XV SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA E OUTRAS DOENÇAS DO NEURÔNIO MOTOR: 2 A 4 DE DEZEMBRO DE 2004 – FILADÉLFIA - EUA ATENÇÃO: O conteúdo deste documento é de responsabilidade da AbrELA (Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica) e seus autores. A ciência na área da saúde produz um enorme volume mensal de novas informações, o que torna por diversas vezes inviável o seu acompanhamento. Os Congressos e os Simpósios permitem que os especialistas tenham acesso às novidades e a troca rápida das informações adquiridas traz novos conhecimentos e diretrizes para as melhores pesquisas e condutas nas diferentes áreas de atividade. Anualmente, sobretudo no final do ano, tradicionalmente acontece o Simpósio Internacional em doenças que afetam o corpo celular do neurônio motor. O primeiro simpósio ocorreu em 1990, praticamente contando somente com um número pequeno de médicos. O interesse não era tão grande, uma vez que a incidência e a prevalência das doenças que afetam o neurônio motor eram consideradas pequenas e pouco tinha-se para oferecer em relação aos aspectos terapêuticos. Com a manutenção dos simpósios verificou-se um interesse crescente de especialistas, das mais diversas áreas da saúde, constituindo-se, hoje em um simpósio multidisciplinar, contando também com uma categoria especial de “profissional”: o cuidador. A cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, foi escolhida para sediar o XV Simpósio Internacional. As razões para a escolha desta cidade foram inúmeras. Ela é a quinta maior cidade americana e é o local da instalação da independência e da liberdade dos Estados Unidos. Dentre os principais marcos da cidade destacam-se a Parede da Independência e o Sino da Liberdade. Este sino ressoou pela primeira vez em 1753, mas desde 1846, devido a uma rachadura, ele não toca mais. Entretanto, o som da liberdade continua ressoando para todos os americanos e para aqueles que crêem na democracia. A organização do Simpósio, realizada pela MND Association da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, em co-operação com a International Alliance of ALS/MND Associations, desenhou um programa com as novas evidências na área que permitirão um melhor cuidado e esperanças para aqueles que sofrem de doenças do neurônio motor. INTRODUÇÃO: Este Simpósio teve a duração de três dias, com formato padronizado: palestras magnas com todos os congressistas; duas ou três sessões paralelas com abordagem de temas comuns; sessão de poster; sessão de encerramento, destacando-se o resumo do evento por renomados e muito perspicazes especialistas. Deve-se chamar a atenção para o momento tão esperado, denominado Surprise - Box (caixa de surpresa), onde é apresentada a surpresa na área de pesquisa. Foram 650 inscritos, praticamente com representação de todas as áreas da Ciência da Saúde, com especialistas de todos os continentes, com apresentação de 197 trabalhos científicos. A produção latino americana, ainda é muito pequena, sendo o Brasil representado por apenas três profissionais: dois médicos e um nutricionista. A ABRELA esteve presente e, em conjunto com o Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, apresentou cinco trabalhos científicos, clínicos, comprovando-se o crescimento desta associação, já conhecida internacionalmente. Este livreto tem o propósito de produzir as informações de destaque do evento, referentes a diversos aspectos da causa, do diagnóstico e do tratamento da Doença do Neurônio Motor / Esclerose Lateral Amiotrófica. ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), ou Doença de Neurônio Motor (DNM), é uma condição neurodegenerativa, rapidamente progressiva e fatal, caracterizada por comprometimento dos neurônios motores no cérebro (neurônio motor superior – NMS) e na medula nervosa (neurônio motor inferior – NMI). A cada noventa minutos, alguém é diagnosticado com ELA, uma doença descrita pela primeira vez, em 1869, por Jean Martin Charcot. A condição é de etiologia desconhecida e, até o momento, sem cura. Nos últimos anos, entretanto, houve um grande avanço para o entendimento desta enfermidade, que tornou-se um exemplo de doença neurodegenerativa como modelo para testes terapêuticos. Sintomas iniciais incluem cãibras, fasciculações, fraqueza muscular, seguindo-se atrofia. A evolução é caracterizada pelo desenvolvimento de fraqueza muscular generalizada, destacando-se disfonia, disartria, disfagia e insuficência respiratória. Na maioria dos casos, as funções cognitivas do paciente permanecem completamente intactas, a despeito do efeito devastador que ocorre no corpo. A comprovação que alguma medicação possa alterar o curso natural da doença (Riluzol, desde 1994), estimulou, em um curto espaço de tempo, pesquisas com vários medicamentos e formas de atuar contra as limitações físicas impostas, tanto em modelos animais ELA-like, como em humanos, permitindo-se não só mais sobrevida, mas sobretudo mais qualidade de vida. Há, ainda, um grande número de questões éticas e dificuldades científicas que têm sido solucionadas com o melhor entendimento das múltiplas facetas desta enfermidade. EPIDEMIOLOGIA A incidência (número de novos casos no ano / 100 000 pessoas) e a prevalência (número de casos em um determinado momento / 100 000 pessoas) de ELA são relativamente similares em todo o mundo. A incidência varia de 0,2 a 2,5 casos / 100 000 pessoas, sendo semelhante àquela encontrada em Esclerose Múltipla (EM). Entretanto, a prevalência, aproximadamente 7 / 100 000 pessoas é muito menor que na EM, pois os pacientes com ELA têm prognóstico mais