14 1 INTRODUÇÃO O hipertireoidismo é um distúrbio metabólico multissistêmico que ocorre devido à atividade anormal da glândula tireóide, levando a uma excessiva concentração dos hormônios tireoidianos, triiodotironina (T3) e/ou tiroxina (T4). Foi descrito pela primeira vez em gatos em 1979 na cidade de Nova York e, desde então, constitui a endocrinopatia mais comum nessa espécie. No Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, devido à falta de conhecimento das características desta enfermidade assim como limitações para o diagnóstico, na época, somente no ano de 2005 foi descrito o primeiro caso. A etiologia da doença, ainda não foi identificada de forma clara e definitiva, justificando, o crescimento de sua ocorrência em felinos. Várias causas têm sido sugeridas para o aumento do número de casos diagnosticados, como fatores ambientais, nutricionais, circulatórios estimuladores da glândula tireóide, de crescimento, neoplasias, como também, o aumento da conscientização dos proprietários, da popularidade de gatos como animais de estimação, da longevidade, e da facilidade do veterinário em diagnosticar a doença através de meios diagnósticos cada vez mais sensíveis e disponíveis na rotina da clínica de pequenos animais, ou ainda a combinação desses fatores. As manifestações clínicas da doença podem ser brandas ou severas, dependendo do estágio que se encontra, de sua duração e da existência de outras alterações sistêmicas concomitantes. Na maioria dos casos, o hipertireoidismo é uma enfermidade de evolução lenta e progressiva, uma vez que muitos pacientes apresentam um apetite que varia entre bom à excelente e são ativos ou mesmo hiperativos, passando por animais “saudáveis” por seus proprietários, até o momento em que começam a perder peso ou apresentar outros sintomas da doença. Por isso a importância em saber reconhecer os sinais clínicos, para que seja possível um diagnóstico precoce da doença, estabelecendo tão logo possível, o tratamento apropriado e viável para cada paciente, aumentando, assim, as suas chances de sucesso. Visto que, a população de gatos domésticos vem aumentando a cada dia, e que o hipertireoidismo, nesses animais, vem se tornando tão comum, este trabalho teve como objetivo revisar o desenvolvimento da tireotoxicose felina, descrevendo as possíveis causas, e os aspectos clínicos a fim, de facilitar o diagnóstico, assim como, a escolha do tratamento mais indicado. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HISTÓRICO E DEFINIÇÃO O hipertireoidismo é uma doença multissistêmica resultante da excessiva concentração do hormônio tireóideo ativo triiodotironina (T3) e/ou tiroxina (T4) (MOONEY; PETERSON, 2009). Foi descrito pela primeira vez em 1979 por Peterson, na cidade de Nova York e desde então, essa enfermidade tornou-se a endocrinopatia mais comum nos gatos domésticos e um dos distúrbios diagnosticados com maior freqüência na clínica de pequenos animais nos Estados Unidos da America, Europa (principalmente Reino Unido) Japão, Nova Zelândia e Austrália. (CARDOSO, 2005b; GRECO, 2007; PETERSON, 2004). Mas embora a literatura internacional o descreva como a desordem endócrina mais frequente em felinos, até o ano de 2005, quando foi descrito o primeiro caso no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, não havia relatos de casos dessa enfermidade publicados em periódicos nacionais. Acredita-se que essa baixa incidência de casos relatados no Brasil, até então, esteja relacionada com o recente aumento da população felina nos grandes centros urbanos, baixo consumo de alimentos industrializados pelos felinos brasileiros, pela tardia introdução dos mesmos, no País, o que fez com que somente agora se tenha uma geração de felinos alimentados exclusivamente com rações industrializadas e à baixa procura pelos serviços médico-veterinários no Brasil, por questões financeiras ou culturais (CARLOS; ALBUQUERQUE, 2005). 2.2 ANATOMIA DA GLANDULA TIREÓIDE DO GATO A tireóide é uma glândula endócrina, de origem endodérmica, que se desenvolve precocemente na porção cefálica do tudo digestivo (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1999). A glândula tireóide normal, do gato adulto, consiste de dois lobos separados, sem istmo, localizados ao lado da traquéia, próximo ao quinto ou sexto anel traqueal, imediatamente caudal à laringe (CORGOZINHO et al, 2009). Pequenas quantidades de tecido tireóideo ectópico estão na área cervical do mediastino, não sendo palpável no animal normal (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). Apresenta uma coloração castanho-pálida e medem 16 aproximadamente 10 mm de comprimento, 4 mm de largura e 2 mm de espessura (CORGOZINHO et al, 2009; PANCIERA, 2003). Duas glândulas paratireóides se associam a cada lobo tireoidiano, uma intracapsular (interna) outra extracapsular (externa). A glândula paratireóide externa é pequena, de coloração exageradamente branca e localiza-se no interior da fáscia, geralmente no pólo cranial de cada lobo da tireóide, tendo aproximadamente 2-5 mm de comprimento. Já a glândula paratireóide interna está localizada dentro de cada lobo da tireóide, no parênquima tireoidiano, e não é visível macroscopicamente (Figura 1) (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; PANCIERA, 2003). O suprimento sanguíneo tanto da glândula tireóide quanto da glândula paratireóide ocorre através da artéria tireoidiana cranial que se origina da artéria carótida. A artéria tireoidiana caudal encontra-se ausente em muitos gatos. O principal retorno venoso é pela veia tireoidiana cranial e pela veia tireoidiana caudal, que saem pelos pólos, cranial e caudal de cada lobo, respectivamente. (BIRCHARD, 2006; FLANDERS, 1999). E a enervação da tireóide é feita pelos nervos laríngeos que se situam nos sulcos entre os lobos e a traquéia. (EILER, 2006) Artéria Tireoidiana Cranial Glândula Paratireóide Glândula Tireóide Traquéia Artéria Carótida Figura 1 – Anatomia da tireóide e paratireóide do gato (adaptado de www.radcats.com). 17 Histologicamente, a glândula apresenta-se envolta por uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo que emite septos para o interior de seu parênquima, circundando e separando-o em folículos que são a unidade básica funcional da glândula. Cada folículo é formado por uma única camada de tecido epitelial cúbico ao redor de uma cavidade e tem seu lúmen preenchido pelo colóide (FIGURA 2). Cada célula folicular secreta tireoglobulina e iodo para o reservatório coloidal, permitindo a síntese de T3 e T4 no colóide (EILER, 2006). Entre as células dos folículos tireoidianos existem as células parafoliculares ou células C, as quais são responsáveis pela síntese de calcitonina, um hormônio relacionado com o metabolismo do cálcio no organismo (JONES, 2000; JUNQUEIRA, CARNEIRO, 1999). Figura 2: Corte histológico da tireóide com aumento de 400x. A glândula é formada por dois tipos celulares: células foliculares (1), produtoras de T4 e T3; células parafoliculares ou tipo C (2), produtoras de calcitonina, que se localizam no espaço interfolicular; e folículos que tem em seu interior colóide (3). Fonte: www.ufrgs.br/propesq/livro2/artigo_jose.htm 18 2.3 FISIOLOGIA O sistema endócrino pode ser descrito utilizando-se duas palavras de origem grega: endócrino e hormônio. O termo endócrino significa “separar para dentro” ao passo que a palavra hormônio significa estimular (ENGELKING, 2010). Os hormônios são agentes químicos sintetizados e secretados por glândulas isoladas e especializadas ou por determinadas células do organismo. São transportados diretamente pelo sangue ou pelo líquido extracelular para outras partes do corpo, exercendo uma ação reguladora (indutora ou inibidora) em tecidos específicos (EILER, 2006). A glândula tireóide secreta três hormônios: a triiodotironina (T3), tiroxina (T4) e calcitonina. Tanto a T3 (com meia-vida curta e mais ativa) quanto a T4 (com meia-vida longa e menos ativa) provocam alterações metabólicas, e a calcitonina impede a hipercalemia (EILER, 2006). A biossíntese dos hormônios tireóideos ocorre dentro do lúmen folicular da glândula tireóide, e depende da tirosina, parte da molécula de tireoglobulina formada na célula folicular, e do iodo, proveniente da dieta, que é reduzido em iodeto antes de ser absorvido nas vias intestinais (ENGELKING, 2010). Portanto, deverá existir na alimentação uma quantidade mínima de iodo (sob a forma de iodeto) a ser ingerida, por homens e animais a fim de manter a função tireóidea normal (EDINBORO, 2010). O iodo está distribuído em todo o organismo animal, mas uma percentagem muito alta da quantidade total é concentrada na glândula tireóide. O iodo está presente no tecido animal sob duas formas: iodeto inorgânico e iodo organicamente ligado (DICKSON, 1996). Na glândula tireóide o iodeto é capturado por mecanismo de transporte ativo da membrana plasmática basal da célula folicular, resultando em uma concentração intracelular de iodo 10 a 200 vezes a sérica. O iodeto sofre oxidação pela enzima tireoperoxidase, podendo desta forma, ser incorporado às estruturas anelares da tirosina (CUNNINGHAM, 2004). Assim, são formadas a monoiodotirosina (MIT, que contém apenas um átomo de iodo em seu anel aromático) e diiodotironina (DIT, com dois átomos), ambas com atividade hormonal inativa. E através do acoplamento DIT + DIT e MIT + DIT, são formados, respectivamente, a e a tetraiodotironina (T4) e triiodotironina (T3), com atividade hormonal normal (GRANNER, 1998). Após a formação destes hormônios, metade ou dois terços de suas concentrações encontram-se no meio extracelular, em forma de colóide, sendo que cerca de 90% estão 19 ligados a proteínas plasmáticas, e 10% livres. As frações ligadas associam-se às globulinas ligantes de tiroxina (TBG) ou pré-albuminas ligantes de tiroxina (TBPA) e a albumina. (JONES, 2000). A pequena fração livre é a responsável pela atividade biológica, pois pode atuar nos receptores nucleares das células-alvo. A quantidade de T4 secretada diariamente excede a de T3 em várias vezes. A maior parte da formação de T3 se dá fora da glândula da tireóide pelo desiodação de T4. A relação T4/T3 junto com valores absolutos de cada um deles é de interesse diagnóstico, pois em algumas condições os níveis de T4 mostram-se normais e os níveis de T3 reduzidos (EILER, 2006). A liberação dos hormônios tireoidianos envolve o transporte na célula de tireoglobulina com hormônios ligados, separação dos hormônios tireóideos TBG e sua liberação nos tecidos intersticiais. Dessa forma, MIT e DIT são desiodadas por uma enzima chamada iodotirosina desalogenase e as tironinas liberadas pela membrana da célula basal; e tanto o iodo como as moléculas restantes de tirosina são reciclados para formar novo hormônio junto com a tireoglobulina (CUNNINGHAM, 2004). O controle da produção de hormônio tireoidiano e sua liberação são mediados pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. O hipotálamo produz o hormônio da liberação da tireotropina (TRH) que estimula a secreção de hormônio tireotrófico (TSH) pelos tireotrópicos na hipófise. O TSH tem a função de estimular a síntese de tireoglobulina, T3 e T4 nos folículos tireoidianos, estimulando também a liberação dos hormônios já formados que estejam armazenados no colóide (DICKSON, 1996). A glândula tireóide responde a níveis sanguíneos de iodo e de TSH, formando os hormônios tireoidianos e os liberando na circulação (Figura 3) (CUNNINGHAM, 2004). A T3 e T4 circulantes são distribuídas para todas as células corporais. As células-alvo são identificadas pela presença de receptores específicos para a triiodotironina e tiroxina. Uma quantidade circulante excessiva desses hormônios exerce um efeito de retroalimentação negativa sobre a secreção de TRH e TSH. Consequentemente, as secreções de T3 e T4 serão suprimidas. Mas quando os níveis de T3 e T4 declinam abaixo de um ponto de ajuste, a retroalimentação é removida e estes são novamente secretados. A secreção de TSH é regulada por hormônios tireóideos que inibem a produção de TRH pelo hipotálamo e pela inibição do TSH no nível da hipófise. A secreção de TRH ocorre em resposta a baixos níveis circulantes de T3 e T4 (EILER, 2006). 20 Figura 3: Esquema do eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. Fonte: Própria autoria A glândula tireóide exerce inúmeras funções no organismo, agindo em quase todos os tecidos do corpo, aumentando ou diminuindo o metabolismo basal de acordo com as concentrações séricas de seus hormônios T3 e T4 (EILER, 2006). Possuem ação calorigênicas, estimulando o consumo geral de oxigênio (O2) pela maioria das células do corpo, aumentando a taxa metabólica basal. Em condições experimentais, o aumento progressivo no consumo de O2 é de até 200%, e a insuficiência de T3 e T4 reduz em 50% o consumo de O2 em comparação com animais saudáveis (EILER,2006). Exercem um papel fundamental na manutenção da temperatura corporal em ambientes frios, além de contribuir na garantia da sobrevivência em neonatos e para aqueles que despertam da hibernação, desvinculando a oxidação da fosforilação no tecido adiposo e mantendo uma termogênese sem tremores para estes animais. Atuam na síntese de carboidratos, aumentando a produção hepática de glicose pela gliconeogênese e glicogenólise (ENGELKING, 2010). No crescimento, os hormônios tireoidianos interagem com o hormônio do crescimento (GH) por um sinergismo, favorecendo a diferenciação celular e o desenvolvimento das linhas metafisárias, as linhas de crescimento. Para que ocorra um bom desenvolvimento reprodutivo 21 em fêmeas e excelentes libidos nos machos é necessário que os hormônios tireoidianos atuem em conjunto com os hormônios reprodutivos (CUNNINGHAM, 2004). No metabolismo lipídico, ajudam a reduzir o colesterol plasmático. Isso parece ocorrer tanto através de uma maior absorção celular de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) com moléculas associadas de colesterol, quanto também por uma tendência para maior degradação de colesterol e de LDL (CUNNINGHAM, 2004). O sistema nervoso depende dos hormônios tireoidianos para o desenvolvimento de suas estruturas, como o crescimento dos neurônios e estruturação da bainha de mielina. Esses hormônios atuam aumentando as atividades elétricas do cérebro (DICKSON, 1996). Supõe-se que a tireóide promova uma estimulação nos receptores β-adrenérgicos de tecidos alvos para as catecolaminas, adrenalina e noradrenalina. Os hormônios da tireóide são importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) no feto e no neonato, ocorrendo retardamento mental em indivíduos que se desenvolveram sem exposição (CUNNINGHAM, 2004). No sistema cardiovascular os hormônios tireóideos aumentam a frequência cardíaca e a força de contração, provavelmente devido à interação com catecolaminas. A pressão sanguínea se eleva devido ao aumento da pressão sistólica, sem qualquer alteração da pressão diastólica, (promovendo desta forma um aumento no débito cardíaco) acelerando a distribuição de sangue para diversos tecidos e aumenta o processo de hematose disponibilizando oxigênio (CUNNINGHAM, 2004). 