conhecimento, comportamentos de riscos e sinais/sintomas de

CONHECIMENTO, COMPORTAMENTOS DE RISCOS E SINAIS/SINTOMAS
DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM MULHERES QUE
COMERCIALIZAM SEXO PRÓXIMO OU A BEIRA DA RODOVIA BR-316
NOS MUNICÍPIOS DE ANANINDEUA, MARITUBA E SANTA ISABEL DO
PARÁ, NORTE DO BRASIL
Rosely da Luz Reis1; Luís Junior Costa Saraiva2; Lucinaldo da Silva Blandtt2; Camila
dos Santos Miranda1; Aldemir Branco de Oliveira Filho2
1
Graduação, 2Doutorado
Universidade Federal do Pará (UFPA)
[email protected]
Introdução: O trabalho sexual pode ser definido como uma prática laboral, tendo em
sua essência significados de cunho sociais, históricos e culturais, com inerentes
contribuições da época e do local em que é praticado [1]. Geralmente é exercido através
de negociação direta ou indireta com o cliente sobre os serviços de natureza sexual
(prazer, carícias, sexo e fantasias) a serem prestados [2]. Há possibilidades de se
adquirir patógenos sendo variáveis as condições de acordo com a forma do trabalho, as
condições sociais e o poder aquisitivo dos profissionais do sexo. É importante ressaltar
que os trabalhos que abordam este tema são escassos no norte do Brasil. Objetivos:
Determinar o conhecimento sobre comportamentos de riscos e sinais/sintomas de
infecções sexualmente transmissíveis (IST) em mulheres que comercializam sexo
próximo ou a beira da rodovia BR-316 nos municípios de Ananindeua, Marituba e
Santa Isabel do Pará, norte do Brasil. Métodos: Este estudo descritivo de corte
transversal foi composto de amostra populacional de mulheres profissionais do sexo
(MPS) que atuam próximo ou a beira da rodovia BR- 316 nos municípios de
Ananindeua, Marituba e Santa Isabel do Pará, norte do Brasil. Os encontros com as
participantes ocorreram no período de agosto de 2015 a abril de 2016 em dois tipos de
ambientes, que no caso foram os postos de saúde e estabelecimento comerciais ambos
nos municípios escolhidos para o estudo. Iniciou-se a construção da amostra mediante
uma seleção não aleatória (1º encontro) de um número pequeno de MPS, as quais foram
nomeadas de “sementes”. Foram obtidas oito MPS (“sementes”), que foram convidadas
a participarem do estudo, três em Ananindeua-PA, três em Marituba-PA e duas em
Santa Isabel do Pará. Cada uma das sementes recebeu três convites personalizados para
convidar seus pares, dando início à primeira onda do estudo. As MPS recrutadas pelas
sementes, também receberam três convites para convidarem suas “amigas” MPS (novas
ondas) e assim consecutivamente, até obter a população desejada para o estudo. Em
todos os encontros com as MPS, uma equipe contendo poucos profissionais realizaram
atividades de coleta de informações, aconselhamento acerca de infecções sexualmente
transmissíveis e obtenção de amostras biológicas, e definindo dia, horário e local do
próximo encontro a ser realizado. A cada mulher integrante desse estudo foi ofertado
vale transporte correspondente a duas viagens para o seu deslocamento. O auxílio pode
ser estendido à participante recrutadora pelo acompanhamento de cada indicação
(“amiga” profissional do sexo), que possuísse os critérios elegíveis para o estudo. Nessa
vertente, os critérios de inclusão foram: ser do sexo feminino, ter idade igual ou
superior a 18 anos, realizar relação sexual em troca de remuneração, trabalhar próximo
ou a beira da BR-316 e apresentar um convite válido no ato da entrevista. Os critérios
de exclusão: ser transgênero, possuir idade inferior a 18 anos e estar sob o efeito de
drogas psicotrópicas. Todas as MPS forneceram informações por meio de formulário
estruturado, preenchido através de entrevista face-a-face. Durante a coleta de
informações, todas as participantes foram convidadas a realizarem testes qualitativos
Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de
novembro de 2016. ISSN 2359-084X.
rápidos para avaliar a presença do vírus da imunodeficiência humana (HIV), do vírus da
hepatite B (HBV), do vírus da hepatite C (HCV) e da bactéria Treponema pallidum.
