Avaliação pré-operatória e manejo cirúrgico dos pacientes portadores de problemas sistêmicos 1) Por quê é tão importante avaliar um paciente previamente ? Quais são os objetivos dentro de uma avaliação pré-operatória ? 2) Quais são os objetivos dentro de uma avaliação préoperatória ? 3) Por quê um paciente com alterações sistêmicas deve ser abordado de maneira diferente ? Objetivos 1) 2) 3) 4) 5) Estabelecer um correto diagnóstico. Compreender condições médicas preexistentes. Investigar doenças concomitantes desconhecidas. Prevenir emergências médicas durante o ato cirúrgico. Controlar o paciente durante o tratamento. Avaliação pré-operatória Anamnese (Questionário de saúde + Entrevista) Exame Clínico (Intra e extra-oral) Inspeção Palpação Percussão Auscultação Sinais Vitais (Pressão arterial, Pulso, Frequência respiratória e Temperatura) Exames Complementares Imaginológicos Laboratoriais Questionário de Saúde Dados biográficos (Nome, endereço, idade, ocupação, etc) Queixa principal (Relato nas exatas palavras ditas pelo paciente) História da doença atual (Curso da doença em questão) História médica pregressa (Doenças, alergias, hospitalizações) uso regular História Social (Hábitos e estilo de vida) História Familiar (Doenças de cunho hereditário) de medicamentos, Exame Clínico Abrangerá toda a região maxilofacial, começando com a aferição dos sinais vitais. Cabeça/Face Olhos Ouvidos Nariz/Região paranasal Cavidade Oral ATM OBS: O profissional deve estar atento desde o momento em que o paciente entra no local onde será realizada a entrevista. Sinais Vitais Pressão Arterial Pulso Frequência Respiratória Temperatura A pressão arterial é aferida por meio de um aparelho chamado esfigmomanômetro composto por um manguito, uma mangueira e um dispositivo que ao ser apertado, infla o manguito. O manguito é colocado no braço do paciente, a 2 cm da fossa antecubital. A artéria braquial é sentida com 2 dedos (indicador e médio). Um estetoscópio é introduzido na região onde a pulsação da artéria é sentida. O manguito é inflado até 220mmHg. O ar é liberado devagar, e no momento em que se escuta o primeiro ruído é dada a pressão sistólica e o momento onde os ruídos cessam é dada a pressão diastólica. O pulso é uma avaliação periférica da frequência e do ritmo cadíaco. O pulso é aferido com o paciente em repouso, com a palma da mão voltada pra cima. Com os dedos indicador e médio apoiando na região do punho, próximos à artéria radial, a pulsação é contada durante 1 minuto. O pulso poderá ser classificado quanto à força e ritmo. A frequência respiratória é facilmente determinada fazendo-se a contagem da subida e descida do tórax do paciente durante 1 minuto. Convém não informar ao paciente que a frequência respiratória está sendo medida, porque então ele poderá tentar alterar o padrão da respiração. É importante também anotar quaisquer sinais de alteração da qualidade respiratória tais como chiado, estridor e dificuldade. A temperatura deve ser tomada em qualquer paciente como suspeita de infecção. A maneira mais conveniente de executá-la é usando um termômetro na boca ou na axila. A temperatura oral normal é de 37º C. Uma temperatura de 37,7º C ou mais é considerada significativa. Exames Imaginológicos Radiografias convencionais Intra-bucais (Panorâmica, Periapical, Oclusal, etc) Extra-bucais Tomografia Computadorizada (TC) Planejamento em Implantodontia Ressonância Magnética Visualização da ATM (Estruturas moles) Ultra-sonografia Avaliação das glândulas salivares maiores EXAMES LABORATORIAIS Hemograma/Coagulograma Glicemia (Diabetes) Creatinina (Função renal) Uréia (Função renal) Cálcio (Hiperparatireoidismo /doenças ósseas) Fósforo (Hipoparatireodismo/hipoparatireoidismo) Transaminases (Função hepática) Fosfatase Alcalina (Função hepática/alterações ósseas) CTX (Risco p/ Osteonecrose) Hemograma (Série Vermelha) Anemias Hematimetria Hematócrito Volume corpuscular médio Hemoglobina corpuscular média Concentração de hemoglobina corpuscular média RDW % (Índice de anisocitose) (Série Branca) Infecções Leucometria Geral Neutrófilos Linfócitos Monócitos Eosinófilos Basófilos A grosso modo o Hemograma traz informações quanto a série vermelha do sangue (Anemias) e quanto a série branca, ou seja os leucócitos, que quando estão aumentados indicam processos