibliográfica com abordagem qualitativa para responder as questões
norteadoras da pesquisa: Como ocorre o processo histórico saúde e doença? Como a
literatura aborda a depressão, suas estratégias diagnósticas, tipos tratamento e as
diferentes fases da depressão no desenvolvimento humano? Como ocorre a
experiência de pessoas com depressão na contemporaneidade?
Preconizando nesta jornada, compreender e discutir através da pesquisa teóricobibliográfico o significado do fenômeno da depressão sob a ótica da psiquiatria na
contemporaneidade apoiando-se na historicidade do processo saúde/doença difundida
nas literaturas afins.
A pesquisa envolveu uma investigação voltada para a discussão da temática em
voga com a utilização de ferramentas, a saber: fichamentos de documentos, artigos,
monografias, livros, jornais e outras fontes de publicação acadêmica delimitando a
combinação
de
duas
grandes
áreas
para
o
tratamento
da
depressão:
a
psicofarmacologia combinada com a psicoterapia.
3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA – TEÓRICO-BIBLIOGRÁFICA
Para conhecer e estudar a bibliografia referente a depressão enquanto problema
de saúde pública, cujo tratamento tem sido predominantemente farmacológico, realizouse um levantamento bibliográfico, contemplando dois tipos de fonte de investigação da
temática em questão: as publicações (livros e artigos científicos) e produções científicas
publicadas sobre o tema (monografias, dissertações e teses).
Para o cumprimento desta etapa selecionou-se também a historicidade dos
conceitos saúde/doença canalizando para a depressão, cuja abordagem se deu de
18
forma global, buscando estatísticas que comprovassem a incidência da depressão na
sociedade contemporânea.
Nesse contexto, com base nas interrogativas lançadas no início da pesquisa,
averigua-se a possibilidade do tratamento da Depressão numa ação conjunta da
Farmacologia e da Psicoterapia com vistas para a recuperação do paciente.
Quanto aos instrumentos foram utilizadas fichas com os seguintes dados para
catalogar as publicações como: nome do autor, tipo de produção, universidade em que
a obra foi encontrada, ano de publicação, editora ou revista que publicou a obra e título
da obra. Para as produções científicas: nome do autor, título da produção, universidade
em que a obra foi encontrada, ano de produção e palavra principal e para as obras
literárias: autor, título da produção, edição, local, editora e ano e a página quando
necessitar.
O tratamento dado para a análise qualitativa foi a realização dos estudos de
textos teóricos sobre o assunto, a fim de se apreender os benefícios e os contrastes em
relação tanto ao tratamento farmacológico como psicoterapêutico.
Corroborando com os critérios de Andrade (1997, p. 36) onde afirma que a
pesquisa teórico-bibliográfica é um tipo de abordagem de pesquisa a qual é orientada
no sentido de reconstruir teorias, quadros de referência, condições explicativas da
realidade, polêmicas e discussões pertinentes.
Ainda a mesma autora afirma que a pesquisa teórica não implica imediata
intervenção na realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é
decisivo na criação de condições para a intervenção, possibilitando apreender o
conhecimento teórico adequado e consequentemente acarretando um rigor conceitual,
análise
acurada,
desempenho
lógico,
argumentação
diversificada,
capacidade
explicativa do objeto em estudo.
Foi realizada, também, uma análise quantitativa para organizar os materiais
encontrados para a referida pesquisa. Para LAKATOS (2010, p.283) “a análise
quantitativa se efetua com toda informação numérica resultante da investigação, que se
apresentará como um conjunto de quadros, tabelas e medias”.
Para análise de dados, foi utilizada a pesquisa qualitativa na abordagem
fenomenológica, por ser mais adequada aos objetivos do estudo, já que privilegia
19
qualidades, processos e significados. Holanda (2006) esclarece que os métodos
qualitativos são descritos como modelos diferenciados de abordagem empírica,
especificamente voltados para os chamados “fenômenos humanos”, ou seja, como
métodos que fogem da tradicional conexão com aspectos empíricos tais como medição
e controle.
A abordagem fenomenológica é uma escola filosófica criada por Edmund Husserl
que surgiu na Alemanha entre o final do século XIX, e meados do século XX. A
fenomenologia pode ser conceituada como reflexão sobre um fenômeno ou sobre
aquilo que se mostra.
Vale ressaltar que a palavra Fenomenologia é formada por duas partes
originadas do grego: “fenômeno”, que significa aquilo que se mostra, e “logia”, derivada
da palavra logos, pensamento, capacidade de existir (ALES BELLO, 2006).
Husserl explica que para compreendermos os fenômenos, deve-se fazer um
caminho, mais tarde denominado de método fenomenológico. Esse caminho é
composto por duas etapas: redução eidética (a busca do sentido dos fenômenos) e
redução transcendental (como é o sujeito que busca o sentido). Compreender o ser
humano em sua totalidade é de suma importância na Fenomenologia, pois, favorece a
reflexão dos fenômenos que estão evidenciados no momento da análise, fazendo com
que seja primordial não apenas buscar respostas, mas sim, entender o que se passa
com o outro, na sua essência, sem querer explicar algo, apenas ser empático.
3.2 PROCEDIMENTO PARA A ANÁLISE DOS DADOS
O método utilizado para a coleta de dados foi o levantamento bibliográfico,
pesquisa em sites científicos especializados (artigos, livros e publicações indexadas
pelo acesso ao banco de dados de bibliotecas digitais, Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações de todas as Universidades do Brasil (BDTD Nacional), SCIELO (Scientific
Electronic Library Online), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
20
Saúde), BVS – Psi Brasil (Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil), Google
Acadêmico), usando as seguintes palavras-chave: psicopatologia compreensiva,
fenomenologia, transtornos mentais e depressão.
A
seleção
dos
materiais
foi
relacionada
com
o
objetivo
do
estudo
predominantemente na Língua Portuguesa e apenas dois acervos na Língua Inglesa,
como ilustrado na tabela abaixo e os critérios de inclusão dessa materiais selecionados
tiveram as seguintes condições:
Tabela 1: Critérios utilizados para a construção da amostra
TRABALHOS CIENTÍFICOS
Área da pesquisa
Objetivos propostos
SELEÇÃO
Psicologia, Enfermagem,
medicina, Serviço Social
ELIMINAÇÃO
Direito, outras
áreas
Pessoas com depressão
Outras doenças
Crianças, adolescentes,
adultos e idosos em
tratamento
---
Trabalho completo
Resumo bloqueado
Livros
Temas de depressão e
psicopatologia
Idioma
Português, Inglês
Temas de outras
temáticas
Espanhol, outros
idiomas
Perfil dos depressivos
Disponibilidade na internet
Fonte: Dados da própria pesquisadora
3.2.1 Descrição dos Procedimentos
Foi realizada uma análise qualitativa fenomenológica, seguindo os passos
propostos por GIORGI (1978), MARTINS & BICUDO (1989), FORGHIERI (1993),
VALLE (1997):
21

Leitura atenta de todos os textos selecionados para aquisição de uma
configuração geral sobre a temática;

Releitura do material selecionado para alcançar o objetivo do trabalho e
embasada em uma análise compreensiva dos dados;
 As leituras foram feitas quantas vezes foram necessárias a fim de encontrar as
convergências e divergências entre as temáticas dos estudos;

Síntese através de fichamentos entre as variadas temáticas, possibilitando,
assim, uma abrangência dos diversos estudos encontrados.
4. RESULTADOS
Foi realizada uma análise quantitativa reunindo aspectos considerados
essenciais tais como, tipo de trabalho, idioma, período de publicação e natureza da
pesquisa. Diante disso, na tabela abaixo é possível observar o total de trabalhos
relacionados ao tema proposto. Foram encontrados 58 materiais divididos entre
dissertações, teses, capítulos de livros, artigos indexados, em seguida foram feitas as
leituras dos resumos destas produções científicas e extraído o contexto mais relevante
para o objetivo proposto.
Tabela 2: total de trabalhos selecionados para o estudo.
TIPO DE TRABALHO
QUANTIDADE
Artigos
34
Dissertações
5
Teses
3
Livros
16
Total
58
Fonte: Dados da própria pesquisadora
22
Na análise qualitativa dos dados obtidos, foi possível obter as seguintes
unidades de significado:
 Breve história do pensamento da psicopatologia;
 O diagnóstico do transtorno da depressão;
 Tratamento da depressão;
 A depressão nas diferentes etapas do desenvolvimento humano;
 Vivências e percepções dos pacientes com depressão;
 A depressão na contemporaneidade.
Através das referidas unidades, descritas logo abaixo para expor os resultados
encontrados.
4.1 História do pensamento da psicopatologia
Ao longo do tempo, o homem foi sendo estudado sob uma concepção
naturalista, isto é, concebendo-o como um ser mensurável, explicado e estudado como
um objeto, que pode ser classificado e encontrado em uma vasta quantidade de
Manuais de Psiquiatria. Dessa forma, a sua subjetividade é desconsiderada,
evidenciando apenas a sua patologia, e não o ser que está sofrendo com a doença.
Jaspers (1979), psiquiatra e filósofo alemão contemporâneo, em sua obra
Psicopatologia Geral, afirma que a experiência que o paciente tem sobre a doença é de
suma importância. O autor ainda afirma que os psiquiatras deveriam interpretar as
descrições dos pacientes em analogia com seus próprios meios de experienciar
utilizando os procedimentos a seguir: imersão no comportamento e nos movimentos
expressivos do paciente; exploração ou questionamento levado a cabo pelo psiquiatra,
resultando em informação fornecida pelos pacientes acerca de si próprios e; relatos
espontâneos dos pacientes por escrito. Assim, o mesmo descreve:
“O objeto da psicopatologia é o fenômeno psíquico realmente consciente.
Queremos saber o que os homens vivenciam e como o fazem. Pretendemos
conhecer a envergadura das realidades psíquicas. E não queremos investigar
apenas as vivências humanas em si, mas também as condições e as causas de
23
que dependem os nexos em que se estruturam, as relações em que se
encontram, e os modos em que, de alguma maneira, se exteriorizam
objetivamente” (p. 13).