2.4 PATOGENIA A alteração mais comum associada ao hipertireoidismo em gatos é a hiperplasia adenomatosa benigna (adenoma), de um (<30% dos casos) ou, mais comumente, ambos (>70% dos casos) os lóbulos da tireóide, ocorrendo em mais de 98% dos casos, enquanto que os carcinomas tireóideos contabilizam 2% dos casos (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). Os tumores malignos da tireóide são extremamente raros, mas possuem um alto potencial metastático (BARBER, 2007). Todos os tumores tireoidianos em gatos com hipertireoidismo são constituídos de células da tireóide que crescem e funcionam em um ritmo descontrolado. Isso faz com que a glândula tireóide cresça cada vez mais com o tempo (Figura 4) (MOONEY; PETERSON, 2009). 22 Microscopicamente, a arquitetura folicular da tireóide normal é substituída, no lobo causador, por um ou mais tecidos nodulares hiperplásicos variando de menos de 1mm até 2cm de diâmetro, (MOONEY; PETERSON, 2009) enquanto o lobo tireóideo saudável se torna não-funcional e atrofiado, devido ao efeito supressivo do tecido tireoidiano hiperativo na secreção de TSH (NELSON, 2006). Após o desenvolvimento de uma destas neoplasias, em um ou nos dois lobos tireoidianos, modificando suas características anatômicas e histológicas, ocorre uma produção excessiva dos hormônios tireoidianos (T3 e T4) de forma autônoma, independente da regulação do TSH, que se encontra suprimido (MUCHA et al, 2005). Figura 4: Um gato com hipertireoidismo com um tumor extremamente grande na tireóide http://animalendocrine.blogspot.com/2011/06/top-12-physical-exam-findings-in-cats.html Alguns estudos também sugerem que fatores genéticos podem estar envolvidos na patogênese da doença tanto nos humanos quanto nos gatos. Nos pacientes humanos com bócio multinodular tóxico, foram descobertas, nos últimos anos, mutações do gene receptor do TSH e, em menor extensão, da subunidade alfa de sua proteína G associada. Tais mutações resultam no estímulo continuado do ramo do monofosfato de adenosina cíclica (AMPc), o qual leva tanto ao hipertireoidismo como a modificações hiperplásicas ou adenomatosas da tireóide (PETERSON, 2004). Um experimento feito em gatos observou que certo subconjunto da proteína G (Gi2) diminuía, significativamente, em tecidos hipertireoidianos, levando à 23 inibição da guanilato ciclase e permitindo um aumento relativo da expressão da proteína G estimulatória, o que resultou (assim como em humanos) em um aumento da quantidade de AMPc e subsequente produção de hormônios da tireóide, chegando a supor que a redução da expressão Gi2 pudesse explicar o crescimento excessivo da glândula tireóide e o aumento da produção de seus hormônios, T3 e T4 (WARD et al, 2005). No entanto, estudos mais recentes não conseguiram comprovar nenhuma diferença entre esses subconjuntos da proteína G de gatos com hipertireoidismo e gatos eutireóideos (PEETERS, 2002; WARD et al, 2010). Desse modo, é pouco possível que a estimulação do crescimento da tireóide seja causada por mutações do gene receptor do TSH (TSHR) ou genes da proteína G, ou através de uma contínua estimulação da tireóide através do TSH, visto que exames histológicos do bócio felino refletiram uma supressão desse hormônio nos folículos em torno do tecido hiperplásico (PEETERS et al, 2002). Os gatos são a única espécie de mamífero não-humano, com uma alta incidência de hipertireoidismo, e desde o primeiro relato da doença em felinos, vários estudos têm sido realizados, mas a etiopatogenia da tireotoxicose felina continua obscura e desconhecida. Nenhuma pesquisa conseguiu até os dias de hoje isolar um único fator dominante que possa ser incriminado universalmente no desenvolvimento do hipertireoidismo em gatos e muitos autores acreditam que o hipertireoidismo seja doença multifatorial nesta espécie, podendo ter relações tanto com o hospedeiro quanto com razões ambientais (ARMSTRONG, 2009). 2.5 INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO O hipertireoidismo ocorre em gatos de meia-idade a idosos, (idade média de 13 anos), 95% dos gatos afetados possuem mais de 10 anos de idade. Não há predisposição racial ou sexual, embora alguns estudos tenham relatado que gatos himalaios e siameses possam ter um risco reduzido (CARDOSO, 2005b; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009) que as fêmeas estariam mais propensas a adquirir a doença (DE WET et. al., 2008; OLCZAK et al, 2005) e que os carcinomas da tireóide ocorrem mais comumente em machos castrados (CHASTAIN, 2008). Devido ao fato da maioria dos animais apresentarem acometimento de ambos os lobos tireoidianos e como não há conexão física entre os dois lobos tireoidianos nos gatos, tem sido 24 descrita a possibilidade de algum fator interno ou externo influenciar o desenvolvimento da doença em uma espécie que parece ser predisposta a esta condição (MOONEY, 2002). No homem, o hipertireoidismo é causado frequentemente por uma desordem autoimune, em que anticorpos (imunoglobulinas estimulante da tireóide) se ligam aos receptores de membrana TSH, induzindo a ativação contínua de secreção dos hormônios tireoidianos (Doença de Graves). Então, inicialmente foi pensado que a causa do hipertireoidismo felino era semelhante à doença de Graves em humanos, devido à semelhança dos sinais clínicos, porém vários estudos têm demonstrado que ao contrário da doença de Graves, que é causada por auto-anticorpos ao receptor TSH, em gatos o hipertireoidismo auto-imune é improvável, pois foi comprovado que gatos não têm anticorpos contra o receptor de TSH (GRECO, 2007; MOONEY, 2002; KENNEDY; THODAY 1984). Alguns fatores ambientais parecem estar relacionados com o desenvolvimento do hipertireoidismo em gatos. O risco de desenvolver a doença se mostra maior nos animais que são mantidos, totalmente ou parcialmente dentro de casa, do que gatos que apresentam o hábito de irem à rua, sugerindo, problemas relacionados a algum componente da areia higiênica ou à menor atividade física (ARMSTRONG, 2009; NELSON, 2006; SCARLETT, 1988). Animais expostos regularmente a contaminantes químicos como retardadores de chama, inseticidas (produtos antipulgas ou sprays), pesticidas, desinfetantes e desodorizantes, adubos orgânicos de jardim ou esterco animal também apresentam maior propensão ao desenvolvimento da doença (ARMSTRONG, 2009; JONES, 2009; OLCZAK et al., 2005; SCARLETT, 1988). Excesso de éteres difenílicos polibromados (PBDEs) foi identificado na poeira doméstica de tapetes, colchões e estofados, em espumas de poliuretano e móveis (DYE, et al. 2007; VENIER, et al. 2011). Além disso, um estudo comprovou que a incidência da doença é menor quando existem outros gatos convivendo no mesmo ambiente (OLCZAK et al., 2005). Fatores nutricionais também já foram sugeridos como potencial agente indutor para o hipertireoidismo (SCARLETT, 1994). O risco para o hipertireoidismo associado com o consumo de alimentos enlatados para gatos se mostrou estatisticamente independente das outras variáveis avaliadas, principalmente, para aqueles gatos que têm a preferência por certos sabores de alimentos enlatados, como peixe ou fígado e miúdos de aves. Em razão dessa associação dietética, o iodo tem sido envolvido na patogênese da doença (MARTIN, et.al., 2000; MOONEY; PETERSON, 2009). 25 Segundo estudos, as concentrações de iodo no alimento comercial de gatos tornaramse extremamente variáveis a partir da década de 1970 (EDINBORO, 2010) e as maiores variações encontram-se nos alimentos enlatados e muitas vezes em quantidades muito acima dos valores recomendados (MOONEY; PERTERSON, 2009). Supõe-se que repetidas flutuações ou ciclos de altas e baixas concentrações da ingestão de iodo possam repetidamente ativar a tireóide, eventualmente levando a hiperplasia, alterações adenomatosas, particularmente se houver uma ingestão excessiva de iodo seguida de um longo período de deficiência. Portanto, uma vez que tenha se desenvolvido um nódulo tireoidiano que secrete autonomicamente, a suplementação com iodo pode ainda exacerbar ou causar a tireotoxicose progressiva e permanente (MOONEY, 2002; OLZAK, et.al., 2005). A associação do consumo de alimentos enlatados para gatos com o desenvolvimento do hipertireoidismo sugere que o agente causal esteja presente no alimento ou no revestimento interno da lata. Latas com forros de plástico e tampas do tipo “pop-top” podem representar um risco maior do que saquinhos ou latas, que exigem um abridor de lata para abri-los. Este risco é, potencialmente, devido à liberação de substâncias químicas, tais como o bisfenol-A e F-bisfenol presentes no revestimento das latas de verniz pop-top (EDINBORO, 2004; WAKELING, 2009). O selênio também tem um papel importante na regulação da função tireoidiana de muitas espécies, e embora sua função não seja clara, seus valores séricos em gatos, são maiores do que em outras espécies, possivelmente devido a uma maior ingestão (MOONEY; PETERSON, 2009). Um potente fator bociogênico são as isoflavonas de soja, genisteína e daidzeína, que são constituintes comuns dos alimentos disponíveis comercialmente para gatos e que também, podem interferir na função normal da tireóide (MOONEY; PETERSON, 2009). 2.6 SINAIS CLÍNICOS Todas as manifestações clínicas de hipertireoidismo são decorrentes dos efeitos da excessiva produção dos hormônios tireoidianos (Figura 5). Esses efeitos são geralmente estimulatórios. Eles causam um aumento na produção de calor e elevação nos metabolismos proteicos, de carboidratos e lipídios e consequentemente causam alterações em todos os sistemas e tecidos corporais (PANCIERA et al, 2003). 26 O número e a variedade de sinais clínicos não são constantes em todos os casos, pois dependem características individuais, a duração, desde o início da doença, presença ou ausência de uma doença concomitante, e a capacidade do indivíduo de lidar com as demandas excessivas dos hormônios. Como a doença afeta gatos geralmente mais velhos, o sinais clínicos são freqüentemente confundidos com parte do processo de envelhecimento e, portanto, não reconhecidos pelos proprietários como sinais de uma doença. Como os hormônios da tireóide são anabólicos e estimulantes, os proprietários geralmente sentem seu gato saudável e em boa forma, com um bom apetite e muito ativo para sua idade (LOPES, 2010). Figura 5: A caricatura do gato resumindo os sinais clínicos e as frequências com que eles acontecem. Fonte: EILER, 2006. As manifestações clínicas evoluem lentamente podendo ser de leves a graves, dependendo do estágio da doença, da coexistência de outras alterações sistêmicas 27 (CARDOSO, 2005b) e da incapacidade do sistema orgânico alcançar as demandas impostas pela doença. Por causa dos efeitos multissistêmicos do hipertireoidismo, a maioria dos gatos apresenta sinais clínicos que refletem a disfunção de muitos sistemas orgânicos. (PETERSON, 2004). Apesar de existirem sinais clínicos frequentes sugestivos de hipertireoidismo, eles nem sempre estão presentes no mesmo tempo, e apenas um deles pode ser predominante, encobrindo outras características típicas do hipertireoidismo. Portanto, a presença ou a ausência de um sinal não pode diagnosticar ou excluir a possibilidade de existência da tireotoxicose (PETERSON, 2004). 2.6.1 Perda de Peso e Polifagia A perda de peso é o sinal mais comum e clássico do hipertireoidismo em gatos (Figura 6). Quase todos os gatos apresentam uma ligeira a moderada perda de peso, e tipicamente está associada a um aumento no apetite, na frequência e quantidade de comida ingerida. No hipertireoidismo os níveis energéticos se elevam devido ao aumento do metabolismo basal. Acredita-se que o mecanismo de polifagia é relacionado ao aumento da utilização de calorias, e em um mecanismo compensatório, o organismo aumenta a ingestão de alimentos, para aumentar a demanda calórica, levando a maior ingestão de alimentos, à polifagia (MOONEY; PETERSON, 2009; PANCIERA, 2003). No entanto, o aumento de consumo calórico é inadequado e insuficiente para compensar o aumento na exigência (PANCIERA, 2003) e a hipermotilidade intestinal decorrente dos altos títulos de hormônios tireoidianos, causa um aumento na freqüência de defecação e diarréia (ENGELKING, 2010). A diarréia e as fezes moles são causadas pelo aceleramento do trânsito oro-cecal existente em gatos com hipertireoidismo não tratado (LOPES, 2010). Vômitos ou regurgitação também são bastante comuns na tireotoxicose felina e resultam da ação direta dos hormônios da tireóide, que acionam os quimiorreceptores ou da distensão gástrica aguda devido à ingestão rápida de grande quantidade de alimentos (CUNHA, 2008). A êmese parece ser mais comum em gatos que vivem com muitos outros na mesma casa, e geralmente ocorre pouco depois da alimentação, podendo estar, simplesmente, relacionada com o excesso de alimentação (MOONEY; PETERSON, 2009). 28 Gatos com hipertireoidismo avançado, onde houve demasiada perda de peso, apresentam perda progressiva da elasticidade da pele, devido a uma moderada ou grave desidratação (LOPES, 2010). Figura 6: Perda de peso http://animalendocrine.blogspot.com/2011/06/top-12-physical-exam-findings-in-cats.html 2.6.2 Alterações Comportamentais Os hormônios tireoidianos interagem com o sistema nervoso simpático (SNC) levando a uma estimulação simpática generalizada e a uma alteração na conduta habitual do gato. (MUCHA et al, 2005). Portanto, o aumento dos hormônios tireoidianos tem efeito direto sobre o sistema nervoso, caracterizado por hiperatividade, agitação, irritabilidade, comportamento agressivo e tremores musculares. Em casos extremos, o tremor pode ser aparente e os gatos são frequentemente descritos como tendo uma expressão facial de nervosismo e ansiedade (MOONEY; PETERSON, 2009). Os gatos podem andar sem rumo, caminhar constantemente, andar em círculos, refletindo um estado de confusão, ansiedade e nervosismo associado ao estímulo nervoso central causado pelo hipertireoidismo. O sono diurno pode estar diminuído ou menos profundo. Outros sinais comportamentais que podem estar presentes incluem o aumento da vocalização noturna e a intolerância ao som e ao toque (PETERSON, 2004). 