análise da rotulagem nutricional de alimentos que

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ANÁLISE DA ROTULAGEM NUTRICIONAL DE ALIMENTOS QUE
COMPÕEM A CESTA BÁSICA
ANALYSIS OF THE NUTRITIONAL LABELING OF FOOD COMPRISING
THE FOOD BASKET
HORTENCIA FRANCISCA DOS SANTOS
Graduanda em nutrição pela Faculdade Santo Agostinho-FSA
E-mail: [email protected]
LINA SILVA OLIVEIRA
Graduanda em nutrição pela faculdade Santo Agostinho-FSA
E-mail: [email protected]
WELLINGTON DOS SANTOS ALVES
Prof. Msc. Docente do curso de nutrição, farmácia e fisioterapia da Faculdade Santo
Agostinho-FSA
E-mail: [email protected]
RESUMO
A rotulagem nutricional facilita ao consumidor conhecer as propriedades nutricionais dos
alimentos, contribuindo para um consumo adequado e complementando as estratégias e a
Políticas de Saúde em benefício da saúde do consumidor. Nessa perspectiva, o estudo propôsse a avaliar a adequação nutricional das informações declaradas nos rótulos dos produtos de
uma cesta básica brasileira. Foram coletados e avaliados dados presentes nos rótulos de
produtos contidos na cesta básica que se encontra em comercialização. A análise dos rótulos
das embalagens dos treze tipos de alimentos de cinco marcas diferentes, atingindo um total de
sessenta e cinco produtos analisados, evidenciou que o consumo de carboidrato, de sódio e de
gorduras totais, em especial o de gorduras saturadas está com o percentual elevado em relação
às DRIs. Por outro lado, verificou-se baixo consumo de fibra alimentar e de gorduras trans.
Esses resultados indicam a inadequação nutricional dos alimentos da cesta básica
disponibilizada ao consumo dos brasileiros, podendo gerar um desequilíbrio alimentar e o
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, exigindo a Segurança Alimentar e
Nutricional, bem como a promoção da alimentação saudável a partir da efetivação de políticas
públicas, essenciais para a saúde e qualidade de vida e de nutrição dos consumidores
brasileiros.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação, rotulagem, doenças.
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ABSTRACT
Nutrition labeling facilitates consumers to know the nutritional properties of food,
contributing to an adequate intake and complementing strategies and Health Policy for the
health of the consumer. In this perspective, the study aimed to assess the nutritional adequacy
of the information declared on the product labels of one basic Brazilian. Were collected and
evaluated data on its product labels contained in the basket that is in marketing. The analysis
of the packaging labels of the thirteen types of food from five different brands, reaching a
total of sixty-five products analyzed, showed that consumption of carbohydrate, sodium and
total fat - especially saturated fat percentage is higher in compared to DRIs. On the other hand
there is low consumption of dietary fiber and trans fats. These results indicate the nutritional
inadequacy of the basic basket of food available to the Brazilian consumption, can generate a
dietary imbalance and the development of chronic diseases, requiring the Food and
Nutritional Security, as well as promoting healthy eating from the application of policies
public, essential to the health and quality of life and nutrition of Brazilian consumers.
KEYWORDS: Food, labeling, diseases.
INTRODUÇÃO
A alimentação e a nutrição são elementos básicos para a promoção e a proteção da
saúde, pois possibilitam a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento
humano, com qualidade de vida e cidadania. O consumo constante de alimentos sem
qualidade e/ ou em proporções menores que as necessidades podem levar leva à deficiência de
nutrientes pelo organismo, acarretando sérios distúrbios devido à carência e/ ou excesso de
nutrientes, bem como de macro e micronutrientes. Sendo assim, torna-se necessária a
alimentação adequada proporcionalmente e com combinação de uma ingestão variada para
evitar o desequilíbrio nutricional, representado por doenças como infecções, desnutrição,
doenças crônicas e fatores de risco como sobrepeso, obesidade e ingestão inadequada de
alimentos (JAIME, 2011).
Para Cuppari (2009) a alimentação constitui-se elemento fundamental ao contribuir
para a manutenção da condição nutricional, da qualidade de vida e para a prevenção das
complicações. Por outro lado, sabe-se que na economia brasileira o acesso diário a certos
alimentos depende do poder aquisitivo da população, ou da disponibilidade de renda para
aquisição de alimentos.