reservado. ELA, preferentemente, ocorre em pessoas mais idosas, com idade média ao redor dos 55 anos, afetando mais homens que as mulheres (1,25:1). Um aumento aparente da incidência nos últimos anos pode estar relacionado ao melhor conhecimento da ELA, levando a um diagnóstico mais precoce e de certeza. Uma alta prevalência é reportada em certas regiões geográficas, por exemplo a Ilha de Guam (localizada ao sul das Ilhas Marianas). Nesta região, um quadro clínico complexo constituído por ELA, parkinsonismo e demência ocorreu, no passado, na população dos Chamorros, com uma prevalência cerca de 50 vezes maior do que no mundo ocidental. A ausência de um padrão hereditário definido, e a maior presença em certos núcleos familiares proporcionou uma especulação causal de presença de determinados aspectos genéticos que favoreceriam a instalação da enfermidade desde que as pessoas fossem expostas a determinados fatores tóxicos. A descoberta da íntima relação entre processo de morte do neurônio e ação do glutamato (processo de neuroexcitotoxicidade), especulou-se que os Chamorros poderiam estar expostos a algum agente neurotóxico. Por muitos anos, imputou-se à farinha rica em Cycad a causa deste complexo clínico. Cycad, proveniente de uma palmeira regional, é rico em beta – metil – amino – L – alanina (BMAA), um potente aminoácido excitotóxico. BMAA lesiona córtex motor de cérebro de macacos e os Chamorros usam a farinha com Cycad para fazerem tortilhas. Entretanto, o costume de lavar a farinha em água, processo que remove BMAA, não permitia relacionar com precisão as tortilhas com o comprometimento neurológico dos Chamorros. Dr P.A. Cox, do Instituto de Ethnobotany, Kauai, Havaí, apresenta uma nova explicação para este interessante aspecto clínico. Considerando-se que a doença tinha um forte impacto regional, possivelmente relacionada com aspecto nutricional, estudou-se o hábito alimentar nesta região. Um outro único hábito alimentar particular deste povo era a ingestão de “flying fox”, uma espécie de morcego com aspecto facial de raposa. A análise de BMAA neste morcego demonstrou a presença muito elevada de BMAA. Este aminoácido excitatório cruza barreira hematoencefálica e também mostrou-se aumentado no cérebro de seis pacientes com o complexo ELA / Parkinson /Demência. A origem do BMAA encontra-se nas cianobactérias que vivem em simbiose com os frutos de plantas, que por sua vez são fonte nutricional para os flying-fox. FIGURA 1 – FLYING FOX FIGURA 2 – FLYING FOX Demonstra-se, assim, uma associação entre uma neurotoxina presente no meio ambiente e um comprometimento cerebral onde ELA é uma característica dominante. ETIOPATOGENIA: A causa para a Esclerose Lateral Amiotrófica não é totalmente esclarecida. Os trabalhos epidemiológicos e, sobretudo os experimentos com modelos animais têm permitido concluir que a doença relaciona-se com a presença de algum fator genético e a sua expressão clínica estaria relacionada com a exposição deste indivíduo, marcado geneticamente, a algum fator que funcionaria como gatilho para o desencadeamento do processo de degeneração do motoneurônio. Dentre os gatilhos destacam-se: processo inflamatório; exposição a agentes tóxicos (endógenos – do próprio indivíduo; ou exógenos – produtos do meio ambiente, por exemplo exposição ao BMAA); atividade física. Por muitos anos, pacientes com doença neurodegenerativa do sistema motor têm recebido conselho de seus médicos para a diminuição de atividade física devido ao risco de acelerarem o processo de morte celular. Entretanto, uma revisão crítica da literatura não demonstrava uma relação tão forte entre atividade física e progressão mais rápida da doença Dr Adriano Chiò, de Turim, Itália, apresenta um importante estudo sugerindo uma relação estreita entre atividade física intensa e ELA. Historicamente, no primeiro caso descrito de ELA (Aran, 1850), já se observava esta associação: o paciente apresentado era um palhaço acrobático. Na década de 1940, nos EUA, o famoso jogador de Beisebol, Lou Gehrig, veio a falecer com ELA e não sem razão, nos EUA, ELA recebe o nome deste grande esportista. Na década de 1960, três jogadores de Futebol Americano, do San Francisco 49ers, Califórnia, EUA, desenvolveram ELA e acreditou-se ao inseticida usado nos campos de futebol a causa desta associação, mas especulava-se uma possível relação entre ELA e Atividade Física. Em 2000, na Itália, o Dr Raffaele Guariniello, promotor de justiça, começa a se preocupar com a utilização frequente de drogas nos esportes competitivos e com os seus possíveis malefícios. Em uma análise preliminar, verificou-se uma frequência aumentada de doenças, destacando-se ELA, AIDS e doenças cardiovasculares nestes esportistas quando comparados com outras populações. Em estudo retrospectivo, todos os jogadores da liga italiana (maior e júnior) foram estudados, com intuito de verificar se realmente havia aumento da incidência de ELA nestes esportistas. Como fonte de pesquisa foram usados os arquivos da Compania Paniny (álbum de figurinha dos jogadores), os arquivos dos jogadores profissionais da liga italiana de futebol, os certificados de óbito e as informações obtidas de noticiário da imprensa. Assim, verificou-se que entre os anos de 1970 a 2001, foram inscritos 7325 atletas como jogadores de futebol. Destes, 1041 não foram analisados, pois não eram atletas italianos. ELA, diagnosticada através de critérios de El Escorial, esteve relacionada em 18 atletas, quinze nascidos na Itália e três nascidos em outros países, um número muito superior que aquele esperado. Outra característica importante era a idade: quatro