EDUCAÇÃO EM SAUDE E INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DE PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA- ELA RESUMO As doenças do neurônio motor (DNM) incluem um grupo heterogêneo de enfermidades degenerativas caracterizadas pelo comprometimento primário do corpo celular do neurônio motor (do córtex e do tronco cerebral, neurônio motor superior, e da medula espinhal, neurônio motor inferior). O início da doença é geralmente variável e não existe um marcador biológico para o diagnóstico. Nesse grupo de enfermidades encontramos a Esclerose Lateral Amiotrófica. A esclerose lateral amiotrófica (ela) é uma doença neuromuscular progressiva e fatal, caracterizada pelo comprometimento dos neurônios motores. Embora o processo de desenvolvimento da ELA seja imprevisível, a fadiga é um resultado previsível, proveniente da fraqueza muscular e espasticidade. Em mais de 70% dos pacientes a sintomatologia é focal com fraqueza muscular principalmente nos membros superiores e inferiores trazendo complicações significativas no seu nível de independência funcional. O curso da doença é progressivo, sem períodos de remissão e platôs de estabilização são geralmente raros. Nesse sentido, este projeto pretende analisar a evolução da independência funcional de pacientes com diagnóstico de ELA que são acompanhados pelo “Centro de Referência em Assistência aos Portadores de Esclerose Lateral Amiotrófica” do HUOL- UFRN. INTRODUÇÃO As doenças do neurônio motor (DNM) incluem um grupo heterogêneo de enfermidades degenerativas caracterizadas pelo comprometimento primário do corpo celular do neurônio motor (do córtex e do tronco cerebral, neurônio motor superior, e da medula espinhal, neurônio motor inferior). O início da doença é geralmente variável e não existe um marcador biológico para o diagnóstico (MITSUMOTO, 1997). Em 1869, Jean-Martin Charcot, neurologista francês, descreveu pela primeira os detalhes clínicos de uma doença neuromuscular, incluindo na sua descrição a determinação do prognóstico e os achados patológicos. Essa doença se denominou Esclerose Lateral Amiotrófica - ELA e em reconhecimento ao seu relato detalhado, a enfermidade também é conhecida como Doença de Charcot. (CHARCOT, 1869). Na década de 1940, nos EUA, o famoso jogador de Beisebol, Lou Gehrig, veio a falecer com ELA e não sem razão, nos EUA, ELA recebe o nome deste grande esportista, Doença de Lou Gehrig (ROWLAND, 2001). A condição é de etiologia desconhecida, progressiva e fatal, até o momento sem cura. O mecanismo de morte neuronal é complexo, havendo evidências que implicam a excitotoxicidade pelo glutamato, deficiência de fatores tróficos, os defeitos no transporte axonal, disfunção dos receptores androgênicos, infecções virais, autoimunidade, fatores tóxicos exógenos, mutações genéticas e anormalidades nas mitocôndrias. A grande maioria dos casos ocorre de forma esporádica, mas aproximadamente 5 a 10% dos casos têm base genética. A morte acontece em 3 a 5 anos, em média, após o diagnóstico, porém 10% dos portadores podem sobreviver mais de 10 anos. (CHANCELLOR, 1993). Observa-se nos pacientes uma progressiva perda de neurónios motores a nível cortical, do tronco cerebral e da medula espinal. A morte ocorre por falência respiratória decorrente da fraqueza dos músculos respiratórios, embora a recente introdução da ventilação não-invasiva permita o prolongamento da vida com persistência da sua qualidade. Quase todos os sistemas pode envolver-se, eventualmente, exceto esfíncter controle e os movimentos dos olhos, que são normalmente, mas não sempre poupada. Embora o processo de desenvolvimento da esclerose lateral amiotrófica seja imprevisível, a fadiga é um resultado previsível, proveniente da fraqueza muscular e espasticidade. Em mais de 70% dos pacientes a sintomatologia é focal com fraqueza muscular principalmente nos membros superiors e inferiores(MITSUMOTO, 2007). O diagnóstico de ELA requer a demonstração da presença de sinais de envolvimento do neurônio motor superior (fraqueza e sinais de liberação piramidal), ao lado de sinais de comprometimento do neurônio motor inferior (atrofia, fasciculações). Ele é baseado em aspectos clínicos, tendo o eletroneuromiografia como exame fundamental para a