Manejo de Sistemas Agrícolas para Seqüestro de Carbono no Solo 343 Capítulo 13 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta Bruno José Rodrigues Alves Lincoln Zotarelli Cláudia Pozzi Jantalia Robert Michael Boddey Segundo Urquiaga Introdução Para o sucesso da agricultura, é importante conhecer como as práticas voltadas para o manejo dos componentes dos sistemas de produção interferem nos processos de formação da matéria orgânica no solo e na disponibilidade de nutrientes para as culturas. As avaliações quantitativas (estoques e fluxos) são importantes para dimensionar o resultado dos fatores envolvidos em um determinado sistema de produção. Por sua vez, o entendimento do papel desses fatores pode ser conhecido, de forma acurada e precisa, por meio do emprego de isótopos. Miolo_Biota.pmd 343 1/12/2006, 12:32 344 Capítulo 13 Os isótopos 13C e 15N têm tido ampla aplicação na pesquisa científica, não somente por serem estáveis e, por isso, não oferecerem riscos no manuseio, mas porque são isótopos de dois elementos de grande importância para o crescimento vegetal e que possuem os ciclos mais complexos nos sistemas agrícolas. Estudo da dinâmica de carbono A matéria orgânica tem grande influência sobre as propriedades químicas e físicas dos solos tropicais e por isso é considerada componentechave para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A decomposição de resíduos de vegetais e animais que chegam ao solo, que podem contribuir para o acúmulo de matéria orgânica no solo, reúne processos biológicos que são componentes essenciais do ciclo do C. Durante o processo de decomposição dos resíduos orgânicos, alguns compostos escapam da ação biológica por intermédio da interação com colóides minerais do solo, ou pelas próprias características estruturais que lhes confere recalcitrância, e passam a formar o húmus ou a matéria orgânica coloidal do solo. Assim, a qualidade e a quantidade do resíduo orgânico implicará maior ou menor acumulação de matéria orgânica no solo (URQUIAGA et al., neste Livro). As convenções sobre clima, realizadas na última década, trouxeram à tona a discussão sobre estratégias para o aumento nos estoques de matéria orgânica no solo, pois, além de proporcionar uma condição mais favorável para a fertilidade do solo, representa uma forma de mitigar o aquecimento do planeta pela diminuição da concentração de CO2 na atmosfera (LAL; KIMBLE, 2000). Pela importância que representa a matéria orgânica no solo, é importante conhecer a influência dos sistemas florestais, agrícolas e pastoris sobre o seu efeito no acúmulo ou preservação desse componente do solo. A abundância natural do 13 C Na natureza, existem dois isótopos do C que são estáveis e se encontram na natureza em suas devidas proporções. O 12C é o mais Miolo_Biota.pmd 344 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 345 leve e apresenta a maior proporção em relação ao total de C na natureza (98,89%), e o 13C conta com apenas 1,11% do total. Essas proporções se mantêm relativamente estáveis em qualquer resíduo orgânico. No entanto, com o advento de espectrômetros de massas mais sensíveis, encontrou-se que, quando o C passa de um estado físico-químico para outro, ocorre uma discriminação entre os dois isótopos, ou seja, um isótopo muda de estado preferencialmente, ou mais rapidamente, em relação ao outro. Isso faz com que ocorra uma variação na casa dos milhares na proporção 13C/12C. As análises da composição isotópica de C são feitas medindo-se a relação de 13C/12C das amostras em relação a um padrão internacional, e o resultado é expresso em termos de diferença de δ13C em relação ao padrão. O padrão internacional para o carbono é uma rocha calcária encontrada em uma formação geológica denominada Pee Dee, na Carolina do Norte, EUA, cuja abreviação é PDB (Pee Dee Belemnite), e tem uma relação molar de 13C/12C (R) de 0,01124. Os desvios em relação ao padrão são conhecidos como unidades δ (letra grega delta minúscula), e como são valores muito pequenos convencionou-se expressá-los em partes por mil (‰). A composição isotópica das plantas em relação ao padrão PDB é determinada pela equação: Em que R é a relação molar 13C/12C. Como a relação molar 13C/12C das plantas é inferior à do PDB, o δ13CPDB das plantas é negativo. Usando-se essa terminologia, os valores de δ 13C do CO2 atmosférico situam-se em torno de -7 ‰ δPDB13C, e as plantas têm valores variando de -11 a -35 ‰ δPDB13C (FARQUHAR et al., 1989). Daqui por diante, se utilizará o termo 1 delta como equivalente a 1 ‰ δPDB13C. As maiores diferenças na composição isotópica de C nos tecidos vegetais são observadas entre espécies que têm ciclo de carboxilação C3 e as que têm ciclo C4. As plantas do ciclo C3 (ou de Calvin) fixam o