Desse modo, o autor mostrou grande interesse pela subjetividade humana,
principalmente pela compreensão da pessoa acometida com o adoecimento psíquico,
com a sua forma de agir e pensar no mundo individualmente e não apenas com a
exposição destes sintomas aparentes que poderiam ser mensuráveis sob a ótica da
psicopatologia.
Conforme postula Pereira (2012) a psicopatologia fenomenológica é a
compreensão do fenômeno da psicose que, para o psiquiatra alemão Binswanger
(1881-1966), considerado o “pai da psicopatologia fenomenológica”, destacou-se como
um dos precursores da Psiquiatria na nova configuração de contemplar a psicopatologia
através de uma ótica inspirada na fenomenologia.
Ainda de acordo com a autora, contribui com um novo olhar para o psicólogo
conhecer e compreender as psicopatologias ao sobressair a necessidade de levar em
consideração a história vivida de cada paciente, a sua singularidade, além de estar
interessado na experiência do homem que relaciona-se com um mundo e com as outras
pessoas, não priorizando as descrições sintomáticas.
Assim, fica evidente o interesse da fenomenologia com a compreensão do ser
humano que convive com algum tipo de psicopatologia. Dessa forma, a depressão
vivenciada por um paciente pode ser descrita de acordo com a sua visão de mundo, de
acordo com a sua própria experiência vivida.
Para Pokladek & Santos (2002), o processo saúde-doença, na concepção
naturalista, não vê o homem como uma pessoa e sim como um organismo que compõe
um corpo físico destituído dos significados existenciais. Ainda de acordo com os
autores, a ciência natural concebe alguns princípios para reconhecer o que caracteriza
o fenômeno chamado “doença”, que pode ser considerada como um fato que se
manifesta no organismo localizado no corpo; evidenciada como um fenômeno
circunstancial no percurso de vida da pessoa apropriando-a das relações que ela
estabelece no e com o mundo; veiculada por um agente patogênico interno (do ponto
de vista genético) e/ou externo.
24
Na perspectiva dos autores acima, percebe-se que a doença é algo que interfere
diretamente na vida de uma pessoa, logo, limitar o ser humano apenas à enfermidade
não é algo que é levado em consideração na abordagem fenomenológica.
Na fenomenologia, Pokladek & Klath (2008) afirmam que a doença é
compreendida como uma manifestação do horizonte vivido e experienciado pelo
homem na pluralidade das relações por ele estabelecidas. Os autores ainda comunicam
que o corpo não é analisado apenas como um organismo, mas também como um
doador de significados, pois, neste corpo, também se ilustra a história que o indivíduo
edifica e propaga no decorrer de sua vida. Dessa forma, a psicopatologia tradicional
não leva em consideração a subjetividade do indivíduo portador de alguma doença.
A psicóloga francesa Monique Augras (2009) que atuou no Brasil na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, comenta em seu livro intitulado “O ser da
compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico” sobre o processo de
diagnóstico utilizando a abordagem fenomenológica.
Afirma ainda que a “saúde não é um estado, mas um processo, no qual o
organismo vai se atualizando conjuntamente com o mundo, transformando-o e
atribuindo-lhe significado à medida que ele próprio se transforma” (p.11). Nisso, a
saúde vai se modificando de acordo com o modo de vida que a pessoa tem e como é a
maneira de experienciar suas atividades no mundo. Cada pessoa é única em suas
experiências e, por isso, sua relação com o mundo está totalmente ligada ao seu
processo de saúde-doença.
Moreira (2009 apud ROVALETTI, 1997) apresenta que a Psiquiatria atual deunos até o atual período, o histórico da doença, não, porém, a do homem. Dessa forma,
sabe-se como descrever uma patologia, mas não procura entrar em contato com a
experiência vivida pelo doente. Assim, o homem foi sendo estudado fora do seu
contexto vivido e o tema da normalidade e da patologia em Psicologia vem sendo
comumente tratado a partir do padrão médico preexistente e utilizado até os dias atuais,
apresentado pela psiquiatria.
Ainda em nossos dias se realiza uma categorização e despersonalização do
paciente, que é tratado como um objeto, como se a sua existência estivesse
restringida à referência negativa – a anormalidade – quando em realidade a
existência patológica também é uma expressão positiva (MOREIRA, 2009 apud
ROVALETTI,1997p.94)
25
Diante de acontecimentos que marcaram o contexto saúde-doença ao longo do
tempo, a análise fenomenológica buscou conhecer a experiência do homem em relação
ao seu mundo, procurando fazer com que este conjecture sobre o significado dos seus
comportamentos e vivências, sempre levando em consideração que cada pessoa traz
consigo uma história de vida diferente dos demais, tornando-se única em suas
experiências, sejam elas em virtude da saúde ou da doença e esta característica é que
precisa de compreensão e aceitação por parte dos profissionais de saúde que lidam
diretamente com esses pacientes que dão o primeiro passo em busca de ajuda. Para
Gomes (2011):
Depressão (do latim depressione) é uma palavra frequentemente utilizada para
descrever uma gama imensa de sentimentos negativos e sombrios. Em primeiro
lugar, depressão não é um estado de tristeza profunda, nem desânimo, preguiça,
estresse ou mau humor. A depressão é diferente da tristeza, pois a tristeza
geralmente tem uma causa conhecida e duração determinada no tempo e no
espaço. Já a depressão envolve uma gama de sentimentos difusos de longa
duração no tempo e no espaço, geralmente relacionados à angústia. A
depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente da tristeza.
Mesmo assim, em alguns casos, podemos considerar a depressão como uma
reação natural da pessoa humana em períodos de transição, especialmente em
tempos de mudanças e crescimento, em épocas que antecedem novos
horizontes de amadurecimento do ser em constante processo de
desenvolvimento (p. 127)
Para este autor há uma grande diferença entre tristeza e depressão, por esse
motivo é que muitos depressivos não procuram tratamento por pensarem que é apenas
uma fase ruim pela qual o mesmo esteja passando e logo tudo voltará à normalidade,
fato que não ocorrerá, pois a tendência é apenas a piora do seu estado.
Dalgalarrondo
(2011) discorre
acerca
da
depressão
numa
perspectiva
evolucionista e afirma que, do ponto de vista psicológico, os transtornos depressivos
têm uma relação fundamental com as experiências de perda durante a vida. Deve
pensar que o ser humano necessita estar a todo o momento, lidando com suas
emoções para que sua adaptação ao mundo não seja prejudicada, acarretando em
doenças, como a depressão.
Ainda que a depressão leve possa ser uma resposta adaptativa normal a
perdas e separação breve, as depressões graves, consequências de repetidas
separações, perdas e traumas imensos, que causam muito sofrimento e
disfunção, parece bem mais fenômenos patológicos do que adaptativos (p. 403)
26
Fica bem evidente, para este autor, que a depressão pode ser uma doença que
acomete o ser humano, de forma que não cause tantos malefícios, pois é uma resposta
à adaptação, mas nem todas as pessoas conseguem lidar as mudanças que ocorrem
durante toda nossa vida e adoecem de uma forma que se tornam incapazes de
conviverem com os demais a sua volta, deprimindo-se.
Romero (2001), em seu livro “O inquilino do imaginário”, define a depressão
como um modo de ser no mundo, isto é, é um estado de ânimo predominantemente
que afeta todo universo do indivíduo, ou seja, todas as suas formas de relação com o
mundo.Diante de todas as óticas, descritas pelo autor, que se estendem da corporal até
a da extensão espaço-temporal, estão claramente caracterizadas na linha do
acolhimento, do abatimento e do desvalor existencial.Ainda de acordo com autor, o
indivíduo depressivo pode encontrar no suicídio a única solução para seu
descontentamento existencial, aí se encontra a maior dificuldade da pessoa depressiva
que é reconhecer que se encontra doente e necessita tomar a iniciativa de procurar
atendimento:
O sujeito entra num clima que lentamente vai impregnando todo seu ser; esse
clima pode começar com uma leve baixa da vitalidade e da motivação, até
chegar a vontade persistente e quase obsessiva da morte. Passado certo
estágio, a ideia da morte começa a adquirir forma. Essa ideia amedronta o
indivíduo; o amedronta e ao mesmo tempo o atrai. Com sua morte sabe que
poria fim a seu sofrimento; isso por um lado; por outro, matando-se castigaria a
si mesmo (e inclusive puniria os que não o souberam compreender), pois não
esqueçamos de que em todo depressivo há uma forte dose de agressividade
voltada contra ele próprio. Não será demais lembrar que muitos depressivos se
suicidam (p. 277).
A morte é um dos temas que está relacionado diretamente com a depressão,
visto que muitas pessoas se suicidam durante um episódio da doença por não
encontrarem sentido no viver. Estes indivíduos depressivos veem na morte a única
solução aceitável para o término do seu sofrimento, pois já chegaram ao limite de sua
existência e não conseguem enxergar uma solução que os conforte e lhes salvem da
situação em que se encontram no momento de desespero por não saberem lidar com
os sintomas diversos da depressão. A pessoa depressiva não reconhece seu valor e,
desta forma, acredita que sua existência não fará falta neste mundo. Romero (2001)
apresenta em seu livro as etapas que o indivíduo transcorre, durante a depressão, até a
última alternativa verdadeiramente aceitável, que pode vir a ser o suicídio:
27
Quando entramos numa fase depressiva, devagar, passo a passo, nos
encaminhamos na direção de um círculo final em que parece residir apenas a
morte. Primeiro o cansaço e a desmotivação; logo entramos na fase do
desligamento, do isolamento e da tristeza; nem sempre paramos aí; podemos
deslizar para o vazio, o autodesvalor, a culpa e a vontade de morrer (IBID, p.
278).
