Economia do conhecimento

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O que é a Economia do Conhecimento e quais são suas implicações para o Brasil? - Um
ensaio sobre a nova economia e o futuro do Brasil. (versão para revisão e reedição)
Alexander Herzog*
Resumo: Instituições, estudiosos e pesquisadores ao longo das últimas décadas vêm
observando a ação da informação, do conhecimento, assim como de outros elementos
caracterizados como capitais e ativos intangíveis, nas economias, empresas e sociedade.
Houve uma transformação mais intensa na estrutura produtiva e consumo em escala global,
indicando o surgimento de nova economia baseada na informação e conhecimento, chamada
economia do conhecimento. Mas o que é economia do conhecimento e quais são as
implicações dessa nova economia para o Brasil? Com base nessas questões, este artigo, em
forma de ensaio, visa explorar o campo teórico-conceitual e demais discussões sobre a
Economia do Conhecimento, procurando entender a sua definição e o significado do
conhecimento para a economia. Com base nas conclusões, pretende-se realizar uma reflexão
sobre as implicações dessa nova economia para o desenvolvimento do Brasil.
Palavras - chave: Economia, conhecimento, desenvolvimento.
What is the Knowledge Economy and what are its implications for Brazil? - An essay on
the new economy and the future of Brazil.
Abstract: Institutions, scholars and researchers over the past few decades have observed the
action of information, knowledge, as well as other elements characterized as capital and
intangible assets in the economy, business and society. There was a more intense processing
in the production structure and consumption on a global scale, indicating the emergence of
new economy based on information and knowledge. But what is the knowledge economy and
what are the implications of this new economy for Brazil? Based on these questions, this
article, an essay, seeks to explore theoretical and conceptual discussions and the knowledge
economy, trying to understand its definition and meaning of knowledge for the economy.
Based on the results, we intend to reflect on the implications of this new economy for the
development of Brazil.
Keywords: Economy, knowledge, development.
*
Economista e Mestre em Gestão e Inovação (UFRJ)
1
Introdução
O contexto atual de um mundo dinâmico e globalizado, em meio a mudanças rápidas e
constantes e a uma acirrada competitividade, reflete em uma série de discussões sobre o
surgimento de novas estruturas econômicas e sociais baseadas na informação, no
conhecimento e nas redes. Esse contexto indica uma série de condições para as empresas
sobreviverem, e crescerem, no mercado e para que os países estejam em trajetória de
desenvolvimento.
O relatório Economic outlook science, OCDE (1998) já apontava que em meados da
década de 90 mais de 50% do PIB dos países desenvolvidos tinha sua produção derivada do
setor de serviços, o qual era intensivo no uso de informação e conhecimento. Quase uma
década depois, outro relatório da OCDE (Technology and Industry: Scoreboard, 2007),
apresentando dados que demonstram o aprofundamento do setor de serviços intensivo em
informação e conhecimento, do uso das tecnologias da informação e comunicação e o
crescimento dos gastos dos países da OCDE em P&D, veio a confirmar que a busca pela
inovação e pelo progresso tecnológico e o investimento em formas de produção de
conhecimento tornou-se a base da economia atual.
A leitura das estatísticas do OCDE nos indica que o que parece ter se tornado mais
evidente a partir de meados da década de 90 foi que a natureza, o volume e a direção da
produção do conhecimento mudaram substancialmente. E que a sua disseminação e o seu uso
estão no âmago de uma nova economia a qual chamamos de Economia do Conhecimento.
Mas o que é a Economia do Conhecimento? O que significa o conhecimento na
Economia do Conhecimento? E se estamos vivendo em meio a essa nova economia, quais são
as implicações para o Brasil?
Para responder a essas questões, procuramos definir o que é a Economia do
Conhecimento sob dois aspectos: como um espaço de relações econômicas determinadas pelo
mercado e como uma disciplina que busca analisar e estudar esses mercados.
Fez-se um recorte bibliográfico, a fim de contextualizar a discussão, focado em
Giddens (2006), por expressar essencialmente a questão macro social da economia do
conhecimento, em meio à realidade da globalização. Em Dahlman (2002), por apresentar as
preocupações empíricas e conceituais, do ponto de vista econômico-político e empresarial. E
em Veloso (2002), por tratar das dimensões econômicas e econômico-sociais do tema, o que
encerra, de acordo com a ótica deste texto, com as implicações para o desenvolvimento do
Brasil. Para sintetizarmos uma definição de economia do conhecimento, e exercer a reflexão
sobre o assunto, nos inspiração na leitura e aplicação dos conceitos de Rorty (1998), a fim de
encontrarmos na filosofia uma base conceitual para Economia do Conhecimento.
Por fim, a partir dessa discussão teórico-conceitual, vamos refletir sobre as
implicações para o desenvolvimento do Brasil, sob a ótica da Economia do Conhecimento,
2
comparando-o com dados sobre o desenvolvimento da Coréia do Sul nas última quatro
décadas, a fim de tirarmos algumas lições.
1. O debate teórico sobre o contexto atual1
Segundo Giddens (2006), a integração da economia mundial é um dos fatores que
levou ao avanço da globalização. Durante séculos atrás, a economia global se assentava
fundamentalmente na exploração capitalista baseada na agricultura e na indústria. Hoje,
porém, o panorama da economia mundial está cada vez mais dominado por atividades de
natureza virtual e intangível. Esta economia baseada em intangíveis define-se como uma
economia em que os produtos se baseiam na informação, como é o caso dos mercados de
software, da indústria multimídia, de entretenimento e de serviços online.
As mudanças que ocorreram na era da informação se refletiram no que o autor chama
de modus faciendi da economia global. Podemos observar esse fato na economia atual
baseada nas redes internacionais e nas empresas em constante reestruturação. As empresas
flexibilizaram suas práticas de produção e padrões organizacionais, buscando parcerias com
outras empresas e reduzindo a hierarquização. Desta forma, as empresas procuraram se tornar
mais competitivas nas condições que a globalização impõe. A participação das empresas em
redes mundiais de distribuição e as reestruturações respectivas tornaram-se uma condição
essencial para competir e negociar neste mercado global em rápida mudança (Giddens 2006).
Este novo contexto econômico já foi descrito de várias formas, como sociedade pósindustrial, era da informação, entre outras. A definição mais comum para esse novo contexto
atualmente é amplamente utilizado como economia do conhecimento. Esta se refere a uma
economia na qual as ideias, as informações e as formas de conhecimento sustentam a
inovação e o crescimento econômico. A emergência desse tipo de economia significa que
estamos entrando em uma era de desenvolvimento que ultrapassa completamenta a era
industrial. E está relacionada com o surgimento de um grande número de consumidores
tecnologicamente instruídos, e que incorporam nas suas vidas cotidianas os novos avanços
nos campos da informática, do entretenimento e das telecomunicações (Giddens, 2006).