29 A intolerância ao calor é um sinal brando, porém quando presente pode ser muito bem notado pelos proprietários. Os gatos não enfermos em suas condições comportamentais apresentam o hábito de procurar superfícies que estejam levemente aquecidas para dormirem. Ao contrário disto, 10% dos gatos portadores da tireotoxicose podem procurar áreas mais frias, como o interior de banheiros com superfícies que contenham azulejos, sendo identificado este comportamento facilmente por seus proprietários (FELDMAN; NELSON, 1996). 2.6.3. Alterações Cutâneas Alguns gatos, em razão da ausência da auto-higienização, apresentam pelagem emaranhada, opaca e pêlos eriçados, presumivelmente devido a uma falha na repilação (Figura 7) (PETERSON, 2004). Outros ainda apresentam áreas de alopecia (Figura 8) pelo comportamento compulsivo e obsessivo de lambedura (NELSON, 2006), o qual tem sido sugerido como reflexo da intolerância ao calor. As unhas também podem crescer excessivamente especialmente, em gatos com hipertireoidismo crônico e avançado, apresentando um aspecto mais espesso e frágil que o normal (MOONEY; PETERSON, 2009). Figura 7: Imagem de um gato com hipertireoidismo, apresentando pêlos eriçados. Fonte: http://vetmed.tamu.edu/services/oncology/client-faq 30 Figura 8: Imagem de um gato com áreas de alopecia Fonte: http://www.fabcats.org/owners/hyperthyroidism/info.html 2.6.4 Alterações Músculo-Esqueléticas No hipertireoidismo, os metabolismos ósseos e minerais se alteram. O excesso dos hormônios tireoidianos em gatos provoca aumento do remodelamento ósseo devido à alta correlação entre esses hormônios e os marcadores do metabolismo ósseo (GRAVES, 2010). Assim sendo, o hipertireoidismo causa alteração do metabolismo ósseo, caracterizado por aumento da atividade osteoblástica e osteoclástica, com predomínio da reabsorção óssea, resultando em diminuição na massa óssea (CARDOSO et al., 2008b). Os hormônios tireoidianos também interferem nas concentrações de miosina, uma proteína de ligação da actina, envolvida na contração muscular (EILER, 2006), e suas altas concentrações induzem à hipocalemia e a deficiência de tiamina (CUNHA, 2008). Devido a esses fatores, fraqueza e/ou perda muscular (Figura 9), letargia, emaciação e caquexia são sinais clínicos que, em baixa frequência, podem acometer os gatos com hipertireoidismo (MOONEY; PETERSON, 2009) que adquirem uma menor capacidade para pular, saltar e fadiga associada à atividade física (PETERSON, 2004). 31 Figura 9: Imagem de um gato com hipertireoidismo apresentando andar arqueado sugerindo fraqueza muscular. Fonte: http://www-staff.psychiatry.cam.ac.uk/~dew22/supervisions/notes/dew-vetendo04.htm A ventroflexão da cabeça é um achado clínico pouco comum no hipertireoidismo. O animal assume uma forma anormal, onde sua cabeça fica flexionada para baixo, sendo bem evidenciado. No exame físico, a cabeça pode ser levantada facilmente, mas quando solta assume sua posição anterior (FELDMAN; NELSON, 1996). A causa desta alteração é pouco conhecida no hipertireoidismo, mas pode também estar relacionada, com a hipocalemia e à deficiência de tiamina. (PETERSON, 2004). 2.6.5. Sistema Renal A poliúria e a polidipsia são sinais clínicos frequentes entre os gatos hipertireóideos. Os hormônios tireoidianos possuem uma ação diurética e o excesso dos hormônios tireoidianos, estimula a função renal, prejudicando a concentração urinária devido ao aumento do fluxo sanguíneo renal, da taxa de filtração glomerular e da capacidade de secreção e reabsorção em ratos e no homem (ADAMS et al., 1997). Apesar da neuropatia primária também contribuir para a poliúria e polidipsia, esses sinais também ocorrem em muitos gatos sem evidência de disfunção renal, na qual a resolução ocorre após o tratamento do hipertireoidismo. Embora a causa exata desses sinais no hipertireoidismo seja desconhecida, 32 por prejudicar a concentração da urina pelo aumento do fluxo sanguíneo renal total, reduz, assim, a concentração de soluto medular renal, levando à poliúria e polidipsia secundária. Já nos gatos com normal capacidade de concentração renal, a tireotoxicose produz um distúrbio no hipotálamo, podendo produzir polidipsia compulsiva com poliúria secundária (PETERSON, 2004). A gravidade dos sinais renais relaciona-se com a existência ou não de insuficiência renal primária, pois os gatos acometidos de hipertireoidismo são geralmente de meia-idade a idosos e é sabido que gatos velhos têm freqüentemente insuficiência renal crônica (CARDOSO et al., 2005b). E uma vez que tanto o hipertireoidismo e a insuficiência renal são comuns em gatos mais velhos, alguns animais podem ter duas doenças ao mesmo tempo (ADAMS et al., 1997). Nenhuma doença renal específica parece estar relacionada diretamente com o hipertireoidismo. A azotemia renal, apesar de relativamente comum nos gatos de meia-idade a idosos que desenvolvem tireotoxicose, não parece ser provocada pelo aumento dos hormônios tireoidianos. Contudo é possível, que o hipertireoidismo contribua para o desenvolvimento da nefropatia crônica nos felinos mais velhos (PETERSON, 2004). A provável conexão fisiopatológica entre o hipertireoidismo e a doença renal crônica leva a importantes questões sobre o tratamento do hipertireoidismo. Pode-se argumentar que a redução das concentrações séricas do hormônio tireóideo nos gatos mais velhos com hipertireoidismo discreto e nefropatia crônica deveria ser evitada, pois o tratamento pode reduzir a TFG (taxa de filtração glomerular) e permitir a emergência da azotemia e da uremia. Contudo, se a TFG aumentada resultar na hiperfiltração glomerular nos gatos hipertireóideos, isto pode contribuir para a progressão renal. Se ocorrer, o hipertireoidismo pode predispor os gatos à nefropatia crônica, e o tratamento eficaz precoce do hipertireoidismo pode ser importante para evitar as modificações fisiopatológicas no rim que poderiam levar à doença renal progressiva (PETERSON, 2004). 2.6.6 Sistema Respiratório As anormalidades respiratórias mais comuns no hipertireoidismo felino são taquipnéia, dispnéia em repouso, respiração ofegante, mas esses fatores tendem a ocorrer com maior 33 freqüência durante os períodos de estresse como, por exemplo, o transporte do animal e durante o exame físico (CARDOSO, 2005b; MOONEY; PETERSON, 2009). O hipertireoidismo pode reduzir a complacência pulmonar e aumentar a respiração a minuto. Essas alterações na função respiratória, possivelmente resultam da combinação da fraqueza muscular respiratória, produção aumentada de gás carbônico (CO2) (PETERSON, 2004), incapacidade de cumprir as exigências teciduais de oxigênio e/ou insuficiência cardíaca congestiva (PANCIERA, 2003). 2.6.7 Sistema Cardiovascular As alterações nas concentrações dos hormônios tireoidianos ocasionam profundas mudanças na atividade cardiovascular, atuando na contração intrínseca do músculo cardíaco. Há um aumento na contratilidade e na frequência cardíaca (BUCCINO et.al., 1967). Isso ocorre, pois o excesso dos hormônios tireoidianos induzem a produção de uma isoforma de miosina que aumenta a velocidade da interação miosina-actina, o aumento da atividade da Ca+-ATPase no retículo sarcoplasmático e aumento dos canais de cálcio; todos estes eventos contribuem para o aumento da contratilidade. No hipertireoidismo também há aumento do número de receptores β - adrenérgicos que influenciam no acréscimo da contratilidade e no desenvolvimento da hipertrofia cardíaca (CARDOSO, 2005b). No hipertireoidismo, os animais apresentam aumento do débito cardíaco, devido ao metabolismo tissular alto, gerando aumento das demandas de oxigênio, e por consequência, levados a um quadro de hipertensão que, na maioria dos casos, desaparece em seguida a supressão hormonal bem sucedida (BUCCINO et.al., 1967). A taquicardia, (freqüência cardíaca > 240 batimentos por minuto) sopros sistólicos e ritmo de galope são as anomalias frequentemente encontradas, embora ocasionalmente, arritmias (atrial ectópica e ventricular) e sinais de insuficiência cardíaca congestiva também possam ser observados (MOONEY; PETERSON, 2009). A patogenia das alterações cardíacas ainda não foi totalmente elucidada, mas sabe-se que o hipertireoidismo acarreta um aumento da demanda metabólica e, paralelamente a isso, ocorrem alterações cardiovasculares que são necessárias para atender a esse aumento da demanda metabólica. Há um aumento da volemia, redução da resistência vascular sistêmica e redução do tempo de circulação, podendo levar à hipertrofia ventricular esquerda, secundária 34 ao aumento do trabalho cardíaco. Há incapacidade em aumentar a fração de ejeção com o exercício pela redução da reserva contrátil miocárdica e pela impossibilidade de incremento na vasodilatação, além de fadiga muscular. Existe, ainda, um maior potencial de arritmias atriais (as ventriculares são raras, pois a densidade de receptores β adrenérgicos é maior no átrio), e a conjunção de todos esses fatores pode culminar com insuficiência cardíaca de alto débito (WILDEMBERG, et al., 2007). Os felinos com hipertireoidismo apresentam miocardiopatia hipertrófica e, menos comumente, a miocardiopatia dilatada e, ambas promovem a insuficiência cardíaca congestiva (CARDOSO, 2005b). A insuficiência cardíaca é uma das complicações mais conhecidas do hipertireoidismo, sendo classicamente descrita como insuficiência cardíaca de alto débito em função das alterações hemodinâmicas e adrenérgicas que contribuem para o surgimento dessa condição. No entanto, alguns pacientes não somente iniciam um quadro de insuficiência cardíaca, mas ultrapassam a condição clássica da insuficiência cardíaca de alto débito, quando apresentam miocardiopatia dilatada e baixa fração de ejeção (WILDEMBERG, et al., 2007). Deste modo, quando a presença da cardiomiopatia dilatada for verificada, o prognóstico, quase sempre, será desfavorável, pois induz freqüentemente, à insuficiência cardíaca grave, de alto débito. (PETERSON, 2004; WILDEMBERG, et al., 2007). Geralmente com a correção do hipertireoidismo, as miocardiopatias são reversíveis. No entanto em alguns gatos, a cardiomiopatia persiste ou piora após o tratamento, sugerindo um defeito cardíaco pré-existente ou dano estrutural cardíaco irreversível (MOONEY; PETERSON, 2009; PETERSON, 2004). O controle da frequência cardíaca deve ser perseguido de forma agressiva e concomitante ao controle do hipertireoidismo, mesmo na fase inicial do tratamento, enquanto ainda não foi revertida a congestão sistêmica, sendo esta uma das principais diferenças do tratamento da miocardiopatia tireotóxica da miocardiopatia dilatada convencional (WILDEMBERG et al., 2007). O aumento da pressão sistólica está presente em 87% dos casos (CUNHA et.al. 2008). A hipertensão pode ser manifestada clinicamente como hiperemia nas pontas das orelhas (hiperemia das pinas) e membrana mucosas ou através dos achados oculares, como cegueira e a hemorragias associadas com edema ou deslocamento parcial ou completo de retina (MOONEY; PETERSON, 2009). Foi sugerido que o aumento da frequência cardíaca provoca somatório do aumento da pressão nas artérias periféricas com o aumento da pressão sistólica, resultando num aumento na hipertensão sistólica global (GRAVES, 2009). Mas as prováveis causas dessa manifestação podem estar nas combinações do estado hiperdinâmico do coração, a retenção de sódio, os 35 baixos níveis de vasodilatadores renais, a perda de auto-regulação da pressão sanguínea glomerular e a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. (CUNHA et al., 2008). É possível que a hipertensão grave só se desenvolva em gatos hipertireóideos quando acompanhadas de insuficiência renal (MOONEY; PETERSON, 2009). A insuficiência renal crônica é comum em gatos com hipertireoidismo e hipertensão é comum em gatos com insuficiência renal, assim as evidências de um problema renal podem ser mascaradas por hipertireoidismo (GRAVES, 2009). 2.6.8 Hipertireoidismo Apático O hipertireoidismo apático é uma forma clínica de hipertireoidismo que acomete cerca de 5% dos felinos hipertireóideos (PETERSON, 2004). Esta forma da doença desenvolve-se gradativamente, onde inicialmente os animais apresentam polifagia e ao longo do tempo desenvolvem hiporexia, podendo chegar a um quadro de anorexia (PETERSON et al., 1983). A perda de peso permanece um sinal clínico habitual, mas geralmente acompanhada mais por anorexia do que por aumento do apetite (PETERSON, 2004). Também podem apresentar apatia ou depressão, em vez de hiperatividade (Figura 10) (MOONEY; PETERSON, 2009). A ventroflexão do pescoço, que reflete fraqueza muscular grave, também pode ser observada nesses casos. Em gatos, o hipertireoidismo apático também tem sido associado com outras doenças concomitantes, como insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva ou neoplasia (MOONEY, PETERSON, 2009; PANCIERA et al., 2003; PETERSON, 2004) Figura 10: Fotografia de um gato com Hipertireoidismo Apático http://animalendocrine.blogspot.com/2011/06/top-12-physical-exam-findings-in-cats.html 36 2.7 DIAGNÓSTICO A frequência de diagnóstico de hipertireoidismo felino tem aumentado dramaticamente desde a década de 1970. Se este aumento da freqüência de diagnóstico do hipertireoidismo felino reflete reforçada perspicácia de diagnóstico ou de um aumento real na incidência desta doença, ou ambos, é desconhecido. Parece provável, tendo em conta a natureza específica dos sinais clínicos e de falta de evidência de alargamento da tireóide e sinais clínicos em séries de necropsias anteriores, que o hipertireoidismo felino está realmente ocorrendo com maior frequência (SCARLETT et al., 1988). O diagnóstico do hipertireoidismo felino deve ser baseado no histórico detalhado do animal, nos sinais clínicos, no exame físico, hemograma completo, perfil bioquímico sérico, urinálise, testes da função tireoidiana, radiografia torácica e pressão arterial. Outros métodos de diagnóstico também podem ser indicados em alguns pacientes, e incluem ultrassonografia cardíaca, radiografia abdominal, cintilografia, exame oftalmológico e eletrocardiograma (SCOTT-MONCRIEF, 2010). Devem-se sempre descartar doença concomitante, bem como os distúrbios que simulam o hipertireoidismo, como a diabete melito, insuficiência renal, cardiopatia, insuficiência hepática, a má digestão e a neoplasia (PETERSON, 2004). 