Nota-se no depressivo a enorme incapacidade de viver significativamente com
seus semelhantes, tornando-o um ser cada vez mais distante da realidade,
ocasionando o distanciamento, retraimento, reclusão e falta de vontade de viver. Dessa
forma, a morte aparece como um alívio para o depressivo, salvando-o deste mundo
onde viver não faz sentido a esta pessoa e a cada novo dia há uma dura decisão de
continuar vivendo, até enquanto não tomar coragem para cometer o suicídio ou, o mais
positivo, procurar ajuda para a doença e contribuir para sua cura, participando do
tratamento por livre e espontânea vontade.
Gomes (2011) relata que a depressão gera uma série de consequências no ser
humano, acarretando dentre outras doenças, os seguintes sintomas: a insônia, a
distimia, os distúrbios do sono e da alimentação, os quais repercutem negativamente
conforme citação abaixo:
A depressão gera insônia. (...) Quando a noite cai, principia a acordar, quando o
dia amanhece, começa a dormir. O melhor lugar do mundo, o mais
aconchegante, o mais macio, o mais confortável, o mais confiável é a cama. O
deprimido tem a cama presa às suas costas. Ele e a cama são irmãos
siameses. Quando consegue dormir, não quer mais acordar. O sono aparece
como o último refúgio. (...) Não tem domínio sobre as próprias emoções. Não
tem paciência. Perde a cabeça com facilidade. Explode à toa! Não sabe a
origem da própria irritação e nem precisa. Está sempre irritado, e isso basta! (p.
9)
A depressão traz consigo uma série de sintomas que desgastam o ser humano
gradativamente, sem que a pessoa se dê conta que sua participação na sua melhora é
importante. O paciente deprimido morre aos poucos a cada dia, tornando-se escravo do
pessimismo, impossibilitando-o de viver plenamente, experienciando momentos de
prazer com as pessoas que lhe fazem bem.
28
4.2 O diagnóstico da depressão
A depressão vem ocasionando, ao longo do tempo, o afastamento de milhares
de pessoas em todo o mundo, seja dos seus familiares, suas atividades laborais ou até
mesmo de atividades que lhe tragam prazer. Diagnosticar esta enfermidade a tempo é
devolver a esta pessoa a oportunidade de recuperar sua qualidade de vida e sua
autonomia.
De acordo com Costa & Maltez (2002) a depressão apresenta um conjunto de
fatores de risco que podem ser identificados, são eles: “sexo feminino, mulheres
casadas, homens vivendo sozinhos, idade variando entre 20 a 40 anos de idade,
perdas parentais antes da adolescência, história familiar de depressão, puerpério,
ausência de um confidente, acontecimentos vitais negativos, residência em área
urbana” (p. 560-561).
Assim, é indispensável que haja um diagnóstico preciso para que o tratamento
da depressão seja iniciado da forma mais adequada e de acordo com a particularidade
de cada paciente. Para que isso ocorra da melhor forma possível, é necessário que a
pessoa acometida com a doença procure atendimento e perceba que a depressão é
algo que pode incapacitar o ser humano.
Como pode ser encontrado nos manuais de Psiquiatria o diagnóstico dos
transtornos mentais (DSM-IV e CID 10) citados logo abaixo, a depressão também
possui sua forma subjetiva de ser diagnosticada. AUGRAS (2009) discorre em seu livro
a respeito da situação de diagnóstico em fenomenologia, trazendo subjetividade e
evitando interpretação do cliente elaborado a priori, antes e fora do acontecimento
presente.
Da mesma maneira que cada indivíduo for a medida de sua normalidade, em
cada situação, o significado será buscado dentro daquilo que for manifestado.
Neste ponto de vista, a “objetividade” dessa apreensão, finalmente configurada
em diagnóstico, apoiar-se-á em critérios de coerência, deduzidos daquilo que
se ofereceu da história do indivíduo e das vivências presentes. (p. 13)
Apesar de a depressão se apresentar e ser experienciada de formas distintas
para cada pessoa, há critérios utilizados para que se tenha um padrão no seu
diagnóstico, trazendo características observáveis e comuns encontradas na doença.
Vale ressaltar que a fenomenologia não descarta os critérios diagnósticos encontrados
29
nos manuais de psiquiatria, porém, o indivíduo é compreendido também na sua
particularidade. Busca-se a sua visão de mundo sobre a doença, convidando-o a fazer
parte do seu tratamento de forma ativa. Os critérios para o diagnóstico servirão como
apoio para identificar os sintomas discorridos pelo paciente que procura atendimento.
Nos dias atuais, os sistemas classificatórios utilizados para o diagnóstico da
depressão são DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais são
perturbações mentais (APA, 2002) e o CID-10 – Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (OMS, 1993).
O DSM-IV (APA, 2002) fornece critérios de diagnóstico para as perturbações
mentais e abrange elementos descritivos com o intuito de conduzir ao diagnóstico de
tais inquietações. Neste modelo, a depressão pode se encontrarem diferentes
transtornos mentais, apresentando algo em comum transtorno de humor:
Os Transtornos de Humor estão divididos em Transtornos Depressivos
(“depressão unipolar”), Transtornos Bipolares e dois transtornos baseados na
etiologia – Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral e
Transtorno de Humor Induzido por Substância. Os transtornos depressivos (a
saber, Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico e Transtorno
Depressivo Sem Outra Especificação) são diferenciados dos Transtornos
Bipolares pelo fato de haver um histórico de jamais ter tido um Episódio
Maníaco, Misto ou Hipomaníaco. Os transtornos Bipolares (a saber, Transtorno
Bipolar I, Transtorno Bipolar II, Transtorno Ciclotímico e Transtorno Bipolar sem
outra Especificação) envolvem a presença (ou histórico) de episódios
maníacos, geralmente acompanhados pela presença (ou histórico) de Episódios
Depressivos Maiores (p. 345).
Nem sempre é fácil encerrar um diagnóstico preciso devido a diferentes
transtornos apresentarem alguns sintomas psicopatológicos semelhantes aos da
depressão. Desta forma, se faz necessário ter o devido cuidado e conhecimento de
psicopatologia para que o diagnóstico seja o mais preciso possível.
Ainda, de acordo com o DSM-IV, existem critérios para que seja diagnosticado o
episódio depressivo maior: Deve ser encontrado no paciente a ser diagnosticado um
mínimo de cinco dos seguintes sintomas presentes durando o período de duas
semanas:
1.humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por
relato subjetivo (p. ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por
terceiros (p. ex., chora muito). 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer
em todas ou quase todas a atividades na maior parte do dia (indicado por relato
subjetivo ou observação feita por terceiros). 3. Perda ou ganho significativo de
30
peso sem estar em dieta (p. ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou
diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. 4. Insônia ou hipersonia
quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias
(observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação
ou de estar mais lento). 6.Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7.
Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser
delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por
estar doente). 8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou
indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por
outros). 9. pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer)
ideação suicida recorrente sem um plano específico (p. 354-355).
Diagnosticar a depressão, em alguns casos, pode ser bastante complexo, por ser
confundida com outras enfermidades físicas ou até mesmo por ser desencadeada por
uma doença já existente e sendo tratada por este paciente no momento, como a
pressão alta, cardiopatia, diabetes.
Já na CID-10(OMS, 1993), as seções de F00 a F99 são destinadas aos
transtornos mentais e comportamentais, estando os transtornos de humor e/ ou afetivos
incluídos nas seções de F30 a F39:
transtornos nos quais a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou
do afeto, no sentido de uma depressão (com ou sem ansiedade associada) ou
de uma elação. A alteração do humor em geral se acompanha de uma
modificação do nível global de atividade, e a maioria dos outros sintomas são
quer secundários a estas alterações do humor e da atividade, quer facilmente
compreensíveis no contexto dessas alterações. A maioria desses transtornos
tende a ser recorrente e a ocorrência dos episódios individuais pode
frequentemente estar relacionada com situações e fatos estressantes (p 110).
Destacam-se os sintomas que podem ser encontrados na seção F32 no Episódio
depressivo, seja este leve (F32.), moderado (F32.1) e grave (F32.2 e F32.3): “(a)
concentração e atenção reduzidas; (b) autoestima e autoconfiança reduzidas; (c) ideias
de culpa e inutilidade (mesmo em um tipo leve de episódio); (d) visões desoladas
pessimistas do futuro; (e) ideias ou atos auto lesivos ou suicídio; (f) sono perturbado; (g)
apetite diminuído” (p. 117)
A depressão foi caracterizada por estudiosos e de acordo com Monteiro &Lage
(2007):
Ao longo do século XX foram surgindo as dicotomias: depressão hereditária e
psicogênica, depressão neurótica e psicótica, depressão primária e secundária,
depressão endógena e reativa, etc. Estas nomenclaturas tinham em vista
realizar ainda uma distinção básica entre a depressão chamada de melancólica,
correspondente à psicose maníaco-depressiva e as outras formas de
depressão; ditas reativas, psicogênicas ou neuróticas. Tais dicotomias
proporcionaram uma discussão ampla no decorrer deste século, visto que,
31
existia uma tentativa de diferenciar a depressão neurótica da depressão
psicótica, levando em conta, não somente a severidade do quadro clínico
apresentado, mas a sua etiologia (p. 03).
Como foi evidenciada no estudo feito pelos autores acima citados, a depressão
possuiu, ao longo dos anos, algumas nomenclaturas que visaram caracterizar as
variadas formas em que a doença se apresenta no ser humano. Percebe-se que há um
grande interesse por parte dos estudiosos em apenas descrever a depressão, houve
pouco interesse em buscar compreender como o doente percebe a doença e como é
experienciado por ele.
Essas características podem ajudar o profissional de saúde a elaborar o melhor
tratamento ao seu paciente. Infelizmente, não é levada em consideração a vivência
que a pessoa, acometida com a doença, possui para que o prognóstico seja
satisfatório. Isso faz com que o percurso da doença seja igual para cada um, o que vai
de encontro com a fenomenologia, que evidencia a compreensão do ser humano,
considerando a experiência que cada um possui sobre o fenômeno que se apresenta.