Para Dahlman (2002), “estamos em meio ao que se poderia chamar de uma revolução
do conhecimento que está sendo introduzida na base científica através de uma ampla gama de
áreas das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s), chegando à biotecnologia, à
engenharia de novos materiais, entre outras áreas”. Os elementos-chave dessa revolução
incluem as tendências crescentes da codificação do conhecimento e do desenvolvimento de
novas tecnologias; da importância das atividades de P&D conectada à base científica, da
1
Devemos ressaltar que há um grande espectro de estudos e visões sobre a Economia do Conhecimento. Alguns exemplos são a obra
Production and Distribution of Knowledge in the United States, de Machlup (1962), que discute o perfil de mudança da mão-de-obra e das
atividades econômicas nos EUA entre 1900 e 1958, em Kim & Mauborgne (1999) que discutem a estratégia na economia do conhecimento,
propondo o foco das empresas na criação de novos mercados e na expansão dos mercados existentes, distanciando do pensado estratégico
centrado na concorrência, ou em Knowledge-Based Economy: Modeled, Measures, Simulated de Leysderdorff (2006), que propõe um
modelo, baseado na Hélice Tripla, para captar a nova dinâmica dessa economia, considerada distinta da economia de mercado e da economia
política, e entender em que medida as inovações baseadas em conhecimento reestruturam o sistema social com uma dinâmica distinta da
racionalidade econômica ou das decisões políticas e gerenciais. Ou os trabalhos de Dany T. Quah (The weightless knowledge economy
(1999) e The Weightless Economy in Economic Development (2000), London School of Economics), que apontam um maior peso e
importância na economia atual das TIC's, e sua influência no desenvolvimento econômico, juntamente com ativos intelectuais, patentes junto
com direitos autorais, marcas, imagens, botecnologia, etc, que são indústrias caracterizadas pela aplicação intensiva e direta de conhecimento
em sua produção, assim como são seus outputs, em si, conhecimento na forma de produto, caracterizando o surgimento de uma economia
qualitativamente diferente da estrutura econômica do séx XX, e anteriores. Outras instituições que tem se debruçado sobre o assunto é o
Banco Mundial e a OCDE.
3
importância da inovação e da produtividade para a competitividade e crescimento do PIB; da
importância da educação, da capacitação da força de trabalho e dos processos de
aprendizagem.
A revolução do conhecimento não quer dizer somente a incorporação de novas
tecnologias aos processos de produção e nos produtos. Esse evento envolve novas formas de
organização e gerenciamento de processos e de informação. A riqueza passar a ser criada pelo
modo como os produtos e serviços são desenhados e entregues ao mercado. A economia
mundial passa a ser impulsionada pelo poder das ideias e pelos nomes das marcas. Para se
manter essa nova dinâmica, os investimentos em intangíveis como software, educação,
treinamento, capacitação, P&D, tecnologias de organização e distribuição, redes, etc, são
necessários (Dahlman, 2002).
Do ângulo empresarial, uma característica específica do conhecimento, como fator
produtivo, é o fato de ele não ser consumido pelo seu uso. Esta característica dota o
conhecimento de grandes economias de escala, de forma que uma vez produzido pode-se
aplicá-lo em uso máximo na produção a fim de reduzir os custos unitários. Por outro lado, em
meio a um ambiente mais competitivo, as empresas são estimuladas a criarem novos produtos
e processos de produção mais eficientes. Mesmo dentro das empresas existe maior ênfase no
gerenciamento do capital intelectual, com o gerenciamento do conhecimento sendo visto hoje
como fundamental para a vantagem competitiva (Dahlman, 2002).
Portanto, para (Dahlman, 2002) a economia do conhecimento é “aquela que estimula
suas organizações e pessoas a adquirirem, criarem, disseminarem e usarem o conhecimento de
modo mais eficiente para um maior desenvolvimento econômico e social”.
Para Veloso (2005), a Economia do Conhecimento possui duas dimensões: a
econômica e a econômico-social. A dimensão econômica quer dizer levar o conhecimento a
todos os setores da economia, na forma de aplicação. O que o autor indica é que além do
desenvolvimento dos setores de alta tecnologia, como o de biotecnologia, nanotecnologias,
engenharia de materiais, tecnologias da informação e da comunicação, outros setores como
agricultura, agronegócios, bens de capital, os insumos industriais, recursos naturais, energia,
educação, saúde, cultura, consultoria, entre outros; tornam-se mais intensivos em informação
e conhecimento, o no uso e aplicação dos mesmos para sofisticação e agregação de valor.
A dimensão econômico-social consiste em levar o conhecimento a todos os segmentos
da sociedade, incluindo os de baixa renda. O autor aponta que uma maior densidade de capital
humano - e isto quer dizer pessoas preparadas e qualificadas para demanda crescente de uso
de conhecimento nas empresas e economias - é um requisito para o uso intensivo de
conhecimento para fins de desenvolvimento. Abranger os setores de baixa renda é uma
necessidade econômica e social, visto que há a exigência de maiores qualificações dos
recursos humanos na Economia do Conhecimento.
Veloso (2005) vê a economia do conhecimento como um movimento de
transformação da economia e sociedade frente ao que chama de revolução da informação e do
conhecimento (conceito em sentido amplo). O que na verdade coloca Veloso (2005), é que
atualmente está ocorrendo o uso mais intensivo do conhecimento e da informação de forma
geral na sociedade, nos setores da economia e para fins de crescimento e desenvolvimento.
4
A leitura de Giddens (2006), Dahlman (2002) e Veloso (2002) nos fornece subsídios
para se tirar algumas conclusões sobre esse novo período da economia mundial.
Primeiramente, devemos pensar na questão do ponto de vista de um plano do contexto social
e mundial atual, de um mundo globalizado e dinâmico, em que e economia passa a ser
impulsionada pelo fluxo constante de informações e opiniões, pelo poder das ideias, dos
potenciais da ciência e das tecnologias, dos ativos intangíveis. Não se pode negar que a
geração e aplicação do conhecimento tem assumido papel central nas economias dos países.
Posteriormente, observar e considerar que a riqueza passou a não ser criada, somente, por
meio dos recursos naturais e produção tradicional, mas também, e principalmente, pela forma
como bens e serviços são planejados, projetados, concebidos e entregues aos consumidores, e
isso quer dizer sofisticar e agregar valor através do uso do conhecimento.
Outro desdobramento se dá no sentido de o conhecimento poder ser visto como um
fator produtivo, como insumo, e produto de empresas, do ponto de vista de um elemento que
determina, em certas circunstâncias, o valor dos bens e serviços e o lucro na empresa através
de processos mais eficientes e de inovações. E sendo encarado como um fator produtivo e
produto, ele está suscetível à aplicação de leis da economia como da utilidade, do consumo,
da escassez ou abundância, dos custos, da produção e da distribuição.
O fator preponderante é que a realidade atual parece estar sendo construída em meio a
um movimento de transformação da sociedade e da economia, em que as tecnologias estão
permitindo o uso mais intensivo de informação e conhecimento para fins de desenvolvimento.
Há uma separação muito sensível em meio à necessidade de definição da Economia do
Conhecimento: como uma ciência, que estuda seu objeto e suas relações com a sociedade, e
como uma realidade que se cristaliza na forma de mercados, em meio a empresas que se
redefinem e a outros tipos de empresas que surgem na forma de produtoras de informação e
conhecimento, e conteúdos, para servir ao mercado e à sociedade.
2. Definição de Economia do Conhecimento: uma proposta exploratória
Atualmente, a Economia do Conhecimento parece muito mais encerrar uma noção do
que um conceito próprio de um domínio, enquanto se constroem um arcabouço teóricoconceitual e instrumentos para analisar essa nova realidade.
