Avaliação de Fatores que Influenciam no Desmame

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Arq Bras Cardiol
2003; 80: 301-5.
Nozawa
e cols
Artigo
Original
Desmame de pacientes em ventilação mecânica
Avaliação de Fatores que Influenciam no Desmame
de Pacientes em Ventilação Mecânica Prolongada após
Cirurgia Cardíaca
Emília Nozawa, Eliane Kobayashi, Marta Erika Matsumoto, Maria Ignêz Zanetti Feltrim,
Maria José Carvalho Carmona, José Otávio Costa Auler Júnior
São Paulo, SP
Objetivo - Analisar parâmetros de mecânica respiratória, oxigenação e alterações cardiovasculares envolvidos no desmame da ventilação mecânica prolongada em
pacientes traqueostomizados após cirurgia cardíaca.
Métodos - Estudados 45 pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca que estavam sob ventilação
mecânica por mais de 10 dias submetidos à traqueostomia, após insucesso de retirada da ventilação mecânica.
Foram realizadas medidas de mecânica respiratória, oxigenação e analisados os fatores: tipo de procedimento cirúrgico, presença de disfunção cardíaca, tempo de circulação extracorpórea e presença de lesões neurológicas.
Resultados - Dos 45 pacientes estudados, 22 obtiveram sucesso e 23 insucesso no desmame da ventilação mecânica. Não houve diferença entre os grupos em relação a
complacência pulmonar estática (p=0,23), resistência
das vias aéreas (p=0,21) e relação espaço morto/volume
corrente (p=0,54). Também não houve diferença quanto
às variáveis PaO2/FiO2 (p=0,86), índice de respiração
rápida e superficial (p=0,48) e pressão arterial de
dióxido de carbono (p=0,86). A disfunção cardíaca e o
tempo de circulação extracorpórea foram parâmetros que
apresentaram diferença significante.
Conclusão - Os dados de mecânica respiratória e
oxigenação não foram parâmetros de sucesso ou insucesso do desmame. No entanto, disfunção cardíaca e tempo
de circulação extracorpórea interferiram de forma significativa no sucesso do desmame de ventilação mecânica.
Palavras-chave:
cirurgia cardíaca, desmame, ventilação
mecânica prolongada
Instituto do Coração do Hospital das Clínicas – FMUSP.
Correspondência: Emília Nozawa - Rua Mateus Grou, 539/71 - 05430-015 - São
Paulo, SP.
Recebido para publicação em 6/2/02
Aceito em 30/4/02
Os parâmetros de mecânica respiratória e oxigenação
são comumente utilizados no desmame de pacientes sob
ventilação mecânica prolongada 1-4. Fatores, como idade
avançada, sexo feminino, tempo de circulação extracorpórea, disfunção cardíaca e baixo débito cardíaco podem levar
o paciente à ventilação mecânica prolongada 5-8. No entanto, há poucos relatos sobre a utilização conjunta de parâmetros de mecânica respiratória, oxigenação e de alterações
cardiovasculares, como fatores envolvidos no sucesso do
desmame de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca sob
ventilação mecânica prolongada.
Pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca são,
geralmente, extubados tão logo cesse o efeito anestésico,
tendo a modalidade ventilatória pouco impacto na decisão
da extubação 9. Entretanto, aproximadamente 3 a 6% dos
pacientes podem necessitar de ventilação mecânica prolongada devido à complexidade das doenças cardíacas,
pulmonares ou por outros problemas sistêmicos 10. Nesses
casos, os critérios habituais de extubação, como análise
dos gases arteriais, determinação da capacidade vital e do
volume minuto, muitas vezes, falham em prever o sucesso
da extubação 11. A quantidade de recursos materiais e financeiros consumidos por esses pacientes em ventilação mecânica prolongada são altos, havendo estudos na tentativa de
reduzir os custos 5.
Nosso estudo teve como objetivo analisar parâmetros
de mecânica respiratória, oxigenação e alterações cardiovasculares e verificar os fatores envolvidos no sucesso ou
insucesso do desmame da ventilação mecânica de pacientes traqueostomizados, submetidos à ventilação mecânica
prolongada após cirurgia cardíaca.