Dalgalarrondo (2000) destaca em seu livro que as síndromes depressivas
maníacas são reconhecidas como sendo um problema de ordem prioritária na saúde
pública mundial. O autor relata que o elemento central das síndromes é o humor triste,
sendo caracterizadas por:
multiplicidade de sintomas afetivos (tristeza, melancolia, choro fácil, apatia
desespero, desesperança), instintivos e neurovegetativos (diminuição da libido,
anedonia, perda ou aumento do apetite, insônia), ideativos (ideação negativa,
ideias de morte, ideação suicida) e cognitivos (déficit de atenção e
concentração, dificuldade de tomar decisões, déficit secundário de memória),
relativos à autovaloração (sentimento de baixa autoestima, insuficiência,
vergonha e autodepreciação), à volição (tendência a permanecer na cama por
todo o dia, aumento na latência entre pergunta e resposta, mutismo,
negativismo) e à psicomotricidade (lentificação motora até o estupor, estupor
hipertônico ou hipotônico) (p. 190-191).
O mesmo autor ainda descreve oito subtipos das síndromes depressivas que
são: 1 – Episódio ou fase depressiva e transtorno depressivo recorrente (evidentes
sintomas depressivos devem estar presentes por pelo menos duas semanas, e não
mais do que por dois anos de forma ininterrupta, duram entre três a 12 meses); 2 –
Distimia (caracterizada como uma depressão crônica, geralmente de intensidade leve,
muito duradoura, começa no início da vida adulta e dura pelo menos vários anos); 3 –
Depressão atípica (pode ocorrer em episódios depressivos de intensidade leve a grave,
32
em transtorno uni ou bipolar); 4 – Depressão tipo melancólica ou endógena
9predominam
os
sintomas
classicamente
endógenos,
ou
seja,
de
natureza
neurobiológica); 5 – Depressão psicótica (depressão grave, na qual ocorrem,
associados aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como o delírio
de ruína ou culpa, alucinações com conteúdos depressivos); 6 – Estupor depressivo (o
paciente permanece dias em uma cama ou cadeira em estado de catalepsia, o paciente
pode vir a falecer por complicações clínicas); 7 – Depressão agitada ou ansiosa
(depressão com forte componente de ansiedade e inquietação psicomotora); 8 –
Depressão secundária (síndrome depressiva causada ou fortemente associada a uma
doença ou quadro clínico somático, sela ele primariamente cerebral ou sistêmico).
Tendo em vista que a depressão foi classificada por alguns estudiosos, porém neste
estudo se dá ênfase no diagnostico de depressão primária.
Romero
(2001)
apresenta
as
características
encontradas
em
pessoas
depressivas de acordo com as dimensões existenciais na vida do sujeito, tais como
auxiliar na melhor maneira de compreender um paciente sob uma abordagem que
abrange a sua totalidade, ou seja, a dimensão corporal, dimensão interpessoal,
dimensão afetiva, dimensão motivacional onde a intenção não é a descrição ou
simplesmente enquadrá-lo em doenças passíveis de serem diagnosticadas a todo custo
e sim respeitar cada pessoa na sua singularidade e peculiaridade.
Pode ser observado nos estudos de Romero (2001) que a depressão afeta todas
as dimensões da existência do ser humano, como a dimensão corporal, onde o corpo
perde ou diminui seu caráter instrumental, sendo vivida como carga e como fonte de
preocupações.A imagem corporal define-se como negativa, o andar torna-se curvado,
encolhido, frouxo e surge uma expressão geral de apagamento e de fadiga. Há uma
considerável diminuição do apetite sexual e das necessidades de ingestão. Na pessoa
doente fica evidente o descuido com a sua aparência.
Na dimensão interpessoal, a comunicação torna-se problemática e o sujeito
tende a isolar-se, fechando-se em si mesmo. Surge uma tendência a desligar-se dos
apelos e das solicitações sociais ou as considera sem solução. Essa se percebe sem
amigos ou questiona o valor da amizade.
33
Na dimensão da práxis, o indivíduo tente á passividade, deixando de lado ou
descuidando de suas obrigações e compromissos. Esse sujeito fica dominado por um
forte sentimento de incapacidade, prostração, impotência e tende a perder o sentido de
sua práxis, assim como perde o sentido de sua vida.
Na dimensão motivacional, é notória a perturbação das necessidades básicas,
como sono, comida e sexo. Ocorre uma desmotivação generalizada no indivíduo
diagnosticado como depressivo e a perda do sentido da vida de forma geral.
Na dimensão afetiva ocorre o predomínio dos sentimentos negativos em todas as
esferas e fortes sentimentos de impotência e de indigência, de solidão e de abandono,
de tédio e de vazio. Há uma presença significativa de sentimentos de autocomiseração
e culpa neste indivíduo, tendo como consequência o desprezo de si, uma evidente
vontade de morrer e a auto-agressividade. Acontece o predomínio de um clima
emocional agitado, mas por vezes aparece o vazio existencial.
A dimensão valorativa é caracterizada pela quebra e descrédito de todos os
valores, salvo aqueles que traduzem a negatividade. Na alternativa melhor, o bem se
coloca no outro e o sujeito depressivo tende a certo grau de niilismo e, nos casos
menos autodestrutivos, para um ceticismo irônico.
Na dimensão espaço-temporal, o sujeito tende a se refugiar no passado, se
desliga do presente e se desinteressa pelo futuro. O espaço esvazia-se, as coisas se
tornam estranhas e consequentemente o mundo perde seu brilho e seu cromatismo.
Na dimensão psicológica ocorre a quebra do eu, que renuncia sua função de
agente coordenador das diversas dimensões e planos da existência. O sujeito
empareda-se num cotidiano frustrante, perdendo seu acesso ao plano imaginário. O
autoconceito torna-se negativo e ocorre um esvaziamento da própria identidade por
negação da maioria dos referenciais.
34
4.3 Tratamento da depressão
Velasco (2009) discorre que nenhuma pessoa consegue curar-se da depressão
apenas ouvindo orientações ou sugestões de pessoas leigas no assunto. A pessoa
depressiva
necessita
de
atendimento,
tanto
medicamentoso
(utilizando
antidepressivos), quanto psicoterápico. Além do apoio familiar e poder contar com uma
equipe multidisciplinar adequada para que o andamento do tratamento seja satisfatório.
A avaliação do paciente é realizada pelo médico psiquiatra, através de uma
exame psicopatológico com o paciente que procura tratamento. Dalgalarrondo (2000)
afirma que a entrevista permite a realização dos dois principais aspectos da avaliação:
a anamnese (história dos sintomas e sinais apresentados pelo paciente ao longo de sua
vida, seus precedentes pessoais e familiares, assim como de sua família e meio social)
e o exame psíquico (também chamado de exame do estado mental atual).
Na avaliação física, o autor, ainda pontua que esses pacientes necessitam ser
examinados do ponto de vista somático, pela semiologia somática apropriada
(anamnese somática, exame físico, exames laboratoriais e de imagem). Enquanto que
na avaliação neurológica é considerada parte imprescindível da avaliação em
psiquiatria, mas irá depender de uma anamnese bem colhida e com informações
suficientes.
O tratamento da doença requer uma rede de apoio acolhedora e acessível, pois
a recaída da doença é uma possibilidade que pode ocorrer em muitos casos e o
controle, tanto médico quanto psicoterápico da doença vai auxiliar a pessoa a seguir
com o tratamento se sentindo disposto e confiante.
De acordo com Costa & Maltez
(2002):
A abordagem do doente deprimido não se restringe à objetivação dos sintomas
psicopatológicos de uma forma descritiva, antes é necessária a adoção de uma
posição fenomenológica em que, a partir da intersubjetividade da relação
terapêutica, ganha sentido o acontecer interior que constitui as experiências
mórbidas do doente (p. 560).
É interessante a citação dos psiquiatras portugueses acima, os quais destacam
que não basta o diagnóstico da depressão, mas algo maior que considera a relação
intersubjetiva com seu paciente de compreender os seus sintomas, ajudando-o e
35
auxiliando-o no seu desenvolvimento e crescimento como ser humano em busca do seu
melhor.
Velasco (2009) aponta que o equilíbrio químico do cérebro de uma pessoa
depressiva só poderá ser controlado com a assistência médica necessária,
concomitantemente com a colaboração do paciente na reação da medicação. Portanto,
será um trabalho de parceira em busca da melhora da pessoa acometida com a
doença. Ainda de acordo com o autor:
Os medicamentos antidepressivos têm a função de regular os componentes
substanciais do cérebro, trazendo, assim, um alívio temporário para o paciente,
que se anima com o resultado parcial e se empenha ao máximo na solução do
problema (VELASCO, p. 24-25).
O tratamento farmacológico é importante para a cura de depressão, no entanto,
uma das desvantagens é quando o paciente percebe uma melhora aparente da doença,
este o abandona por acreditar que não precisa mais, por esse motivo, a psicoterapia é
indicada para que seja feita conjuntamente, fazendo com o paciente perceba que a
depressão não é apenas algo que se manifesta no corpo, mas também na sua
subjetividade.
Por outro lado, a doença, em diversos prognósticos é confundida com tristeza ou
até mesmo com outro tipo de enfermidade, por apresentar uma série de sintomas
físicos, dificultando e prolongando o acesso ao tratamento adequado. Neste viés, o
tratamento farmacológico concomitante com o tratamento psicoterapêutico assegurará
ao paciente uma qualidade de vida e, consequentemente criará um espaço de coresponsabilidade, principalmente por parte do individuo em terapia (farmacológico e
terapêutico), possibilitando assim a sua melhora no início do tratamento.
