Poiesis: Revista de Filosofia, v. 12, n.2, pp. 1

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Poiesis: Revista de Filosofia, v. 12, n.2, pp. 1-3, 2015.
Unimontes – Universidade Estadual de Montes Claros/MG
Editorial
Inaugurando sua política editorial de dossiês com um conjunto de artigos em
torno do pensamento de Michel Foucault, já lançado, esse número da Poiesis: Revista
de Filosofia, que ora apresentamos, traz o dossiê Nietzsche. A escolha do dossiê para
este número 12 do volume 1/20015 não poderia ter outro argumento e motivação senão
a profundidade ainda sísmica do pensamento do filósofo de Zaratustra. Disputado por
comentadores e intérpretes das mais variadas escolas, Nietzsche permanece sempre ao
abrigo do decifrável, do codificável, como enigma a ser enfrentado. Da crítica da cultura
saem as mais fecundas análises do presente, em que o diagnóstico nos aponta na direção
cada vez mais urgente e necessária de superação dos clichês políticos, de combate ao
homem do ressentimento que se propaga no cotidiano, de suspeita dos ideais modernos
que orientam ainda nossa perspectiva democrática.
O espaço que se abre com a publicação do dossiê Nietzsche na Poiesis:
Revista de Filosofia é motivado justamente pela importância que tem a sua filosofia no
âmbito da crítica da cultura, de modo especial o fato de ele inspirar as pesquisas mais
recentes – e os pesquisadores menos viciados em “doutrinas” – no trato com questões
contemporâneas a nós. Essa tendência da linha editorial da revista acompanha os
anseios do curso de filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes no
seu projeto de fortalecimento da graduação e incentivo às novas abordagens a partir do
pensamento contemporâneo.
É com esse espírito do filósofo da suspeita, do crítico intransigente do presente,
do sintomatologista, que apresentamos ao público o artigo que abre o dossiê,
“Nietzsche, um Proto-ambientalista?”, de Jelson R. de Oliveira. A importância do tema
está no convite, a partir de uma questão preocupante em nosso tempo, a repensar nossa
fidelidade à terra em consonância com o projeto de afirmação do fluxo natural. O artigo
traz um elenco substancial de intérpretes que travam argumentos favoráveis e
desfavoráveis à defesa do texto de Nietzsche como precursor dos movimentos
ambientalistas. Não menos arrojado é o artigo de Alice Medrado, “Humano e o devir
histórico da filosofia”, que parte de um estudo cuidadoso de Humano, demasiado
humano para discutira a adesão de Nietzsche a uma concepção mobilista de mundo. A
hipótese levantada é que essa perspectiva de Nietzsche encontra suporte nas ciências
naturais para alcançar, na outra ponta, os domínios da cultura e dá ética. De Fernando de
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Sá Moreira, temos “O conceito de antinatureza em Crepúsculo dos Idolos” analisado a
partir do quinto capítulo da obra, “Moral como antinatureza”. Um livro ainda pouco
estudado na pesquisa Nietzsche no Brasil, Crepúsculo dos Ídolos, como afirma o autor
do artigo, é uma obra que “revela-se extremamente profunda ao leitor atento e rica em
materiais e sentidos a interpretar”. O alcance mais significativo do artigo é a articulação
que faz do “complexo jogo de sentidos” em torno do conceito de antinatureza, além de
destacar o conceito de antinatureza como elemento central na obra de Nietzsche.