Todas as MPS que aceitaram fazer os testes receberam os resultados após a entrevista
face-a-face. As MPS diagnosticadas com algum dos patógenos obtiveram
encaminhamento para atendimento em unidade local da rede pública de saúde.
Resultados e Discussão: Nesse estudo participaram 125 MPS participaram, sendo 56
(44,8%) abordadas em Marituba, 46 (36,8%) em Ananindeua e 23 (18,4%) em Santa
Isabel do Pará. A maioria das MPS apresentava idade entre 18 e 23 anos (38,4%) e
informou ter nascido em municípios do Pará (58,4%). Identificou-se que a média da 1ª
relação foi de 12 anos de idade, sendo que a idade média da primeira troca por dinheiro
foi de 14 anos. O início precoce da vida sexual, acompanhada do envolvimento no
comércio sexual, aumenta a probabilidade de aquisição de IST, em especial quando
ferramentas de prevenção à transmissão de patógenos não são utilizadas e exames
preventivos não são realizados com regularidade. Muitas MPS (51,2%) relataram que
usaram preservativo durante relações sexuais praticadas nos últimos 7 dias. Entretanto,
muitas informaram já ter realizado sexo desprotegido, principalmente com parceiros
fixo e quando o cliente pagou mais pela relação sexual. Além disso, as MPS
identificaram como principais sinais e sintomas IST: feridas ou úlceras na genitália
(78,4%) e prurido (69,6%). A presença de dor e ardência ao urinar (51,2%) foi outro
sinal de IST reconhecido pela maioria das MPS. Nesse estudo, muitas MPS não
consideraram ou não souberam informar que dor abdominal, dor e ardência ao urinar e
edema na virilha são sinais e sintomas sugestivos de IST, o que revela a desinformação
das MPS em relação aos sinais e sintomas de IST. Tais resultados corroboram com
outros estudos evidenciando a necessidade de maiores investimentos em estratégias de
educação em saúde, visando à identificação de sinais e sintomas de IST nesse grupo de
vulneráveis [3]. Em relação ao conhecimento das MPS sobre a infecção pelo HIV, a
maioria delas, reconheceu: a transmissão do HIV por meio de injeções com agulhas
usadas por alguém infectado (92%), que uma pessoa com aspecto saudável pode estar
infectada pelo HIV (78,4%) e o uso correto do preservativo em todas as vezes que faz
sexo protege da infecção pelo HIV (82,4%). Apesar de muitas MPS considerarem
alguns fatores relacionados à transmissão do HIV, ainda existem desinformações. 51
(40,8%) MPS apresentaram resultados positivos para pelo menos um patógeno com a
prevalência de infecção por HIV foi de 8,8%, infecção por HBV foi de 17,6% e
infecção por HCV foi de 4,8%. Adicionalmente, muitas MPS relataram a presença de
sinais ou sintomas de IST conforme abordagem sindrômica do Ministério da Saúde [4].
Conclusão: Este estudo identificou que a maioria das MPS que atuam próximo da
rodovia BR-316 apresentam prevalências de IST relativamente superior às observadas
na população em geral, com muitas informações errôneas quanto ao conhecimento de
sinais/sintomas de IST. Tal cenário de desinformação tem se revelado como fator
gerador de comportamentos de riscos dificultando assim o diagnóstico precoce, melhor
prognóstico e interrupção da cadeia de transmissão de patógenos. Nessa temática, o
estudo torna-se de extrema valia para o desenvolvimento de ações de prevenção e
assistência em saúde nesse grupo vulnerável de mulheres no Pará. Financiamento:
FAPESPA.
Referências:
1. Teixeira Rodrigues M. A prostituição no Brasil contemporâneo: um trabalho como
outro qualquer? Rev Katálysis. 2009; 12:68-76.
Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de
novembro de 2016. ISSN 2359-084X.
2. Silva EF, Costa DE, Nascimento JU. O trabalho das profissionais do sexo em
diferentes lócus de prostituição da cidade. Psicologia: Teoria e Prática 2010; 12:
109-122.
3. Costa AB, Guerra Silva NMM, Catussi Pinheiro EF, Grandi AL, Tashima CM,
Toledo Neto JL, Zannata Lf, Melo SCCS. Situação de saúde de profissionais do
sexo em um município do norte do Paraná. Ver Odontologia. 2014; 14: 257-276.
4. Brasil. Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) – Relatório de família, 2002.
Disponível em: . Acesso em: 20 de janeiro 2016.
Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de
novembro de 2016. ISSN 2359-084X.