Miolo_Biota.pmd 345 1/12/2006, 12:32 346 Capítulo 13 CO 2 atmosférico através da enzima Rubisco (Ribulose bifosfato carboxilase/oxigenase), enquanto as C4 fixam CO2 através da enzima PEP carboxilase (fosfoenolpiruvato carboxilase). A PEP carboxilase apresenta alta afinidade (baixo Km) pelo CO2 (MAGALHÃES, 1985). Como a Rubisco apresenta uma menor afinidade pelo CO2 esta enzima discrimina o isótopo pesado de carbono, 13C, em relação ao isótopo leve, 12C, muito mais do que a PEP, e assim, as plantas de ciclo C3 acumulam menos 13C. A discriminação envolvida nesse processo foi relatada por Smith & Epstein (1971) para diversos grupos de plantas (Fig. 1). Nesse estudo, observou-se que uma significativa discriminação isotópica ocorria com intensidades diferentes entre plantas de ciclo fotossintético C3 e C4, as quais foram separadas em diferentes grupos. Plantas de ciclo C3, como as dicotiledôneas, discriminam mais intensamente o 13C e por isso apresentam variações na abundância isotópica de 13C que variam de -20 a -34 deltas (em média -27 deltas). Exemplares desse grupo com maior abundância de 13C pertencem a ambientes mais secos e, supostamente, devem apresentar alguma evolução no sistema fotossintético, afetando o aproveitamento do CO2 atmosférico. As plantas de ciclo C4, em sua maioria monocotiledôneas, discriminam menos o 13C e apresentam valores que variam de -9 a -17 deltas (em média -13 deltas). Em virtude da diferença média de 14 deltas, pode-se dizer que os ciclos fotossintéticos podem ser identificados com base na análise da variação da abundância isotópica de 13C. Entretanto, adaptações que levam a maiores relações 13C/12C parecem ser uma resposta da vida sob condições mais limitantes, como sob os ambientes xéricos e aquáticos. As briófitas podem apresentar um sinal isotópico semelhante a plantas C3 ou C4, dependendo das condições de disponibilidade de água. As algas podem ter como fonte de C o bicarbonato dissolvido na água, o que poderia explicar valores mais altos de δ13C encontrados para alguns representantes dessa família (Fig. 1). Em condições de estresse hídrico, plantas de ciclo C3 tendem a discriminar menos o 13C, o que tem sido utilizado como uma ferramenta para seleção de variedades mais adequadas para climas mais áridos (PATE, 2001). Miolo_Biota.pmd 346 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 347 Fig. 1. δ13C em diferentes grupos de plantas. Fonte: Adaptada de Smith e Epstein (1971). Dinâmica do C do solo avaliada por meio do isótopo 13 C O uso da abundância natural de 13C para estudo da origem do C do solo pressupõe que a matéria orgânica do solo reflete o material vegetal do qual se derivou (uma marcação in situ). Essa discriminação isotópica do 13C durante a decomposição do resíduo altera levemente a marcação isotópica da matéria orgânica do solo e o grau com que isso ocorre está relacionado com a composição química dos resíduos. Resíduos vegetais mais ricos em compostos, como proteínas, açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos, têm valores similares de 13C dentro de plantas com diferentes ciclos fotossintéticos (por exemplo – C4 e algodão – C3), e são facilmente decomponíveis. Lipídeos e carotenóides, porém, são empobrecidos em 13C nessas duas espécies e de decomposição mais lenta (WHELAN et al., 1970). Celulose e hemicelulose compõem de 57% a 77% do tecido de plantas herbáceas, e são tipicamente Miolo_Biota.pmd 347 1/12/2006, 12:32 348 Capítulo 13 enriquecidas em 13C de 1-2 deltas em relação ao material total da planta. Plantas arbóreas possuem de 17% a 31% de lignina na sua biomassa do tecido lenhoso, que possui maior teor de carbono (>50%) do que a celulose, sendo por isso responsável por uma maior percentagem do C total. A lignina é um composto de difícil decomposição e empobrecido em 13C em relação à celulose (BENNER et al., 1987), o que é um outro fator para determinar a marcação final da matéria orgânica do solo. Não obstante, tem sido observado que, na maioria dos casos, a discriminação isotópica pela decomposição é pequena e varia entre 1 e 2 deltas (BALESDENT; MARIOTTI, 1987; MARTIN et al., 1990). A técnica de variação da abundância natural de 13C é empregada com sucesso em vários estudos para estudar a dinâmica de carbono do solo, em longo prazo, em que o padrão fotossintético da vegetação original foi modificada (BALESDENT; MARIOTTI, 1987; MARTIN et al., 1990; SKJEMSTAD et al., 1990; JASTROW et al., 1996). Um exemplo dessa relação foi mostrado no trabalho publicado por Tarré et al. (2001), que estudou a variação na marcação isotópica do C em uma pastagem de braquiária (plantas C4) estabelecida em uma área anteriormente ocupada por uma floresta (ciclo C3). A matéria orgânica do solo sob floresta que tinha uma