Império Russo: ascensão e a Queda da “Terceira Roma” Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila O ideário imperial da Rússia Para entendermos a explanação do fortalecimento do Estado de Moscou e da ascensão do império russo entre os séculos XV e XIX, é preciso entendermos a “ideia russa”. O império Russo veio a ser idealizado pelos herdeiros do império romano oriental, isso porque acredita-se que o império romano oriental transmitiu para a Rússia o legado de proteger a ortodoxia cristã. A Rússia imperial é datada do final do século XVI, destinada pela obra da Divina Providência a ser uma Terceira Roma. Nesse caso a junção da religião e do Estado constituía um único e inseparável poder, e esta ortodoxia fez da Rússia uma nação ortodoxa universal. O paradigma da “ideia russa”, transformou-se numa ideologia oficial, aplicada à prática da construção e da expansão do império russo. O jugo tártaro-mongol e sua herança políticoadministrativa Os príncipes russos entendiam que, sendo as forças desiguais, a melhor solução era submeter-se a elas e aguardar, e diante dos acontecimentos escolheram governar com a política de tolerância e diplomacia. A diplomacia escolhida era o suborno dos conquistadores mediante pagamento de tributos e de tratamento respeitoso, e dessa forma conseguiram governar por mais de 200 anos. Os russos reciclaram o despotismo mongol para acrescentar a ordem política deles ao poder do império. Moscou foi fortalecida pela tolerância aos clãs tártaros, e aproveitando as disputas internas dos tártaros pelo poder, Moscou venceu, em 1380, a batalha de Kulikovo, e essa a primeira grande derrota dos tártaros. Os tártaros definiram o papel central de Moscou na luta pela independência. A batalha demonstrou que a vitória definitiva só seria alcançada em condição de união nacional, sob a liderança de um líder popular. No século XV, último período do jugo tártaro, o conjunto de terras russas eram iguais ao poder dos mongóis. Zhebit diz que “o fato de a fé ortodoxa permanecer intacta garantiu ao povo russo, subjugado e humilhado, a sobrevivência física e a independência moral, surpreendentes na história mundial” (p.168). A vitória sobre os tártaros na batalha de Kulikovo fez com que o povo russo juntasse suas forças e valorizasse a sua liberdade e preservasse o orgulho nacional. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila A libertação do jugo coincidiu com a queda de Constantinopla, e deixou a Rússia como a única guardiã da fé ortodoxa. A Rússia herdou dos tártaros o arbítrio administrativo como sistema governamental. O poder dos tártaros não foi baseado em regras administrativas, mas na submissão e no medo diante do superior. A herança deixada pelos mongóis aos russos não foi somente uma estrutura política da sociedade e do Estado, mas também uma administração que se adaptou ao objetivo de governar um Estado grande e em expansão. A administração foi aplicada em duas áreas: finanças e exército. Em relação ao exército, esse era um sistema de exército único, centralizado, baseado na conscrição, e na área das finanças, foi aplicado o sistema de tributação e a prática de confisco arbitrário dos bens dos súditos. O russos realizavam o censo (criado por causa da necessidade de conhecer sua população e tributar os impostos), que foi emprestado dos tártaros e começou a funcionar séculos antes do que na Europa. A democracia patriarcal russa sofreu transformações, de maneira que, no momento da emancipação da Russa do jugo tártaro e da conquista de Novgorod, Moscou apareceu com uma nova sociedade, de administração hierárquica, autocrática e rígida. Ascensão de Moscou: autoridade, expansão e colonização Foi no século XIV que nasceu o Estado de Moscou e se desenvolveu nos séculos XV e XVI. Algumas razões da ascensão de Moscou: 1. Geografia continental vantajosa, no cruzamento das rotas comerciais; 2. A posição genealógica do grão-príncipe de Moscou, que não teve chance de subir ao trono; 3. Os príncipes de Moscou optaram pela política de suborno dos dirigentes tártaros; 4. O sistema de herança do poder do pai para o filho e a criação das dinastias douradoras e unidas; 5. Apoio incondicional da Igreja Ortodoxa russa para os príncipes moscovitas. O monge Iossif Volotsky no final do século XV formulou a teoria do poder ilimitado dos governantes russos, do absolutismo teocrático. Volotsky acredita que dois elementos constituíam a base do absolutismo teocrático russo: 1. O poder divino do czar; 2. E a relação entre o poder da Igreja e do Estado. Três fatores propiciam a política da centralização e da expansão do Estado de Moscou: 1. Apropriar as terras férteis; 2. Proliferar a fé ortodoxa; 3. E reunir todos os eslavos sob a direção da Rússia A primeira dinastia Rurik, anos 60 do século XVI, foi governado por Ivã, o Terrível, e nela foi posta a “ideia russa”. E tinha como objetivos: a consolidação da autocracia e a saída para o Mar Báltico. O primeiro objetivo foi alcançado: um modelo autocrático será seguido por todos os seus sucessores. O segundo permanecerá um dos objetivos geopolíticos de todos os seus sucessores. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila O objetivo supremo do Estado de Moscou era a defesa da Rússia contra os múltiplos invasores. Os russos tratavam uma luta pela sobrevivência. A palavra “Sobrevivência” significava a disseminação da fé ortodoxa no sudeste, a luta contra a invasão mulçumana no sul e a consolidação da unidade nacional no oeste a fim de incluir os cristãos da Livônia e da Polônia dentro das fronteiras do império russo. No final do século XV e início do século XVI, a autoridade, o prestígio e o poder do Estado de Moscou contribuíram para a reunião, a inclusão e a anexação de ducados menos potentes pelo grão-ducado de Moscou. Os russos travaram lutas para obter acesso aos mares, que, na geopolítica, pode ser interpretada como um movimento na direção dos mares quentes. Muitas conquistas foram alcançadas, mas o status de império foi atingido com a conquista da saída para o Báltico, com a construção da cidade de São Petersburgo, para o mar Negro, com a anexação da Criméia e também com a colonização da Sibéria e do Extremo Oriente. A expansão da Rússia para o leste tinha um caráter de uma colonização pacífica, e as tribos colonizadas desconheciam a noção de estadismo. Nos séculos XVI e XVII, a Rússia colonizou vastos espaços da Sibéria e do Extremo Oriente. O poder da Rússia nos séculos XVII e XVIII era um fator da maior importância que mudou radicalmente o quadro geopolítico na Europa. Fonte:http://www.integral.br Capítulo 15: Império Russo: ascensão e Queda da “Terceira Roma”. A ideologia imperial A definição de Moscou como a Terceira Roma era a base de ideologia da formação do império dos czares. O povo russo acreditava que somente a fé ortodoxa poderia leválos a verdade absoluta. O povo bizantino contribuiu para a concepção política da Rússia, no que diz respeito a crença do grão-príncipe ser Ungido de Deus, e possuir autoridade divina. O governou declarou em 1439 o único a proclamar a fé ortodoxa pura, isso porque Roma ajudou os bizantinos na luta contra os turcos seljúcidas. Rússia atribuiu a queda de Constantinopla como um castigo divido por ela ter sucumbido aos “infiéis”. A ideia de Rússia como única purificadora da fé ortodoxa desenvolveu-se durante séculos até se transformar em uma proteção de todos os cristãos ortodoxos. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila A fé cristã ortodoxa está ligada à noção apocalíptica da chegada próxima do fim do mundo e do Julgamento Final. O monge Filoteu profetizou que se a “terceira Roma” (Moscou) não preservasse a fé ortodoxa, isso seria o fim do mundo, uma vez que a quarta Roma jamais chegaria. Dessa forma, a missão de Rússia na história mundial se apresenta como apocalíptica ou escatológica e não apenas imperial. Capítulo 15: Império Russo: ascensão e Queda da “Terceira Roma”. Raskol ou início da desconstrução da “ideia russa” Raskol ou início da desconstrução da “ideia russa” O primeiro golpe à ideia de Moscou, a terceira Roma, foi atribuída pelo raskol (o cisma religioso russo) ou a separação religiosa de uma parte dos ortodoxos russos. Pode-se inferir que essa separação ocorreu por causa de discórdias religiosas e um conflito político. O conflito se formou por causa de mudanças nos textos religiosos, iniciativa dada pelo patriarca russo Nikon (16051681). Esse resolveu revisar os textos sagrados em conformidade com os testos originais gregos. Essa mudança foi rejeitada pela maioria dos fiéis, os velhos crentes. Mas esse conflito era mais político do que religioso. Os velhos crentes argumentaram que sua rejeição era para preservar a “antiguidade”. Nikon ambicionava transformar Moscou na capital de uma Igreja universal ortodoxa. Zhebit conta que o primeiro golpe do raskol foi a ideia da união dos dois reinos – temporal (o