EMTr Como age a Estimulação Magnética Transcraniana na Depressão? A Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr ou rTMS na sigla em Inglês) permite modular a atividade cerebral modificando de maneira duradoura a atividade de neurônios cerebrais. Não é o campo magnético que induz essas mudanças. O campo magnético é apenas o meio para induzir, de forma segura e não invasiva, correntes elétricas controladas e rítmicas em regiões do córtex cerebral. O ritmo de aplicação das correntes funciona como um código que leva os neurônios a mudar seu padrão de atividade. Ao aplicar correntes com alta frequência, os neurônios nessa região modificam seu padrão de atividade e se tornam mais ativos e excitáveis. Se, por outro lado, correntes são aplicadas com baixa frequência (a menos de 1 pulso por segundo), observa-se o contrário: os neurônios tornam-se menos ativos. Na depressão existe uma hipoatividade em circuitos frontais e o tratamento com rTMS consiste na aplicação de pulsos de alta frequência no córtex frontal dorso-lateral esquerdo, 5cm adiante da área motora da mão direita. Depressão Redução de atividade na convexidade frontal esquerda Controle normal Isso leva a aumento duradouro da atividade de circuitos neuronais relacionados a essa área. Um dos mecanismos envolvidos nessa mudança de atividade é a liberação de neurotransmissores (principalmente dopamina) em estruturas límbicas do mesencéfalo (via mesolímbica, núcleo acumbens). Essas estruturas estão envolvidas na neuroquímica da motivação, do prazer e da recompensa. Estudos laboratoriais dão uma idéia de como esses efeitos se tornam duradouros. A rTMS induz plasticidade neuronal. Muda o modo como os neurônios expressam seus genes. Por trás do aumento ou redução de atividade existe mudança no padrão de produção de receptores sinápticos e outras proteínas neuronais. Como é o tratamento da depressão com a EMTr? O protocolo típico de tratamento de depressão começa com a chamada “Indução”. Nessa fase o paciente deverá receber aplicações diárias por 15 a 30 dias. Cada sessão dura cerca de meia hora. Os efeitos benéficos geralmente começam a aparecer por volta da quinta sessão e se tornam mais evidentes perto da décima sessão. Cerca de 2/3 dos pacientes respondem de maneira satisfatória ao tratamento, 1/3 com resolução total dos sintomas. Após a fase de indução, pode ser necessário fazer aplicações de manutenção, em média 2 vezes por mês. Qual a segurança do método? A EMTr é contra-indicada em pacientes com componentes metálicos intra-cranianos ou marca-passo e deve ser indicada com cuidado no paciente portador de epilepsia. Usando-se os parâmetros recomendados para depressão, o método não provoca crises convulsivas, não causa ganho de peso, não reduz a libido, não provoca náuseas e não prejudica a memória. O método é indicado para uso ambulatorial. Não é necessário estar em um ambiente hospitalar. Durante a sessão o paciente sente um pouco de desconforto no couro cabeludo. É comum haver dor de cabeça leve ou moderada após as primeiras sessões de EMT, mas esse efeito tende a desaparecer após a primeira semana. A EMT não prejudica a memória e não provoca outros efeitos colaterais. Em quem está indicado o tratamento com EMTr? O serviço de EMT do HC-FMUSP propõe as seguintes indicações para EMTr: • Depressão moderada no paciente que não respondeu ou não tolerou a primeira medicação antidepressiva • Depressão moderada, como primeira escolha no paciente que prefere não se expor aos possíveis efeitos colaterais dos medicamentos: ganho de peso, sedação, redução de libido, náuseas, obstipação. • Depressão grave, antes de indicar Eletroconvulsoterapia (ECT) • As seguintes situações também favorecem a indicação de EMT: • Depressão moderada ou grave, com boa resposta prévia à ECT • Depressão moderada ou grave, quando se deseja uma resposta mais rápida ao tratamento, como terapia isolada ou combinada a medicamentos Nos Estados Unidos, a EMTr foi aprovada pelo FDA para o tratamento da depressão moderada que não respondeu ou apresentou intolerância ao primeiro medicamento anti-depressivo em dose eficaz. Em que outras patologias a Estimulação Magnética pode ser eficaz? Protocolos semelhantes ao usado para tratar a depressão tem efeito em circuitos que estão disfuncionais também na apatia da esquizofrenia, na fibromialgia e na abstinência de drogas. A aplicação com outros parâmetros e em outras áreas tem potencial de aplicação ainda no tinitus, nas alucinações auditivas da esquizofrenia, na reabilitação do AVC, no transtorno obsessivo compulsivo e outros.