composição isotópica inicial em torno de -25 deltas, recebeu por um longo tempo carbono enriquecido em 13 C da pastagem (aproximadamente -12 deltas) e teve sua composição isotópica modificada até 30 cm de profundidade (Fig. 2). Sabendo-se a composição isotópica inicial do solo sob a vegetação nativa e sob a cultura, é possível calcular a quantidade de C derivado das plantas C3 e C4, o que é interessante em estudos de ciclagem do carbono no solo e decomposição da matéria orgânica (BALESDENT et al., 1988; MARTIN et al., 1990; SISTI et al., 2003). Para calcular a proporção da matéria orgânica de origem C3 nativa que é substituída pela matéria orgânica derivada de espécies C4, ou vice-versa, utiliza-se a seguinte relação: %MOSA = 100 -%MOSf Miolo_Biota.pmd 348 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta Fig. 2. Abundância de humidicola. 349 13 C no perfil de um solo sob pastagens de Brachiaria Fonte: Tarré et al. (2001). Em que %MOSF é a proporção da matéria orgânica do solo derivada da vegetação nativa (C3), que possui uma marcação natural δ13CF. δ13CA é a marcação natural da vegetação C4. δ13CB é a marcação natural do C do solo sob a nova vegetação. É uma metodologia simples de ser empregada e sem riscos para o operador, e demanda, principalmente, um espectrômetro de massas de alta precisão para análise da composição isotópica das amostras. Utilizando essa técnica na França, Balesdent & Mriotti (1987) observaram que após 23 anos de cultivo onde as folhas e colmos do milho eram incorporadas no solo, somente 19% do C-orgânico do solo, nas frações de 0-50 µm, era proveniente do milho. Quando esses resíduos foram deixados em superfície, a incorporação do C-milho no C-orgânico do solo ficou em torno de 13%. Miolo_Biota.pmd 349 1/12/2006, 12:32 350 Capítulo 13 Em sistemas consorciados, a matéria orgânica nativa do solo de origem C3 (por exemplo, no caso de áreas cuja vegetação nativa era uma floresta) é substituída por matéria orgânica derivada de culturas de ciclos C3 e C4. Nesse caso, pode ser necessário estimar a contribuição da cultura de ciclo C3 para o estoque de matéria orgânica do solo, ou mesmo para melhor compreender a dinâmica da matéria orgânica do solo (TARRÉ et al., 2001; SISTI et al., 2003). Uma forma de estimar a contribuição dos resíduos da espécie C3 foi proposta por Cadisch & Giller (1996), para avaliar o papel das leguminosas forrageiras em pastagens de braquiária, e é expressa na equação que se segue: Em que %MOSl é a proporção da matéria orgânica do solo derivada da espécie C3, que possui uma marcação natural δ13Cl. δ13Cg é a marcação natural na espécie C4 e δ13C(g) a marcação do solo sob esta espécie. δ13C(gl) é a marcação natural do C do solo sob o consórcio. C(g) e C(gl) são, respectivamente, o conteúdo de C do solo sob a espécie C4 e sob o consórcio. Fica claro que, para o emprego dessa técnica, é necessário ter um sistema-controle em que somente espécies C4 sejam utilizadas. Essa técnica também possui a premissa de que a quantidade de C nativo do solo é semelhante na área consorciada e na área-controle. Origem e destino do N em sistemas agrícolas por meio do emprego de 15N Os solos tropicais são caracteristicamente pobres em N disponível para a maioria das culturas-planta, e a adição de adubos ricos nesse elemento são fundamentais para garantir alta produtividade das mesmas. No entanto, as quantidades a serem aplicadas, assim como a forma e Miolo_Biota.pmd 350 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 351 localização, são variáveis importantes do manejo das culturas e são determinantes para o nível de aproveitamento do N derivado dos adubos. Do ponto de vista ambiental, é importante otimizar o uso dos fertilizantes para reduzir os níveis de perda (ou risco de poluição), e, por serem inevitáveis, conhecer a forma com que esse elemento está sendo perdido para o meio ambiente. O N é, também, um dos elementos mais importantes no processo de acumulação de matéria orgânica no solo (URQUIAGA et al., 2002), e, dessa forma, espécies vegetais que possam introduzir N no sistema por meio do processo de fixação biológica de nitrogênio, como os adubos verdes, aumentam as possibilidades de acumular matéria orgânica no solo, além de diminuírem a necessidade de fertilização com N (ZOTARELLI et al., 2002). As técnicas baseadas no uso de 15N possibilitam uma melhor compreensão da dinâmica desse nutriente no sistema solo-planta-atmosfera. A técnica parte do princípio de que qualquer material existente na natureza que possua nitrogênio em sua constituição apresentará uma proporção de 0,366% de átomos de 15N em relação ao total de N, que em sua maioria é composto do isótopo 14N. Assim, se uma planta cresce utilizando N de duas fontes (ex. solo e