MICOTOXINAS NA PECUÁRIA Farias, Cassiano Carlos1; Borba, Antônio Lúcio Correa2; Schmidt-Bellini, Jéssica3 1 Estudante do curso Técnico em Agropecuária do Câmpus Sombrio - Instituto Federal Catarinense Acadêmico do curso de Agronomia do Câmpus Sombrio - Instituto Federal Catarinense 3 Professor de Ensino Técnico e Tecnológico do Câmpus Sombrio - Instituto Federal Catarinense 2 1 Introdução Em climas tropicais e subtropicais, o desenvolvimento fúngico é favorecido por alguns fatores, como por exemplo, excelentes condições de umidade e temperatura. Para os países que apresentam um ou ambos os tipos de clima, como é o caso do Brasil, as toxinas pode ter efeitos econômicos representativos, uma vez que o país é um dos líderes na produção agrícola e de commodities. Além da perda econômica, estes organismos também são causadores de problemas de saúde pública, pois seus produtos tóxicos tem reconhecidos efeitos deletérios sobre a saúde humana e animal, constituindo-se atualmente, em contaminantes de cerca de 25% de todos os produtos agrícolas produzidos no mundo (Freire et al, 2007). Há muitos desses compostos, mas apenas alguns deles são regularmente encontrados em alimentos e rações animais como grãos e sementes. Todavia, os poucos descobertos nos alimentos têm grande importância para a saúde do ser humano e dos animais e a condição patológica resultante da ingestão das toxinas produzidas por fungos é chamada de micotoxicose (Gomes, 2003). Os efeitos das micotoxinas são extremamente graves e podem surgir muito rapidamente ou com período mais longo de efeito crônico ou cumulativo sobre a saúde, incluindo propriedades anabolizantes, estrogênicas, carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas (Hayes & Campbell, 1986; Dilkin, 2002; FAO, 2012). Devido a isto, conhecer o agente produtor e, qual a toxina existente é de vital importância para o estabelecimento de estratégias de controle deste que é um problema seriíssimo econômico, sanitário e médico. Os fungos provocam a decomposição dos alimentos e nesta ação, produzem metabólitos secundários - compostos químicos orgânicos de baixo peso molecular - sem imunogenicidade e muito tóxicos (Dilkin, 2002), chamados de micotoxinas. Estas não são essenciais para a sobrevivência e manutenção primária dos seus produtores, mas conferem vantagem competitiva sobre outros fungos e sobre bactérias presentes no ambiente, uma vez que são capazes de atingir outras espécies devido à sua toxicidez (Gomes, 2003). Mais de quatrocentas micotoxinas, conhecidas na atualidade, são produzidas por aproximadamente uma centena de fungos (Dilkin, 2002). As principais micotoxinas podem ser divididas em três grupos: as aflatoxinas, produzidas por fungos do gênero Aspergillus; as ocratoxinas, produzidas pelo Aspergillus ochraceus e diversas espécies do gênero Penicillium; e as fusariotoxinas, que possuem como principais representantes os tricotecenos, zearalenona e as fumonisinas, produzidas por diversas espécies do gênero Fusarium (Pinto & Vaamonde, 1996; Freire et al., 2007; FAO, 2012). A correta identificação dos tipos de toxinas encontrados nos alimentos, sejam de origem animal ou vegetal, é de interesse de toda a sociedade, já que as micotoxicoses constituem-se em grave ameaça à saúde pública. 2 Objetivo Identificar fungos produtores de toxinas em alimentos fornecidos a animais no Campus Sombrio e na região de abrangência do Campus. 3 Material e métodos Este trabalho foi executado em três etapas diferentes: i. Avaliação de ração oferecida a aves com sintomas de deficiência respiratória e morte no Campus Sombrio (início do ano de 2011); ii. avaliação de casca de mandioca ensilada, para existência de fungos patogênicos, também no Campus (ao longo de 2011); e, iii. avaliação de alimento ofertado a animais na comunidade (externa ao Campus, no primeiro semestre de 2012). A análise de todos os materiais foi realizada no laboratório de pesquisa em pós-colheita do IFC-campus Sombrio, sob mesma metodologia, sendo as amostras constituídas por 10g de cada um dos materiais homogeneizados e, quatro repetições cada. O isolamento de microrganismos foi realizado em meio de cultura Ágar-água, incubados à temperatura de 260C ± 10C, sem fotoperíodo. A avaliação e identificação dos fungos isolados a partir das amostras ocorreu após 72hr de incubação. Os materiais avaliados consistiram em: i. Milho quebrado e cama de aviário no caso das aves com problemas respiratórios; ii. Casca de mandioca ensilada em mini-silos, após armazenamento por 20, 30 e 40 dias e 10 meses utilizado na alimentação de ovinos em experimentação do setor de Zootecnia; e, iii. Amostras de casca de arroz ofertadas a equinos, que apresentavam sintomas patológicos graves, incluindo a mortalidade de dez animais. 