Curso de Atualização em Toxicologia - 2015 INTOXICAÇÃO POR OUTROS MEDICAMENTOS Andréia Paiva Pinheiro Pires Rangel 2015 PARACETAMOL PARACETAMOL Introdução Paracetamol ou acetominofem ou N-acetil-aminofenol; Introduzido no mercado farmacêutico em 1955; tornou-se popular no Brasil na década de 80; Analgésico e antipirético mais utilizado nos EUA; sendo a causa mais frequente de intoxicação farmacológica e principal causa de morte por superdosagem de medicamentos nos EUA; Uma overdose de PC, reconhecida desde 1966, pode causar necrose hepática fulminante. Doses terapêuticas repetidas ou doses levemente excessivas podem causar hepatotoxicidade em indivíduos suscetíveis, como alcoólatras. Principal causa de falência hepática aguda nos EUA. PARACETAMOL Apresentações Isolado: Tylenol ®, Dôrico ®, Tylaflex ® Associação: Tandrilax ®, Tylex ®, Buscopan Plus ® PARACETAMOL Farmacologia Ação: Inibidor da COX, sem poder anti-inflamatório Absorção: rápida e quase completa pelo TGI Pico Plasmático: 1 a 2 horas após ingestão . Sobredosagem: > 4 horas. Meia vida: 2 a 4 horas Metabolização: hepática Excreção: urinária PARACETAMOL Metabolismo e Efeito Tóxico 90% do PARACETAMOL é conjugado a sulfato e glucuronídeo e excretado na urina; Pequena quantidade é excretada na urina sem sofrer metabolização; 5% é metabolizado via citocromo P450 em NAPQI (N-acetil-p- benzoquinoneimina), composto tóxico para as células hepáticas; NAPQI é rapidamente conjugado ao Glutation hepático, formando composto atóxico que é eliminado na urina; Quando mais de 70-80% do estoque de glutation está depletado o NAPQI começa a lesar os hepatócitos (necrose centrolobular). 5% Excreção urinária 60% Conjugação com Ác. Glicurônico PARACETAMOL 5% 30% Conjugação com Sulfato Bioativação pelo Citocromo P450 NAPQI Composto Atóxico Conjugação Glutation > 70% do estoque de Glutation esgotado Lesão hepática PARACETAMOL Metabolismo: particularidades na criança Crianças (< 6 anos) possuem uma maior capacidade de conjugação por sulfatação; Crianças tem uma oferta e regeneração maior de glutation; Crianças tem menor atividade do complexo citocromo P450; . Menor produção do metabólito tóxico. PARACETAMOL Toxicidade Dano hepático por ingestão de PC pode ocorrer nas seguintes circunstâncias: Ingesta excessiva de PC; Atividade excessiva do complexo citocromo P450; Capacidade diminuída de glicuronidação ou sulfatação; Depleção do estoque de glutation. Exemplos: uso de álcool e drogas; comorbidades; idade avançada; estado nutricional comprometido. PARACETAMOL Dose terapêutica Adultos : 325 mg a 1000 mg/dose de 4/4 ou 6/6 horas Dose máxima diária: 4 g/dia Crianças: 10-15 mg/kg/dose de 4/4 a 6/6 horas Dose máxima diária: 80 mg/kg/dia PARACETAMOL Dose Tóxica Adultos: > 7,5 g; Crianças: > 140 mg/kg; Ingesta de mais de 4 g/dia, durante vários dias, com alteração de TGO. Trabalhos recentes dose > 12 g para adultos e >200mg/kg para crianças. Atravessa barreira placentária. Sem comprovação de teratogenicidade. PARACETAMOL Manifestações Clínicas Variam de acordo com: Idade do paciente; Dose ingerida; Precocidade da descontaminação gástrica; Apresentação da medicação; Existência de doença hepática prévia; Uso de bebida alcoólica, de drogas indutoras do sistema P450 ou de agentes que diminuem a conjugação; Manifestações Clínicas Fase I (2h-24h) Assintomático ou sintomas gastrintestinais Praticamente não são detectadas alterações laboratoriais. Fase II (24h-72h) Dor em hipocôndrio direito Alteração de Bbs, TAP, enzimas hepáticas Início do comprometimento renal Fase III (72h-96h) Necrose hepática (necrose centro-lobular) Icterícia, distúrbio da coagulação, encefalopatia hepática, insuf. renal anúrica Falência de múltiplos órgãos (ÓBITO) Fase IV (4d -2 sem) Recuperação completa, se houver hepatócitos íntegros. Regeneração hepática em 3 a 6 meses. PARACETAMOL Investigação e Diagnóstico História clínica: Identificação dos agentes envolvidos; Dose ingerida; Uso concomitante de outras medicações; Tempo decorrido da ingestão; Ingestão aguda ou repetida; Existência de comorbidades; Circunstância (acidental, tentativa de suicídio, erro de administração, auto-medicação). PARACETAMOL Diagnóstico e Exames Laboratoriais Dosagem sérica do PC (nomograma de Rumack-Matthew) – coletar 4 horas após a ingesta. Usado para estimar o risco de toxicidade hepática. TGO, TGP, TAP na admissão e repetir diariamente por 3 dias ou até que os níveis voltem ao normal; Se função hepática alterada: creatinina, uréia, eletrólitos, bilirrubinas, glicemia, amilase, hemograma e gasometria. PARACETAMOL 90% 60% 25% PARACETAMOL Tratamento Descontaminação Lavagem gástrica (até 1 -2 horas após ingestão) Carvão ativado (1 dose até 6 horas após ingestão) Antídoto: N-ACETILCISTEÍNA (NAC) - Fluimucil ® PARACETAMOL Tratamento Antídoto – N-ACETILCISTEÍNA (NAC) Liga-se diretamente com o metabólito tóxico (substitui o Glutation) e aumenta a síntese do Glutation hepático; Diminui entre 21% e 28 % mortalidade em caso de insuficiência hepática; Melhor resposta: até 8-10 horas após a ingesta; Efeitos adversos: reação alérgica (EV) e trato gastrointestinal (VO); VO ou EV ???? PARACETAMOL Tratamento Protocolo NAC Via Oral (total: 72 horas) Ataque: 140mg/kg Manutenção : 70 mg/kg de 4/4h (17 doses) Via Endovenosa (total: 20 horas) Ataque: 150mg/kg em 15 min BIC: 50 mg/kg em 4 horas + 100 mg/kg em 16 horas PARACETAMOL Tratamento - ATENÇÃO Deve haver intervalo de 1 a 2 horas entre o CA e o antídoto; O antídoto deve ser administrado nas primeiras 8 horas após a ingestão do paracetamol; Se o uso de CA retardar a administração do antídoto (< 8 horas após a ingestão), ele não deve ser utilizado. Deve-se repetir a dose de NAC se ocorrer vômito na primeira hora após a administração. PARACETAMOL Tratamento A duração do tratamento com NAC pode ser modificada em função do quadro clínico do paciente: O NAC pode ser suspenso se os níveis de PC são indetectáveis e na ausência de hepatotoxicidade. PARACETAMOL Conclusão Exposição ao PC é freqüente; Intoxicação por PC é potencialmente grave (hepatite fulminante); Introdução precoce do antídoto (NAC) é fundamental; Se o paciente sobrevive, ocorre recuperação completa do quadro sem fibrose residual; ANTI-HISTAMÍNICOS ANTI-HISTAMÍNICOS Farmacologia Ação: bloqueio competitivo dos receptores H1 (músculo liso, endotélio e SNC); Classificação: 1ª e 2ª geração; Absorção rápida por via oral atingindo concentração sanguínea máxima dentro de 1-2h; Ampla distribuição: 1ª geração: penetram facilmente no SNC; 2ª geração: menos lipofílicos, dificuldade de penetrar em SNC. ANTI-HISTAMÍNICOS Classificação 1ª Geração Cetotifeno Clemastina Dexclofeniramina Ebastina Prometazina Hidroxizina 2ª Geração Astemizol Cetirizina Levocetirizina Fexofenadina Loratadina Desloratadina Terfenadina ANTI-HISTAMÍNICOS Manifestações Clínicas Depressão do SNC: sonolência, torpor, coma, ataxia e confusão mental, mais comum em adultos. Estímulo do SNC também é descrito (hiperreflexia e convulsões). Efeitos anticolinérgicos mais evidentes em crianças (hipertermia, rubor de face, secura de mucosas, midríase, taquicardia, retenção urinária, confusão mental e alucinações). Hipotensão ou Hipertensão, taquicardia sinusal. ANTI-HISTAMÍNICOS Tratamento LG: está indicada nas primeiras horas após a ingestão em situações especiais. CA em doses repetidas + SM Sintomáticos e suporte ANTIGRIPAIS (DESCONGESTIONANTES SISTÊMICOS) ANTIGRIPAIS Associações Simpatomimético Anti-histamínico Analgésico Simpatomimético Analgésico Anti-histamínico Analgésico Cafeína Analgésico ANTIGRIPAIS Ações Simpatomiméticos (efedrina, pseudoefedrina, fenilefrina) Estimulam receptores alfa adrenérgicos do trato respiratório. Efedrina e peseudoefedrina também tem ação beta adrenérgica Anti-histamínicos (clorfeniramina, pirilamina, carbinoxamina) Efeitos