atletas começaram a apresentar seus sintomas em idade menor (média de 43,4 anos) quando comparada a de outros núcleos populacionais com ELA na Itália (média de 57 anos). O jogador mais afetado era aquele que tinha uma posição no time de meio campista. Com estes dados, mostrou-se uma relação nítida entre atividade física intensa e desenvolvimento de ELA. Especulou-se como fator desencadeador traumas repetitivos na cabeça ao cabecear bolas inúmeras vezes. Entretanto, considerando-se que meio campista cabeceia menos bolas que atacantes e zagueiros, um outro fator deve ser relacionado. Talvez, a doença esteja associada com a atividade do correr. Estes atletas têm uma exigência aeróbica intensa, com muitos kilômetros por partida, desenvolvendo microtraumas musculares, com liberação de substâncias potencialmente tóxicas, que captadas pelo botão terminal do nervo periférico, poderão por transporte retrógrado chegar ao corpo celular do neurônio motor, desencadeando uma cascata de processo degenerativo e morte do motoneurônio. Em modelos animais, camundongos (G93A mouse, H46 rat), peixe (ALS zebra fish) e nematóides (ALS worm), tem-se demonstrado a presença de muitos genes que podem estar implicados na gênese desta enfermidade. Dentre estes genes destacam-se aqueles relacionados com o transporte de substâncias ao longo do nervo periférico: para o transporte anterógrado (do corpo celular para a periferia do nervo) destaca-se a presença da kinesina e da myosina; para o transporte retrógrado (da porção terminal do nervo para o corpo celular) destacam-se a dyneina e a dynactina. Mutações nestes genes ocasionam defeito do transporte, acarretando a presença de agregados protéicos, com inchaço do axônio (porção interna do nervo). Estes modelos animais têm permitido estudar todas as particularidades dos processos que podem ocasionar morte celular: FIGURA 3 GLUTAMATO FLUXO AXOPLASMÁTICO ANORMAL APOPTOSE VEGF SOD1 INFLAMAÇÃO DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de ELA requer a demonstração da presença de sinais de envolvimento do neurônio motor superior (fraqueza e sinais de liberação piramidal), ao lado de sinais de comprometimento do neurônio motor inferior (atrofia, fasciculações). O diagnóstico é baseado em aspectos clínicos, tendo o eletroneuromiograma como exame fundamental para a caracterização do diagnóstico. Outros exames subsidiários são realizados com intuito de afastar outros diagnósticos clínicos que podem mimetizar ELA. Até o presente, não há nenhum exame que seja um marcador definitivo de ELA. Vários exames foram apresentados com um bom potencial marcador diagnóstico ou de acompanhamento da doença, permitindo-se, ainda, distinguir comprometimento predominante do NMS ou do NMI: Ressonância Magnética com técnica MTC / ST1 é útil para a demonstração de envolvimento do trato córtico especial quando os pacientes apresentam comprometimento de NMS; Ressonância Magnética com espectroscopia: a diminuição da relação NAA / Cr é indicativa de comprometimento do NMS; Imagem por tensão de difusão (DTI – diffusion tensor imaging), que analisa a presença de anisotropia de difusão, resultante da prefeência das moléculas da água de difundirem-se ao longo dos axônios em vez de cruzá-los, permite diagnosticar, precocemente comprometimento do axônio no Sistema Nervoso Central. Esta técnica permite, ainda, a realização do estudo de todo o trato cortiço-espinhal (tratagrafia), associando-se análise volumétrica deste trato, permitindo-se não só diagnóstico topográfico, mas também estudo longitudinalmente em “trials” clínicos; Estimulação magnética transcutânea permite a exploração da função inibitória cortical, útil para o diagóstico de envolvimento do trato córtico espinhal (NMS), mesmo na ausência clínica de sinais de comprometimento desta via; Teste eletrofisiológico com contagem de unidades motoras (MUNE – motor unit number estimation) é útil para acompanhamento de pacientes com ELA, com envolvimento do NMI. Este teste tem sido recomendado para a realização dos “trials” medicamentosos. Mesmo com o potencial destes exames, há um tempo importante perdido entre os primeiros sintomas e o diagnóstico de ELA. Muitos pacientes só são diagnosticados em estágios avançados da doença. Em muitos casos, os médicos mantém-se relutantes em confirmarem o diagnóstico de ELA devido a limitação terapêutica. A média entre os primeiros sintomas e o diagnóstico persiste ao redor de 12 meses. Os critérios diagnósticos desenvolvidos em base do El Escorial / Airlie House, considerando-se ELA possível, provável ou definitiva são importantes para a realização de trials clínicos. Mesmo com estes critérios, cerca de 10 % dos pacientes recebem diagnósticos não apropriados. TRATAMENTO: Foram apresentadas as mais diferentes formas terapêuticas para a ELA durante o Simpósio. Observase, ao longo dos anos, um aumento substancial de pesquisas, objetivando-se diminuição da progressão da doença, ou até reparação funcional, além da melhora das condições de qualidade de vida do paciente, mas não se esquecendo dos familiares e, principalmente, dos cuidadores. As sessões terapêuticas foram divididas em três partes: terapia medicamentosa; manipulação celular e reparo funcional; e qualidade de vida. 1) TERAPIA MEDICAMENTOSA Pesquisas em ELA têm sido muito beneficiadas com aumento progressivo de investimento nos últimos anos. O NIH (National Institute of Health – EUA) financiou pesquisas com gasto de 40 milhões de dólares no ano de 2003. A Associação de Distrofia Muscular (MDA) financiou cerca de 45 milhões de dólares entre os anos de 1990 e 2004, enquanto a Associação