fertilizante), e uma delas for artificialmente enriquecida com 15N, é possível determinar a contribuição de cada uma para a nutrição da planta. Estudos mais detalhados de cada fonte também podem ser feitos, como avaliação da eficiência de fertilização, perdas do sistema, etc., como será mostrado mais adiante. O enriquecimento das fontes de N se faz com a adição de fertilizantes enriquecidos com 15N, como sulfato de amônio, por exemplo. Por meio de técnicas que empregam resinas de troca iônica, é possível obter substâncias nitrogenadas com uma proporção de 15N maior do que a encontrada na natureza (ex. com 1% de 15N em relação ao total). De fato, a maioria das metodologias que empregam o isótopo 15N utiliza substâncias enriquecidas em 15N. Quando se trabalha com substâncias enriquecidas, é comum utilizar-se o resultado de enriquecimento em excesso, ou seja, o valor de enriquecimento acima da abundância natural. Em termos práticos, desconta-se o valor 0,366% do resultado da análise da amostra. Miolo_Biota.pmd 351 1/12/2006, 12:32 352 Capítulo 13 Uso de material enriquecido com 15 N Uma possibilidade para o uso de 15N como traçador é o emprego da marcação direta de resíduos orgânicos. Nesse caso, o resíduo de interesse deve ser marcado pela adição de um fertilizante marcado com 15N durante o crescimento da planta. No caso de adubos verdes, por exemplo, é comum o interesse em medir a transferência do N existente no adubo verde para a cultura sucessora. Nesse caso, podese crescer a espécie utilizada como adubo verde em recipientes sob condição de irrigação controlada e fertilizá-los com 15N. A planta crescerá em um meio onde a fonte de N está enriquecida com 15N e conseqüentemente os tecidos dessa planta ficarão com alta marcação de 15N. O adubo verde poderá ser utilizado em experimentos de vasos ou diretamente no campo. No último caso, uma área é delimitada e o material existente é substituído na mesma proporção pelo adubo verde marcado. A proporção do N derivado do adubo verde (%Ndav) é calculada como sendo: No trabalho desenvolvido por Cueto-Wong et al. (2001), objetivou-se avaliar o papel da adubação verde na nutrição do sorgo. Foram utilizadas como adubo verde ervilhaca-peluda (Vicia villosa) e alfafa (Medicago sativa), enriquecidas com 4% a 6% de átomos de 15N, após crescimento em meio enriquecido com 15N. O emprego dos adubos verdes enriquecidos com 15N permitiu mostrar que a maior proporção do N derivado dos adubos verdes ficou imobilizada na camada mais superficial do solo, sendo o sorgo beneficiado apenas com menos de 20% do N adicionado por essa via (Tabela 1). A técnica de marcação direta pode ser usada em outras situações, como numa aplicação de um composto, excretas animais, etc. Essa técnica foi usada por Ferreira (2002), por exemplo, para avaliar o destino do N aplicado ao solo na forma de urina bovina. Nesse estudo, parte da urina recolhida de vacas leiteiras foi substituída por um igual volume de uma solução de uréia, na mesma concentração do encontrado na urina, enriquecida com 15N. Um volume de 1,5 litro da urina foi aplicado ao Miolo_Biota.pmd 352 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 353 Tabela 1. Recuperação de 15N pelo sorgo forrageiro e em duas profundidades do solo, após adubação verde com com duas quantidades diferentes de alfafa e de ervilhaca-peluda, enriquecidas com 15N. Legume Quantidade aplicada (mg ha-1) Alfafa (baixo) Alfafa (alto) Ervilhaca (baixo) Ervilhaca (alto) 2,7 4,0 3,2 6,4 Partes do sorgo Parte aérea Parte aérea colheita 1 colheita 2 15 Profundidade do solo (cm) Raízes 0-30 30-60 N recuperado – Proporção do adicionado 13,2 10,0 13,6 13,1 2,9 3,4 3,2 3,3 2,4 1,5 2,3 1,6 64,2 70,8 20,8 45,2 4,2 2,6 2,5 1,9 Fonte: Modificada de Cueto-Wong et al. (2001). solo numa área equivalente ao observado após a micção dos bovinos. Posteriormente, foram feitas colheitas consecutivas do material em oferta e, finalmente, de todo o material vegetal e liteira existente sobre o solo da área de estudo. Graças ao uso da marcação com 15N, foi possível mostrar que somente 18% do N proveniente da urina foram recuperados no material vegetal. O restante se encontrava no solo ou foi perdido do sistema por lixiviação, ou por meio de formas voláteis desse elemento. Uma informação importante é a de que o N da urina tornou-se mais disponível para as plantas após 115 dias da aplicação da urina sobre o solo (Fig. 3). Isso pode ser um indicativo de que os resíduos vegetais existentes sobre o solo podem ter imobilizado o N da urina e mineralizado posteriormente. Outra possibilidade seria a capacidade de absorver o N disponível no solo pelas plantas, que poderia estar limitada no início do experimento, em virtude da alta concentração salina da urina e baixa