Métodos
Foram estudados 45 pacientes sob ventilação mecânica prolongada após cirurgia cardíaca, sendo 34 do sexo
masculino e 11 do sexo feminino, no período de agosto/97 a
Arq Bras Cardiol, volume 80 (nº 3), 301-5, 2003
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Desmame de pacientes em ventilação mecânica
fevereiro/99 na Unidade de Terapia Intensiva Cirúrgica do
Instituto do Coração do HC/FMUSP. Todos os pacientes
incluídos no protocolo foram submetidos à cirurgia cardíaca
sob circulação extracorpórea, que permaneceram em ventilação mecânica prolongada por mais de 10 dias após falha
no desmame, sendo, então, submetidos à traqueostomia.
Excluíram-se pacientes com diagnóstico de sepsis, mediastinite ou com temperatura acima de 380C ou abaixo de 35oC.
Após a traqueostomia, os pacientes foram sedados
com midazolam intravenoso e o relaxamento muscular foi
obtido com indução de brometo de pancurônio para as
medidas de mecânica respiratória. Utilizou-se respirador
(Veolar-Hamilton, Suíça) ajustado com os parâmetros em
modalidade ventilatória de volume controlado para garantir
volume corrente igual a 8ml/kg, onda de fluxo inspiratório
do tipo quadrada, pausa inspiratória de 0,5s, sendo a fração
inspirada de oxigênio e pressão positiva final da expiração
ajustadas para manter uma saturação periférica de oxigênio
≥95%, até o limite inferior de concentração de oxigênio de
40% e pressão positiva final da expiração de 5cmH2O.
Após o ajuste do ventilador mecânico foram coletados os valores de volume corrente, pico de pressão inspiratória, volume minuto, freqüência respiratória, pressão de
platô inspiratório, pressão positiva final da expiração e fluxo
inspiratório diretamente do painel do respirador.
Para a avaliação da mecânica respiratória retirou-se o
umidificador do circuito do respirador 12. Foram realizados
medidas de complacência estática (ml/cmH2O), resistência
das vias aéreas (cmH2O/l/m), relação espaço morto/volume
corrente, índice de respiração rápida superficial, relação
PaO2/FiO2 e PaCO2.
A complacência estática total foi obtida dividindo-se
o volume corrente pela pressão de platô subtraída do valor
do pressão positiva final da expiração. A resistência das
vias aéreas total foi calculada dividindo-se a diferença entre
o pico de pressão inspiratória e a pressão platô pelo fluxo
inspiratório. A relação espaço morto/volume corrente (Cosmo Plus-9, Dixtal, São Paulo - Brasil) foi obtida colhendo-se
gasometria arterial com concentração de oxigênio a 100%.
Após a descurarização espontânea e quando as condições
clínicas do paciente permitiam, desconectava-se o tubo
endotraqueal do respirador e media-se o índice de respiração rápida e superficial no primeiro e quinto minuto. Compararam-se os parâmetros de mecânica respiratória e oxigenação com os valores normais 13.
Foram analisados o tipo de procedimento cirúrgico,
tempo de circulação extracorpórea, presença de disfunção
miocárdica e alterações neurológicas. O tempo de circulação
extracorpórea foi considerado maior ou menor que 120min.
A disfunção cardíaca foi definida como índice cardíaco
<1,8 l/min/m2 em pacientes recebendo drogas inotrópicas e/
ou que apresentavam fração de ejeção <50% analisados
pela ecocardiografia. Foram consideradas como alterações
neurológicas aquelas lesões avaliadas clinicamente e confirmadas por tomografia computadorizada de crânio, e excluídas as lesões neurológicas progressivas.
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Os distúrbios eletrolíticos presentes foram corrigidos
prontamente e a nutrição foi realizada por via enteral ou
parenteral, conforme as condições clínicas e avaliação
nutricional.