poder) e o espiritual (a fé ortodoxa). Nikon tentou equilibrar a união da fé e do poder, colocando o poder espiritual acima do material. Os velhos crentes desconfiaram do czar, e excomungaram e deportaram Nikon por ter ousado atingir o poder de czar. “O resultado importante do raskol foi a perda pela Igreja da autonomia que ela sempre possuía. As reformas de Pedro, o Grande, iriam submeter definitivamente a Igreja ao poder do Estado, consolidando dessa forma o poder absoluto do monarca” (p.172). Estrutura fundiária e social do Estado de Moscou O serviço militar, na época de Ivã III, começou a ser remunerado por doações de terras. Essas terras adquiridas através do serviço militar eram conhecidas sob o nome de pomestie, e o beneficiário de pomestie, pomestchik. O pomestie passou a se desenvolver ao lado dos feudos dos boiardos (nobreza moscovita). O novo sistema, que era o de vassalagem, tornou-se necessário para organizar a defesa eficaz do território do Estado de Moscou. O sistema de pomestie garantia obediência ao governo, uma vez que os vassalos dependiam do serviço público e as terras não possuíam o benefício hereditário. O sistema pomestie obrigou o camponês a fixar no local da lavoura. O desenvolvimento rápido desse sistema marcou a história econômica e social russa, além de uma transformação na vida política, econômica e social. Reformas de Pedro, o Grande, e o império de São Petersburgo Segundo Voltaire, a Rússia tomou forma com Pedro, o Grande. No século XVIII ficava difícil separar o desenvolvimento da economia e os sucessos militares e diplomáticos da Rússia no palco internacional. As guerras eram responsáveis pelo crescimento econômico do país, e muitas reformas econômicas eram consequências diretas das guerras. Pedro transferiu sua política do sul para o Ocidente, transformando a busca de uma saída para o mar Báltico em alvo estratégico preferencial da Rússia. Com esse avanço para o mar Báltico e a fundação da nova capital do Estado russo foi aberta a “janela báltica” para a Europa, que serviu de canal da europeização e da modernização da Rússia. A reforma militar, tendo como objetivo a criação do exército regular russo, foi a principal reforma petrina. O serviço militar russo foi regulamentado, e todos os cidadãos russos sem distinção podiam ser recrutados, desde a nobreza aos camponeses. Pedro consolidou o princípio centralizador do poder. O poder do Estado representava o poder imperial em dois sentidos: 1. O controle absoluto dos assuntos da vida pública dentro do império; 2. E a liberdade de expansão territorial na política externa. Pedro I deu início a mudanças no sistema econômico e administrativo do país. 1. Mudou o estatuto e as funções da nobreza, fortalecendo-a. 2. Introduziu, em 1722, a “Tabela das patentes”, código meritocrático que substituiu o sistema arcaico e patriarcal de hierarquia na escala social: serviço no exército, serviço público e serviço na Corte Imperial. O ukaz era um titulo de nobreza concedido àquele servidor que atingia o posto mais elevado. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila O ukaz proclamou o pomestie hereditário e indivisível para que o pomestichik pudesse passar essa terra para o seu filho mais velho. A tabela funcionou durante 200 anos sem sofrer alterações. Mas a condição econômica dos camponeses aumentando a diferença entre as classes sociais. pioraram, Foi nesse período que foi criado o sistema de servidão russa. E maiores vítimas foram os camponeses: os kholopy (servos pessoais dos pometchilks) e os servos do Estado fundiram-se numa só categoria social, todos eles sujeitos a tributos. A unificação da condição social foi completada quando apareceram os servos das usinas, cujo número crescia rapidamente em função do processo da industrialização. A guerra deu manufatureira. impulso às indústrias: de mineração e Zhebit diz que a industrialização em um país atrasado exigiu esforços super-humanos do próprio Estado que se tornou agente-mor do processo, representando todos os elementos básicos do capitalismo. As usinas e as fábricas, na época de Pedro I, eram unidades estatais, dirigidas pelo governo, por intermédio de grêmios de artesões e comerciantes. No período petrino, o Estado russo passou a ter papel fundamental em todas as áreas da vida pública, sendo a autocracia sua ideologia principal. Ocorreram mudanças culturais, uma vez que Pedro I, o Grande, tinha a cultura como sinônimo de poder. A instrução