2.7.1 Palpação Cervical A palpação da glândula tireóide deve fazer parte do exame de todo gato. Durante o exame físico recomenda-se a avaliação minuciosa da glândula tireóide. Em um animal eutireóideo a glândula não é palpável (NELSON, 2006). Para palpar o bócio no gato, é necessário segurar os membros torácicos numa posição sentada. Com o pescoço estendido suavemente, o polegar e o indicador são colocados em ambos os lados da traqueia, começando da laringe e cuidadosamente, deslizados caudalmente, até a entrada da caixa torácica (Figura 11) (MOONEY; PETERSON, 2009). 37 Figura 11: Palpação da glândula tireóide no exame físico Fonte: http://www.catdoctor.ca/healthexam.htm A presença de uma massa cervical nem sempre pode ser associada diretamente à existência do hipertireoidismo, pois o aumento da glândula pode ser detectado em gatos sem evidencias clínicas e laboratoriais. Embora alguns gatos possam permanecer eutireóideos por longos períodos, muitos gatos com o aumento de um ou dois lobos tireoidianos desenvolvem sinais clínicos e bioquímicos do hipertireoidismo à medida que os nódulos continuam a crescer, e começam a secretar altas doses de hormônios tireoidianos (PETERSON, 2004). 2.7.2 Testes Laboratoriais Devido aos efeitos multissistêmicos dos hormônios tireoidianos, algumas alterações laboratoriais podem ser observadas (VESCOVI et al, 2009). Os testes laboratoriais de triagem como hemograma completo, perfil bioquímico, urinálise, devem ser realizados sempre que houver um gato sob suspeita de hipertireoidismo. Além de esses testes auxiliarem o diagnóstico da tireotoxicose felina, podem ainda, revelar a presença de uma doença concomitante, bem como os distúrbios que simulam o hipertireoidismo, como o diabete 38 melito, insuficiência renal, cardiopatia, insuficiência hepática, má digestão, má absorção e neoplasia (PETERSON, 2004). 2.7.2.1 Hemograma Completo Na presença do hipertireoidismo de origem endógena na espécie felina é possível a caracterização de várias alterações ao hemograma, entretanto estas não são patognomônicas da tireotoxicose (VESCOVI et al, 2009). Um hemograma normal deve ser confirmado antes do início do tratamento do hipertireoidismo, uma vez que os efeitos colaterais hematológicos podem ocorrer com a terapêutica médica (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). As anormalidades mais comuns no hemograma de felinos com hipertireoidismo são um discreto aumento no hematócrito, eritrócitos, hemoglobina e volume corpuscular médio (CHASTAIN, 2008; NELSON, 2006). Essas alterações provavelmente refletem a mediação do hormônio tireóideo pelo estimulo β-adrenérgico da medula óssea e pelo aumento da produção de eritropoetina, resultando no aumento de consumo de oxigênio (CARDOSO, 2005a). Embora a anemia seja uma complicação raramente encontrada no hipertireoidismo, o aumento dos corpúsculos de Heinz ocorre em gatos hipertireóideos e o tamanho das plaquetas pode aumentar (MOONEY, 2001; MOONEY; PETERSON, 2009). Os achados do leucograma são relativamente inespecíficos no hipertireoidismo felino e geralmente incluem neutrofilia, linfopenia, eosinopenia e leucocitose, e provavelmente refletem uma resposta de tensão ao excesso de hormônios tireoidianos (CARDOSO, 2005a). Ocasionalmente há linfocitose e eosinofilia que se supõe estar relacionada a um decréscimo nos níveis de cortisol, induzido pelo excesso de hormônio tireoidiano circulante (CARDOSO, 2005a; NELSON, 2006). Segundo alguns autores, a neutrofilia é freqüentemente associada à linfopenia, ou a eosinofilia com ou sem a linfocitose (VESCOVI et al, 2009). 39 2.7.2.2 Bioquímica Sérica As alterações bioquímicas séricas ocorrem em 50% a 85% dos gatos com tireotoxicose (PETERSON, 2004). As anormalidades bioquímicas, mais comuns e marcantes, encontradas no hipertireoidismo felino são a elevação de leve à moderada nas concentrações séricas de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA) e lactato desidrogenase (LDH) (CHASTAIN, 2008; MOONEY; PETERSON, 2009; SCOTTMONCRIEF, 2010). Embora a causa da elevação das atividades séricas dessas enzimas hepáticas nos gatos com hipertireoidismo não esteja definida, o exame histopatológico hepático normalmente revela apenas modestas e alterações não específicas, potencialmente causadas por má nutrição, insuficiência cardíaca congestiva, hipóxia hepática, infecções e efeitos tóxicos diretos dos hormônios tireoidianos no fígado (PETERSON, 2004). O grau de elevação dessas enzimas está correlacionado com as concentrações séricas do hormônio tireóideo e pode ser dramático em gatos com hipertireoidismo avançado. No início da doença ou em casos leves de hipertireoidismo, o grau de elevação tende a ser sutil. Deve-se suspeitar de doenças hepáticas concomitantes e distintas se houver elevação acentuada em qualquer das enzimas ALT, FA, AST ou LDH, e apenas um leve aumento nas concentrações séricas do hormônio tireóideo (CHASTAIN, 2008; MOONEY; PETERSON, 2009). Contudo, atualmente está claro que além do fígado, os ossos também contribuem para o aumento das concentrações séricas de FA. Portanto, o uso dos marcadores do metabolismo ósseo pode ser particularmente interessante nas investigações das alterações ósseas associadas com doença da tireóide. Os marcadores bioquímicos da remodelação óssea podem ser divididos em marcadores de formação e marcadores de reabsorção óssea. O objetivo da mensuração dos marcadores do metabolismo ósseo é a correlação de suas concentrações séricas ou urinárias com a atividade dos osteoblastos (formação) e osteoclastos (reabsorção). São métodos simples e de reconhecimento da progressão de doenças metabólicas ósseas ou da resposta à terapia com drogas que quantificam, em tempo real, a atividade de formação ou reabsorção das células ósseas. São enzimas sintetizadas por osteoblastos e osteoclastos ou compostos orgânicos liberados durante a síntese e reabsorção da matriz óssea. Os marcadores da formação óssea são detectados somente no soro e os marcadores de reabsorção óssea podem ser detectados no soro ou na urina. Os marcadores da formação óssea são a 40 osteocalcina (OC), a fosfatase alcalina total (FAT), a fosfatase alcalina óssea (FAO), o peptídeo carboxiterminal do procolágeno tipo I (PICP) e o peptídeo aminoterminal do procolágeno tipo I (PINP). Enquanto que os marcadores de reabsorção óssea são a fosfatase ácida tartarato resistente (TRAP), o telopeptídeo carboxiterminal do colágeno tipo I (ICTP ou CTX), a piridinolina (U-PYD), a deoxipiridinolina (U-DPD), a hidroxiprolina (U-HYP), a porção aminoterminal do procolágeno I (U-NTX) e a porção carboxiterminal do procolágeno I (U-CTX). Existe uma alta correlação entre os hormônios da tireóide e os marcadores do metabolismo ósseo. Constatou-se que a tireotoxicose não é suficiente para elevar os níveis séricos do ICTP, sugerindo que, nos estágios precoces, não há predomínio da atividade osteoclástica. Sabe-se que o hipertireoidismo provoca diminuição da densidade mineral óssea (DMO), porém, a OC e o ICTP apresentam baixa correlação com esta variável, indicando que o uso isolado dos marcadores do metabolismo ósseo deve ser feito com cautela na avaliação da perda de massa óssea em gatos com hipertireoidismo (CARDOSO, 2008b). Outros achados incluem hipocalemia e hiperfosfatemia (CHASTAIN, 2008; COSTA et al, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). O aumento da retirada de cálcio do tecido ósseo induz, de forma compensatória, a um decréscimo da secreção do paratormônio (PTH), na tentativa de manter os níveis séricos de cálcio normais. A diminuição dos níveis séricos do PTH circulante está correlacionada ao aumento na taxa de reabsorção tubular de fosfato. Este parece ser o fator de maior importância para justificar um aumento sérico dos níveis de fósforo; entretanto, um aumento da mobilização de fósforo de origem óssea e dos tecidos moles também pode contribuir para isso (CARDOSO, 2008 a). A glicemia pode estar ligeiramente aumentada, provavelmente refletindo uma resposta ao estresse (FELDMAN e NELSON, 1996). Diabetes melito e hipertireoidismo são doenças comuns em felinos idosos, e freqüentemente ocorrem em combinação (GRAVES 2006). Em casos de diabetes melito pré-existente, o catabolismo acelerado de insulina aumenta as exigências de insulina exógena (MOONEY; PETERSON, 2009) Além disso, a determinação das concentrações séricas de frutosamina é significativamente menor nos gatos hipertireóideos do que nos saudáveis, provavelmente como resultado do aumento do turnover da proteína que reduz a frutosamina em gatos com hipertireoidismo independentemente de glicose no sangue. Mas os valores de frutosamina não servem como meio de monitorar o gato diabético com hipertireoidismo concomitante, não é um indicador útil do controle glicêmico em gatos com tireotoxicose e não pode ser usada para diferenciar diabetes de hiperglicemia induzida por estresse em gatos com hipertireoidismo (CHASTAIN, 2008; GRAVES, 2006). 41 As concentrações séricas de uréia e creatinina podem estar de leve a moderadamente aumentadas em mais de 20 a 40% dos casos, devido a evidências de disfunção renal concomitante nos gatos com hipertireoidismo que não são tratados (PETERSON, 2004). No hipertireoidismo felino sem azotemia, a concentração de creatinina circulante é significativamente inferior comparada com animais normais. Isso pode estar relacionado com uma perda de massa muscular e/ou uma redução na taxa da sua formação. Essa redução da creatinina pode causar algumas dificuldades na avaliação da existência de disfunção primária renal em gatos com hipertireoidismo (MOONEY; PETERSON, 2009). 2.7.3 Urinálise A urinálise não contribui para o diagnóstico específico do hipertireoidismo, já que a única anormalidade consistente é a baixa densidade de forma variável. Mas é geralmente útil na diferenciação de outras doenças com sintomas clínicos semelhantes, como diabetes melito ou insuficiência renal crônica, por exemplo (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; MOONEY; PETERSON, 2009). 2.7.4 Testes da Função Tireoidiana 2.7.4.1 Concentração Basal Total dos Hormônios Tireoidianos A concentração basal sérica total dos hormônios tireoidianos é a soma do hormônio ligado à proteína e do hormônio livre circulando no sangue (NELSON, 2009). A confirmação do diagnóstico do hipertireoidismo ainda depende da demonstração do aumento da produção dos hormônios tireoidianos. As concentrações elevadas do hormônio total sérico são a principal indicação bioquímica do hipertireoidismo (BROOME, 1988; CHASTAIN, 2008; MOONEY, 2008) Em gatos, o T4 é o principal produto da secreção da glândula tireóide. O T3 é três a cinco vezes, mais potente que o T4, porém, cerca de 60% de T3 circulante é determinado pela 42 5’-desiodação extratireoidiana de T4. O T4 é deste modo, considerado um pró-hormônio e a ativação do T3, uma auto-regulação feita pelos tecidos periféricos (MOONEY; PETERSON, 2009). Na maior parte dos gatos com hipertireoidismo, as concentrações séricas em repouso tanto de T4, quanto de T3 estão anormais. No entanto, cerca de 25% dos gatos com tireotoxicose podem apresentar valores normais de T3 sérica, e claramente elevadas, concentrações de T4. Deste modo as concentrações séricas de T4, seriam mais fidedignas que as de T3, já que o valor da tiroxina total encontra-se elevado em 90 a 98% dos gatos afetados (CARDOSO, 2005a). É provável que a concentração de T3 aumente para os limites tireotóxicos nesses animais com o progresso da doença e se não tratada (MOONEY, 2008). Uma possível explicação para os valores de T3 permanecerem normais no hipertireoidismo é que como a produção de T4, começa a aumentar, há uma diminuição compensatória na conversão periférica de T4 para a forma mais ativa que é o T3 (MOONEY; PETERSON, 2009). Todavia, uma proporção significativa de gatos com hipertireoidismo precoce ou com doença não-tireoidiana simultânea, pode apresentar a concentração sérica de T4 dentro dos valores de normalidade (tais valores estão geralmente dentro ou nos limites superiores do intervalo de referência), como resultado tanto da flutuação dos níveis de T 4 para cima ou para baixo da variação normal, ou como da supressão dos níveis elevados de T4 para dentro da variação normal. Por esse motivo, o diagnóstico do hipertireoidismo não pode ser baseado exclusivamente nos valores séricos de T3 e T4, principalmente em gatos com sinais clínicos compatíveis e com bócio palpável (CHASTAIN, 2008; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; MOONEY, 2008; MOONEY; PETERSON, 2009; NELSON, 2006; NELSON, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). Portanto, graves doenças não-tireoidianas concomitantes são capazes de exercer um papel na supressão dos hormônios tireoidianos. Nesses casos, a doença concomitante dita o prognóstico clínico. Aproximadamente 20% dos gatos com hipertireoidismo com T4 total dentro dos valores de referência possuem uma doença concomitante identificável, sendo o restante classificado como casos leves ou precoces (MOONEY; PETERSON, 2009). Em decorrência dessas variações, a determinação das concentrações de T4 deve ser realizada mais de uma vez quando o diagnóstico torna-se duvidoso. Quando a concentração sérica de T4 estiver normal e houver suspeita de hipertireoidismo, o exame deve ser refeito uma a duas semanas depois da obtenção deste resultado, ou após o tratamento de doenças 43 não-tireoidianas. (CHASTAIN, 2008; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; SCOTTMONCRIEF, 2010). Se o resultado continuar na variação normal a normal elevada e ainda se suspeitar da existência da doença, o ideal é determinar a concentração de T4 livre (por diálise), ou o teste de supressão de T3 ou a estimulação do hormônio liberador de tireotropina (TRH) (PETERSON, 2004; SCOTT-MONCRIEF, 2010). 