ESPAÇOS QUOCIENTE THIAGO GINEZ VELANGA MOREIRA Abstract. O Teorema Fundamental das Relações de Equivalência é demonstrado para esclarecer que as noções de particão de um conjunto e relação de equivalência coincidem. A segunda seção fornece os conceitos de aplicação e espaço quocientes, também conhecido como espaço identi…cação. Tais nomenclaturas são aí justi…cadas a…m de fundamentar a construção matemática da esfera e do toro. Uma boa oportunidade é criada para que o vínculo entre a Topologia e a Álgebra seja apreciado. 1. UM POUCO DE TEORIA DOS CONJUNTOS 1.1. Conjunto Quociente Vs. Partição. Uma partição de um conjunto A é uma coleção de subconjuntos disjuntos não-vazios de A cuja união é igual A. Uma relação de equivalência sobre um conjunto não-vazio A de…ne uma partição do conjunto A. Reciprocamente, temos o Teorema 1 (Teorema Fundamental das Relações de Equivalência). Seja A um conjunto não-vazio. Dada uma partição P do conjunto A existe uma única relação de equivalência sobre A tal que conjunto quociente A= = P. 2. A TOPOLOGIA QUOCIENTE 2.1. Aplicação Quociente e Conjuntos Saturados. Uma aplicação sobrejetiva entre espaços topológicos p : X ! Y é chamada aplicação quociente quando, para cada U Y , vale U é aberto em Y , p 1 (U ) é aberto em X. De…nição 1. Sejam X e Y conjuntos quaisquer e p : X ! Y uma aplicação sobrejetiva. Um subconjunto C X é dito saturado (com respeito à aplicação sobrejetiva p) quando C contém cada conjunto p 1 (fyg) que o intersecta. Em símbolos: C p 1 (fyg), sempre que p 1 (fyg) \ C 6= ?: Proposição 1. Seja p : X ! Y uma aplicação sobrejetiva entre conjuntos. Um subconjunto C X é saturado (com respeito a p) se, somente se, C é a imagem inversa de algum subconjunto de Y . Date : Submetido ao III Colóquio de Matemática da Região Norte em 21 de Agosto de 2014. Key words and phrases. Topologia Quociente, Aplicação Quociente, Espaço Quociente. O autor é professor/pesquisador líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Matemática Avançada (GEMA) vinculado ao Departamento de Matemática da UNIR, no qual é coordenador do projeto de pesquisa "Estudos em Topologia Algébrica". 1 2 THIAGO GINEZ VELANGA M OREIRA Proof. Suponha que exista U Y tal que C = p 1 (U ). Seja dado y 2 Y tal que 1 p (fyg) \ C 6= ?. Mostraremos que C p 1 (fyg). De fato, ? 6= p 1 (fyg) \ C = p 1 (fyg) \ p 1 (U ) = p 1 (fyg \ U ). Daí, segue que fyg \ U 6= ? e, portanto, y 2 U . Agora, dado x 2 p 1 (fyg), tem-se que p(x) = y 2 U , donde vem que x 2 p 1 (U ) = C, mostrando que C p 1 (fyg). Reciprocamente, se C é saturado mostraremos que C = p 1 (U ), com U = p(C). A inclusão C p 1 (p (C)) é sempre verdadeira. Por outro lado, x 2 p 1 (p(C)) implica a existência de x0 2 C tal que p(x) = p(x0 ). Então, x0 2 p 1 (fp(x)g) \ C. Como C é saturado, C p 1 (fp(x)g) 2 x, o que nos dá a outra inclusão e, portanto, a igualdade desejada. Isto nos dá uma outra caracterização dos conjuntos saturados. Proposição 2. Seja p : X ! Y uma aplicação sobrejetiva entre conjuntos X e Y . Um subconjunto C X é saturado (com respeito a p) se, e somonte se, C = p 1 (p(C)): Proposição 3. Seja p : X ! Y uma aplicação sobrejetiva entre espaços topológicos. Então, p é uma aplicação quciente se, e somente se, p é continua e leva aberto saturado de X em aberto de Y . Proof. Suponha p uma aplicação quociente. Segue da de…nição que p é contínua. Se C X é aberto saturado em X então, p 1 (p(C)) = C é aberto em X. Como p é aplicação quociente, p(C) é aberto em Y . Reciprocamente, suponha p : X ! Y contínua que leva aberto saturado de X em aberto de Y . Seja dado U Y , se C = p 1 (U ) é aberto em X, segue da Proposição 1 que C é saturado (com respeito a p). Usando o fato de p ser sobrejetiva e a hipótese, obtemos que U = p(p 1 (U )) = p(C) é aberto em Y . Segue que p é uma aplicação quociente. 