De acordo com Botega, Furlanetto & Júnior(2012), Gomes (2011) preconizam
que os principais antidepressivos utilizados no tratamento da depressão, são eles:
Antidepressivos tricíclicos – ADTs (Amitriptilina, Clomipramina, Imipraina, Nortriptilina),
Inibidores da monoaminoxidase
- IMAOs (Tranilcipromina), Inibidores seletivos
de
recaptação de serotonina – ISRSs (Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina,
Paroxetina, Sertralina), Inibidores de receptação de serotonina e noradrenalina – IRNSs
(Desvenlafaxina, Duloxetina, Venlafaxina), Bupropiona, Mirtapazina e Trazodona. Na
literatura consultada, estes foram o tratamento padrão para tratar a pessoa acometida
36
com a depressão. Os autores pontuam que, pelo menos 10% dos pacientes
abandonarão o tratamento em decorrência dos efeitos colaterais causados pelo uso dos
medicamentos.
No tratamento da pessoa depressiva, para os autores existem múltiplos estudos
que têm confirmado a importância que se pode ter com o tratamento concomitante
(medicação e abordagens psicoterapêuticas) e as abordagens psicológicas podem ser
a escolha excepcional em casos mais leves de depressão. Pode ser dividido em fase:
inicial (período de latência) que dura de 1 a 2 semanas; aguda (período de resposta),
podendo ter a duração de 2 semanas a 3 meses; continuação (prevenção de recaída),
mínimo 6 meses após a melhora e manutenção (prevenção de recorrência), período
indeterminado, podendo levar anos. A aliança terapêutica é um elemento primordial no
início do tratamento, pois os medicamentos podem durar de 1 a 3 semanas para que
seus efeitos sejam sentidos pelo paciente, isto vai depender do organismo de cada
pessoa.
Ainda de acordo com os autores, no tratamento farmacológico, a escolha do
antidepressivo é analisada por diversos fatores: quadro clínico (segundo o predomínio
de alguns sintomas, como ansiedade, insônia, apatia); condições do paciente que
contra-indiquem determinada droga, como efeitos colaterais (sedação, hipotensão e
ganho de peso); presença de determinadas doenças físicas, certas características do
fármaco (interações medicamentosas) e custo do tratamento. O mais indicado pelos
médicos é que se inicie o tratamento com doses mais baixas do medicamento e ir
aumentando gradativamente até que se obtenha o efeito desejado.
Muitas pessoas em tratamento, vendo-se livres dos sintomas de depressão,
“resolvem” interromper precocemente a medicação. Umas, para “fazer um
teste”, outras, com receio de “ficarem dependentes” ou por estarem enfrentando
efeitos adversos (aumento de peso, disfunção sexual). A interrupção do
medicamento antes do tempo aconselhável implica risco aumentado de recaída
(cerca de 50 a 80%, o dobro do observado entre os que mantém a medicação).
Por fim, destaca-se que, para pessoas que já tiveram vários episódios
depressivos, a medicação deve ser mantida em dose plena ao longo da vida
(VELASCO, 2009, p. 304).
Um erro bastante grave que se encontra no tratamento da depressão é a
suspensão do medicamento antes do tempo previsto, para que isso não ocorra, é
necessário que o paciente sinta-se a vontade para poder dar sua opinião a respeito de
sua trajetória diante da luta contra a doença, por esse motivo, é necessária a adesão
37
deste paciente a uma psicoterapia para que este possa se sentir apto para lidar com
seus conflitos e incertezas diante do tratamento. Infelizmente, como toda doença que
necessite de tratamento farmacológico, existem os efeitos colaterais que podem curar
este paciente a interromper o tratamento.
Os principais efeitos colaterais apresentados pelos antidepressivos estão
divididos de acordo com a neurotransmissão envolvida, são eles: efeitos antihistamínicos (sonolência, ganho de peso, fadiga, tontura, hipotensão), efeitos
anticolinérgicos (boca seca, retenção urinária, taquicardia, visão turva, aumento da
pressão
ocular,
disfunção
sexual,
alucinações,
confusão
mental),
efeitos
antiadrenérgicos (hipotensão arterial, tonturas, tremores, congestão nasal, retardo da
ejaculação, disfunção erétil) e efeitos serotoninérgicos (irritabilidade, agitação, insônia,
cefaleia, fadiga, náusea, diarréia). Todos estes efeitos colaterais são responsáveis pelo
abandono do paciente ao tratamento, dificultando e protelando sua melhora e,
consequentemente sua qualidade de vida.
Botega,Furlanetto & Júnior(2012), em seu livro: “Prática psiquiátrica no hospital
geral: interconsulta e emergência”, aborda diversos temas relacionados a prática
médica em psiquiatria, trazendo discussões atuais sobre o tratamento psiquiátrico nas
diversas formas de psicopatologia. Fica claro na depressão que:
De um a dois terços dos pacientes deprimidos não são detectados e
devidamente tratados. A equipe assistencial pode focar seu trabalho no
tratamento das condições físicas agudas. Pode, também, considerar que os
sintomas depressivos são “apropriados” e “compreensíveis” diante da situação
do paciente, falhando, assim, no diagnóstico. É provável que os profissionais
estejam, ainda, movidos por preconceitos em relação à depressão e a
transtornos mentais em geral (p. 299)
Os autores afirmam que “a depressão tem um caráter de doença sistêmica, com
consequências em vários sistemas de regulação corporal, incluindo seus impactos na
evolução de outras doenças clínicas, aumentando a morbidade e os custos do
tratamento” (IBID, p. 230). Desta forma, a depressão traz consequências severas aos
seus portadores, principalmente em um grau mais elevado da doença, complicando
mais ainda quando a pessoa não busca tratamento.
Assim, a depressão pode comprometer seriamente a qualidade de vida da
pessoa acometida com esta doença tanto ou mais que outras categorias médicas.
Ainda de acordo com Botega, Furlanetto & Júnior (2012), os principais sintomas físicos
38
que podem desenvolver a depressão são: dor, doença nas artérias coronária, diabetes,
acidente vascular cerebral (AVC) e HIV/AIDS.
Como já foi comentada anteriormente, a depressão traz consequências que
interferem no modo de ser da pessoa acometida com a doença e um trabalho de
psicoterapia pode auxiliar esta pessoa a ter uma maior qualidade de vida e vencer a
doença, considerando-se, também, responsável por sua cura. Para VELASCO (2009):
A psicoterapia, assim como os medicamentos, necessita de algum tempo para
se obter a melhora esperada. Os dois tipos de tratamento (psicoterapia e
medicação) são fundamentais no tratamento do paciente, e só assim o
indivíduo poderá ter o alívio tão esperado para seus sofrimentos e aflições (p.
25)
A psicoterapia auxilia este paciente depressivo a ter um encontro consigo
mesmo, a buscar um significado para a manifestação da depressão em sua vida,
deixando-o livre para que se questione e busque uma resposta interior sobre sua
enfermidade, ao seu modo de ser no mundo em que vivemos.
Costa & Maltez (2002) apontam que as principais vantagens de se fazer
psicoterapia quando a pessoa é acometida com a depressão diz respeito a sua
importância, pois proporcionam à pessoa depressiva o apoio social e estabelece uma
relação de confidência nos momentos em que são experienciados como de extremo
isolamento.
De acordo com Teng et al. (2005):
Os efeitos da psicoterapia sobre o humor são muitas vezes evidentes,
promovendo melhora direta do ânimo e da vontade de viver. É preciso salientar
que, caso seja confirmado o diagnóstico de depressão, está indicado o
tratamento farmacológico, mesmo que haja possibilidade de abordagem
psicoterápica concomitante.
Nota-se que a psicoterapia auxilia consideravelmente o paciente que recebe o
diagnóstico da depressão, pois dá a esta pessoa a oportunidade de poder entender
sobre as circunstancias que podem ter desencadeado a doença e se ajudar,
contribuindo para que o seu tratamento seja satisfatório.
Dessa forma, o profissional psicólogo trabalhará com o paciente deprimido
auxiliando-o, no decorrer do tratamento, a enfrentar a doença em si e os efeitos
adversos do tratamento medicamentoso, que ocorre a desistência de muitos pacientes,
pois estes passam a experienciar sintomas que, muitos já haviam sentido antes de
39
receberem o diagnóstico da doença, trazendo incômodos por repetir sensações
desagradáveis aos pacientes.
Schestatsky (1998) expõe que a associação de medicações e psicoterapias,
existem uma importante redução de custos mesmo no tratamento dos transtornos
psiquiátricos mais graves, como as psicoses. Portanto, os benefícios de oferecer tal
tratamento ao paciente são inúmeros, principalmente quando a pessoa acometida com
a depressão não possui um poder aquisitivo que possa arcar com o tratamento
medicamentoso.
4.4 Depressão acomete as diferentes etapas do desenvolvimento humano
Em todas as fases do desenvolvimento humano, pode ser observado que a
depressão ocorre uma série de problemas que impossibilitam a pessoa de ter uma vida
produtiva e conviver com todos em sua volta de forma plena. Diante disso, nesse
momento se faz presente o suporte psicológico, e caso seja necessário o
acompanhamento de um profissional psiquiatra são fundamentais para que a doença
possa ter um tratamento adequado.
4.4.1 A depressão na infância
O psicanalista brasileiro Velasco (2009) em seu livro, intitulado “Depressão e
transtornos mentais – tudo o que você deve e precisa saber”, descreve sobre a
depressão nas diferentes fases do desenvolvimento humano e as características dos
principais transtornos mentais. O autor afirma que a depressão é uma das principais
enfermidades do século e todas as pessoas estão propensas a desenvolverem a
doença em nossa sociedade. Para ele, a depressão é comum na infância quando a vida
afetiva dessa criança passa por algumas situações que possam ter como consequência
40
fatores que possam desencadear a depressão, como por exemplo, a separação dos
pais, morte de membros fundamentais na família, abandono pelos pais.