2.7.4.2 Concentração Basal de Tiroxina Livre Os hormônios tireoidianos podem se encontrar ligados a proteínas transportadoras ou livres no plasma. Apenas a fração livre dos hormônios tireoidianos está disponível para entrar nas células, portanto, as determinações das concentrações do T4 livre são mais fidedignas do que as concentrações do T4 total. Além disso, as concentrações da T4 livre não tendem a se influenciar por outras doenças não tireoidianas que podem estimular a redução das concentrações de T4 total (CARDOSO, 2005a; NELSON, 2009; PETERSON, 2001; PETERSON, 2004). Notadamente, quando a concentração sérica total T4 é aumentada, a concentração de T4 livre é desproporcionalmente maior e isso pode estar relacionado, em parte, à saturação relativa de proteínas de ligação de T4 e subnormal concentração do princípio de ligação das proteínas (MOONEY, 2008). As concentrações séricas de T4 livre medidas pela diálise em equilíbrio são mais exatas (MOONEY; PETERSON, 2009). Em geral, as técnicas sem diálise são menos precisas, quase sempre subestimando a concentração de T4 livre e oferecem pouca vantagem sobre a medição da concentração total de T4 (PETERSON, 2004). A determinação de T4 por diálise é indicado com o teste de tiroxina total (TT4) em casos suspeitos de hipertireoidismo em que somente a mensuração do T4 total não permitiu o fechamento do diagnóstico (CHASTAIN, 2008; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). O achado de T4 livre por diálise é compatível com hipertireoidismo, entretanto, deve-se sempre utilizar dessa associação (TT4 +T4L) porque em alguns casos, por razões ainda desconhecidas, cerca de 10% dos gatos com doenças nãotireoidianas, que não possuem hipertireoidismo possuem concentrações elevadas de T4 livre (T4L) (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; GRAVES, 2009; NELSON, 2009; PETERSON, 44 2001; PETERSON, 2004). Nestes casos, os níveis de TT4 estariam baixos, visto que gatos com doença não-tireoidiana tem baixas concentrações séricas de TT4 (GRAVES 2006). Em um estudo comparando as concentrações de T4L nos gatos tanto com insuficiência renal crônica associada ao hipertireoidismo, quanta apenas insuficiência renal crônica, as concentrações de T4L mostraram-se elevadas, dando um falso positivo, no caso dos gatos eutireóideos. (MOONEY, 2008) Níveis altos de T4L associados com níveis normais á elevados de TT4 e sinais clínicos de hipertireoidismo, apoiam o diagnóstico de tireotoxicose. Quando o T4L aumenta e o TT4 encontra-se normal a reduzido, mesmo que o animal esteja apresentando sinais clínicos de hipertireoidismo, indica enfermidade não tireoidiana. (CARDOSO, 2005a; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; PETERSON, 2004; SCOTT-MONCRIEF, 2010) 2.7.4.3 Testes de Supressão de T3 Em gatos em que o TT4 eT4L apresentam-se dentro dos valores de referência mas ainda se suspeita de hipertireoidismo, deve ser considerado um teste de supressão com T3 (SCOTT-MONCRIEF, 2010). O teste de supressão de T3 avalia a resposta da secreção epifisária de TSH à supressão por liotireonina sódica (T3 sintético) (NELSON, 2006). A inibição da secreção do hormônio estimulante da tireóide (TSH) pelas elevadas concentrações dos hormônios tireoidianos é um processo fisiológico normal do eixo pituitário tireoidiano. Quando estes hormônios são administrados de forma exógena ocorre uma inibição da secreção de TSH. Ao contrário, quando a função tireóidea é autônoma a administração do hormônio tireoidiano possui pouco ou nenhum efeito sobre a função tireóidea, pois a secreção de TSH já foi suprimida de forma crônica (PETERSON, 2004). Para a realização deste teste uma amostra de sangue deve ser obtida para a determinação das concentrações séricas basais de T3 e T4 e ser resfriada. No dia seguinte, o proprietário deverá administrar por via oral, 25µg de liotironina sódica, (Cytomel ©), três vezes ao dia (8/8 horas) por dois dias, começando na manhã seguinte ao teste. Na manhã do terceiro dia o proprietário deve administrar mais uma dose, e conduzir seu animal para clínica e uma segunda amostra de soro deverá ser coletada, dentro de duas a quatro horas para as determinações de T3 e T4 séricos (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; NELSON, 2006). 45 Seria a melhor forma de distinguir gatos hipertireóideos dos normais ou daqueles gatos com doença não-tireóidea. Gatos normais, após a administração de T3 sintéticos, apresentam uma acentuada redução nas concentrações séricas de TT4, abaixo de 1,5 mcg/dL (20nmol/L). Ao contrário, gatos com tireotoxicose, apresentam um valor pós-teste de TT4 que não suprime e ainda permanece acima de 1,5 mcg/dL (20nmol/L) (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009, NELSON, 2006; PETERSON, 2004; SCOTT-MONCRIEF, 2010). Esse teste apresenta algumas desvantagens, como o tempo de diagnóstico relativamente longo, depender da cooperação dos donos na administração do medicamento e o fato dos gatos terem que engolir os comprimidos. Se a liotironina sódica não for administrada adequadamente, a concentração de T3 não se eleva de modo a reduzir a secreção de TSH pela hipófise e o valor de T4 sérico não reduz mesmo se o eixo hipófise-tireóide estiver normal, podendo levar no diagnóstico falso positivo do hipertireoidismo (PETERSON, 2004). 2.7.4.4 Testes de Resposta ao Hormônio liberador de tireotropina (TRH) A secreção hipofisária de TSH é cronicamente suprimida em felinos com hipertireoidismo. A administração intravenosa de TRH simulará a secreção hipofisária de TSH e causará um subsequente aumento na concentração sérica de T4 em felinos com eixo hipófise-tireóide normal. (NELSON, 2006). Deve-se administrar, via endovenosa, 0,1 mg/kg de TRH e quatro horas depois coletar uma amostra de soro para a determinação das concentrações de TT4 (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). Os felinos com hipertireoidismo discreto apresentam pouco, ou nenhum aumento, nas concentrações da TT4 sérica após administração do TRH exógeno (Relefact TRH®, HoeschstRoussel Pharmaceuticals®; Thypinone®) enquanto gatos normais ou com doença nãotireoidiana apresentam um aumento, de até duas vezes mais, na concentração sérica de T4 pósteste (PETERSON, 2004). A resposta de T3 sérico ao TRH não tem tanta utilidade, pois a mesma é incapaz de diferenciar animais sadios de animais enfermos (PETERSON 2004). Este teste pode ser mais vantajoso que o teste de supressão de T3, porque é realizado em um tempo menor, não precisa de auxílio do proprietário e evita a administração de comprimidos. A grande desvantagem é que após a administração do TRH os animais podem 46 apresentar efeitos indesejáveis como vômito, salivação, defecação e taquipnéia por um curto tempo (MOONEY; PETERSON, 2009). Foi relatado que o TRH provoca esses efeitos nos gatos pela ativação de mecanismos colinérgicos e catecolaminérgicos centrais, e também por um efeito neurotransmissor direto do próprio TRH sobre locais específicos de ligação central do TRH (PETERSON, 2004). 2.7.4.5 Testes de Resposta ao Hormônio Estimulador da Tireóide (TSH) O TSH exógeno é um potente estimulador da secreção do hormônio da tireóide. (MOONEY; PETERSON, 2009) Este teste baseia-se na administração do TSH exógeno, tendo o objetivo de estimular a secreção dos hormônios tireoidianos por ação direta na glândula tireóide. Os gatos portadores de tireotoxicose de forma clínica moderada a grave não respondem a este teste, pois os níveis de T3 e T4 já se encontram elevados por ação autônoma da glândula tireoidiana, porém os gatos normais podem ter um aumento de forma abrupta dos níveis de T4 (PETERSON et al., 1983; PETERSON, 2004). No entanto, estudos mais recentes, consideram esse teste obsoleto. Na visão de alguns pesquisadores, os felinos com concentrações séricas equivocadamente elevadas de tendem a produzir resultados que são indistinguíveis dos animais saudáveis e, portanto, esse teste não seria recomendado para avaliar o hipertireoidismo. Além disso, o fato do TSH bovino não estar mais disponível para administração parenteral. Alguns estudos foram feitos com o TSH recombinante humano em gatos saudáveis e, embora pareça ser uma ferramenta segura e eficaz para substituir o TSH bovino, não foi ainda avaliada em felinos com hipertireoidismo e possui alto custo (MOONEY; PETERSON, 2009). 2.7.5 Radiografia Torácica Apesar da glândula tireóide não ser visível radiograficamente, as radiografias podem revelar alterações cardíacas, visto que o hipertireoidismo provoca alterações no sistema cardiovascular. No exame radiográfico de tórax de gatos com hipertireoidismo, pode-se 47 observar cardiomegalia (de leve a grave) devido à cardiomiopatia hipertrófica, derrame pleural, edema pulmonar, ou, raramente doença mediastinal ou neoplasia metastática. (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). A radiografia de tórax fornece subsídios essenciais para completa avaliação e diagnóstico de doenças ou alterações cardíacas primárias e secundárias, como por exemplo, a dilatação cardíaca secundária ao hipertireoidismo. As radiografias torácicas também podem sugerir o prognóstico e a terapia a ser instituída, servindo como meio de acompanhamento da evolução da doença (CARDOSO, 2007; CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009; MOONEY; PETERSON, 2009). A determinação do tamanho cardíaco é importante na avaliação dos pacientes com doenças cardíacas, visto que o aumento da silhueta cardíaca nas radiografias torácicas é indicativo de alterações cardíacas. As mensurações apresentam como vantagens a possibilidade de serem utilizadas sem dificuldades por profissionais, facilitando a avaliação da silhueta cardíaca, e diminuindo a subjetividade da avaliação cardíaca (CARDOSO, 2007). Através dos valores da “vertebral scale system” (VHS), pode se analisar, através de radiografias torácicas o espaço que o coração ocupa no tórax e sua relação com as outras estruturas torácicas. O VHS consiste em determinar o valor absoluto e relativo do tamanho cardíaco. Este método consiste em correlacionar o tamanho cardíaco com estruturas esqueléticas como vértebras torácicas e esternebras. Nas mensurações cardíacas há relação das dimensões do coração com o comprimento das vértebras torácicas, portanto, o VHS é uma boa ferramenta na avaliação da progressão da doença cardíaca (CARDOSO, 2007). A projeção lateral parece ser mais eficiente que as projeções dorso-ventral (DV) e ventro-dorsal (VD) na avaliação cardíaca, quando se utiliza o VHS para mensuração cardíaca em gatos com tireotoxicose experimental. A progressão da doença cardíaca tireotóxica provoca aumento do VHS lentamente progressivo e, este aumento aparentemente relaciona-se à cronicidade da doença e não às concentrações séricas dos hormônios tireoidianos. Sugere-se que o período de evolução do hipertireoidismo está relacionado ao aumento do VHS e não somente as concentrações séricas dos hormônios (CARDOSO, 2007). 48 2.7.6 Ultrassonografia A ultrassonografia de alta resolução é útil para o diagnóstico de nódulos da tireóide e paratireóide, auxiliando na detecção dos lobos anormais da tireóide, na mensuração do seu volume e ainda na determinação se a hiperplasia é uni ou bilateral. Também auxilia no manejo clínico de pacientes com carcinomas, adenomas, neoplasias primárias e hiperplasia de tireóide e paratireóide (BARBERET; SAUNDERS, 2010; WISNER; NYLAND, 1998). A glândula tireóide normal em felinos mede em torno de 200 mm3 e se apresenta na ultrassonografia como dois lobos moderadamente fusiformes, ecogênicos e homogêneos, limitada por uma fina fáscia hiperecóica. Em gatos com hipertireoidismo, o volume total da glândula pode ser maior do que 800mm3, os lobos tireoidianos podem tornar-se muito aumentados e muito arredondados, devido a um aumento dramático na espessura. Os lobos também podem aparecer de forma difusa, hipoecóicos e/ou heterogêneos (BARBERET; SAUNDERS, 2010). A ultrassonografia, além de ser um diagnóstico barato, de fácil execução, não é um procedimento invasivo e pode colaborar muito com os demais métodos de avaliação do hipertireoidismo, levando a um diagnóstico mais preciso (WISNER; NYLAND, 1998). 2.7.7 Ecocardiografia As alterações cardíacas, muitas vezes encontradas nos gatos com hipertireoidismo, podem ser identificadas e monitoradas tanto através da técnica da eletrocardiografia quanto pela ecocardiografia (FELDMAN; NELSON, 1996). O hipertireoidismo comumente acarreta alterações cardiovasculares, tais como taquicardia, sopro sistólico, arritmias e aumento das câmaras cardíacas. Aproximadamente de 10 a 15% dos gatos sintomáticos evoluem para um quadro de insuficiência cardíaca congestiva. O exato mecanismo para as anormalidades cardíacas não é claro, mas parece envolver a combinação da ação direta dos hormônios tireoidianos sobre o coração, as interações entre os hormônios tireoidianos e o sistema nervoso simpático e as mudanças cardíacas compensatórias à alteração da função de tecidos periféricos. As alterações ecocardiográficas mais frequentemente observadas em gatos com hipertireoidismo endógeno 49 demonstram que são: a hipertrofia da parede livre do ventrículo esquerdo, hipertrofia do septo interventricular, dilatação atrial ou ventricular esquerda e aumento da fração de encurtamento (OLIVEIRA, 2010). O ecocardiograma está indicado em gatos com hipertireoidismo que possuem evidências de doença cardíaca grave, como cardiomegalia, edema pulmonar, derrame pleural, ou arritmias cardíacas. O ecocardiograma, muitas vezes, evidenciam cardiomiopatia hipertrófica leve em gatos sem outros sinais de insuficiência cardíaca (SCOTT-MONCRIEF, 2010). A hipercontratilidade do miocárdio, como indicada pelo aumento da fração de encurtamento e velocidade do encurtamento circunferencial das fibras, também é comum. Raramente, o hipertireoidismo está associado a uma forma de cardiomiopatia dilatada com evidência ecocardiográfica da redução da contratilidade do miocárdio e dilatação ventricular acentuada. Isso é normalmente acompanhado por insuficiência cardíaca congestiva grave (MOONEY; PETERSON, 2009). Em um estudo experimental recente, foi comprovada a ocorrência de efeitos cardiovasculares secundários à elevação dos níveis séricos dos hormônios tireoidianos, verificando-se uma diminuição da luz ventricular estatisticamente significativa, tanto na sístole, quanto na diástole. Segundo esse estudo, possivelmente manifestações clínicas mais severas e alterações na função sistólica do coração sejam evidenciadas apenas em estágios mais crônicos de tireotoxicose, nos quais um diagnóstico clínico tardio pode agravar os efeitos cardiovasculares dessa enfermidade. E alterações cardiovasculares, quando tardiamente diagnosticadas em gatos com hipertireoidismo, podem desencadear marcantes alterações no miocárdio ventricular, dilatação atrial e prejuízo nas funções sistólica e diastólica. Neste estudo, foi caracterizado que, em estágios iniciais de tireotoxicose, pode-se observar somente diminuição do diâmetro ventricular. Tal achado pode sugerir uma alteração cardíaca precoce em gatos com tireotoxicose, sendo um alerta ao clínico quanto à possibilidade da doença, o qual pode evitar um diagnóstico tardio e possíveis complicações das alterações cardiovasculares (OLIVEIRA 2010). 