de ELA (ALSA) tem financiado cerca de 5 milhões de dólares, anualmente. Em 25 anos, notou-se um aumento de cinco vezes de publicação anual em ELA e novas tecnologias têm facilitado desenvolvimento de drogas, sobretudo em modelos animais, encurtando muito o tempo de pesquisa. Há cerca de 1,5 milhões de componentes que podem ser utilizados em medicina, sendo que cerca de 3000 moléculas podem ter alguma eficácia no tratamento da ELA. Hoje, praticamente todas as pesquisas são iniciadas em modelos animais, tendo os camundongos G 93A e H 46R os modelos mais usados. Uma droga com eficácia potencial deve seguir um ritual muito bem definido até que seja incorporada no arsenal terapêutico. Após a descoberta de uma determinada droga, ela passa por um processo de otimização e, posteriormente, são iniciados os testes pré-clínicos em laboratório (geralmente com animais, especialmente aqueles que são modelos aproximados da doença em estudo). Comprovando-se uma aplicabilidade potencial, ela é testada em humanos em fases bem definidas: FASE I: teste em pessoas sadias, para demonstração de segurança; FASE II: aplicação em pessoas com a doença em estudo; FASE III: ampliação de uso para vários pacientes com a doença em estudo, geralmente sob uma forma de estudo multicêntrico (vários locais de estudo); FASE IV: estudo de efeitos secundários que poderiam inviabilizar a introdução da droga; APROVAÇÃO: a aprovação não é imediata. Nos EUA, o FDA é o órgão responsável pela aprovação das drogas, sintetizadas ou não nos EUA. No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão governamental regulador. Embora aparentemente muito burocrática, as pesquisas devem seguir preceitos rígidos e bem regulamentados, com pareceres de comissão de ética. Pesquisas que não seguem estes preceitos não são sérias, tornando-se muito perigosas. Considerando-se as diferentes facetas envolvidas na etiopatogênese da ELA, muitas drogas têm sido testadas, em diferentes fases de experimentos: ANTI-INFLAMATÓRIO ANTI-APOPTOSE ANTIGLUTAMATO SOD1 CELECOXIB PENTOXIFILINA TALAMPANEL MINOCICLINA CEFTRIAXONE TCH – 346 MEMANTINA ARIMOCLONAL NBQX NAALAdase 4 500 DROGAS 47 POTENCIAIS FENILBUTIRATO DE SÓDIO A Dra Cudkoxicz apresentou o estudo em Fase III com CELECOXIB (CelebraR). Cerca de 300 pacientes, com idade média de 55 anos, foram avaliados, sob forma aleatória (randomizada) em 27 diferentes centros de pesquisa, sendo que 2/3 deles fizeram uso de Celecoxib na dosagem de 800 mg diariamente, enquanto que 1/3 fizeram uso de placebo. Como medidas de eficácia foram realizadas: análise de força muscular (MVIC – maximum voluntary isometric contraction) e de qualidade de vida (ALS FRS); estudo eletroneuromiográfico com quantificação de unidades motoras (MUNE); sobrevivência; tolerabilidade. Como biomarcadores estudou-se a presença de marcador inflamatório (prostaglandina E2) no líquido céfalorraquidiano (LCR). Demonstrou-se que o uso de CELECOXIB não proporcionou mudança na progressão da doença. Entretanto, mesmo na dosagem de 800 mg diariamente, não se observou aumento de problemas cardiovasculares na população em estudo. A diferença de resultado observado em humanos, quando comparado em animais, pode ser justificada pois os animais foram tratados em fase inicial de doença, enquanto que nos humanos o início do tratamento, raramente é precoce (falta de um marcador diagnóstico que permita um diagnóstico precoce). Uma outra explicação pode se basear no fato que a penetração do medicamento através da barreira hemato-encefálica é pequena, atingindo dosagens baixas no sistema nervoso central e no LCR. Uma revisão detalhada realizada pelo Dr RW Orrel, de Londres, Inglaterra, demonstrou que há evidência insuficiente de eficácia dos antioxidantes no tratamento a pacientes com ELA. A alta tolerância e segurança, aliada a um custo relativamente baixo, explicaria o uso consagrado de vitaminas C e E nesta doença e em outras doenças degenerativas. Por outro lado, não se demonstrou uma contra-indicação para o seu uso. CÂMARA HIPERBÁRICA: O Dr Walter Bradley, de Miami, EUA, apresentou resultado preliminar de cinco pacientes tratados em câmara hiperbárica, com sessões de 60 minutos, com oxigênio a 100% e pressão de duas atmosferas, cinco dias na semana, durante quatro semanas. A pesquisa baseava-se no fato que anormalidades mitocondriais, intimamente relacionadas com ELA, poderiam ser minimizadas com esta técnica, como demonstrado em modelo animal com Wobbler mouse. O método mostrou-se seguro e, aparentemente, os pacientes apresentaram uma discreta melhora da força muscular. Mesmo considerando este resultado, como pode ser um efeito placebo, o Dr Braddley não recomenda tratamento com câmara hiperbárica até que novos estudos sejam completados. 2) MANIPULAÇÃO CELULAR E REPARO FUNCIONAL GENE TERAPIA Embora uma das armas terapêuticas mais promissoras, com muitas pesquisas na área, os sucessos obtidos têm sido limitados. Uma das indicações mais precoces que a transferência de genes poderia ser usada terapeuticamente foi proposta na década de 1960, em experimento com plantas. Em 1988, desenvolveu-se o primeiro clínico trial na área, mas pesquisas realizadas a seguir foram tão decepcionantes que muitos cientistas começaram a duvidar do real potencial terapêutico da gene terapia. O insucesso com morte de um paciente na Pensilvania, exigiu mais cuidados nas pesquisas, exigindo-se uma maior segurança nos experimentos, com trabalhos em modelos animais, antes de implantação no ser humano. Dr N.N. Singh de Massachussets, EUA, apresentou um modelo terapêutico de extrema importância para a Atrofia Muscular Espinhal (AME), também uma doença que afeta o corpo celular do neurônio motor, de origem genética. Através da técnica onde se realiza uma mutagênese local-dirigida, verificou-se a possibilidade de melhorar o sítio gênico onde ocorre expressão de importantes proteínas. Na AME, uma melhora no EXON 7 (locus gênico relacionado com a doença) poderia implementar uma maior produção da proteína SMN2, necessária para a sobrevivência do motoneurônio. Embora promissora, esta técnica, ainda, não foi testada em humanos. CÉLULA-TRONCO O uso célula-tronco como tentativa de terapia reparativa ou regenerativa tem sido descrito como uma das mais promissoras terapias. O isolamento de célula-tronco de células embrionárias ou de tecido fetal, expandidas em culturas, permite-se a sua diferenciação em neurônios e em célula da glia. Entretanto, até o momento, a terapia com a simples administração das células-tronco nos locais onde há degeneração celular tem sido sem sucesso. Os neurônios de grande projeção, como aqueles envolvidos na ELA e na doença de Parkinson, requerem não somente um repovoamento regional, mas também uma instalação da rede de sinapses. Para a sobrevida destas novas células administradas e para a formação da rede é necessária a presença regional de inúmeras substâncias neurotróficas, destacando-se GDNF (fator neurotrófico derivado da glia, IGF (fator de crescimento insulina-like), VEGF (fator de crescimento de endotélio vascular). Não basta, portanto colocarmos somente as células, temos que aprender como liberar regionalmente estas substâncias neurotróficas. Até o momento, não há qualquer demonstração que o uso de célula-tronco em ELA tenha mudado a história natural da doença. Os trabalhos apresentados pelo grupo de Kiev, Ucrânia, com uso de células fetais, sob administração endovenosa, e as informações provenientes de Pequim, China, mas não apresentadas no Simpósio, com uso de células-tronco provenientes do nervo olfatório, administradas localmente no cérebro, não receberam qualquer crédito ou destaque. A Dra Letizia Mazzini, de Turim não demonstrou continuidade de seu trabalho, apresentado nos dois últimos simpósios, com implantação de células mesenquimais da medula óssea na coluna dorsal de pacientes com ELA, talvez relacionado com resultados desapontadores. Dr S.H. Appel, de Houston, EUA, apresentou um trabalho muito interessante com transplante de células – tronco mesenquimais alogênicas. Esta forma terapêutica baseava-se no fato que há na ELA um processo degenerativo do motoneurônio acompanhado de ativação da microglia, dos astrócitos, de linfócitos e células dendríticas, além de aumento de citocinas. O processo inflamatório, como demonstrado em camundongo com mutação SOD1, tem um importante papel no processo de morte neuronal, através do mecanismo de amplificação da lesão. Seis pacientes com ELA, masculinos, com idade variando de 35 a 59 anos, em fase inicial de doença, foram submetidos à radioterapia-mieloablativa, seguida de quimioterapia, e transplante de células-tronco hematopoiéticas da medula óssea de doadores HLA compatíveis (irmãos). Não houve complicação maior no procedimento e todos os pacientes foram acompanhados sob uma forma contínua. Três pacientes apresentaram evolução clínica semelhante a maioria dos pacientes com ELA e dois pacientes apresentaram uma estabilização clínica por um período de mais ou menos um ano, com comprometimento progressivo após este período. Um paciente tem apresentado uma evolução clínica muito satisfatória, praticamente com estabilização da doença. Estes resultados são muito preliminares para conclusões definitivas, merecendo, portanto mais estudos para a demonstração de uma real terapia. . VETORES VIRAIS O uso de vetores virais (virus alterados por técnicas de engenharia, sem efeito infeccioso, contendo um ou vários genes terapêuticos de interesse) tem demonstrado uma estratégia terapêutica bastante promissora. Quando administrados localmente, por exemplo no músculo esquelético, estes vírus podem chegar ao sistema nervoso através de transporte retrógrado ao longo do nervo. Vários virus têm sido utilizados, destacando-se: herpes simples, adenovírus, vírus adenoassociado, lentivirus, retrovirus. Dr M. Azzouz, de Leuven, Bélgica, reportou que injeções intramusculares de vetores com lentivírus EIAV (equine infectious anaemia virus) expressando VEGF (vascular endothelial growth factor – fator neurotrófico fundamental para a formação de capilares vasculares) prolongou muito a sobrevida de camundongos com a mutação G 93A da SOD1, sem qualquer efeito tóxico detectável. Dr C. Haenggeli, da Califórnia, EUA, reportou que injeções intramusculares de AAV (adenovírus associado) expressando EAAT (excitatory amino acid transporter – importante para regular a quantidade liberada de glutamato na fenda sináptica) em camundongos SOD1 mutantes podem ser uma arma poderosa para diminuir o processo de excitoxicidade mediada pelo glutamato. A combinação de implante de células-tronco associado com métodos de terapia gênica ou com vetores virais carregando fatores neurotróficos vai ser, nos próximos anos, uma das principais armas terapêuticas para prevenir, ou pelo menos diminuir a progressão de morte celular nas doenças degenerativas do sistema nervoso. 