Ainda de acordo com o mesmo autor, a criança depressiva apresenta os
seguintes sintomas clássicos: tristeza, choro frequente, perda de apetite, mudanças no
hábito alimentar, distúrbios do sono, agitação, ansiedade, mal-estar estomacal, cansaço
matinal, dores abdominais. Também pode ser notada na criança a falta de interesse
pelas atividades preferenciais, manifestação de descontentamento diante de regras
impostas pelos pais, desleixo perante as obrigações de higiene, desânimo constante,
desinteresse pelas atividades escolares, insatisfação até mesmo com brinquedos de
sua preferência, falta de atenção, desconcentração, complexo de inferioridade,
sentimentos de culpa e baixa autoestima.
O psicanalista Marcelli (1998) discorre em seu livro “Manual de Psicopatologia da
Infância de Ajuriaguerra” sobre o psicodiagnóstico dos transtornos mentais em crianças.
O autor descreve que a principal complicação da depressão duradoura está relacionada
à repercussão escolar, pois pode causar na criança um sentimento de fracasso que
pode ser observado pelos professores e demais alunos. Por ser uma idade de
descobertas e formação do caráter, a depressão na infância pode parecer algo
inofensivo, pois perpassa pela mente dos adultos que uma criança tão pequena esteja
depressiva.
Augras (1986, p. 31), psicóloga francesa, em seu clássico livro na Língua
Portuguesa "O Ser da Compreensão: Fenomenologia da Situação de Psicodiagnóstico",
afirma que “a medida que a criança vai adquirindo maior distanciamento em relação à
experiência imediata, bem como às tradições do seu grupo social, passa ela então a
interiorizar o tempo como parâmetro de ação, com as suas três categorias (passado,
presente e futuro)”. Desta forma, é primordial que esta etapa ocorra em um ambiente
favorável para que seu desenvolvimento ocorra de forma plena e satisfatória.
É importante lembrar que a depressão em crianças precisa ser levada a sério,
pois muitos pais acreditam que é apenas uma "frescura" da idade ou que a mesma
esteja querendo chamar atenção com tais atitudes, isso pode dificultar o diagnóstico e
consequentemente o tratamento.
41
4.4.2 A depressão na adolescência
A depressão na adolescência, para Velasco (2009) é mais frequente. O
adolescente tende a comunicar-se através de suas ações, muitas vezes por ser
inexperiente, recorre às drogas, a promiscuidade, ao álcool,tudo isso para tentar aliviar
seus sentimentos e emoções. O adolescente angustiado para lidar com seus conflitos
pode desenvolver alguns comportamentos agressivos e violentos, atos antisociais,
distúrbios de conduta, procedimentos invasivos e agressivos.
Ainda de acordo com o autor, o adolescente tem como motivos principais de
episódios depressivos a inquietação e irritabilidade, dificuldade de concentração,
isolamento, perda do interesse ou prazer nas atividades em exercício, desesperança,
sentimento de culpa, pensamentos de morte, insônia, sonolência durante o dia e
alterações do apetite.
Para Augras (1986), os desajustes podem ocorrer na fase da adolescência, pois
o outro ainda é um modelo imposto a ser seguido e, muitas fezes causa uma série de
consequências ao adolescente:
Muitas vezes, distúrbios encontrados em adolescentes não possuem outra
origem: as expectativas do grupo esperam do adolescente a aquiescência da
criança, exigem dele as atitudes do adulto que ainda virá a ser e, para resolver
essa contradição, fornecem-lhe modelos pautados por uma tradição que,
embora instilada desde o nascimento, é-lhe fundamentalmente estranha. É
preciso dispor de privilegiado equipamento de adaptação à realidade, para
conseguir superar tantas tensões, adequar-se às exigências externas sem
mutilar-se, afirmar a individualidade sem lesar o ambiente (p 31).
Este paradoxo vivenciado pelo adolescente, muitas vezes é identificado de forma
negativa, podendo ser diagnosticado como uma depressão ou outro tipo de transtorno
mental, ocasionando sofrimento para este ser em pleno desenvolvimento.
A adolescência é uma fase bastante complicada para que seja diagnosticada a
depressão, pois é uma fase cercada de descobertas, rebeldia, estigmas e geralmente a
família não sabe lidar com este sofrimento, por esse motivo, a depressão no
adolescente pode não ser percebida e ser confundida com algo menos grave e não
receber a devida atenção e tratamento.
42
4.4.3 A depressão no adulto
De acordo com Velasco (2009) a depressão no adulto apresenta características
comuns para as fases do desenvolvimento anteriormente citadas, o adulto apresenta
apatia, mau humor, distúrbios do sono, distúrbios alimentares, desinteresses por
atividades laborais, sentimentos de pesar, lentidão nas atividades físicas, lentidão nas
atividades mentais, isolamento, irritação, perda do apetite, perda ou ganho de peso,
choro frequente, vontade de morrer, inquietação, pensamentos negativos, pessimismo,
desesperança, dificuldade ao chorar, "boca seca", diminuição do desejo sexual,
autopiedade, sentimentos de culpa e falta de estímulo.
A doença também pode acarretar em consequências severas, como o aumento
do risco de infarto em algumas pessoas adultas, desde que estejam praticando certos
vícios e hábitos, como comer em excesso (obesidade) e fumando em demasia
(tabagismo).
Nesta etapa do desenvolvimento, pode vir a ser que o adulto possua o maior
número de responsabilidades. Encontra-se em sua idade produtiva, no momento de
constituição de sua própria família, criando seus filhos, e possui algum tipo de atividade
laboral. A perda por um destes fatores pode desencadear a depressão.
Com a vida cercada de atividades, sejam de lazer, de trabalho, doméstico, a
pessoa adulta segue protelando a sua busca para o tratamento da depressão, se
convencendo de que é apenas uma fase e os sintomas irão desaparecer a qualquer
momento, como consequência, pode ocasionar numa incapacitação total e até mesmo
o suicídio.
4.4.4 A depressão no idoso
A depressão em idosos, para Velasco (2009) tem como principal característica a
hipocondria e o declínio do humor. Esses fatores se devem ao fato de os idosos
sentirem a perda exacerbada da concepção existencial, tais como: maior frequência de
43
problemas físicos, baixa resistência imunológica, enfraquecimento do suporte
sociofamiliar, incapacidade relativa de locomoção, dependência financeira, perda do
status ocupacional etc. Nos quadros depressivos, o idoso pode apresentar retraimento,
desesperança, perturbações do sono e retardo psicomotor. A depressão no idoso,
quando não tratada de maneira satisfatória, pode colaborar para a morte súbita do
paciente.
A possibilidade do suicídio está muito presente quando há um idoso com
depressão. De acordo com a cartilha: "prevenção do suicídio – um recurso para
conselheiros, produzida e disponibilizada pela Organização Mundial de Saúde - OMS
(2006):
A depressão é amplamente reconhecida como sendo o principal factor
associado com o comportamento suicida na idade avançada. Entre os idosos,
surge frequentemente a questão do uso indevido de medicamentos como um
meio para o suicídio. No entanto, o benefício que se obtém com o tratamento da
depressão contrabalança largamente qualquer impacto negativo da medicação
anti-depressiva (p. 08-09)
O suicídio surge como uma das últimas alternativas para solucionar o problema
de depressão dos idosos, fazendo com que esta faixa etária recebe uma atenção ainda
maior dos serviços de saúde, pois muitos destes concluem que já viveram o bastante e
que sua existência não faz mais nenhum tipo de sentido deste modo.
Augras (2009, p. 47) admite que “na velhice, na doença e na morte, o que
domina é a decadência do corpo e do seu sofrimento”, desta forma, é necessário que
este idoso perceba que há, ainda, que se ter vontade de continuar sentindo prazer na
vida, procurando destacar o que é mais importante nesta fase e buscar realizar seus
desejos, não apenas se deixando levar pela idade avançada e ser dependente das
demais pessoas.
4.5 Vivências e percepções de pacientes com depressão
Na concepção de Leite (2009) em sua dissertação de mestrado intitulada “Corpo
deprimido: Um estudo sobre corpo vivido e depressão sob a lente da fenomenologia de
44
Merleau-Ponty” traz a experiência de pessoas diagnosticadas com depressão. Revelou
que o fenômeno da depressão é de difícil descrição pelos pacientes, e que eles a
reconhecem a partir de sinais do seu corpo. Os depoimentos dos entrevistados
revelaram: que a depressão é considerada um fenômeno exterior ao sujeito; que a
postura e o ritmo corporais de tais sujeitos é marcado pelo isolamento, pela lentidão e
pela estagnação; que eles vivem uma relação paradoxal com a morte; que a sua
autoestima e o seu valor pessoal encontram-se profundamente comprometidos; que
eles carregam um sentimento de despotencialização e de culpa e que estabelecem
uma barreira na sua relação com o outro.
A experiência da depressão é considerada pela maioria dos entrevistados como
um fenômeno de difícil descrição, associado a um alto grau de sofrimento físico,
psicológico e social, cuja manifestação inicial ocorre, principalmente, por meio
de sinais do corpo (LEITE, 2009)
Através desses resultados- nota-se que a depressão acarreta uma série de
sensações encaradas como pessimistas, porém, cada pessoa encara de uma forma
singular, apesar de suas características encontradas nos principais manuais de
psicodiagnóstico (DSM-IV e CID 10).
Ainda em sua pesquisa, Leite (2009) trouxe a fala de um colaborador que
discorre a respeito dos sintomas físicos que sente, impossibilitando sua qualidade de
vida:
Bom, depressão pra mim no meu caso... eu nunca mais tive saúde depois que
tive depressão. Eu me considero assim. Era uma pessoa saudável... era obeso,
gordo, fumava muito, sedentário, mas com a depressão tirou toda a minha
vontade de viver, de trabalhar. Tive período de altos e baixos, mas saúde
mesmo nunca recuperei, porque... por mais que eu diga que estou bem, de
repente me sinto mal (Francisco).
Passar
por
uma
depressão
é
algo
desesperador,
principalmente
por
impossibilitar a pessoa de suas atividades prazerosas, deixando-a isolada do seu
convívio social. Velasco (2009) afirma que ninguém sabe, ao certo o que sente um
depressivo, somente a pessoa que já passou pela mesma experiência.
O suicídio também é uma consequência aterradora para o depressivo, pois a
desesperança é uma grande aliada, deixando a pessoa sem possibilidades e sem
perspectivas perante a vida, tornando-o um refém da doença.
45
Velasco (2009) aponta algumas características encontradas em pessoas
depressivas:
O depressivo despreza-se como ser humano, considera- se um “zero a
esquerda” no convívio social e familiar, sente-se culpado injustificavelmente. A
desesperança toma conta dele, deixando-o incapaz e sem vontade de viver.
Isso pode levar a pessoa ao suicídio.
A falta de sentido na vida para o depressivo torna-se algo aparentemente
normal, a ponto de não procurarem ajuda para solucionarem a doença. Moreira (2009),
afirma que a depressão é, atualmente, a forma mais comum de doença mental,
aumentando a cada ano o número de pessoas com esta enfermidade.
Ainda sobre a depressão, Virgínia Moreira (2007) preconiza que o objetivo maior
é compreender o significado da experiência vivida da depressão no Brasil, Chile e
Estados Unidos, focalizando prováveis variações culturais que possam contribuir para o
seu
entendimento
transcultural
entre
2000
a
2004.
Estatisticamente
foram
contabilizados 72 adultos com depressão ou com registros clínicos de depressão foram
submetidos a entrevistas fenomenológicas que buscaram a descrição da experiência
vivida da doença. Os resultados demonstraram que, ainda que não haja alteração na
sintomatologia entre os três países, a experiência vivida associada a estes sintomas
varia de acordo com os distintos processos culturais subjetivos que são característicos
de cada cultura.
Abaixo, são apresentados alguns trechos de entrevistas com pessoas que
receberam o diagnóstico de depressão e foram entrevistadas por Moreira (2009) No
Brasil, Chile e Estados Unidos da América:
“...chorava assim por qualquer coisa, ficava sem comer, passava semanas
sem comer. Ficava o tempo todo pensando em me matar e em morrer” (Brasil)
“Eu acho que depressão... é quando alguém... (titubeia) não quer viver, não
quer fazer nada, tudo parece o mesmo...” (Chile)
“Eu não queria me levantar de manhã. A vida não valia a pena, eu queria me
suicidar. Eu me levanto e penso: isso é inútil, eu não quero fazer isto...” (EUA)
O indivíduo com depressão não percebe seu mundo como ele realmente está
disponibilizado, possui uma séria desvalorização e reconhecimento de si mesmo. Como
pode ser observado pelas entrevistas dos colaboradores das pesquisas mencionadas
acima, a depressão é um problema que afeta todas as dimensões do indivíduo, não
podendo ser apenas descrita ou curada sem levar em consideração aspectos próprios
46
de cada pessoa na sua singularidade. A depressão é vivenciada não de forma coletiva,
como nos oferece os manuais diagnósticos, mas sim, observando e compreendendo
como é o mundo vivido pelo próprio sujeito.
MOREIRA & CALLOU (2006) apresentam um artigo intitulado “Fenomenologia
da solidão na depressão”. Nesse trabalho há a descrição de um desdobramento da
pesquisa que estuda, especificamente, a solidão relacionada à depressão. Serviram de
análise, entrevistas com 72 adultos (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n =
20, em Boston), com o foco na questão emergente: solidão. Objetivando aprofundar
essa temática e apresentar a relação entre solidão e a depressão na experiência de
vida, buscando compreender até que ponto a solidão é causa (etiologia) ou
consequência (sintoma) da depressão.
Todos os entrevistados possuíam o diagnóstico de depressão e a pergunta que
norteou a pesquisa foi: “Que relação você encontra entre o seu jeito de viver e a sua
depressão?” Assim, 21 entrevistas foram analisadas e os resultados foram: 1) Solidão
da mulher pela ausência do marido; 2) Solidão das mulheres viúvas; 3) Solidão pela
ausência de pessoas; 4) Solidão ontológica; 5) Solidão nos homens separados; 6)
Solidão e os animais; 7) Solidão e o vazio interior; 8) Solidão e os amigos.
“Era semelhante, mas era melhor. Porque eu morava com a minha mãe, com
esse meu filho; era mais gente em casa. E eu não me sentia tão só. Agora a
minha mãe não tá mais morando comigo, meu filho casou-se, eu tô só como os
dois filhos pequenos, aí eu me sinto assim, muito sozinha” (Brasil)
“Doutora, é aquela vontade grande de chorar, de morrer, que na hora da
depressão muito forte a gente se acha no mundo sem uma mão amiga, sem um
amparo, sem uma palavra de conforto, sem nada! A gente se acha assim
sozinha, olha pro lado e não vê ninguém” (Brasil).
“Vontade, uma vontade de chorar sem ter nenhum motivo... aquela solidão, né?
Não tem nenhum (motivo) e tem aquela solidão, aquela tristeza, aquela
angústia... tudo aquilo ali, né? Até que quando eu choro, até que eu melhoro um
pouco, alivia mais.”
No artigo comentado acima, ficou comprovado que a solidão é vivenciada pelos
entrevistados como sendo um sintoma e não como uma causa da depressão, indo de
acordo com os estudos selecionados para o presente trabalho.
Um caso de bastante repercussão relacionado à depressão é o de Ellen West,
utilizando a teoria de Ludwig Binswanger aplicada à psicopatologia.
Descrito por
47
MOREIRA, CRUZ & VASCONCELOS (2005) o artigo intitulado "O caso Ellen West de
Binswanger: fenomenologia clínica de uma existência inautêntica”, neste trabalho, as
autoras analisaram os conceitos de Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt, bem como de
corporeidade e temporalidade enquanto constitutivos de uma existência inautêntica.
Ainda, buscaram compreender tais conceitos no contexto do estudo de caso de Ellen
West.
Ellen não se abre ao mundo; em vez de dominar a situação, ela é dominada e
sua existência perde autonomia: os outros exercem uma supremacia negativa
com respeito à suas decisões, e Ellen fecha-se num eu dependente, inautêntico
e escravo, embora procure demonstrar auto-suficiência (p. 10)
Percebe-se, em Ellen West, a falta de sentido na vida, apesar de tentar de todas
as formas, demonstrar ser uma pessoa independente perante as demais pessoas. Foi
possível analisar como foi difícil viver de uma forma totalmente inaltêntica.
4.6 A depressão na contemporaneidade
A depressão vem ganhando espaço no cenário atual, por incapacitar milhares de
pessoas em todo o mundo, causando sofrimento e, como consequência mais
agravante, a morte dessas pessoas que são diagnosticadas com a doença. Pessoas
que estão deixando de lado seu bem maior, a vida, para simplesmente, deixa-la passar
sem que nada seja feito por eles.
Vieira (2005) discorre em sua dissertação de mestrado sobre a depressão. Com
o tema “Depressão: experiência de pessoas que a vivenciam na pós-modernidade”, a
autora afirma que a conquista das ciências e das tecnologias fez aumentar o número de
pessoas com doença mental a cada ano:
Em uma época, em que o capitalismo e o dinheiro permeia todas as relações na
sociedade ocidental, onde a velocidade da informação é imensa, e a
competição é estimulada, as pessoas estão encontrado dificuldades para parar
e olhar-se, refletir sobre a sua existência, individualidade e subjetividade (p. 33).
Atualmente, há uma disponibilidade enorme de relacionamentos virtuais e, com
muita frequência, as pessoas estão deixando de lado a experiência de estar com os
outros concretamente e, principalmente, distanciam-se da realidade e de si mesmos.
48
Consequentemente, ocorre uma quebra de contato com as pessoas a sua volta e com
eles próprios.
Cada pessoa possui a capacidade de lidar com as adversidades que ocorrem em
suas vidas, porém para algumas destas pessoas, tal capacidade encontra-se encoberta
por diversos motivos relacionados ao seu modo de ser no mundo. A depressão surge
como uma dessas adversidades, dificultando a relação deste ser humano com o
mundo, seja ele circundante (relação do ser humano com o meio ambiente), humano
(sua relação com os seus semelhantes) ou próprio (sua relação com ele mesmo,
através da reflexão).
O individualismo pode ser considerado um sintoma social, encontrando-se no
cerne das várias manifestações psicopatológicas que aumentam a cada dia,
tais como as desordens de alimentação, desordens de personalidade e,
obviamente, a depressão. O individualismo levará à produção cultural da
psicopatologia via problemas de autoestima, de instabilidade em lidar com a
intimidade e com o novo, da vivência cotidiana em uma sociedade
caracterizada por comportamentos condicionados por uma ideologia que
perpetua as desigualdades e as exclusões sociais (VIEIRA, 2005, p. 70).
Há de se concordar que o individualismo está cada vez mais evidente,
distanciando as pessoas e fazendo com que a depressão ganhe seu lugar de destaque
na vida dos mesmos. Cabe a cada um reconhecer que a doença necessita de
tratamento e colaboração do paciente para que haja êxito na sua melhora.
Moreira & Freire (2009) apontam a indiferença frente ao outro, em uma
sociedade de desigualdade e exclusão social, como um fator marcante na etiologia da
depressão. Assim, torna-se primordial o estudo da depressão sob uma ótica que vá
além de uma mera descrição de cunho fisiológico, limitando o homem à apenas um ser
que pode ser apenas descritivo, mas não compreendido.
A depressão atinge, então, seu auge pelo esvaziamento de significados afetivos
da vida humana, pela transformação do sistema de valores morais agora
subjugados ao modelo (hiper) individualista de sociedade. Contraditoriamente, o
sofrimento psíquico ligado ao vazio leva à busca incansável de intimidade,
aliada a sentimentos de solidão, e muita gente acaba caindo na armadilha dos
antidepressivos, já que, quanto mais se busca, menos se consegue sentir-se
acompanhado, dado que se busca está no plano do idealizado, não no plano da
realidade (Idem, 2009, p. 150).