4 Resultados e discussão Existem informações bem documentadas na literatura de que os fungos causam danos irreparáveis à saúde animal e humana quando consumidos diretamente ou os seus subprodutos em grãos, em farelo, em demais partes vegetais e mesmo produtos minimamente processados, que são produzidos e multiplicados quando sob condições inadequadas de armazenamento. Esta foi a motivação do projeto em micotoxinas, não só identificar problema sanitários nos alimentos, mas também, auxiliar na tomada de decisão sobre armazenamento e manutenção destes produtos. O início dos trabalhos, com a análise de farelo de milho e cama de aviário revelou que, naquele caso específico, os problemas respiratórios seguidos de morte nos galináceos jovens, especialmente naqueles com até 15 dias de vida, foi causado pela bactéria do gênero Salmonella e não por micotoxicose, como havia-se suspeitado inicialmente. Segundo Sterzo et al (2008), são conhecidos mais de 2.500 sorotipos de Salmonella, sendo cerca de 80 a 90 os mais comuns em casos de infecção em humanos e animais. Na segunda etapa, na investigação dos microrganismos em casca de mandioca ensilada (Farias et al., 2011), procurou-se avaliar a existência de patógenos neste subproduto, que costumeiramente é descartado após o beneficiamento da mandioca e apresenta potencial na alimentação de ovinos. Os resultados foram que, a casca de mandioca armazenada por dez (10) meses não apresentou qualquer tipo de microrganismo, seja bacteriano ou fúngico, nem nas extremidades nem no meio das amostras e, as mantidas por 20, 30 e 40 dias apresentaram somente bactérias, excluindo-se mais uma vez a possibilidade de produção de micotoxinas, que foi o foco deste trabalho. Na terceira etapa deste trabalho, analisou-se casca de arroz proveniente de fonte externa ao Campus. O farelo de arroz é bastante encontrado nas rações comerciais para animais pelo seu valor nutritivo, enquanto a casca não é comumente utilizada pelo baixo valor nutricional e por conter oxalato e silicato, que podem prejudicar a absorção de cálcio, provocar lesões no estômago e evoluir para úlceras (Alimentos, 2012). Embora a casca de arroz não deva ser ofertada aos animais, no municipio de Balneário Gaivota, região pobre, a estavam utilizando como uma alternativa barata de alimentação e alguns equinos apresentavam sintomas patológicos graves e mesmo, morte. A partir das amostras recebidas, descobriu-se a abundante presença de Fusarium moniliforme em todas as amostras, confirmando a suspeita e possibilitando o diagnóstico seguro pelo veterinário, da leucoencefalomalácia dos equinos. Os fungos crescem e se proliferam bem em muitos meios, contaminando frequentemente muitos produtos agrícolas (Ono et al., 2004), notadamente os cereais (principalmente amendoim, milho, trigo, cevada, sorgo e arroz), onde encontram substrato adequado ao seu desenvolvimento (Dilkin, 2002). Embora somente na terceira etapa deste trabalho tenha-se encontrado fungo produtor de micotoxinas, pode-se perceber a importância destas na saúde animal e também para a economia e a saúde pública, uma vez que, mesmo em pequeníssimas quantidades podem causar doenças graves e inclusive provocar morte. 5 Conclusão Considerando-se que a produção de micotoxinas pode ocorrer nas diversas fases do desenvolvimento, maturação, colheita, transporte, processamento e armazenamento de grãos, percebe-se a vital importância da pós-colheita no processamento e acondicionamento adequados dos vegetais e suas partes a serem consumidos, por animais e por humanos, estando relacionada diretamente não só à economia, mas principalmente na saúde pública. 6 Referências bibliográficas ALIMENTOS Concentrados na Alimentação de Equinos. UFPR. Disponível em: <http://www.gege.agrarias.ufpr.br/Portugues/equideo/concentrados.html>. Acesso em outubro de 2012. DILKIN, P. Micotoxicose suína: aspectos preventivos, clínicos e patológicos. Biológico, São Paulo, v.64, n.2, p.187-191, 2002. FAO (Food and Agriculture Organization). Micotoxinas em grãos. Disponível em: <http://www.fao.org/wairdocs/X5012O/X5012o00.htm#Indice>. Acesso em agosto de 2012. FARIAS, C.; BORBA, A.L.C.; DONADEL, E.; SEIBERT, E.; CERDOTES, L.; SCHMIDTBELLINI, J. Microrganismos associados a casca de mandioca ensilada. Anais da 2ª SIPE – Semana de Iniciação à Pesquisa e Extensão do Campus Sombrio. Sombrio, SC. 2011. FREIRE, F.C.O.; VIEIRA, I.G.P.; GUEDES, M.I.F.; MENDES, F.N.P. Micotoxinas: importância na alimentação e na saúde humana e animal. EMBRAPA Documentos, 110, Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 48p., 2007. GOMES, S.T.A. Micotoxinas do Fusarium sp. uma questão sanitária. Monografia de especialização, Brasília, UNB, 2003. 47p. HAYES, J.R. & CAMPBELL, T.C. Contaminants. In: Casarett, L.S. (Ed.) Toxicology: the basic Science of Poisons. New York: McMilliams, p.771-800.1986. ONO, E.Y.S.; MENDES, A.M.; MEIRELLES, P.G.; HIROOKA, E.Y.; ONO, M.A. Micotoxinas em alimentos. Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento, n.32, p.69-80. 2004. PINTO, V.E.F. & VAAMONDE, G. Hongos productores de micotoxinas en alimentos. Rev. Arg. Microb., Buenos Aires, v.28, n.3, p.147-162, 1996. STERZO, E.V.; VARZONE, J.R.M.; FERRARI, R. Salmoneloses Aviárias. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde. Vol. XII, n. 2. 2008. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil.