80 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HÉRNIA OBTURATÓRIA ENCARCERADA: RELATO DE CASO Amanda Maria Leite Mendonça1 Andrea Gameleira Cavalcante Costa2 Bruna Martins de Carvalho2 Marcel Martins Marques3 RESUMO A hérnia obturatória é uma patologia rara, que consiste na entrada do conteúdo abdominal para o orifício pélvico do canal obturador. O diagnóstico constitui um desafio para o Cirurgião Geral, sendo normalmente tardio, realizado por meio da laparotomia exploradora ou, em alguns casos, tomografia computadorizada de abdome. Os sintomas geralmente são inespecíficos, sendo as queixas mais comuns a dor na região inguinal, irradiada para a porção medial da coxa (sinal de HowshipRomberg) e sintomas de obstrução intestinal. O presente relato de caso refere-se a uma paciente de 48 anos, internada no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital da Polícia Militar General Edson Ramalho em João Pessoa-PB com quadro agudo de abdômen obstrutivo. Foi indicada uma laparotomia exploradora, a qual permitiu o diagnóstico de hérnia no canal obturador. O período de pós-operatório decorreu sem intercorrências relevantes, registrando-se alta hospitalar ao 70 dia, com isso reforça a importância de conhecer melhor suas condições clínicas, diagnóstico e tratamento, para assim evitar um pior prognóstico. Palavras-Chave: Hérnia obturatória. Obstrução intestinal. Abdome. 1 Discente da Faculdade de Medicina Nova Esperança- FAMENE. End.: Rua Dr. Seixas Maia, 135, apt. 402, Manaíra, João Pessoa-PB. cep 58038-080 Email: [email protected]. 2 Discentes da Faculdade de Medicina Nova Esperança- FAMENE. 3 Cirurgião do Hospital da Polícia Militar General Edson Ramalho. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Dez. 2014;12(2):80-84 81 INTRODUÇÃO A hérnia obturatória é uma patologia rara, que foi primeiramente descrita em 1724 por Arnaud de Ronsil. Existem três fases da hérnia obturatória, a primeira é à entrada de tecido pré-peritoneal para o orifício pélvico do canal obturador; enquanto que a segunda etapa envolve o desenvolvimento de uma covinha na região sobrejacente ao canal peritoneal. Por fim, a terceira fase corresponde ao aparecimento de sintomas produzidos pela entrada de um órgão dentro do canal. O saco herniário pode conter o intestino delgado, intestino grosso, omento, trompa de Falópio ou apêndice1. Ele também é chamado de "o magro velho senhora hérnia" porque ele é encontrado nas mulheres entre a sétima e oitava décadas.2 As taxas de incidência de hérnia do obturador variam, amplamente, em todo o mundo, sendo responsável por 0,07% -1,0% de todas as hérnias, e de 0,2% -1,6% de todos os casos de mecânica obstrução do intestino delgado.3 Devido a sua relativa raridade, seu diagnóstico normalmente é tardio, sendo realizado através da laparotomia exploradora ou, em alguns casos, através de tomografia computadorizada de abdome no préoperatório. Os sintomas geralmente são inespecíficos, sendo as queixas mais comuns a dor na região inguinal irradiada para a porção medial da coxa (sinal de Howship-Romberg) e 4 sintomas de obstrução intestinal. O tratamento é cirúrgico, existindo diversas técnicas para sua correção. O presente relato de caso tem por objetivo demostrar o caso de uma paciente com diagnóstico de hérnia obturatória no Serviço de Cirurgia do Hospital da Polícia Militar General Edson Ramalho em João Pessoa-PB e enfatisar formas de diagnósticos e tratamento por se tratar de uma patologia rara. METODOLOGIA Trata-se de um relato de caso a respeito de uma paciente com diagnóstico de hérnia obturatória, abordando, especialmente, a história clínica da doença, assim como sua evolução e intervenções terapêuticas. As informações contidas neste trabalho foram obtidas por meio de analise de prontuário, entrevista com o paciente, registro fotográfico dos métodos diagnósticos, aos quais o paciente foi submetido. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 48 anos, multípara, com quadro de constipação intestinal e dor abdominal na região epigástrica e inguinal direita, irradiando para face medial da coxa e joelho direito há 3 dias, chegou à urgencia do Hospital da Polícia Militar General Edson Ramalho em João Pessoa-PB, relatando piora dos sintomas, apresentando também náuseas e vômitos de repetição, decorrente disso foram realizados exames laboratoriais e de imagem, e tratamento sintomático (hidratação venosa, analgesia e antiemético) . No exame físico apresentava-se hemodinamicamente estável (frequência cardíaca de 80 bpm, pressão arterial de 110/70 mmhg), sem alterações respiratórias e cardiovasculares, abdome plano, depressível e Blumberg negativo. Na ultrassonografia de abdomen total constatou lama biliar, distensão difusa de delgado com líquido na sua luz e pequena quantidade de líquido livre na cavidade peritoneal. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Dez. 2014;12(2):80-84 82 Figura 1 - Radiografia de abdome que evidenciou distensão de alças de intestino delgado com níveis hidroaéreos. Fonte: Pesquisa de campo, 2014. A radiografia de abdome evidenciou distensão de alças de intestino delgado com níveis hidroaéreos (Figura 1) e os exames laboratoriais apresentaram um VHS de 40mm/h, sem outras alterações. A paciente foi novamente avaliada e não obteve melhora do quadro clínico, com a chegada dos exames, decidiuse fazer uma laparotomia exploradora, já que o quadro clínico configurava um abdome agudo obstrutivo. Figura 2 - Visualizado o orifício pélvico do canal obturador. Fonte: Pesquisa de campo, 2014. A abordagem cirúrgica foi feita com a paciente em decúbito dorsal horizontal, sob efeito de anestesia geral e feito uma incisão mediana supra e infra umbilical. Durante o procedimento, foram achadas alças de intestino delgado distendidas e presença de hérnia na região do espaço de Douglas – hérnia obturatória – com alças do intestino delgado em seu interior. Quando retirada a borda ante mesentérica anterior do intestino delgado, sem sinais de sofrimento, foi que pôde ser visualizado o orifício do anel herniário e a sua correção com sutura. (Figura 2) Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Dez. 2014;12(2):80-84 83 No pós-operatório, a paciente evoluiu, no primeiro dia, com hipotensão arterial de 80x40mmHg e, após a hidratação venosa a paciente obteve estabilização do quadro com uma pressão arterial (PA) de 120x80mmHg, manteve a dieta progressiva e características clínicas de um pós-operatório semelhantes de um abdome agudo obstrutivo, ou seja, sem alterações clínicas, obtendo alta no sétimo dia. Após quinze dias da alta hospitalar, a paciente retornou ao ambulatório da Polícia Militar General Edson Ramalho em João Pessoa-PB sem maiores queixas clínicas e seu quadro segue estável. DISCUSSÃO A hérnia obturatória é uma entidade rara que costuma aparecer em mulheres magras, idosas, multíparas, sendo mais comum no lado direito e o conteúdo do saco herniário é geralmente o intestino delgado.5,6 A etiologia e patogênese da hérnia do obturatória é devido a uma diminuição do tecido adiposo e da linfa pré-peritoneal do canal do obturador. Essas situações que aumentam a pressão abdominal, tais como emagrecimento, caquexia, gravidez, multiparidade, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), constipação crônica, cifoescoliose, ascite, etc. 6 No relato em questão, a paciente se enquadra nos fatores predisponente relatados acima. A apresentação clínica em 88% dos casos é de obstrução intestinal. A compressão do nervo obturador pelo saco herniário produz sinal HowshipRomberg, presente em 50% dos pacientes7. A paciente referiu a dor na face medial da coxa, irradiando para joelho e exacerbada por abdução, extensão