caracterização do diagnóstico. Outros exames subsidiários são realizados com intuito de afastar outros diagnósticos clínicos que podem mimetizar a ELA. Apesar de não haver cura para a ELA, tratamentos paliativos, incluindo medicamentos sintomáticos, gastrostomia endoscópica percutânea e ventilação não invasiva modificam a evolução da doença (BORASIO,1997). Em muitos países, os indivíduos com ELA são acompanhados em centro de referência terciário que se baseiam nos cuidados interdiciplinar. Nesse sentido muitos estudos vêm demonstrando que os indivíduos com ELA acompanhados por equipe interdisciplinar em centros de referência apresentam melhor prognóstico.(VAN DEN BERG, 2005; TRAYNOR et al, 2003).O tratamento multidisciplinar e/ou adaptação de equipamentos, além de acompanhamento psicológico, têm um efeito significativo sobre a evolução clínica quando medida através de escalas de qualidade de vida. Pacientes tratados por equipes interdiciplinares parecem sobreviver até 7,5meses mais do que os pacientes que não são acompanhados por centros. Nesse contexto interdisciplinar a Fisioterapia motora possui papel imprescindível para melhoria e/ou manutenção da qualidade de vida desses pacientes(BORASIO,1997). Para o paciente com ELA, a fadiga pode variar de um cansaço leve à exaustão extrema. Mas os sintomas podem ser minimizados caso possam ser identificados os sinais de cansaço, os fatores que agravam os sintomas e como é possível conservar energia. A Fisioterapia deve abordar o paciente com objetivos de promover educação em saúde relacionada a questões de Mobilidade geral, Transferências, Independência funcional e evolução geral do seu quadro clínico, além de atuar, visando manter amplitude articular e níveis de funcionalidade, e prevenir o surgimento de complicações secundárias como deformidades, escaras e trombose venosa profunda, entre outras funções. Nos pacientes acometidos por ELA embora não existam estágios típicos, a fraqueza se torna mais grave e mais áreas do corpo são afetados ao longo do tempo, muitas vezes com o surgimento cãibras e perda de peso. O curso da doença é progressivo, sem períodos de remissão e platôs de estabilização são geralmente raros. Nesse sentido a avaliação do nível de independência funcional destes pacientes parece ser de fundamental importância dentro do processo de reabilitação. Tal avaliação faz-se importante para a documentação dos resultados advindos de programas terapêuticos e para o contínuo planejamento de ações terapêutica por toda a equipe interdisciplinar com base nas reais condições clinicas do paciente (ORSINI et al, 2008). Espera-se a partir dos resultados desta pesquisa, contribuir com subsídios necessários para a implementação de políticas de saúde e educacionais mais contextualizadas, com medidas efetivas no que diz respeito à qualidade de vida de pacientes com ELA. Paralelamente, no meio acadêmico pretende-se favorecer o crescimento profissional dos alunos de graduação e/ou pós-graduação vinculados ao projeto oportunizando vivencias diferenciadas não contempladas dentro do processo ensino-aprendizagem tradicional. Para tal serão incentivadas ações que promovam um aprofundamento das questões abordadas na pesquisa através de publicações, discussões com características mais global do objeto em questão, quais sejam, a qualidade do fenômeno estudado e o fornecimento de critérios provenientes do próprio material para a consideração do mesmo como indicador de um fenômeno de interesse científico. OBJETIVOS: OBJETIVO GERAL: Investigar a evolução do nível de Independência Funcional global e a evolução específica de cada atividade da vida diária - AVD de pacientes com diagnóstico de ELA que são acompanhados pelo “Centro de Referência em Assistência aos Portadores de Esclerose Lateral Amiotrófica” do HUOL- UFRN por meio de uma equipe multidisciplinar. OBJETIVO ESPECÍFICOS: - Traçar um perfil clínico e socio-demográfico dos pacientes com ELA atendidos no Centro de Referência do HUOL. - Verificar o nível de comprometimento das principais atividades da vida diária no decorrer da evolução da doença. - Correlacionar os aspectos clínicos e pessoais de pacientes com ELA com seu nível de independência funcional. - Promover Educação em saúde para pacientes com ELA e seus respectivos cuidadores. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caráter longitudinal, pois pretende-se investigar como se comportará a evolução dos diversos domínios da Independência funcional de pacientes acometidos por Esclerose Lateral Amiotrófica- ELA no decorrer do acompanhamento do seu processo de reabilitação. A população deste estudo constará de pacientes com diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica em acompanhamento no centro de referência de ELA do HUOL-UFRN. A amostra será composta por 20 indivíduos, admitidos segundo os seguintes critérios de inclusão: (a) possuir diagnóstico de ELA confirmado por Exame Complementar e (b) estar realizando acompanhamento no centro de referência de ELA do HUOL. Como critério de exclusão será admitido a presença de patologias associadas que possam acarretar seqüelas cognitivas funcionais além das provocadas pela ELA, tais como amputação e doenças crônicas severas (AVC, Parkinson, Alzheimer, etc.). Como instrumentos de coleta de dado serão utilizados uma ficha de avaliação fisioterapeutica conforme modelo utilizado no serviço de fisioterapia do HUOL e a medida de independência funcional (MIF). A ficha de avaliação ficioterapeutica é composta pela identificação; história da doença atual (HDA); exame clínico geral; antecedentes pessoais e familiares; hábitos de vida (fatores de riscos); e medicamentos. Já a medida de independência funcional (MIF), embora seja uma escala não específica para a avaliação da ELA, é considerada a medida mais ampla em uso nos programas de reabilitação. Trata-se de uma escala ordinal composta por 18 itens, cada um deles com pontuação máxima de 7 (independência completa) e mínima de 1 (dependência completa). A cotação maior, portanto é de 126 pontos e a menor de 18. funcionais: cuidados pessoais, controle Enfoca seis áreas esfincteriano, mobilidade, locomoção,comunicação e cognição social. Procedimentos: Inicialmente, o pesquisador submeterá o projeto a apreciação do CEP/UFRN e após a sua aprovação será dado início as etapas da pesquisa. Em seguida, prossegue-se em contato com a instituição para o informe e realização do consentimento da pesquisa in loco. Dada a permissão, os pacientes serão avaliados para levantamento das informações expostas nos objetivos desta pesquisa. Antecedendo a avaliação, os avaliadores deverão informar ao indivíduo adequadamente sobre os objetivos da pesquisa, a aplicação do instrumento, a privacidade e o destino dos dados obtidos, além de obter o consentimento informado e assinado pelas partes interessadas. Os dados serão coletados seguindo a seguinte ordem: 1) Ficha de avaliação fisioterapeutica; 2) Medida de Independência Funcional. Os pacientes serão avaliados a cada 02 meses, período que geralmente retornam para reavaliação no centro de referência do HUOL. Após a avaliação serão orientados quanto as questões pertinentes a evolução de seu quadro clínico específico. Análise e tratamento dos dados Os dados obtidos serão tabulados e processados através do programa SPSS for Windows, versão 15.0, seguido de formatação, armazenamento de informações e tratamento estatístico apropriado. Inicialmente será feita estatística descritiva visando caracterizar a amostra investigada por meio de médias, desvio padrão e freqüências absolutas e relativas. Na seqüência será empregada a estatística inferencial (Teste de Friedam) para analisar a evolução da Independência funcional e de cada AVDs isoladamente no decorrer das avaliações. CRONOGRAMA AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL 2010 2010 2010 2010 2010 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 DE X X X X X X X X X X X X REUNIÕES DE PLANEJAMENTO X X X X X X DISCUSSÃO CLINICA DE ARTIGOS E ESTUDO DE CASOS X X X X X X TREINAMENTO COM OS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇAO X ATIVIDADE REVISÃO LITERATURA COLETA DE DADOS X X X X X X X X X X ORIENTAÇÕES AOS PACIENTES E CUIDADORES X X X X X X X X X X ANÁLISE DADOS DOS X X ELABORAÇAO DO RELATORIO FINAL E ARTIGO CIENTIFICO REFERÊNCIAS Attarian S, Vedel JP, Pouget J, Schmied A. Progression of cortical and spinal dysfunctions over time in amyotrophic lateral sclerosis. 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