50 2.7.8 Eletrocardiograma Clinicamente as alterações eletrocardiográficas associadas com hipertireoidismo felino são importantes no auxílio ao diagnóstico diferencial das doenças cardíacas nos gatos, principalmente, quando no exame físico forem detectadas arritmias cardíacas. Em alguns casos, os sinais cardiovasculares podem ser predominantes, dificultando a diferenciação entre uma doença cardíaca primária de uma miocardiopatia tireotóxica (MOONEY; PETERSON, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). Nas avaliações eletrocardiográficas os sinais de taquicardia e aumento da amplitude da onda R na derivação II são alterações muito frequentes. Prolongamento do intervalo QRS, arritmias atrial e ventricular, diminuição do intervalo Q-T, distúrbios de condução intraventricular e pré-excitação ventricular também podem estar presentes (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). 2.7.9 Pressão sanguínea A hipertensão ocorre até 87% dos gatos com hipertireoidismo, sendo mais provável nos casos avançados de tireotoxicose (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). O diagnóstico da hipertensão em gatos com hipertireoidismo nem sempre é fácil. Em gatos normais, a medição da pressão arterial é bastante confiável, utilizando oscilometria ou Doppler. Ambos tem boa correlação com medidas intra-arterial. A medição da pressão arterial requer experiência, habilidade e paciência, e quando a pressão arterial é medida em um ambiente relativamente calmo, e por um bom operador, 150 mmHg é geralmente usado como limite para pressão sistólica normal, e 95 mmHg é considerado o limite superior limite da normalidade para a pressão diastólica (GRAVES, 2009). 51 2.7.10 Cintilografia Tireoidiana A cintilografia da tireóide é uma poderosa técnica de imagem para visualizar tumores da tiróide Os gatos com hipertireoidismo que podem ter seu diagnóstico confirmado após a visualização da imagem cintilográfica da glândula tireóide alterada, associado a elevados níveis de hormônios tireoidianos (MOONEY, 2001). É usada naqueles felinos com sinais característicos de hipertireoidismo, mas com concentrações séricas de T4 ainda não definidas. É útil na localização de tumores impalpáveis no diagnóstico de carcinoma da tireóide, cálculo da dose de radioiodo e escolha do melhor protocolo de tratamento, principalmente, por auxiliar no prognóstico de sucesso ou risco de hipocalcemia que se desenvolve após a tireoidectomia (NELSON, 2006). Além disso, é valiosa para detectar metástase regional ou distante do carcinoma tireóide funcional causando hipertireoidismo felino (CHASTAIN, 2008; PETERSON, 2004). A técnica de cintilografia indica com precisão o hipertireoidismo e evidente e oculto, além disso, ainda determina, se o adenoma ou hiperplasia é uni ou bilateral, se um ou ambos os lobos da tireóide foram afetados (CRYSTAL; NORSWARTHY, 2009; MUCHA et al., 2005). Os felinos com hipertireoidismo geralmente apresentam aumento na captação tireoidiana do iodo radioativo (I¹³¹, I¹²³) ou tecnécio-99 como o pertecnetato (Tc99m). As porcentagens de absorção podem ser calculadas sendo ambas fortemente correlacionadas, fornecendo um meio de diagnóstico extremamente sensível para o hipertireoidismo (MOONEY; PETERSON, 2009). Para realizar a cintilografia da tireóide, o especialista injeta no gato uma pequena dose de um marcador radioativo por via subcutânea. Durante a hora seguinte, as glândulas salivares do gato e glândulas de tireóide absorvem o marcador. Em seguida, emite raios gama (onda eletromagnética de alta energia, um pouco mais forte que um raio X), que são detectados por uma câmara gama para formar uma imagem. Portanto através dessa técnica é promovida uma varredura dos lobos tireoidianos, e com isso é observada a imagem, delineada, dos mesmos com ou sem alterações (Figura, 11) (BARBER, 2007). Apesar de ambos produzirem imagens da tireóide semelhantes, existem mais vantagens em se utilizar o pertecnetato, pois devido à sua rápida captação, o procedimento de captação da imagem pode começar 20 minutos após a administração, ao contrario das 4 a 24 horas do iodo para o I¹²³ e o I¹³¹, respectivamente, além disso, altas doses de Tc99m podem ser administradas, de forma segura, sem que libere altas 52 doses de radiação, assim, a varredura pode ser completada mais rapidamente do que com o iodo radioativo (PETERSON, 2004). O Tc99m tem uma meia-vida física curta (6 horas), é concentrado nas células foliculares da tireóide funcionais, e reflete o mecanismo de captação da glândula. As drogas antitireoidianas não afetam o mecanismo de captura da bomba tireoidiana e, assim, o Tc99m ainda se concentra na tireóide, mesmo depois do completo impedimento da síntese do hormônio tireóideo por drogas antitireoidianas (NELSON, 2006). Figura 12: Varredura da glândula tireóide de um gato com adenoma unilateral, do lado direito da tireóide. Fonte: http://rst.gsfc.nasa.gov/Intro/Part2_26d.html Quando a imagem, dos lobos da tireóide, for mais escura do que a imagem das glândulas salivares será diagnóstica de hipertireoidismo (CHASTAIN, 2008). Gatos com hipertireoidismo apresentam crescimento de um ou dos dois lobos tireoidianos, que são visualizados por apresentarem maior intensidade na absorção de um dos dois radiofármacos, quando apenas um lobo é afetado pode levar a supressão do lobo oposto não sendo observadas imagens do lobo suprimido. Em animais que apresentam sinais clínicos, mas não é possível palpar os lobos tireoidianos, pode ser observada alguma imagem na região torácica indicando que os lobos afetados deslocaram-se para esta região (PETERSON et al., 1983). 53 No entanto, além da despesa e das dificuldades em lidar com radioisótopos, são necessários equipamentos médicos computadorizados sofisticados e requer a sedação do animal Apenas algumas clínicas especializadas têm o equipamento e licenças especiais necessárias para a realização de cintilografia (MOONEY; PETERSON, 2009). 2.7.11 Tomografia A tomografia pode ser usada como diagnóstico alternativo quando não se tem acesso à medicina nuclear ou quando não se deseja usar a radiação para detectar o hipertireoidismo. Ainda constitui um meio de diagnóstico para diferenciar carcinoma de hiperplasia adenomatosa (CORGOZINHO et.al. 2009). 2.8 TRATAMENTO O tratamento do hipertireoidismo em gatos consiste em controlar o excesso de hormônio produzido pela glândula tireóide afetada já que se desconhece a patogênese (CORGOZINHO et al,. 2009). Esse controle pode ser feito através da tireoidectomia cirúrgica do lobo acometido, com administração crônica de fármacos que diminuem a produção do hormônio ou com a destruição do tecido anormal da tireóide, pela administração do iodo radioativo (I¹³¹) (CORGOZINHO et al,. 2009; DUDDY, 2001; MOONEY; PETERSON, 2009). Existem vantagens e desvantagens associadas com cada tipo de tratamento que devem ser levadas em consideração no momento de escolha do tipo de tratamento (PETERSON; 2004). A terapia deve ser individualizada, levando em conta vários fatores, tais como idade, severidade da tireotoxicose, presença de doença concomitante, potenciais complicações, custo e aceitação do tratamento pelo proprietário (RECHE JR et.al. 2007; PETERSON, 2004; SCOTT-MONCRIEF, 2010). O uso dos fármacos antitireóideos apenas bloqueia a síntese do hormônio da tireóide, não destrói o tecido tireóideo adenomatoso e, assim sendo, a recidiva do hipertireoidismo ocorre invariavelmente dentro de 24 a 72 horas após a interrupção do medicamento. Apenas a 54 cirurgia e o iodo radioativo removem e destroem o tecido adenomatoso da tireóide, respectivamente, portanto curam o hipertireoidismo (DUDDY, 2001; LÉCUVER et.al., 2006; PETERSON, 2004). Animais com concomitante aumento de uréia e creatinina devem ser avaliados minuciosamente para o controle definitivo do hipertireoidismo (cirurgia ou iodo radioativo). O hipertireoidismo diminui a resistência vascular periférica e aumenta o débito cardíaco, levando ao aumento do fluxo plasmático glomerular e ao consequente aumento da taxa de filtração glomerular. Ao retornar ao estado eutireóideo, ocorre diminuição da taxa de filtração glomerular e o aumento das concentrações séricas de creatinina e uréia. Cerca de 30% dos gatos desenvolvem azotemia trinta dias após o retorno do quadro eutireóideo, mas a azotemia tende a permanecer estável na maioria dos pacientes. A presença da tireotoxicose em pacientes hipertireóideos renais deve ser levada em consideração para tratar esses pacientes, desde que os sinais não estejam relacionados à doença renal (CORGOZINHO et al., 2009). As doenças cardíacas secundárias ao hipertireoidismo exigem terapia definitiva. Doses adequadas de iodo radioativo podem fornecer a melhor terapia e o melhor custo-benefício disponível no momento. A cirurgia pode ser curativa em locais onde o I131 não está disponível, mas é importante lembrar que cerca de 15% a 20% dos gatos com hipertireoidismo têm tecido tireoidiano ectópico que geralmente não serão removidos na tireoidectomia, e esses gatos terão alto risco de hipertireoidismo recorrente (KEENE, 2011). 2.8.1 Fármacos Antitireoidianos O manejo médico crônico é uma opção de tratamento para muitos gatos. As drogas antitireoidianas orais não são caras, não necessitam de instalações especiais, estão prontamente disponíveis, são relativamente seguras e eficazes no tratamento do hipertireoidismo em felinos, além de evitarem anestesia (SCOTT-MONCRIEF, 2010). Inibem a síntese do hormônio tireoidiano, bloqueando a ligação do iodo dentro dos grupos tirosil na tireoglobulina e impedindo a ligação destes grupos iodotirosil no T3 e T4, inibindo assim a síntese de hormônios tireoidianos (DUDDY, 2001; MOONEY; PETERSON, 2009; NELSON, 2006). Esses fármacos não impedem a capacidade da glândula de concentrar o iodo inorgânico, não interferem na ação dos hormônios já presentes na circulação e nem destroem os tecidos tireoidianos hiperfuncionais (PETERSON, 2004). Os felinos com hipertireoidismo 55 devem ser tratados inicialmente com drogas antitireoidianas orais, para reverter perturbações metabólicas e cardíacas induzidas pelo hipertireoidismo, diminuir o risco anestésico associado à tireoidectomia e avaliar o impacto do tratamento na função renal (NELSON, 2006). No entanto, além de não serem curativos, se tornam altamente dependentes do proprietário e o animal deve ser acompanhado regularmente, com exames bioquímicos regulares para garantir a eficácia do tratamento (CRYSTAL; NORSWARTHY, 2009). E por serem administrados rotineiramente por via oral, a aceitação pode ser problemática, particularmente em gatos nervosos ou por aqueles que vomitam ou desenvolvem inapetência associada ao tratamento (PETERSON, 2004). É, portanto, muitas vezes reservado aos gatos de idade avançada ou com doenças concomitantes ou quando os proprietários se recusam o procedimento cirúrgico ou as instalações não estão disponíveis para a cirurgia ou para o uso do iodo radioativo (MOONEY; PETERSON, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). 2.7.1.1 Metimazol (Tapazol©) O metimazol é frequentemente a droga antitireoidiana de escolha, porque a incidência de reações adversas associadas ao seu uso é menor e também pela simples razão do declínio da função renal que, ocorre após o tratamento do hipertireoidismo, poder ser reversível no uso do metimazol (GRAVES 2006; NELSON, 2006). Qualquer que seja a forma de administração do metimazol, ele é ativamente concentrado pela glândula tireóide, na qual inibe a síntese do hormônio tireóideo, porém não há liberação do hormônio pré-formado. Tem boa biodisponibilidade oral e uma meia-vida de 4 a 6 horas, apesar disso, o local onde exerce efeito (intratireoidiano) tem, provavelmente, ação por 20h, assim como acontece no ser humano. (MOONEY; PETERSON, 2009) A dose inicial do metimazol deve ser de 2,5 mg/gato, via oral, uma vez ao dia por 2 semanas. Após este período, em estudos anteriores, o metimazol administrado a cada 8 a 12 horas, dependendo da grave da tireotoxicose, foi bem sucedido na indução do eutireoidismo, dentro de 2 a 3 semanas (DUDDY, 2001; NELSON, 2006; MOONEY; PETERSON, 2009). Alguns estudos avaliaram a eficácia da administração, em dose única diária de metimazol, para o tratamento do hipertireoidismo em gatos e concluíram que o resultado não foi tão eficaz quanto à administração duas vezes por dia (TREPANIER, 2003). Hoje o hipertireoidismo é, em muitas vezes, diagnosticado mais cedo e os animais são menos 56 afetados. Existe, portanto, uma maior tendência que o metimazol seja administrado apenas duas vezes por dia, em doses mais baixas de 2,5 a 5mg/gato (CORGOZINHO et.al. 2009). Antes da tireoidectomia, o tratamento com o metimazol é iniciado por via oral, com uma dose de 5mg, a cada 8 horas, e mantido por duas a três semanas. Por bloquear primariamente a organificação da tireóide, os hormônios estocados continuam a ser liberados e deve-se permitir que seus níveis sejam reduzidos, antes da cirurgia. Os níveis séricos de T4 começam a cair dentro de 24 às 48h de tratamento, mas deve-se confirmar antes da cirurgia, que estejam menores do que 4µg/dL. Se ocorrer apenas, um pequeno declínio nos níveis de T4, a dose pode ser aumentada para 20 a 30µg/dL (CHASTAIN, 2008; MOONEY; PETERSON, 2009). O hipertireoidismo aumenta o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular. Muitos gatos com hipertireoidismo possuem insuficiência renal que foi estabilizada pelo aumento da taxa de filtração glomerular, produzida pelo hipertireoidismo. Assim, quando esses são efetivamente tratados para o hipertireoidismo, a insuficiência renal concorrente pode tornar-se clinicamente significante (CHASTAIN, 2008). O tratamento do hipertireoidismo por tireoidectomia cirúrgica bilateral causa uma queda consistente, e às vezes desastrosa, na taxa de filtração glomerular (TFG) e o mesmo acontece com o tratamento com radioiodo (TREPANIER, 2007). Por estas razões, se for encontrada qualquer indicação de prejuízo na função renal, o metimazol deve ser usado como ensaio reversível para o controle do hipertireoidismo (CHASTAIN, 2008). O uso constante de metimazol provoca uma diminuição da TFG em gatos com hipertireoidismo e essa queda pode, muitas vezes, desmascarar subjacente insuficiência renal crônica. Mas com o interrompimento da administração queda da TFG é reversível (ADAMS; 1997; GRAVES, 2006; TREPANIER, 2007). A manutenção de eutireoidismo por um mês, sem azotemia, pode ser suficiente para decidir por uma terapia definitiva (CHASTAIN, 2008). Há uma crença de que animais com alta densidade urinária teriam a função renal adequada e que não sofreriam prejuízos significativos da insuficiência renal, no