Podemos propor uma definição de acordo com as bases indicadas acima. A economia
do conhecimento surge como uma realidade representada pelas novas relações empresariais,
produtivas e mercadológicas baseadas no conhecimento, em um mundo interconectado e
globalizado. Por outro lado, trata-se de uma abstração, uma perspectiva teórico-conceitual,
que busca entender os fenômenos econômicos dessa nova economia e sociedade. Deste último
ponto de vista, busca-se elucidar questões e mecanismos referentes ao papel do conhecimento
em nível micro e nível macro na economia, conforme as demandas industriais, dos
consumidores, os mercados e suas implicações para países, empresas e para o ser humano.
Em termos de representação da realidade, busca-se observar, analisar e descrever, por
um lado, os mercados existentes que passaram, ao longo da história, a utilizar a informação e
o conhecimento de forma mais intensiva na sua estrutura produtiva, transformando bens e
serviços através da aplicação de conhecimentos e tecnologias mais sofisticados na estrutura
produtiva pré-existente na sociedade. Podemos exemplificar esse caso com a produção de
5
novas moléculas, de novos materiais, da sofisticação de modelos organizacionais, etc, que não
só transformou as relações de consumo e bem estar da sociedade, mas também a diversidade e
qualidade dos bens e serviços consumíveis e influenciou os gostos e as necessidades dos
consumidores e seus espectros sensoriais e comportamentais. Essa transformação dos bens e
serviços também foi acompanhada de um encurtamento do ciclo de vida dos produtos e
serviços, os quais são constantemente remodelados, sofisticados e recriados através da
inovação e do uso de novas tecnologias, dos conhecimentos e das informações disponíveis,
criados e recriados.
Por outro lado, a economia do conhecimento pode ser observada pelo surgimento de
novas empresas e nichos de mercado de alta tecnologia, de uso intensivo de ativos
caracteristicamente intangíveis, centrados na produção, distribuição e disseminação de bens e
serviços com elevado conteúdo de informação e do conhecimento. Podemos exemplificar com
os casos das áreas de consultoria, software, P&D empresarial, multimídia, etc. Essas áreas de
atividade são compostas de empresas que usam principalmente a mente e a inteligência
humana para criar condições para produção de serviços especializados e bens de alto valor
agregado. Estes bens e serviços só possuem sentido econômico quando vistos pelos grandes
dotes de esforços de pesquisa, de descoberta e aplicação de conhecimento e de informação
que determinam a sua natureza e utilidade econômica e social únicas.
Em ambos os casos, isso quer dizer que o desenvolvimento e aplicação de tecnologias
e leis científicas, até hoje descobertas e acumuladas, na produção corroborou para o
surgimento de novos produtos, que acompanham novas empresas e novos tipos de negócios.
Assim, percebe-se a construção de um campo de ideias que se servem do avanço do
conhecimento e da tecnologia para inovar e atender ao mercado, ao consumidor e a sociedade
em última instância. São criados nesse circuito novos valores, novos hábitos de consumo e
novos fenômenos de produção e troca. Novos mercados em última análise.
Essa observação nos representa uma realidade que muitos autores, pesquisadores,
instituições governamentais e para-governamentais, dotam de novidade. Os fenômenos
econômicos atuais estão muito ligados a questões paradoxais como o fato do valor do
conhecimento crescer com seu compartilhamento, com sua natureza ser de abundância como
recurso e um recurso não finito. Pelo fato de seu uso ter retornos crescentes de escala e com as
novas dinâmicas ligadas a custos decrescentes de produção pela sua alocação, etc. 2 Para essas
questões, não encontramos respostas atualmente com base na abordagem da teoria econômica
tradicional.
Em fim, os espaços na sociedade onde passaram a se produzir esses fenômenos
econômicos novos, em coexistência com a velha economia, e onde residem os agentes que
lidam com essas novas relações de produção e troca, denotamos como Economia o
Conhecimento.
Sob outro ângulo, os autores definem a Economia do Conhecimento, mas há uma
questão importante que parece não ter sido aprofundada pelos mesmos. Afinal, o que significa
o conhecimento no âmbito econômico? Há opiniões que pregam que a questão não é o
conhecimento em si, pois o conhecimento está na cabeça das pessoas, e que a questão dessa
nova economia é a informação e o ambiente. Porém, embora não discordemos totalmente
2
Ver Bengtsson (2002) e Arthur (1994, 1996 e 1998)
6
dessa opinião, o posicionamento em relação a essa questão depende do ponto de vista e do
que escolhemos como referencial para definir esse ativo conhecimento observável pelas lentes
da economia. Afinal, o homem é parte do meio ambiente, e na sua relação com este se pode
pensar no sentido de que há algo que causa o conhecimento, e assim há uma forma de
apropriá-lo e usá-lo para resolver problemas e se atingir objetivos.
No debate filosófico sobre o conhecimento, especificamente na Teoria Causal do
Conhecimento, podemos encontrar subsídios para tentar responder a essa questão. Mais
especificamente, optou-se em tomar o conceito emprestado de Rorty (1997 e 1998), pela
várias reflexões que esse autor propõe sobre a matéria e pela possibilidade de contextualizar
seus conceitos em vários campos da ciência.
O primeiro ponto é que o conhecimento, de acordo com Rorty (1998), deve estar
voltado para a vida e para a busca da solução de problemas concretos, de novas formas de pensar
os problemas que surgem de forma cada vez mais dinâmica em nossas sociedades. Assim, o
conhecimento tem por objetivo, e por um lado, a busca criativa pela construção e resolução de
novos problemas que nos sejam mais importantes do que os que nos foram colocados até
então. O que encerra na questão do uso da criatividade para redefinir o olhar sobre os
problemas antigos e concretos, propondo uma nova abordagem. Assim como para construir
soluções para novos problemas que surgem no mundo atual.
No segundo ponto, tomando a definição de Rorty (1997), o conhecimento é causado
pela constante interação entre o organismo 3 e o meio. Para o autor, há em meio a essa
interação o lidar com as informações ambientais que afetam os organismos. Lidar é definido
como conhecer, e significa alterar o estado de equilíbrio anterior à afetação, provocando a
"adaptação" ao ambiente, este sendo não necessariamente o seu fim. Essa adaptação é
considerada um produto secundário da mutação ocasional do organismo ou da reação
experimental deste às exigências do meio4.
Contextualizando para o âmbito econômico, o conhecimento pode ter tanto uma
causação controlada quanto pode ser causado espontaneamente pela influência do ambiente. E
das duas formas, codificado e apropriado pelos agentes econômicos para contribuir para
consecução de seus objetivos. O que parece ser importante entender é que há uma divisão
entre o conhecimento ex-ante e o ex-post. O conhecimento ex-ante é em si definido como
aquele no qual o organismo toma e conserva a posse na forma de informações e métodos
disponíveis, e experiências e habilidades adquiridas, para interagir com o meio. O
conhecimento ex-post é definido como aquele que é derivado dessa interação entre organismo
e meio. Desta forma, se pode determinar as condições iniciais para produção do
conhecimento, gerando-o de forma controlada. Ou de forma não-controlada (naturalmente)
através da observação da interação do organismo com o ambiente.
Considera-se, para esse texto, a noção de organismo desde o ser humano até as organizações públicas, empresariais e não-econômicas que
de alguma forma, através de suas decisões influência a economia e a sociedade. São os agentes econômicos.
