PERCEPÇÃO DA ENFERMAGEM SOBRE ASPECTOS RELACIONADOS Á DOR NO PACIENTE ONCOLÓGICO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Layse Souza Silva Teixeira¹ Luciana Nascimento Costa² RESUMO: A avaliação da dor é um importante passo para o planejamento do cuidado. Assim sendo devem ser identificados os aspectos que possam estar determinando ou contribuindo para manifestações dos sintomas. O sucesso no tratamento da dor requer uma avaliação cuidadosa de sua natureza, entendimentos dos diferentes tipos e padrões de dor e conhecimento do melhor tratamento. A boa avaliação inicial da dor irá atuar como uma linha de base para o julgamento de intervenções subseqüentes. O controle da dor deve ser uma preocupação do enfermeiro, pois é uma atividade assistencial imperativa em sua atuação e ponto fundamental para o planejamento do cuidado. Este trabalho se justifica mediante a importância de estimular uma reflexão para a equipe, em especial dos enfermeiros da assistência ao paciente oncológico com dor. Para o alcance do objetivo geral, foi necessário identificar os artigos produzidos pela comunidade científica nos últimos dez anos sobre assistência de enfermagem ao paciente oncológico com dor crônica, observar os artigos que abordaram as intervenções de enfermagem ao paciente com dor, descrever as contribuições de uma assistência individual, sendo capaz de avaliar a dor de forma holística, entender que a dor deve ser abordada de forma multidisciplinar. Foi realizado um estudo exploratório descritivo, de natureza bibliográfica onde buscou analisar as principais produções cientificas sobre o tema abordado. Foram selecionados e fichados 16 artigos, porém apenas 10 foram utilizados por atenderem ao objetivo do presente estudo. A dor é uma sensação desagradável, que pode variar de intensidade, que só um profissional capacitado e treinado pode fazer sua mensuração. O enfermeiro é quem faz a mensuração da dor de acordo com escalas adequadas para idade do paciente. DESCRITORES: Assistência. Enfermagem. Dor. Oncologia _____________________ ¹ Bacharel em Enfermagem pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC E-mail: [email protected] ²Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Dom Pedro II E-mail: [email protected] Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Enfermagem em Oncologia, sob orientação metodológica do professor Max José Pimenta Lima, Salvador, 2014. 2 1 INTRODUÇÃO As descobertas mais importantes sobre a dor ocorreram após a II Guerra Mundial, decorrentes da expansão do conhecimento sobre anatomia e fisiologia, e a utilização do método científico para investigar o significado da dor (SILVA, ZAGO, 2001). Em 1960, Melzack definiu dor como uma sensação e, em 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) complementou essa definição ao considerar a dor como experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais. Essa definição é atualmente utilizada (TEIXEIRA et al, 1995). Dentre os fatores que influenciam a sensação dolorosa, evidenciam-se os sentimentos e as experiências emocionais como mágoa, luto, temor, angústia e culpa. Portanto, a reação a um estímulo doloroso é individual, depende do estado físico e emocional do indivíduo com dor. A dor constitui o sintoma dominante na maioria dos doentes com neoplasia. Atinge 50% dos pacientes no curso da doença, podendo estar presente em até 90% nas fases avançadas. Por ser algo subjetivo, difícil de interpretar ou descrever, muitas vezes, a dor torna-se um sintoma subdiagnosticado e, por isso subtratado, sobretudo em pacientes com câncer, cujas variáveis psicológicas e outras comorbidades clínicas contribuem para a inadequada abordagem da dor e conseqüente queda da qualidade de vida. A prevalência e a intensidade da dor no câncer variam de acordo com a localização do tumor, com a presença de metástases e com estágio de evolução da neoplasia (PIMENTA et al,. 1997). Dor é uma resposta somática do organismo muitas vezes, saber desmistificá-la e manejá-la pode proporcionar agilidade no tratamento, conforto ao paciente, assim como garantir a humanização do cuidado. Tratar a dor oncológica significa respeito pelo paciente e, mais do que isso, uma tentativa de melhorar sua autonomia e qualidade de vida. A avaliação da dor é um importante passo para o planejamento do cuidado. Os objetivos da avaliação são caracterizar a experiência dolorosa em todos os seus domínios, identificar os aspectos que possam estar determinando ou contribuindo para manifestação dos sintomas, aferir as repercussões da dor no funcionamento biológico, emocional e social do indivíduo (PIMENTA, KOIZUMI, TEIXEIRA, 1997). 