pós-tratamento do hipertireoidismo com o iodo radioativo ou com a tireoidectomia, sendo, portanto, dispensável o uso do metimazol. Entretanto não há na literatura nenhum dado que sustente essa opinião, e a alta densidade urinária em gatos não é um bom indicador renal em gatos devido à ação diurética dos hormônios tireoidianos. Além disso, a densidade urinária não é indicador da TFG, mas sim um indicador da função tubular renal (GRAVES, 2010). Se o parâmetro renal permanecer estático ou melhorar devido à resolução do hipertireoidismo com metimazol, pode ser recomendado um tratamento permanente para o 57 hipertireoidismo, porém, se uma azotemia significante ou os sinais clínicos de insuficiência renal desenvolverem-se durante a terapia com metimazol, o protocolo de tratamento para a droga antitireoidiana deve ser modificado para alcançar o melhor controle possível de ambos os distúrbios e também ser instituído o tratamento para insuficiência renal (NELSON, 2006). O metimazol também está disponível para administração transdérmica em gel orgânico, o qual deve ser aplicado no pavilhão auricular (CHASTAIN, 2008). Entretanto, este produto é recomendado para o tratamento em curto prazo e no tratamento de gatos com sinais gastrintestinais relacionados à administração oral do metimazol (LÉCUVER et.al., 2006; SCOTT-MONCRIEF, 2010; TREPANIER, 2007). Além disso, em estudos mais recentes observou-se que a absorção do metimazol transdérmico era inferior ao metimazol oral (GRAVES, 2006). Os efeitos colaterais ocorrem em geral, entre as primeiras quatro a oito semanas de terapia. O felino deve ser examinado durante os três primeiros meses de tratamento com metimazol e exames como hemograma, contagem de plaquetas e avaliação da função renal devem ser realizadas a cada duas semanas. Usando este protocolo, efeitos colaterais como, vômito, letargia e anorexia ocorrem em menos de 10% dos felinos (NELSON, 2006). As alterações hepáticas são raras, mas quando presentes levam ao aumento da ALT, AST, FA e bilirrubina total. Algumas alterações hematológicas como eosinofilia, linfocitose, leucopenia temporária, trombocitopenia e agranulocitose (leucopenia grave com contagem total de granulócitos inferior a 250 células/ mm³), e escoriações e prurido facial, também podem ocorrer (ARMSTRONG, 2009). Esta dermatopatia é parcialmente responsiva ao corticóide, mas necessita de interrupção do metimazol para a resolução completa. As complicações raras da administração do metimazol incluem diátese hemorrágica, anemia hemolítica, doença de aglutinina fria (associada com necrose da ponta das orelhas externas) e miastenia grave adquirida. Embora a ocorrência dessas reações seja observada em menos de 3% dos felinos tratados com metimazol, sua ocorrência exige a interrupção imediata do tratamento. Essas reações adversas sérias geralmente recidivam rápido, porém uma terapia alternativa deve ser seguida para tais gatos. Caso estes efeitos venham a aparecer, o ideal é retirar o metimazol e manter um tratamento de suporte até que o quadro se normalize (PETERSON, 2004). 58 2.8.1.2 Carbimazol O carbimazol é uma droga antitireoidiana derivada do carbetóxi do metimazol, é um fármaco alternativo eficaz, se o metimazol não estiver disponível (BUCKNELL, 2000). Está disponível em muitos países da Europa e no Japão (MOONEY; PETERSON, 2009). A dose inicial recomendada é de 5 mg três vezes por dia durante duas a três semanas. As reações adversas são semelhantes àquelas vistas nos felinos tratados com metimazol, porém ocorrem com menor freqüência. A monitoração deve ser feita da mesma forma para os felinos que recebem metimazol (BUCKNELL, 2000; PETERSON, 2004; NELSON, 2006). Para tratamento de gatos com hipertireoidismo pode ser usado o carbimazol na dose de 5 mg com intervalo rigoroso de oito horas por duas a três semanas (BUCKNELL, 2000). 2.8.2. Drogas Alternativas Ocasionalmente, terapias alternativas são exigidas em gatos em função de reações adversas ao metimazol ou por outras razões específicas. Na maioria dos casos, essas terapias são de curto prazo e apenas recomendadas antes de se iniciar um tratamento permanente. (MOONEY; PETERSON, 2009) 2.8.2.1 Tratamento da Hipertensão em Gatos com Hipertireoidismo Embora o diagnóstico de hipertensão em gatos com hipertireoidismo seja difícil em muitos casos, uma vez que o diagnóstico seja estabelecido, a necessidade de tratamento é clara. Os medicamentos usados para tratar a hipertensão em gatos são divididos em três categorias: enzima conversora de angiotensina (ECA), antagonistas dos canais de cálcio e antagonistas β-bloqueadores (GRAVES, 2009; TREPANIER, 2007). Os β-bloqueadores, propranolol e atenolol, têm sido usados com freqüência em gatos com hipertireoidismo para controlar os sintomas de taquicardia, taquipnéia, hipertensão e hiperexcitabilidade associados com hipertireoidismo (GRAVES, 2009). Apesar de 59 tradicionalmente, ser considerado como sem efeito sobre as concentrações séricas dos hormônios tireoidianos, o propranolol pode inibir a conversão periférica de T4 para T3. Essas drogas são recomendadas quando se deseja um rápido controle dos sintomas clínicos, podendo ser utilizadas tanto em combinação com o iodo estável quanto com o metimazol. Isoladamente, são bons medicamentos para gatos que aguardam o tratamento com radiação ou nos casos em que existe defasagem no regresso ao estado de eutireoidismo após terapia. No entanto o propranolol e um bloqueador β-adrenérgico não seletivo e contra-indicado para gatos com asma preexistente descompensada ou insuficiência cardíaca congestiva. O atenolol é então frequentemente preferido porque é um agente bloqueador β-adrenérgico seletivo (GRAVES, 2009; CHASTAIN, 2008; MOONEY; PETERSON, 2009). A amlodipina é um antagonista dos canais de cálcio, e considerada a droga de escolha para o tratamento de hipertensão grave em gatos com hipertireoidismo. A droga é bem tolerada e age inibindo a entrada de cálcio nas células da musculatura lisa, diminuindo a proteinúria e resultando em relaxamento muscular arterial (GRAVES,2009). O uso de inibidores da ECA no tratamento da hipertensão em gatos com hipertireoidismo parece convincente. Em geral, enalapril e benazapril são menos eficazes do que a amlodipina, mas há evidências crescentes de que o benazapril tem efeitos muito benéficos sobre os rins. Quando a hipertensão em gatos com hipertireoidismo não for persistente nem grave, os inibidores da ECA podem exercer um efeito anti-hipertensivo adequado nestes gatos. Ramipril tem sido avaliada para uso em gatos hipertensos. Este medicamento é mais potente do que outros inibidores da ECA, exigindo doses menores da droga para conseguir um efeito anti-hipertensivo, mas seus efeitos sobre os rins ainda são desconhecido (GRAVES, 2009). Uma vez que o hipertireoidismo tenha sido corrigido, a terapêutica para a hipertensão deve ser reduzida enquanto se reavalia a pressão sanguínea, a menos que esteja ocorrendo doença renal. O tratamento eficaz do hipertireoidismo irá resultar na correção da hipertensão, na maioria dos gatos (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009) 2.8.2.2 Iodo Estável Grandes doses de iodo estável (I127) reduzem de maneira acentuada, a taxa de síntese do hormônio tireóideo e sua liberação, embora esses efeitos sejam erráticos, inconsistentes, de 60 curta duração e possam ocorrer escapes da inibição. Além disso, é contra-indicado antes da administração do iodo radioativo e está associado a uma elevada incidência de reações adversas, como salivação excessiva e anorexia parcial ou completa (MOONEY; PETERSON, 2009). Por essas razões não é utilizado como única terapia, mas geralmente em associação com agentes bloqueadores β-adrenérgicos tratamento pré-operatório dos gatos que não toleram o metimazol (PETERSON, 2004). O iodo deve ser administrado na dosagem de 30 a 100mg por dia em dose única ou dividida por 10 a 14 dias antes da cirurgia (PETERSON, 2004). Uma vantagem relatada ao iodo estável é seu efeito sobre diminuição da vascularização e fragilidade da glândula tireóide, mas isso é controverso. (MOONEY; PETERSON, 2009) 2.8.2.3 Agentes Colecistográficos O ipodato é um agente contrastante colecistográfico oral que contém iodo e possui efeitos antitireóideos, diminuindo a produção de T4 (MOONEY; PETERSON, 2009). É ideal para gatos que não conseguem tolerar o metimazol e não são pacientes indicados para a cirurgia ou para radioterapia (PETERSON, 2004). Seu efeito principal é inibir a conversão periférica de T4 em T3, por inibição da desiodinase do anel externo. A diminuição do efeito é possível após três meses de tratamento e, por conseguinte, o ipodato de cálcio é apenas uma alternativa ao iodo estável no curto prazo na preparação para a cirurgia (MOONEY; PETERSON, 2009). A dose inicial recomendada é de 100mg por dia a cada doze ou vinte e quatro horas (PETERSON 2004). O ipodato pode ser benéfico para a gerência aguda da tireotoxicose em alguns gatos, mas não é adequado para a gestão de longo prazo (GALLAGHER; PANCIERA, 2011). 61 2.8.3 Injeção Percutânea do Etanol A infusão intratireoidiana de etanol, orientada por ultra-som, em tecido tireóideo hiperfuncional e hipertrofiado provoca morte tecidual por necrose e eventual indução de eutireoidismo (MOONEY; PETERSON, 2009). Uma única aplicação em casos de comprometimento unilateral de preferência guiado por um ultra-som é eficaz na indução do eutireoidismo em gatos hipertireoideos. As aplicações bilaterais apresentam menos êxito no tratamento do hipertireoidismo. O etanol (100%) deve ser injetado lentamente até se difundir por todo lobo, isso leva em torno de 10 minutos e o volume injetado varia, em geral, de 25 a 100% do volume da massa calculada (PETERSON, 2004). No entanto, a redução das concentrações T4 é transitória e os efeitos colaterais incluem Síndrome de Horner, paralisia laringiana, êmese e disfonia (MOONEY; PETERSON, 2009; PETERSON, 2004), não sendo, portanto um tratamento muito recomendado para o hipertireoidismo em felinos. (GRAVES, 2006) 2.8.4 Iodo Radioativo Outra técnica, amplamente considerada, o tratamento de escolha na maioria dos casos, é iodo radioativo. Isto envolve uma dose única (geralmente subcutânea) de iodo radioativo, que é captado exclusivamente pela glândula tireóide hiperativa (ARMSTRONG, 2009). Pode ser mais seguro e efetivo que a tireoidectomia em muitos gatos, pois não são necessários anestésicos e não ocorre hipoparatireoidismo, além de constituir um procedimento de salvamento valioso, quando a tireoidectomia não for curativa (CHASTAIN, 2008; CORGOZINHO et al.,2009). Os hormônios tireóideos são os únicos compostos orgânicos iodados no organismo, portanto, a única função do iodo ingerido (iodo estável, I127) é a incorporação no hormônio tireóideo. A tireóide é o único tecido no organismo que capta o iodo estável da circulação e o concentra (PETERSON, 2004). O radioisótopo utilizado é o iodo 131 (I131), como o iodo estável, é concentrado de forma ativa pela glândula tireóide, possui meia-vida de 8 dias e emite partículas β e radiação γ. As partículas β destroem o tecido hiperfuncionante da tiróide 62 sem causar danos aos tecidos normais circundantes, nas glândulas paratireóides ou em outras estruturas cervicais (PETERSON, 2004; MOONEY; PETERSON, 2009; SCOTTMONCRIEF, 2011), pois essas partículas não se movimentam mais de 2mm nos tecidos (DUDDY, 2009). O I131 pode ser administrado por via intravenosa ou oral, mas a via subcutânea é preferível e igualmente eficaz já que é não associada a efeitos colaterais gastrointestinais, é segura para seres humanos e, se necessário pode ser realizada sob sedação leve, evitando assim a anestesia (MOONEY; PETERSON, 2009). O método ideal para determinar a quantidade de radioatividade necessária para o tratamento eficaz permanece controvertido (PETERSON, 2004). Atualmente, o método mais popular e bem sucedido em mais de 90% dos casos, é a estimativa da dose baseada num sistema que inclui a gravidade da tireotoxidade clínica, a elevação do T4 total circulante e o tamanho do bócio estimado pela palpação (MOONEY; PETERSON, 2009). Porém, qualquer que seja o método usado, a dose de radiação liberada para a tireóide é determinado por três fatores: a fração do radioiodo administrado captado pela glândula, a velocidade de liberação do radioiodo da glândula e a massa (peso) da glândula (PETERSON, 2004). O principio do tratamento é administrar uma única dose de I131, que restaurará o eutireoidismo, evitando o aparecimento do hipotireoidismo. Tradicionalmente isso envolve a administração de uma única dose de I131, marcada para determinar diferentes parâmetros da cinética do iodo, antes calculados pela dose terapêutica (MOONEY; PETERSON, 2009). Existem poucas complicações na terapia com I131. O hipotireoidismo persistente – mais comum em gatos seriamente afetados com o bócio e extremas elevações nas concentrações séricas de TT4 - pode ser bem controlado com aplicações repetidas. O hipertireoidismo persistente é raro, assim como a recidiva após o tratamento bem sucedido e outros efeitos colaterais. Mas existem várias desvantagens como a necessidade de hospitalização de aproximadamente quatro a oito semanas (MOONEY; PETERSON, 2009; SCOTT-MONCRIEF, 2010). A principal desvantagem é a necessidade de longo tempo internação do animal, em geral, por sete a dez dias após o procedimento, a obrigatoriedade de equipamentos e de pessoas especializadas, de seguir rigorosamente as normas de segurança quanto à exposição à radiação, à exigência para licenciamento especial, a escassez de instalações que possam oferecer este tratamento, e os altos custos desse tratamento podendo, assim, limitar o seu uso (ARMSTRONG, 2009; CORGOZINHO et al., 2009). 