3
4
Outro ponto importante na definição de Rorty (1997), dá-se na noção de que através da linguagem é que fazemos as coisas existir com
determinadas características e funções, criando os termos. O sentido dos termos está no uso que fazemos deles, em determinados contextos
socioculturais. O conhecimento que julgamos importante conhecer é, portanto, contextual e relacional. Termo é definido, aqui, conforme a
convenção de lógica e que consiste em nome associado a um objeto do universo de discurso, e o universo refere-se à família de termos
semânticos ou lingüísticos que são específicos para certa área de interesse, no caso o âmbito da economia. As implicações para economia é
entender que na interação entre organismo e meio ambiente, a linguagem surge como produto da capacidade de o organismo lidar com as
informações, muitas vezes criando-se novas informações, novos conhecimento e novas percepções, logo novas necessidades, novas
concepções e novos produtos.
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Basta dimensionar o conhecimento ex-ante, provendo as respectivas probabilidades de
sucesso na interação com o meio e conforme os seus objetivos e, por outro lado, classificar e
apropriar o conhecimento gerado (ex-post) da interação organismo e meio nessas condições.
Nessa dinâmica o conhecimento pode ser encapsulado na forma de informação, métodos,
habilidades e experiência para uso na gestão e na produção de tecnologias, de outros
conhecimentos, de bens e serviços.
O uso da informação, e da capacidade de conhecer, permeia e dita a trajetória de todo
o processo na busca de geração de valor e riqueza, este o objetivo último do organismo em
questão. Essa seria a essência econômica do conhecimento que o dota de característica
passível de tratamento analítico na teoria econômica e da produção. Distancia-se da noção de
conhecimento como busca da verdade, embora esse seja um aspecto socialmente importante, e
reside no entendimento e na transformação desse conhecimento em solução de problemas
concretos para os agentes econômicos e sociedade.
Outro importante desdobramento, considerando Rorty (1997), é com relação ao lidar.
Este conceito significa manipular ou instrumentalizar as informações ambientais para atingir
estados de equilíbrio mais satisfatórios, o que economicamente quer dizer níveis mais
elevados de rendimento e posição superior no mercado. Para o agente econômico o
importante é transformar as informações disponíveis, através de organização, de métodos, de
habilidades, e usando a experiência, em valores econômicos e vantagens comparativas e
estratégicas no mercado. Ou seja, se organizar para diferenciar, inovar e antecipar demandas,
de forma a enfrentar a competição e principalmente criar valor, demanda e mercados. E em
meio a esse processo é fundamental o ser humano dotado de educação e orientação para
produzir o efeito desejado. Ou seja, provocar a alteração no equilíbrio e atingir o seu ponto
satisfatório, através do conhecimento ex-ante, da apropriação do conhecimento ex-post e da
combinação dos ativos e meios de produção, entre os quais o conhecimento.
O desdobramento das definições de Economia do Conhecimento, neste texto, baseado
em Rorty (1997), encontra algumas similaridades com autores como Conat e Weinstein
(1995) e Schumpeter (1985 e 1984). Conat et al (1995) coloca que o princípio dinâmico de
mutação, base da evolução e equiparado aos comportamentos decorrentes de situações de
ameaça e constrangimentos de mercado oriundas do ambiente, estimulam mudanças e
asseguram a transformação das empresas, muitas vezes através dos comportamentos de
pesquisa que estão na base da inovação. Com relação à Schumpeter (1985), a similaridade
está na colocação de que no centro do desenvolvimento está a inovação tecnológica, que
transforma o processo econômico, rompendo o estado de equilíbrio ao introduzir novos
métodos produtivos; criando e abrindo novos mercados e descobrindo novas fontes de
insumos produtivos. Em Schumpeter (1984), na definição de que o equilíbrio dinâmico está
baseado no progresso técnico, onde a dinâmica capitalista é movida pela necessidade das
firmas sobreviverem ao mercado, otimizando seus resultados e para obtenção de lucros acima
da média. O que resulta na alteração do equilíbrio em busca de um equilíbrio mais
satisfatório.
Em síntese, em uma contextualização para a Economia do Conhecimento, a interação
organismo/meio (empresa/mercado) se dá de forma mais intensa atualmente. Essa dinâmica
leva às transformações mais rápidas e intensas dos organismos (empresas). A apropriação e o
uso do conhecimento derivado da interação e a busca pela inovação tornam-se uma constante
8
que reflete tanto a sobrevivência do organismo (empresa) no ambiente (mercado) quanto à
alteração do equilíbrio dos organismos nesses espaços.
Torna-se perceptível que embora o progresso tecnológico e a inovação sejam os
fatores determinantes do desenvolvimento do capitalismo, para Schumpeter, por outro lado,
no âmago da inovação e do progresso tecnológico está o conhecimento e demais condições
que são necessários para transformar a ideia e a iniciativa da busca pelo lucro acima da média
em criação de valor, em um produto inovador. Afinal, não se é razoável pensar que haverá
progresso tecnológico sem determinados conhecimentos e demais avanços nessa área, nem
que o progresso tecnológico será repassado à economia e à sociedade sem determinados
conhecimentos que surgem da interação entre universidade, e demais instituições de pesquisa,
com empresas. E estes com o mercado e a sociedade.
O conhecimento como causado pela interação organismo/meio está no centro do
circuito permite o agente econômico ter possibilidades de inovar. Portanto, a discussão
encerra na questão: que conhecimento é necessário construirmos para provocar a inovação
desejada? E que condições dão maiores probabilidades de que o conhecimento, permitindo a
combinação de meios de produção através da habilidade e experiência, leve à inovação
desejada? 5
Deste ponto de vista, o conhecimento pode ser fundamental para atingir níveis de
equilíbrio mais satisfatórios, o que quer dizer maior bem estar e desenvolvimento. Pode-se
definir o conhecimento de acordo com a característica de um recurso intangível, e não-finito.
E assim torná-lo um objeto para gestão como um recurso para determinados fins econômicos,
empresariais e sociais. Assim como se pode fazer gestão de condições iniciais para que da
interação organismo/meio sejam derivados determinados conhecimentos úteis, e aplicáveis, na
consecução de determinados objetivos. Entre eles a inovação.
A sociedade obteve considerável progresso tecnológico, científico e cultural, ao longo
do tempo, e nessas condições se formaram estruturas de produção e disseminação de
conhecimento e informação. Permitindo-se o cômputo, o processamento, a manipulação de
informações ambientais, em larga escala e as suas aplicações. Desta forma, surgem também as
condições para a criação de mercados, de empresas, da transformação da produção e a
formação de uma estrutura econômica, em meio à existência das redes. Denominamos esse
contexto como Economia do Conhecimento.
Concluindo. Complementando a definição de Economia do Conhecimento, esta é,
também, uma ciência do uso de recursos não-finitos para fins de desenvolvimento. Não se
5
Podemos exemplificar de uma maneira muito simples. Propormos realizar um exercício de engenharia reversa de um caso. Ao observarmos
uma determinada inovação, como os equipamentos de Ressonância Magnética Nuclear, verificamos uma série de conhecimentos sobre física,
computação, medicina e engenharia conjugados em um aparelho. São conhecimentos muito específicos e que foram construídos em meio a
muitas pesquisas e em áreas muito distintas, muitas vezes sem qualquer canal de interação. No entanto, ao desmontarmos a seqüência de
produção e conhecimentos aplicados e remodelados durante sua produção, da finalização do produto até a sua concepção como ideia,
podemos observar que ao subtrairmos o conhecimento, integral ou parcial, sobre leis da física e determinados algoritmos computacionais, em
determinadas etapas da elaboração do aparelho ele simplesmente, por exemplo, não passaria de uma concepção, um projeto, não podendo se
tornar realidade. Assim, o conhecimento é um fator, a medida que ele é causado por alguma iniciativa empreendedora e apropriado pela
empresa, que pode tanto proporcionar a concepção, um projeto, quanto a execução da ideias, obtenção do produto. Do contrário, não
havendo conhecimento para executar a ideia, esta não passará de um projeto, de uma intenção. Nesse sentido reside a ideia de causar o
conhecimento, assim como apropriá-lo e aplicá-lo para determinado fim, o que nos parece razoável pensar que tanto a colaboração e a
convergência de esforços das áreas da ciência e tecnologia, demandando um direcionamento de todas as instituições afins, quanto a busca
pela causação de determinado conhecimento e a forma de apropriá-lo na economia é objeto iniciativas empresariais e de políticas
econômicas, conjugando vários setores da sociedade. Nem tampouco esse avanço tecnológico chegará à sociedade, e se aplicará na solução
de problemas, se não houver participação do setor empresarial.
