Estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa para a APIFARMA conclui Aspectos comportamentais são os motivos mais apontados pelos portugueses para a falta de Adesão à Terapêutica 46,7% dos portugueses acreditam que o Esquecimento é o principal motivo que leva as pessoas a não seguir totalmente as indicações dadas pelos médicos Cerca de metade dos inquiridos (48,3%) considera que o seu estado de saúde é bom ou mesmo excelente Aproximadamente 20% dos inquiridos admite ter recorrido, nos últimos cinco anos, a medicamentos receitados a outras pessoas, a maioria deles mais de uma vez Falta de Adesão à Terapêutica compromete a eficácia dos tratamentos e contribui para o aumento dos custos em saúde (OMS) Lisboa, 19 de Março 2010 – Perto de metade dos portugueses (46,7%) acredita que o esquecimento é o principal motivo que pode levar as pessoas a não seguir totalmente as indicações dadas pelos médicos. Esta é uma das conclusões do estudo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa apresentado hoje no Simpósio “ A Adesão à Terapêutica em Portugal”, organizado pela APIFARMA, Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica. Este estudo teve como objectivo traçar um perfil rigoroso ao nível das atitudes e dos comportamentos relativamente à Adesão à Terapêutica em Portugal, considerando a adesão à terapêutica como o grau de correspondência do comportamento que o paciente assume em relação às indicações dadas por um profissional de saúde e ao tratamento prescrito. De acordo com o estudo coordenado por Manuel Villaverde Cabral e Pedro Alcântara da Silva, “a falta de adesão à terapêutica ocorre quando o comportamento do paciente não coincide com as recomendações do médico ou de outro profissional de saúde, não se circunscrevendo a definição do conceito apenas a desvios na aplicação do regime terapêutico tal como foi prescrito, mas também não seguir as indicações relativas a alterações nos hábitos e estilos de vida ou a manutenção de práticas saudáveis”. Quase metade dos portugueses (46,7%) acredita que o esquecimento é o principal motivo que pode levar as pessoas a não seguir totalmente as indicações dadas pelos médicos. Se ao esquecimento se juntarem factores como a preguiça em tomar medicamentos (7,5%), não querer ou não gostar de medicamentos (6,6%), adormecer antes da toma (4,3%), não planear as tomas (2,5%) e não ter tempo ou estar ocupado (2,4%) temos a maioria das razões apontadas pelos inquiridos. No seu conjunto, estes factores representam 70% dos motivos apontados para a não adesão à terapêutica. O factor económico (18,3%) é também um dos motivos apresentados, representando, no entanto, pouco mais de 1/4 do conjunto das razões de natureza comportamental. No que respeita ao papel da relação de confiança entre o médico e o paciente para o êxito da terapêutica, observa-se que, segundo a generalidade dos inquiridos, o receio dos pacientes em fazer perguntas e pedir esclarecimentos aos médicos (31,7%), bem como o facto de não prestar atenção quando estes estão a explicar o tratamento (28,5%), são as principais razões que podem contribuir para as pessoas não aderirem à terapêutica. A falta de compreensão das vantagens do tratamento (20,5%), por parte do paciente, é a razão mais referida a seguir, surgindo em último a falta de confiança no médico (12,5%). Para a generalidade da população, a relação com os profissionais de saúde é um factor determinante para o cumprimento das indicações terapêuticas, considerando que os médicos e também os farmacêuticos deveriam, segundo os inquiridos, dispor de mais tempo para dedicar a cada paciente a fim de explicarem os tratamentos e fornecerem um plano detalhado do mesmo. Cerca de 20% dos inquiridos admite ter recorrido, nos últimos cinco anos, a medicamentos receitados a outras pessoas, a maioria deles mais de uma vez. Os doentes agudos, ao contrário dos crónicos, são os que mais recorrem à auto-medicação, chegando este comportamento a atingir mais de 28% entre os doentes ligeiros. Enquanto o esquecimento denota incumprimento por negligência ou aquilo a que os autores do estudo chamam «resistência», o facto de abandonar o tratamento quando a pessoa se sente melhor pode denotar um comportamento autónomo. Os motivos mais invocados a seguir - adormecer antes de tomar a medicação e horários das tomas menos convenientes – pertencem também à esfera da negligência ou resistência. Finalmente, os efeitos secundários e o preço dos medicamentos são dois motivos de natureza diferente mencionados com alguma expressão. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 50% da população residente nos países desenvolvidos não cumpre a prescrição médica até ao fim. Destes, 6% a 20% dos doentes não aviam as receitas médicas e 30% a 50% não cumprem o esquema de tratamento proposto. No entender de João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA, “a adesão à terapêutica constitui factor modificador importante para os sistemas de saúde, uma vez que os custos directos das complicações atribuídas ao mau controlo de qualquer doença são claramente superiores, quando comparadas com um bom e atempado controlo”. A não adesão à terapêutica prescrita pelo médico tem repercussões directas para o paciente podendo originar o agravamento do estado de saúde e da sintomatologia da doença, ocasionar erros no diagnóstico e no tratamento ou levar ao seu fracasso, o que se traduz em efeitos na qualidade de vida e no aumento da morbilidade. Por outro lado, há que considerar as repercussões indirectas em termos sociais e económicos, designadamente a necessidade de se recorrer a novas prescrições, a realização de novos procedimentos de diagnóstico ou terapêuticos mais custosos ou mais complexos, a ida a mais consultas e a utilização de serviços de urgência. Para Etienne Vermeire, Professor na Universidade de Antuérpia, que participa no Simpósio promovido pela APIFARMA, com uma conferência sobre as recomendações resultantes da investigação nesta área, “a falta de adesão à terapêutica, enquanto problema complexo, leva a que os benefícios proporcionados pelos tratamentos médicos não sejam alcançados na totalidade”. Salienta, ainda, que “a não adesão constitui um problema de saúde pública major que acarreta custos consideráveis aos actuais sistemas de saúde. Estes custos estimam-se em 100 mil milhões de dólares/ano nos EUA, sendo que, por exemplo, na área cardiovascular, a mortalidade resultante da não adesão se estime em mais de 125 000 mortes por ano. A falta de adesão à terapêutica tem implicações na optimização dos recursos dos sistemas de saúde pelo que “claramente devem ser promovidas acções que fomentem a alteração de comportamentos no sentido de sensibilizar para a importância da adesão à terapêutica na qualidade e plena eficácia dos tratamentos nos doentes” conclui João Almeida Lopes. O estudo agora apresentado foi efectuado em 2008, junto de 1400 indivíduos representativos da população portuguesa (continente), com 16 ou mais anos de idade, de ambos os sexos, com uma sobrerepresentação dos indivíduos com 50 ou mais anos face à sua incidência na população. O erro máximo da amostra é de 2,62% para um grau de probabilidade de 95%.