3 Para avaliação da dor torna-se necessária uma abordagem multidimensional, os quais incluem intensidade, duração e localização da dor, características somatossensoriais e emocionais que a acompanham. A avaliação dor/sofrimento é sempre necessária, não só para a escolha da forma mais adequada para o controle álgico em cada caso, como também detectando a necessidade de suporte psicológico específico. O sucesso no tratamento da dor requer uma avaliação cuidadosa, entendendo os diferentes tipos e padrões de dor e conhecimento do melhor tratamento. A boa avaliação inicial da dor irá atuar como uma linha de base para o julgamento de intervenções subseqüentes. Nesse sentido os profissionais de enfermagem é sem dúvidas, a equipe de maior contato com o paciente em seu tratamento hospitalar (PINTO, CASA, 2005). Portanto, deve exercer seu papel no controle da dor, tem responsabilidade na avaliação diagnóstica, na intervenção e monitorização dos resultados do tratamento, na comunicação das informações da dor do paciente. O envolvimento dos profissionais de enfermagem é essencial para poder proporcionar uma melhoria na qualidade de vida do paciente com câncer, levando em consideração a individualidade, singularidade, estilo de vida, crenças e valores culturais. Este trabalho se justifica mediante a importância de estimular uma reflexão para a equipe, em especial dos enfermeiros da assistência ao paciente oncológico com dor. Foi traçado como objetivo geral desde estudo, identificar como o profissional de enfermagem avalia a dor e qual a percepção dos mesmos sobre este fenômeno. Para o alcance do objetivo geral, foi necessário identificar os artigos produzidos pela comunidade científica nos últimos dez anos sobre assistência de enfermagem ao paciente oncológico com dor crônica, observar os artigos que abordaram as intervenções de enfermagem ao paciente com dor, descrever as contribuições de uma assistência individual, sendo capaz de avaliar a dor de forma holística, entender que a dor deve ser abordada de forma multidisciplinar. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de natureza bibliográfica que buscou analisar as principais produções científicas sobre o tema então abordado. A base de dados utilizados foram a Bireme, BVS, Lilacs, SciELO. O período de publicação dos artigos foram de 1988 a 2012. Foram utilizados os seguintes Descritores de Ciência da Saúde: Assistência, Enfermagem, Dor, Oncologia; os artigos foram coletados entre setembro e novembro de 4 2014. Após a análise dos descritores, 16 artigos foram selecionados e fichados, porém apenas 10 foram utilizados porque atenderam ao objeto do presente estudo. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 A DOR DO PACIENTE COM CÂNCER Antigamente dor e sofrimento eram inseparáveis, os antigos acreditavam que a dor era algo provocado por um ato inadequado, que os Deuses castigavam as pessoas com as dores como punição de um ato. Em alguns países a dor servia para ameaçar e punir indivíduos e sua coletividade, os judiciários utilizavam essa pratica como forma de exemplificar ao histórico, um dos exemplos eram as masmorras, que tinham um intuito de aprisionar impedindo o individuo de ver a luz e de se comunicar com os familiares, gerando sofrimento psicológico (MICELI, 2002) Nos últimos anos muitos avanços foram feitos a respeito da dor, mas ainda sim encontramos pessoas com o pensamento dos antigos, que a dor serve de punição, para os próprios atos, encontramos muito isso no paciente oncológico, há certa insegurança a respeito da doença e com isso o paciente começa a se punir psicologicamente achando que a doença é fruto de um ato errôneo. A dor é algo comum no paciente oncológico cerca de 40% a 70%. E se bem avaliado pode contribuir de forma significativa para identificação diagnostica de ocorrência ou progressão da doença (PIMENTA, KOIZUMI, TEIXEIRA, 1997). A dor é individual, cada pessoa é capaz de descrever sua dor de acordo com suas experiências, baseando-se em sua personalidade e suas crenças. O paciente oncológico se encaixa bem nesse conceito, muitas vezes sem mesmo o profissional realizar a avaliação adequada, porém o grau de irritabilidade do paciente é tão grande que o mesmo já imagina o potencial de dor e em contra partida há paciente