era de conhecimentos militares e técnicos, e abriamse escolas de navegação, de ensino de aritmética e de álgebra, de engenharia, artilharia, medicina, entre outras escolas. As reforma de Pedro foram entendidas pelos russos como a “perda da alma e do gênio nacional”. O historiador russo Klutchevski definiu dessa forma as reformas de Pedro I, o Grande: “As reformas significaram a luta do despotismo do Estado contra o atraso do povo. O czar pretendeu introduzir na Rússia a ciência e o iluminismo europeus através do sistema escravagista (...) ele quis que o escravo, sem deixar de ser escravo, agisse livremente (...)” (p.174). Pedro I introduziu o Estado absolutista no Estado de Moscou, substituindo a ideologia bizantina do império eclesiástico do reino ortodoxo pelo regime civil ao estilo do império romano. O reinado de Catarina II, a Grande: a Rússia como grade potência europeia Pedro I fez da Rússia uma potência europeia, e Catarina II, a Grande, introduziu a Rússia no clube seleto das grandes potências europeias. Catarina II não conseguiu atingir seus objetivos nem na administração nem na legislação. Foi no seu reinado que a servidão foi ao ápice. Na primeira década de seu reinado, ocorreu uma prolongada guerra contra a Turquia. Essa guerra agravou a tributação e o recrutamento dos exploradores dos servos. Foi feita uma reforma administrativa no império no reinado de Catarina II. Divisão dos país em 25 gubernias (unidades territoriais administrativas), sendo que no final do governo de Catarina II somavam-se 41 gubernias. Essa reforma administrativa separou os órgãos da justiça e o poder executivo. Catarina reforçou os privilégios da nobreza. O século XVIII passou a ser chamado de “século de ouro da nobreza russa”. Foi na geopolítica que Catarina fez realizações. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila No reinado de Catarina, houve a conquista da Criméia, seu território expandiu até as margens do mar Negro e juntou as terras russas. A expansão territorial era medida conforme o sangue russo derramado em guerra. As guerras sangrentas contra a Turquia faziam parte da política tradicional russa em relação ao império Otomano e aos tártaros da Criméia. O enfraquecimento e a eliminação da Polônia da cena internacional europeia foi importante para a entrada do império russo no clube das grandes potências europeias. As três partilhas da Recz entre a Rússia, Prússia e a Áustria constituíram um avanço político e diplomacia sem precedentes na política externa russa no final do século XVIII. No final do reinado de Catarina II, o território russo atingiu 17,4 milhões de km². A população, segundo o censo de 1795, era de 37,4 milhões de pessoas. Nobres eram 726 mil; clero, 220 mil; pequenos burgueses e comerciantes, 1,5 milhões de pessoas; camponeses, 32,6 milhões, ou seja, 90% do total da população. No século XVIII, o número de cidades eram de 216. O avanço da industrialização ultrapassava o da agricultura. No final do século XVIII, a Rússia contava com 167 usinas de mineração, com mão-de-obra efetiva de 80 mil pessoas, 1094 manufaturas com mão-de-obra de 82 mil pessoas. As reformas administrativas e os objetivos ambiciosos da política externa de Catarina II deram muitas despesas que não forma cobertas pela renda do império. O consumo de bebidas alcoólicas e do sal, no final do século XVIII, duplicou, junto com o aumento da taxa do obrok (tributo pago aos latifundiários pelos camponeses da gleba) que, de 20 copeques, nos anos 1760, chegou a três rublos (aumento de 15 vezes) nos anos 1790. A expansão e a consolidação: entre Tilsit e a Guerra da Criméia Foi com Alexandre I, que aconteceu a maior expansão do território russo. A Revolução Francesa de 1789 e a proclamação do império napoleônico em 1804 provocaram a participação russa nas coalizões antifrancesas e antinapoleônicas. A Rússia se aproximou da França e assinou, em 1807, o Tratado de Paz de Tilsit. Esse tratado tinha o intuito de limitar o poder britânico, sendo rompido por Napoleão em 1812. A Rússia tomou o Grão-Ducado de Varsóvia, em 1814. Em 1809, a Finlândia foi anexada ao império russo. Em 1801, o Reino da Geórgia entrou no império russo. Em 1812 e 1813 foram anexados a Bessarábia e o Azerbaijão. Alexandre I morreu aos 48 anos e seu irmão Nicolau foi nomeado imperador, em dezembro de 1825. A ascensão de Nicolau desencadeou uma tentativa de golpe de Estado. As tropas, leais ao czar, atuaram contra os