Todos os pacientes foram submetidos ao protocolo de
desmame padronizado na UTI cirúrgica do InCor. Os
parâmetros de avaliação utilizados para o desmame do respirador foram estabilidade hemodinâmica, freqüência respiratória <25rpm, PaO2/FiO2 >200; pressão arterial de dióxido
de carbono entre 35 e 45mmHg, pressão inspiratória máxima
>25cmH2O, VC >5ml/kg mantendo a SaO2 >93%. O desmame
consistiu em diminuir gradativamente os parâmetros do
respirador, como freqüência respiratória (f), ventilação com
pressão suporte (PSV), pressão positiva no final da expiração, fração inspirada de oxigênio (FiO2) até atingir os parâmetros mínimos, isto é, f=2rpm, PSV=10cmH2O, pressão
positiva final da expiração=5cmH2O e FiO2=0,4. Neste momento, iniciou-se a retirada gradativa do respirador, por um
período de 30min em nebulização contínua com suporte de
oxigênio, mantendo-se uma saturação de oxigênio >93% no
período da manhã e 30min no período vespertino, permanecendo em ventilação mecânica no período noturno. Esse
tempo foi aumentado gradativamente até o desmame completo do respirador como mostra o protocolo de desmame
na tabela I.
O sucesso na retirada da ventilação mecânica foi definido quando os pacientes alcançaram completa autonomia
do respirador por um período > 48h, mantendo saturação de
oxigênio acima de 93% com suporte de oxigênio e ausência
de fadiga do padrão respiratório (taquipnéia, uso da musculatura acessória, movimentos paradoxais ou assincronia
da caixa torácica e abdômen). Insucesso foi definido como
dependência do respirador por um período maior que oito
semanas (56 dias) ou evoluíram a óbito.
O estudo foi aprovado pela Comissão Científica do
InCor e Comitê de Ética em Pesquisa do HCFMUSP.
Todas as variáveis foram descritas com média e desvio
padrão. Os dados de sucesso e insucesso foram analisados
pelo teste t Student e as variáveis de tempo de circulação
extracorpórea e disfunção cardíaca pelo teste exato de
Fisher. O nível de significância estatístico foi de p<0,05.
Tabela I - Protocolo de desmame
Protocolo
Respirador
F = 2 rpm
PSV = 10cmH2O
FIO2 = 0,4
PEEP= 5cmH2O
Tempo de nebulização
Período
Manhã
Tarde
Noite
30min
1h
2h
3h
4h
5h
6h
30min
1h
2h
3h
4h
5h
6h
Respirador
Respirador
1h
2h
3h
4h
5h
______________ 24h ______________
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Desmame de pacientes em ventilação mecânica
Resultados
Dentre os 45 pacientes estudados, 22 conseguiram
independência da ventilação mecânica até o período de oito
semanas, recebendo alta da UTI e 23 não obtiveram sucesso no desmame. Desses 23 pacientes, oito permaneceram
sob assistência ventilatória por período superior a oito
semanas e 15 evoluíram para óbito. As características dos
pacientes estão descritos na tabela II e a descrição dos
procedimentos cirúrgicos na tabela III. No grupo de pacientes valvares, dos cinco que entraram no protocolo, quatro
foram submetidos a cirurgia de troca de valva aórtica e um a
troca de valva mitral.
As variáveis de mecânica respiratória e oxigenação complacência estática, resistência das vias aéreas, relação
espaço morto/volume corrente, índice de respiração rápida
e superficial, relação PaO2/FiO2 e PaCO2, quando comparadas entre os grupos “sucesso” e “insucesso”, não apresentaram diferença estatisticamente significante (tab. IV).
Dos pacientes estudados, 27 (60%) apresentaram disfunção cardíaca, sendo que 9 (33%) evoluíram para sucesso
no desmame e 18 (67%) para insucesso. Dos 18 (40%) pa-
Tabela II - Características demográficas dos pacientes
Idade (anos)
Peso (quilos)
IMC (kg/m2)
Altura (m)
Sucesso (n = 22)
Insucesso (n= 23)
P
63,3 ± 12,9
73,2 ± 12,9
27,5 ± 06,3
1,66 ± 0,08
62,9 ± 13,0
72,1 ± 12,8
26,4 ± 03,8
1,62 ± 0,13
0,87
0,77
0,50
0,30
Tabela III - Tipos de procedimento cirúrgico nos 45 pacientes
Procedimento cirúrgico
RM do miocárdio
Procedimento associado
Troca valvar
Correção de Aneur. Ao Asc.