“A (re) escrita de Nietzsche: uma análise da morte de Deus”, artigo de Ricardo
Bazílio Dalla Vecchia, analisa o processo de experimentação na escrita de Nietzsche
tomando por base por base dois textos de um mesmo tema, a morte de Deus. Do ponto
de vista do estilo e das estratégias argumentativas, o artigo busca mostrar alguma
nuances de um texto a outro que demonstram a importância da retomada do mesmo
tema feita por Nietzsche como forma de (re) escrever, aplicando sutilezas ao texto, se
implicando estilisticamente na escrita. Retomando o tema da estética nietzschiana,
Gildete dos Santos Freitas apresenta o artigo “O significado da aparência apolínea na
poesia épica” no qual discute com profundidade o conceito de “serenojovialidade
grega”, exposto em O nascimento da tragédia e textos preparatórios a ele. O artigo
estabelece a diferenciação entre a aparência trágica e a aparência socrática, tomando por
base o uso que Nietzsche faz de Schopenhauer para combater o otimismo socrático e
resgatar o sentido mais profundo da disposição serenojovial dos gregos. Insistindo no
antissocratismo de Nietzsche, o artigo avança ao considerar que essa tematização de
Nietzsche em sua primeira fase possibilitou situar a arte como a grande redentora da
vida, não apenas em sua obra seminal, mas em toda a obra. Ainda na perspectiva da
experimentação, o artigo de Silvia Cristina Fernandes de Lima, “A experimentação
como projeto de formação filosófica”, discute o procedimento experimental como
elemento capital para uma melhor compreensão da própria atividade filosófica de
Nietzsche por meio do qual se articularia o aprimoramento do filósofo como crítico da
cultura e o desmascaramento da moral vigente. Partindo da exigência posta por
Nietzsche de que os novos filósofos devem legislar e comandar, a autora discute nos
pormenores o procedimento da experimentação, em suas mais variadas faces, como a
possibilidade de alargamento de perspectivas, algo que considera fundamental para o
pensamento e a vida.
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Fechando o dossiê, o artigo de Victor Campos Silva traz uma discussão
bastante provocativa acerca da relação entre “Doentes e doenças nos escritos de
Nietzsche”. O artigo parte da análise que Nietzsche faz da vontade de poder como lugar
próprio das várias interpretações para arriscar que a noção de doença, muito tematizada
pelo filósofo, pode ser reconhecida, sem equívocos, nos tipos fisiopsicológicos, morais
e culturais que atravessam a obra do filósofo como tipos exemplares de decadência.
Tema importante no pensamento de Nietzsche, a noção de doença contrasta e se articula
com a noção de grande saúde e faz parte da sintomatologia nietzschiana do presente. No
artigo, o autor assume a perspectiva metafórica com que Nietzsche usualmente se refere
à doença (krankheit) buscando destacar as particularidades do uso e suas variações no
conjunto da obra e no sentido que a noção alcança na crítica de Nietzsche à cultura.
Nesse número, além do dossiê, são publicados três artigos livres. O primeiro,
de autoria conjunta de Heiberle Hirgsberg Horácio e Rodrigo Chaves de Mello, traz
como título “A liberdade do desejo e o desejo da liberdade: a dimensão radical da
democracia em Spinoza” e discute a emancipação humana como fruto do pensamento
radical do filósofo acerca da democracia. O Segundo, “Deus: o axioma que sustenta a
verdade do mundo cartesiano”, de Isaú Ferreira Veloso Filho, discute alguns axiomas
essências ao sistema cartesiano considerando os da matemática como de primeira
ordem, mas buscando alcançar a ideia de Deus ao modo de um axioma sem o qual o
sistema mesmo não se sustentaria. “O sex-appeal do inorgânico: reflexões sobre moda e
fetichismo sexual em Walter Benjamin” é o artigo de Warley Souza Dias, em coautoria
com Ildenilson Meireles, último desse número, que analisa o fenômeno da moda na
modernidade inspirado pela recuperação que W. Benjamin faz do texto de Marx, mais
precisamente do conceito de “fetiche de mercadoria”. Partindo de algumas indicações
fornecidas por W. Benjamin nas Passagens, o artigo explora a correlação entre moda e
sexualidade destacando o desenvolvimento da indústria do luxo como instância
fundamental que mobiliza “o desejo humano em função da mercadoria”, colocando a
mercadoria na categoria de um objeto sexual.
Esperamos, com esse número da Poiesis: Revista de Filosofia, proporcionar
aos leitores avanços teóricos significativos no conhecimento filosófico, bem como
estimular a experimentação ensaística e sistemática de textos filosóficos em toda a
extensão dos temas capitais da tradição filosófica articulados à análise do presente.
Boa leitura!
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