9
trata somente de uma Economia, conforme a vertente científica tradicional, que estuda o
comportamento humano frente a recursos escassos e a escolha de aplicação em fins
alternativos. Mas de uma vertente da Ciência Econômica que estuda um recurso que goza de
abundância e, que pela sua utilidade e perfil aplicativo, dita as formas como os recursos
materiais e imateriais são alocados. Trata-se também de aplicarmos o acúmulo de
experiências e descobertas construidas no espaço do conhecimento humano para a criação de
oferta, demandas e bem estar. E para isso também é necessário habilidades em vários campos
da sociedade. Portanto, a questão central torna-se o uso do conhecimento, pois assim podemos
derivar benesses para sociedade em geral. E os fins são para o desenvolvimento e envolve
resolver problemas sociais, vencer barreiras culturais e aumentar o dote de bem estar dos
indivíduos e da sociedade.
Futuramente, o avanço das pesquisas e o desenvolver teórico, conceitual, instrumental
e empírico da Economia do Conhecimento, nos levará a entender como o conhecimento opera
em nível micro e macroeconômico e quais são exatamente suas implicações para a sociedade
do ponto de vista do capitalismo no mundo atual. São as questões de carecem de maior
aprofundamento, atualmente, para entendermos determinadas relações econômicas nesse
campo.
3. Ilustrando os conceitos através de uma comparação entre Brasil e Coréia do Sul
O último desdobramento da Economia do Conhecimento, de acordo com os objetivos
deste texto, considera a questão do desenvolvimento e os instrumentos para sua promoção,
que é preocupação central desta reflexão.
Conforme a definição acima, a Economia do Conhecimento se preocupa com a
questão de como o conhecimento (tipo, natureza, estrutura, aplicação e utilidade) provê o
desenvolvimento econômico e social. Que tipo de conhecimento pode determinar o quê na
sociedade e na economia. E como o conhecimento pode levar ao desenvolvimento.
Desde que tenhamos em mente a noção do que é conhecimento para uma economia, e
sociedade, e considerar a ciência do uso do recurso conhecimento para fins de
desenvolvimento, as lentes da Economia do Conhecimento tornam-se um viés orientador de
medidas políticas e empresariais nos mais variados campos. Não só considerá-la, mas colocála como vertente principal na sua pauta de discussões e realizações.
A comparação entre o desempenho do Brasil em relação à Coréia do Sul, ao longo de
quarenta anos, nos ajuda a esclarecer alguns pontos a respeito das diferenças de condução de
política econômica entre esses países. O foco da análise se detém nos resultados na área
econômica e social que estes países construíram no período considerado (1970 – 2010). A
questão a ser colocada é: como um país, no caso a Coréia do Sul, com escassez de recursos
consegue realizar um salto no seu desenvolvimento em um período de quarenta anos,
conforme demosntra os indicadores?
Em 1970, a população do Brasil era de 96 milhões de habitantes e o Produto Interno
Bruto (PIB) US$ 43 bilhões. A Coreia do Sul tinha uma população de 34 milhões de
habitantes e um PIB de US$ 9 bilhões. A renda per capita brasileira era de US$ 410, enquanto
a da Coréia do Sul era de US$ 279. A mortalidade infantil no Brasil era de 112 óbitos por mil
nascimentos, enquanto da Coréia do Sul de 50 por mil. A expectativa de vida brasileira, em
10
1970, era de 59 anos, contra 61 anos na Coréia do Sul. O índice de analfabetismo no Brasil
era de 32% e o da 13% na Coréia do Sul. Vide a Figura 1, abaixo:
Comparação Brasil e Coréia do Sul
Indicadores
Sócio-Econômicos
Brasil
1970
Coréia
Atual (2008 e 2010)
Brasil
Coréia
PIB bilhões (US$ corrente) ¹
43
9
1575
929
PIB per capita (US$ corrente) ¹
441
279
8205
19114
População (milhões) ¹
96
34
194
49
Analfabetos (% da pop.) ²
32
13
10
1
Mortalid. infantil (p/1000, até 5 anos) ¹
112
50
23
4
Expectativa de vida (anos) ¹
59
61
72
80
Figura 1 – Tabela de indicadoreas econômicos e sociais
Fonte: Banco Mundial ¹ e UNESCO ²
Comparando com os dados para a atualidade, vemos que o Brasil tem uma população
de 194 milhões frente a 49 milhões da Coréia do Sul. A taxa de analfabetismo no Brasil é de
10%, cerca de 19 milhões de pessoas, enquanto na Coréia é de 1%, totalizando cerca de 500
mil pessoas. A mortalidade infantil no Brasil é 23 nascimentos por mil pessoas, enquanto a
Coréia do Sul reduziu a taxa a 4 (quatro).
De outro ponto de vista, o desenvolvimento entre os países diferem nos seus
resultados. O Brasil conseguiu elevar a expectativa de vida para 72 anos, porém a Coréia do
Sul supera, elevando essa taxa à 80 anos. Correlacionando outros indicadores à expectativa de
vida, podemos aprofundar a análise. O Índice de Desenvolvimento Humano da Coréia é de
0,937 e do Brasil é de 0,813, ocupando os 26° e 75° lugares, respectivamente, no Ranking da
PNUD divulgado em 2009. Sendo que em 1980 o IDH do Brasil era de 0,685 e o da Coréia do
Sul de 0,722, ou cerca de 5% inferior ao da Coréia. Para os dados disponíveis para 2007,
conforme mencionado acima, essa diferença triplicou, estando o IDH do Brasil na faixa de
15% inferior ao da Coréia do Sul, atualmente. Com relação a desigualda econômica, o Índice
de Gini da Coréia é 0,316 e o do Brasil é de 0,55. Enquanto na Coréia do Sul a relação de
ganhos entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres é de 7,8, no Brasil a mesma relação é
de 40,6. Ou seja, os 10% mais ricos no Brasil recebem cerca de 5 vezes mais que os 10% mais
ricos da Coréia do Sul, em relação aos seus 10% mais pobres, respectivamente. Esses dados
refletem claramente que a economia Sul Coreana possui melhor distribuição de renda 6. Um
outra observação é que não só a expectativa de vida é importante, mas também relacionada a
esse indicador o IDH e a distribuição de renda que refletem mais que a dimensão temporal da
vida, mas a qualidade dessa vida que dispõe de melhores condições e recursos para consumo,
bem estar e desenvolvimento. A Coréia do Sul tem uma qualidade do desenvolvimento menos
desigual e mais consistente em relação ao Brasil, conforme os indicadores apresentados.