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A inacessibilidade aos alimentos em primeira instancia leva à fome e posteriormente à
deficiência de nutrientes na alimentação; embora se deva chamar atenção para o fato de que a
fome em sua forma abrangente não atinge somente a população em situação de extrema
pobreza, pois se considerando que a fome e a obesidade são fenômenos de desnutrição, cabe
inferir que este desequilíbrio atinge também a outras classes socioeconômicas por
inadequação de nutrientes (MAZETTO et al., 2011).
A transição nutricional, caracterizada por mudanças no estilo de vida e no hábito
alimentar, maior consumo de alimentos industrializados, alimentação fora de casa e
substituição de refeições por lanches, tem sido observada tanto no âmbito nacional como
mundial (BARROS, 2008).
Percebe-se um aumento no padrão de vida da população e uma maior disponibilidade
de alimentos e serviços; mas também se observam mudanças negativas no padrão alimentar,
relacionando a dieta com o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (WHO, 2003).
Consoante com tal associação, Barros (2008) chama atenção para o fato de que a incidência
de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) associadas ao alto consumo de alimentos
com elevado teor de energia, açúcares, gorduras e sódio vem crescendo tanto em países
desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento.
Frente a essa realidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chama atenção para o
fato de que essas mudanças na alimentação e no estilo de vida impactam significativamente a
saúde e o estado nutricional das pessoas. O estado nutricional de um indivíduo é resultado da
relação entre o consumo de alimentos e as necessidades nutricionais (BARROS, 2008).
A situação epidemiológica da população brasileira demonstra alta incidência de
doenças crônicas não transmissíveis e requer que medidas preventivas sejam adotadas em
todas as faixas etárias. No entanto, além de promover a alimentação saudável, é preciso,
também, promover a alimentação sustentável, que utiliza os produtos industrializados com
moderação, valorizando os produtos regionais e a culinária tradicional (RODRIGUES et al.,
2012).
Nessa perspectiva, construiu-se uma pirâmide alimentar adaptada da americana,
composta por oito grupos alimentares - cereais, frutas, vegetais, leguminosas, leite, carnes,
gorduras e açúcares, de acordo com a contribuição de cada nutriente básico na dieta.
Estabeleceram-se três dietas-padrão – de 1600 kcal, 2200 kcal e 2800 kcal, com distribuição
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dos macronutrientes - carboidratos (50-60%), proteínas (10-15%), lipídios (20-30%). Donde
cada nível foi apresentado em porções mínimas e máximas a serem consumidas de acordo
com as dietas referidas. A pirâmide alimentar adaptada pode ser utilizada como instrumento
para orientação nutricional de indivíduos e grupos populacionais, respeitando-se os hábitos
alimentares e as diferentes realidades regionais e institucionais (PHILIPPI et al., 1999).
O consumo de alimentos por determinada sociedade e hábitos alimentares vem
condicionado e limitado por uma série de valores e sentimentos que se inter-relacionam com
os outros aspectos e práticas da vida social. Quando há necessidade de se modificar ou
melhorar um hábito alimentar, deve-se educar a população de forma lenta e gradual quando
for necessária uma mudança de hábito (VITOLO, 2008).
Desse modo, a Segurança Alimentar e Nutricional e a promoção da alimentação
saudável são essenciais para a saúde e qualidade de vida e a informação nutricional representa
uma boa ferramenta para a sensibilização quanto à educação alimentar ao evidenciar a
quantidade de nutrientes por porção do alimento, a partir de porções baseadas em uma dieta
de 2000 Kcal diárias, correspondente a um padrão aceitável (CUPPARI, 2009).
Considera-se, portanto, que a leitura dos rótulos represente uma boa maneira de se
informar sobre o que se está consumindo e assim poder escolher alimentos mais saudáveis
(CUPPARI, 2009). Nessa perspectiva é que se insere o estudo da temática proposta, haja vista
que a rotulagem nutricional facilita ao consumidor conhecer as propriedades nutricionais dos
alimentos, contribuindo para um consumo adequado dos mesmos e considerando que a
informação que se declara na rotulagem nutricional complementa as estratégias e políticas de
saúde dos países em benefício da saúde do consumidor (SCHLÕSSER, 2007).
METODOLOGIA
Realizou-se um estudo transversal onde se coletou e avaliou dados presentes nos
rótulos de produtos pré-embalados contidos na cesta básica do piauiense em supermercados
que se encontram em comercialização.