3) QUALIDADE DE VIDA Para conviver com as limitações que surgirão com a evolução da doença e planejar “os próximos passos”, pacientes, cuidadores, familiares e profissionais da área da saúde necessitam de apoio físico, psicológico e espiritual. Seguindo conceitos do tipo: reconceituação e repriorização, os pacientes com ELA reorganizam seus objetivos, valores e crenças; enquanto cuidadores e profissionais envolvidos buscam atender as necessidades do paciente, muitas vezes comprometendo sua própria qualidade de vida (QV). Portanto, melhorar a QV das pessoas envolvidas com ELA tornou-se parte integrante e desafio no tratamento. Medida da QV tem merecido destaque em todos os momentos de acompanhamento, merecendo destaque as seguintes escalas de avaliação: Mc Grill Quality of Life Questionaire (MQOL) Zing Depression Scale (ZDS) Idler Index of Religiosity (IRR) COMUNICAÇÃO A disartria afeta a maior parte dos indivíduos com ELA, resultado da atrofia e fraqueza da musculatura da face, língua, faringe e laringe. Os primeiros sinais são rouquidão, voz débil, falta de vocalização, culminando em anartria. A indicação precoce de meios alternativos de comunicação garante a manutenção do poder de expressão do paciente em todos os estágios da doença. Entretanto, mesmo com uma grande variedade de formas para a manutenção da comunicação, a aplicação destas técnicas tem recebido uma atenção limitada dos profissionais que tratam pacientes com ELA, mesmo em países chamados de Primeiro Mundo. O acesso às formas de comunicação (gráfica, gestos oculares, computadorizada, digitalização de voz) depende do grau de necessidade e estilo de vida do paciente e o profissional da área da saúde tem a obrigação de adaptar e estimular formas específicas de comunicação. A perda da comunicação é considerada como a “morte social”do paciente com ELA. Dr Nicolelis, brasileiro trabalhando há muito tempo na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA, apresentou uma série de experimentos com modelos computacionais em tempo-real que poderão ser uma arma poderosa para a comunicação. Em modelo animal, com macacos demonstrou-se que com uso de marcapassos é possível criar sinais cerebrais e atividade motora. DISFAGIA A disfagia afeta cerca de 60% dos pacientes com ELA, resultado das alterações nos territórios de inervação bulbar (territórios dos nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso). Manifesta-se com dificuldade de mastigação e deglutição, engasgos frequentes, resultando em diminuição da ingesta alimentar, perda de peso, desidratação e pneumonia aspirativa. Vale ressaltar que em 75% dos casos de broncoaspiração pulmonar os pacientes são assintomáticos. Disfagia e pneumonia aspirativa relacionada são freqüentemente os principais fatores que comprometem a qualidade de vida e a sobrevivência de pacientes com ELA. São propostos métodos de análise para o diagnóstico precoce de aspiração e as suas conseqüências, como manometria do esôfago e avaliação endoscópica com teste de sensibilidade (FEESST – flexible endoscopic evaluation of swallowing with sensory testing). Definindo-se risco de aspiração deve-se sugerir a introdução de dieta através de sonda gástrica após realização de PEG (gastrostomia endoscópica percutânea). Os manuais terapêuticos têm sugerido a realização de PEG quando os pacientes tiverem um Índice de Massa Corpórea (IMC) abaixo de 18,5. Em situações onde as condições respiratórias não forem seguras, ou seja Volume Corrente abaixo de 50% do predito, a gastrostomia deve ser realizada através de auxílio radiológico (RIG – radiologically inserted gastrostomy). NUTRIÇÃO Disfagia, aumento das necessidades nutricionais devido ao gasto respiratório, diminuição da ingestão alimentar e desidratação justificam a perda de peso nos indivíduos com ELA. A manutenção do peso corporal dentro dos padrões de normalidade tem-se constituído busca constante. Tal comportamento justifica-se pela clara relação entre o peso corporal e a evolução da doença. O acompanhamento nutricional compreende adequação da ingestão alimentar frente às necessidades individuais, consistência alimentar, fracionamento das refeições, proporcionamento e ingestão hídrica. A indicação de suporte nutricional complementar faz-se necessário desde o início do tratamento. Com a instalação e/ou piora do comprometimento bulbar, a PEG é um importante recurso para manutenção da adequação nutricional e, consequentemente, na maioria dos casos, do estado nutricional do paciente. FUNÇÃO RESPIRATÓRIA Dispnéia constitui-se em um dos principais sintomas na ELA, causada por debilidade dos músculos respiratórios (intercostais, diafragma, abdominais). Alguns sintomas como cefaléia matinal, sono irregular, medo, ansiedade, depressão, pânico e até estados confusionais podem ser marcadores de comprometimento respiratório, com retenção de CO2. Manutenção da função respiratória é o principal fator relacionado à sobrevivência dos pacientes com ELA. Com o declínio da função respiratória, intervenção precoce através de introdução de ventilação com pressão positiva não invasiva (BiPAP) tem sido a medida terapêutica de maior impacto na sobrevivência dos pacientes com ELA e na qualidade de vida. Dr A. Kurt, de Ulm, Alemanha demonstrou que todos os pacientes sintomáticos após a introdução de ventilação não invasiva (VNI) apresentaram melhora em todos os parâmetros de qualidade de vida, com efeitos na qualidade do sono, com diminuição da sonolência diurna e da cefaléia matutina, com melhora da fadiga. Dr N. Lechtzin, de Baltimore, EUA, demonstrou que o risco de morte em pacientes com VNI é 34% menor quando comparados com não usuários. Dr R Lyall, de Londres, Inglaterra, demonstrou que a insuficiência respiratória, freqüentemente, era precedida por comprometimento respiratório durante o SONO. Dr Bachelder, de Mineápolis, EUA, demonstrou que análise do sono REM é mais sensitiva que a própria oximetria em detectar hipoventilação em pacientes com