umidade do solo, ou por efeito sazonal. Métodos indiretos A técnica indireta é usada para estudar a utilização pela planta de determinada fonte de N não marcada. Tem sido empregada para o estudo da contribuição da fixação biológica de nitrogênio para as plantas Miolo_Biota.pmd 353 1/12/2006, 12:32 354 Capítulo 13 Fig. 3. Proporção do N na planta derivado da urina e percentagem do N da urina recuperado em cada corte de Brachiaria humidicola (1,5 L com 0,5059% N e 1,037% atm 15N excesso) em pastagem sobre um Argissolo, na região da Mata Atlântica, localizado em Itabela, BA. Fonte: Ferreira (2002). (BODDEY, 1987) e também para avaliar a contribuição de diferentes resíduos na nutrição nitrogenada das plantas (URQUIAGA; ZAPATA, 2000). O isótopo 15N é adicionado ao solo de forma que se tenham dois tratamentos. Em um deles, somente o 15N-fertilizante é adicionado ao solo (tratamento-controle), e o outro receberá, também, a fonte de N que se deseja estudar. É recomendável se utilizar pequenas doses de N com alto enriquecimento de 15N para evitar que ocorram efeitos de interação entre a fonte marcada e o solo (efeito INA – JENKINSON et al., 1985; BODDEY et al., 1993). Para minimizar os problemas relacionados com a técnica, deve-se certificar que a área foi marcada uniformemente. Miolo_Biota.pmd 354 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 355 Diluição isotópica de 15N O próprio nome dado à técnica resume o processo que ocorre para quantificação da contribuição da fonte marcada para a nutrição da planta. A planta que cresce na parcela-controle, que foi enriquecida, mas não recebeu a fonte não marcada sob estudo, apresentará um enriquecimento de 15N que reflete a marcação do N disponível para a planta. Por sua vez, a planta que recebe N da fonte não marcada apresentará uma diluição isotópica de 15N em relação à planta do tratamento-controle. Quanto maior a diluição maior é a contribuição da fonte não marcada. Quando se deseja estudar uma fonte orgânica de N, como adubos verdes, excretas de animais, compostos orgânicos, etc, a contribuição das mesmas (%N de FO) para a nutrição da planta é calculada da seguinte forma: Essa equação também pode ser usada para avaliar a transferência do N fixado por uma leguminosa para uma cultura em consórcio, ou mesmo quando se faz uma adubação verde de pré-cultivo. Neste caso, utiliza-se no numerador o enriquecimento de 15N da planta na parcela que recebeu a adubação verde, e, no denominador, o enriquecimento de 15N da mesma planta, porém na parcela que não recebeu adubação verde. A técnica de diluição isotópica de 15N também é utilizada para quantificar a contribuição da fixação biológica de nitrogênio (FBN) para as plantas. Nesse caso, o solo recebe uma quantidade de fertilizante marcado com 15N suficiente para elevar o enriquecimento do solo, mas com mínima interferência no processo de FBN. Normalmente, as doses utilizadas ficam entre 10 kg N ha-1. Para avaliar o enriquecimento de 15N no N disponível do solo, uma planta não fixadora de N2 é utilizada como testemunha. A estabilidade da marcação do solo com 15N é uma das condições que permite o atendimento da premissa da técnica de diluição isotópica Miolo_Biota.pmd 355 1/12/2006, 12:32 356 Capítulo 13 de 15N para quantificação da FBN: “A planta testemunha, ou controle, e a planta fixadora de N2 devem absorver N do solo com o mesmo enriquecimento de 15N” (BODDEY, 1987). Uma vez obedecida essa condição, plantas que utilizem 100% do N do ar apresentarão em seus tecidos 0% de 15N em excesso e, pelo oposto, plantas que não se beneficiam da FBN apresentarão um enriquecimento de 15N igual ao do N disponível do solo, ou, em outras palavras, igual ao da planta testemunha. A contribuição da FBN por meio da técnica de diluição isotópica de 15N é feita calculada pela seguinte fórmula: Em que % Nda é a percentagem de N derivada da FBN Na realidade, é muito difícil ter satisfeita a condição de estabilidade no enriquecimento de 15N do solo, sendo portanto de grande importância a seleção de uma planta-controle adequada. A marcação do solo em termos de área não apresenta grandes dificuldades. O maior problema é a marcação uniforme em 15N até a profundidade onde as raízes extraem o N para sua nutrição, o que diminuiria muito a influência das diferenças do padrão de distribuição das raízes tanto entre as variedades testadas quanto entre estas e a planta-controle (BODDEY et al., 1996). Ainda mais complicado é a dificuldade de se ter uma marcação com 15N no N disponível do solo estável com o tempo (WITTY, 1983). Se a amplitude e a freqüência de variação do enriquecimento de 15N no solo são grandes, a única alternativa para se ter êxito na quantificação da FBN é o uso de uma planta-controle que apresente um