rebeldes, matando-os e prendendo seus líderes. Nicolau elaborou uma doutrina nacional russa na tentativa de barra as ideias liberais, baseadas em três conceitos: Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila 1. Ortodoxia; 2. Autocracia; 3. “Gênio nacional”. Essa doutrina foi implantada nas escolas e universidades, recebendo o apoio dos conservadores por ser imbuída de espírito nacionalistas, patriótico e antiliberal. No governo de Nicolau foram limitadas as relações com a Europa Ocidental, considerada fonte de contágio dos pensadores liberais. A política externa do reinado de Nicolau I orientou-se pelos princípios da Santa Aliança. As potências ocidentais, lideradas pela França e Grã-Bretanha, uniram-se ao império Otomano para dar um golpe à Rússia durante a Guerra da Criméia (1853-1856). O Tratado de Paris, em março de 1856, registrou a derrota da Rússia nessa guerra e a perda de influência e poder nos Bálcãs e no Oriente Próximo. A Guerra da Criméia atingiu o desenvolvimento da economia, militar e política, colocando freios no desenvolvimento industrial do país. Reformas do império: o início da liberação na Rússia Alexandre II, ao entrar no poder, deu início às reformas, e uma das reformas foi relaxar o controle da imprensa e acabou com a segunda revolta polonesa, em 1863. A emancipação dos servos em 1861 foi um dos acontecimentos mais importantes do reinado de Alexandre II. A exploração do servo foi substituída por mecanismo de mercado, o que deu grande impulso ao desenvolvimento do capitalismo na Rússia, estimulando as reformas em todos os ramos da vida social e econômica. Mesmo libertos, os camponeses passaram a cultivar menos terras, em média, do que antes de 1861, pagando sua posse por meio de amortização anual durante 49 anos a um custo que excede o valor efetivo da terra e da produção. O fato de forçar os camponeses a pagarem pela terra cultivada acelerou a melhoria dos transportes, sobretudo o ferroviário, uma vez que, para realizar os pagamentos devidos, eles pagavam em dinheiro vivo, e para tal precisavam vender e escoar seus produtos. Houve reformas municipais, legais e educacionais. A partir de 1864, cada distrito rural pode eleger representantes para um conselho local, e assim assumir a responsabilidade pela manutenção de estradas, pontes, educação primária e saúde pública. O relaxamento das leis gerou um número cada vez maior de grupos revolucionários que começaram a trama contra o czar. Reforma, pós-reforma e suas consequências para o desenvolvimento da Rússia A Rússia, nos anos 80 do século XIX, colocou-se em primeiro lugar no mundo pelas taxas de crescimento econômico. Mas devido ao atraso econômico não conseguiu se igualar às grandes potências europeias. A Rússia começou com atraso, priorizando a indústria leve ao invés de indústria pesada. Entre 1860 e 1896, o número de fábricas aumentou de 99 para 544, ou seja, 5,5 vezes, e o número de operários cresceu de 11 mil para 85 mil. No final do século XIX, a Rússia promoveu uma reforma industrial. O programa da indústria era baseada na concepção do desenvolvimento prioritário da indústria pesada, modernização do exército, expansão de rede ferroviária e inovação tecnológica. Devido a esse desenvolvimento, cidades foram construídas para abrigar uma nova classe operária. A população teve um crescimento urbano em 10% do total da população, ou seja, de cerca de nove milhões de pessoas em 1867, para 21%, ou 25,84 milhões em 1917. Em 1914, o império russo era dividido em 81 gubernias e 20 regiões, contando com 931 cidades. O comprimento total da malha ferroviária cresceu de cerca de 1.500 km em 1860 para mais 30.000 km em 1890. A Rússia desse período aproveitou uma série de colheitas espetaculares e preços relativos altos para conseguir um importante superávit nas suas contas externas. Entre 1898 e 1901, produziu mais petróleo em Baku que o resto do mundo. A política étnica do império como fonte de tensões sociais A política étnica do império gerou descontentamento. A Rússia era um país multinacional e pluriconfessional, tendo uma população de 128 milhões de pessoas, sendo 43% russos. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila A política em relação as minorias foi agravada “russificação” promovida desde o final do século XIX. pela Os luteranos bálticos foram convertidos compulsoriamente, sob pena de prisão, na Geórgia, e a língua local vinha sendo suprimida. Quando a Rússia adquiriu a Bielorrússia, a Letônia e a Curlândia, Catarina II mandou denominar essas terras “fronteiras de assentamento”. Judeus era confinados nesses segmentos territoriais. Durante o reinado de Nicolau I, ocorreram restrições de áreas de circulação e limitações ao acesso das crianças judiais à educação. Dezenas de leis, instruções e ordens passaram a regulamentar a vida dos judeus na Rússia. A guerra russa-japonesa (1904-1905): a superextensão imperial A Rússia e a China no início do século XX entraram em conflito por causa das divergências geopolíticas. Nesse conflito a Rússia saiu vitoriosa, e resultou também na desastrosa guerra russo-japonesa (1904-1905). A derrota para o Japão mostrou a ineficiência da administração imperial do Extremo Oriente, sua prepotência moral e a ignorância do Oriente, como o atraso tecnológico da marinha e do exército russo em geral. A autocracia russa foi tida como a maior culpada dessa humilhação nacional. A Guerra Russo-japonesa deu provas da ascensão de uma nova potência oriental, da perda de prestígio e do começo do declínio do maior império terrestre. A crise final do império russo No início do século XX, a economia Rússia desenvolvia-se de maneira pouco orgânica, por estar influenciada: Pelas exigências do mercado, caracterizado pela monopolização capitalista e pela concentração de capitais; E por outro lado em função das visões autoritário-aristocráticas da elite governante agrária da economia russa. Os camponeses eram 70 milhões, e dos 12 milhões de assalariados, 4 milhões eram trabalhadores do campo. Houve também no início do século XX várias manifestações sociais. Em 1901-1902, diversos círculos e organizações neopopulistas uniram-se ao Partido dos Socialistas Revolucionários. E adotaram o terrorismo como um dos métodos da luta política anticzarista. Os últimos acontecimentos resultaram em uma instabilidade social e política na Rússia. Uma revolução de massas, alimentada pelos movimentos populares, começou no final de 1904 e chegou no auge em 9 de janeiro de 1905. Eles defendiam: 1. A modernização do sistema político; 2. Da economia; 3. Das relações de trabalho; 4. A realização de uma reforma agrária. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila As autoridades em 1905 deram ordens para fuzilar as manifestações, ação que abalou a imagem do czar. O período de 1906 a 1910 é conhecido sob o termo de “reação”, por ter sido utilizado pelo governo para reprimir brutalmente a oposição. A desmoralização do regime czarista ficou reforçada com o crescimento da influência sobre a família real de Grigori Novykh (Rasputin). O assassinato de Rasputin em 1916, não foi capaz de salvar o czarismo da decadência ideológica e moral. A primeira Guerra Mundial, o passo para o abismo As vésperas da 1º Guerra Mundial, a política russa foi dividida entre: 1. Tendência nacionalista de militantes eslavófilos; 2. E a libertação dos povos irmãos dos Bálcãs no império otomano. Para os russos, a rivalidade entre Alemanha e Grã-Bretanha era o fator central da política internacional. Os russos não deveriam participar dessa guerra por estas razões: 1. O fardo principal cairia sobre os russos; 2. A Polônia seria perdida; 3. A Rússia não estaria pronta para a guerra; 4. Perda da economia da Rússia; 5. A Rússia derrotada seria palco de uma grande revolução social. A 1ª Guerra Mundial levou a Rússia à desestabilização social e econômica. Dívidas públicas cresceram de 4 bilhões para 11 bilhões de rublos. Safras de cereais caíram em 20%. Falta de alimentação resultou em revoltas populares. A onda revolucionária democrática de fevereiro de 1917 derrubou o governo imperial russo. Em 15 de março de 1917, Nicolau II abdicou do trono, levando o império russo ao fim. Conclusão Poder da Rússia baseado nas relações patriciais. Enquanto a sociedade ocidental se apresentava como composta de cidadãos livres iguais, na Rússia a sociedade era por obschinas, em modelada coletividade camponesas. A visão da “Terceira Roma” cegava o povo, fazendo a vontade do czar. A queda de Nicolau II pôs fim a autocracia e a ideia da Rússia sendo a “Terceira Roma”. Conteúdo organizado, editado pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila Referência Bibliográfica: ZHEBIT, Elena. Império Russo: ascensão e Queda da “Terceira Roma”. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; CABRAL, Ricardo Pereira; MUNHOZ, Sidnei J. (coordenadores). Impérios na História. Ed. Elsevier. Rio de Janeiro, 2009.