que compreendem a dor como algo histórico uma questão de punição. Cabe ao profissional realizar a avalição da dor de forma criteriosa, conforme escalas e métodos de avaliação, para que esse paciente seja assistido de forma que tenha sua dor sanada (TORRITESI E DENDRÚSCULO, 1998). Hoje em dia temos fatores que contribuem para uma avaliação inadequada, que é a falta de conhecimento por parte dos profissionais de saúde a respeito das escalas existentes, dos métodos de avaliação, das analgesias. Existe muito preconceito sobre os 5 opióides, como usá-los. Outro fator que interfere são as localizações dos tumores, muitos pacientes já chegam à unidade de atendimento com estagio de tumor avançado, necessitando assim de um conjunto de medicações. Essa abordagem da dor deve ser feita por uma equipe multiprofissional devidamente treinada, porem muitas vezes quem tem contato direito com o paciente é o enfermeiro, que precisa estar devidamente preparado para essa abordagem, pois a dor interfere diretamente no emocional do paciente, o profissional deve estar atendo a qualquer mudança de humor se atentar a relatos dos familiares, para intervir no momento necessário, se deve fazer cumprir a prescrição médica (SILVA, ZAGO, 2001) A dor oncológica pode se apresentar de duas formas, dor aguda ou crônica. A dor aguda refere-se de fácil localização, curta, podendo variar de intensidade, podendo provocar diversos sintomas no paciente. Já a dor crônica é persistente, geralmente com difícil localização gerando um sofrimento não só físico como mental causando desesperança e ansiedade, impactando bastante no tratamento e na forma de interpretação da avaliação (PIMENTA, KOIZUMI, TEIXEIRA, 1997). Segundo Delgado (1988), a dor oncológica tem características peculiares. Para este paciente a dor tende a ser continua, agravando-se na medida em que há evolução da doença neoplásica, levando o paciente a exaustão física e mental. 2.2 FISIOPATOLOGIA DA DOR O estimulo doloroso é gerado a partir da transformação de estímulos agressivos em potenciais de ação que das fibras nervosas periféricas são transferidas para SNC. Os receptores da dor estão localizados nas terminações das fibras nervosas Adelta e C que sofrem alteração na sua membrana ao ser ativada, permitindo assim a deflagração de potencial de ação (OLIVEIRA, 2011). As terminações nervosas das fibras nociceptiva também conhecida com nociceptores, são capazes de gerar um estimulo agressivo de natureza, térmica, química ou mecânica que será emitido ao SNC através de um estimulo elétrico e interpretado pelo córtex cerebral como dor. As fibras a-delta são mielinizadas e as C são não mielinizadas e são capazes de transmitir estímulos dolorosos em diferentes velocidades, as fibras A-delta transmitem os estímulos com maior velocidade devido a sua bainha de mielina, já a C transmite de forma lenta esse estimulo doloroso, por não possuir bainha de mielina. 6 A sensibilização central implica alterações dos impulsos periféricos, com adaptações positivas ou negativas. Ocorre redução do limiar ou aumento da resposta aos impulsos aferentes, descargas persistentes após estímulos repetidos e aumento dos campos receptivos de neurônios do corno dorsal (OLIVEIRA, 2011). Os impulsos relacionados em fibras C amplificam sinais sensoriais em neurônios espinhais, enviando assim mensagens para o encéfalo. Lesões periféricas induzem plasticidade em estruturas supra-espinhais por meio de mecanismos que envolvem tipos específicos de receptores para o glutamato. Após a agressão tecidual há liberação de neurotransmissores, como substância P, somatostatina, peptídeo geneticamente relacionado com a calcitonina, neurocinina-A, glutamato e aspartato. Essas substâncias estão relacionadas com a ativação de potenciais pós-sinápticos excitatórios e dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e não-NMDA. Estímulos freqüentes dos aferentes geram a somação dos potenciais de ação e consequentemente despolarização pós-sinápticas acumulativa. Depois da ativação de receptores NMDA pelo glutamato há remoção do íon magnésio do interior do receptor e o influxo de cálcio para a célula, do que resulta a amplificação e o prolongamento da resposta ao impulso doloroso. Quando há aumento de cálcio, ocorre uma ativação na enzima óxido nítricosintetase e a estimulação da transcrição de protoncogenes. Estes genes são localizados no sistema nervoso central e estão envolvidos na formação de dinorfinas e