Aneurismectomia do VE
Sucesso
Insucesso
16
2
1
2
1
5
9
4
4
1
RM- revascularizações do miocárdio; procedimento associado = revascularização do miocárdio + outro procedimento associado; Aneur. Ao Asc.aneurisma aorta ascendente; VE- ventrículo esquerdo.
cientes que não apresentaram disfunção cardíaca, 13 (72%)
evoluíram para independência da ventilação mecânica, e 5
(28%) para insucesso, sendo esta diferença estatisticamente significante (p=0,02) (fig. 1).
Em relação ao tempo de circulação extracorpórea, 23
pacientes tiveram tempo menor que 120min, sendo que 15
(65%) evoluíram para sucesso e 8 (35%) para insucesso do
desmame. Dos 22 pacientes que apresentaram tempo de circulação extracorpórea > 120min, 7 (32%) evoluíram para sucesso e 15 (68%) para insucesso, diferença estatisticamente
significante (p=0,04) (fig. 2).
No grupo estudado, 15 (33%) dos 45 pacientes apresentaram complicações neurológicas, sendo que nove evoluíram para o sucesso da retirada da ventilação mecânica e
seis para insucesso.
Discussão
Nossos dados mostraram que 46% dos pacientes em
ventilação mecânica, que obtiveram sucesso na retirada do
suporte ventilatório, são compatíveis com outros relatos
descritos na literatura 1,14,15. Pôde-se verificar que as causas
da não retirada da ventilação mecânica nesses pacientes
estiveram relacionadas sobretudo à presença de disfunção
cardíaca e tempo prolongado de circulação extracorpórea.
Vários estudos recomendam o uso da complacência
pulmonar estática, variável fácil de ser mensurada, não invasiva, demonstrando ser critério útil para prever sucesso no
desmame da ventilação mecânica em pacientes pneumopatas 2,13. No entanto, em nosso estudo, embora a complacência pulmonar estática estivesse alterada, apresentando
valores abaixo da normalidade, não foi suficientemente sensível para diferenciar a evolução dos pacientes em relação ao
desmame da ventilação mecânica. A diminuição da complacência pulmonar estática pode ser devido ao procedimento
cirúrgico, como a esternotomia, circulação extracorpórea,
manipulação cirúrgica e presença de drenos 16,17.
No nosso estudo, a resistência das vias aéreas esteve
aumentada em todos os pacientes, porém, não se observou
diferença significante entre os pacientes que evoluíram
para independência da ventilação mecânica e os que evoluíram para insucesso no desmame. Zanotti e cols. 2, analisando a resistência das vias aéreas em pacientes com DPOC,
obtiveram resultados semelhantes. Por outro lado, Tobin 18,
Tabela IV - Comparação dos parâmetros de mecânica respiratória e de oxigenação entre os grupos de sucesso e insucesso no
desmame da ventilação mecânica prolongada
Sucesso
Cst (ml/cmH2O)
Raw (cmH2O/l/s)
Vd/Vt
F/VC (rpm/l)
PaO 2/FiO 2
PaCO2 (mmHg)
043,1 ±
008,7 ±
000,4 ±
100,6 ±
248 ±
37,5 ±
05,2
06,35
00,12
52,9
200
33
Insucesso
37,7 ±
7±
0,3 ±
87,6 ±
235 ±
36 ±
14
06
00,16
43
185
30,2
Valores Normais
50-100
2-5
≤ 0,3
< 100
> 200
35-45
p
0,23
0,21
0,54
0,48
0,88
0,86
Valores de complacência estática (Cst) em ml/cmH2O; resistência das vias aéreas (Raw) em cmH2O/l/s; relação espaço morto/volume corrente (Vd/Vt), índice de respiração
rápida e superficial (f/VC) em rpm/l; relação PaO2/FiO2; PaCO2 (mmHg) dos grupos sucesso e insucesso do desmame.
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Desmame de pacientes em ventilação mecânica
Fig. 1 - Disfunção cardíaca nos grupos sucesso e insucesso do desmame de pacientes
em ventilação mecânica prolongada; * p<0,05 para comparação entre os grupos sucesso e insucesso.