padrão de absorção de N do solo com o tempo muito semelhante ao da planta teste. Deve-se destacar que é muito difícil determinar a curva de absorção de N do solo de uma planta fixadora de N2; contudo, quanto mais lentas as mudanças do enriquecimento de 15N no N disponível do solo com o tempo, menos crítica é a seleção da planta-controle. Miolo_Biota.pmd 356 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 357 Uma planta-controle ideal seria aquela em que a única diferença da planta teste fosse apenas a incapacidade de obter contribuições da FBN. Muitos autores têm recomendado o uso, como planta-controle, de um genótipo não nodulante das leguminosas teste em estudo. Genótipos não nodulantes ou nodulantes, mas não fixadores, de muitas leguminosas são agora disponíveis, mas, em virtude das muitas variações no hábito de crescimento e enraizamento dentro de uma mesma espécie, estas podem não ser apropriadas para todas as situações. No que se refere às plantas-controle, quando não se tem certeza da uniformidade de marcação do solo com 15N, recomenda-se o uso de pelo menos três espécies que não fixem nitrogênio e que tenham comportamento de crescimento e de enraizamento bem diferentes entre si (BODDEY et al., 1995). Se, no momento da colheita, o enriquecimento de 15N das plantas-controle forem similares, pode-se concluir que a marcação do solo apresentava certa uniformidade e não haverá problema para quantificação da FBN. Para minimizar os problemas quanto à escolha da planta-controle, uma estratégia é minimizar as variações na marcação de 15N no N disponível com o tempo. Pela facilidade, o método mais usual de enriquecimento do solo com 15N é por meio da aplicação de solução de fertilizante marcado com 15N (ex. uréia, sulfato de amônio, nitrato de potássio, etc.) na superfície do solo (HARDARSON; DANSO, 1993). O problema mais importante associado com o uso de fertilizantes solúveis marcados com 15N deve-se ao fato de que, imediatamente após a aplicação destes, ocorre uma rápida queda no enriquecimento de 15N no N mineral do solo, em razão da contínua mineralização do N não-marcado da matéria orgânica do solo que continuamente vai diluindo o 15N do N mineral do solo, ou em virtude das perdas por lixiviação e/ou volatilização do N mineral do solo (WITTY, 1983). Para diminuir as mudanças temporais de enriquecimento de N no N mineral do solo, tem-se proposto a adição de pequenas quantidades de N marcado solúvel em intervalos regulares (ex. semanalmente) (OLIVEIRA et al., 1992). Essa técnica, contudo, está sujeita a erros, se colheitas seqüenciais de plantas são feitas, e se a disponibilidade de N do solo é alta. Neste caso, as plantas controle e 15 Miolo_Biota.pmd 357 1/12/2006, 12:32 358 Capítulo 13 teste podem remover diferentes quantidades de N do solo, deixando quantidades diferentes de N mineral residual no solo para as subseqüentes colheitas. Além disso, a adição de N marcado ao solo resultará em enriquecimento diferente do N mineral para as duas culturas, no começo do período de crescimento seguinte. Uma outra estratégia para diminuir as mudanças temporais e a queda do enriquecimento de 15N do solo é a utilização de uma fonte de liberação lenta de 15N. Nas diferentes formulações de liberação lenta de N incluem-se a adição de matéria orgânica marcada com 15N e a mistura de substratos carbonatados, como a sacarose e celulose, com fertilizantes nitrogenados solúveis, que promoverão uma imobilização e posteriormente uma liberação lenta do 15N adicionado (GILLER; WITTY, 1987; BODDEY et al., 1995). Estimativa do N disponível do solo (Valor A) Descrita por Fried & Dean (1952), a técnica de valor A é uma medida que estima a quantidade de N do solo que esteve disponível para a planta durante o seu desenvolvimento. O valor é expresso em termos do fertilizante aplicado marcado com 15N. A técnica é considerada indireta e é baseada no conceito de que, quando existem duas ou mais fontes de nitrogênio (exemplo: N do solo e N do fertilizante), a planta absorverá, de cada fonte, quantidades proporcionais às respectivas quantidades disponíveis. Conforme descrito em Alves et al. (1999), o valor A do solo é calculado baseando-se na seguinte relação: Em que QNF é a quantidade de N na forma de fertilizante aplicada no solo %Nddf é a percentagem de N derivada do fertilizante, calculada pela expressão: Miolo_Biota.pmd 358 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 359 sendo a percentagem de 15N em excesso, na planta ou do fertilizante, calculada subtraindo-se 0,366 dos valores de abundância de 15N obtidos da análise por espectrometria de massas (como é muito comum o termo em excesso, normalmente os valores fornecidos pela análise já vêm expressos em % átomos de 15N em excesso). A %Ndds é obtida subtraindo-se a %Nddf de 100. Senaratne & Hardarson (1988) propuseram o uso da técnica de valor A para estimar a contribuição do N dos resíduos de colheita para a cultura sucessora. Avaliou-se a contribuição dos resíduos de ervilha e sorgo para a cultura de cevada. Os autores encontraram que o valor A na rotação ervilha-sorgo foi 233 kg ha-1 de N, 74 kg ha-1 de N maior que o valor A encontrado na rotação cevada-sorgo. O valor mais alto na rotação ervilha-sorgo correspondeu a um adicional de 9 kg ha-1 de N de contribuição dos resíduos de ervilha para o sorgo, derivados da contribuição da FBN para a ervilha. Por meio da técnica de valor A, também pode se estimar a contribuição do N das raízes das culturas para o incremento de N do solo. Alves et al. (2002) aplicaram a técnica de valor A para estudar o efeito dos resíduos da soja sobre a disponibilidade de N para a cultura do trigo, plantado em secessão. O trigo foi plantado numa área anteriormente cultivada com soja e em uma área adjacente que ficou em pousio no verão, com cobertura de aveia. Foram montadas duas microparcelas de 2,0 x 1,0 m dentro da área com resíduos de soja. Na microparcela 1, o resíduo foi mantido intacto, e, na micro-parcela 2, todo resíduo foi removido. Na parcela adjacente, em pousio no verão, foram montadas mais duas microparcelas. Uma dessas microparcelas foi mantida com resíduo remanescente da cultura de aveia e a outra microparcela teve todo resíduo de aveia removido. Todas as microparcelas receberam sulfato de amônio marcado com 15N (11,6% 15N em excesso), na mesma dose utilizada para o plantio do trigo. Os resíduos da soja proporcionaram um aumento de cerca de 30 kg ha-1 na disponibilidade de N para a cultura do trigo (Tabela 2). A técnica de valor A também permitiu mostrar que na microparcela em que se removeram os resíduos da superfície do solo houve um incremento na disponibilidade de N do solo de cerca de 24 kg N ha-1, o que poderia ser atribuído ao sistema radicular da cultura. Miolo_Biota.pmd 359 1/12/2006, 12:32 360 Capítulo 13 Tabela 2. Rendimento e disponibilidade de N do solo (Valor A) para o trigo plantado, ou não, em área com resíduos de soja (Londrina, PR). Local de plantio do trigo Área de soja Com resíduos Sem resíduos Área de pousio Com resíduos Sem resíduos Rendimento Valor A Incremento de N do solo pelos resíduos* (kg ha-1) 2.463,9 2.219,4 117,6a 111,4a 29,8a 23,5b 1.776,1 1.858,6 92,1b 87,9b 4,3c – * O incremento na disponibilidade de N do solo foi calculado pela diferença entre o Valor A encontrado para cada tratamento e o controle (área de pousio sem resíduos). Valores seguidos de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. Fonte: Modificada de Alves et al. (2002). Variação natural do 15N A técnica de abundância natural de 15N baseia-se no fato de que, geralmente, o N do solo é levemente enriquecido em 15N em comparação ao N2 do ar (SHEARER et al., 1978). O N da atmosfera apresenta a seguinte composição isotópica: 99,6337% de átomos de 14N e 0,3663% de átomos de 15N (JUNK; SVEC, 1958). Em virtude da discriminação isotópica que ocorre durante as transformações que o N sofre no sistema solo-planta, como mineralização/imobilização e desnitrificação/ nitrificação, é possível se observarem pequenas variações na composição isotópica (14N e 15N) no solo e nas plantas (MARIOTTI et al., 1982). Normalmente essa discriminação resulta num pequeno enriquecimento em 15N do N do solo e das plantas em relação ao ar atmosférico (SHEARER et al., 1978; MARIOTTI et al., 1982). Essa diferença é muito utilizada em estudos de quantificação da FBN (DELWICHE; STEYN, 1970; RENNIE et al., 1976), e a interpretação básica dos resultados será a mesma da técnica de diluição isotópica de 15 N: a planta não fixadora apresentará um enriquecimento de 15N muito semelhante ao solo e maior do que o da planta fixadora. Para a estimativa da FBN por meio da abundância natural de 15N, utiliza-se a seguinte expressão: Miolo_Biota.pmd 360 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 361 Em que P é a % de fixação biológica de N δ15N solo é o valor de δ15N encontrado na planta testemunha coletada em cada parcela experimental B é o fator de correção do fracionamento isotópico ocorrido pelas plantas de soja crescendo exclusivamente dependente da FBN. O método da abundância natural de 15N para a quantificação da FBN sofre os mesmos problemas dos outros métodos isotópicos, tal como a técnica da diluição isotópica a partir do enriquecimento do solo, como discutido anteriormente. A premissa básica é que as plantas fixadoras e não-fixadoras absorvem N do solo com a mesma marcação de 15N (SHEARER; KOHL, 1986; BODDEY, 1987). No caso do método da abundância natural, existe uma dificuldade