encefalinas. As encefalinas têm ação anti-nociceptiva e estão envolvidas no processo de redução da neuroplasticidade e hiperalgesia. Entretanto, as dinorfinas têm um efeito complexo, já que possuem ação algogênica e antinociceptiva (OLIVEIRA, 2011). As fibras nociceptivas atingem a linha média no nível do corno dorsal da medula espinhal e ascendem pelos tratos espinotalâmicos, espinorreticular, espinomesencefálico, coluna dorsal pós-sináptica e sistema espinopontoamigdaliano. Algumas dessas fibras terminam no núcleo talâmico ventroposteromedial (VPM) e depois ascendem para o córtex cerebral somestésico (S1 e S2), córtex insular e cingular anterior. Outros neurônios projetam axônios para o hipotálamo, formação reticular, substância cinzenta periaquedutal, núcleo medial e intratalâmico, e estruturas encefálicas anteriores que são responsáveis pelas respostas neuroendócrinas e emocionais a dor. A ativação de fibras nociceptivas periféricas provoca migração retrógrada de fator de crescimento nervoso (NGF) para a medula espinhal e induz resposta segmentar reflexa, com transporte anterógrado de substância P para a periferia, ocasionando 7 vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, atração de células do sistema imune para o local da lesão e degranulação de mastócitos com liberação de diversos neuromediadores. Desse modo, a substância P ajuda na manutenção e na expansão do processo inflamatório para o campo receptivo de fibras nervosas adjacentes à área lesada, constituindo a hiperalgesia secundária. Por outro lado, as fibras adrenérgicas, além de contribuírem com o processo supracitado, aumentam a sensibilidade de fibras nociceptivas à ação de bradicinina. Potencializam esses efeitos, o vasoespasmo e o espasmo muscular, reflexos que proporcionam liberação de radicais ácidos e, conseqüentemente, a redução do limiar "para disparos" da fibra nociceptiva(OLIVEIRA, 2011). 2.3 AVALIAÇÃO DA DOR ONCOLÓGICA A avaliação da experiência dolorosa deve estar apoiada no que se compreende como dor. Dor foi conceituada pela Associação Internacional para Estudos da Dor (IAP) como “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais lesões (PIMENTA, CRUZ, 1988). Segundo Sofaer (1994), “é importante reconhecer que cada paciente é diferente”. A avaliação da experiência dolorosa é fundamental para compreender a origem e a intensidade do quadro álgico, somando dados importantes na implementação de medidas analgésicas e na verificação da eficácia do tratamento instituído. Uma avaliação da dor devidamente abordada servirá como fator relevante no plano de cuidado ao paciente oncológico com dor. A melhor maneira de avaliar a dor é confiando nas palavras e no comportamento do paciente, acreditando que a dor existe. É ter a capacidade de perceber a experiência do outro, como ele vivencia; é estar atento para manter vivo o seu papel de cuidador, centrando a ação no paciente, respeitando sua singularidade (CELICH, 2004). A experiência dolorosa é um evento muito mais amplo, não se resumindo apenas à intensidade. As características da dor também devem ser avaliadas, incluindo o seu início, local, irradiação, periodicidade, tipo de dor, duração e fatores desencadeantes. É importante observar as reações comportamentais e fisiológicas da dor, tais como: expressão facial, inquietação, insônia, ansiedade, irritabilidade, sudorese, palidez, taquicardia, taquipnéia, hipertensão, entre outros (SAKATA et al.,2003). 8 A avaliação da dor, rotineiramente, possibilita planejar a medicação, de acordo com as necessidades pessoais e permite verificar a eficácia dos tratamentos de modo confiável (CLARKE; KASHANI; CLARK, 1998). A avaliação realizada e registrada sistematicamente pode contribuir para o melhor do manejo do fenômeno doloroso (FARIES et al., 1991 apud RIGOTTI, FERREIRA, 2005). A dor é uma sensação desagradável que varia de intensidade e localização. Manifesta-se em cada indivíduo de maneira única, mesmo que ele passe por situações de injúrias semelhantes, pois a percepção da dor depende da realidade de cada um, embora seja significativo que a maioria das pessoas identifique apenas sintomas orgânicos como dor, mas esta está ligada por aspectos subjetivos, físicos e psíquicos, recebendo influência direta de fatores sociais, emocionais, culturais e espirituais (PAIVA, LINDOZO, 2004). Inicialmente a dor é avaliada através de uma anamnese detalhada, de uma história clínica da doença (englobando doenças prévias e antecedentes