63 O prognóstico dos animais tratados com iodo radioativo é excelente (Figura 13) (MOONEY; PETERSON, 2009). A cura do paciente ocorre em 80% dos casos, 10% não respondem e 10% desenvolvem hipotireoidismo (CUNHA et al., 2008) o que ocorre, com maior freqüência nos animais com acometimento bilateral da glândula (NYKAMP et al., 2005) Figura 13: Fotografia de um gato antes e depois do tratamento com o iodo radioativo Fonte: http://animalendocrine.blogspot.com/search/label/Hyperthyroidism 2.8.5 Cirurgia A tireoidectomia cirúrgica é um procedimento cirúrgico de remoção da glândula tireóidea. Indicada para tumores malignos e benignos ou hiperplasia das glândulas da tiróide (RADLINSKY, 2007). É um tratamento extremamente eficaz para o hipertireoidismo por ser simples, curativa, pela resposta rápida ao tratamento, curto período de internação do animal e oportunidade de avaliar o tecido removido da tireóide histopatologicamente (SCOTTMONCRIEF, 2011). Na prática, tem sido considerado o tratamento de eleição, particularmente se o iodo radioativo estiver indisponível (MOONEY; PETERSON, 2009). Oferece cura permanente sem tratamento medicamentoso contínuo, além de não necessitar de equipamento especializado (CUNHA et al., 2008). O tratamento cirúrgico sempre inclui os riscos reais de uma cirurgia e os riscos da anestesia, principalmente para gatos mais velhos (ARMSTRONG, 2009). Anestesiar um gato 64 com hipertireoidismo acarreta um risco significativo de complicações cardíacas e metabólicas graves o suficiente para causar a morte (MOONEY; PETERSON, 2009). Para tanto, utiliza-se um protocolo anestésico com mínimo efeito cardiovascular adverso ao paciente e, realiza-se a estabilização pré-operatória, a fim de corrigir principalmente a hipocalemia e as alterações cardíacas (CUNHA et al., 2008), através de um tratamento metimazol por duas a seis semanas, o que pode diminuir os riscos da anestesia. Se o tratamento metimazol não for possível, um β-bloqueador pode ser usado em gatos com taquicardia grave ou arritmias supraventriculares (DUDDY, 2001). A acepromazina pode ser usada como pré-medicação, pois tem propriedades antiarrítmicas. Ainda que, existam estudos contra o uso de drogas que potencializem a atividade adrenérgica, capazes de induzir taquicardia e arritmias, como a xilazina e a quetamina (MOONEY; PETERSON, 2009), outros asseguram que o uso da quetamina é seguro e efetivo (CORGOZINHO et al. 2009; FLANDERS, 1999). Também pode utilizar o propofol para a indução anestésica. O ideal é manter a anestesia com o isoflurano, evitando o halotano em virtude de seus efeitos adversos sobre as taquiarritmias (CHASTAIN, 2008). O menor tempo e a monitoração são essenciais. A arritmia ventricular é uma possível complicação, especialmente se o hipertireoidismo não for controlado de maneira adequada antes da cirurgia. Se tais arritmias persistirem, deve-se diminuir o anestésico, ventilar o animal com alto teor de oxigênio e se mesmo assim ela persistir, administrar pequenas doses de propranolol por via, intravenosa na dose de 0,1 mg/gato (CORGOZINHO et al. 2009; MOONEY; PETERSON, 2009). Há várias técnicas de tireoidectomia descritas. O acesso á tireóide e o fechamento do foco cirúrgico são o mesmo para todas as técnicas. O animal é posicionado em decúbito dorsal e, é realizada uma incisão ventral na pele feita da laringe ao manúbrio. Os músculos esternoioideo e esternotireoideo, são separados, por dissecação romba na linha média, e suavemente retraída (FLANDERS, 1999). Ambos os lobos da tireóide e glândulas paratireóides externas podem, então serem visualizados antes da excisão. O nervo laringiano recorrente direito, que reside nas proximidades da glândula tireóide direita pode ser identificado e evitado. Após a tireoidectomia, o campo cirúrgico deve ser cuidadosamente examinado para a hemostasia, antes de a incisão ser fechada (MOONEY; PETERSON, 2009). As fibras musculares são aproximadas, após a remoção da tireóide, com fio absorvível em padrão contínuo, ou separado. O tecido subcutâneo é aproximado da mesma forma e a pele é fechada com fio inabsorvível (CORGOZINHO et al. 2009). Alguns cirurgiões removem apenas o lobo ou lobos acometidos, enquanto outros dão preferência à tireoidectomia bilateral em todos os gatos hipertireóideos (SCAVELLI; 65 PETERSON, 1998). O envolvimento bilateral ocorre em mais de 70% dos casos, portanto a maioria dos gatos necessita de tireoidectomia bilateral. Em muitos desses casos, o aumento dos lobos não é simétrico e o lobo menor pode não ser totalmente palpável. Assim, a decisão de se realizar uma tireoidectomia unilateral ou bilateral é em muitas vezes, tomada no momento da cirurgia. Em casos unilaterais, existe uma atrofia do lobo contralateral, mas a distinção entre o que é considerado normal e o que atrófico não está claramente definida (MOONEY; PETERSON, 2009). Por isso, se possível deve ser realizar uma imagem da tireóide, através da ultrassonografia ou da cintilografia com pertecnetato previamente à cirurgia, com a finalidade de identificar a localização do tecido tireóideo anormal, determinar se o envolvimento dos lobos é unilateral ou bilateral, verificar alterações na posição e se o local do tecido hiperfuncionante é ectópico/acessório ou se existem metástases distantes de um carcinoma da tireóide funcionante (MOONEY; PETERSON, 2009; NELSON, 2006; RADLINSKY, 2007). Se a tireoidectomia unilateral for realizada, é exigido um acompanhamento constante para avaliar a recorrência da doença (MOONEY; PETERSON, 2009). Há uma correlação direta entre o tamanho dos lobos tireóideos, a dificuldade de visualizar a glândula paratireóide externa e o risco de hipocalcemia. Deve-se tomar cuidado para preservar ao menos uma, mas preferencialmente ambas as glândulas paratireóides externas e suas devidas irrigações sanguíneas (NELSON, 2006). 2.8.5.1 Técnica Extracapsular Na técnica original extracapsular há a remoção do lobo da tireóide intacto e da cápsula com a ligadura da artéria tireóide cranial, enquanto tenta preservar o fornecimento de sangue à glândula paratireóide cranial. Essa técnica reduz de maneira significativa a taxa de recorrência, por retirar todo o tecido tireoidiano, mas está associada a uma elevada taxa de hipoparatireoidismo pós-cirúrgico (FLANDERS, 1999; MOONEY; PETERSON, 2009; SCAVELLI; PETERSON, 1998). Com intuito de preservar a glândula paratireóide, é realizada uma incisão de 300 graus ao redor da glândula paratireóide, pelo menos 2 mm de distância dessa glândula. Pode-se utilizar o eletrocautério para separar a glândula paratireóide, com cuidado para não lesionar a glândula ou sua vascularização. O suprimento sanguíneo tireoidiano caudal é ligado e 66 transeccionado. Essa técnica reduziu a hipocalemia pós-operatória em pacientes que passaram por tireoidectomia bilateral (CORGOZINHO et al. 2009; FLANDERS, 1999). 2.8.5.2 Técnica Intracapsular A técnica original intracapsular envolve a incisão através da cápsula da tireóide e dissecação romba de seu lobo. Como a cápsula persiste, preserva-se o fornecimento de sangue à glândula paratireóide cranial, no entanto há a possibilidade de reincidência em função da possibilidade de existir tecido tireoidiano remanescente e ocorrer recidiva do caso (MOONEY; PETERSON, 2009; SCAVELLI; PETERSON, 1998). Com intuito de reduzir o risco de retorno ao estado de hipertireoidismo, a técnica intracapsular foi modificada, realizando-se a remoção de quase toda a cápsula da tireóide. Nessa técnica, após a remoção do lobo tireoidiano, a cápsula tireoidiana é excisada próximo a glândula paratireóide externa, permanecendo um mínimo de tecido capsular. Em um estudo, a recidiva do hipertireoidismo ocorreu em 11 de 50 gatos submetidos à técnica de tireoidectomia intracapsular e em nenhum dos 30 animais submetidos à técnica intracapsular modificada (CORGOZINHO et al. 2009; FLANDERS, 1999). Não há diferença significativa na taxa de recorrência de hipocalcemia pós-cirúrgica entre essas duas técnicas modificadas. Ambas são igualmente consideradas adequadas para tireoidectomia bilateral em gatos (MOONEY; PETERSON, 2009). 2.8.5.3 Tireoidectomia com implantação da glândula Há relatos de outra técnica, que consiste na retirada total do lobo tireoidiano e na implantação da glândula paratireóide externa nas fibras do músculo esternoiodeo. Realiza-se a ligadura dos vasos tireoidianos craniais e caudais com fio absorvível 4-0 e a remoção do lobo tireoidiano juntamente com a glândula paratireóide externa. Esta é então separada completamente do lobo tireoidiano com bisturi, colocada em uma gaze embebida com solução salina. É realizada uma incisão de 0,5 a 1 cm no músculo esternoiodeo ipsalateral e a glândula 67 é colocada nesse músculo, que é saturado com um ponto simples e fio de nylon 3-0. (CORGOZINHO et al. 2009) Trinta dias são necessários para que a glândula paratireóide implantada seja revascularizada e revitalizada, antes da remoção do outro lobo tireóideo, caso o acometimento seja bilateral. Na realização da técnica bilateral, ocorre hipocalcemia pós-operatória e a reposição de cálcio e vitamina D se torna obrigatória até que a função da paratireóide volte ao normal (Ibidem). 2.8.5.4 Tireoidectomia em etapas É indicada para evitar o hipoparatireoidismo pós-cirúrgico quando os dois lobos da tireóide precisam ser retirados. Retira-se um lobo e após três a quatro semanas, retira-se o outro, permitindo que a glândula paratireóide se recupere do trauma cirúrgico (ARMSTRONG, 2009; FLANDERS, 1999). E no caso da tireoidectomia com implantação da glândula paratireóide, permite a revascularização da glândula implantada (CORGOZINHO et al., 2009). 2.8.5.5 Complicações Pós-operatórias Algumas complicações podem ocorrer após a tireoidectomia, principalmente quando ela é realizada nos dois lobos da tireóide. O hipoparatireoidismo pode ocorrer em um a três dias após a cirurgia, devido lesão na glândula paratireóide externa. (CORGOZINHO et.al. 2009; DUDDY, 2001). Os sinais clínicos de hipocalcemia tipicamente se revelam no período de setenta e duas horas após a cirurgia, embora os sinais possam ser imperceptíveis durante um a cinco dias. Os sinais clínicos de hipocalcemia incluem anorexia, vocalização, irritabilidade, resistência em se locomover, contrações faciais, tremores musculares e câimbras, tetania e convulsões generalizadas (DUDY, 2001; NELSON, 2006; PETERSON, 2004). A concentração sérica de cálcio deve ser avaliada, no mínimo, uma vez por dia por cinco a sete dias, se a tireoidectomia bilateral for realizada. Se a hipocalcemia se desenvolver 68 devido à remoção ou dano causado à glândula paratireóide, deve se iniciar um tratamento com a vitamina D e o cálcio. Pode-se indicar uma suplementação de carbonato ou lactato de cálcio na dose de 25 a50mg/kg/dia, em associação com o calcitrol na dose de 20 a 30ng/kg/dia por três a quatro dias, sendo mantido depois, na dose de 5 a 15ng/kg/dia (COGOZINHO, 2009; DUDDY, 2001; GREENFIELD, 2004). O retorno da função da paratireóide pode ocorrer após dias ou meses de suplementação, quando o dano for reversível à paratireóide (CORGOZINHO et al., 2009). O gato é monitorado para evitar a hemorragia da ferida cirúrgica que pode ocorrer caso não seja feita a ligadura de vasos que irrigam a tireóide ou até grandes vasos durante a dissecção da glândula tireóide (MOONEY; PETERSON, 2009; RADLINSKY, 2007). A Síndrome de Horner pode se desenvolver em decorrência da lesão do nervo laríngeo recorrente durante a dissecação da glândula tireóide. Quando isso acontece, observase ptose, miose, protusão de terceira pálpebra e enoftalmia (ARMSTRONG, 2009; CORGOZINHO et al., 2009). O hipotireoidismo é outra complicação pós-cirúrgica. A reposição com L-tiroxina na dose de 0,1mg/gato/ dia é indicada para gatos com tireoidectomia bilateral que apresentem concentração sérica de TT4 abaixo do valor de referência e sinais de hipotireoidismo (CORGOZINHO et.al. 2009; RADLINSKY, 2007; SCOTT-MONCRIEF, 2011). A função renal deve ser monitorada principalmente nos gatos que apresentarem sinais de disfunção renal no pré-operatório. Devido ao tratamento do hipertireoidismo por tireoidectomia cirúrgica bilateral causar uma queda consistente na TFG, as concentrações séricas de uréia e creatinina podem se elevar. Portanto quando a situação renal piora em decorrência da estabilização do eutireoidismo, a administração de tiroxina exógena é indicada, e o nível sérico de TT4 deve ser avaliado um mês após a cirurgia (CORGOZINHO et al., 2009; RADLINSKY, 2007). 2.8 PROGNÓSTICO A maioria dos gatos com hipertireoidismo, tratados, possui um prognóstico excelente (CRYSTAL; NORSWORTHY, 2009). No entanto, é necessário avaliar a condição física do animal no momento do diagnóstico, as características histológicas e a localização da massa hiperfuncional, a presença 69 e gravidade de doença concomitante, especialmente insuficiência renal, quando geralmente, o prognóstico é desfavorável, além da escolha terapêutica adequada baseada na condição física de cada felino (NELSON, 2006). 70 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve a expectativa de poder auxiliar os Médicos Veterinários conhecerem melhor o Hipertireoidismo Felino, através da identificação dos sinais clínicos, da interpretação dos diversos métodos de diagnósticos existentes e na escolha do tratamento mais indicado para cada paciente. Os gatos de meia-idade a idosos devem ser avaliados sempre, que o clínico suspeitar ou observar algum sintoma característico do hipertireoidismo felino. Nunca esquecendo que esses sinais nem sempre estão presentes e predominantes ao mesmo tempo e que a presença ou a ausência de um determinado sinal clínico não é suficiente para diagnosticar ou, excluir a possibilidade de existência da tireotoxicose. Se possível, o médico veterinário deve preconizar um programa de saúde preventivo para gatos acima dos sete anos de idade, incluindo testes diagnósticos anuais de hemograma completo, uréia, creatinina, enzimas hepáticas e eletrocardiograma. A precocidade no diagnóstico do hipertireoidismo felino auxilia no prognóstico da doença. Quanto antes for diagnosticado, maiores as chances de aumento na longevidade e melhoria da qualidade de vida dos pacientes, através do reconhecimento e controle dos fatores de risco, correção ou retardo na progressão de doenças pré-existes e reequilíbrio das funções orgânicas. Hoje, além de diversas formas de diagnóstico, os clínicos dispõem de formas mais elucidadas e, algumas, até modificadas de terapêutica do hipertireoidismo felino, mas para tanto, a escolha do tratamento deve ser feita de forma minuciosa, individualizada, baseada no estado clínico geral do paciente e presença ou ausência de doenças não-tireoidianas concomitantes. Dessa forma, mesmo que ainda com questões etiológicas e patogênicas, pouco elucidadas, e com o crescente desenvolvimento dessa doença nos gatos domésticos, o clínico veterinário aumentará as suas chances de sucesso no tratamento, proporcionando aos felinos hipertireóideos um prognóstico cada vez mais favorável. 71 REFERÊNCIAS ADAMS, W. H.; DANIEL, G. B.; LEGENDRE, A. M. Investigation of the Effects of Hyperthyroidism on Renal Function in the Cat. Canadian Journal of Veterinary Research, v. 61, n.1, p. 53-56, 1997. ARMSTRONG, P.J. Feline hyperthyroidism: Is there evidence for a nutritional cause? 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