O mundo individualista, cercado de consumismo, da busca de prazer imediato,
torna o indivíduo incapaz de suprir suas necessidades emocionais básicas e viver de
forma significante consigo próprio e com o outro. Para eles, a depressão se constitui no
49
encarceramento do ser humano em si mesmo e isso se deu pela sua incapacidade de
viver plenamente.
Ainda que a depressão seja uma doença dos afetos, no seu sentido mais amplo
se dá pela ordem dos desafetos, em um sistema cultural que não permite uma
ética na alteridade. A sociedade contemporânea está doente dos afetos,
contaminada pelas ideologias que impedem uma ética de alteridade e, portanto,
adoece, despotencializa e incapacita os indivíduos a viver significativamente, e
impõe a ordem do desafeto, que se transforma em depressão e em outras
patologias mentais. (MOREIRA& FREIRE, 2009, p. 155).
Nota-se que a depressão incapacita o indivíduo a refletir sobre suas atitudes e
valores perante a vida. É importante, primeiramente, que a pessoa se reconheça como
alguém que está necessitando de ajuda e precisa urgentemente ressignificar o seu
modo de ver e encarar o mundo.
O mundo atualmente passa por uma modificação no que está relacionado às
novas tecnologias, o acesso cada vez mais rápido a notícias, amizades virtuais,
relacionamentos que só existem no ambiente do computador e o aumento de
possibilidades de se tornar uma pessoa popular entre os demais através das redes
sociais (facebook, Orkut, twiter, Instagram, whatsApp) fazem deste ser humano uma
pessoa cada vez mais distante da sua própria realidade, perdendo o contato com o sua
realidade e com as pessoas que dividem o mesmo espaço físico. Pinheiro (2005)
descreve que:
quanto mais a cidade desenvolve possibilidades de encontro, mais sós se
sentem os indivíduos; mais livres as relações se tornamemancipadas das
velhas sujeições, mais rara é a possibilidade deencontrar uma relação intensa.
Em toda parte encontramos asolidão, o vazio, a dificuldade de sentir (p. 77).
Kremer & Hammond (2013), jornalistas, ambos correspondentes do serviço
mundial da rede de televisão British Broadcasting Corporation - BBC, na matéria
intitulada “por que tantos jovens japoneses têm medo de sair do quarto?”, na matéria
são apresentadas uma nova caracterização, no Japão, de jovens vítimas do 'hikikomori'
(arredio), termo utilizado para classificar as pessoas que acabam se isolando em seus
quartos por anos, podendo chegar a décadas, os casos podem chegar a um milhão no
país.
Quanto mais tempo o hikikomori permanecer longe da sociedade, mais
consciência ele terá de seu fracasso social. Ele perde qualquer autoestima e
50
confiança que tinha e a perspectiva de sair de casa se torna cada vez mais
aterrorizante (Ibid).
Segundo psiquiatras japoneses esses jovens passam anos sem sentirem
vontade e ânimo para sair de casa, atravessam por uma depressão avassaladora,
embora não se deem conta do que estão passando, em contrapartida, muitos até
sentem vontade de mudar a realidade em que se encontram, mas não conseguem
encontrar forças e motivação para mudarem este fato. Estes jovens aprisionam-se em
si mesmos e em seus quartos, protelando a oportunidade iniciarem algum tipo de
tratamento.
Fica evidente que a convivência com o outro, na era da internet, é algo
desafiador, pois dialogar pessoalmente com o outro gera certa “preguiça”, pois não há a
possibilidade de desligar algum tipo de assunto ou atitudes que não lhe interessa, como
acontece no mundo virtual. Celulares cada vez mais modernos, agregando redes
sociais, música e mensagens instantâneas, tudo em um só aparelho, faz com que o ser
humano não tenha curiosidade em conhecer o mundo real. Porém, o mundo virtual é
cercado de pessoas também vazias, sem interesse pelas suas próprias vidas,
vivenciando apenas o momento presente, que duram apenas o tempo suficiente para
que surja algo que lhe roube minutos de seu tempo ao longo do dia.
Teixeira (2006) apresenta três tipos de problemas que surgiram na sociedade
contemporânea, iniciadas a partir da ideologia individualista está presente na cultura do
narcisismo, no qual o ser humano necessita ser evidenciado, popular, bonito e
inteligente, causando consequências divididas em: perda da unidade psicológica (o
início é formado pela racionalização exagerada, simultânea com um esvaziamento
afetivo da vivência), perda de sentido da vida (pode relacionar-se simultaneamente com
fatores de natureza diferente, especificamente culturais, sociais e psicológicos) e
transformação da intimidade (momento em que ocorre uma vulgarização das
experiências
amorosas,
mais
situadasno
relacionamento
sexual
do
que
no
envolvimento emocional e afetivo de forma significativa).
É possível analisar a conduta do ser humano que convive em sociedade
atualmente, cercada de falsas felicidades, sentimentos profundos sendo trocados por
prazeres imediatos, cada vez mais disponíveis. Todas essas mudanças afetam a
subjetividade do ser humano, lhe causando depressão.
51
Moreira & Freire (2009) apontam o distanciamento das relações humanas com a
pós-modernidade, acarretando instantaneamente em um vazio existencial que nada
preenche e, consequentemente, a depressão ganha espaço no indivíduo:
A depressão na contemporaneidade significa uma incapacidade de viver
significativamente, fruto de uma concepção individualista que desestimula o ser
humano a pensar, a agir e a sentir coletivamente. Isto faz com que este
indivíduo permaneça circunscrito em si, às voltas com o seu próprio umbigo, e,
por conseguinte, no seu próprio sofrimento psíquico que, não se pode
esquecer, não é pouco (p. 154).
A depressão surge no momento em que o ser humano não se faz mais
questionamentos sobre a sua responsabilidade como indivíduo pensante e que reflete
sobre os acontecimentos á sua volta. Inicia-se um processo de encarceramento deste
ser que se torna passivo diante da vida, passando a aceitar tudo sem ter certeza se é
aquilo que ele deseja no momento ou não, pois não há mais sentido viver, todos os
seus pensamentos tornam-se negativos, falta sempre algo que o ser humano não sabe
descrever, características que são apresentadas em pacientes com depressão.
52
CONCLUSÃO
O presente trabalho é o resultado de uma inquietação particular, pois através
deste, tive o privilégio de buscar mais a fundo a verdadeira face da depressão no ser
humano e, principalmente, como esta se apresenta para cada pessoa de forma
singular. Foi demasiadamente importante a busca na literatura pelas características, do
diagnóstico da depressão e seu tratamento das mais variadas formas, as vivências
destas pessoas e principalmente poder compreender como esta doença vem se
propagando tão rapidamente na contemporaneidade.
Busquei dentro dos aportes respostas dos tratamentos farmacológicos para os
pacientes depressivos e, nesta revisão constatei, tanto na historicidade e na questão
clínica que, as substancias químicas que beneficiam o paciente, são as mesma que,
apresentam efeitos colaterais similares aos sintomas apresentados pela doença, como:
insônia, ausência do libido, distúrbios alimentares, fadiga etc. Sintomas esses que
estavam presentes antes do tratamento.
Já, na perspectiva da abordagem fenomenológica, cada pessoa acometida com
a depressão experiencia a doença à sua maneira e particularidade, por este motivo, o
primordial é que haja a compreensão deste ser humano, respeitando seu mundo
próprio, que se encontra em conflito, não apenas com a preocupação de descrever a
doença e determinar um tratamento igualitário para todas as pessoas, como prioriza a
visão médica atuante na psiquiatria.
Posto as duas formas terapêuticas, vislumbro e acredito na possibilidade de um
tratamento onde o paciente possa ser assistido por um grupo multidisciplinar, que por
um lado o método tradicional (psiquiatria descritiva) atue no diagnóstico e prescrição de
medicamentos necessários para o equilíbrio físico e, por outro lado, o mesmo paciente
sendo compreendido na sua totalidade com os princípios da fenomenologia (busca da
sua ruptura existencial entre o "ser feliz" e o "ser triste") na participação desse paciente
como co-autor de sua recuperação, exercitando a reflexão de sua historia de vida,
favorecendo assim, que o mesmo possa concluir o tratamento, uma vez que, sem o
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acompanhamento psicoterapêutico, esses indivíduos ao depararem com os efeitos
colaterais dos medicamentos, optam por desistir.
A depressão vem tirando o sorriso de milhares de pessoas ao redor do mundo,
dificultando a qualidade de vida destas pessoas. Quando não é diagnosticada a tempo,
acarreta sérios transtornos em todas as esferas em que a pessoa acometida pela
doença está inserida, seja na esfera pessoal, social, familiar, etc.
Dessa forma, é importante que se tenha um olhar acolhedor, desprovido de
conceitos pré-determinados para essas pessoas que, em muitos casos, são
ridicularizadas e tratadas com falta de respeito por alguns profissionais, ou não, que se
apoderam do senso comum e concluem que a depressão não passa de uma “frescura”
e que vai passar com o tempo.
Esse estudo trouxe uma contribuição íntima ao meu ser, pude perceber o quão
importante passa a ser a compreensão do ser humano que se encontra sem saída, sem
direção, vendo sua vida passar sem sentir vontade de vivê-la e desfrutá-la ao máximo.
Foi possível perceber como a vida pode ser um fardo penoso de ser carregado
por todos os dias por estas pessoas que tomam a iniciativa de procurarem ajuda e
mudarem a realidade em que se encontram. Imagino o quão difícil seja esta decisão e
como deve ser difícil dar o primeiro passo após esta escolha tão decisiva. È admirável a
atitude tomada por eles, mesmo que tenham ciência de que precisam de ajuda de
medicamentos, psicoterapias ou os dois tratamentos concomitantemente.
Trouxe-me também a vontade de querer ir cada vez mais longe em busca de um
mundo mais humano, mais aberto a acolher quem necessita de tratamento médico ou
psicológico, onde as pessoas possam ser compreendidas de acordo com as suas
enfermidades e conflitos individuais sem precisarem sofrer por não serem vistas em sua
totalidade.
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