biológicos), acreditando sempre no quepaciente tem a informar. Questioná-lo sobre como é a sua dor, determinar os elementos que possam justificar, manter ou exacerbar a dor, sofrimento e a incapacidade. É preciso observar qual a mensagem corporal que o paciente transmite durante a entrevista, mesmo sem verbalização, apenas com alterações físicas, como por exemplo, alterações nos sinais vitais. Em seguida, faz-se uma avaliação física céfalo-caudal, com atenção especial aos sistemas neurológicos e músculo-esquelético, visando sempre à natureza da dor. A partir de então, usam-se instrumentos par avaliar a dor, como o auto-relato, observação comportamental, e medidas das respostas biológicas à dor. 2.3.1 ANAMNESE A anamnese é o primeiro instrumento a ser utilizado para detectar e avaliar a dor no paciente oncológico. Os dados históricos são fatores importantes para diagnóstico, e devem ser colhidos dos doentes e familiares para uma melhor compreensão e intervenção álgica. É necessário, que durante este processo, os aspectos cronológicos, localização, ritmo, período e característica da dor, incapacidade e fatores desencadeantes da condição 9 álgica sejam relatados de forma livre e com poucas interrupções, permitindo ao profissional detalhes das informações coletadas. 2.3.2 EXAME FÍSICO O exame físico tem sua importância como instrumento necessário para avaliação da dor no paciente oncológico, pois permite que o profissional observe o aspecto geral do paciente, incluindo fáceis, postura, estado nutricional, traços de ansiedade/medo, apatia, palidez, alterações gastrointestinais (náuseas, vômitos, obstipação), alterações respiratórias e relacionadas à pressão arterial, prestando atenção especial ao local da dor expressada. 2.3.3 ESCALAS DE DOR A experiência dolorosa é um fenômeno individual, e para caracterizá-la, devem ser realizadas avaliações sistemáticas. No intuito de refinar a expressão dessa experiência e facilitar a comunicação entre os profissionais, foram desenvolvidas instrumentos para avaliação da dor. (PIMENTA, CRUZ, 1998). A utilização de instrumentos padronizados para mensurar e avaliar as características da dor tem se mostrado efetiva como estratégia para o registro de dados sobre dor e analgesia (RIGOTTI, FERREIRA, 2005). ESCALAS UNIDIMENSIONAIS Servem para medir unicamente a intensidade da dor. As mais utilizadas são: Escala Visual Analógica- Usada como primeiro instrumento pela facilidade de aplicação e reprodutibilidade. Consiste em uma linha que representa uma qualidade contínua de intensidade e dados verbais: nenhuma dor ou dor máxima. (Fonte: Fernandes; Arriaga, 2010) 10 Escala Numérica Visual- Graduada de zero a dez, onde zero significa “ausência de dor” e dez, “pior dor imaginável”. São facilmente compreendidas pela maioria dos pacientes e aferem uma intensidade da dor. (Fonte: Fernandes; Arriaga, 2010) ESCALA MULTIDIMENSIONAIS São escalas mais amplas que avaliam a experiência dolorosa em três dimensões: sensorial-discriminativa, a motivacional-afetiva e a cognitiva- avaliativa. Servem para medir e avaliar o efeito da dor no humor, nas atividades diárias e na qualidade de vida do paciente. A primeira e a mais utilizada escala multidimensional é o “Questionário McGill para Dor” – É o instrumento para avaliar outras características da dor, além da intensidade. Foi elaborado para fornecer medidas quantitativas da dor, que pudessem ser tratadas estatisticamente e permitir a comunicação das qualidades sensoriais, afetivas e avaliativas do fenômeno doloroso. Têm índices de validade e confiabilidade estabelecidos e poder discriminativo entre os diversos componentes da dor (MAIANI, SANAVIO, 1985). 11 2.4 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR Em 1986 a Organização Mundial da Saúde (OMS) com participação da Associação Internacional para Estudo da Dor (IASP) propôs um método para alivio das dores oncológicas: a Escala Analgésica, que organiza e padroniza o tratamento baseado em uma escala de três degraus de acordo com a intensidade de dor que o paciente apresenta. Degrau 1Pacientes que não estão sob tratamento analgésico e com dor leve a moderada devem ser tratados com drogasantiinflamatórias, que incluem: Paracetamol e antiinflamatórias não hormonais (AINESS). Degrau 2Em pacientes com dor moderada, a despeito do uso de AINE, utiliza-se ao tratamento opióides fracos como Tramadol ou Codeína Degrau 3Esse degrau é reservado para os pacientes que não obtiveram controle na dor com uso de opióides fracos e AINES. Nesse degrau, são usado opióides fortes como Morfina, Metadona, Oxicodona ou Fentanil. É importante lembrar que não há limite na dosagem de opióides fortes, e a dose considerada máxima é aquela que consegue o melhor balanço entre analgesia e efeitos colaterais. 