Considerou-se que a cesta básica é um termo genérico utilizado para designar um
conjunto de bens, que atendem às necessidades elementares de uma família pelo período de
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um mês e que esta deve conter alimentos necessários para que esta consiga se alimentar por
esse período de tempo (BRASIL, 2011).
O valor nutricional declarado foi o ponto importante a ser analisado, independente das
marcas. Inicialmente foram identificados e listados todos os produtos básicos alimentares que
a compõem, para cada produto foram analisadas 05 marcas totalizando 65 produtos.
Realizou-se análise quantitativa dos elementos nutricionais considerando-se a dieta de
2.000kcal como vem prevista nos rótulos: Valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras
totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibra alimentar, sódio, glúten, % VD, dos produtos
que a compõem: Biscoito de sal, arroz, feijão, farinha de mandioca, açúcar, farinha de milho,
macarrão, óleo, margarina, sardinha, leite, doce de goiaba e sal. Observou-se também a
presença das expressões “Contém glúten” ou “Não contém glúten”.
Ao comparar a média da composição dos alimentos com as recomendações dietéticas,
pode-se conhecer os níveis de adequação nutricional. Fez-se a análise e avaliou-se o seu grau
de adequação, compararam-se os valores encontrados da média diária com os valores
recomendados diários pela Dietary Reference Intake (DRIs), e conferiu-se o percentual de
adequação destas quantidades considerando o percentual de adequação 90 a 110 %.
Analisaram-se qualitativamente de acordo com a pirâmide adaptada brasileira as
porções recomendadas comparando com as encontradas na cesta básica. Ao final destas
etapas, foram analisados os níveis de adequação dos itens alimentares da cesta básica em
relação às necessidades nutricionais, identificando os percentuais que se encontravam
inadequados utilizando - se como valores de referência as Dietary Reference Intake (DRIs),
correlacionado os problemas nutricionais detectados com as patologias oriundas da má
alimentação que envolve e desenvolve na população.
Os dados foram tabulados em programa Microsoft Office Excel2009® sendo
apresentados em forma de tabelas e gráficos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Valores encontrados de cada alimento, considerando-se a dieta de 2.000 kcal como
vêm previstos nos rótulos (Tabela1).
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TABELA 1 - Análise da Média Quantitativa da Composição e Valores Nutricionais da Cesta
Básica.
Produtos
Biscoito de
Quantidade
por porção
Valor
Energético
(Kcal)
Cho
Ptn
(g)
(g)
Gorduras
Gorduras
Gorduras
Fibra
Totais
Saturadas
Trans
Alimentar
(g)
(g)
(g)
(g)
Sódio
(g)
Glúten
3/sim
%VD
30g
132,8
20
3,22
5,1
1,82
0,3
0,54
215,4
Arroz
50g
172,2
39,4
3,3
-
-
-
≤1g
-
-
7,8
Feijão
30/40g
139,8
24,4
9,14
0,2
-
-
3,2
39,2
-
5
50g
143,4
43
≤1g
-
-
-
0,98
-
-
7,4
5g
20
5
-
-
-
-
-
-
-
1
50g
175,2
38,2
3,76
0,8
-
-
1,88
3,6
Macarrão
80g
279,6
59,6
0,06
1,02
0,22
-
1,6
12
Contém
14
Óleo
13ml
108
-
-
12
1,92
-
-
-
-
4
Margarina
10g
63
-
-
7
1,83
0,43
-
78,6
-
3,3
Sardinha
60g
104,75
-
13,75
5,47
2,1
-
-
322,5
-
5,5
Leite
25/26g
127,6
10,8
6,24
6,5
4,3
-
-
100,6
-
4,8
40g
129
31,3
-
0,26
0,1
-
0,83
3,33
-
6,6
1g
-
-
-
-
-
-
-
390
-
16
Sal
Farinha de
Mandioca
Açúcar
Farinha de
Milho
Doce de
Goiaba
Sal
2/não
1/sim
4/não
6,8
8,4
Fonte: Dados da Pesquisa.
A análise quantitativa dos produtos que compõem a cesta básica como biscoito de sal,
arroz, feijão, farinha de mandioca, açúcar, farinha de milho, macarrão, óleo, margarina,
sardinha, leite, doce de goiaba e sal ocorreu conforme descrito na Tabela 1 e baseada em uma
dieta de 2.000 kcal, observando-se os elementos nutricionais previsto nos rótulos, tais quais: o
valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans,
fibra alimentar, sódio, glúten, % VD. Observou-se também a presença das expressões
“Contém glúten” ou “Não contém glúten”. Porém a avaliação quantitativa da inadequação do
consumo dietético requer a determinação acurada das quantidades habituais de alimentos
consumidos pelo indivíduo e a definição de parâmetros conforme os estabelecidos nas tabelas
e figuras subsequentes.