ELA. Dra FBM Pacheco, São Paulo, Brasil, demonstrou que a suplementação oral de creatina monohidratada, na dosagem de 3,0 gramas, diariamente, durante 28 dias, não produziu qualquer mudança na função respiratória, na força muscular apendicular ou na qualidade de vida de pacientes com ELA. Em trabalho pioneiro, realizado em conjunto com a Disciplina de Neurologia e o Instituto do Sono da UNIFESP-EPM, demonstrou-se que os pacientes com antecedente de Pólio na infância, que estavam desenvolvendo novos sintomas de fraqueza muscular e atrofia (Síndrome Pós-Polio), apresentavam uma freqüência muito maior de anormalidades respiratórias relacionadas ao sono (apnéia obstrutiva e hipoventilação), quando comparados com aqueles sem novos sintomas (Sequela de polio). Muitos destes pacientes obtiveram melhora pronunciada de qualidade de vida após uso de VNI (BiPAP) no período noturno. Traqueostomia com ventilação mecânica em casa, procedimento cada vez mais freqüente e melhor aceito pelos pacientes, tem proporcionado uma maior sobrevida dos pacientes. O principal fator limitante, ainda, é a dificuldade de manuseio pelos cuidadores, culminando com muitas internações hospitalares devido a infecções respiratórias. Um outro aspecto da assistência ventilatória é o uso do “cough assistance”. Com a progressão da doença, os músculos respiratórios tornam-se mais fracos, sendo muito difícil o processo de tosse e consequente limpeza da via aérea em situações de acúmulo de muco. O aparelho da tosse joga ar para dentro da via aérea, através de uma máscara, e então rapidamente reverte o fluxo de ar permitindo a limpeza da via aérea, diminuindo o risco de infecções pulmonares. Como novidade, foi apresentado um sistema que permite limpeza da via aérea denominado “VEST” que consiste em uma jaqueta inflável conectada por tubo de ar a gerador de pulso de ar. O gerador rapidamente infla e esvazia o colete, proporcionado uma compressão da parede do tórax, seguida de liberação – força semelhante à produzida na tosse. A ansiedade é um fator de difícil tratamento em pacientes com insuficiência ventilatória, especialmente quando é necessária a utilização de ansiolítico. Buspirona, medicação ansiolítica, aprovada pelo FDA norte-americano, com alta afinidade pelo receptor 5-HT1A, é geralmente bem tolerada pelos pacientes com ELA, não apresentando decréscimo do volume corrente. REABILITAÇÃO MOTORA Incluindo-se no tratamento da ELA destacam-se a fisioterapia motora, respiratória e a terapia ocupacional. Programa de exercícios diários, orientados pelos fisioterapeutas, exercícios passivos e moderados, sem resistência, por períodos curtos (15 a 30 minutos/sessão), realizados pelo paciente ou cuidadores são importantes para preservação da função, alongamento e relaxamento. Sessões prolongadas ou excessivas podem levar à fadiga ou até a degeneração mais rápida do motoneurônio. Adaptações, órteses, próteses sob a orientação do terapeuta ocupacional melhoram a função durante o curso da doença, à medida em que o paciente não perde a função e sim modifica a estratégia de ação nas atividades de vida diária (AVDs). Estas modificações facilitam o trabalho e o lazer. Dentre as complicações associadas à ELA, valorizou-se a presença de Capsulite Adesiva do ombro, numa freqüência muito maior que a esperada. Introdução de técnicas de Terapia Ocupacional parece ser um fator protetor para esta complicação. Embora muito importantes as ações dos fisioterapeutas e dos terapeutas ocupacionais é surpreendente o número escasso de trabalhos científicos que documentem a eficácia das técnicas propostas. É surpreendente também, que mesmo com a presença de muitos orientais, sobretudo japoneses e chineses, nada tenha sido apresentado a respeito dos possíveis mecanismos das técnicas orientais de tratamento, incluindo-se atividades físicas especiais e acupuntura. CUIDADO MULTIDISCIPLINAR O tratamento multidisciplinar e/ou adaptação de equipamentos, além de acompanhamento psicológico, têm um efeito significativo sobre a evolução clínica quando medida através de escalas de qualidade de vida. O stress psicológico, emocional e a angústia que acompanham as pessoas com ELA, seus familiares e cuidadores são vividas ao longo da doença de forma intensa. Orientação psicológica deve ser oferecida, sob uma forma contínua para todos os indivíduos envolvidos dom ELA, sem distinção. Todos os temas devem ser abordados, sem preconceito ou medo. Deu-se uma atenção especial aos aspectos da sexualidade. Observou-se uma diminuição da intimidade, sobretudo, após a introdução da ventilação não invasiva noturna (BiPAP). A não abordagem do assunto é uma das principais queixas referidas pelos pacientes quando submetidos às avaliações com Escalas de Qualidade de Vida. Deve-se manter estímulo contínuo para tratamento multidisciplinar, sobretudo com reuniões periódicas com pacientes e cuidadores para entendimento e uniformização de condutas, além de acesso às formas terapêuticas. Recebeu destaque o trabalho apresentado por É. Fernandes, da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica – Brasil, sobretudo pelas reuniões bimestrais com pacientes, cuidadores e profissionais da área da saúde, valorizando-se não só os aspectos científicos, mas sobretudo os principais aspectos de vida. Vale a pena reproduzir uma frase do Dr. Mitsumoto: ”A vida: antes de procurar entender o seu significado, ela deve ser celebrada, em todos os seus preciosos momentos”. O CUSTO DE CUIDAR O cuidador, geralmente familiar, é a figura chave no tratamento de pacientes com ELA. Ele permite o acesso às formas para a manutenção de qualidade