2.2. Topologia e Espaço Quocientes. Proposição 4. Sejam X um espaço topológico, A um conjunto qualquer e p : X ! A uma aplicação sobrejetiva. Existe uma única topologia em A com relação a qual p é uma aplicação quociente. Proof. Mostra-se que a coleção p := G A; p 1 (G) é aberto em X é uma topologia em A. Desta de…nição resulta imediatamente que p é uma topologia em A com relação a qual p : X ! (A; p ) é uma aplicação quociente. Suponha agora que exista uma outra topologia em A com relação a qual p : X ! (A; ) seja uma aplicação quociente. Daí, G2 ,G A; p 1 (G) é aberto em X , G 2 p, mostrando que as topologias coincidem. De…nimos topologia quociente induzida por p em A como sendo a única topologia p em A que torna a aplicação sobrejetiva p : X ! A uma aplicação quociente. De…nição 2. Seja X um espaço topológico e seja X uma partição de X. Seja p : X ! X a aplicação sobrejetiva que leva cada ponto x 2 X no elemento de X que o contém. Quando X está munido com a topologia quociente induzida por p, dizemos que (X ; p ) é um espaço quociente de X. A TOPOLOGIA QUOCIENTE 3 Agora, dado X , vimos que existe uma única relação de equivalência sobre A tal que os elementos de X são as classes de equivalência daquela relação. Sendo assim, note que poderíamos ter obtido a partição X "identi…cando" cada par de pontos equivalentes. Por esta razão, o espaço quociente X é também conhecido como um espaço identi…cação, ou um espaço decomposição, do espaço X. 3. CONSTRUINDO A ESFERA E O TORO 3.1. A Esfera. Seja X o círculo unitário fechado (x; y) 2 R2 ; x2 + y 2 1 no R2 , e seja X a partição de X formada por todos os conjuntos unitários f(x; y)g intX e pela fronteira S 1 = (x; y) 2 R2 ; x2 + y 2 = 1 do círculo X. Considere a aplicação p : X ! X dada por p (x; y) = f(x; y)g ; S1; se (x; y) 2 X S 1 se (x; y) 2 S 1 . Note que p é a aplicação sobrejetora que leva cada ponto de X no elemento da partição (portanto, subconjunto de X) que o contém. Munindo X com a topologia quociente induzida por p, obtemos o espaço quociente X do círculo X: Acontece que identi…car os pontos equivalentes, isto é, aqueles que pertencem a uma mesma classe (elemento da partição) de X, é o mesmo que construir a esfera (superfície de uma bola no R3 ) a partir do disco X colidindo toda sua fronteira S 1 a um único ponto; veja Figura 1. 3.2. O Toro. Considere o retângulo X = [0; 1] [0; 1]. De…na uma partição X de X constituída por subconjuntos de X da forma: (a): (b): (c): (d): Conjuntos unitários f(x; y)g, onde (x; y) 2 (0; 1) (0; 1); Conjuntos com dois elementos f(x; 0) ; (x; 1)g, onde 0 < x < 1; Conjuntos com dois elementos f(0; y) ; (1; y)g, onde 0 < y < 1; Conjunto dos vétices V = f(0; 0) ; (0; 1) ; (1; 0) ; (1; 1)g : Uma aplicação sobrejetora p : X ! X que leva cada ponto de X no elemento da partição X que o contém, pode ser de…nida pondo 8 > > < f(x; y)g ; f(x; 0) ; (x; 1)g p (x; y) = f(0; y) ; (1; y)g > > : V se (x; y) 2 (0; 1) (0; 1) se (x; y) 2 A1 [ A2 , se (x; y) 2 B1 [ B2 se (x; y) 2 V onde A1 ; A2 e B1 ; B2 são os pares de lados do retângulo X V paralelos aos eixos coordenados Ox e Oy, respectivamente (veja Figura 2). Agora podemos munir X com a topologia quociente induzida por p. Isto nos fornece o espaço quociente X do retângulo X. Note que, identi…car os pontos de X que pertencem a um mesmo elemento (classe de equivalência) da partição X também nos fornece o toro (superfície de uma "rosquinha", ou doughnut em inglês). Isto pode ser feito "colando" apropriadamente os lados A1 com A2 do retângulo X e, em seguida, "colando" os lados B1 com B2 . O resultado …nal é o toro; veja Figura 2. References [1] Allen Hatcher, Algebraic Topology, Cambridge University Press, NY, 2001. [2] James R. Munkres, Topology Second Edition, Prantice-Hall, Inc., NJ, 2000. 4 THIAGO GINEZ VELANGA M OREIRA Departamento de Matemática, Universidade Federal de Rondônia, Campus-BR 364, Km 9,5, CEP 76801-059, Porto-Velho/RO. E-mail address : [email protected] URL: http://www.dmat.unir.br/