A análise dos rótulos das embalagens dos treze (13) tipos de alimentos de cinco (05)
marcas diferentes, atingindo um total de sessenta e cinco (65) produtos analisados, evidenciou
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as quantidades de cada nutriente fornecido, bem como o percentual de adequação em relação
à distribuição apresentados, como se pode constatar na tabela a seguir:
TABELA 2 - Análise Quantitativa do Consumo Diário da Composição Alimentar da Cesta
Básica calculada pelas DRIs.
Composição
Valores Encontrados
Valores Recomendados
Percentual de
Adequação (90-110%)
Gorduras Totais
38,35g
28,78g
133%
Gorduras Saturadas
12,29g
8,49g
144%
Gorduras Trans
0,73g
3,35g
21%
Fibra Alimentar
9,03g
12,07g
74%
Sódio
5,83g
1,77g
329%
PTN
48,47g
39,05g
124%
Fonte: Dados da Pesquisa.
Evidenciou-se no estudo que o consumo de carboidrato, de sódio e de gorduras totais em especial o de gorduras saturadas está percentualmente elevado em relação às DRIs. Por
outro lado verificou-se baixo consumo de fibra alimentar e de gorduras trans. Esses resultados
indicam a inadequação nutricional dos alimentos da cesta básica disponibilizada ao consumo
dos brasileiros, podendo gerar um desequilíbrio alimentar e o desenvolvimento de doenças,
uma vez que de acordo com Cuppari (2005), o excesso ou falta de nutrientes podem causar
doenças.
Cabe lembrar que o excesso de nutrientes como carboidratos, sódio e gorduras
saturadas, que incidem em riscos para doenças crônicas não transmissíveis e que podem
resultar em alto índice de mortalidade quando associadas a outras patologias que afetam a
saúde da população pode ter seus efeitos exacerbados diante do consumo insuficiente de
nutrientes protetores como as fibras e gorduras trans; que pode ser visualizado no gráfico a
seguir:
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FIGURA 1 - Índice de Valores do Consumo de Nutrientes Encontrados e Recomendados da
Cesta
50
40
30
20
10
0
Valores Encontrados (g)
Valores Encontrados (g)
Valores Recomendados (Gramas)
Fonte: Dados da Pesquisa.
A análise da figura acima demonstra uma desordem nos valores encontrados na
concentração de gorduras totais e saturadas que se encontram em excesso. E, uma
insuficiência na adequação em relação às fibras, pois encontram- se em um índice menor que
o recomendado, devido a pouca ingestão oferecida na cesta básica. Contrariando-se a
importância crescente conferida às fibras na fisiologia humana e seu beneficio para prevenção
e manutenção da saúde, e cujos estudos já permitem uma recomendação mais específica deste
nutriente, que pode ser verificada na nova Ingestão Dietética de Referência ou Dietary
Reference Intake - DRIs (2011).
Visualiza-se também que o teor de carboidrato, proteína e sódio encontra-se em um
índice maior que o recomendado. Assim, a partir desses dados, nota-se a dificuldade da
família brasileira de baixa renda para ter uma alimentação adequada em valores nutricionais,
o que indica tendências desfavoráveis no seu padrão alimentar.
Desse modo, considera-se relevante lembrar que todo o ser humano tem direito a uma
alimentação adequada e que de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2011), o
plano de concretização destes direitos consiste na efetivação do acesso regular e permanente
de todos a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem que outras necessidades
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essenciais sejam comprometidas. Sendo assim, a segurança alimentar e nutricional deve ser
assegurada pelo poder público.
Nesse contexto, concorda-se com Rodrigues et al. (2012), ao inferirem que a
Segurança Alimentar e Nutricional e a promoção da alimentação saudável são essenciais para
a saúde e qualidade de vida, pois a situação epidemiológica da população brasileira demonstra
alta incidência de doenças crônicas não transmissíveis e requer que medidas preventivas
sejam implementadas no sentido de promover a alimentação saudável e também sustentável,
utilizando os produtos industrializados com moderação, valorizando os produtos regionais e a
culinária tradicional.