A comparação da renda per capita indica uma maior discrepância econômica entre
esses países. Atualmente, a Coréia do Sul a renda per capita é 2,3 vezes maior que a do
6
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano – 2009. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
11
Brasil. Porém, a Coréia do Sul partiu de uma renda per capita 58% menor que a do Brasil, em
1970, atingindo cerca de 105 % maior que a do Brasil, em 2008.
Brasil x Coréia do Sul
25000
CORÉIA DO SUL
BRASIL
Evolução da Renda pe r capita
US$ (corrente)
20000
15000
10000
5000
0
1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006
1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008
ano
Figura 2 – Evolução do PIB per Capita: Brasil x Coréia (1960-2008).
Fonte: Elaboração do autor a partir de dados do Banco Mundial (dados acessados através do site
http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD/countries, em 07/10/2010, às 15:23)
Conforme a Figura 2, o Produto Interno Bruto (PIB) per capta da Coréia do Sul
cresceu 3,6 vezes mais do que o do Brasil entre 1970 e 2008. Eles conseguiram ser mais
produtivos com os recursos limitados de que dispunham. Conseguiram redimensionar sua
economia e sociedade de forma mais produtiva com a limitação de recursos econômicos
porque conduziram sua sociedade para o desenvolvimento tecnológico e a inovação. Ou seja,
conforme a análise do Banco Mundial (2000 e 2007), a economia coreana cresceu com base
no desenvolvimento de seu capital humano. Esse fato pode ter acontecido muito em função da
valorização da educação e através da implementação de políticas que formassem recursos
humanos de relevância econômica. Porém, o impacto na economia parece não se tratar
somente da educação, mas também das condições que permitiram que a educação fosse
revertida em valores econômicos e sociais.
Em 1982, o Brasil e a Coréia do Sul praticamente igualaram suas rendas per capita em
cerca de US$ 2.000. Em 2008, a diferença passou a cerca de US$ 9 mil a favor da Coréia do
Sul (vide Figura 3). A justificativa para essa discrepância se dá pela utilização mais eficiente
dos recursos disponíveis e pela produtividade residual consolidada na economia sul coreana
ao longo dos anos, além de uma política focada em áreas estratégicas para economia. Segundo
o resultado histórico, e de acordo com o Banco Mundial (2000), baseado em investimentos
em conhecimento, em P&D, em tecnologia e principalmente em educação, a Produtividade
Total dos Fatores (TFP)7 da economia sul-coreana gerou, provavelmente, o amento da
diferença incremental da produtividade e, consequentemente, das rendas per capita dos países
em questão durantes as últmas 4 décadas.
7
A variável TFP (Total Factor Porductivity) é definida como a diferença entre o crescimento do produto real e a parcela desse crescimento
que pode ser atribuída às contribuições do capital e do trabalho. Trata-se de uma variável residual dada pela combinação dos fatores capital e
trabalho que ao longo do processo produtivo, o qual gera uma produtividade residual.
12
A Figura 3 representa uma parametrização da evolução da renda per capita, em US$
correntes, de Brasil e Coréia do Sul entre 1982 e 2009. Aplicando regressão linear (simples)
para os dados de renda per capita no período de 1982 a 2009, determinou-se a linha de
tendência para o Brasil com equação y (x) = 670,3x + 29,9 e para Coréia do Sul com equação
y (x) = 184,06x + 1075,94. Os valores das rendas (y) de acordo com a linha de tendência e
determinados através das equações é de US$ 6.046 para o Brasil e US$ 18.128 para Coréia do
Sul, em 2009. Assim, a taxa de acumulação da renda per capita (medida pela taxa de variação
das retas) da Coréia do Sul é de US$ 597/ano no período. A do Brasil é de US$ 149/ano.
Nesse sentido, mantendo as mesmas condições atuais, no decênio 2009-2019, a
tendência da Coréia do Sul é acumular cerca de U$ 5.597 a sua renda per capita atual
resultando um total de US$ 22.675. O Brasil tende a acumular US$ 1.490 somando um total
de US$ 9.604. A diferença entre os países será de cerca de U$ 13.071, um aumento de 45,8%
em relação à diferença de 2009. Para igualarmos a renda per capita da Coréia do Sul em 2019,
de acordo com a linha de tendência, o Brasil precisa aumentar a inclinação da sua reta de
acumulação da renda per capita atual em mais de 9 vezes, ceteris paribus8. Portanto, o Brasil
necessita encontrar novos caminhos e instrumentos que possam fazê-lo atingir níveis maiores
de produtividade e riqueza, ao longo do tempo, inclinando positivamente sua curva. O que se
traduz na necessidade de investir em educação, conhecimento e inovação, conjuntamente as
linhas atuais de investimento, como uma fórmula natural para o mundo atual.
Renda per capita
US$ corrente
18.128
f(x) = 670,3x + 29,9
Δ Renda é dada pela TFP
Coréia
A inclinação da reta é função da TFP
Taxa de acumulação da renda per capita
(inclinação da reta):
f(x) = 184,06x + 1075,94
Brasil
Brasil = US$ 149/ano
Coréia = US$ 597/ano
6.046
2.000
1982
2009
Figura 3: Diferença de renda per capita entre Brasil e Coréia (US$ corrente).
Fonte: Elaboração do autor a partir de dados do Banco Mundial.
Ano
8
Ceteris paribus: “mantendo inalteradas todas as outras coisas”. Na aplicação do conceito, quer dizer que o Brasil deve aumentar sua taxa
de acumulação da renda per capita em mais de 10 vezes para se igualar a renda per capita da Coréia do Sul em 10 anos, mantendo o
crescimento sul coreano constante. Assim, devemos nos perguntar: em que sentido devemos mudar e orientar a estrutura produtiva nacional?
O que produzir? Como produzir? Principalmente, o que exportar? Como nos relacionar com o mundo? A Economia do Conhecimento pode
ajudar a responder essas questões. Se não agirmos, e nos mantivermos na mesma direção, mesmo com a sorte da descoberta de riquezas
naturais exploráveis, as diferenças entre o Brasil e os países mais avançados, como a Coréia do Sul, poderá aumentar em progressão
geométrica a partir de determinado ponto na história.
13
Outro aspecto da comparação entre Brasil e Coréia poder ser dado pelo ponto de vista
da metodologia do Banco Mundial Knowledge Assessment Methodology (KAM 2008)9. A
Figura 4 representa a tabela com valores normalizados para Brasil e Coréia do Sul através da
KAM.