de vida, assim como assume importante papel nas situações de decisões nas diferentes etapas clínicas. Devido as particularidades da doença, o foco terapêutico, freqüentemente, restringe-se ao paciente. Entretanto, hoje sabe-se que a ELA não afeta só o paciente; há também um comprometimento familiar e, especialmente, do cuidador, com grande envolvimento emocional. Certos cuidadores têm maior habilidade de usar recursos sob uma forma mais positiva, encontrando satisfação em poder cuidar. Por outro lado, há outros cuidadores que se sentem muito sofredores, com sentimentos depressivos e ansiedade. A aplicação de Escalas de Qualidade de Vida, em pacientes com ELA, em profissionais da área da saúde que lidam com ELA e em cuidadores, ao longo da doença, tem demonstrado que a maior perda relativa ocorre nos cuidadores. Eles são os menos protegidos e necessitam de orientação e assistência contínua durante todo o curso da doença. VOLUNTARIADO De todas as categorias de trabalhadores, a do voluntário é a que mais vem sendo promovida – o que ajuda a explicar a estatística segundo a qual cerca de 54% dos jovens, praticamente não importando o país de origem, ou a classe social, querem entrar nessa área. Só não sabem como começar. Hoje, já não se fala mais em “fazer caridade”. Fala-se em “fazer o bem”. A ELA, com as suas particularidades clínicas, permite um engajamento voluntário em todas as vertentes, com possibilidade de envolvimento em diferentes causas. De todas as doenças degenerativas, a ELA vem experimentando um aumento expressivo de voluntários ativos, um número muito maior que o esperado quando comparado com a incidência e a prevalência da doença. A primeira pergunta o porque ser voluntário com pacientes com ELA, uma doença difícil, foi elegantemente respondida por pesquisa desenvolvida pela Dra D.Lulé e colaboradores, de Ulm, Alemanha. Através de estudo com Ressonância Magnética Cerebral Funcional, demonstrou-se que pacientes com ELA apresentam uma maior atividade nas áreas importantes de processamento de informação relacionada à empatia e interação social. Estes achados, talvez expliquem o porque dos pacientes com ELA serem “tão belos”, permitindo-se a acolhida de outros. Vivendo com ELAs, não garante lugar no céu, mas permite que todo o envolvimento seja transformado num momento mágico, com a assinatura de Deus, explica a Dra Lulé. SURPRISE BOX Encerrando o Simpósio, o Dr Benjamin Brooks apresenta um protocolo terapêutico em Fase II B com uso de TAMOXIFENO. TAMOXIFENO é um medicamento usado rotineiramente para tratamento de câncer de mama. Em trabalhos pré-clínicos notou-se um potencial terapêutico para ELA. Esta droga tem potencial de inibir a degradação protéica e lipídica, atuando como neuroprotera celular. Pacientes com ELA foram tratados com diferentes dosagens da droga: 10 mg semanalmente; 10 mg / dia; 20 mg / dia; 30 mg / dia; 40 mg / dia. Foram realizadas medidas evolutivas com força muscular, capacidade ventilatória, escala de qualidade de vida e sobrevivência. Nas dosagens de 10 mg / dia ou menos, não houve qualquer diferença na evolução da doença. Entretanto, nas dosagens de 20 mg / dia ou mais, houve uma diferença clínica estatisticamente significante, sendo os homens mais beneficiados (maior sobrevida) que as mulheres, especialmente aqueles com comprometimento motor inicial nos membros. Embora não tenhamos um estudo completo desta droga em ELA, como os efeitos indesejáveis conhecidos não impedem o seu uso, praticamente estamos autorizados a sugerir o uso desta medicação como uma arma complementar para o tratamento de pacientes com ELA. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES: LIVROS E SÍTIOS ELETRÔNICOS LIVROS ALS – A GUIDE FOR PATIENTS: Eric Livingston ALS – LOU GEHRIG’S DISEASE: Mary Dodson Wade : www.enslow.com AMYOTROPHIC LATERAL SCLEROSIS: A GUIDE FOR PATIENTS AND FAMILIES: Hiroshi Mitsumoto and Theodore L. Munsat (www. Demosmedpub.com/book111.html FALCON’S CRY: A DESERT STORM MEMOIR: www.greenwood.com JOURNEYS WITH ALS: PERSONAL TALES OF COURAGE AND COPING WITH LOU GEHRIG’S DISEASE (DLRC Press, [email protected]) NONINVASIVE MECHANICAL VENTILATION: John R. Bach, 2002, Hanley & Bellfus. SÍTIOS ELETRÔNICOS THE ALS DIGEST: www.alslinks.com/currentdigest.htm ALS SURVIVAL GUIDE: www.lougehrigsdisease.net AMERICAN ACADEMY OF NEUROLOGY PRACTICE PARAMETERS: www.aan.com/professionals/practice/pdfs NATIONAL ORGANIZATION FOR RARE DISORDERS (NORD): www.rarediseases.org COMMUNICATION INDEPENDENCE FOR THE NEUROLOGICAL IMPAIRED: www.cini.org MDA / ALS CENTERS The Eleanor and Lou Gehrig MDA / ALS Hiroshi Mitsumoto, M.D., Co-Director Columbia Presbyterian Medical Center – Department of Neurology Neurological Institute (N19-016) 710 West 168th Street New York, NY 10032 (212) 305 1319 [email protected] PROCESSO ISQUÊMICO RELACIONADO COM MENOR PRODUÇÃO DE VEGF (FATOR DE CRESCIMENTO ENDOTELIAL VASCULAR EXCITOTOXICIDADE PELO GLUTAMATO ACÚMULO DE CÁLCIO INTRACELULAR INSTABILIDADE DA PROTEÍNA SOD1 DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL ALTERAÇÃO NO TRANSPORTE DE SUBSTÂNCIAS AO LONGO DO NERVO AGREGAÇÃO PROTÉICA ABERRANTE ATIVAÇÃO DE GENES RELACIONADOS COM O PROCESSO DE MORTE CELULAR PROGRAMADA (APOPTOSE): fatores numerosos do processo de apoptose são ativados durante o processo de generativo da ELA , incluindo a enzima caspase, que pode ser crítica no processo de vida e morte do neurônio. PERDA DE FATORES PROTETORES DA APOPTOSE PROCESSO INFLAMATÓRIO ATENÇÃO: O conteúdo deste documento é de responsabilidade da AbrELA (Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica) e seus autores.