12 3 CONCLUSÃO Dessa forma conclui-se que a dor é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica. A mensuração da dor é extremamente importante, pois torna-se impossível prestar uma assistência humanizada sem ter uma medida sobre a qual basear o tratamento ou a conduta terapêutica. Sem tal medida, torna-se difícil determinar se um tratamento é necessário, se o prescrito é eficaz ou mesmo quando este deve ser interrompido. O controle da dor é atribuição de todo profissional de saúde. Conceitos fundamentais a respeito dos mecanismos de dor e de suas repercussões nas áreas física, emocional e social dos indivíduos, das possibilidades diagnósticas e sobre os princípios da terapêutica, devem ser conhecidos por todos. O enfermeiro é quem, pela maior proximidade com o paciente, identifica, avalia e notifica a dor, programa a terapêutica farmacológica prescrita, prescreve algumas medidas não-farmacológicas e avalia a analgesia. Assim o enfermeiro deve saber identificar a dor, a maneira como a dor poderá alterar as necessidades básicas do paciente, devendo então, fornecer medidas de conforto. O enfermeiro desempenha papel fundamental como integrante da equipe multidisciplinar, frente ao monitoramento da dor. Em virtude disso, faz-se necessária à conscientização de toda equipe de enfermagem, quanto à importância de seu comprometimento, para que todos integrantes da equipe multidisciplinar possam trabalhar juntos, alcançando então, o sucesso no controle e manejo da dor. 13 PERCEPTION OF NURSING ON ASPECTS RELATED TO PAIN IN CANCER PATIENTS: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW ABSTRACT: Pain assessment is an important step in the planning of care. Therefore must be identified aspects that might be influencing or contributing to manifestations of symptoms. The success in treating pain requires a careful assessment of its nature, understanding of the different types and patterns of pain and knowledge of the best treatment. The good initial assessment of pain will act as a baseline for the trial of subsequent interventions. Pain control should be a concern of the nurse, it is a mandatory medical work in their field and focal point for the planning of care. This work is justified by the importance of stimulating a reflection on the staff, especially the nurses of care to cancer patients with pain. To achieve the overall goal, it was necessary to identify the articles produced by the scientific community over the past decade on nursing care to cancer patients with chronic pain, observe the items that addressed the nursing interventions to patients with pain, describe the contributions of a individual assistance, being able to assess pain holistically understand that pain must be approached in a multidisciplinary way. A descriptive exploratory study, bibliographic nature which sought to analyze the main scientific papers on the topic was conducted. Were selected and filed 16 articles, but only 10 were used for meeting the aims of this study. Pain is an unpleasant sensation that can range in intensity, that only a skilled and trained professional can make your measurement. The nurse is the one who makes the measurement of pain in accordance with appropriate scales for patient age. Keywords: Assistance. Nursing.Pain.Oncology. 14 REFERÊNCIAS CELICH KLS. Dimensões do processo de cuidar: a visão das enfermeiras. Rio de Janeiro: EPUB; 2004. CLARKE WC, KASHANI A, CLARK SB. A mensuração da dor. In: KannerR. Segredo em clínica de dor. Porto Alegre: Artmed; 1998. p. 41-50. II Consenso Nacional de Dor Oncológica. São Paulo: Grupo Editorial Moreira Jr.; 2011. Disponível em: www.moreirajr.com.br DELGADO, G.L. A dor em oncologia. São Paulo; Atheneu/EDUSP, 1988. FARIES JE, MILLS DS, GOLDSMITH KW, PHILLIPS KD, ORR J. Systematic pain records and their impact ou pain control. A pilotstudy. CancerNurs 1991 Dec.; V.14 N.6. P. 13 FERNANDES, SARA; ARRIAGA, PATRÍCIA. Considerações gerais sobre a definição e avaliação da dor pediátrica. Revista online de edificação cientifica. Lisboa, 2010, v.1, n° 02 e 03. MAIANI. G.; SANAVIO, E. 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