Ponto
Variáveis
Brasil
norma
atual
lizada
Coréia do Sul
norma
atual
lizada
(A)
Entrada de Investimento Direto Externo (IDE)
(% do PIB), 2003-2007
1,04
7,14
0,86
6,69
(B)
Saída de IDE (% PIB), 2003-2007
2,27
3,40
0,75
0,71
(C)
Royalties e Pagamento de licença (US$ milhões) 2006
2.259,43
8,71
5.075,10
9,31
(D)
Royalties e taxa de pagamentos de licença (US$ milhões)
2007
11,79
5,86
104,58
8,45
(E)
Royalties e receita de licença (US$ milhões), 2007
314,41
7,91
1920,10
8,18
(F)
Royalties e receita de licença (US$/pop.), 2007
1,67
5,73
39,56
8,48
(G)
Total de pagamentos e recebimentos de royalties (US$
mil.), 2007
2.578,84
8,57
6.995,20
9,24
(H)
Total de pagamentos e recebimentos de royalties
(US$/pop.) 2007
13,46
5,88
144,14
8,24
(I)
Taxa de matrícula em cursos de ciência e engenharia (%),
2007
15,80
2,10
37,52
9,80
(J)
Taxa de matrícula em cursos da ciência (%), 2007
8,26
4,20
8,58
4,50
(K)
Pesquisadores no ramo de I&D, 2006
84.979,00
8,59
199.990,02
9,39
(L)
Pesquisadores no ramo de I&D, (Mil. pessoas), 2006
461,05
4,14
4.162,09
8,99
(M)
Despesas totais com P&D (% do PIB), 2006
0,82
6,47
3,23
9,61
(N)
Comércio de manufatora (% do PIB), 2007
11,92
0,46
55,43
7,33
(O)
Colaboração de pesquisa entre universidade-empresa (17), 2008
3,60
6,80
5,10
9,36
(P)
Publicação em artigos técnicos e científicos, 2005
9.895,01
8,89
16.395,71
9,38
9
A metodologia KAM é uma ferramenta (software) construída pelo Banco Mundial através do Program for Knowledge Development (K4D)
que fornece uma base de dados para avaliação dos países e regiões de acordo com quatro dimensões: regime econômico e institucional,
sistema de inovação, educação e recursos humanos e infraestrutura de TIC. Os dados brutos são recolhidos a partir de dados do Banco
Mundial e literatura internacional. É atribuído aos países uma posição em relação ao grupo de países e regiões em conformidade com base
em valores absolutos (dados brutos) que descrevem todos e cada uma das 80 variáveis. Para cada país é atribuído uma posição na escala dos
140 países ou 9 regiões, de acordo com o resultado do cômputo dos dados nas variáveis. Estima-se o número de países com classificação
inferior ou abaixo do país avaliado em questão. O número de países classificados abaixo é denominado NW. O número total de países da
amostra é denominado NC. A seguinte fórmula é usada no sentido de normalizar as pontuações de cada país em cada variável consoante a
sua classificação:
Normalização = 10 (NW/NC)
Desta forma, a fórmula acima atribui uma pontuação de 0-10 normalizada para cada um dos 143 países com dados disponíveis
sobre as 80 variáveis. São atribuídos aos 10% melhores desempenhos da amostra de 140 países a pontuação normalizada entre 9 e 10. Aos
10% do restante da amostra é atribuído a pontuação normalizada entre 8 e 9. O mesmo raciocínio se emprega aos 80% restantes da amostra.
A metodologia estabelece um ranking entre a amostra de países. Escala de 0-10 descreve o desempenho de cada país em cada variável,
relativamente ao desempenho do país em relação à amostra total de países. Ver Chen et al, 2005.
14
(Q)
Publicação em artigos técnicos e científicos (Mil.
pessoas), 2005
52,96
6,46
340,60
8,26
(R)
Disponibilidade de capital de risco (1-7), 2008
2,90
4,40
4,30
8,88
(S)
Patentes concedidas pelo USPTO, 2002-2007
141,00
8,15
5.433,40
9,73
(T)
Patentes concedidas pelo USPTO (Mil Pessoas), 2002-2007
0,76
6,23
112,54
9,32
(U)
Exportações de alta tecnologia como % das exportações
de manufaturados, 2007
12,00
7,48
33,00
9,39
(V)
Gastos do setor privado com P&D (1-7), 2008
3,90
7,76
5,40
9,52
(X)
Nível de absorção de tecnologias pela firma (1-7), 2008
5,30
6,96
5,80
8,88
(Y)
Presença de cadeia de valor (1-7), 2008
3,60
4,88
5,50
9,20
(W)
Importações de bens de capital bruto (US$ mil), 2003-07
26.716,92
7,78
87.768,01
9,13
(Z)
Exportações de bens de capital bruto (US$ mil), 2003-07
18.500,00
7,74
33.200,00
8,31
Figura 4 – Tabela com variáveis do Sistema de Inovação (KAM) Fonte: Banco Mundial.
A Figura 5, abaixo, apresenta o gráfico com a distribuição das variáveis do Sistema de
Inovação da Coréia do Sul em relação ao Brasil10. A análise do Sistema de Inovação
brasileiro, conforme a KAM, aponta um quadro desfavorável do Brasil em relação à Coréia
do Sul na maioria dos casos. Principalmente em despesas totais com P&D, publicações em
artigos técnicos e científicos, disponibilidade de capital de risco, exportações de alta
tecnologia, gastos do setor privado com P&D, nível de absorção de tecnologias pelas firmas e
a presença de cadeias de valor na economia, que são fontes substanciais para geração de valor
e riqueza. A concepção e condução das políticas voltadas para o conhecimento, para a
tecnologia e para a inovação da Coréia do Sul nos últimos anos a dota de condições mais
vantajosas economicamente, comparado ao Brasil, na ótica da Economia do Conhecimento.
A Figura 5 representa graficamente as variáveis da tabela da Figura 4 no formato em rede.
Cada letra do gráfico abaixo corresponde a um variável representada no Sistema de Inovação
conforme os resultados normalizados da metodologia KAM do Banco Mundial.
Os dados do gráfico podem ser vistos na tabela do ANEXO. Os dados da tabela em anexo foram retirados do site
www.worldbank.org/kam.
10
15
(A)
(B)
(Z)
(C)
(W)
10
(D)
(Y)
9,31
8,71
(E)
7,14
6,69
8,45
8,187,91
(F)
8,31
7,74
9,13
7,78
8,88
5
5,86
6,96
4,88
3,4
8,48
(X)
9,2
(V)
9,52
7,76
5,73
(G)
9,24 8,57
8,24
(H)
5,88
0
0,46
2,1
6,23
4,54,2
(I)
9,8
4,4
6,46
9,39
6,47
8,59
(S)
8,88
(R)
8,89
9,38
8,99
(K)
9,36
9,61
(T)
8,26
6,8
7,33
9,32
8,15
9,73
4,14
(J)
(U)
7,48 9,39
0,71
(Q)
(L)
(P)
(M)
(N)
(O)
Figura 5 – Grágico com indicadores de inovação (KAM): relação entre Brasil e Coréia.
Fonte: KAM – Banco Mundial (site: http://info.worldbank.org/kam).
O crescimento e desenvolvimento da Coréia do Sul, ao longo dos últimos quarenta
anos, foram centrados no investimento na formação de mão-de-obra altamente qualificada, o
que hoje representa cerca de 80% da população jovem cursando o nível superior 11, e em
setores estratégicos, na área de P&D, tecnologias da comunicação e informação,
semicondutores, nanotecnologia, biotecnologia, entre outras. Em meio à necessidade de se
manter em sua trajetória, a Coréia do Sul instituiu em 2008 o Ministério da Economia do
Conhecimento.
A criação do novo Ministério mostra que o governo sul coreano está atento às
mudanças globais. Este Ministério formulou uma carta de intenções com vistas a superar os
problemas colocados na época atual. São as prioridades deste Ministério: diminuir as
regulações que dificultem a abertura de novos negócios e a atração de capitais externos;
privilegiar os segmentos de semicondutores, biotecnologia, tecnologia da informação e de
novos materiais; estimular atividades econômicas intensivas em conhecimento; racionalizar o
uso de recursos energéticos não renováveis; promover internacionalmente o design industrial
coreano; fortalecer os negócios internos não vinculados às exportações12. Em parte a iniciativa
do governo sul coreano indica a preocupação com o esgotamento do modelo industrial de
crescimento e desenvolvimento no mundo atual, o que impõe implicações para a visão da
política econômica e do desenvolvimento.