infecciosos e alergia na maioria das vezes. Coagulograma Contagem de plaquetas Tempo de Sangramento (Aumentado nas coagulopatias e pacientes em uso de antiagregantes/anticoagulantes) Tempo de Ativação da Protrombina (TAP) (Aumentado em deficiências dos fatores da via extrínseca da coagulação ou da via comum) Tempo de Tromboplastina Parcial (TTP) (Aumentado em deficiências dos fatores da via intrínseca da coagulação ou da via comum) Obs: Índices aumentados podem indicar alterações da função plaquetária, coagulopatias bem como alterações hepáticas graves. Outros Índices (Sangue) Glicemia em jejum (Diabetes) Creatinina (Função renal) Uréia (Função renal) Cálcio (Paratireóide) Fósforo (Paratireóide) TGO (Função hepática) TGP (Função hepática) até 99 mg/dl 0,7-1,4 mg/dl 10-20 mg/dl 8,5-10,5 mg/dl 2,5-4,5 mg/dl 10-150 um/ml 6-36 um/ml Fosfatase Alcalina (Função hepática/alt.ósseas) 1,5-4,5 U CTX (Risco p/ Osteonecrose) < 150 pg/ml Parecer Médico Devem ser solicitados sempre que surgirem dúvidas sobre a segurança do procedimento cirúrgico proposto e as condições sob as quais estes devem ser realizados. Em um parecer médico devem constar: Informações relevantes sobre o paciente Descrição breve do procedimento proposto Substâncias a serem utilizadas Duração Riscos ? Contra-indicações/Cuidados especiais ? Após a realização da Anamnese a partir do questionário de saúde e entrevista, exame clínico e exames complementares, o paciente será enquadrado dentro de uma classificação de saúde. A mais utilizada para isso é a Classificação ASA (American Society of Anesthesiologists). Classificação ASA (American Society of Anesthesiologists) ASA I: Paciente com saúde normal. ASA II: Paciente com doença sistêmica leve ou fator de risco de saúde insignificante. ASA III: Paciente com doença sistêmica grave mas não incapacitante. ASA IV: Paciente com doença sistêmica grave que é uma ameaça constante à vida. ASA V: Paciente moribundo que não se espera que sobreviva sem a cirurgia. ASA VI: Paciente com morte cerebral declarada cujos órgãos estão sendo removidos com propósito de doação. MANEJO CIRÚRGICO DOS PACIENTES COM PROBLEMAS SISTÊMICOS Desordens Sistêmicas Cardiovasculares (Hipertensão, Angina, Infarto do Miocárdio) Respiratórias (Asma, DPOC) Renais (Insuficiência Renal, Hemodiálise) Hepáticas (Hepatite, Cirrose Hepática) Endócrinas (Diabetes, Insuficiência Adrenal, Hipertireoidismo) Radioterapia Gravidez (Não constitui estado de doença, mas inspira cuidados e considerações especiais) ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES Hipertensão Arterial Consiste no aumento crônico da pressão sanguínea de causa desconhecida. Normal: 120/80 mmHg Controlada: até 140/90 mmHg Leve: 140-160/90-105 mmHg Moderada: 160-170/105-115 mmHg Grave: 170-190/115-125 mmHg Maligna: 190+/125+ mmHg, associada a sintomas do sist. Nervoso como cefaléia, turvamento da visão e alterações do estado mental) Hipertensão leve a moderada (Sistólica > 140 Diastólica > 90 mmHg) 1. Recomendar que o paciente procure um médico clínico para tratamento médico da hipertensão. 2. Monitorar a pressão do paciente a cada visita e nunca exceder a administração de adrenalina em 0,04mg durante cada sessão. 3. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade (sedação consciente ou venosa) 4. Evitar alterações posturais bruscas nos pacientes que fazem uso de drogas que provocam vasodilatação. 5. Evitar a administração intravenosa de drogas que contenham sódio. Angina Pectoris Consiste na obstrução do suprimento arterial ao miocárdio pelo estreitamento progressivo ou espasmo de uma ou mais artérias coronárias. Estável: Provocada pelo esforço, aliviada em repouso. Instável: Dor em repouso ou aumentando em frequência. Leve: Até 1 episódio/mês (Estável) Moderada: Até 1 episódio/semana (Estável) Grave: Crises diárias (Instável) 1. Consultar o médico do paciente. 2. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade. (sedação oral ou venosa) 3. Manter drágeas de Isordil 5mg ao alcance e utilizar como pré-medicação se necessário. 4. Administrar oxigênio suplementar. 5. Assegurar anestesia profunda. 6. Monitorar os sinais vitais. 