e rotação medial do quadril, caracterizando o sinal de HowshipRomberg positivo. Devido aos sintomas inespecíficos, hérnia obturatória é de difícil diagnóstico. A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia devido a uma obstrução intestinal são diagnosticados no ato cirúrgico. A taxa de diagnóstico pré-operatório é relatado como apenas 10-30%. Mais de 90% dos pacientes com hérnia obturadoria são admitidos no hospital com obstrução intestinal aguda, apresentando dor abdominal, náuseas e vômitos8. No caso relatado, foi realizado na paciente uma radiografia simples de abdome total, onde foi confirmado o quadro de abdome agudo obstrutivo, e posteriormente, feito uma laparotomia exploratória, sendo assim, diagnosticado uma hérnia intraabdominal obturatória. CONSIDERAÇÕES FINAIS A hérnia obturatória é uma entidade rara e por apresentar geralmente um quadro clínico inespecífico o diagnóstico acaba sendo prejudicado. Portanto, através do relato, foi possível conhecer melhor sobre as condições clínicas, diagnóstico, tratamento e, com isso, compreender os fatores que possam desencadear riscos à saúde e evitar um pior prognóstico nesses pacientes. DIAGNOSIS AND TREATMENT OF IMPRISONED OBTURATOR HERNIA: A CASE REPORT ABSTRACT The obturator hernia is a rare disease, which is the input of the abdominal contents into the shutter hole pelvic canal. The diagnosis is a challenge for the General Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Dez. 2014;12(2):80-84 84 Surgeon, usually being performed later by laparotomy or, in some cases, computed tomography of the abdomen. The symptoms are usually nonspecific, the most common complaints pain in the groin radiating to the medial portion of the thigh (Howship-Romberg sign) and symptoms of intestinal obstruction. The present case report refers to a 48-year-old admitted to the hospital General Edson Ramalho in João Pessoa-PB surgery with acute obstructive abdomen. An exploratory laparotomy, which allowed the diagnosis of hernia in the obturator canal was indicated. The postoperative period passed without relevant complications, enrolling discharged on day 70. it reinforces the importance of better understanding their clinical presentation, diagnosis and treatment conditions, to avoid a worse prognosis. Key-words: Herniated shutter. Intestinal obstruction. Acute Abdome. REFERÊNCIAS 1. Nakayama T, Kobayashi S, Nishiumi T, Mori S, Isobe K, Furuta Y. Diagnosis and treatment of obturator hernia. Keio J Med. 2002;51:129-32. 2. Polat C., Yavaş, Y., Koşar M.N., Yazicioğlu B., Değirmenci B, Arikan Y. An Unusual Cause of Mechanical Intestinal Obstruction: Strangulated Obturator Hernia. Eur J Surg Sci 2011;2(1):19-22. 3. Mantoo SK, Mak K, Tan TJ. Obturator hernia: diagnosis and treatment in the modern era. Singapore Med J. 2009; 50(9):866-70. 4. Mottin C C, Laitano F F, Conte A F, Ramos R J, Alexandre Vontobel Padoin A V, Alves L B. Hérnia obturadora recidivada encarcerada: um relato de caso. Sci Med. 2011;21(1):20-2. 5. González-Gayynso A, Pastor E, Turienzo A, Diago MV, Sanz O, Fernández J, De Francisco T. Hernia obturatriz. Revisión de la enfermedad. Revista española de investigaciones quirurgicas. 2007;X(1):7-9. 6. PriegoP, Mena A, Juan A. Diagnóstico y tratamiento de la hernia obturatriz: Análisis de nuestra experiência. Rev Chil Cir. Abr 2010;62(2):131-7. 7. Fonseca MO, Adelsdorfer CO, Slako MM, Hernández PV, Barría CK, Vial ip, Moreno JFM, Anziani FO, Lira DO. Obstrucción intestinal por hernia obturatriz. Caso clínico. Rev Chil Cir. Ago 2010;62(4):404-7. 8. Aydin I, Yucel AF, Pergel A, Sahin DA. Obturator Hernia: A Rare Case of Acute Mechanical Intestinal Obstruction. Case Reports in Surgery. 2013 May 2: 256062 . 2pages. Recebido em: 07.03.14 Aceito em: 02.09.14 Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Dez. 2014;12(2):80-84