Fig. 2 - Tempo de circulação extracorpórea (CEC) nos grupos sucesso e insucesso do
desmame de pacientes em ventilação mecânica prolongada; * p<0,05 para comparação entre os grupos sucesso e insucesso.
em estudo recente, relatou que o aumento da resistência
das vias aéreas em pacientes com DPOC dificulta o desmame da ventilação mecânica. O aumento da resistência das
vias aéreas observado em nossos pacientes pode ser devido
ao edema da parede das vias aéreas, presença de fluidos ou
secreções dentro do lúmen das vias aéreas e diminuição do
volume funcional do pulmão 16.
Quanto à relação espaço morto/volume corrente, há
relatos de ser predito no desmame da ventilação mecânica
quando associado a um sistema de escore, incluindo dados
de mecânica respiratória e oxigenação 1. Nosso estudo revelou que esta variável não foi significativa na previsão do
sucesso no desmame da ventilação mecânica, pois ambos
os grupos apresentaram valores semelhantes ou próximos
da normalidade.
A variável índice de respiração rápida e superficial é
largamente utilizada para prever o resultado da ventilação
mecânica. Este índice é considerado válido por vários
autores, mostrando que pacientes com valores abaixo de
100rpm/L obtêm independência do suporte ventilatório 18-21.
Esta variável é fácil de ser mensurada, é independente da cooperação do paciente, sendo altamente predito quanto ao
resultado do desmame 20. No entanto, nossos dados mostram que esta variável não apresentou diferença estatistica304
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mente significante entre os grupos. Nossa casuística computou sete pacientes que não apresentavam condições
clínicas para realização do teste, devido à instabilidade
hemodinâmica e/ou sedação; resultados similares também
foram encontrados por Nava e cols. 4 em pacientes com
DPOC, onde demostraram que este índice não prognosticou
sucesso ou falha no desmame.
A relação PaO2/FiO2 é utilizada rotineiramente em
nossa Instituição no pós-operatório de cirurgia cardíaca,
como parâmetro de desmame, sendo possível utilizá-la independente das condições clínicas do paciente, embora alterações cardiovasculares possam influenciar no conteúdo
venoso de oxigênio e no débito cardíaco 13. Este índice não
identificou diferenças significativas em relação a oxigenação
em ambos os grupos.
A disfunção cardíaca é citada na literatura como um
dos fatores que dificulta o desmame da ventilação mecânica
em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca 7,8,22. Lemaire e
cols. 23 relatam que DPOC e disfunção ventricular esquerda
provavelmente são fatores que contribuem para o insucesso
no desmame. Verificamos diferença estatisticamente significante na incidência de disfunção cardíaca entre os grupos e
verificamos que a presença de choque cardiogênico e da
baixa fração de ejeção ventricular são fatores que interferem
negativamente no desmame da ventilacão mecânica.
O tempo de circulação extracorpórea é um dos principais fatores que retarda o desmame da ventilação mecânica
em cirurgia cardíaca, devido ao importante distúrbio fisiológico causado pela resposta inflamatória ao circuito extracorpóreo. Este distúrbio provoca prejuízo na membrana dos
capilares pulmonares, levando a um aumento do shunt fisiológico e alterando as trocas gasosas 24. Estudos prévios
demonstraram que tempo prolongado de circulação extracorpórea >120min, geralmente, está relacionado com o alto
risco cirúrgico 7,8. Nossos dados demonstraram comportamento semelhante em pacientes que permaneceram por
mais de 120min em circulação extracorpórea.
As alterações neurológicas representam uma das
maiores complicações no período pós-operatório de cirurgia cardíaca; os mecanismos envolvidos são multifatoriais,
embora aqueles relacionados à circulação extracorpórea
estejam especificamente implicados 25. Nossos dados demonstraram que pacientes submetidos à cirurgia cardíaca,
apresentando alterações neurológicas e submetidos a ventilação mecânica prolongada não necessariamente evoluíram com insucesso do desmame.
Em conclusão, nosso estudo demonstra que em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, que requerem ventilação mecânica prolongada, os dados de mecânica respiratória e oxigenação não foram fatores envolvidos no sucesso
ou insucesso no desmame. Por outro lado, disfunção cardíaca e tempo de circulação extracorpórea influenciaram diretamente no sucesso do desmame.
Agradecimentos
À Dra. Estela Azeka pela revisão do artigo.
Arq Bras Cardiol
2003; 80: 301-5.
Nozawa e cols
Desmame de pacientes em ventilação mecânica
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