7. Limitar a quantidade máxima de adrenalina utilizada (máximo de 0,04mg) 8. Manter contato verbal com o paciente ao longo do procedimento monitorando suas reações. Infarto do Miocárdio O infarto do miocárdio ocorre quando a isquemia resultante da discrepância entre a demanda e o suprimento de oxigênio para a musculatura do coração resulta em morte celular. Obs: Procedimentos cirúrgicos devem ser adiados em pacientes com histórico de infarto do miocárdio a menos de 6 meses. 1. Consultar o médico do paciente 2. Adiar cirurgias eletivas para depois de 6 meses após o infarto. 3. Verificar se o paciente faz uso de anticoagulantes (Aspirina, Varfarin, etc) 4.Utilizar o protocolo de redução de ansiedade. (Sedação venosa ou oral) 5. Administrar oxigênio suplementar. 6. Proporcionar anestesia local profunda. 7. Monitorar os sinais vitais e manter contato verbal. 8. Limitar o uso de adrenalina a 0,04mg. ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS Asma A asma envolve o estreitamento episódico das vias aéreas menores, produzindo síbilos e alterações da frequência respiratória como resultado de estimulação química, infecciosa, imunológica ou emocional. 1. Adiar o tratamento até que a asma esteja bem controlada e o paciente não tenha sinais de infecções no trato respiratório. 2. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade, mas evitando o uso de depressores respiratórios. 3. Manter um inalador contendo broncodilatador em local acessível. 4. Evitar o uso de antiinflamatórios não-esteroidais em pacientes susceptíveis. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) A doença pulmonar obstrutiva crônica geralmente é causada pela exposição prolongada a agentes irritantes como por exemplo a fumaça do tabaco, com sintomas de tosse crônica que produz grande quantidade de secreção e infecções do trato respiratório. 1. Adiar o tratamento até que a função pulmonar tenha melhorado e o tratamento seja possível. 2. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade, evitando o uso de depressores respiratórios. 3. Se optar por administrar oxigênio suplementar, utilizar a dose em fluxo lento. 4. Evitar manter a posição deitada da cadeira. 5. Manter um inalador contendo broncodilatador em local acessível. 6. Monitorar os sinais vitais. 7. Agendar consultas com o paciente para o final da tarde a fim de permitir a eliminação de secreções. ALTERAÇÕES RENAIS Insuficiência Renal Crônica Pacientes com Insuficiência renal crônica frequentemente são hipertensos, podendo possuir tempo de sangramento aumentado, além de serem possíveis usuários de anticoagulantes e portadores de hepatopatias. 1. Evitar o uso de drogas que dependam do metabolismo ou excreção renal. Modificar a dose se necessário. 2. Evitar o uso de drogas nefrotóxicas tais como AINEs. 3. Marcar o procedimento cirúrgico para o dia seguinte à diálise. 4. Consultar o médico acerca do uso de antibióticos profiláticos. 5. Monitorar os sinais vitais. 6. Considerar a realização de teste para Hepatite B antes do tratamento. Tomar precauções, caso não possa realizar a sorologia para hepatite. ALTERAÇÕES HEPÁTICAS Insuficiência Hepática O paciente com dano hepático grave, resultante de doenças infecciosas ou abuso de álcool requer considerações especiais devido a possíveis alterações na coagulação sanguínea pela inibição dos fatores da coagulação dependentes da vitamina K e trombocitopenia. 1. Descobrir a causa do problema hepático; se a causa for hepatite B, tomar as devidas precauções. 2. Evitar o uso de drogas que exijam metabolização ou excreção hepáticas. 3. Investigar os pacientes com doença hepática grave para desordens de sangramento, com contagem de plaquetas, TAP, TTP e Tempo de Sangramento. ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS DIABETES O Diabetes Melittus é causado pela subprodução de insulina, pela resistência dos receptores da insulina nos órgãos periféricos aos efeitos da insulina ou por ambos. Diabetes Melittus Tipo I: Insulino-dependente (Mais comum em jovens) Diabetes Melittus Tipo II: Não Insulino-dependente (Mais comum em adultos +40 anos) Obs: O grande problema do Diabetes é a possibilidade de um choque hipoglicêmico durante o ato cirúrgico que pode ocorrer rapidamente. 1. Adiar a cirurgia se o diabetes não estiver bem controlado. 2. Agendar as consultas para o início da manhã. Dividir o atendimento em consultas curtas se possível. 4. Orientar o paciente a se alimentar normalmente antes da consulta. 5. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade. 6. Monitorar os sinais vitais. 7. Manter contato verbal com o paciente durante o procedimento. 8. Estar atento para os sinais de hipoglicemia (hipotensão, fome, sonolência, sudorese, taquicardia, alteração de humor). INSUFICIÊNCIA ADRENAL A insuficiência adrenal pode ser causada por doenças no córtex adrenal ou pelo uso crônico de corticosteróides. Nos pacientes com este quadro, a capacidade de produzir corticosteróides endógenos em um momento de estresse e ansiedade é consideravelmente diminuída, aumentando as chances de síncopes, hipotensão e febre durante o procedimento cirúrgico. Obs: Um indivíduo que recebeu 20mg de hidrocortisona ou equivalente por 2 semanas ou mais há no máximo um período de 1 ano é considerado suprimido. Se o paciente faz uso frequente de corticosteróides: 1. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade. 2. Monitorar os sinais vitais. 3. Instruir o paciente a dobrar a dose usual na véspera da cirurgia e no dia seguinte. 4. No segundo dia pós-operatório, orientar o paciente a retornar a dose usual de costicosteróide. Se o paciente não está em uso, mas recebeu no mínimo 20mg de hidrocortisona ou equivalente por 2 semanas ou mais no último ano: 1. Utilizar o protocolo de redução de ansiedade. 2. Monitorar os sinais vitais. 3. Instruir o paciente a tomar 60mg de hidrocortisona no dia anterior e na manhã da cirurgia. 4. Nos 2 primeiros dias de pós-operatório, a dose deve ser reduzida e nos 3 dias subsequentes par a 20mg. A administração pode ser suspensa no 6º dia pós-operatório. HIPERTIREOIDISMO O Hipertireoidismo consiste na produção excessiva de hormônio tireoidiano. As manifestações precoces desta produção em excesso incluem sudorese, taquicardia, palpitações, perda de peso e instabilidade emocional. Os pacientes podem frequentemente desenvolver exoftalmia (aumento dos olhos). 1. Adiar a cirurgia até que a disfunção da tireóide esteja bem controlada. 2. Monitorar os sinais vitais antes, durante e após a cirurgia. 3. Limitar a quantidade de adrenalina utilizada durante a anestesia. RADIOTERAPIA Pacientes que estão ou que tenham sido submetidos a radioterapia na região da cabeça e do pescoço em um período de 5 anos não deverão ser submetidos a cirurgia com exposição de osso, devido ao risco de osteorradionecrose. Podem estar presentes sintomas como: Xerostomia Mucosite (Ardência bucal/Feridas) Cáries rampantes Osteorradionecrose GRAVIDEZ Embora não seja um estado de doença, a gravidez ainda é uma situação na qual são necessárias considerações especiais quando existe a necessidade de cirurgia oral, especialmente quanto ao período de gravidez melhor para a realização de procedimentos e medicações que devem ser evitadas. 1. Se possível, realizar a cirurgia após o parto. Se for necessário, realizar o procedimento no 2º trimestre de gravidez. 2. Evitar radiografias dentárias. Se for necessário, utilizar filmes de sensibilização rápida e vestir a paciente com avental de chumbo adequado. 3. Evitar o uso de drogas com potencial teratogênico. 4. Evitar manter o paciente na posição deitada na cadeira odontológica. Drogas que possuem potencial teratogênico: Aspirina e outros AINEs Carbamazepina Corticosteróides Benzodiazepínicos Morfina Fenobarbital Prometazina Tetraciclinas Propoxifeno BISFOSFONATOS Marx em 2003 descreveu pela primeira vez na literatura científica artigo sobre Osteonecrose dos Maxilares Induzida pelo uso de Bisfosfonatos (OMIB). Os bisfosfonatos são drogas que interferem no mecanismo de remodelagem e vascularização óssea. São muito utilizados para o tratamento de osteoporose, doença óssea de Paget, mieloma múltiplo e metástases ósseas. A OMIB pode ocorrer em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos por via oral ou venosa e que por algum motivo houve exposição óssea. (cirurgia, próteses mal adaptadas, tórus e exostoses, etc) Um paciente com OMIB é definido como aquele que está ou esteve em tratamento com bisfosfonatos, apresentando exposição óssea na região maxilofacial, sem possuir histórico de radioterapia em cabeça e pescoço. OBS: Pacientes que fazem uso de bisfosfonatos por via oral ou que fizeram uso dentro de um período de 6 meses ou por via venosa por um período dentro de 3 anos são propensos a desenvolverem Osteonecrose dos Maxilares.