Vale ressaltar que de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2011), a seleção
de alimentos constitui-se complexa e bastante influenciada por vários fatores, dentre os quais
se destaca o componente comportamental, que determina a escolha. Constata-se assim que a
abundância por si só não assegura ótima nutrição e que a disponibilidade dos alimentos na
cesta básica não impede que ocorram deficiências, como se pode constatar na Tabela abaixo.
TABELA 3 -Análise Qualitativa dos Componentes da Pirâmide Alimentar Brasileira
Comparada com os Componentes da Cesta Básica Piauiense.
Grupos Alimentares
Porções
Porções
Recomendadas
Encontradas
Grupo 01 (Cereais, Pães, Tubérculos e Raízes)
05-09 porções
05 porções
Adequado
Grupo 02 (Hortaliças)
04-05 porções
-
-
Grupo 03 (Frutas)
03-05 porções
-
-
03 porções
02 porções
Não Adequado
Grupo 05 (Carnes e Ovos)
01-02 porções
01 porção
Adequado
Grupo 06 (Leguminosas)
01 porção
02 porções
Adequado
Grupo 07 (Óleos e Gorduras)
01-02 porções
02 porções
Adequado
Grupo 08 (Açúcares e Doces)
01-02 porções
02 porções
Adequado
Grupo 04 (Leite e Produtos Lácteos)
Resultados
Fonte: Dados da Pesquisa.
É notório, na tabela acima, que no que se referem ao grupo das porções de Cereais,
Pães, Tubérculos e Raízes, que há um resultado dentro dos padrões da pirâmide alimentar
brasileira. O que representa um ganho para a saúde dos consumidores, já que estes alimentos
constituem-se as principais fontes de energia para o organismo, além de uma quantidade
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maior de fibras que conferem um efeito protetor para as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) quando consumidos sem excesso. Desse modo, uma alimentação
saudável inclui a ingestão diária de cereais integrais, pois de acordo com Ornelas (2001),
esses são capazes de tornar a absorção da glicose mais lenta e de reduzir a absorção de
gorduras.
A porção do grupo de hortaliças e frutas na amostra da pirâmide adaptada brasileira
não se encontra incluída na cesta básica do piauiense e conseguintemente, a ingestão diária de
micronutrientes pode estar inadequada. Cabe lembrar que, o consumo adequado de vitaminas
e sais minerais é importante para a manutenção das diversas funções metabólicas do
organismo. Sendo assim, a ingestão inadequada destes micronutrientes pode potencialmente
levar a estados de carência nutricional, produzindo diversas manifestações patológicas,
cabendo inferir que a baixa ingestão de frutas e vegetais é um dos fatores que contribui para o
aumento dos casos de doenças crônicas não transmissíveis (MAHAN et al., 2005).
O modo como vivemos atualmente e que somos submetidos a níveis muito alto de
estresse e agente poluentes contribuem significativamente a produção dos radicais livres pelos
nossos organismos sendo a forma mais eficaz de combate é uma nutrição equilibrada,
composta principalmente de antioxidantes, pelo aumento da ingestão de frutas, hortaliças,
legumes evitando alimentos à base de agrotóxicos (BERGEROT E BERGEROT, 2006).
Em relação ao consumo médio de Leite e Produtos Lácteos, verificou-se que este
encontra-se a abaixo da porção recomendada, sendo assim, a ingestão insuficiente destes
produtos pode acarretar em danos à saúde ao longo da vida.
Os laticínios são alimentos que fornecem quantidades necessárias para a manutenção e
proteção do organismo contra doenças, por serem abundantes em proteínas, vitaminas e
minerais como cálcio - necessário ao crescimento e desenvolvimento durante a maturidade,
servindo como estoque futuro agindo na redução de risco de osteoporose e hipertensão.
O consumo da porção do grupo de carnes e ovos encontra se nos padrões da amostra.
Este dado aponta para questões relacionadas à cultura da nossa região, onde a carne faz parte
dos hábitos alimentares diários da população, porém seu preço é alto. Entretanto, o consumo
excessivo destes alimentos pode ser prejudicial à saúde, devido ao teor de gordura, que está
associada à ocorrência de doenças cardiovasculares e obesidade (PHILIPPI et al.,1999).