11
No Brasil a população entre 18 e 24 anos que cursa o nível superior é cerca de 13%. Em relação à população com nível superior
concluído, na Coréia do Sul é cerca de 30% (Fonte: OCDE) e no Brasil é cerca de 8 % (Fonte: IBGE).
12
Ver referências no site: http://www.mke.go.kr/language/eng
16
O conjunto de dados e informações demonstra melhor desempenho, conforme os
resultados, e uma maior qualidade na condução do desenvolvimento da Coréia do Sul em
relação ao Brasil nos últimos quarenta anos, representando uma alteração no equilíbrio da
Coréia do Sul e um salto econômico e social a um ponto mais satisfatório. Os indicadores
apresentados apontam, também, a diferença temporal e atual das preocupações e
implementações de políticas econômicas e voltadas para o desenvolvimento entre os países. A
Coréia do Sul hoje possui um perfil de desenvolvimento centrado em investimentos em
setores estratégicos e principalmente na educação, na exploração eficiente dos recursos e na
preocupação com o desenvolvimento humano13.
Colocando a educação como elemento central na construção do desenvolvimento, a
Coréia do Sul, conjugando ações voltadas a qualidade de vida da população, construiu em
quarenta anos uma nação mais igualitária, desenvolvida e preparada humana, produtiva,
científica e tecnologicamente para promover a inovação, o conhecimento e o
desenvolvimento. São indicações de um melhor preparo deste país para lidar com as
exigências do mundo atual. Pautou-se no uso da experiência, das habilidades construídas na
forma de capital humano de relevância econômica e do conhecimento para direcionar suas
ações nos campos econômico e social, em meio à reorganização do seu Estado, e para dar
continuidade ao seu processo de desenvolvimento.
Conclusão:
Em resposta a primeira pergunta proposta pelo texto, a definição de Economia do
Conhecimento está em pelo menos dois planos: o plano concreto e o plano abstrato. No plano
concreto estão os mercados, as empresas e as atividades que ao longo da história
incorporaram a informação e o conhecimento na sua estrutura produtiva, transformando os
bens e serviços. Por outro lado, a Economia do Conhecimento é observada pelo surgimento de
novas empresas e nichos de mercado centrados na produção, distribuição e disseminação de
bens e serviços com elevado conteúdo de informação e de conhecimento, como nas áreas de
alta tecnologia, consultoria, software, P&D empresarial, multimídia, cultural, por exemplo.
No plano abstrato, a Economia do Conhecimento é definida como uma ciência que
estuda o uso de recursos não-finitos (conhecimento) para fins de desenvolvimento. É uma
vertente da Ciência Econômica que estuda a utilidade e aplicação do acúmulo de experiências
e descobertas no espaço do conhecimento humano para a resolução de problemas concretos da
sociedade e relacionados à criação de oferta e de demanda.
Em resposta a segunda pergunta, o significado do conhecimento para economia reside
em dois pontos: um é que o conhecimento pode ser gerado de forma controlada, e assim
observado, capturado e apropriado na estrutura do agente econômico na forma de informação,
métodos, habilidades e experiência para uso na gestão e na produção de bens e serviços e para
atingir seus objetivos. O outro é que o conhecimento como causado pela interação
organismo/meio está no centro do circuito e permite o agente econômico ter as possibilidades
de inovar. Nesse caso o conhecimento está no âmago da inovação e é determinante do
progresso tecnológico, conforme a discussão acima.
13
Para uma leitura esclarecedora sobre as diferenças entre Brasil e Coréia do Sul nas escolhas de condução do desenvolvimento, ver Barros
& Mendonça (1998)
17
Em relação às implicações para o Brasil, tomando-se como referência o caso da Coréia
do Sul, deve-se perceber, primeiramente, que é indispensável repensar as vias de crescimento
econômico centrado no modelo industrial de crescimento e desenvolvimento, até então
imbuídas em nossa cultura econômica. A partir do momento que o conhecimento entra de
forma determinante no circuito de produção de valores, trocas e criação de riqueza no mundo,
não endogenizar essas condições em nosso modelo de crescimento e trajetória de
desenvolvimento significa projetar uma discrepância ainda maior com relação às nações mais
avançadas e competitivas. Isso contribuiria ainda mais para o aprofundamento de nossa
dependência econômica e cultural.
Por fim, como resultado último desta reflexão visualiza-se na discussão proposta nesse
texto alguns pontos básicos para inserção do Brasil na Economia do Conhecimento. São eles:
i) Realocar os investimentos e criar oportunidades reais de Educação para toda a população,
convergindo ensino em várias áreas com necessidades sociais, empresariais e mercadológicas,
combinado com o uso da tecnologia e visando a formação de capital humano de relevância
econômica e empreendedor; ii) Deburocratizar a abertura de novos negócios, prover suporte
ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas de tecnologia e promover a atração de
capitais externos para aplicação em recursos produtivos, visando o capital empresarial e de
risco; iii) Focar nos investimento em setores de alta tecnologia como semicondutores,
biotecnologia, tecnologia da informação, de novos materiais, entre outros; iv) Fortalecer os
negócios internos não vinculados às exportações, agregar valor a produção exportada e
construir meios para inserir na pauta de exportações produtos de alta tecnologia; v) Dinamizar
as atividades econômicas intensivas em conhecimento, provendo à economia condições para o
desenvolvimento das estruturas necessárias à inovação, ao desenvolvimento tecnológico e à
inserção competitiva no mundo atual; e vi) Interligar toda nossa estrutura de produção
científica e tecnológica (universidade e demais instituições de pesquisa públicas e privadas)
com objetivos de efetivar transferências do conhecimento, da ciência e da tecnologia para
todos os setores da sociedade, inclusive o empresarial, através de um modelo que promova a
comunicação e os investimentos em P&D, além da criação de canais de transferência de
tecnologia mais efetivos.
Todos os pontos básicos apontados acima, são necessariamente pautados em um uma
visão de desenvolvimento sustentável, visando o uso eficiente dos recursos naturais e
humanos, e o trato dos problemas de desigualdados através principalmente da educação, a fim
de se atingir objetivos maiores de crescimento e desenvolvimento do Brasil.
De uma forma ou outra, ainda que haja vários outros pontos não tratados neste texto e
que refletem de outra ótica, outras necessidades de embasamento de ações políticas concretas
voltadas para o desenvolvimento, o que parece claro é que é necessário reorganizarmos o
Estado brasileiro tendo em vistas as exigências do século XXI. Combinando todos os nossos
potenciais naturais, científicos, tecnológicos, humanos, culturais e os instrumentos
institucionais, políticos e empresariais a fim de consolidarmos uma nação forte econômica e
socialmente, ao longo do tempo. Alertando-nos para a atual Economia do Conhecimento e
para estabelecermos uma política de educação, coadunadas com demais políticas universais e
setoriais, que forneça a população, igualmente, condições para se preparar para o mercado,
para a vida, tendo em vista a relação entre a educação e o desenvolvimento, no longo prazo.
Além dos investimentos maiores e necessários ao sistema nacional de produção científica e
tecnológica e para o uso dessa estrutura na solução de nossos problemas atuais. Do contrário,
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conforme pudemos exemplificar na comparação entre Brasil e Coréia do Sul nos últimos
quarenta anos, principalmente através da análise da Figura 3, nós perderíamos mais uma vez o
trem da história.
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