anticolinérgicos, diminuem secreções de mucosas, usual ação depressora no SNC, mas pode ocorrer estimulação em crianças. Cafeína Metilxantina estimulante beta adrenérgico Potencializa efeitos simpatomiméticos ANTIGRIPAIS Toxicidade Simpatomiméticos Dose tóxica fenilefrina e efedrina: 2-3 x dose terapêutica Dose tóxica pseudoefedrina: 4-5x dose terapêutica Anti-histamínicos Dose tóxica: 3-5x dose terapêutica Crianças são mais sensíveis que adultos ANTIGRIPAIS Manifestações Clínicas Simpatomiméticos Hipertensão Taquicardia ou bradicardia reflexa Dor anginosa, podem ocorrer alterações no ECG (bloqueio atrioventricular) Hipertermia ou hipotermia Outros: dispnéia, alterações do metabolismo da glicose; retenção urinária; sudorese; alterações comportamentais, alucinações, psicoses. ANTIGRIPAIS Manifestações Clínicas Anti-histamínicos Manifestações anticolinérgicas - secura de mucosas, midríase, rubor de pele, febre, taquicardia, alucinações, movimentos de coreoatetose, convulsões SNC: mais comum é a depressão. Sedação leve até profunda. Confusão, desorientação, incoordenação. Estimulação paradoxal do SNC pode ocorrer, especialmente em crianças. ANTIGRIPAIS Manifestações Clínicas Cafeína Intensifica estímulos beta adrenérgicos dos simpatomiméticos: taquicardia, arritmias, hipertensão, agitação, hiperexcitabilidade SNC ANTIGRIPAIS Tratamento Pequena Dosagem CA + SM, não provocar vômito Intoxicação Aguda Suporte e monitorização cardiorrespiratória LCA + SM (até 4 horas após ingestão) Observação 4 a 8 horas DESCONGESTIONANTES TÓPICOS DESCONGESTIONANTES TÓPICOS Mecanismo Ação e Apresentações Simpatomiméticos (agonistas alfa adrenérgicos); Efedrina: Rinisone ® Fenilefrina: Decongex ®, Naldecon ® Nafazolina: Sorine adulto ®, Neosoro ® Oximetazolina: Afrin ®, Freenal ®, Desfrin ® DESCONGESTIONANTES TÓPICOS Farmacologia Absorção: completa e rápida pelo TGI e mucosa nasal; Início dos efeitos: poucos minutos após absorção; Duração efeitos: 4-6 horas; Metabolismo: hepático; Excreção: urinária; A toxicidade pode ocorrer pela ingestão de soluções para uso tópico ou por uso tópico excessivo DESCONGESTIONANTES TÓPICOS Manifestações Clínicas Hipertensão grave seguida de hipotensão rebote; Hipotermia; Depressão respiratória, apnéia; Taquicardia ou bradicardia reflexa; Arritmias, dor anginosa. DESCONGESTIONANTES TÓPICOS Tratamento Ingestão há até 1 hora: CA; Suporte e sintomáticos. BRONCODILATADORES BRONCODILATADORES Introdução Ação: beta-2 agonistas Curta duração Fenoterol: Berotec ® Salbutamol: Aerolin ® Terbutalina: Longa duração Formoterol Salmeterol BRONCODILATADORES Toxicidade Em concentração elevada ou superdosagem, desaparece seletividade dos receptores β2, ocorrendo efeitos sistêmicos e cardíacos (receptores β1); Dose tóxica pode ocorrer numa dose única maior que a terapêutica máxima diária. BRONCODILATADORES Manifestações Clínicas Intoxicação Aguda (perde seletividade β2): Hipotensão, taquicardia, arritmias; Hipocalemia, hiperglicemia, acidose lática; Tremores musculares; agitação. Raramente: convulsão. Reações Adversas: Tremores, agitação, ansiedade, palpitação, taquicardia; Hipotensão, tontura, fraqueza, desmaio; Rubor, cefaléia, náusea, sudorese, salivação; Retenção e dificuldade urinária / Dispnéia; Hiperglicemia, ↓K, acidose lática BRONCODILATADORES Tratamento Suporte; Carvão ativado (1 dose); Monitorização cardíaca por 4-6h; Hipotensão: fluidos EV, pode ser necessário beta-bloqueador (cautela em asmáticos); Hipocalemia: usualmente transitória com reversão espontânea; Hiperglicemia (crianças): monitorizar até normalizar. ANTICONCEPCIONAIS ANTICONCEPCIONAIS Manifestações Clínicas Baixa toxicidade Intoxicação aguda: Hemorragia uterina de privação (sexo feminino)até 3 dias após Náuseas, vômitos, cólica, diarréia: pode ocorrer até 12 horas após a ingesta Tratamento Orientações gerais Sintomáticos OBRIGADA! 0800 283 9904