adicional: o fracionamento isotópico que ocorre durante a assimilação de N pelas plantas. Essa dificuldade é solucionada crescendo a planta fixadora hidroponicamente em solução livre de N, pois, assim, o seu enriquecimento em 15N representará o enriquecimento do N2 atmosférico e o fracionamento isotópico associado com a fixação biológica de nitrogênio (SHEARER; KOHL, 1986). Pela Fig. 4, observa-se que, variando-se o valor de B, tanto em condições de alta FBN (testemunha com 10 deltas) quanto baixa (testemunha com 5 deltas), o erro é elevado e não reduz sua importância significativamente com o incremento da FBN. Ainda na Fig. 4, assumindo-se uma variação de 1 delta para ambas as testemunhas (5 e 10 deltas – valores comuns para solos brasileiros), observa-se, em cada valor de B, que a variabilidade das estimativas aumenta drasticamente com a diminuição da FBN. A grande variabilidade é atribuída ao erro de 1 delta na baixa marcação de 15N do solo (5 deltas), muito próxima da marcação da planta fixadora (2 deltas). Embora seja apenas um exemplo fictício, situações semelhantes são observadas freqüentemente em estudos que utilizam a técnica, o que torna imprescindível aumentar o número de pontos de amostragem e de espécies-testemunhas para ganho de precisão e exatidão das estimativas de FBN. Miolo_Biota.pmd 361 1/12/2006, 12:32 362 Capítulo 13 Fig. 4. Variação na estimativa da FBN para uma leguminosa que apresenta 2 deltas de abundância de 15N, em duas condições de marcação do solo, e para diferentes valores de B. Considerou-se uma variação constante de 1 delta para as testemunhas. Shearer e Kohl (1986) destacam como vantagem desse método o fato de não haver necessidade de adição de N marcado, evitando os problemas de inibição da fixação de N e de estabilidade da marcação ao longo do tempo. O uso dessa técnica, com os devidos cuidados descritos, normalmente apresenta altas correlações com a técnica de diluição isotópica de 15N com aplicação de 15N-fertilizante na marcação do solo. Atualmente, é a técnica mais difundida e aceita para fins de quantificação da contribuição da FBN para as plantas (PEOPLES et al., 1989). A contribuição da FBN para a cultura da soja na região de Dourados, MS, cultivada em diferentes sistemas de rotação, foi avaliada por meio da técnica de abundância natural de 15N (Tabela 3). As testemunhas foram ervas que cresceram espontaneamente na área experimental. Miolo_Biota.pmd 362 1/12/2006, 12:32 Emprego de Isótopos Estáveis para o Estudo do Carbono e do Nitrogênio no Sistema Solo-Planta 363 Tabela 3. Contribuição da FBN para a cultivar de soja BR 16, estimada a partir da análise de δ15N das plantas de soja das diferentes rotações e das espécies invasoras usadas como testemunha. Espécie Soja Amaranthus spinosus L. Leonotis nepetaefolia L. Euphorbia heterophylla L. Bidens pilosa L. Solanum americanum MILL. Média das testemunhas δ15N % FBN para soja -0,13 ± 0,08 3,84 ± 0,24 3,31 ± 0,33 3,55 ± 0,22 4,76 ± 1,62 5,05 4,00 ± 0,33 – 82,0 79,8 80,9 84,9 85,6 82,5 ± 2,7 Os nomes científicos correspondem às espécies usadas como testemunha para a técnica isotópica, as quais foram amostradas ao acaso nas parcelas experimentais. Para apenas uma das testemunhas, Solanum americanum, somente se conseguiu um exemplar em toda a área avaliada. Para as demais, foram retirados diversos exemplares de forma aleatória, tal como feito para a cultura da soja. De modo geral, a contribuição da FBN foi alta para as plantas de soja desse experimento (82,5%). Houve uma variabilidade não muito elevada entre a maioria das testemunhas, o que permitiu deduzir que a marcação natural com 15N do N disponível do solo não era muito heterogênea na área experimental. No caso exclusivo das testemunhas Solanum americanum e Bidens pilosa, a marcação apresentada era de cerca de 70%-80% superior à da menor testemunha (Leonotis sp.). Mesmo assim, a contribuição da FBN para a cultura da soja variou muito pouco, considerando as testemunhas de forma individualizada, o que confirma o mencionado anteriormente. Referências ALVES, B. J. R.; OLIVEIRA, O. C.; URQUIAGA, S.; BODDEY, R. M. Métodos isotópicos. In: SANTOS, G. A.; CAMARGO, F. A. O., (Org.). Fundamentos da matéria orgânica do solo: ecossistemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre: Genesis, 1999. p. 337-357. Miolo_Biota.pmd 363 1/12/2006, 12:32 364 Capítulo 13 ALVES, B. J. R.; ZOTARELLI, L.; BODDEY, R. M.; URQUIAGA, S. Soybean benefit to a subsequent wheat crop in a cropping system under zero tillage. In: International Symposium on Nuclear Techniques in Integrated Plant Nutrient, Water and Soil Management, 2000, Viena. Anais... Viena: IAEA/FAO, 2002. p. 87-93. BALESDENT, J.; MARIOTTI, A. 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