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As leguminosas da porção do grupo 06 estão no padrão da amostra. Sendo o feijão a
leguminosa mais consumida no país. São alimentos ricos em proteínas, carboidratos e fibras
solúveis e insolúveis. Essas substâncias são responsáveis pela construção de nossos tecidos,
pelo fornecimento de energia ao corpo e pelo bom funcionamento de alguns órgãos. Os
nutrientes das leguminosas estão contidos, inclusive, na casca. A combinação entre cereais e
leguminosas, nosso “arroz com feijão” de todos os dias, oferece uma proteína de alto valor
biológico, ou seja, completa- haja vista que contém todos os aminoácidos essenciais
(SALINAS, 2002).
Em relação ao grupo óleos e gorduras os valores encontram se dentro dos padrões
recomendados e seu excesso acarreta há varias doenças principalmente patologias
arteriosclerose (CUPPARI, 2005). O excesso de gordura é considerado uma doença
metabólica complexa que é desencadeada por vários motivos comuns nos dias atuais
causando outras complicações á saúde para uma redução ou ate mesmo uma manutenção do
peso é necessário uma reeducação alimentar com baixa ingestão calórica (ROMERO e
ZANESCO, 2006).
No que se refere à porção do grupo de Açucares e Doces - alimentos energéticos
extras, de onde provêm muitas calorias e poucos nutrientes e que devem ser consumidos com
moderação, verificou-se o consumo adequado, embora na atualidade se perceba um declínio
no consumo de alimentos básicos e tradicionais como arroz e feijão nas grandes refeições do
dia e que há aumento na admissão de produtos industrializados e consumo insuficiente de
hortaliças e frutas, relacionado com o aumento do teor de gordura e açúcar na dieta brasileira
(GAVA, 2007).
Deve-se registrar que obesidade, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, certos
tipos de câncer e outras enfermidades crônicas são riscos decorrentes da transição alimentar
em curso nas últimas três décadas conseqüentes de transformações ocorridas no país, como a
urbanização, que contribuem para as modificações na composição das refeições domiciliares.
Portanto, concorda-se com Philippi et al. (1999) quando destaca a necessidade de
ações para a promoção da alimentação saudável, acredita-se que o uso de guias alimentares
como a Pirâmide dos Alimentos é adequado, visto que se trata de um instrumento que se
baseia nas necessidades nutricionais específicas, respeitando-se o número de porções segundo
idade, gênero e nível de atividade física, de acordo com a individualidade de cada um.
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CONCLUSÃO
A análise dos rótulos das embalagens dos treze (13) tipos de alimentos de cinco (05)
marcas diferentes, atingindo um total de sessenta e cinco (65) produtos analisados, evidenciou
que o consumo de carboidrato, de sódio e de gorduras totais - em especial o de gorduras
saturadas está percentualmente elevado em relação às DRIs. Por outro lado verificou-se baixo
consumo de fibra alimentar e de gorduras trans. Esses resultados indicam a inadequação
nutricional dos alimentos da cesta básica disponibilizada ao consumo dos brasileiros, podendo
gerar um desequilíbrio alimentar e o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
Evidenciou-se no estudo o declínio no consumo de alimentos básicos e tradicionais
como arroz e feijão nas grandes refeições do dia e que há aumento na admissão de produtos
industrializados e consumo insuficiente de hortaliças e frutas, relacionado com o aumento do
teor de gordura e açúcar na dieta brasileira.
Assim, a partir desses dados, nota-se a dificuldade da família brasileira de baixa renda
para ter uma alimentação adequada em termos nutricionais, o que indica tendências
desfavoráveis no seu padrão alimentar e exige a implementação da Segurança Alimentar e
Nutricional, bem como a promoção da alimentação saudável a partir da efetivação de políticas
públicas, essenciais para a saúde e qualidade de vida e de nutrição dos consumidores
brasileiros.
REFERÊNCIAS
BARROS, R. R. Consumo de alimentos industrializados e fatores associados em adultos e
idosos residentes no município de São Paulo [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Saúde
Pública/Universidade de São Paulo, 2008.
BERGEROT, C. e BERGEROT, P. G. Câncer: O Poder da Alimentação na Prevenção e
Tratamento. São Paulo: Cultrix, 2006.
BRASIL. Governo do Estado do Amazonas. Panorama Geral da Cesta Básica: AmazonasAM. v. 69. 2011.
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Acesso em: 01 maio 2013.
Recebido em: 11/06/2013
Revisado em: 22/10/2013
Aprovado em: 18/11/2013
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